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EDUCAÇÃO MÉDICA CONTINUADA 297

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Radiação solar ultravioleta: propriedades, aspectos físicos e
níveis observados no Brasil e na América do Sul*

Marcelo de Paula Corrêa1

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.20154089

Resumo: Os efeitos benéficos e nocivos da exposição do ser humano à radiação solar ultravioleta (R-UV) são
temas que despertam grande interesse não só entre médicos e cientistas, mas também entre o público leigo e a
mídia em geral. Atualmente, as discussões acerca dos benefícios da exposição ao sol para a síntese de vitamina D
confrontam-se à relevante apreensão com o já elevado e crescente número de novos casos de câncer de pele não
melanoma e outras enfermidades da pele e olhos, diagnosticadas a cada ano no Brasil. No entanto, boa parte des-
sas discussões carece de respaldo científico ou, então, tem como base estudos realizados na Europa e nos Estados
Unidos da América (EUA), em que as quantidades de R-UV disponíveis em superfície, os hábitos de exposição
e as características da população são significativamente diferentes daqueles observados no Brasil. A fim de con-
tornar esse problema, a Sociedade Brasileira de Dermatologia lançou, recentemente, o Consenso Brasileiro de Fo-
toproteção com novas recomendações à classe médica, baseadas em estudos recentes e realizados no país. Neste
mesmo contexto, o presente artigo tem como objetivo esclarecer e informar, com maior detalhamento, as princi-
pais propriedades e características da R-UV e do índice ultravioleta. Além disso, visa apresentar à comunidade
médica um resumo das medidas de R-UV recentemente realizadas no Brasil, traçar um comparativo com aquelas
obtidas na Europa e avaliar os impactos que tais quantidades de radiação exercem sobre o indivíduo exposto.
Palavras-chave: Raios ultravioleta; Neoplasias cutâneas; Proteção; Ozônio; Prevenção e mitigação

INTRODUÇÃO
Por um lado, a exposição à radiação solar ultra- no país.7 Além dos efeitos sobre os seres humanos, a
violeta (R-UV) traz benefícios psicológicos e físicos, R-UV também está relacionada à atenuação do cresci-
principalmente relacionados à síntese de vitamina D mento de lavouras e frutos, à diminuição da produção
e prevenção de doenças como osteoporose, diabetes de fitoplâncton, aos cânceres e mutações genéticas em
tipo 1, alguns tipos de câncer e doenças autoimunes.1,2 peixes e anfíbios, ao desgaste e deterioração de tintas e
Por outro lado, a exposição excessiva a esse tipo de polímeros, dentre outros.8-11
radiação é responsável por diversas enfermidades dos Diante dos efeitos antagônicos proporcionados
olhos, tais como cataratas e pterígio, e da pele, entre pela exposição ao Sol, uma das principais controvér-
as quais se destacam as queimaduras, o envelheci- sias está relacionada ao tempo necessário para que os
mento precoce e os cânceres de pele não melanoma efeitos benéficos ocorram sem que haja danos à saúde.
(CPNM).3,4,5,6 O Instituto Nacional de Câncer (INCA) Isto é, que a síntese de uma quantidade significativa
estima que mais de 180.000 novos casos de CPNM se- de vitamina D seja realizada sem que a pele e os olhos
jam diagnosticados no ano de 2014, correspondendo sofram danos. O que geralmente ocorre no Brasil e na
a um risco estimado de 100,8 casos novos a cada 100 América do Sul é a adoção de recomendações com
mil homens e 82,2 a cada 100 mil mulheres, ou seja, o base em estudos e medidas de R-UV realizadas no
câncer de maior prevalência, representando mais de hemisfério norte, principalmente nos Estados Unidos
32% do total de novos casos de câncer diagnosticados da América (EUA) e na Europa, isto é, em situações

Recebido em 03.10.2014
Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 08.12.2014
* Trabalho realizado no Instituto de Recursos Naturais - Universidade Federal de Itajubá (Unifei) – Itajubá (MG), Brasil.
Suporte Financeiro: Fapemig, Fapesp and CNPq.
Conflito de Interesses:Nenhum.
1
Universidade Federal de Itajubá (Unifei) – Itajubá (MG), Brasil.

©2015 by Anais Brasileiros de Dermatologia

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geográficas e climáticas distantes de nossa realidade violeta (IUV) que, rapidamente, passou a ser utilizado
tropical e subtropical. Sendo assim, são cada vez mais como meio de informação para prevenção à saúde por
comuns as notícias e sugestões arbitrárias sobre a ex- grande número de países.13 Em 1994, o IUV foi adota-
posição ao Sol: por exemplo, recomendações de expo- do pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como
sição por determinado número de minutos para que padrão internacional de referência a ser usado por ser-
certa quantidade de vitamina D seja produzida, sem viços meteorológicos e tem sido tema de discussões
que haja quaisquer observações sobre a época do ano, contínuas para harmonizá-lo como forma de comuni-
hora do dia, tipo de pele, área do corpo exposta ou cação e instrumento educativo para proteção solar.14
condições de saúde do indivíduo; ou então, que se evi- O IUV é uma escala de valores relacionada aos
te totalmente a exposição ao Sol ou que se deva usar fluxos de R-UV biologicamente ativa que induzem à
protetor solar mesmo em ambientes fechados para formação de eritema na pele humana, denominada ir-
prevenir o câncer de pele, novamente sem nenhuma radiância eritêmica. Cada unidade de IUV representa
alusão às condições geográficas, sazonais e humanas. 0,025 Wm-2 de irradiância eritêmica. O cálculo dessa
Tendo em vista que a falta de informações bá- irradiância é dado pelo produto entre os fluxos espec-
sicas sobre a R-UV (aspectos, interação com os com- trais de R-UV e uma função correspondente a esses
ponentes atmosféricos e níveis observados no Brasil) efeitos fotobiológicos sobre a pele humana, integrados
é uma das principais causas da disseminação de in- entre 280 e 400 nm (portanto, UVA + UVB).15 Trata-se,
formações equivocadas e controversas, o presente basicamente, da soma ponderada dos efeitos que cada
artigo tem como objetivo oferecer uma contribuição comprimento de onda da R-UV exerce sobre a pele hu-
relevante sobre o tema, por meio da educação médica mana. Essa resposta biológica pode representar quais-
continuada. Sendo assim, este trabalho é dividido nas quer efeitos, benéficos ou nocivos, à saúde.
seguintes seções: a) natureza da R-UV; b) a interação Para ilustrar a questão, a figura 1 mostra a re-
da R-UV com os gases, aerossóis e nuvens; c) varia- presentação dessa função para o eritema, para a sín-
bilidade da R-UV em função de aspectos geográficos, tese de vitamina D e para o CPNM.15,16,17 Por se tratar
sazonais e temporais; d) síntese das medidas de R-UV de um efeito agudo e assemelhar-se à curva para o
realizadas no país e, finalmente, e) estimativas de tem- CPNM, a função eritêmica é utilizada para represen-
pos adequados de exposição ao Sol. tar os danos da R-UV à pele humana. Nessa figura,
é importante notar que o eixo vertical está em escala
NATUREZA DA R-UV E O ÍNDICE ULTRAVIOLE- logarítmica, indicando que os efeitos da R-UVB sobre
TA (IUV) os seres humanos são muito mais significativos do que
A energia emitida pelo Sol é transmitida sob a os da R-UVA.
forma de ondas eletromagnéticas. A R-UV, designa-
ção dada à faixa do espectro eletromagnético entre os
comprimentos de ondal entre 100 e 400 nm (1 nm = 1 Eritema (McKinlay e Diffey, 1986)
nanômetro = 10-9 m), corresponde a menos de 10% do Vitamina D (CIE, 2006)
total da radiação solar incidente no topo da atmosfera. Câncer de pele não melanoma (de GruIjl e
Van der Leun, 1994)
Essa pequena faixa espectral de radiação é subdividi-
da, segundo recomendação da Comissão Internacio-
nal de Iluminação (CIE), em: UVC, entre 100 e 280 nm;
UVB, entre 280 e 315 nm; e UVA, entre 315 e 400 nm
(Sliney, 2007).12 Os outros mais de 90% da radiação so-
lar correspondem, praticamente, aos espectros visível
(400-780 nm) e infravermelho próximo (780-4000 nm).
Em seu percurso até a superfície terrestre, a
R-UV sofre intensa atenuação ao interagir com os com-
ponentes da atmosfera. Como veremos mais à frente,
essa atenuação depende do tipo de radiação inciden-
te, sendo mais intensa para os menores comprimen-
tos de onda. Apesar da pouca quantidade de radiação
em relação aos comprimentos de onda, tais fluxos são Fonte: Mc Kinlay AF, et al 1987.15
responsáveis por diversos efeitos fotobiológicos e fo-
toquímicos de importância. FIGURA 1: Funções-resposta biológicas da R-UV nos seres
Assim, diante da necessidade de se trazerem in- humanos para o eritema (linha vermelha), síntese de
formações ao público sobre os níveis de R-UV, em 1992 vitamina D16 (linha azul) e câncer de pele não melanoma17
pesquisadores canadenses elaboraram o Índice Ultra- (linha preta)

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Portanto, o IUV é uma escala adimensional, de pequenas quantidades, a R-UV é responsável pelos di-
fácil interpretação da resposta eritêmica e está asso- versos efeitos relatados sobre seres vivos e materiais
ciada aos possíveis danos à saúde, conforme mostra inorgânicos.
a quadro 1. Em relação aos gases presentes na atmosfera, o
Além da simplicidade, o IUV visa ao alerta sobre ozônio é o principal absorvedor da R-UV. No entanto, a
os níveis de R-UV perigosos para a saúde de qualquer parte mais energética desse tipo de radiação, a R-UVC,
indivíduo, e não só para tipos específicos de pele. Ape- também sofre forte absorção pelo oxigênio presente na
sar de indivíduos com pele mais clara desenvolverem alta estratosfera e não atinge a superfície terrestre. Por
eritema mais rapidamente do que indivíduos de pele ser um tipo de radiação de alta frequência, a R-UVC é
mais escura, os danos e as reações fotobiológicas tam- letal aos seres vivos; tanto que é comumente utilizada,
bém dependem de outros fatores secundários, como por meio de fontes artificiais, para esterilizar a água e
estado de saúde, tipo de alimentação e demais caracte- os equipamentos cirúrgicos. Já a R-UVB é fortemen-
rísticas orgânicas de cada pessoa. Por essas razões, ín- te absorvida pelo ozônio presente na estratosfera, na
dices que levam em conta o fototipo do indivíduo, tal região denominada camada de ozônio, localizada por
como o tempo máximo de exposição, são fortemente volta de 30 km de altitude, e atinge a superfície ter-
desaconselhados pela OMS não só pela subjetividade restre em quantidades muito tênues, porém suficien-
da análise, mas também pelas grandes incertezas que tes para provocar os efeitos fotobiológicos conhecidos.
as previsões de tais intervalos de tempo podem conter. Por fim, a absorção da R-UVA pelos gases presentes na
atmosfera é bem mais tênue e, portanto, esse tipo de
VARIABILIDADE DA R-UV EM FUNÇÃO DE PA- radiação compõe a maior parte da R-UV que atinge a
RÂMETROS ATMOSFÉRICOS, GEOGRÁFICOS E superfície.
TEMPORAIS A figura 2 mostra, em sua parte superior, a irra-
Os níveis de R-UV observados em superfície diância espectral tanto no topo da atmosfera quanto
dependem da variabilidade dos componentes atmosfé- à superfície, isto é, a quantidade de energia inciden-
ricos, tais como gases, aerossóis e nuvens; parâmetros te em cada comprimento de onda do espectro UV. Na
geográficos, como latitude, longitude, altitude e a capa- parte inferior desta mesma figura é mostrada a por-
cidade da superfície em refletir a R-UV; e, por fim, pa- centagem relativa de radiação absorvida pelo oxigênio
râmetros temporais, como a hora do dia e o dia do ano. e pelo ozônio, principalmente.
Em relação ao ozônio, o principal regulador
Parâmetros atmosféricos da R-UV em superfície, é muito importante ressaltar
A R-UV é responsável por uma série de reações que o fenômeno de depleção do ozônio estratosférico,
fotoquímicas que ocorre principalmente nas regiões comumente conhecido como “buraco” da camada de
mais elevadas da atmosfera, agindo como catalisador ozônio, não exerce efeitos significativos sobre a quan-
de diversas reações e tendo influência marcante nos tidade desse gás sobre o Brasil. Esse fenômeno de ori-
mecanismos de aquecimento dessas camadas. Devi- gem antropogênica ocorre devido à liberação de cloro
do a estas interações, os fluxos de R-UV são bastante (ou bromo) proveniente do clorofluorcarbono (CFC)
atenuados até chegar à superfície. Porém, mesmo em utilizado, principalmente, em fluidos refrigerantes e

QUADRO 1: Esquema para divulgação e recomendações de proteção solar com mensagens simples14

IUV Classificação de Código de cores (RGB)* Precaução Recomendação


dano à saúde
<2 Baixo Verde(40-149-0) Desnecessária Você pode permanecer exposto ao ar livre

3-5 Médio Amarela(247-228-0) Recomendada Procurar sombra em horários próximos


ao meio-dia
6-7 Alto Laranja(248-89-0) Usar camisa, protetor solar e chapéu

8 - 10 Muito Alto Vermelha(216-0-29) Imprescindível Evite expor-se próximo ao meio-dia


Certifique-se de procurar uma sombra
> 11 Extremo Violeta(107-73-200) Camisa, protetor solar e chapéu são
necessários

* A OMS recomenda a utilização de um código oficial de cores para uniformizar a representação gráfica do IUV.

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Irradiância espectral (Wm-2/nm)

R-UV no topo da atmosfera


R-UV na superfície terrestre
Absorção (%)

Comprimento de onda (nm)

FIGURA 2: Irradiância espectral e absorção da R-UV. Parte superior – Simulação da irradiância solar espectral entre 100 e 400
nm incidente no topo da atmosfera (linha preta) e à superfície terrestre (linha vermelha) para uma condição de céu claro (sem
nuvens). Parte inferior – Absorção de R-UV em cada comprimento de onda, devido ao oxigênio (em bandas de comprimento
de onda inferiores a 250 nm) e ozônio

transportados até a estratosfera por mecanismos natu- níveis de R-UV observados no Brasil ao fenômeno de
rais de circulação atmosférica. Grosso modo, a libera- depleção do ozônio. No entanto, tais níveis são típicos
ção de cloro livre, que ocorre pela exposição do CFC à e naturais na maior parte do país, pois em latitudes
R-UV, provoca a destruição da molécula de ozônio por baixas, próximas à linha equatorial, há maior dispo-
meio da reação: Cl + O3 à ClO + O2. O fenômeno ocor- nibilidade de radiação solar devido ao menor cami-
re de maneira significativa em condições particulares nho óptico atravessado pela radiação solar. Portanto,
da alta atmosfera, tais como presença de radiação so- há naturalmente mais radiação solar disponível em
lar, baixas temperaturas e presença de mecanismos de superfície. Em segundo lugar, apesar de a produção
circulação que possibilitem a concentração de grandes natural de ozônio ser típica de baixas latitudes, suas
quantidades de CFC e ozônio. Tais condições são típi- concentrações são maiores em latitudes mais altas.
cas da primavera em regiões polares, principalmente Esse fenômeno se deve aos mesmos mecanismos de
no hemisfério sul. Por essa razão, o “buraco” da cama- transporte já citados para o CFC. Por esse motivo, o
da de ozônio atinge dimensões de dezenas de milhões conteúdo total vertical de ozônio na atmosfera terres-
de quilômetros quadrados nessas regiões de latitudes tre tem uma variação praticamente latitudinal, sendo
elevadas, próximas aos polos. No entanto, em baixas menor próximo à região equatorial e maior próximo
e médias latitudes, onde se localiza o território brasi- aos polos.
leiro, o fenômeno praticamente não ocorre, conforme Além do fenômeno de absorção pelo ozônio,
mostram as séries temporais de ozônio coletadas por a R-UV também sofre intenso espalhamento por mo-
satélites desde 1978 e apresentadas na figura 3. léculas e aerossóis presentes na atmosfera. No es-
Na figura 3, a variabilidade sazonal e natural do palhamento, a energia que incide em uma direção é
ozônio pode ser observada em todas as localidades, desviada (espalhada) para outras direções, sem que
com valores de ozônio menores no outono e maiores na o seu comprimento de onda seja alterado, ocorrendo
primavera, devido aos processos de formação, destrui- produção de radiação difusa. A intensidade do espa-
ção e transporte desse gás na estratosfera. No entanto, lhamento da R-UV por moléculas é inversamente pro-
somente na base Comandante Ferraz, localizada na An- porcional à quarta potência do comprimento de onda
tártica, é que se nota o fenômeno da diminuição expres- da radiação incidente. Por essa razão, a R-UVB é espa-
siva do ozônio no início da primavera de cada ano. lhada por moléculas com muito mais intensidade do
Um equívoco muito comum é associar os altos que a R-UVA.

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aquela proveniente de espalhamento oriundo de dire-


ções distintas do círculo solar. Por outro lado, em horá-
rios próximos ao meio-dia, a R-UV é majoritariamente
composta de radiação direta. No caso da R-UVB, de-
vido ao intenso espalhamento, mesmo ao meio-dia so-
lar, a maior parte dessa radiação, que atinge um alvo
à superfície, é difusa. Além disso, é importante notar
as ordens de grandeza envolvidas nos gráficos da fi-
gura 4, com algumas unidades de energia de R-UVB
Conteúdo total Ozônio (DU)

por metro quadrado atingindo a superfície, enquanto


para a R-UVA a quantidade de energia é da ordem de
algumas dezenas.
Assim, devido à dependência espectral dos fe-
nômenos de absorção e espalhamento, em um dia de
céu claro (sem nuvens), menos de 5% do total de R-UV
em superfície é do tipo UVB, enquanto todo o restante
é R-UVA, conforme mostra a figura 5. No início e no
final do dia, praticamente toda R-UV em superfície é
composta por R-UVA.
Essa relação pode ser ainda menor em dias po-
luídos, com nuvens ou, ainda, nos meses de inverno
quando os fluxos globais de radiação solar são me-
nores. Esses dois componentes atmosféricos citados,
aerossóis (aqui designados como poluição natural ou
Ano antrópica) e nuvens, também são muito importantes
na avaliação da R-UV em superfície.
Os aerossóis atmosféricos são, em geral, bons
Dados obtidos por sensores de satélite de retroespalhamento de R-UV
espalhadores de R-UV. Desse modo, diminuem a
(Backscattering UV quantidade de radiação que atinge a superfície espa-
satellite sensors) da National Aeronautics and Space Administration lhando-a para outras direções do espaço. Em situações
(NASA) de ambientes muito poluídos e, portanto, em presen-
ça de grande quantidade de aerossóis na atmosfera, a
FIGURA 3: Séries temporais de conteúdo total de ozônio atenuação de R-UV tende a ser significativa, mas não
na atmosfera sobre cinco localidades do hemisfério sul: chega a proporcionar um efeito protetor. Em situações
Fortaleza/CE – 3,7°S; 38,5°W; São Paulo/SP – 23,5°S; de picos de poluição em metrópoles, é possível notar
46,6°W; Porto Alegre/RS – 30,0°S; 51,2°W; Buenos Aires/ atenuação de cerca de uma unidade do IUV.18 Uma si-
Argentina – 34,6°S; 58,4°W; e Base Com. Ferraz/Antártica tuação atípica, mas de grande emissão de poluentes,
– 62,1°S; 58,4°W. Dados fornecidos pelos sensores/satélites: como na ocorrência de queimadas, pode provocar ate-
OMI/Aura (operando desde jul/2004); TOMS/Earth nuações mais expressivas nos fluxos de R-UV. No en-
Probe (jul/1996 – dez/2005); TOMS/Meteor-3 (ago/1991 – tanto, situações comuns de concentrações de aerossóis
nov/1994) e TOMS/Nimbus-7 (jan/1978 – mai/1993). em ambientes urbanos provocam atenuações menores
nos fluxos de R-UV e não podem ser interpretadas
A figura 4 exemplifica o efeito da produção de como proteção a esse tipo de radiação.
radiação difusa nas radiações UVB e UVA por meio No caso das nuvens, elas agem, na maior parte
de uma simulação computacional. A parte superior da das vezes, como boas atenuadoras por também serem
figura mostra as diferentes intensidades das bandas espalhadoras de R-UV. Por exemplo, a presença de
de R-UVB e UVA em um típico dia de céu claro, no uma cobertura homogênea e estratificada de nuvens
verão. No caso, a simulação foi realizada para uma lo- pode reduzir os níveis de R-UV pela metade em re-
calidade do sudeste do país, mas valores semelhantes lação a um dia de céu claro, enquanto nuvens muito
podem ser observados em qualquer região nessa épo- profundas, como os cúmulos-nimbos de tempestade,
ca do ano. Na parte inferior da figura 4, é mostrado o podem praticamente extinguir a R-UV em superfície.
percentual entre radiação direta e difusa para ambas No entanto, em situações muito particulares, os níveis
as bandas. de R-UV em superfície podem ser intensificados por
No início e final do dia, a R-UV em superfície nuvens. Esse fenômeno ocorre por processos de refle-
é praticamente composta de radiação difusa, isto é, xão nas laterais de nuvens do tipo cúmulo, aquelas co-

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mumente observadas em dias ensolarados no verão, Parâmetros geográficos


ou por cristais de gelo em nuvens cirros espessas, mas A latitude é fator determinante na quantidade
pouco comuns no Brasil. de radiação solar em superfície. A disponibilidade
Devido ao dinamismo e à heterogeneidade, anual de radiação solar é maior em localidades próxi-
além da quantidade variável e das diferentes compo- mas ao Equador e decresce em direção aos polos. Essa
sições das nuvens, não é possível prever com detalhes variação se deve à menor inclinação dos raios solares
o tipo de formação de nebulosidade nem as caracterís- em latitudes mais baixas. No entanto, como a Terra
ticas das mesmas. Dessa forma, não há como estabe- gira inclinada em aproximadamente 23° em relação
lecer fatores de atenuação precisos e, portanto, não há ao Sol, as latitudes em torno desse ângulo recebem a
como propor períodos de tempo de exposição seguros maior quantidade de radiação solar no verão. Por esse
relacionados às condições de nebulosidade. motivo, no verão, os valores do IUV mais elevados do
R-UVB (Wm-2

R-UVB (Wm-2
dirata (cinza) e difusa(branco) (%)

dirata (cinza) e difusa(branco) (%)


Percentuais de radiação

Percentuais de radiação

Hora local Hora local

FIGURA 4: Irradiâncias UVB e UVA e a relação entre ambas. Parte superior – Irradiâncias (em Wm-2) UVB, à esquerda, e UVA, à
direita, típicas para um dia de céu claro no solstício de verão. Parte inferior – Composição do feixe de radiação. Percentual do
feixe decorrente de radiação direta (cinza) e difusa (branca)
Março
Junho
Setembro
Dezembro
FIGURA 5: Variabilidade da R-UVB em
Quantidade relativa de R-UVB em
relação ao total de R-UV (%)

relação ao total de R-UV durante o


ano. Quantidade relativa de R-UVB
(%) no total de R-UV que atinge a
superfície terrestre nos solstícios de
verão (dezembro) e inverno (junho)
e equinócios de outono (março) e
primavera (setembro). As simulações
foram realizadas com base nos
conteúdos totais médios de ozônio entre
os anos 2004 e 2012 para a cidade de São
Paulo/SP, considerando céu claro (sem
nuvens)
Hora local

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país são observados na região Sudeste que se encontra ano, o valor do IUV em condições de céu claro é inva-
por volta de 23° de latitude. A figura 6 ilustra essa va- riavelmente extremo pelo fato de o Sol passar pratica-
riação latitudinal para os solstícios de inverno e verão mente a pino ao meio-dia solar. Nesse caso, a radiação
na América do Sul. solar atravessa um caminho óptico menor, sofrendo
A imagem da figura 6(a) refere-se ao solstício menos atenuação pelos componentes atmosféricos.
de inverno no hemisfério sul, isto é, o dia de menor Por esse motivo, no verão, o IUV tem valores máxi-
duração no ano e aquele de menor elevação do Sol ao mos nessa região, diminuindo gradativamente tanto
meio-dia solar. Nesse caso, os valores extremos de IUV em direção ao Equador quanto em direção ao polo sul.
(> 11) são observados apenas no norte do Amazonas e O sul da América do Sul, entre 50° e 60° de latitude por
Pará, diminuindo gradativamente com o aumento da exemplo, também tem sazonalidade marcante. Porém,
latitude. É importante notar que mesmo em se tratan- no verão, os valores máximos de IUV são da ordem de
do de inverno no hemisfério sul, o IUV pode atingir 7 a 8 para céu claro, enquanto no inverno são quase
valores muito altos (IUV entre 8 e 11) em praticamente sempre inferiores a 2.
todo o Norte e Nordeste brasileiros, enquanto valores Um equívoco grave, porém bastante comum, é
entre médios e altos são comuns, em dias de céu claro, atribuir a ocorrência dos verões e invernos ao afasta-
na região Sudeste do país. mento e aproximação entre a Terra e o Sol. A varia-
Na figura 6(b), referente ao solstício de verão e, ção da distância entre o afélio e o periélio é de cerca
portanto, o dia de maior duração do ano em que o Sol de 3% e, portanto, as variações de radiação solar são
passa mais próximo do zênite, o IUV ao meio-dia so- pouco significativas. Além disso, se invernos e verões
lar registra valores máximos numa extensa faixa que fossem definidos pelo afastamento entre a Terra e o
cobre todo o Sudeste, Centro-Oeste e boa parte das re- Sol, as estações do ano seriam as mesmas em ambos
giões Sul e Nordeste do Brasil. Nessa área e época do os hemisférios. Portanto, as diferenças de intensidade

A) Solstício de inverno B) Solstício de verão

Fonte: Divisão de Satélites e Sistemas Ambientais do CPTEC/INPE (http://satelite.cptec.inpe.br)

FIGURA 6: Simulação numérica do IUV ao meio-dia solar para condições de céu claro (sem nuvens)

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de radiação solar entre o inverno e o verão se devem zonte. Por esse motivo, próximo ao nascer ou ao ocaso,
ao ângulo de inclinação da Terra em seu movimento a R-UV sofre maior interação com as moléculas pre-
de translação em torno do Sol. Por esse motivo, os ve- sentes nessa trajetória pela atmosfera e, praticamente,
rões no hemisfério sul coincidem com os invernos no não atinge a superfície (ou a atinge em quantidades
hemisfério norte e vice-versa. muito pequenas). Por outro lado, a disponibilidade
Outro parâmetro geográfico de relevância para de radiação solar ao meio-dia solar é a máxima ob-
determinação do IUV é a altitude da superfície. Es- servada. Obviamente, nuvens e outros componentes
tudos mostram que acima de 1000 m de altitude, os atmosféricos podem exercer efeitos que aumentem ou
níveis de R-UV aumentam entre 5 a 10% a cada qui- diminuam a quantidade de radiação em superfície.
lômetro de elevação.19,20 Esse fenômeno se deve ao
fato da rarefação da atmosfera com a altitude, dimi- QUEBRANDO PARADIGMAS: UM BALANÇO DAS
nuindo o efeito do espalhamento na atenuação da MEDIDAS DE R-UV REALIZADAS NO BRASIL
R-UV. Na região dos Andes bolivianos, em torno de Há uma ligação intrínseca entre a ocorrência de
4000 m de altitude, onde se localizam importantes diferentes enfermidades e as condições de tempo e cli-
aglomerações populacionais como La Paz e El Alto, ma. O conhecimento dessa relação é fundamental não
por exemplo, os índices de R-UV são os mais eleva- só para a prevenção, mas também para a mitigação de
dos do planeta. Na figura 6(b), essa região está des- impactos sociais e econômicos. Por esse motivo, nos
tacada em azul-claro com IUV superior a 16, atin- últimos dez anos, o interesse por estudos interdisci-
gindo comumente valores de IUV maiores que 20. plinares envolvendo aspectos meteorológicos, epide-
Recentemente, um grupo de pesquisa alemão de- miológicos e da saúde humana cresceu de maneira
tectou, por meio de medidas nessa região, o recorde significativa no Brasil. No que se refere especificamen-
mundial do IUV, jamais registrado no planeta: 43,2. 21 te ao câncer de pele, cuja elevada e crescente taxa de
incidência provoca grande preocupação, as medições
Por fim, a capacidade da superfície em refletir a e estudos dos níveis de R-UV no Brasil proporcionam
R-UV também deve ser considerada. Superfícies como um novo panorama sobre o assunto.
a grama, areia e asfalto refletem entre 1 a 5%, enquan- Por exemplo, um experimento realizado na ci-
to superfícies pintadas de branco, ou areia mais fina, dade de São Paulo/SP coletou medidas de IUV a cada
podem refletir até 10% da R-UV incidente. Por outro dez minutos durante quatro anos.24 Essa extensa base
lado, a neve tem alta refletância no espectro UV, po- de dados mostrou que, aproximadamente, 60% das
dendo, no caso de neve seca e fresca, refletir mais de medidas de IUV registradas entre as 11 e 13 horas nos
90% da R-UV incidente.22,23 É por esta razão que a pro- verões paulistanos têm classificação de dano à saúde
teção solar, principalmente o uso de óculos de sol, é como muito alto ou extremo, de acordo com a quadro 1.
estritamente recomendada àqueles que se encontram Essas classificações também foram observadas em 45%
expostos em regiões nevadas. das medidas no outono e em quase 30% daquelas reali-
zadas na primavera. Nesse período de medições, foram
Parâmetros temporais registrados valores de IUV superiores a 15 em alguns
A posição do Sol em uma determinada locali- episódios.
dade varia em função da hora do dia e do dia do ano. Outro estudo mais recente, com medidas rea-
Tais parâmetros estão diretamente relacionados aos lizadas em Ilhéus/BA, Itajubá/MG e São Paulo/SP,
fatores geográficos, uma vez que a duração do dia e mostra que esses níveis elevados de R-UV são comuns
a caracterização das estações dependem da localidade em todo o país.25 As doses diárias de irradiância eritê-
estudada. A figura 6 mostrou a variabilidade sazonal mica são, em média, mais altas no Nordeste brasileiro.
do IUV de acordo com a localidade. Enquanto locais No entanto, as doses máximas observadas no país são
próximos à linha do Equador apresentam IUV muito registradas na região Sudeste durante os verões. Em
altos e praticamente constantes durante todo o ano, la- 5% dessas medidas, as doses acumuladas ultrapassa-
titudes mais elevadas apresentam sazonalidade mar- ram os 6000 Jm-2, isto é, mais de 24 vezes a dose erite-
cante, com IUV maiores no verão e menores no inver- matosa mínima (DEM) para um indivíduo fototipo II
no. Como explicado anteriormente, essa variabilidade ou mais de 13 vezes para um indivíduo fototipo IV. 26
se deve à posição relativa entre o Sol e a Terra. Esse mesmo estudo mostra que as doses acumuladas
Essa mesma explicação também pode ser usada no verão têm médias (± desvio padrão) de 4860 ± 860,
para justificar a variação do IUV durante o ciclo diurno 4180 ± 1320 e 4520 ± 1210 Jm-2 em Ilhéus/BA, Itaju-
do Sol. Grosso modo, durante um dia, o Sol descreve bá/MG e São Paulo/SP, respectivamente. No entanto,
uma trajetória na qual se eleva em relação ao horizon- em um dia de céu claro típico de verão, é comum ob-
te, atinge um ponto de máxima elevação ao meio-dia servar episódios de doses diárias de quase 7000 Jm-2
solar e, gradativamente, volta a se aproximar do hori- na cidade de São Paulo. No inverno, essas doses são,

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evidentemente, menores nessas três localidades, res- IV que estivesse ao Sol às 9 h da manhã estaria exposto
pectivamente: 2870 ± 740, 2550 ± 790 e 2250 ± 850 Jm-2. à DEM em pouco mais de 15 minutos de exposição.
De qualquer modo, ainda que consideremos o inver- Por fim, é importante analisar tais dados em compara-
no, trata-se de quantidades relativamente elevadas ção àqueles coletados no hemisfério norte. Por exem-
que superam em mais de duas de dezenas de vezes a plo, a figura 7 mostra um comparativo entre séries
dose diária recomendada pela OMS. Isto é, episódios temporais de medidas de experimentos realizados nas
de grande intensidade de radiação não deixam de ser cidades de São Paulo, Brasil, e Paris, França.24,25,27
notados mesmo no inverno. Essas estatísticas de dois grandes experimentos,
Essas medidas de doses significativas de R-UV realizados em diferentes posições geográficas (Paris,
eritêmica podem ser registradas em horários comu- 48° de latitude norte, e São Paulo, 23° de latitude sul),
mente considerados como seguros para a exposição. evidenciam a significativa diferença entre o IUV nes-
Por exemplo, em alguns episódios de medidas realiza- sas localidades. Apesar dos períodos distintos de me-
das durante o verão foram registradas doses de até 660 didas, é importante ressaltar que se trata de amostras
Jm-2 até as 10 horas da manhã na cidade de São Paulo. significativas contando com mais de 300.000 dados
Considerando que a DEM para indivíduos fototipo II medidos em cada uma dessas localidades. Nesses pe-
é 250 Jm-2, nessa situação, um indivíduo exposto antes ríodos, puderam ser observadas diferentes situações
das 10 h da manhã poderia receber aproximadamente atmosféricas e não foram observadas anomalias nas
2,6 vezes a quantidade mínima de radiação para de- concentrações de ozônio, fazendo com que as mesmas
senvolver eritema. No caso de fototipo IV, essa dose possam ser consideradas amostras fidedignas do IUV
seria 1,5 vez superior à DEM de 450 Jm-2, indicando em ambas as localidades.
riscos à saúde mesmo em indivíduos com peles mais O primeiro resultado a se destacar na distribui-
resistentes aos danos provocados pela R-UV. 25 ção dos boxplots é que 75% das medidas realizadas em
Outro episódio significativo foi observado em Paris estão abaixo de IUV = 3. Em São Paulo, ocorre
medidas de IUV coletadas pelo autor, entre as 9 h e o justamente o inverso, pois 75% das medidas estão aci-
meio-dia, na Praia de Ponta Negra, Natal/RN, no dia ma de IUV = 3. Quase 25% de todas as medidas rea-
13/03/2011. Nesse episódio, quase ao fim do verão, fo- lizadas em São Paulo têm IUV superior a 8. Trata-se
ram registrados IUV superiores a 10 a partir das 9h da de um número bastante expressivo já que essa análise
manhã. Em 2,5 horas de experimento foram acumula- estatística leva em consideração todas as estações do
dos 5250 Jm-2, quase 50 vezes a dose diária recomenda- ano, incluindo o inverno, assim como dias com nebulo-
da pela OMS. Nessa situação, um indivíduo fototipo sidade ou chuva. Valores de IUV até 11,5 são razoavel-
mente comuns (abaixo do P95), enquanto o recorde de
IUV observado na cidade foi de 16,8 no verão de 2008.
Em contrapartida, valores de IUV superiores a 6 com-
preendem menos de 5% dos dados coletados em Paris;
e o recorde observado nessa cidade é um valor bastante
comum nas primaveras ou outonos paulistanos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Índice UV

Os estudos apresentados nesse trabalho deixam


evidente que as recomendações de proteção solar, ba-
seadas em cartilhas e estudos realizados principalmen-
te nos EUA e Europa, não são adequadas à realidade
brasileira. A maior parte do território brasileiro locali-
za-se nas regiões tropical e subtropical do hemisfério
sul do planeta, onde a disponibilidade de radiação so-
lar é bastante elevada e as concentrações de ozônio são
Fonte: de Paula Corrêa M, et al., 2010 24; de Paula Corrêa M, et al., 2013 25 e naturalmente menores. Por estes motivos, os valores
Jégou F, et al., 2011 27 de IUV observados no país habitualmente atingem as
escalas mais elevadas do IUV recomendado pela OMS,
FIGURA 7: Boxplot das bases de dados de medidas de IUV. isto é, de dano muito alto (IUV entre 8 e 10) ou extre-
Medidas realizadas em torno do meio-dia solar (uma hora mo (IUV superior a 11) à saúde humana. No Norte e
antes e uma após) nas cidades de Paris (2011-2013)27 e São Nordeste do país, tais valores podem ser observados
Paulo (2006-2009).25 O círculo indica a média, os bigodes mesmo antes das 9 h da manhã, em todas as épocas no
mostram o 5° e 95° percentil, e o asterisco, o valor máximo ano. No Sul e no Sudeste, ao meio-dia solar, os valores
medido no período de IUV são caracterizados pela sazonalidade marcada,

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com valores de IUV extremos no verão e entre médios Com base nesses conhecimentos fundamentais,
e altos no inverno. Porém, é durante o verão da região conclui-se que não há como preconizar um horário
Sudeste do país que são observados os recordes brasi- adequado ou um tempo ideal para exposição ao Sol,
leiros com episódio de IUV superiores a 15. pois a variabilidade regional e meteorológica é signifi-
Esses novos conhecimentos acerca da distri- cativa nas diferentes estações do ano e regiões do país.
buição do IUV no Brasil são subsídios importantes Por esse motivo, o reforço das recomendações quanto
para uma reflexão acerca da mitigação do problema à necessidade de se evitarem exposições prolongadas
do câncer de pele no país. Esses valores de IUV muito e de se utilizarem diferentes formas de proteção, em
elevados exigem que a prevenção acerca da proteção praticamente qualquer época do ano, é imprescindí-
solar faça parte do cotidiano de cada cidadão. Esfor- vel. Em relação às formas de proteção, é relevante que
ços como o Consenso Brasileiro de Fotoproteção são também se incluam alternativas aos protetores solares
fundamentais para a harmonização e reforço de cam- convencionais, custosos para a maior parte da popu-
panhas preventivas. Junto a tais esforços, é importante lação brasileira, tais como o uso de roupas, chapéus e
que formadores de opinião, entre os quais se inclui a óculos de sol. É importante que tais alertas e o conhe-
classe médica em seus contatos diários com os pacien- cimento dos possíveis danos à saúde sejam estendidos
tes, estejam cientes de que o bom senso na exposição é às crianças e aos adolescentes, ainda mais pelo fato de
ferramenta indispensável para evitar o câncer de pele. os estudos que levam em consideração as mudanças
Por essa razão, o conhecimento a respeito das caracte- climáticas não apontarem mudanças significativas nos
rísticas e variabilidade da R-UV é fundamental para níveis de R-UV até o final desse século.28 Portanto, é
que o profissional da saúde forneça informações claras fundamental que as novas gerações adotem um com-
e precisas. Espera-se que este artigo tenha cumprido portamento de exposição mais cuidadoso e bastante
essa meta. distinto do atual.T

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Como citar este artigo: Corrêa MP. Radiação solar ultravioleta: propriedades, aspectos físicos e níveis observados no
Brasil e na América do Sul. An Bras Dermatol. 2015;90(3):297-310.

An Bras Dermatol. 2015;90(3):297-310.

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