Sociedade e Contemporaneidade
PENSAMENTO SOCIAL
E IDEOLOGIAS: DOS
GREGOS AOS DIAS
ATUAIS
AFINAL? Quais são os povos e culturas que mais influenciaram o OCIDENTE?
Por Prof. Paulo G. M. de Moura
A
sociedade Ocidental, tal como a conhe-
cemos nos dias atuais, é resultado de
uma experiência civilizatória que nasce
em torno do ano 500 a.C. na Grécia, em seguida
passa pela experiência da República Romana e
do Império Romano, e se consolida com a expe-
riência do Cristianismo.
O pensamento político na Anti-
güidade: herança greco-latina
O Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
s gregos nos legaram a noção de Polí-
tica entendida como participação dos
cidadãos, em condições de igualdade,
nas discussões sobre o destino coletivo da polis
(termo que designa Cidade em grego, e que dá
origem à palavra Política), pela deliberação do
voto da maioria, ou seja, são os precursores de
Democracia.
À experiência da República Romana, di-
fundida por todo o mundo ocidental através da
expansão do império Romano, devemos a noção
de sociedade organizada e governada por insti-
tuições de poder, de mediação das relações dos
cidadãos entre si e com o Estado através de leis
escritas. E, finalmente, do Cristianismo, herda-
mos os valores morais e a experiência da sepa-
ração entre a religião e o poder de Estado, que
se desenvolve a partir do monoteísmo e da idéia
Cristã, de que Deus é uno, onipresente e relacio-
Os fundamentos teóricos e filosóficos que
deram origem ao nosso sistema de crenças e va-
lores e nossa organização política, econômica e
social, trazem, desde então, até os dias de hoje,
marcas das experiências pelas quais passou a Ci-
vilização Ocidental ao longo desses três perío-
dos históricos.
na-se com os fiéis de forma individual, através
da oração; não devendo ser confundido com a fi-
gura dos governantes. Ao converter-se em Igreja,
como instituição separada das instituições roma-
nas, o cristianismo lega-nos a terceira experiên-
cia civilizatória que marcará, posteriormente, o
processo de fundação do Estado Moderno.
A influência Grega
No período clássico da história da Grécia
Antiga, que vai do século V a.C. até o nascimen-
to de Cristo, a Grécia viveu um processo de ex-
pansão comercial que deu origem ao surgimento
de cidades. A sociedade era integrada por pro-
prietários de terras que viviam fora das cidades,
pelos habitantes das inúmeras ilhas que viviam
em aldeias e sobreviviam da pesca, e pela maio-
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O mapa da Grécia
Fonte 1: Google Maps
Essas centenas de cidades, dentre as quais se
destacaram Esparta e Atenas, eram autogovernadas,
independentes, e costumavam guerrear entre si.
ria do povo que habitava as chamadas cidades-
estado e os campos que às circundavam.
Atenas, por exemplo, chegou a ter cerca de
250 mil habitantes, numa época em que inexis-
tiam as condições de infra-estrutura de que hoje
dispomos. Nesse período viveram os grandes fi-
lósofos, como Platão e Aristóteles, cujas idéias
deixaram marcas no pensamento político da So-
ciedade Ocidental.
Aristóteles enaltecia a vida na cidade, afir-
mando que o isolamento do homem que vivia no
campo organizado a partir de estruturas familia-
res tradicionais e aldeias, apresentavam formas
não-desenvolvidas de organização social.
Assim, segundo esse pensador, os homens
vivem apenas voltados para a sobrevivência, sen-
do conduzidos pelos acontecimentos e sem poder
de escolher e construir seus destinos individuais
e coletivos. Para esse pensador, portanto, a vida
na polis proporcionava uma forma mais desen-
volvida de organização social, pois, na cidade
tornava-se possível realizar a virtude humana
(logos: conhecimento, inteligência), caracterís-
tica que nos diferencia dos animais.1 A vida na
polis gerou a necessidade de os cidadãos delibe-
rarem sobre seu destino coletivo e, conseqüente-
A pólis não era somente uma realidade material. Era
também um fato de ordem religiosa, jurídica e moral. Acima
dos monumentos e dos edifícios, ela manifestava, a toda
hora, uma estrutura espiritual profunda através de suas di-
vindades, suas instituições peculiares, suas leis, interesses
e mentalidade própria.
mente induziu o desenvolvimento do raciocínio
estratégico com a finalidade de construir o fu-
turo almejado, isto é, levou os cidadãos a fazer
Política.
Para o filósofo a vida na polis (cidade) pro-
porcionava uma forma mais desenvolvida de
organização social, pois, na cidade tornava-se
possível realizar a virtude humana (logos: co-
nhecimento, inteligência), característica que nos
diferencia dos animais.
A Política, portanto, é entendida por Aristó-
teles como a ação social dos cidadãos, visando
definir o destino da coletividade. Para os gregos,
a deliberação sobre o destino coletivo ocorria
pelo voto direto da maioria dos cidadãos reuni-
dos em assembléias populares, em praça pública,
experiência fundadora da noção de Democracia
que renasce com as revoluções dos séculos XVII
e XVII e vem sendo aperfeiçoada até os dias de
hoje.
A tomada de decisões coletivas através do
voto da maioria convencida pela persuasão atra-
vés da retórica é chamada de Democracia Direta,
já que na Grécia de então inexistiam leis escri-
tas, governo, tribunais e parlamento tais como
surgiram posteriormente. Ao deliberarem cole-
tivamente sobre seu destino dessa forma, através
das quais estabelecem relações de isonômicas
entre os cidadãos, os gregos fundam também, o
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
princípio da Igualdade que, posteriormente, tam-
bém inspirará as revoluções burguesas ocorridas
na Europa após o fim da Idade Média. Entre os
cidadãos gregos, portanto, não se estabeleciam
relações de hierarquia, visto não haver estruturas
institucionais, de representação política e me-
diação de conflitos tal como as que existem na
sociedade atual.
Fionte 2: Arquivo Ulbra Ead
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Os princípios filosóficos implícitos às idéias Esta figura representa o COLISEU

de Democracia e Igualdade entre os cidadãos
ROMANO símbolo da” política do
criados pelos gregos devem ser compreendidos
sob as circunstâncias históricas em que surgiram, pão e circo”l
pois, de fato, se comparados à noção desses con-
ceitos de hoje em dia, não poderemos considerar
a sociedade dessa época como sendo efetivamen-
te igualitária e democrática, pois apenas poucos
homens tinham direito de voto nas assembléias
populares. Escravos; mulheres e jovens, então,

Fonte 3: Wikipedia
não participavam da vida pública. Em Esparta
apenas, uma cidade-estado militarizada e voltada
para a guerra, apenas, e talvez por isso, as mulhe-
res participavam da política e dos esportes, sendo A experiência da República Romana, como mo-
independentes e tendo acesso à instrução. delo de organização social e política, depois deu
origem à sociedade regulada por leis escritas e pela
A percepção do que é Liberdade para os gre- constituição de uma ordem militar e administrativa
gos, idéia que também influenciará a formação verticalizada.
da Sociedade Ocidental Moderna a partir revolu-
Em Roma, surge também a idéia de repre-
ções que ocorreram na Europa acompanhando as
sentação política do povo através de um corpo
revoluções Comercial e Industrial, também deve
de senadores eleitos pelos cidadãos romanos.
ser circunstanciada pelas características do perí-
A idéia de res publica, isto é, de constituição de
odo histórico em que ocorreu. A polis era, tam-
uma esfera de participação política dos cidadãos,
bém, uma forma de defesa militar para os cida-
separada da esfera de suas vidas e interesses
dãos gregos, num contexto em que a derrota nas
privados, também inspirará, posteriormente, a
guerras impunha aos perdedores à escravização
formação das instituições política da sociedade
pelos vencedores. Para o cidadão grego, então, a
moderna.2
participação na tomada de decisões sobre o desti-
no da polis era uma imposição e não opção.
Mesmo assim, contextualizada como etapa
do nosso processo civilizatório é o surgimento
Religião e política
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
das idéias de Democracia, Igualdade e liberdade
que diferenciavam a civilização grega dos povos
bárbaros, é que, como princípio filosófico, inspi-
rará as formas de Democracia hoje existentes no
O Monoteísmo com
mundo ocidental. Igreja e sem Igreja

A Influência Romana A relação entre política e religião no OCIDENTE

Sob o Império de Roma, as funções do Im-
Os romanos, no período histórico subse-
perador eram, simultaneamente, de condução dos
qüente, também contribuíram para a o desenvol-
assuntos da administração, da política, da guerra
vimento da humanidade e para a formação do sis-
(temporais) e, também, doas assuntos morais e
tema político da sociedade ocidental moderna.
religiosas (espirituais).
O Império Romano começa a surgir cerca
Inexistia na sociedade romana, portanto, se-
de 250 anos antes do nascimento de Cristo, atin-
paração entre política e religião, que o surgimen-
ge seu apogeu em torno de 140 a.C. tendo perdu-
to do cristianismo irá fundar e legar à Sociedade
rado, no Ocidente até 476 d.C. e no Oriente até
Ocidental.
1453 d.C.

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O século XIII assinala o apogeu da Igreja
católica no ocidente europeu.
A doutrina católica da Soberania define a
separação da autoridade temporal (Potestas), da
autoridade sobre moral e religiosa (Auctoritas),
demarcando o poder político da Igreja como ins-
tituição, concomitantemente ao processo de de-
cadência do Império Romano.3
Fonte 4: Wikipedia
O século XIII assinala o
apogeu da igreja católica
no ocidente europeu.
A luta das duas espadas foi formulada teo-
ricamente por São Bernardo de Claraval, no sé-
culo XII e representa o acirramento do confronto
entre os dois poderes, o espiritual e o temporal.
Se cabe aos reis cuidar dos corpos e à Igreja a
salvação da alma, esta última tarefa é superior e
não se deve poupar aqueles que praticam delitos
contra a moral cristã, atribuindo-se o direito de
punição aos ofensores. Quando se trata de reis,
pode caber até a deposição, o que era possível na
medida em que o papa, ao excomungar um rei,
desobrigava os fiéis do dever de fidelidade.
Curiosamente, será justamente esse princípio
de separação da autoridade do Papa e do Impera-
dor, que surgiu para demarcar o poder da igreja
contra os poderes do Imperador e dos reis, que ter-
minará alimentando a separação definitiva entre
a religião e o poder de Estado, a partir das revolu-
ções burguesas nos séculos XVII e XVIII, esta é,
então outra, característica marcante da organiza-
ção política e institucional da sociedade moderna.
Pensamento político moderno
N
icolau Maquiavel, pensador florentino
que viveu na transição dos séculos XV
e XVI, é considerado fundador do pen-
samento político moderno.
Fonte 5: Wikipedia
Maquiavel foi quem pela primeira vez, for-
mula a idéia de que ética política deveria se liber-
tar das doutrinas políticas de origem teológica.
O Corão
Os muçulmanos acreditam que o Alcorão foi
transmitido por Deus a Maomé, através do anjo Ga-
briel. A religião muçulmana é monoteísta. Acredita na
imortalidade da alma e estabelece preceitos morais.
Religião e Política no ORIENTE
O Islamismo, nascido no século VII d.C. be-
beu da mesma fonte do cristianismo, nas escri-
turas sagradas do povo Judaico, (o Velho Testa-
mento) mas, não levou à separação entre Estado
e Igreja no mundo oriental, nas sociedades de re-
ligião muçulmana inexiste uma Igreja institucio-
nalizada da forma como se erigiu e se expandiu a
Igreja Católica no Ocidente.
O Islã é, ao mesmo tempo, uma fé religiosa e
uma comunidade social e política, e sua doutrina en-
fatiza um monoteísmo rígido.
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
A guerra santa (Jihad), para conversão dos pa-
gãos à fé em islâmica é função dos governantes, ra-
zão pela qual, a história, nos países islâmicos não
levou à adoção de um sistema político democrático
tal como o existente na sociedade ocidental, cultural-
mente influenciado pela tradição judaica e cristã.4
Nicolau Maquiavel, pensa-
dor florentino escreveu o livro “O
Príncipe”, dedicado a Lourenço
de Médici, em que se propõe
a explorar as condições pelas
quais um monarca absoluto é
capaz de fazer conquistas, rei-
nar e manter seu poder.
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Maquiavel defendia a
idéia de que as liberdades
civis eram a chave para a
constituição de uma forma
republicana de governo.
Nos séculos seguintes, Thomas Hobbes,
John Locke, Jean Jaques Rousseau e Charle-
se Montesquieu, prosseguem na formulação da
moderna Teoria do Estado, que dá origem ao
pensamento liberal, que nasceu como ideologia
de contestação ao Absolutismo dos reis à épo-
ca. Posteriormente, com o desenvolvimento do
capitalismo, surgirão os pensadores que contes-
tam esse sistema a partir do ideário anarquista e
socialista. Os ideários do Liberalismo e do So-
cialismo evoluem desde então, atravessando os
séculos seguintes e, embora adaptados às novas
realidades históricas, estão na origem das ideolo-
gias políticas contemporâneas.
O Liberalismo
O pensamento liberal se compõe de um nú-
cleo de idéias morais, um núcleo de idéias políti-
cas e um núcleo de idéias econômicas.
Como idéia moral o liberalismo clássico
defende a primazia da liberdade individual ga-
rantida através de um conjunto de direitos esta-
belecidos em lei.
O liberalismo surge em
oposição ao absolutismo e
é marcado pela contesta-
Fonte 6: Arquivo Ulbra Ead
ção ao direito divino dos
reis, à hereditariedade na
transmissão do poder e o
sistema de religião oficial
do Estado.
O pensamento econômico e político, o pen-
samento liberal defende a livre iniciativa e a livre
concorrência econômica, assim como a vigência
de um sistema de governo democrático; a hierar-
quia das leis sobre o governo e os governantes; e
os direitos à liberdade de expressão e crença.
Dentre os princípios do liberalismo incluem-
se a defesa dos direitos individuais e civis, como
o direito à vida, à liberdade, à propriedade pri-
vada e o governo baseado no consentimento dos
governados e escolhido através de eleições livres,
e na igualdade de todos perante a lei.
O pensamento liberal como corpo organiza-
do de princípios morais, políticos e econômicos
começa a assumir contornos mais definidos a
partir dos movimentos de contestação ao Abso-
lutismo na Inglaterra.
Sua idéia motora central reside na concep-
ção segundo a qual a ordem social pode se as-
sentar sobre indivíduos livres, prescindindo do
comando do Estado tal como concebido por
Thomas Hobbes como garantia da submissão de
todos à ordem pública, garantia da liberdade, da
paz social e da estabilidade política. John Locke
(1632-1704), através de um obra intitulada “Dois
tratados de governo” é considerado o formulador
das idéias que defendem a liberdade econômica,
o direito de propriedade e a liberdade de expres-
são de idéias de opção. Locke, posteriormente,
defende o que define como “direitos naturais” à
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
“vida, à liberdade e à propriedade”(AZAMBUJA,
1989).
O princípio da soberania da lei, inclusive
sobre o poder dos reis, foi formulado por Mon-
tesquieu na obra intitulada “O espírito das leis”,
Os liberais clássicos defendiam que as nações
seriam mais ricas se nelas vigorasse a liberdade de
iniciativa; sem a intervenção do Estado.
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na qual esse pensador defende a tese de que o go-
verno ‘natural’ é aquele que melhor corresponde
à vontade das pessoas em favor do qual é estabe-
lecido. Já a defesa da tese de o livre mercado se
auto-organiza em benefício da sociedade como
um todo é obra dos economistas Jean-Baptiste
Say e Destutt de Tracy, considerados autores da
expressão “laissez-faire”.
David Hume, Adam Smith e Immanuel
Kant são considerados alguns dos principais ex-
poentes do pensamento liberal, sendo o segundo
o mais conhecido deles. Estes, no entanto, for-
ma precedidos pelos fisiocratas franceses, de-
fensores da auto-regulação dos mercados. Em
1765, Anders Chydenius publica The National
Gain, tornando-se o primeiro defensor do livre
comércio, e definidor dos princípios do pensa-
mento liberal. Antes ainda, em 1750, Benjamin
Franklin, já defendia a liberdade para a indústria
norte-americana.
Adam Smith (1723-1790) formulou uma te-
oria segundo a qual os indivíduos podem orga-
nizar suas vidas econômicas e orientarem-se por
padrões de conduta moral sem se restringirem às
limitações do Estado, afirmando que as nações
seriam mais fortes e prósperas se nelas vigorasse
a liberdade de iniciativa; sem a intervenção do
governo na vida econômica e nos negócios pri-
vados dos indivíduos.
Já Immanuel Kant, influenciado pelo em-
pirismo e pelo racionalismo de Hume, trouxe
contribuição à formulação das idéias liberais
sobre a ética e a moral. Para ele os sistemas or-
ganizados a partir da razão e da moral estavam
subordinados à lei e à moral natural, levando ao
fracasso as tentativas de mudar essa realidade.
O Anarquismo
O Anarquismo associa-se às correntes de
pensamento e aos movimentos que lutavam pelo
fim, tanto do capitalismo como do Estado, e que
supõe a existência de uma sociedade sem Esta-
do.
O conceito de Anarquismo pressupõe a idéia
de uma sociedade na qual estão ausentes a ordem
e a coerção. O anarquismo possui diferentes ver-
tentes teóricas com suas diferentes concepções
sobre as formas através das quais os governos
deveriam ser abolidos e, também, sobre o tipo de
organização social que seria possível sob a au-
sência do Estado.
O Socialismo Utópico
Os pioneiros do ideário socialista forma pen-
sadores como Saint-Simon (1760-1825), Fourier
(1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert
Owen (1771-1858). Karl Marx, que atribuía ca-
ráter científico a sua concepção de socialismo,
criticava os precursores do movimento socialis-
ta por serem de utópicos. Ao contrário da teoria
materialista histórica marxista, seus antecessores
não mostravam de que maneira deveria ocorrer a
transição do capitalismo para a sociedade justa e
igualitária preconizada.
Em 1864 Marx e Engels (Socialistas Cien-
tíficos) propõem a fundação da Associação
Internacional dos Trabalhadores, ou, Primei-
ra Internacional, um partido internacional dos
trabalhadores cuja meta seria a emancipação do
proletariado. Esta união de grupos operários de
vários países europeus teve em Marx seu prin-
cipal inspirador e porta-voz, tendo este lhe de-
dicado boa parte do seu tempo. Na França, o
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
pensamento socialista teve como porta-vozes
Saint-Simon, Fourier e Proudhon.
Fonte 8: Arquivo Ulbra Ead
Com o desenvolvimento do CAPITALISMO E DA
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL a partir do século XIX, emer-
ge o fenômeno urbano, povoado por aglomerados de
operários mal remunerados, pano de fundo para a
contestação das idéias liberais que teriam derivado
numa sociedade injusta.
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O Socialismo científico
O socialismo científico, em tese, seria um
sistema econômico no qual os meios de produ-
ção seriam estatizados, inexistindo, portanto, o
direito à propriedade privada.
O regime político basear-se-ia no conceito
marxista de ditadura do proletariado, exercida
pelo Partido Comunista, única agremiação polí-
tica permitida. Nesse sistema as desigualdades
sociais seriam reduzidas gradativamente através
da distribuição da riqueza pelo Estado gerido
pelo partido único, que administraria a transi-
ção para a sociedade comunista, na qual, tam-
bém em tese, não haveria mais necessidade da
existência de Estado e mesmo do partido, pois,
tendo desaparecido as desigualdades sociais,
desapareceriam os conflitos em torno da distri-
buição da riqueza.
O sistema foi implantado, pela primeira vez,
na Rússia, a partir da revolução comunista de
1917. Depois da II Guerra Mundial, foi instaura-
do pelos russos nos países da Europa do Leste
libertados do nazismo pelo Exército Vermelho,
dando origem à União das Repúblicas Socialis-
tas Soviéticas (URSS). Em seguida o sistema foi
implantado na China (1949), em Cuba (1959)
e no Vietnam (1975). O chamado “Socialismo
real”, ao contrário do que dizia a teoria marxis-
ta, deu origem a regimes totalitários, desrespei-
tadores das liberdades e direitos humanos e, do
ponto de vista econômico, converteu-se numa
sociedade desigual, dividida entre os privilegia-
dos burocratas do Partido Comunista, e os de-
mais trabalhadores, aos quais era negado acesso
aos benefícios que os membros do partido usu-
fruíam na condição de pretensos distribuidores
da riqueza controlada pelo Estado.
As análises contemporâneas que criticam
o socialismo real e o comunismo atribuem ao
controle central da economia pelo Estado, ao
excesso de burocracia e à privação de liberdades
políticas e econômicas, as causas para a falência
do sistema, que ruiu na década de 1980, levando
à URSS ao fim, em 1991.
O Comunismo
O Comunismo seria um sistema econômico
no qual inexistiriam desigualdades de qualquer
natureza.
Nesse sistema os meios de produção seriam
propriedade de todos os membros da sociedade
e seriam controlados pelos trabalhadores. Inexis-
tindo desigualdades econômicas e havendo abun-
dância dos recursos necessários à sobrevivência
dos indivíduos, inexistiria a luta de classes e,
conseqüentemente, o Estado tornar-se-ia desne-
cessário e desapareceria.
Dentre os principais teóricos do pensamento
comunista, encontram-se Karl Marx, o pioneiro
da teoria do materialismo histórico e científico,
seguido por nomes como os de Friedrich Engels,
Rosa Luxemburgo, Vladimir Ilich Lênin, Leon
Trotski, Joseph Stálin, Antonio Gramsci e Mao
Tse Tung, dentre outros. O Manifesto do Partido
Comunista é a obra considerada pedra fundadora
do movimento comunista internacional, e foi ela-
borado por Marx e Engels. Marx é, ainda, autor
de “O Capital”, densa obra na qual elaborou sua
crítica teórica ao capitalismo vigente, especial-
mente na Inglaterra na primeira metade do sécu-
lo XIX.
Fruto da divergência entre marxistas e anar-
quistas em torno da questão da necessidade ou
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
não do Estado como instrumento de transição
para o comunismo, a Associação Internacional
dos Trabalhadores (AIT) sofre uma cisão entre
os seguidores das idéias de Marx (que defendiam
a necessidade do Estado Socialista para realizar
a revolução comunista) e os seguidores das idéias
de Bakunin (que defendiam o contrário, isto é,
que seria necessário abolir qualquer forma de Es-
tado, caso contrário não se chegaria a uma socie-
dade igualitária). Nasce, então, a Internacional
Socialista, partido internacional da classe tra-
balhadora, agrupando apenas os seguidores das
idéias marxistas.
Socialismo e comunismo, até os dias de hoje,
são termos tratados como se fossem sinônimos,
muito embora exista uma clara diferenciação en-
tre as definições dos dois sistemas. Lênin, o prin-
cipal líder da revolução russa de 1917, proporá o
abandono do termo socialista pelos revolucioná-
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rios comunistas, pois em 1919, o Partido Operá-

rio Social-democrata alemão, votará a favor dos
créditos de guerra, que financiariam a participa-
ção da Alemanha na Primeira Guerra Mundial
passando, então, a ser considerado pelos comu-
nistas como traidor dos ideais revolucionários

Fonte 10: Wikipedia

internacionais comunistas, que viam essa guerra
como um disputa entre potências imperialistas
pelo controle do mercado mundial. Lênin, então,
convoca a formação da III Internacional, ou In-
ternacional Comunista, que excluía os Partidos
Social-democratas (ou socialistas), com se deno-
minavam vários partidos de esquerda na Europa
nesse período.

O Fascismo
O fascismo é uma doutrina de extrema-direi-
ta, que defende um regime político totalitário.
Seu principal protagonista foi o ditador Be-
nito Mussolini, que governou a Itália entre 1922
e 1945. O termo fascismo tem origem na palavra
“fascio”, que designava os grupos políticos que
surgiram na Itália na transição do século XIX
para o século XX. Origina-se, também no termo
“fasces”, que, durante o Império Romano era a
representação simbólica dos magistrados. O em-
blema era composto de um machado cujo cabo
era envolto por varas, que simbolizavam o poder
Do ponto de vista econômico, o fascismo
implanta uma disciplina econômica e social rígi-
das, através da militarização da sociedade.
vistas e se opõe ao liberalismo e ao conservado-
rismo. A figura de um grande líder messiânico,
que recorre a gestos teatrais e falas histriônicas, é
peça central do processo de mobilização política
fascista.
Há grupos de neofascistas?

Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais

do Estado e a unidade do povo. Os fascistas ita-
Os grupos fascistas tendem a surgir em pe-
lianos vestiam camisas pretas a andavam sempre
ríodos de crise e radicalização política, se suas
uniformizados, sendo, por isso, chamados de
bases sociais se compõem, preponderantemente,
“camisas negras”.
de indivíduos integrantes da classe média em si-
O regime fascista defende o nacionalismo tuação de decadência econômica e falta de pers-
exacerbado e a condição racial supostamente su- pectivas de ascensão social, que vêem no totalita-
perior do povo em cuja nação o sistema vigora, e rismo fascista uma forma de recuperação de sua
recorre à violência como forma de luta política. condição social decadente.
Na luta pelo poder e no exercício do poder de
Estado, os fascistas utilizam sofisticadas técnicas
de propaganda política, reprimem e censuram,
usando a força, seus adversários políticos e à
O Nazismo
oposição ao regime.
Originalmente a ideologia nazismo auto-
O nacionalismo e o ódio racial são utilizados
identificava-se como o “Nacional Socialismo”,
como instrumentos de mobilização dos nativos consistindo do ideário político defendido pelo
no país em que o regime vigora. Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores
O fascismo apresenta características coleti- Alemães, cuja sigla era NSDAP. Liderados pelo

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ditador Adolf Hitler, os nazistas governaram a
Alemanha no período entre 1933 e 1945, deno-
minado por eles como Terceiro Reich. Muito
embora assemelhe - se ao fascismo em seus
métodos e idéias, os nazistas afirmavam uma
forma nacionalista e totalitária de socialismo,
tendo Hitler, inclusive, sido filiado ao partido
socialista alemão antes de fundar o NSDAP, em
oposição às idéias internacionalistas dos segui-
dores de Karl Marx, que, por sua vez, contestam
a afirmação de que as idéias socialistas tenha
qualquer associação com a ideologia nazista e
suas práticas.
Ludwig Von Mises, pensador liberal con-
temporâneo, contesta a ideologia nazista afir-
mando, dentre outras coisas, que nesse tipo de
regime político, o governo impõe orientação
política estatal aos empreendedores privados,
determinando perfil de produtos e formas de
produção, os preços e os fornecedores e compra-
dores, contrariando a ótica liberal sobre a liber-
dade de mercado e o poder de escolha dos con-
sumidores como fator de influência sobre oferta
e procura, além de transformar a totalidade dos
cidadãos em funcionários do Estado. Para Mises,
portanto, o nazismo seria uma forma de socialis-
mo com a aparência de capitalismo.5
Fonte 11: Wikipedia
Hitler chega ao poder eleito pelo Partido Na-
cional Socialista dos Trabalhadores Alemães, num
período crítico para a história do país, quando o
povo alemão vivia o trauma da derrota na primei-
ra guerra mundial e um período de hiperinflação,
agravado pela recessão mundial desencadeada
pela quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929.
Neonazistas?
Na ideologia totalitária, o nazismo ficou
marcado pela perseguição e assassinato em mas-
sa de judeus, e, após a derrota da Alemanha na
Segunda Guerra mundial foi proibido, embora
ainda existam grupos minoritários de defensores
dessa ideologia, auto-intitulados neo-nazistas,
inclusive fora da Alemanha. Nas reportagens de
televisão sobre as manifestações desses grupos
remanescentes do nazismo, é comum verem-se
punks skinheads, não raras vezes envolvidos em
atos violentos contra imigrantes, conflitos com
grupos de esquerda ou com a polícia.
A Socialdemocracia
Vamos tentar entender quais são as diferen-
ças entre o pensamento da socialdemocracia e do
neoliberalismo...
Vamos por partes:
A socialdemocracia é uma corrente de
pensamento político que tem origem na cisão
dos partidos socialistas europeus, notadamente
do Partido Socialdemocrata alemão (SPD), na
passagem do século XIX para o século XX. Do
ponto de vista ideológico, a origem da socialde-
mocracia é marxista. No entanto, seus defenso-
res, ao contrário dos socialistas revolucionários,
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
entendiam que a transição para uma sociedade
socialista poderia ocorrer através da luta política
dentro dos marcos da democracia. Coerente com
essa visão, socialdemocracia defende a introdu-
ção de reformas do sistema capitalista através de
mudanças nas leis. Através do parlamento, de
modo a tornar o capitalismo mais igualitário. A
origem da socialdemocracia é marxista. No en-
tanto, seus defensores acreditavam que, em cer-
tos países, seria possível superar o capitalismo e
instaurar uma sociedade socialista por pacífica,
dentro das regras do jogo e democrático. Karl
Kautsky destacou-se como um dos principais de-
fensores dessa corrente de esquerda moderada.
A segunda Internacional, ou, Internacional
Socialista, vê na socialdemocracia uma forma
ideal de democracia representativa, capaz de so-
lucionar, através de políticas de intervenção do
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Estado na economia, as imperfeições e desigual-
dades que a democracia liberal e a visão liberal
do mercado, não teriam a pretensão de solucio-
nar, dado entenderem os liberais que o mercado
livre produz esses ajustes através do progresso
econômico. A correção das injustiças sociais,
para os socialdemocratas, não deve apenas se
consubstanciar na lei, mas sim, ser convertida
em políticas públicas de redução das desigual-
dades.
Os críticos marxistas revolucionários da so-
cialdemocracia acusam essa corrente de pensa-
mento de “revisionismo”, dado o abandono da
defesa da via revolucionária para a implantação
do comunismo. A socialdemocracia também é
tachada de reformista, termo empregado pelos
socialistas ortodoxos, em oposição à idéia de re-
volução, que diferencia as duas vertentes de es-
querda, moderada e radical. Eduard Bernstein e
Karl Kautsky seriam os principais protagonistas
do revisionismo, já que defendiam a transição
gradual para o socialismo, através de reformas
graduais do capitalismo.
Do ponto de vista econômico, as idéias de
John Mainard Keynes defensor da intervenção do
Estado na economia foram associadas ao pensa-
mento socialdemocrata sobre a gestão da econo-
mia.
Pensamento Político
Contemporâneo
A
s transformações em curso na socieda-
de atual exigiram dos cientistas sociais
reflexões novas e o desenvolvimento de
novos paradigmas teóricos capazes de dar con-
ta de uma realidade que a teoria não previa. No
meio político, a queda do Muro de Berlim e o
fim da URSS, fizeram ruir, também, o paradig-
ma marxista. O pensamento de esquerda perdeu
seu modelo teórico, pois, mesmo que tivesse de-
senvolvido inúmeras variantes, tinha como base
a teoria de Marx, que não se confirmou ao ser
posta a serviço do exercício do poder por socia-
Com a quebra da bol-
sa de valores de Nova
Iorque(1929) e a crise social
o presidente Roosevelt bus-
cou implantar tais práticas
na política norte americana.
As idéias de Keynes foram postas em prática
pelo presidente Franklin Roosevelt e, simulta-
neamente, pelo ministro da economia de Hitler,
Horace Greely Hjalmar Schacht, no contexto da
depressão mundial decorrente da quebra de bolsa
de Nova Iorque em 1929.
Antecipando o fim da Segunda Guerra
Mundial, os acordos firmados nas conferências
diplomáticas de Breton Woods entre os países
desenvolvidos do hemisfério norte, foram criadas
políticas de intervenção na economia mundial,
criando-se, organismos como o Fundo Monetário
Internacional (FMI), com a finalidade de fomen-
tar a recuperação econômica dos países europeus
através do chamado Plano Marshall, e do Japão.
Esses países, nos anos seguintes experimentaram
um período de 30 anos de prosperidade chamado
de “anos dourados”.
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
listas e comunistas. No mundo acadêmico e nos
meios intelectuais, em geral, surgiram novas for-
mulações teóricas e ideológicas na tentativa de
orientar o curso das ações políticas das grandes
correntes de pensamento, existentes no mundo
contemporâneo. O neoliberalismo e a Terceira
Via são resultados dessa evolução do pensamen-
to político atual.
Você sabe o que significa?
O termo “neoliberalismo” tem origem na
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 Sociedade e Contemporaneidade
primeira metade do século XX, e era emprega-
do para caracterizar a doutrina proposta por eco-
nomistas franceses, alemães e norte-americanos
que defendia a necessidade de atualização dos
princípios do chamado “liberalismo clássico”,
como forma de enfrentamento ao processo de
ascensão das idéias que pregavam a intervenção
do Estado na economia e a aplicação de políticas
públicas assistencialistas, que marcaram o cha-
mado “welfare state” (estado de bem-estar so-
cial) socialdemocrata, que se tornou dominante
no mundo desenvolvido, especialmente após a
Segunda Guerra Mundial.
O uso do termo ressurge na década de 1970
para designar a defesa liberal da recuperação da
liberdade de mercado e a restrição ao dirigismo
econômico estatal sobre a economia e dos custos
causados às empresas, em função da excessiva
carga tributária e das imposições burocráticas
e normativas dos estados nacionais, fortemente
influenciados pelas idéias keynesianas aplicadas
por inúmeros governos no período do pós-guer-
ra.
A defesa contemporânea das idéias neolibe-
rais tem uma de suas origens na chamada Escola
Austríaca, marcadamente pelo pensador Friedri-
ch von Hayek e Ludwig von Mises, considerados
principais propositores das bases filosóficas e
econômicas, do pensamento neoliberal.
No livro “O Caminho da Servidão” (1944),
Hayek expõe sua teoria, afirmando que o contro-
le do estado sobre a economia e à sociedade le-
varia à perda da liberdade, e que a permanência
do Labor Party (Partido Trabalhista) no poder,
levaria a Grã-Bretanha ao caminho seguido pelos
Fonte 12: Arquivo Ulbra Ead
Os neoliberais defendem a liberdade total de
mercados no contexto da competição aberta no mer-
cado globalizado.
nazistas na Alemanha, recém derrotada na guer-
ra. Defendendo idéias e princípios econômicos
e políticos e filosóficos, o neoliberal Hayek re-
cebe, em 1974, junto com o economista Gunnar
Myrdal, inspirador do ideário do Estado do bem-
estar social implantado na Suécia, o Prêmio de
Ciências Econômicas (Prêmio Nobel).
Em 1947, dois anos após o fim da guerra,
um grupo de intelectuais liberais e funda, em
Monte Pèlerin, na Suíça, a chamada “Monte
Pèlerin Society” (Sociedade Monte Pèlerin),
ainda hoje existente; que se torna referência ge-
radora de idéias opostas ao que seus membros
consideram idéias coletivistas e cerceadoras das
liberdades individuais contidas no ideário so-
cialdemocrata que emergiu como força política
dominante nas décadas que se sucederam ao fim
da Segunda Guerra Mundial, especialmente na
Europa. A “Mont Pèlerin Society” passa, então
a propagandear as idéias da Escola Austríaca e a
dar combate ideológico ao ideário socialista em
todas as suas matizes, através de eventos, edição
de livros, sites na internet, influenciando o pro-
cesso de ascensão política liberal nas décadas de
1980 e 1990, a partir da Europa e dos EUA.
Outra vertente do chamado neoliberalismo
tem origem na chamada Escola de Chicago nos
EUA, e tem entre seu principais expoentes o pro-
fessor Milton Friedman, também recebedor do
Prêmio de Ciências Econômicas em 1976. Frie-
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
dman, falecido em novembro de 2006, criticava
fortemente o New Deal, de intervenção do Esta-
do na economia, aplicado pelo presidente Roose-
velt, visando reverter a crise econômica e social
de 1929.
Friedman, Hayek e Mises, argumentavam
que o New Deal, teria sido responsável pelo pro-
longamento desnecessário da depressão que se
sucedeu à quebra da bolsa de Nova Iorque em
1929. Segundo eles, isso ocorreu em função de
os recursos disponíveis para investimentos, es-
cassos à época foram aplicados em atividades
economicamente inviáveis, e, orientados pelo di-
rigismo do Estado, diminuíram, como conseqü-
ência, a eficiência, a produtividade e o ritmo de
recuperação das economias combalidas. Os in-
vestimentos eram orientados politicamente para
beneficiar setores politicamente mais influentes
na sociedade, e visavam aumentar a popularida-
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 Sociedade e Contemporaneidade
de dos governantes, ao invés de serem orientados
pelo critério do valor produtivo que o investi-
mento pudesse converter em riqueza para toda a
sociedade.
Milton Friedman, dentre outras idéias,
opunha-se a quaisquer formas de regulamenta-
ção da economia que restringissem a liberdade
das empresas operarem no mercado. O salário
mínimo, ou a existência de pisos salariais, por
exemplo, segundo a teoria econômica de Fried-
man, impedia o aumento do valor real da renda
do trabalhador e levava à exclusão da mão-de-
obra pouco qualificada do mercado de trabalho,
causando aumento do desemprego; rebaixando a
produção e aumentando a pobreza da sociedade.
A Terceira Via
A expressão “terceira via” designa a filoso-
fia de governo, surge após a queda do Muro de
Berlim como resposta dos ideólogos do traba-
lhismo britânico e da socialdemocracia européia
à falência do paradigma marxista e à crise pro-
gramática das correntes políticas que defendiam
o dirigismo estatal sobre a economia, e os pro-
blemas impostos ao Estado do bem-estar social
pela nova realidade criada pela globalização e
pela competição aberta no mercado mundial.
Essa nova realidade, que emerge na década
de 1980, leva à esquerda moderada européia e
norte-americana, a incorporar as políticas libe-
rais de desregulamentação e descentralização da
economia e da redução dos impostos, sem preju-
ízo das políticas sociais públicas, aos programas
do trabalhismo britânico dos socialdemocratas
europeus e dos democratas norte-americanos.
Bill Clinton e Tony Blair, respectivamente,
ex-presidente do EUA e ex-primeiro ministro
inglês; Gerhard Schröder, ex-premier alemão,
assim como o ex-presidente brasileiro Fernando
Henrique Cardoso protagonizaram a defesa das
idéias da terceira via em âmbito mundial.
Seus defensores pretendiam se situar entre
os defensores da socialdemocracia tradicional,
por um lado, e do neoliberalismo, por outro. Esse
posicionamento centrista, na Alemanha, apre-
sentou-se ao eleitorado com a denominação de
“novo centro”.
O sociólogo britânico Anthony Giddens, li-
gado ao Labor Party de Tony Blair, foi um dos
formuladores e estrategistas da Terceira Via,
tendo difundido seu ideário através da “Policy
Network”, uma rede de ativistas com origem no
Reino Unido. Pensadores contemporâneos como
Robert Putnam, Ian Winter, Mark Lyon, Will
Hutun, Ulrich Beck, dentre outros, também se
destacaram como formuladores dos fundamentos
teóricos da Terceira Via.
De acordo com Giddens
(2001), a Terceira Via se
apresenta como uma nova
proposta política, econômica
e social.
A chamada terceira via surge do século XXI,
período que os socialdemocratas chegaram a go-
vernar cerca de quinze países da União Européia,
após a onda neoliberal que ascendeu ao poder
nas décadas de 1980 e 1990, puxada pelos gover-
nos de Margareth Tatcher, na Inglaterra, e Ronald
Reagan, nos EUA. Em síntese, pode-se dizer que
a terceira via se caracteriza pela defesa da possi-
bilidade de preservação dos valores tradicionais
da socialdemocracia em defesa da justiça social,
Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais
conjugada com a incorporação de idéias liberais
sobre a dinâmica da economia e importância da
liberdade, da criatividade e da inovação para o
progresso social.
Os ideais da justiça social, da liberdade, da
igualdade de oportunidades, da solidariedade e
da responsabilidade social, são valores universais
e perenes, que devem se consolidar como refe-
rências para a sociedade contemporânea, e, para
isso, devem se materializar em diretrizes políti-
cas realistas e voltadas para o futuro.
Finalmente, para efeito de análise e compre-
ensão da sociedade contemporânea, convém des-
tacar que o centro das disputas políticas e ideoló-
gicas na maior parte dos países ocidentais hoje,
ocorrer entre os defensores do ideário liberal re-
novado (neoliberalismo) e da chamada Terceira
Via, que busca atualizar o ideário socialdemocra-
ta, adaptando-o à realidade atual.
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 Sociedade e Contemporaneidade

As chamadas ideologias políticas modernas,
especialmente das idéias socialistas, subsistem na
cena política mundial, e, a não ser pontualmen-
te, ocupam posições secundárias no jogo efetivo
pelo poder e nas políticas de governo. Mesmo os
ditos países socialistas remanescente, com des-
taque para a China, que ainda aplica políticas de
forte intervenção do Estado na economia, rende-
ram-se à força da economia de mercado.
Sempre é bom lembrar, também, que ideo-
logias políticas não devem ser confundidas com
teorias científicas sociais, políticas e econômi-
cas, ainda que possam essas servir de fonte para
o ideário das correntes políticas que disputam o
poder na sociedade. Ou seja, em se tratando de
quaisquer grupos políticos, convém sempre ob-
servar a distância e as eventuais contradições que
separam a os discursos das práticas.

Você quer aprofundar e ler os textos originais?

As informações históricas deste capítulo foram baseadas nas seguintes
referências:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:

introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 2000.
CHÂTELET, François. História das Idéias Políticas. Rio de janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1994.

Pensamento social e ideologias dos gregos aos dias atuais

1 CHÂTELET, 1994, p. 14-15.

2 Ibid., p. 25.
3 Ibid., p. 31-33.
4 Ibid., p. 30-31.
5 MISES, 1979.

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