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JUNG E A NOVA ERA: um estudo sobre contrastes

por David Tacey


Título do original: "Jung and the New Age: A Study in Contrasts" by
David Tacey, Ph.D., originally published on the Internet in English
at The Round Table Review

O nome de Jung tem sido associado com a Nova Era por cerca de
três décadas, mas agora sua alegada "influência" sobre este
movimento está sendo formalmente proposta e articulada. Em New
Age Spirituality, Duncan Ferguson argumenta que Jung tem
desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento desta
espiritualidade popular(1), e mais recentemente no New Age
Movement o sociólogo Paul Heelas assevera que Jung é uma das
"três figuras-chave" (as outras sendo Blavatsky e Gurdjieff)
responsáveis pela existência do movimento(2). Em similar
disposição, Nevill Drury mantém que "o impacto de Jung sobre o
pensamento da Nova Era tem sido enorme, maior, talvez, do que a
maioria das pessoas percebe"(3). Em todo lugar a asserção está
sendo feita de que o movimento Nova Era é um produto de
influência junguiana, e hoje terapeutas de uma diversa faixa de
campos, todos, proclamam ser junguianos, ou referem-se a Jung
como seu ancestral espiritual, autoridade científica, inspiração ou
fonte. Serão válidas tais asserções?
Quão junguiana é a Nova Era? Havendo explorado assimilaridades e
diferenças entre a espiritualidade da Nova Era e a metapsicologia
junguiana, concluo que a Nova Era é não-junguiana ou anti-
junguiana em vários importantes aspectos, que serão considerados
aqui.Jung tem claramente vários pontos em comum com a Nova Era.
Ambos, Jung e a Nova Era, concordam que significado espiritual não
é sinônimo de, e não pode ser contido pelos estabelecimentos e
instituições religiosos da cultura ocidental. Jung e a Nova Era estão
interessados em explorar fontes não-cristãs, pré ou pós-cristãs, de
significado espiritual; ambos estão interessados em gnose, alquimia
e tradições contemplativas orientais. Jung e a Nova Era olham além,
para o futuro, com um grau de otimismo, vendo um"espírito" que
trabalha através da história anunciando um objetivo ou ideal futuro
que ainda tem de ser compreendido. Ambos olham adiante para uma
visão futura que, talvez paradoxalmente, nos ensine como viver no
presente. O presente vive em antecipação de um futuro "melhor", e
para Jung o ideal pode ser sumarizado na palavra "totalidade", um
ideal que ele freqüentemente contrasta com a ética cristã
de"perfeição". A Nova Era, também, gosta de privilegiar "totalidade"
sobre "perfeição", assim como enfatiza o Deus imanente sobre o
Deus transcendente. Às vezes parece que a espiritualidade da Nova
Era é simplesmente a psicologia junguiana numa ordem ampliada,
levando o modelo de Jung para o mundo exterior e distribuindo sua
sabedoria para as multidões necessitadas de direção espiritual. Mas
é claro que aquilo que a Nova Era parece estar fazendo e o que ela
efetivamente faz são coisas bastante diferentes. A Nova Era não é
uma filosofia religiosa coerente e com freqüência parece estar
dirigida mais por interesses comerciais e forças de mercado do que
por qualquer posição filosófica particular. É amplamente junguiana
em sua ênfase sobre a autoridade espiritual da experiência
individual (que Jung emprestou do protestantismo), sobre a
necessidade de transformação religiosa e cultural (que Jung derivou
do romantismo alemão), e sobre a importância de métodos não-
ortodoxos de atingir unidade com o Criador(que Jung emprestou da
Gnose, Hermetismo, e Alquimia).O valor da Nova Era está em como
ela desafia aortodoxia religiosa ocidental para chegar em novas e
culturalmente relevantes interpretações do espírito humano. A Nova
Era é um "explode coração"(4) das massas, um clamor para tornar a
espiritualidade relevante a nossos tempos e emocionalmente
relacionada à experiência humana individual. É um movimento
popular que reverte muitas das atitudes, tendências, e visões que são
encontradas na religião ocidental tradicional, especialmente visões
sobre o corpo, sexualidade, natureza e desejo. É um movimento que
segue e estende um processo arquetípico que está baseado no
"princípio feminino", é compensatório ao ocidente patriarcal, e tem
ligações com o Romantismo, a Gnose, o Paganismo, o Naturalismo,
o Nudismo, e o Ocultismo.Se a Nova Era parece junguiana não é
porque tem usado Jung, mas porque obtém sua vida a partir de uma
forte corrente arquetípica que podemos associar com Jung porque
ele claramente mapeou este território psicoespiritual. Jung esteve
especialmente interessado nos processos arquetípicos que são
"compensatórios" para o ocidente patriarcal, portanto isto o traz
ainda mais próximo dos interesses da Nova Era. Entretanto, Jung
não celebrou ingenuamente ou idealizou estas correntes
compensatórias na psique ocidental. Ele identificou estas correntes e
as nomeou, mas sua resposta a elas era sempre crítica, destacada, e
ambivalente. Jung continuamente buscou integrar opostos
conflitantes e elementos contraditórios (comoPaganismo e
Cristandade) em um conjunto maior, e quase nunca deu preferência
a um conjunto de asserções arquetípicas às expensas de outro.
Embora Jung profeticamente visse que os conteúdos "femininos"
e"pagãos" estivessem em ascensão na psique ocidental, nunca
pregou que nos abandonássemos a estes conteúdos; pelo contrário,
ele sentiu que a tarefa da individuação envolvia resistir a estas forças
coletivas e desenvolver uma resposta crítica a elas.Qualquer
movimento coletivo que se identifica com um processo arquetípico
não vai, virtualmente por definição, entrar em acordo com o gosto
junguiano, que está baseado na ética e estética da individuação. O
ataque de Jung sobre o que ele chamava "identificação com a psique
coletiva" é conveniente e deliberadamente ignorado por todos estes
terapeutas, consultores, defensores e xamãs da Nova Era, que
gostam de celebrar livremente e mesmo "adorar" os conteúdos
arquetípicos novamente constelados. Os desejos pagãos, os impulsos
gnósticos, e as lutas espirituais não-ortodoxas que foram reprimidas
por centenas de anos no Ocidente têm sido liberados após o colapso
da autoridade do Cristianismo, e agora encontramos, sem qualquer
inibição, estes conteúdos alardeados diante de nós.Embora a Nova
Era tente corrigir atitudes prevalescentes da secular e religiosa
cultura ocidental, uma análise crítica mostra as limitações da atitude
da Nova Era e sua divergência a partir de uma posição junguiana,
particularmente em três áreas.(1)
De Deus a Gaia: reencantamento espiritual nacultura ocidentalA
atitude prevalescente na secular cultura ocidental éde que os antigos
deuses estão há muito mortos, e, mais recentemente, nosso Deus-Pai
judeu-cristão também morreu. Não há vida metafísica ou espiritual,
e o mundo foi esvaziado de significado religioso. A fé no espiritual
foi erradicada pela educação secular, e a religião hoje é meramente a
província dos não-educados, os pobres ou os supersticiosos. A busca
moderna e progressiva é por liberação social e pessoal, e entre as
primeiras coisas a serem descartadas enquanto marchamos em
sentido à liberdade está a subjugação à autoridade religiosa e
obediência ao sagrado.A atitude prevalescente na cultura religiosa
ocidental é de que a religião patriarcal tradicional está perdendo
autoridade enquanto o mundo se torna mais pagão, e à medida em
que a sociedade se torna mais permissiva em sua atitude a respeito
de desejo, sexualidade, e satisfações temporais. Enquanto o
superego ocidental enfraquece, permitindo aos impulsos mais
"naturais" governarem a vida social, a Igreja com freqüência
considera que tem de fortalecer sua resolução e escorar as
reivindicações da vida transcendental. Portanto as igrejas
freqüentemente parecem sitiadas e reacionárias, trancadas em uma
situação defensiva e refreando as marés da mudança.Tentando
corrigir estas abordagens, a atitude da NovaEra é de mover-se com o
fluir dos tempos, admitir o reino do desejo e da ânsia, encorajar o
movimento pagão da sociedade, mas adicionar a este movimento
uma dimensão sagrada ou espiritual. A Nova Era basicamente
confere "bênção espiritual" a tendências e atitudes que já são
existentes na cultura ocidental: consumismo, hedonismo,
materialismo e narcisismo. A Nova Era não oferece uma crítica da
sociedade, mas simplesmente mitologiza e mistifica as coisas que já
nos preocupam. Assim, em uma sociedade ocidental encharcada de
sexo e obsecada com o corpo, a Nova Era propõe "sexo sagrado" e
argumenta que o corpo é "o templo da alma". Em uma sociedade
governada por desejos materiais e gratificação instantânea, a Nova
Era propõe uma crença vitalística em "energia verde", vê riqueza
como um símbolo de "opulência espiritual"(numa reversão da
moralidade judeu-cristã), e considera "relaxamento profundo" como
uma busca sagrada (revertendo a santificação cristã de trabalho e
fadiga). A Nova Era, como a secular tendência dominante, aponta
seu nariz para a autoridade daIgreja, vê o puritanismo como
sombrio e embotado, e não está muito interessada em ressuscitar
nosso recentemente falecido Deus-Pai.A Nova Era está
especialmente interessada em deidades pagãs de tempos antigos, os
espíritos de culturas xamanísticas, e as figuras divinas de religiões
orientais. Embora diversa e politeísta em seus gostos, a deidade
dominante da Nova Era é provavelmente aDeusa-Terra ou Deusa-
Mãe, seja espelhada como Gaia,Deméter, Cibele, Afrodite, Astarte,
ou numerosas outras figuras similares em vários contextos históricos
e culturais. A Nova Era é profundamente não-histórica, universalista
e essencialista em seu foco filosófico. Seu mote parece ser "qualquer
deus(a)vai servir", na medida em que não seja o Deus com o qual
temos sofrido pelos últimos dois mil anos de religião oficial. Em
mitologias antigas, a Deusa-Terra nunca aparece por si mesma, mas
está sempre representada com seu consorte, filho-amante, ou
sacerdote, e o mesmo é verdadeiro para sua mais recente aparição na
Nova Era. O consorte da Deusa usualmente simboliza sua própria
fecundidade e fertilidade, e assim suas capacidades fálicas são
geralmente enfatizadas, em figuras tais como Pan, Dioniso, Adônis,
Tamuz, e especialmente Príapo. Na Nova Era, o filho-amante ou
sacerdote da Deusa-Mãe é com freqüência celebrado em uma figura
composta que é algumas vezes chamada de "Homem Verde". O
Homem Verde simboliza a fecundidade da terra, o ciclo sazonal de
crescimento-morte-renascimento, e a "unidade" de todas as coisas
naturais e orgânicas. Se Cristo é mencionado na Nova Era, ele está
usualmente implicado somente em sua forma como o Filho da
Grande Mãe, como o deus-ano morrendo e ressurgindo, que é
ritualmente pranteado por sua Mãe e pelas Mulheres Sagradas ao pé
da cruz. ANova Era, por assim dizer, pode adaptar o retrato católico-
romano de Cristo a seus próprios propósitos, mas não tem tempo
algum para o Cristo protestante e patriarcal.A Nova Era enfatiza a
missão urgente e redentora de sua visão religiosa. Almeja trazer
novo mistério e encantamento para um mundo que tem se tornado
cansado, deprimido e desencantado. Procura reacender a vida do
espírito em um mundo que se tornou demasiado racional,cínico,
desiludido. Procura redespertar a consciênciado corpo em uma
cultura que se tornou muito presa à cabeça. Acima de tudo, a Nova
Era tem um imperativo ecológico e salvador-do-mundo: recuperar
respeito pela terra, pela matéria (derivada do Latim "mater",
significando "mãe"), pela fisicalidade, e pelo ambiente biológico em
um tempo no qual o progresso patriarcal tem perpetrado enorme
dano (parte dele irreversível) sobre a teia biofísica da vida. A
"jogada" é que somente a Deusa-Mãe e seu Homem Verde podem
nos salvar do apuro do ocidente patriarcal. Este novo mito é
encontrado não apenas em ecofilosofia e ecoespiritualidade, em
ecologia profunda e em teologiaecológica, mas também em filmes
populares, tais como"Fern Gully", em cartuns e espetáculos de
guerreiros ecológicos como "Capitão Planeta", panfletos ecológicos,
literaturas ativistas e ficções populares. Mitologias e valores
ecológicos da Nova Era são também encontrados no sistema público
de educação, programas de estudos ambientais, políticas verdes, na
mídia e no entretenimento. Estamos testemunhando a ascensão de
um poderoso e arcaico mitologema, um testemunho ao fato de que
"mitos" nunca morrem, e que em culturas seculares e
"desmistificadas" como a nossa os mitos não somente sobrevivem
mas desenvolvem-se - eles são ainda mais poderosos por não serem
considerados como"míticos".Como Jung responderia a este aspecto
da Nova Era? Jung morreu em 1961, alguns anos antes que a Noiva
Era ganhasse impulso internacional, e antes que o movimento
ecológico fosse estabelecido (nos dias de Jung referiam-se a este
como "conservação", e era usualmente da competência dos
politicamente conservativos). Entretanto, ele tinha previsto a
ascensão do paganismo na psique ocidental(5), e já tinha, de fato,
identificado este paganismo ressurgente como a fonte arquetípica
para o fascismo e nacional-socialismo do século vinte(6).Em
assuntos religiosos, Jung era tanto Cristão quando Nova Era. Jung
podia ver que os antigos deuses e deusas pré-cristãos ainda estavam
vivos, e freqüentemente os descobria na psique como o núcleo
central de complexos e psiconeuroses. Jung estava interessado no
pré-cristão, no não-cristão, no pós-cristão, mas diferentemente da
Nova Era ele não era anti-cristão. Ele não sofria de preconceito anti-
cristão, nem se sentia obrigado, como James Hillman depois dele, a
cantar os louvores da Grécia Antiga e enquanto isso denunciar a
herança judaico-cristã. Jung estava empenhado na tarefa de
restaurar o Deus Cristão à dignidade cultural e à compreensão
humana. Jung podia ver que a unilateralidade da cultura e religião
patriarcais necessariamente constelaria o despertar de figuras
arquetípicas femininas e matriarcais, mas sua resposta a estas
figuras era ambivalente. Por um lado, precisamos encorajar o
feminino arquetípico a apresentar-se após séculos de repressão e
esquecimento. Por outro lado, mal podemos permitir ao feminino
tomar "posse" da consciência; deve ser integrado e não permitido a
dominar em uma nova, igualmente extrema e portanto igualmente
indesejável unilateralidade.Jung teve um complexo materno
positivo, e isto inclinou-o a muitas das artes e ciências matriarcais
que têm sido "banidas" pelo patriarcado, as quais já estavam se
tornando disponíveis ao público nos próprios dias de Jung. O
interesse de Jung em astrologia e adivinhação é bem conhecido, e
virtualmente sozinho ele recuperou a antiga arte da alquimia para
moderna investigação científica epsicológica. Jung também estava
ecológica e romanticamente atado às paisagens, terra, árvores, muito
antes destas atitudes se tornarem celebradas e entrincheiradas na
ecologia popular. Talvez mais do que o próprio Jung, seu seguidor
maior Erich Neumann estava embebido na consciência de que o
feminino arquetípico estava a ponto de deslocar e desafiar as
fundações arquetípicas do patriarcado, como podemos ver
especialmente em seu The Great Mother e The Archetypal World of
Henry Moore. Mais recentemente, o analista junguiano Edward
Whitmont dedicou um volume inteiro, Return of the Goddess, ao
fenômeno do despertar do feminino arquetípico e seu fálico filho-
amante no contexto da modernidade e da pós-modernidade.Jung
concordaria com a Nova Era que se uma grande mudança na atitude
cultural deve ser efetuada, incluindo uma dramática mudança de
coração a respeito do relacionamento da humanidade com o
ambiente e o mundo físico, então o suporte arquetípico deve ser
evocado para habilitar a humanidade a "sentir diferentemente"
acerca do mundo. Mudanças sociais que operam puramente a partir
do nível racional, como uma chamada a despertar a consciência
moral a respeito do mundo, ou uma chamada a intensificar a
responsabilidade ética sobre o ambiente, não serão efetivas, porque
as mais profundas emoções do homem não foram ativadas ou
excitadas. Jung não era um positivista social, não acreditava na
fantasia de que a sociedade está inevitavelmente se tornando
"melhor", mas estava convencido do poder do mito e sua habilidade
para mobilizar ações humanas e galvanizar resposta coletiva. Se uma
transformação espiritual pode ser perseguida, e pode ser
desenvolvida uma nova perspectiva que vem de reviver a visão
antiga de que aTerra é nossa "mãe ancestral" ou fonte espiritual,
tanto melhor para o futuro da Terra. Estou certo de que Jung
sentiria que a remitologização teria de acompanhar a revolução
social, e que o retorno de Gaia, Deméter ou Afrodite a um estado
mítico vivente é um pequeno preço a pagar pela sobrevivência do
próprio mundo, sua biodiversidade e seus habitantes.Como
mencionado, Jung seria crítico se ele sentisse que um novo culto de
Gaia, ou da assim chamada Hipótese Gaia, viria às expensas do
Deus-Pai, o princípio masculino, e o animus. Qual seria o ponto, ele
perguntaria, de dois mil anos ou mais de diferenciação do masculino
arquetípico, se estamos preparados para atirar fora tudo isso em
uma respostade pânico ao apuro do mundo? Por que temos de
avançar rumo a uma enantiodromia (uma corrida de um extremo
oposto a outro) cultural, quando temos a oportunidade de
considerar ambos os lados do espectro arquetípico?Por que decidir
por uma nova unilateralidade quando nosso mais profundo
imperativo, tanto para nós quanto para nossa cultura, é por um
esforço voltado à totalidade e unidade? Por todos os meios tragam
Gaia e tragam de volta Deméter, mas deixemo-nos engajar estas
personalidades arcaicas em um diálogo pleno de sentido com a
espiritualidade Cristã e a religião ocidental.Enquanto estamos nisso,
deixemo-nos também trabalhar para uma recuperação da dimensão
feminina perdida dentro do Deus Judeu-Cristão da mesma maneira
(comoSofia, Lilith, Maria, Sabedoria, e Espírito Santo). Mas ao
lançar fora nossa água-de-banho cultural, Jung avisaria que lançar
fora também o Menino Jesus acarretaria uma explosão completa de
repressão do espírito masculino, e a perigosas repercussões e
conseqüências do esquecido ou banido reino domasculino.(2)
De Sofrimento a Beatitude: o novo vício em experiências de picoA
atitude prevalescente nas tradições religiosas efilosóficas ocidentais
é a de que a humanidade é essencialmente trágica e vida é sinônimo
de sofrimento. Há um penetrante pessimismo sobre o valor e o
potencial humano, que tem se erguido a partir da doutrina do
pecado original, a noção de degradação humana e inata tendência
para o egotismo servente asi. A espiritualidade cristã atinge seu
objetivo não pelo incremento à estatura do self, mas pelo
deslocamento do self inteiro em favor da humildade, do
esvaziamento, e de um tipo de preenchimento negativo, através do
qual o divino aumenta sua completude em proporção direta à
redução do ego. No humanismo ocidental, também, o self é sentido
como sendo inerentemente limitado e falho, e qualquer tentativa de
sobrepujar a limitação humana inevitavelmente vai dar de encontro
com inflação moral e arrogância satânica. Sabedoria e direção
espiritual não reduzem nosso sofrimento, mas fazem-no suportável e
dão a ele significado mais elevado. O símbolo para o quinhão da
humanidade na tradição religiosa ocidental é Cristo na cruz.A
atitude da Nova Era é de que a cultura ocidental é muito mórbida e
depressiva, e precisamos mudar o roteiro que temos a respeito de
nós mesmos. A Nova Era substitui o senso ocidental de tragédia com
um intenso otimismo acerca da transformação individual e
social."Uma 'nova' era é possível; o potencial humano é sem limites;
sua dinâmica está disponível e acenando.Ênfases no pecado e no
mal, na redenção e na conversão devem ceder a um mundo de
'bênçãos originais' em uma boa criação"(7). O homem não mais
precisa crucificar-se na imagem do Cristo; ele pode descer da cruz, e
celebrar sua existência corpórea, carnal, e sua capacidade para
entrar em diálogo transformativo com o divino.O homem da Nova
Era procura por experiências de pico, altas, estados alterados de
consciência, e evita as baixas, depressões e árido pessimismo. Ele
procura por espiritualidade, por o que se lê "dispositivos e técnicas
que me conectarão com o divino", e com freqüência evita ou rejeita
as religiões estabelecidas, pelo que se lê "estas estruturas dogmáticas
que limitam minha liberdade individual, inibem a expressão
espiritual e diminuem as expectativas pessoais de glória". A
espiritualidade promete altos, mas a religião ameaça com sua ênfase
sobre restrições morais, consciência social e obrigações éticas. O
homem da Nova Era quer a Meta (unidade com o divino) sem o
Caminho (a disciplina, ética, e auto-cancelamento que tornam tal
unidade possível). Ele quer jubilosa união sem o sofrimento da cruz,
renascimento espiritual sem ter primeiro que suportar a morte
espiritual. Ele está "enganchado" no sagrado, viciado em técnicas e
práticas espirituais, e seu credo é: "Siga sua beatitude"(8)
(JosephCampbell).Uma resposta junguiana seria a de duvidar da
autenticidade desta assim chamada "espiritualidade" se ela está
projetada meramente para prover gratificação instantânea para o
ego. Jung ficaria suspeitoso de uma separação demarcada entre
"espiritualidade" e "religião" se estiver designada simplesmente a
separar"altos" de "baixos", ou luz de sombra. Jung veria qualquer
otimismo sem fronteiras como uma defesa contra a escuridão, e
apoiaria o ocidente cristão em sua ênfase sobre o sofrimento
inevitável. De acordo com Jung, nunca se pode escapar do
sofrimento, mas deve-se abraçá-lo e aceitá-lo como parte da
condição humana.Uma grande diferença entre Jung e a Nova Era diz
respeito a sua descoberta ou "localização" do sagrado.A despeito da
retórica da Nova Era sobre a "imanência"do divino e da
"mundialidade" de sua visão espiritual, a Nova Era parece estar
presa em uma interpretação tipicamente ocidental e
transcendentalista do espírito. A Nova Era tende a encontrar suas
experiências espirituais "afastada" da vida e "além" do solo da
experiência ordinária. É atraída para o bizarro e exótico, para o
extramundano e xamanístico.Uma experiência espiritual é um vôo
para longe do real, daí a importância da palavra "alto" para
descrever esta espiritualidade popular. A Nova Era não é redentora
ou transformadora, e neste sentido a Cristandade é uma filosofia
muito mais radical na medida em que procura engajar e redimir os
elementos desta realidade. Poderia ser que a Nova Era tenha
herdado a altermundialidade da Gnose histórica, com sua
impaciência com o real e seu foco metafísico sobre um cosmo
distante?Por contraste, Jung descobre espiritualidade em e através
de nossas patologias humanas, não por meio da transcendência
delas. Jung sustenta que para a humanidade moderna "os deuses
viraram doenças", e encontramos nossa sacralidade rejeitada e
reprimida no centro das doenças, no núcleo das psiconeuroses, e no
meio da angústia mental. Qualquer movimento coletivo que ache a
psicopatologia mórbida, escura, ou indigna de interesse, está
efetivamente perdendo a oportunidade espiritual do tempo e não
merece o nome de "espiritualidade". A Nova Era, {vista} a partir
desta posição junguiana, trabalha incansavelmente para evitar
qualquer verdadeiro encontro com o verdadeiro sagrado, preferindo
em vez disso seguir algum ideal de ego abstrato e inteiramente
convencional a respeito de como é o sagrado.Jung reconheceria na
Nova Era uma confusão fundamental entre o ego (self pessoal) e a
alma (ou o Self no sentido junguiano mais amplo). Na verdadeira
prática religiosa, é a alma que encontra remissão e libertação, pois
esta é a parte imortal da pessoa(9).Paradoxalmente, a salvação da
alma é ao mesmo tempo uma mortificação do ego, daí a formulação:
"quem quer que perca sua vida por minha causa a
encontrará"(Mateus 16:25)(10). No passado, a necessária
mortificação do ego foi confundida com a mortificação do corpo, da
sexualidade e do feminino, e isto surgiu amplamente a partir da
cisão, na psique ocidental, entre o espírito e a matéria. Mas hoje,
com nosso conhecimento psicológico maior, ficamos mais próximos
do mistério cristão percebendo que é o si-mesmo pessoal, o ego, que
precisa ser deslocado de modo que a salvação possa tomar lugar. Na
Nova Era, não há verdadeira separação entre o si-mesmo pessoal e a
alma transpessoal; assim, o primeiro estágio na verdadeira
consciência religiosa não é adquirido; ou, em vez disso, um processo
religioso é conduzido e em cada ponto desta jornada a vida espiritual
é contaminada com os desejos e ânsias do ego. Neste caminho a
jornada espiritual é corrompida, e degenera em uma viagem de ego.
À medida em que a alma é libertada de seus grilhões e é elevada a
uma realidade maior, o ego quer viajar junto com ela, e o êxtase da
libertação do espírito é um êxtase que o ego quer para si.De maneira
similar, o faminto ego da Nova Era espia a grandeza e poder de
Deus, e se identifica com aquele poder, vendo Deus como algum
"recurso sobrenatural não-represado" que pode ser utilizado para a
"expansão de potencial humano". Esta é uma fantasia prometéica
selvagem e sem limites, e a Nova Era efetivamente acredita no mais
fundo de seu coração que o homem pode se tornar Deus. Como
Shirley MacLaine, um de seus expoentes populares, proclama: "Eu
sou Deus, eu sou Deus, eu sou Deus"(11). Com suas raízes
primordiais no movimento da psicologia humanística, isso casa
ootimismo de Maslow e Rogers com as asserções selvagemente
esotéricas de Blavatsky e Gurdjieff. Na maior parte da literatura
popular, a Nova Era se gaba a respeito de quebrar fronteiras
convencionais, realizando potencial oculto, e aspirando alturas
divinas.Jung provavelmente classificaria isto como uma
espiritualidade psicótica, uma espiritualidade em que o ego tem sido
grotescamente inflado a proporções divinas. O papel secundário do
ego não foi compreendido, e há uma profunda confusão psicológica e
teológica sobre o significado da vida e o papel da humanidade em
servir o divino. O homem da Nova Era vai dinamitando seu caminho
para dentro do reino espiritual, esperando encontrar bem-
aventurança, mas porque ele está tão narcisisticamente apegado ao
ego suas experiências sempre dão de encontro com o
desapontamento. O sacrifício do ego ao divino, que é tão básico para
a experiência religiosa, não ocorre e não pode ocorrer, e assim tem
lugar inconsciente e involuntariamente. Intelectualmente, o homem
da NovaEra desposa uma filosofia sonhadora, paradisíaca, mas
atualmente e de fato ele está cheio de queixas e amargura, porque
nada parece caminhar direito, outras pessoas parecem concentradas
em miná-lo ou arruiná-lo, e mesmo sua prática espiritual é criticada
por ser inadequada. A "perda do ego" que deveria estar ocorrendo
conscientemente cai no inconsciente e, como qualquer coisa
inconsciente, está projetada para fora, sobre outros e o
mundo.Entretanto, na espiritualidade da Nova Era, não apenas a
perda do ego toma lugar inconscientemente, mas onecessário
desenvolvimento e construção do ego ocorre tal e qual
inconscientemente. Este é um lado diferente, mas relacionado, da
trágica e indiferenciada fusão entre ego e alma. O ego precisa
separar-se da alma de modo a descobrir sua própria identidade e
vida. O ego precisa ativamente abraçar sua própria separação e
mesmo arriscar "alienação" da alma para chegar a si. Como Jung
deixou claro, o desenvolvimento do ego é sancionado
arquetipicamente, e qualquer tentativa de abafar este
desenvolvimento tem que resultar em desastre. Quando perguntado
a respeito de sua prática espiritual, ou porque seu estilo de vida é tão
diferente das pessoas comuns, os da Nova Era com freqüência
declararão que "passaram por cima de", "pisotearam" ou "largaram"
o ego ordinário. O que eles querem dizer com isto é que as coisas
usuais associadas com o desenvolvimento humano foram
abandonadas em favor de um estilo de vida mais pontuadamente
relacionado com a realidade da alma.Entretanto, o ego não foi
"largado", e por definição não pode ser largado; foi meramente
(con)fundido com a vida da alma. Este é o cenário psicológico para o
notório problema do egotismo desenfreado, emocionalidade, cisões e
competitividade que infestamos grupos, cultos, seitas, ashrams,
clubes, sociedades e comunidades da Nova Era. Embora todos estes
grupos trabalhem em sentido à transcendência do ego em favor da
alma, são freqüentemente destruídos por um egotismo secreto,
escuro e maléfico, que corrói os altos ideais e eventualmente causa o
colapso da edificação toda, muitas vezes com conseqüências
devastadoras para a sociedade e para todos os envolvidos. O que
começou com perfumes e cantos termina em tribunais de justiça e
em inquéritos policiais: pagamos um preço enorme por reprimir
nossos impulsos comuns e nossa humanidade básica.Não é possível
livrar-se dos impulsos do ego, especialmente o impulso de poder e
sua pressão poridentidade e estima, através de uma atitude
intelectual que adota foco sobre coisas "mais altas".Embora a ênfase
consciente seja sobre a "abertura"para o divino, juntar-se a uma
vontade superior, emística "capacidade [de] negativa", o impulso de
poder do ego se faz sentir na fixidez e dogmatismo com a qual estas
metas "expansivas" são buscadas. Os devotos declaram que são
"nada" perante o divino, ou sem valor diante do carismático
professor, mas no pano de fundo há ferozes manobras por
privilégios e lugares especiais, por poder e influência dentro do
grupo. Nem pode o impulso sexual ser suprimido por uma intensa
devoção (cheirando incenso) ao etéreo e interesses paradisíacos. O
que é negligenciado ou rejeitado volta para nos visitar, e usualmente
volta com considerável violência, de modo tal que o ashram local da
Nova Era pode acabar como um covil de iniqüidade, "estourado"pela
polícia e retratado na página três do jornal local. Embora adote os
caminhos da beatitude e iluminação orientais, o trágico Ocidente
encontra sua vingança engolfando tais ingênuos grupos no
negativismo e no retorno do reprimido.Jung concordaria com a
Nova Era que o Ocidente Cristão tem se tornado demasiadamente
atado a um pessimismo constitucional e deprimente, um
pessimismo que espanta muitos para longe da prática cristã. As
possibilidades transformativas do autodesenvolvimento e da
individuação dão origem a um certo grau de otimismo, e um espírito
positivo que nos eleva para além do desespero e da miséria. Ele
também concordaria que há uma necessidade maior por auto-
conhecimento na religião ocidental, e que encontramos
suficientemente demasiada "fé cega" no cristianismo, com muitas
pessoas adotando crenças e doutrinas sem testar estes preceitos
contra a experiência. Precisamos de exercícios espirituais,
contemplações, dispositivos, sabedorias: o chamado do púlpito para
"acreditar" não é mais suficiente, nem apropriado. Jung tolera muito
do aparato espiritual da Nova Era; sua ênfase sobre diversidade e
pluralismo, sobre sabedorias pré epós-cristãs, sobre meditação,
introspecção, e experiência pessoal direta. Entretanto, a menos que a
atitude correta seja adotada, o aparato e as tecnologias de auto-ajuda
são mais do que inúteis: sãopositivamente perigosos. Seria melhor
que o homem da Nova Era fechasse sua caixa de truques, fechando o
ashram suburbano, e voltasse para a igreja ou sinagoga para
aprender as lições da humildade e da modéstia.Não pode haver
transformação espiritual alguma a menos que ego e alma estejam
firmemente diferenciados.O ego e a alma têm ambos de ser vividos,
expressos, celebrados, e desfrutados. Precisamos viver duas vidas
simultaneamente, e especialmente para todos os ocidentais, como
Jung alertou, a vida do ego não pode ser sub-repticiamente
esquecida por debaixo de clamores e paixões de estados alterados de
consciência. O ego do homem ocidental tem se diferenciado através
de muitos séculos, e nenhum seminário espiritual ou curso de
meditação de fim-de-semana se livrará dele com sucesso. O ego,
nosso si mesmo (self) pessoal, nossa mortalidade, nossa separação
de Deus, é o instrumento de nosso sofrimento, mas se este
instrumento for explodido de modo a transcender o sofrimento,
terminaremos em mais dor do que jamais antes. Humildemente,
nosso sofrimento e incompletude têm de ser aceitos, e somente
então alguma transcendência será possível.(3)
De Dualismo para Totalidade: a dissolução do si-mesmo em uma
unidade primeva "Ninguém sabe melhor o verdadeiro significado de
distinção do que aqueles que entraram na unidade". - Tauler A
atitude prevalescente nas tradições filosóficas ereligiosas do
Ocidente é a de que o mundo da experiência humana está baseada
em uma série de dualidades e oposições binárias, como mente e
corpo, masculino e feminino, intelecto e emoção, civilizado e
primitivo. O mundo está estruturado como uma rede de forças
opositoras e competidoras, e tipicamente um conjunto nesta rede de
possibilidades (como masculinidade, intelecto, mente) está
privilegiado sobre o conjunto oposto. O dualismo ocidental, muitas
vezes designado como dualismo cartesiano, pode levar a um
universo social e moral cindido, e estas cisões e desigualdades têm
sido vigorosamente desafiadas e freqüentemente atacadas pelos
principais discursos liberacionais da modernidade.A atitude da Nova
Era é de reagir fortemente ao legado dualístico ocidental postulando
uma contrastante cosmologia de totalidade. Para a Nova Era, o
mundo é auto-evidentemente "um", todas as coisas são iguais, e as
"dez mil coisas" de uma realidade complexa são simplesmente
aspectos ou facetas diferentes da única verdadeira realidade. A Nova
Era notoriamente toma emprestado o símbolo chinês do Tao ou Yin
e Yang, com os lados luminoso e escuro equilibrados em completa
harmonia, como seu símbolo para a "nova" cosmologia de
totalidade. De acordo com a Nova Era, a mente ocidental que
percebe cisões e divisões está meramente projetando sua própria
divisão neurótica sobre a realidade unitária do universo.Para a Nova
Era - e aqui sua atitude faz coro com certas atitudes prevalescentes
em construtivismo e pós-modernidade -, cisões, dualidades,
distinções, são meramente criações fictícias de uma mente
imperiosa, patriarcal, julgadora. A tarefa da consciência avançada é
ver através destas divisões, dissolvendo-as e retornando o mundo à
sua unidade original. A meta primária da meditação e da prática
espiritual da NovaEra é quebrar as barreiras que tanto
preocupam(12) o intelecto racional (a mente ocupada, daninha), e
passar através da unidade ou totalidade primeva."Todas as coisas
em uma" é uma expressão padrão, e muitas pessoas dentro deste
movimento concordam que atingir esta realização é avançar a
consciência ocidental para além de sua condição presente.A atitude
junguiana à primeira vista pareceria estar em pleno acordo com a
Nova Era e sua retórica de totalidade, dada a bem conhecida
preocupação de Jung com unidade, mandalas, e o Self como o
"arquétipo da totalidade". Em seu desejo de substituir o dualismo
ocidental com um novo holismo, a Nova Era está quas
eaxiomaticamente assumida como seguindo uma
direção"junguiana".Entretanto, Jung contrasta fortemente dois
diferentes tipos ou modelos de totalidade. O primeiro é o que ele
chama de "totalidade pré-consciente", a totalidade do universo
primevo e amorfo, uma unidade indiferenciada como uma sopa, que
existe como um a priori à consciência. Nesta unidade primordial, os
pares de opostos estão fundidos, não porque foram unidos em uma
totalidade maior, mas porque ainda não foram diferenciados uns de
outros. Tudo é "um" porque os"muitos", e os conflitantes pares de
opostos que constituem os muitos, ainda não foram trazidos à
existência. Esta totalidade é descoberta em mitologias antigas que
idealizam um "paraíso" original do qual todos decaímos ou
partimos. Também é descoberta em certos tipos de misticismo, em
cosmologias altermundanas, e nos sonhos e fantasias de pacientes
profundamente regredidos que acham difícil aceitar as tensões e
estresses da existência consciente. Existir no tempo e no espaço é
estar "rasgado em dois", estar dividido, e experimentar em primeira
mão a disputa arquetípica entre as oposições binárias que compõem
nossa vida psíquica. Jung identifica esta totalidade original, pré-
mundial, com o arquétipo da Grande Mãe, e estes que procuram o
incestuoso "retorno à mãe" estão dispostos a idealizar esta condição
primeva.Neumann desenvolveu a hipótese de Jung da "grande roda"
chamando a este símbolo o Uroboros, ou a serpente que morde o
próprio rabo.Em contraste, Jung postulou, e defendeu, um segundo
tipo de totalidade na qual os pares de opostos, separados pelo
advento de uma consciência polarizada e unilateral, tornam-se
novamente juntos em uma unidade relativa. Esta totalidade, ele
sentiu, é o objetivo e ponto-final (telos) da realização consciente. Se
a primeira totalidade pode ser paralelizada com o Éden ou o Paraíso,
a segunda totalidade, recuperada, pode ser comparada com a Nova
Jerusalém de Blake. Se a primeira totalidade é infantil, e ligada com
o"sentimento oceânico" de Freud, a segunda é um estado mais
elevado de consciência, governada não pela Mãe, mas pelo arquétipo
do Self. Jung e especialmente Neumann sentiram que era crucial
diferenciar entre estes dois tipos de totalidade porque, enquanto a
totalidade original pode representar a meta de uma consciência fraca
e exausta que desistiu do esforço da vida, a segunda totalidade
representa uma consciência que está avançando a alma do mundo
(anima mundi) pela recusa em permitir que os pares de opostos se
distanciem. O foco de um segundo tipo de totalidade é de que a
integridade e identidade dos opostos está mantida e respeitada.
Totalidade consciente não é um caos semelhante a uma sopa, mas
uma unidade claramente diferenciada na qual todas as diferenças e
distinções básicas têm sido honradas, vividas e reconciliadas:"Sem a
experiência dos opostos não há experiência de totalidade"(13). Jung
viu a mandala oriental, um"círculo mágico" no qual são preservadas
a integridade das formas de vida, das estruturas geométricas e das
figuras sagradas, como símbolo da totalidade diferenciada que ele
tanto admirava.Meu senso é de que, contrariamente à opinião
popular, Jung consideraria a totalidade da Nova Era como sendo
quase inútil na medida em que advoga a primeira totalidade, a do
tipo regressivo. A totalidade da NovaEra é amorfa, indiferenciada e
sentimental. Muito casual e desembaraçadamente ela assevera a
"unidade"de tudo, e o faz antes que a óbvia desunião e
dissemelhança dos opostos tenha sido adequadamente
experienciada. A Nova Era advoga um retorno à Mãe do Mundo, e
sua ânsia por unidade é a ânsia do infante pela unidade com a mãe.
A Nova Era não se vê como herdeira da cultura ou da história do
Ocidente, e não está interessada em "completar" esta história, mas
meramente em suprimi-la. Sua demanda por quietude imediata, sua
ênfase em profundo relaxamento, sua impaciência com o mundo
judeu-cristão e o esforço das eras, representa não tanto a culminação
da tradição, mas a negação da tradição ocidental. A Nova Era não
afirma o passado, mas quer começar tudo de novo, construir um
futuro mais brilhante, menos trágico, e está cansada do embate dos
opostos que constitui tanto de nossa história.De acordo com Jung, a
tarefa da humanidade é tornar consciente, e trazer para a
reconciliação simbólica, o esforço e tensão que são inerentes à
construção do universo. A importância da "humanidade" para
"Deus" é que a humanidade pode expressar, viver, e
esperançosamente transformar os elementos conflitantes primevos
dos quais o Ente Supremo é como que "inconscientemente"
composto. A humanidade traz os elementos querelantes da natureza
de Deus, a luz sublime e a misteriosa escuridão, a masculinidade e a
feminilidade, o sublime amor e o terreno eros, em um novo tipo de
relação. Se abandonarmos esta tarefa porque é muito exigente, se
abandonarmos a crucifixão que espelha nosso doloroso sofrimento
sobre a cruz de oposições, desistiremos então não apenas de nossa
missão humana, mas também da antiga busca do divino por si
mesmo.Jung argumentaria que não se pode falar de totalidade até
que a escuridão ou "sombra" da natureza humana tenha sido
maduramente aceita e integrada. Eis aqui onde a Nova Era trai seu
infantilismo e sua fingida"totalidade", porque o lado escuro da
natureza humana é quase sistematicamente ignorado. A Nova Era
está voando da escuridão e da realidade do mal, vendo a escuridão
meramente como a ausência de luz. Em sua ânsia por bem-
aventurança e prazer, sua ênfase sobre o escape através da
transcendência, a Nova Era perde a substância e a fundação com o
real que tornaria possível uma integração da escuridão.Para Jung, a
aceitação da escuridão nos envolve em um"próximo passo" maior na
tradição ocidental. Onde aNova Era quer destruir a morbidez cristã,
Jung quer aprofundar o senso de escuridão para uma nova imagem
da própria divindade. "Deus nos enche de mal tal como de bem... e
porque ele quer se tornar homem, a unificação de sua antinomia
precisa tomar lugar no homem. Isto envolve o homem em uma nova
responsabilidade"(14). A era cristã promoveu uma ética de perfeição
em sua ênfase sobre a figura paradigmática de Cristo, mas uma era
genuinamente nova ou vindoura estará, para Jung, baseada sobre
uma ética da totalidade cujo foco não será Jesus, mas o
EspíritoSanto. "O Espírito Santo é uma reconciliação de opostos e
daí a resposta ao sofrimento no Ente Supremo que Cristo
personifica"(15). Uma Nova Era do Espírito, de acordo com Jung,
apresentará não a segunda vinda de um Cristo humano, mas "a
revelação do Espírito Santo a partir do próprio homem"(16). A Era
Vindoura não destruirá o Cristianismo substituindo-o com
paganismo (a Nova Era), mas transcenderá o Cristianismo histórico
substituindo a imitação de Cristo pela experiência direta e vivente do
Espírito Santo. O próprio Cristo insinuou (João 16:7-13) que o
Espírito Santo ou Confortador viria depois dele, não apenas para
derramar as línguas do Pentecostes sobre seus discípulos, mas para
impregnar toda a humanidade com o"espírito da verdade".Para
Jung, portanto, uma compreensão correta da totalidade é essencial
não apenas para nossa saúde psicológica pessoal, nosso bem-estar
moral e ético, e nosso senso humano de sentido da vida, mas é o
padrão pelo qual participamos na auto-evolução do divino. A
totalidade da pessoa humana no esforço da individuação nos envolve
simultaneamente na criação de uma nova ética, uma nova disposição
psicológica e cultural, e uma nova fase em nossa história religiosa. É
por isto que Jung insiste através de seus escritos que nós mantemos
a tensão entre os opostos e nos movemos adiante; não devemos
relaxar a tensão de modo que os opostos percam sua definição e
retornem ao uroboros primevo. "Sem oposição não há fluxo de
energia, não há vitalidade. A falta de oposição leva a vida a uma
estagnação aonde quer que tal falta alcance"(17). Jung não era um
guru da Nova Era que pregava profundo relaxamento e a dissolução
do estresse, mas pelo contrário, ele implorava aos outros para
permanecerem conscientes de divisões, fortalecer isso, e manter os
opostos em relação dinâmica. Somente então poderá a"função
transcendente", que em metapsicologia junguiana seria o
Confortador ou Paracleto, vir em nosso auxílio e tornar suportável a
carga que estamos carregando.Pelo lado positivo, Jung
possivelmente consideraria o interesse da Nova Era por totalidade
como uma prefiguração arcaica e incompleta de uma totalidade
futura verdadeiramente autêntica. Quando os arquétipos primeiro
aparecem na psique coletiva, eles com freqüência apresentam seu
lado insípido e menos desenvolvido a princípio, devido a seu longo
período de imersão nas profundezas do inconsciente. Embora
conceitualmente a indiferenciada unidade do uroboros e a totalidade
diferenciada da mandala estejam distantes anos-luz, em um nível
psicológico e experiencial a primeira poderia bem ser a precursora
da última. Isto também significa que o regressivo "retorno à
mãe"poderia também prenunciar ou prefigurar como vamos
negociar nosso "retorno ao Self" em um nível muito mais alto.
A "suave entrega" da Nova Era poderia representar tanto nosso
desejo de abortar a jornada humana quanto uma tentativa de uma
totalidade que transcende as realidades rompidas à força na era
moderna.A Nova Era pode abrigar as sementes para o futuro, mas
estas sementes são brutas, não-cultivadas, e precisam de muito
refinamento. Sentindo estes augúrios e esta profética possibilidade,
Jung provavelmente não seria totalmente exonerativo da Nova Era,
mas concentraria suas energias em encontrar elementos nela que
sejam dignos de crédito e interesse.
Notas1 Duncan S. Ferguson, ed., New Age Spirituality:
AnAssessment, Louisville, Kentucky: Westminster/JohnKnox Press,
1993.
2 Paul Heelas, The New Age Movement: The Celebrationof the Self
and the Sacralization of Modernity,Oxford: Blackwell, 1996, p. 46.
3 Nevill Drury, The Elements of Human Potential,Dorset: Element
Books, 1989, p. 25.
4 (N. do T.): No original em inglês. "cry of theheart".
5 Jung, "Schiller's Ideas on the Type Problem" (1926),CW 6, § 150.
6 Jung, "Wotan" (1936) and "After the Catastrophe"(1945), in CW
10, § 371f.
7 Tony Kelly, "The New Age Movement", in An Expanding Theology,
Sydney: E. J. Dwyer, 1993, p. 41.
8 (N. do T.): Frase original: "Follow your bliss".
9 (N. do T.) Talvez se aqui o leitor tomar pessoa (person) no sentido
de personalidade mais do que no sentido restrito de sujeito o
entendimento fique mais claro.
10 (N. do T.) No original: "who so ever will lose his life for my sake
shall find it". Na Bíblia Sagrada em português, edição traduzida da
Vulgata Latina pelo padre Antônio Pereira de Figueiredo, publicada
pelaEditora Guarabu (RJ) em 1960, lê-se (em Mateus,16:25):
"Porque o que quiser salvar a sua alma, perdê-la-á; e o que perder a
sua alma por amor de mim, achá-la-á".
11 Shirley MacLaine, Going Within: A Guide for Inner
Transformation, London: Bantam, 1990, p. 13.
12 (N. do T.) Aqui também o sentido está em preocupação como
ocupação prévia.
13 Jung, CW 12, § 24.
14 Jung, CW 11

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