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Novembro de 2004
Ministério
das Cidades
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
OLÍVIO DUTRA
Ministro de Estado
ERMÍNIA MARICATO
Secretária-Executiva
JORGE HEREDA
Secretário Nacional de Habitação
RAQUEL ROLNIK
Secretária Nacional de Programas Urbanos
Olívio Dutra
Ministro de Estado das Cidades
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
CIDADE: ESPAÇO DE PROMOÇÃO E EXPANSÃO DA CIDADANIA 7
DIAGNÓSTICO 17
CONSIDERAÇÕES FINAIS 67
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
CIDADE: ESPAÇO DE PROMOÇÃO
E EXPANSÃO DA CIDADANIA
conforme vem sendo utilizada pelo Ministério das Cidades. O objetivo é disseminar es-
sas idéias, permitindo a sua ampla apropriação pela sociedade e a esperada transforma-
ção de alguns paradigmas do urbanismo brasileiro.
Segue um amplo diagnóstico da questão, apresentando a realidade da mobilidade
urbana nas cidades brasileiras e justificando a importância da temática. A partir daí, são
apresentados mais insumos para contribuir na construção coletiva da política de mobi-
lidade. O processo de formulação da política de mobilidade também é revisto, com o
objetivo de diagnosticar e subsidiar os avanços, as novas proposições e etapas que se
fazem necessários.
O registro dos principais objetivos da Política Nacional de Mobilidade permite a com-
preensão dos princípios que a norteiam, e que estão traduzidos nas Diretrizes da Políti-
ca Nacional de Mobilidade, aprovadas no Conselho Nacional das Cidades.
Finalmente, são apresentadas as estratégias traçadas pelo Ministério das Cidades
como um todo, e pela SeMOB em particular, para a implantação desta Política, assim
como os Programas e Ações atualmente em execução.
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
A política de
Mobilidade Urbana
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
social, instrumentos urbanísticos como Planos A MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL PODE SER
Diretores e fomento à pesquisa e à inovação DEFINIDA COMO O RESULTADO DE UM CONJUNTO DE
tecnológica. POLÍTICAS DE TRANSPORTE E CIRCULAÇÃO QUE VISA
O Governo Federal pode ainda estimular PROPORCIONAR O ACESSO AMPLO E DEMOCRÁTICO
os municípios na implantação da mobilidade AO ESPAÇO URBANO, ATRAVÉS DA PRIORIZAÇÃO
urbana sustentável apoiando projetos que DOS MODOS NÃO-MOTORIZADOS E COLETIVOS DE
atendam suas diretrizes; fomentando a im-
TRANSPORTE, DE FORMA EFETIVA, QUE NÃO GERE
plantação de programas de mobilidade para
SEGREGAÇÕES ESPACIAIS, SOCIALMENTE INCLUSIVA
pessoas com deficiência; a utilização dos
E ECOLOGICAMENTE SUSTENTÁVEL. OU SEJA:
meios não-motorizados de transporte e o
BASEADO NAS PESSOAS E NÃO NOS VEÍCULOS
barateamento no custo dos deslocamentos,
principalmente para a população de mais
baixa renda; implantando programas de ca-
pacitação de técnicos na área; realizando o não-motorizados (bicicletas, carroças, cavalos)
necessário Desenvolvimento Institucional do e motorizados (coletivos e individuais).2
setor e sua clara e adequada regulação. Se a divisão modal se insere como a forma
mais objetiva de se instituir grupos ou classes
entre aqueles que se deslocam no espaço
O QUE É MOBILIDADE URBANA?
cotidiano, para alguns autores essas divisões
Existem várias definições e acepções acerca não devem ter tanto crédito, pois o motorista,
do termo mobilidade. Antes de definir o o pedestre e o passageiro são todos papéis
escopo do termo em uso nas políticas públi- passíveis de serem representados por um
cas do Ministério das Cidades, e que se quer mesmo indivíduo. De toda maneira, é neces-
aqui difundir como forma de valorizar princí- sário considerar tanto a mobilidade quanto o
pios universais e sustentáveis para as cidades trânsito em si como processos históricos que
brasileiras, é necessário esclarecer o que vem participam das características culturais de
a ser mobilidade e as derivações do termo, uma sociedade e que traduzem relações dos
relacionadas, de uma forma ou outra, à dura- indivíduos com o espaço, seu local de vida,
ção do deslocamento, ao lugar de permanên- dos indivíduos com os objetos e meios em-
cia que o deslocamento implica (origens e pregados para que o deslocamento aconteça
destinos) e às técnicas colocadas em uso para e, dos indivíduos entre si.
sua efetivação. A mobilidade também pode ser afetada
A mobilidade é um atributo associado às por outros fatores como a renda do indivíduo,
pessoas e aos bens; corresponde às diferen- a idade, o sexo, a capacidade para compreen-
tes respostas dadas por indivíduos e agentes der as mensagens, a capacidade para utilizar
econômicos às suas necessidades de desloca- veículos e equipamentos do transporte, todas
mento, consideradas as dimensões do espaço essas variáveis podendo implicar em redução
urbano e a complexidade das atividades nele de movimentação permanente ou temporária.
desenvolvidas. Face à mobilidade, os indivídu- Por todas as razões aqui expostas, é ne-
os podem ser pedestres, ciclistas, usuários de cessário tratar os deslocamentos não apenas
transportes coletivos ou motoristas; podem
utilizar-se do seu esforço direto (deslocamen- 2Vasconcelos, Eduardo A. – Transporte urbano,
to a pé) ou recorrer a meios de transporte espaço e eqüidade. FAPESP, São Paulo, 1996.
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
so, considera-se o fato de que longe dos gran- o reconhecimento da importância de uma
des centros urbanos também existem cidades, gestão democrática e participativa das
nas quais vivem pessoas que se locomovem, cidades no sentido de propiciar formas de
muitas vezes em condições precárias, sobre inclusão social e espacial
lombos de animais, em carrocerias de peque- a garantia de maior nível de integração e
nos veículos, a pé, em vias inadequadas, muitas compromisso entre as políticas de trans-
vezes sem condições mínimas de segurança. porte, circulação, habitação e uso do solo
Partindo de uma mudança de foco no trato a promoção de condições para as dese-
da questão – inclusive de uma visão setorial do jáveis parcerias entre os setores público e
transporte para uma visão integrada de mobi- privado, que possam responder pelos in-
lidade no espaço urbano -, os seguintes aspec- vestimentos necessários para suprir as ca-
tos são considerados essenciais na construção rências existentes nos sistemas de transpor-
de uma política de mobilidade, assim como tes e pactuar mecanismos que assegurem
para uma política de desenvolvimento urbano: a própria melhoria da qualidade urbana
a promoção de formas de racionalização, a priorização de ações que contribuam
integração e complementaridade de ações para o aumento da inclusão social, da qua-
entre os entes federados na organização do lidade de vida e da solidariedade nas cida-
espaço urbano e dos sistemas integrados des brasileiras
de transporte
o fortalecimento institucional, do plane-
jamento e da gestão local da mobilidade A mobilidade centrada nas pessoas que transitam
urbana é ponto principal a ser considerado numa política
de desenvolvimento urbano
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
Este modelo de urbanização, típico das verizadas em uma grande mancha urbana. Na
metrópoles brasileiras, é atualmente reprodu- maior parte das grandes cidades esse processo
zido nas mais diversas cidades, de todos os não foi devidamente acompanhado pela rede
tamanhos. Combinado com outras formas de de transporte que, aos poucos, foi deixando de
expansão do urbano e de criação de novas atender aos desejos e necessidades de desloca-
cidades, o modelo resulta num território pro- mento de grande parcela da população.
fundamente desigual, com uma diversidade A ocupação irracional do solo urbano, que
enorme de características e dinâmicas que deixa áreas vazias ou pouco adensadas nas
torna a formulação e a execução de políticas áreas mais centrais e ocupa periferias mais
um enorme desafio, sobretudo a partir da es- distantes, é resultado da dissociação entre o
fera federal. Além disso, tal modelo de expan- planejamento do transporte, a ocupação do
são tem fortes impactos negativos na mobili- solo e a especulação fundiária não controlada.
dade, uma vez que sobrecarrega os sistemas Para além do planejamento da rede, pode-
de transportes devido ao aumento constante se apontar também uma forma de relação
das distâncias a serem percorridas. patrimonialista das empresas operadoras em
É nesse sentido que se entende a importân- relação às linhas de ônibus, na qual o opera-
cia do debate acerca de políticas que possibi- dor se sente o proprietário da linha que opera
litem à sociedade questionar e refletir sobre o e dos itinerários percorridos, defendendo de
futuro desejado para a mobilidade cotidiana. forma muitas vezes intransigente o seu “ter-
Até mesmo pequenas e médias cidades vivem, ritório” e dificultando a implementação de
hoje, problemas ligados à circulação motoriza-
da, reproduzindo modelos insustentáveis do
ponto de vista ambiental e sócio-econômico A ocupação irracional do solo urbano é resultado
adotados nas grandes cidades. da dissociação entre o planejamento do
transporte, a ocupação do solo e a especulação
fundiária não controlada
CRESCIMENTO PERIFÉRICO,
FRAGMENTAÇÃO URBANA E IMPACTO
NAS REDES DE CIRCULAÇÃO
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
veículos, pessoas e cargas interfere na implan- Ter planejamento e gestão sobre o cres-
tação e utilização das edificações. cimento das cidades, de modo que se
O desenvolvimento urbano mal planejado oriente a ampliação da mancha urbana do
ou planejado de forma a atender os interesses ponto de vista do interesse público
de uma pequena parcela da população (inves- Controlar a implantação de novos empre-
tidores e especuladores do solo urbano) tem endimentos públicos e privados, condicio-
contribuído para estabelecer um quadro de nando-os a internalizar e minimizar os im-
deterioração da mobilidade e qualidade de pactos sobre o ambiente urbano, trânsito
vida nas cidades. Se por um lado é necessário e transporte.
que se exerça o controle do espraiamento Garantir o uso público do espaço urbano,
urbano, como forma de reduzir distâncias de priorizando o pedestre, solucionando ou
deslocamento e custos do transporte cole- minimizando conflitos existentes entre a
tivo, incorporando ao planejamento urbano circulação a pé e o trânsito de veículos,
princípios que atuem como inibidores do oferecendo qualidade na orientação, sinali-
crescimento desordenado, como os previstos zação e no tratamento urbanístico de áreas
no Estatuto das Cidades, por outro lado é preferenciais para o seu deslocamento
necessário que exista um planejamento dos Implantar obras e adequações viárias para
transportes integrado aos demais setores priorização dos modos de transporte não-
responsáveis pela produção das cidades, motorizados e coletivos
planejando seu crescimento a partir do uso
e da ocupação do território. Isso quer dizer Por outro lado, o investimento em forta-
que as políticas públicas devem se pautar por lecimento e desenvolvimento institucional
princípios equânimes de urbanização, levada requerido para que tais medidas possam ser
a cabo em cada novo loteamento e parcela- implantadas não é isolado e tampouco se res-
mento do solo. tringe à gestão do trânsito ou do transporte
Nesse sentido, a associação, através do público, mas abrange outras áreas da gestão
planejamento integrado, entre o controle municipal. Os municípios, de forma geral,
e a gestão pública dos transportes, a com- necessitam estruturar-se e capacitar-se para
preensão das lógicas que racionalizam o planejar e controlar o desenvolvimento dos
uso do solo e a incorporação dos princípios espaços urbanos.
de Mobilidade Urbana Sustentável, podem O crescimento, em muitos casos, ocorre
formar as bases de um novo planejamento, sem nenhuma forma de controle ou de re-
com maior sinergia e efetividade, das cidades gulamentação sobre o uso e ocupação do
brasileiras. solo, sobre a expansão das infra-estruturas ou
Os principais desafios de tal política de mesmo sobre a implantação de novos equipa-
mobilidade e de uso e ocupação do solo são mentos, sendo guiado de acordo com as leis
os seguintes: de mercado referentes ao valor da terra e aos
Consolidar e regularizar os centros, áreas já níveis relativos de acessibilidade.
ocupadas e as parcelas informais da cidade, A histórica dificuldade de incorporar a idéia
promovendo maior aproveitamento da de mobilidade urbana ao planejamento ur-
infra-estrutura já instalada, maior densifica- bano e regional também está entre as causas
ção e aliviando a pressão por novas ocupa- da crise de qualidade das cidades brasileiras,
ções periférica contribuindo fortemente para a geração dos
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
ações. No que diz respeito à organização do PREVALECE NO PAÍS, A AUSÊNCIA DE UMA
transporte público urbano nessas regiões, GESTÃO INTEGRADA E COMPARTILHADA (GESTÃO
ainda na década de 1970, são previstas as Em- METROPOLITANA). OS ESTADOS QUE INVESTIRAM
presas Metropolitanas de Transporte Público NESSA FORMA DE GESTÃO, VIA DE REGRA, SUAS
(EMTU), com a proposta de integrar a rede AÇÕES SE RESTRINGIRAM A SERVIÇOS ESPECÍFICOS,
de transportes metropolitanos nos aspectos NÃO HAVENDO O PLANEJAMENTO URBANO
físicos, operacionais, tarifários e institucionais. METROPOLITANO. CONSTITUI-SE UM DESAFIO DIÁRIO
A segunda fase é marcada pela Constituição
PARA AS REGIÕES METROPOLITANAS BRASILEIRAS,
de 1988 e caracterizada pela retração dos in-
PROVER TRANSPORTE DE QUALIDADE AOS SEUS
vestimentos federais e pela descentralização
HABITANTES E FAZER COM QUE UM CONTINGENTE DE
e fortalecimento dos governos locais. Na es-
MILHÕES DE PESSOAS TENHA ACESSO DIARIAMENTE
cala da União, a coordenação dos transportes
ÀS ATIVIDADES URBANAS
ficou a cargo do Ministério dos Transportes e,
nas escalas estaduais e municipais, verifica-se
uma quase completa ausência da questão porém com forte polarização ou concen-
metropolitana na agenda dos governos. Em tração de poder político das e nas capitais
meados dos anos 1990, há uma terceira fase acirramento de conflitos de interesse pela
de trato da questão metropolitana, quando gestão de recursos financeiros
os estados passam a tomar certas medidas de
institucionalização. A falta de um organismo metropolitano
Alguns dos principais obstáculos à organi- que coordene e integre os transportes nessas
zação metropolitana do transporte verificados regiões interfere na crise da mobilidade,
desde a criação das EMTUs persistem até os gerando entre outros problemas:
dias de hoje: distribuição heterogênea da rede, com rela-
conflitos de competência no exercício da tivo excesso de oferta nas áreas mais aden-
coordenação sobre os modos de transpor- sadas ou mais próximas da região central e
te metropolitanos falta de atendimento adequado nas regiões
os modos ferroviários urbanos ainda perma- periféricas, não correspondendo às necessi-
necem sob a tutela federal (trens metropoli- dades e desejos de deslocamento da maior
tanos de Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte parcela da população
e demais trens de subúrbio das capitais) ou falta de integração física e tarifária entre os
estadual (metrôs de São Paulo e Rio) sendo modos
que, de acordo com a Constituição de 1988, superposição de redes, de interesses e
é competência municipal a estruturação e disputas, inclusive políticas
coordenação dos serviços locais de trans-
porte urbano, faltando mecanismos para Segundo o Art. 25 da Constituição Brasi-
que a organização possa ocorrer quando os leira, a atual competência de instituir e regu-
deslocamentos se dão entre municípios lamentar as Regiões Metropolitanas está a
fragilidade da organização metropolitana, cargo dos Estados. Porém, após a aprovação
que passou a se constituir em uma es- da Constituição, o devido Artigo não foi regu-
pécie de quarta instância de poder, sem, lamentado, não havendo uma definição clara
entretanto, dispor de recursos financeiros das características básicas de uma Região Me-
próprios nem de autonomia administrativa, tropolitana. Assim, ficou a cargo dos Estados
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
existência de intermodalidade nos desloca- iniciada na década de 1980. No início da déca-
mentos urbanos. da de 1990, como parte da política de descen-
Dessa forma, nas cidades brasileiras, de ma- tralização, o governo federal decidiu realizar
neira geral, o privilégio ao uso do automóvel investimentos ampliando os sistemas existen-
particular esteve associado à maneira mais tes com o objetivo de transferi-los aos esta-
simples e barata de viabilizar uma forma cole- dos. Os recursos para os novos investimentos
tiva de transporte, no caso os ônibus, que se foram obtidos através de financiamento junto
utilizam, via de regra, da mesma infra-estrutu- ao Banco Mundial, com contrapartida da
ra dos automóveis. União. Entre os sistemas nominados o único
Mas a questão da baixa intermodalidade que não integrou o programa de financiamen-
dos sistemas de transportes nas cidades brasi- to foi o de Porto Alegre, que ora desenvolve
leiras está vinculada a diversos outros fatores, seu projeto de expansão no contexto de uma
entre eles institucionais, como já revelados rede estrutural para a região metropolitana.
para as Regiões Metropolitanas, e mesmo Embora no processo de descentralização
aspectos culturais, que definem o pedestre houvesse compromissos dos governos locais
como cidadão de segunda categoria, não com a implantação de órgãos de coordena-
viabilizando suas viagens, que representam a ção regional de transporte, e a necessidade
forma mais simples de se propiciar a ligação de estratégias integradas de desenvolvimen-
entre modos distintos de transporte. to urbano e planos regionais de transporte
As maiores dificuldades encontradas para a público, excetuando a região de Recife (que
implantação de sistemas intermodais encon- elaborou uma rede estrutural integrada e está
tram-se na análise fragmentada acerca dos sis-
temas de mobilidade, que resulta em soluções
fragmentadas ou pontuais.
Até mesmo pequenas e médias cidades vivem,
Os sistemas sobre trilhos vinculados ao Mi- hoje, problemas ligados à circulação motorizada,
nistério das Cidades tiveram sua implantação reproduzindo modelos insustentáveis do ponto
de vista ambiental e sócio-econômico
dos ao Ministério das Cidades através da CBTU modal, em muitas situações, é inadequada
e Trensurb (Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, ou inexiste
Salvador e Porto Alegre) são, atualmente, as redes existentes, quando tomadas no
sobre trilhos em redes multimodais, conforme vêm sendo implantados, não são projeta-
apontado. dos com foco na integração tarifária dos
Porto Alegre está executando estudo modos
estratégico de integração do transporte da
RMPA, que tem como objetivo a obtenção As redes e os modos aqui apresentados e
de uma rede estrutural integrada de média a integração necessária entre cada um deles
e alta capacidade e um modelo institucional apenas pode se efetivar quando forem consi-
permanente para a coordenação e integração derados todos os demais modos de transpor-
do transporte. Tais estudos estão sendo con- te que compõem o cotidiano de determinada
duzidos pelo Grupo Executivo de Integração cidade. Dessa forma, a integração deve consi-
– GEI – que conta com representantes dos três derar com ênfase o papel da marcha a pé e o
níveis de governo. uso de bicicletas como modos de integração
A implementação das diretrizes e metas entre os demais modos, o que implica em
definidas no Estudo de Planejamento Estra- possibilitar sua prática segura e agradável.
tégico de Integração do Transporte Público Além disso, deve-se considerar a existência de
Coletivo da RMPA será detalhada no Plano mecanismos de informação das possibilidade
Integrado de Transporte e Mobilidade Urbana de intermodalidade existentes, indicando
– PITMUrb, da Região Metropolitana de Porto caminhos e acessos, assim como custos e
Alegre. benefícios. Os demais modos de transporte,
Atualmente, a Companhia Brasileira de incluindo os automóveis, devem ser conside-
Trens Urbanos (CBTU), vinculada ao Ministério rados no exercício da intermodalidade, lem-
das Cidades, administra linhas de trens em 6 brando sempre que para cada tipo ou motivo
capitais do país, todas elas apresentando difi- de viagem pode-se propor uma forma melhor
culdades. adaptada de realizar o deslocamento.
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
PRINCIPAIS DESECONOMIAS E CUSTOS aumento do efeito estufa e aumento do nú-
SOCIAIS DO MODELO DE CIRCULAÇÃO mero de acidentes de trânsito é importante
para que essas externalidades sejam previstas
O modelo de circulação automobilística e o
nos processos de planejamento e avaliação
urbanismo a ele combinado tem se mostra-
de sistemas de transporte. O conhecimento
do ineficiente e ineficaz em todos os lugares
desses custos pode também orientar a formu-
onde foi implantado. Várias grandes cidades
lação de políticas públicas que visem atenuar
brasileiras que já investiram milhões em infra-
impactos e reduzir os custos gerados pelos
estrutura de vias, túneis e viadutos têm visto
sistemas de transporte e, dessa forma, otimi-
os seus esforços e recursos serem transforma-
zar a aplicação dos recursos públicos.
dos em outros vários milhões gastos em horas
No caso do sistema de transporte rodoviá-
de congestionamentos e poluição ambiental.
rio, o uso de combustíveis fósseis é o principal
Apesar dos investimentos serem sempre com
responsável pela má qualidade do ar nas
o objetivo de melhorar o fluxo de veículos,
cidades, além de ser o principal contribuinte
somente em curtíssimo prazo essa intenção
dos gases de efeito estufa. Na Região Metro-
se concretiza, pois, a melhoria se traduz ime-
politana de São Paulo, em 1995, os veículos
diatamente em estímulo à maior utilização do
automotores contribuíram com 98% das emis-
transporte individual.
sões de monóxido de carbono, 97% de hidro-
Segundo estudo do IPEA7, realizado em 10
carbonetos (HC), 97% de óxidos de nitrogênio
cidades brasileiras, as condições desfavoráveis
(NO), e 85% de óxidos de enxofre (S) e 40% de
de trânsito levam a três principais tipos de
particulados.
deseconomias:
A gravidade do problema se expressa por
Tempo: a cada ano corresponde um custo
meio dos prejuízos à saúde da população em
de 250 milhões de horas para os usuários
geral e, em particular, das pessoas idosas e das
de automóveis e 120 milhões para os usuá-
crianças. O monóxido de carbono (CO), por
rios de ônibus
exemplo, provoca tonturas, dores de cabeça,
Consumo excessivo de energia: os conges-
sono, redução dos reflexos e perda da noção
tionamentos causam um consumo excessi-
de tempo. Além disso, é um dos principais
vo de 190 mil litros de gasolina e de cinco
responsáveis por acidentes de tráfego em
mil litros de diesel na hora de pico, o que
áreas de grande concentração, aumentando o
corresponde, por ano, a um gasto excessivo
estado de morbidez das pessoas idosas. Outras
de 200 milhões de litros de gasolina e 4
emissões como os hidrocarbonetos e o óxido
milhões de litros de diesel
de nitrogênio provocam irritação nos olhos, no
Poluição: os automóveis são responsáveis
sistema respiratório, produzindo alergia, asma,
pela emissão excessiva de 90 toneladas de
bronquite crônica e redução de visibilidade.
CO (122 mil ton/ano)
O processo decisório e as políticas públicas
devem considerar as deseconomias e externali-
O conhecimento dos custos externos asso-
dades próprias a cada um dos modos de trans-
ciados ao setor de transportes que afetam o
porte. Segundo estudo da ANTP, o automóvel
meio ambiente, como poluição atmosférica,
tem um gasto 12,7 vezes maior de energia do
7IPEA/ANTP – “Redução das deseconomias ur-
que o ônibus, gera 17 vezes mais poluição,
banas com a melhoria do transporte público no consome 6,4 vezes mais espaço na via e gera
Brasil”. 1998 um custo de transporte oito vezes maior que o
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
Os custos considerados associados aos aci- vitimados do trânsito, a política pública pode
dentes de trânsito incluem: danos materiais, atingir com maior eficiência suas causas.
congestionamentos, atendimento médico-
hospitalar e reabilitação, custos previden-
POBREZA E IMOBILIDADE
ciários e judiciais, perda de produção pela
interrupção da atividade produtiva e custo do O transporte público urbano, de acordo com
impacto familiar, referindo-se ao impacto do a Constituição Brasileira, é um serviço público
acidente no círculo familiar, entre outros. Os de caráter essencial. Dele depende o acesso
custos humanos, referentes à expectativa de das populações que não dispõem de meios
vida produtiva das pessoas mortas em aciden- de transporte próprios – os mais pobres – às
tes de trânsito, o sofrimento e a dor de amigos oportunidades de trabalho, aos equipamentos
e familiares pela perda de um ente querido, e serviços sociais (e.g. saúde e educação), e às
não foram considerados no estudo. atividades que garantem a dignidade humana
O estudo concluiu que um acidente de trân- e a integração social (como o lazer, visitas aos
sito nas aglomerações urbanas brasileiras custa amigos e parentes, compras etc.). Ou seja, o
em média R$ 8.783,00. O acidente sem vítima transporte público é também, além de um
custaria R$ 3.262,00. O acidente com feridos R$ componente do sistema de mobilidade urba-
17.460,00, ou seja, cinco vezes o valor do aciden- na, um importante elemento de combate à
te sem vítima. O acidente com mortos custaria pobreza urbana. No entanto, se o serviço não
R$ 144.748,00, ou seja, 44 vezes o custo do aci- for adequado às necessidades da população,
dente sem vítima (valores para abril de 2003). especialmente a mais pobre, ele pode, ao con-
O custo total estimado dos acidentes de trário, transformar-se num empecilho ao aces-
trânsito no Brasil, valores esses referentes a so às oportunidades e atividades essenciais,
abril/2003, foi de cerca de R$ 5,3 bilhões, que isto é, numa barreira à inclusão social.8
representa 0,4% do PIB do país. Deste total, Nas cidades brasileiras convivem, de um
R$ 3,6 bilhões concentram-se nas 49 aglome- lado, milhares de indivíduos que encontram
rações urbanas e R$ 1,7 bilhões nas demais dificuldades de buscar trabalho por não terem
áreas urbanas. Segundo o documento, este condições de deslocamento até os locais onde
valor subiria consideravelmente caso fossem se concentram as oportunidades de emprego,
incluídos os custos dos acidentes rodoviários com indivíduos que têm todas as condições de
e os custos humanos. Projetando esse valor realizar, com a máxima fluidez e conforto, uma
para incluir os acidentes ocorridos nas vias gama enorme de deslocamentos por motivos
rurais, estima-se um custo social total anual da variados, efetivando as mais diversas necessida-
ordem de 10 bilhões de reais. As ocorrências des de reprodução de suas vidas.
trágicas no trânsito, grande parte delas previ- Pesquisa realizada pelo ITRANS9 revela que
síveis e, portanto, evitáveis, causam enormes a mobilidade da população pobre nas gran-
perdas que inibem o desenvolvimento econô- des cidades brasileiras, medida pelo número
mico e social do país. médio de deslocamentos diários por pessoa,
O conhecimento minucioso dessas exter-
8 Ver Gomide, A. A. Transporte Urbano e Inclusão
nalidades negativas permite a implantação
Social. Texto para Discussão 960, Ipea, julho de
de medidas que possam evitar ou, ao menos,
2003.
amenizar as conseqüências negativas do trans- 9 ITRANS. Mobilidade e Pobreza. Relatório Final.
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
brasileiras que contam com sistema de trans- Segundo a Associação Nacional das Empre-
porte coletivo vêm sofrendo um processo simi- sas de Transportes Urbanos (ANTU), no período
lar que pode ser classificado como um círculo de janeiro de 1995 a dezembro de 2002, a tarifa
vicioso. Devido às características da urbaniza- média dos serviços de ônibus urbano nas ca-
ção e da rede de transporte já enfocadas, além pitais brasileiras subiu 25% acima da inflação
de diversas outras razões, inclusive técnicas e medida pelo IGP-DI. Por sua vez, a renda da
normativas, o custo da tarifa tem-se tornado população vem caindo durante os últimos
cada vez mais alto. Como reflexo, existe uma anos, acentuando ainda mais a dificuldade de
perda de passageiros transportados no sistema, utilização do transporte coletivo.
o que encarece novamente as tarifas, levando Conforme o estudo “Evolução das Tarifas
novos passageiros a abandonarem o transpor- de Ônibus Urbanos 1994 a 2003”, da SeMOB,
te coletivo. Várias são as explicações para esse as tarifas de ônibus urbano das capitais cres-
processo, algumas aqui enfocadas. ceram, em média, nos últimos nove anos em
O valor da tarifa do serviço de transporte torno de 240% (R$ 0,35 para R$ 1,20) contra
público é obtido através da divisão do custo 180% do IGP-DI.
total do serviço, mão-de-obra, veículos, com- A metodologia de cálculo tarifário ainda
bustíveis, impostos, etc, entre os passageiros utilizada na maioria das cidades brasileiras
pagantes que utilizam o sistema, aí somados segue orientação da “Planilha de Cálculo
os custos das diversas gratuidades. No sistema Tarifário” produzida pelo GEIPOT em 1982 e
de ônibus a remuneração acontece quase que que vem sendo considerada obsoleta por
exclusivamente através da tarifa. Ao contrário, técnicos e gestores dos sistemas, uma vez
no sistema de trens urbanos existem subsídios que depende de conhecimentos minuciosos
governamentais. sobre os diversos custos das empresas para
Devido ao modelo de remuneração dos o cálculo de um valor que será rateado entre
serviços, o aumento constante dos custos e os usuários pagantes, como forma de chegar
insumos, a baixa produtividade dos serviços, a ao valor médio da tarifa. Uma vez que todos
concessão de gratuidades, verifica-se um forte os custos são repassados aos usuários, essa
aumento na tarifa que tem como principais metodologia tem sido considerada impró-
efeitos a expulsão das classes mais baixas do
transporte coletivo. A perda de passageiros encarece as tarifas,
levando novos passageiros a abandonarem o
transporte coletivo
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
tingenciamento de crédito do setor público que não se faz apenas na economia brasileira.
tornaram-se mais rígidas, contribuindo para a Nada leva a crer que, num prazo razoável, o
queda na liberação de recursos e explicitando o Estado volte a cumprir o papel de provedor
impasse entre políticas de estabilização macro- de recursos para infra-estrutura na escala
econômica e de ajuste fiscal, por um lado, e po- em que isso ocorreu até o passado recente.
líticas sociais, com foco na redução da pobreza Por conseqüência, a mudança do padrão de
e redução de desigualdades sociais, por outro. financiamento da infra-estrutura é um fato
Há, assim, uma carência crônica de recursos relevante que vem sendo considerado, ainda
para investimento em infra-estrutura e servi- que existam muitas contestações, e que tem
ços públicos e uma acirrada disputa pelos re- obrigado os diversos agentes a buscar novos
cursos disponíveis entre os possíveis tomado- arranjos e induzido novas parcerias e a experi-
res. Além disso, os governos devem, dentro da mentação de formas de cooperação e integra-
pequena margem de manobra, decidir onde ção entre diferentes instâncias governamentais
aplicar tais recursos frente aos variados temas para racionalizar a ação e viabilizar recursos de
e carências urbanas. financiamento para a infra-estrutura.
Investimentos a fundo perdidos são extre- Cabe ainda ressaltar a necessidade de uma
mamente escassos e, mesmo com a recente ampla discussão sobre a questão das delega-
criação do Pró-Transporte, com recursos do ções dos serviços de transporte público coleti-
FGTS, para financiar a infra-estrutura de trans- vo urbano, principalmente diante da necessá-
portes, há dificuldades conjunturais para sua ria adequação da maior parte dos contratos de
aplicação, devidas especialmente ao limite de serviços nos municípios à legislação vigente.
crédito estabelecido para o setor público. Per- Uma relação estável advinda da existência de
manece, assim, a necessidade de buscar novas um contrato entre o poder concedente e o
fontes e arranjos alternativos de investimento concessionário é fundamental para permitir os
para a mobilidade urbana. As Parcerias Públi- investimentos necessários para a operação dos
co-Privadas e os instrumentos do Estatuto da sistemas de transportes coletivos. Há, também,
Cidade vêm sendo estudados como oportuni- a necessidade de aperfeiçoamento dos instru-
dades para atração de investimentos em infra- mentos legais que disciplinam as delegações
estrutura de transporte público. dos serviços tendo em vista a possibilidade de
Por outro lado, com a diminuição dos adoção de novas formas de gestão dos siste-
clientes do setor público, grandes agentes de mas de transportes e de financiamento para o
fomento do governo federal e de agências setor, como as Parcerias Público-Privadas.
internacionais de financiamento, que necessi-
tam ser reembolsados pelo tomador, reduzi-
A GESTÃO LOCAL E O DESAFIO
ram suas operações a órgãos públicos dando,
DA INFORMALIDADE
por conseqüência, maior peso relativo às suas
atividades com a iniciativa privada. O setor Pesquisa realizada acerca da gestão dos trans-
público teve assim restringida essa importante portes e do trânsito em 40 cidades brasileiras11
alternativa para o financiamento de infra-es- aponta condições de gestão bastante diversi-
trutura para transporte urbano.
É preciso considerar que essas restrições de
crédito ocorrem num cenário de redefinição 11Pesquisa sobre o tema realizada pela Secretaria
do papel do Estado na economia, constatação Especial de Desenvolvimento Urbano SEDU, 2002.
36
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
A GESTÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO PRESSUPÕE dos ônibus. Porém o mais comum é atuar
AÇÕES DE FISCALIZAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E competindo pelos mesmos mercados.12
PLANEJAMENTO DO TRANSPORTE. UMA DAS Além das medidas de fiscalização e controle
CONSEQÜÊNCIAS MAIS DANOSAS DA CRISE NA GESTÃO dos sistemas clandestinos, o fenômeno exige,
SE MANIFESTA NA DIFICULDADE DO CONTROLE DA como já foi visto neste documento, a reformu-
INFORMALIDADE, OU CONCORRÊNCIA INADEQUADA, lação dos instrumentos contratuais e de regula-
QUE NA MAIORIA DOS CASOS ESTÁ ASSENTADA
ção na relação entre o poder concedente e os
operadores privados; a introdução de métodos
NA AUSÊNCIA DE CONTRATOS OU EM CONTRATOS
e modelos modernos na administração do
RENOVADOS DE FORMA TAMBÉM INADEQUADA
transporte público; o estabelecimento de sis-
temas de controle e valorização dos benefícios
tarifários e do vale-transporte, que se transfor-
A informalidade no setor de transporte, ao mam em moeda paralela, e acabam por ali-
contrário do que se possa imaginar, não é um mentar sistemas clandestinos; a redefinição do
fenômeno recente e tampouco particular das próprio modelo de compensação, entre outros.
cidades brasileiras. A substituição dos bondes
pelos ônibus, por exemplo, iniciada nos anos
30 no Brasil, favoreceu-se com a concorrência A CIRCULAÇÃO NÃO-MOTORIZADA
predatória que sistemas de ônibus clandesti- Caminhar, além de ser a forma mais antiga e
nos exerciam sobre o sistema de bondes. básica de transporte humano, constitui-se no
O transporte ilegal pode se apresentar de modo de transporte mais acessível e barato.
várias maneiras. Há serviços que funcionam Com exceção dos equipamentos necessários
como táxi, prestando um serviço porta a para melhorar a mobilidade das pessoas com
porta, com rotas variáveis, até serviços que deficiência, caminhar não exige nenhum equi-
funcionam como ônibus, feitos por veículos pamento especial. Porém, apesar da infra-es-
maiores e seguindo uma rota fixa. Os moto- trutura de passeios públicos ser relativamente
táxis são encontrados principalmente em pe- barata, a maioria das cidades brasileiras não se
quenas e médias cidades do Brasil, e exercem preocupa em acomodar os pedestres com o
na maioria das cidades um tipo de transporte mesmo empenho dedicado aos veículos.
completamente informal e ilegal. Os passeios públicos e as áreas de uso
O setor do transporte ilegal é formado por compartilhado, planejados para acomodar os
veículos de pequeno porte, sendo que na pedestres em seus deslocamentos, poderiam
maioria das vezes o motorista é proprietário constituir elementos de cidades mais humanas.
do veículo. Existem casos em que o motorista Mas, ao longo do tempo, esses espaços foram
é um empregado que recebe salário fixo ou sendo cedidos para a ampliação do viário, dos
arrenda o veículo por uma taxa fixa ou por- estacionamentos, ou simplesmente invadidos
centagem da arrecadação diária. Há notícias pelos veículos e pelo comércio informal.
de que vem crescendo a formação de peque-
nas frotas por um único proprietário.
12Sobre a informalidade no setor, ver: BARBOZA,
Há casos em que o transporte ilegal serve
Karla – Regulamentação do transporte público
a uma determinada comunidade, atuando em
alternativo. Experiência Brasileira. Dissertação de
locais onde o ônibus não pode ir ou oferece Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Enge-
serviços com preços e níveis superiores aos nharia, UFRJ, Rio de Janeiro, 2002.
38
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
como preconiza o CTB, é a solução já apresen-
tada em toda a história do urbanismo moder-
no, mas que ainda deve ser efetivamente reali-
zada na maior parte das áreas urbanas do país.
Andar a pé muitas vezes não se revela uma
opção individual, mas uma imposição que
priva um terço dos deslocamentos de padrões
dignos de acessibilidade. Investimentos no
passeio público são ações para a maioria, pois
requalificam o espaço público, local da igual-
dade imposta pela simples coopresença dos
habitantes de um determinado lugar.
O DESAFIO DA ACESSIBILIDADE
UNIVERSAL
pode ser feito com o trabalho de setores HORÁRIOS E LOCAIS DE CARGAS E DESCARGAS
40
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
No entanto, ainda que seja um forte setor mento dos seus produtos, o setor público tem
econômico, quer pelos seus números, quer enorme interesse em propiciar formas eficazes
pela importância dos serviços prestados, de escoamento da produção.
intermediando a maior parte das relações Para tanto, cabe em grande medida ao
econômicas, o setor apresenta diversos pro- setor público a produção e manutenção das
blemas e alguns gargalos amplamente conhe- redes urbanas de transporte, estendendo-se
cidos no país. aos aspectos de planejamento de transportes,
No que tange ao transporte de cargas em controle e engenharia de tráfego.
meio urbano a realidade não é diferente. Além Por outro lado, o governo pode lançar
disso, a falta de pesquisas relacionadas ao mão do controle do uso do solo no sentido
tema dificulta a mensuração dos problemas de localizar atividades geradoras de cargas
específicos e das soluções necessárias, sendo (terminais de cargas, indústrias, comércio,
possível apenas analises localizadas para algu- etc.), definir os acessos urbanos, a provisão de
mas cidades do país. facilidades para o transporte de cargas, os me-
A importância do transporte urbano de car- canismos necessários para a logística de distri-
gas se revela não apenas pelos valores econô- buição, e para a segurança. Há, ainda, toda a
micos envolvidos, mas também pelas externali- regulamentação do setor de transportes rela-
dades e impactos causados, além dos vultosos tiva à compatibilização desta atividade com as
recursos públicos destinados ao sistema. demais atividades e usos urbanos, tamanho e
O transporte urbano de cargas congrega peso dos veículos, os níveis de segurança, de
uma enorme diversidade de agentes relacio- ruídos, de emissão de poluentes, a freqüência
nados à produção dos componentes das mer- do transporte, horários e locais de cargas e
cadorias, passando por sua produção final, sua descargas. Essas medidas já são largamente
armazenagem, destinação, venda e entrega, praticadas em todo o mundo e podem ser
envolvendo vários modos e meios de trans- utilizadas nas mais diversas cidades, devendo
porte e, também, empresas transportadoras, apenas ser avaliados os custos gerados pela
operadores, prestadores de serviços logísticos, aplicação de cada uma delas para que não
embarcadores, armazenadores, motoristas, se tornem contraproducentes ou prejudiciais
carregadores, ou seja, toda uma extensa “co- à economia na medida em que esses custos
munidade” do setor de cargas. serão repassados às mercadorias.
Esta breve apresentação do setor quer, so- Dada a diversidade dos aspectos envolvi-
bretudo, demonstrar que o transporte urbano dos para a efetivação do transporte de cargas
não é feito apenas de passageiros, mas tam- em meio urbano, externalidades negativas,
bém de cargas. Ou seja, a Política Nacional de conflitos, competição pelo espaço, riscos, etc,
Mobilidade Urbana Sustentável deve abarcar a problemática das cargas deve ser enfocada
os deslocamentos dos homens e das coisas como uma questão específica que merece
dos homens. tratamento especial. É sobretudo necessário
O papel do setor público na movimentação fomentar a realização de pesquisas que per-
de cargas, ao contrário do movimento dos mitam uma abordagem mais precisa do tema,
homens, não é direto. O transporte de cargas contribuindo tanto para a definição de políti-
é quase que exclusivamente realizado pelo cas públicas, quanto para o setor de logística
setor privado. No entanto, uma vez que a eco- de distribuição que cresce amplamente no
nomia está essencialmente atrelada ao movi- país nos últimos anos.
42
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
g) Câmaras Temáticas: órgãos técnicos de veículos automotores, passando a centrar-
compostos por representantes do estado se na pessoa humana, estabelecendo deveres
e da sociedade civil e que têm a finali- objetivos para os responsáveis pela gestão do
dade de estudar e oferecer sugestões e trânsito, estabelecendo regras para o fortale-
embasamento técnico para decisões do cimento dos direitos dos cidadãos, abordando
Contran. São seis Câmaras Temáticas, cada o transporte não-motorizado e os direitos e
qual com treze membros titulares e respec- deveres dos pedestres. Capítulo especial é de-
tivos suplentes. dicado à educação para o trânsito, obrigando
h) Fórum Consultivo de Trânsito: colegiado cada órgão executivo de trânsito a constituir
constituído por 54 representantes e suplen- em sua estrutura uma coordenação de edu-
tes dos órgãos e entidades do Sistema Na- cação, e incumbindo aos órgãos do Governo
cional de Trânsito, e que tem por finalidade Federal a introdução do tema de trânsito nas
assessorar o Contran em suas decisões. redes de ensino nos seus vários níveis.
i) Sistema Nacional de Trânsito: conjunto de Desde a promulgação do Código de
órgãos e entidades da União, dos Estados, Trânsito Brasileiro – CTB em 1997, houve um
do Distrito Federal e dos Municípios, que despertar de consciência para a gravidade
tem por finalidade o exercício das ativi- do problema. No entanto, o estágio dessa
dades de planejamento, administração, conscientização e sua tradução em ações
normalização, pesquisa, registro e licencia- efetivas ainda são extremamente discretos e
mento de veículos, formação, habilitação e insuficientes para representar um verdadeiro
reciclagem de condutores, educação, en- enfrentamento da questão.
genharia, operação e fiscalização de trânsi- Para reduzirem-se as ocorrências e imple-
to, policiamento, julgamento de recursos a mentar-se a civilidade no trânsito, é preciso
infrações de trânsito e aplicação de pena- tratá-lo como uma questão multidisciplinar
lidades. Conta, atualmente, com cerca de que envolve problemas sociais, econômicos,
1.240 órgãos e entidades municipais, 162 laborais e de saúde, onde a presença do estado
estaduais e 6 federais. Congregando mais de forma isolada e centralizadora não funciona.
de 50.000 mil profissionais. O verdadeiro papel do estado é assumir a
liderança de um grande e organizado esfor-
O Código de Trânsito Brasileiro, instituído ço nacional em favor de um trânsito seguro,
pela lei 9.503, de 23 de setembro de 1997, ao mobilizando, coordenando e catalisando as
contrário do antigo código, datado de 1966, forças de toda a sociedade.
surge após quatro anos de debates num país Apesar do tempo de vigor do Código, muita
em pleno regime democrático, com ampla coisa ainda precisa ser feita para que ele seja
participação da comunidade técnica, de considerado plenamente implantado.
representações da sociedade civil e de orga- Há, ainda, um conjunto de regras não suficien-
nismos não governamentais. Não é por outra temente regulamentadas, como, por exemplo,
razão que o CTB traz em seu bojo a cidadania a inspeção técnica veicular, as necessárias arti-
como tema central e a preservação da vida e a culações entre os órgãos que compõem o Sis-
segurança no trânsito como prioridade. tema Nacional de Trânsito, com vistas à harmo-
Esse novo instituto legal muda radicalmen- nização de ações comuns ou complementares,
te o foco da abordagem do trânsito, eminen- ainda não devidamente resolvidas. Não há,
temente voltada, no passado, para o trânsito tampouco, uma estatística confiável dos aci-
44
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA A MAIOR INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO
E NOVAS TECNOLOGIAS DA DE TRABALHO, GERA NOVAS DEMANDAS DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO TRANSPORTE QUE DEVEM SER OBJETO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS ESPECÍFICAS. AS MULHERES SÃO MAIS
Os diversos aspectos enfocados neste do-
EXIGENTES QUANTO AO CONFORTO, QUALIDADE E
cumento compõem um diagnóstico e um
panorama da realidade atual da mobilidade, SEGURANÇA NOS TRANSPORTES
46
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
Objetivos, diretrizes
e estratégia da política
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
O PROCESSO DE FORMULAÇÃO Paralelamente a esse processo, a SeMOB
DA POLÍTICA desenvolveu, durante o ano de 2003, diversas
ações, priorizando programas estratégicos
A Política Nacional de Mobilidade Urbana
que conformam uma agenda preliminar da
Sustentável traz elementos do programa do
Política de Mobilidade aqui revelada para
atual governo e da revisão crítica de todo o
apresentação e discussão com a sociedade.
acervo – reflexão e ação – acumulado no tra-
Pretende-se, após esta etapa, discutir este ma-
to da questão. A revisão crítica foi elaborada
terial para posterior aprovação pelo Conselho
com base nos diagnósticos produzidos, nas
das Cidades, no final de 2004.
diversas leituras da crise e desafios contempo-
Além de uma nova abordagem do trato
râneos, nas atuais tendências, no marco legal
das questões dos transportes urbanos, a Políti-
estabelecido, e a partir do reconhecimento
ca Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável
do papel e das competências da União, dos
tem como finalidade definir claramente as
Estados e Municípios em relação ao trânsito, possibilidades e os limites de atuação do Go-
ao transporte e à mobilidade. verno Federal, reforçando seu papel de indu-
A partir deste conhecimento foram eleitas tor e articulador de ações, para que os investi-
prioridades e objetivos para a Política. Em mentos, programas e ações dos três níveis de
seguida, foi elaborado um conjunto de princí- governo sejam melhor utilizados, resultando,
pios e diretrizes, submetidos ao Conselho das assim, em ganhos efetivos para a sociedade.
Cidades para que apresentasse suas críticas e
sugestões. Entre as prioridades estabelecidas
encontram-se o direito à cidade, a consolida- OS MACRO-OBJETIVOS DA POLÍTICA
ção da democracia, a promoção da cidadania O objetivo final da Política Nacional de Mobi-
e da inclusão social, a modernização regulató- lidade Urbana Sustentável e dos programas e
ria e desenvolvimento institucional e o fortale- ações da SeMOB é disseminar e implementar
cimento do poder local. os princípios da Mobilidade Urbana Sustentá-
Dessa forma, a Política de Mobilidade vel, já descritos.
Urbana Sustentável deverá ser um instru- Para tanto, trabalha-se com três macro-
mento de apoio à concretização dos objeti- objetivos a serem perseguidos, além de seus
vos que estruturam o Plano Brasil de Todos, desdobramentos e interseções, que definem
quais sejam: o crescimento com geração de campos de ação e compromissos da Política
trabalho, emprego e renda, ambientalmente apresentada. São eles: desenvolvimento ur-
sustentável e redutor de desigualdades re- bano, sustentabilidade ambiental e inclusão
gionais; a inclusão social e, o fortalecimento social.
da democracia. Cada um desses macro-objetivos é for-
O Conselho das Cidades cumpre importan- mado por objetivos menores que, por sua
te papel na formulação das políticas urbanas. vez, ajustam os princípios e diretrizes dos
O Conselho foi eleito durante a 1ª Conferência programas e ações da SeMOB. Como foi visto
Nacional das Cidades, realizada em outubro no diagnóstico anterior, esses objetivos se
de 2003, que contou com ampla representa- entrecruzam na produção do espaço urbano,
ção da sociedade civil. Trata-se de uma im- fazendo com que os próprios macro-objeti-
portante mudança na forma de fazer política, vos definidos não sejam estanques em si. Ao
especialmente no plano federal. contrário, eles se superpõem uns aos outros
50
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
gestões, através do sítio internet do Ministério Diretrizes
das Cidades (www.cidades.gov.br).
1. Priorizar pedestres, ciclistas, passageiros de
Em síntese, a Política Nacional da Mobilida-
transporte coletivo, pessoas com deficiên-
de Urbana Sustentável tem por objetivo pro-
cia, portadoras de necessidades especiais e
mover a mobilidade urbana sustentável, de
idosos, no uso do espaço urbano de circu-
forma universal, à população urbana brasileira,
lação
promovendo ações articuladas entre a União,
2. Promover a ampla participação cidadã, de
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
forma a garantir o efetivo controle social
com a participação da sociedade. As diretrizes
das políticas de Mobilidade Urbana
da política visam contribuir para o crescimen-
3. Promover o barateamento das tarifas de
to urbano sustentável e a apropriação justa
transporte coletivo, de forma a contribuir
e democrática dos espaços públicos, promo-
para o acesso dos mais pobres e para a dis-
vendo e apoiando a circulação segura, rápida
tribuição de renda
e confortável, priorizando os transportes cole-
4. Articular e definir, em conjunto com os Es-
tivos e os meios não-motorizados.
tados, Distrito Federal e Municípios, fontes
alternativas de custeio dos serviços de trans-
Princípios porte público, incorporando recursos de
beneficiários indiretos no seu financiamento
Direito ao acesso universal, seguro, equâni-
5. Combater a segregação urbana por inter-
me e democrático ao espaço urbano
médio da Política Nacional de Mobilidade
A participação e controle social sobre a po-
Urbana Sustentável
lítica de mobilidade
6. Promover o acesso das populações de bai-
Direito à informação sobre a mobilidade,
de forma a instrumentalizar a participação xa renda, especialmente dos desemprega-
popular e o exercício do controle social dos e trabalhadores informais, aos serviços
Desenvolvimento das cidades, por meio da de transporte coletivo urbano
mobilidade urbana sustentável 7. Promover e difundir sistemas de informa-
Universalização do acesso ao transporte ções e indicadores da Mobilidade Urbana
público coletivo 8. Estabelecer mecanismos permanentes de
Acessibilidade das pessoas com deficiência financiamento da infra-estrutura, incluindo
ou com restrição de mobilidade parcela da CIDE-combustíveis, para os mo-
Políticas públicas de transporte e trânsito, dos coletivos e não-motorizados de circula-
política nacional de mobilidade urbana ção urbana
sustentável, articuladas entre si e com a 9. Incentivar e apoiar sistemas estruturais, me-
política de desenvolvimento urbano e a do tro-ferroviários e rodoviários de transporte
meio ambiente coletivo, em corredores exclusivos nas cida-
A Mobilidade Urbana centrada no desloca- des médias e nas Regiões Metropolitanas,
mento das pessoas que contemplem mecanismos de integra-
O transporte coletivo urbano como um ção intermodal e institucional
serviço público essencial regulado pelo 10. Promover e apoiar a implementação de
Estado sistemas cicloviários seguros, priorizando
Paz e educação para cidadania no trânsito aqueles integrados à rede de transporte
como direito de todos público
52
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
nas cidades brasileiras, foi a de concentrar os Critérios de prioridade da PNMUS
recursos disponíveis, políticos, técnicos,
As prioridades de ação adotadas pela SeMOB
e financeiros, nos quatro pilares da mobilidade
derivam dos princípios e diretrizes da PNMUS
sustentável.
e se efetivam como critérios de avaliação
Planejamento Integrado de Transporte e de seleção dos projetos de mobilidade e
e Uso do Solo Urbano transporte urbano que buscam o apoio po-
lítico, técnico ou financeiro do Ministério das
A finalidade da melhoria do trânsito e do
Cidades.
transporte urbano é o desenvolvimento urba-
De modo sintético, estas prioridades se tra-
no, para que as cidades brasileiras se tornem
duzem na precedência:
mais agradáveis e mais democráticas. A me-
do deslocamento das pessoas sobre o dos
lhoria isolada de um setor, ou de um segmen-
veículos;
to do setor, não contribui necessariamente
do transporte coletivo sobre o individual;
para o progresso de todos.
da acessibilidade universal, incluindo as das
Melhoria do Transporte Coletivo Urbano pessoas com restrição de mobilidade;
54
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
das pessoas com restrição de mobilidade e normas e sinalização específica existente em
deficiência, integrando-os aos sistemas de braile e/ou sonora, visando sua segurança.
transporte coletivo. Para tanto esta ação prevê
a execução de projetos que garantam a aces- Apoio a Projetos de urbanização de áreas
sibilidade segura e universal das pessoas com lindeiras a corredores ferroviários
a implantação de passeios, guias rebaixadas Contempla a revitalização de áreas degrada-
para usuários de cadeiras de rodas, sistemas das, lindeiras a ramais metro-ferroviários me-
cicloviários, e a respectiva sinalização neces- diante a implantação de projetos urbanísticos
sária para a minimização dos conflitos, prin- que as integrem ao entorno utilizando-se de
cipalmente entre os modos motorizados e os instrumentos disponíveis nos Planos Diretores
não-motorizados de transporte público. de desenvolvimento urbano, de Transportes e
no Estatuto da Cidade.
Apoio a Projetos de acessibilidade para
pessoas com restrição de mobilidade e Apoio a Projetos de revitalização de ramais
deficiência ferroviários ociosos para o transporte de
Contempla projetos que promovam a acessi- passageiros
bilidade para pessoas com restrição de mobi- Contempla a revitalização e otimização de
lidade e todos os tipos de deficiência, através linhas ferroviárias já existentes e ociosas,
da implantação de infra-estrutura adequada adaptando-as ao transporte de passageiros
à circulação universal. Compreendendo da e integrando-as com os demais modos de
implantação de guias rebaixadas adequadas, transporte urbanos.
Apoio a projetos de acessibilidade para pessoas com 550.000 1.250.000 1.750.000 1.750.000
restrição de mobilidade e deficiência
56
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
É crescente o uso de bicicletas como alternativa
de transporte por motivo de trabalho e
tos de acessibilidade universal, de mobilidade
estudo, tornando-se um modo de transporte
urbana sustentável e de inclusão social, a economicamente viável
elaboração de Plano de Ação de Acessibilida-
de Universal, além da criação de rubrica orça-
mentária específica para estes gastos.16 desempenha nos deslocamentos urbanos de
milhares de pessoas, o que exige a adoção de
uma política pública integrada entre as três
Programa brasileiro de mobilidade
esferas governamentais.
por bicicleta
A inclusão da bicicleta nos deslocamentos
Ao se analisar a realidade das cidades brasilei- urbanos além de adotar o conceito de mo-
ras, verificou-se o uso crescente de bicicletas bilidade urbana sustentável, contribui para a
como alternativa de transporte por motivo de redução do custo da mobilidade das pessoas.
trabalho e estudo, tornando-se um modo de Portanto, busca-se implementar uma política
transporte economicamente viável à parcela que favoreça a integração do modo bicicleta
mais pobre da população, além da tradicional aos demais modos de transporte.
utilização como atividade de lazer.
Assim, a SeMOB agregou o modo bicicleta
Barateamento das tarifas
às políticas de mobilidade urbana sustentável
e às de inclusão social, entendendo ser de Com a criação do Ministério das Cidades, no
fundamental importância a realização de tra- Governo Lula, e a estruturação da SeMOB,
tamento adequado ao papel que a bicicleta o transporte urbano passou novamente a
pautar a agenda do Governo Federal, na
16 MCidades/SeMOB/Diretoria de Mobilidade busca, junto com os Municípios e Estados,
Urbana – Mobilidade acessível em ambientes ur- de soluções para os problemas de transporte
banos, junho 2004. urbano.
58
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
TARIFAS CRESCENTES, INCOMPATÍVEIS COM A para os operadores, controle de eficácia e par-
CAPACIDADE DE PAGAMENTO DA POPULAÇÃO ticipação dos usuários na avaliação dos ser-
MAIS POBRE, OFERTA INADEQUADA, BAIXO viços. Neste sentido, as futuras licitações têm
DESENVOLVIMENTO OPERACIONAL E TECNOLÓGICO, um importante papel a desempenhar, inclusi-
FALTA DE INVESTIMENTOS PARA ATENDER A ve para a redução de custos operacionais dos
ELEVADA DEMANDA POR INFRA-ESTRUTURA: serviços, através das licitações competitivas.
ESSES SÃO ALGUNS DOS PROBLEMAS AGRAVADOS
POR UM AMBIENTE INSTITUCIONAL E UM MARCO Programa de desenvolvimento
REGULATÓRIO CARENTES DE MODERNIZAÇÃO e modernização institucional
60
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
Públicos – ANTP se conveniaram para implan- de das pessoas com restrição de mobilidade e
tar o Sistema de Informações de Transporte deficiência.
e Trânsito Urbano, que se constitui em banco Neste modelo o Governo Federal não se
de dados especialmente desenhado para per- coloca como única fonte de recursos finan-
mitir aos Setores Públicos Federal, Estaduais e ceiros, não atua como mero repassador de
Municipais o adequado acompanhamento das recursos e cuida para que os investimentos
várias facetas de caráter econômico e social que aporta transcendam a infra-estrutura,
envolvidas na dinâmica do transporte urbano contribuindo para a implementação de novos
no Brasil, com a finalidade de aperfeiçoar os parâmetros de mobilidade urbana e aprimo-
processos de planejamento, gestão e tomada rando as relações contratuais entre o poder
de decisão sobre os investimentos no setor. concedente e as empresas operadoras de
O referido sistema agrega, inicialmente, in- transporte coletivo.
formações de 437 Municípios, incluindo todas Nesse contexto as parcerias público-priva-
as cidades pertencentes às Regiões Metropo- das, as PPP, se apresentam como alternativa
litanas e aquelas com população acima de 60 para o enfrentamento da atual escassez de
mil habitantes, com base no pressuposto da recursos públicos para investimento, sendo
sua significância no elenco dos sistemas de um instrumento de atração de investimentos
transportes estruturados. Abrange um con- privados de curto prazo e para projetos lo-
junto de 150 dados básicos relacionados aos calizados. Portanto, torna-se uma alternativa
temas tarifação, regulamentação, demanda, relevante desde que sejam garantidos o aten-
custos, receitas, frota, oferta e recursos huma- dimento do interesse público e a preservação
nos, segmentados segundo os três modos das suas funções de regulação e controle.
considerados: sistemas de ônibus municipais, Esta abordagem tem como objetivos:
sistemas de ônibus metropolitanos e sistemas Estimular o planejamento da rede de trans-
possíveis de transporte de maneira integrada, acesso das pessoas com deficiência à infra-
desenvolvendo projetos para o transporte co- estrutura do TC
letivo (trilhos, pneus e barcas), transporte não- Implantar infra-estrutura de transporte
62
CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
Planos diretores e mobilidade urbana o que deve ser considerado na formulação
dessa legislação, estabelecendo diretrizes para
O Estatuto da Cidade, em seus diversos arti-
a expansão/adequação do sistema viário e do
gos, reforça o serviço de transportes urbanos
sistema de transporte público. Além disso, o
como serviço público e a competência da
conceito de mobilidade urbana sustentável é
União no estabelecimento de diretrizes para
aplicável à diversidade dos municípios brasi-
seu desenvolvimento e torna obrigatória a
leiros, independentemente do porte da cida-
existência de um plano de transporte urbano
de, pois seus valores são universais.
integrado para as cidades com mais de 500
mil habitantes ou situadas nas regiões me-
PRINCIPAIS DIRETRIZES
tropolitanas. Os instrumentos urbanísticos
nele propugnados propiciam um maior con- Evitar a necessidade de viagens
trole sobre a expansão urbana pautada pelo motorizadas
mercado imobiliário e a regularização dos
Em relação ao planejamento urbano, uma
assentamentos urbanos, indicando um maior
cidade pode ser considerada organizada, efi-
aproveitamento da infra-estrutura existente.
ciente e preparada para atender aos cidadãos
Somados aos mecanismos de participação
quando as pessoas conseguem morar perto
da sociedade através dos orçamentos partici-
de seu local de trabalho e acessar os serviços
pativos e estudos de impacto de vizinhança,
essenciais sem a necessidade de deslocamen-
abrem possibilidades para as soluções ne-
tos motorizados, realizando pequenas viagens
cessárias de uso mais adequado do espaço
a pé, de bicicleta, ou acessá-los através dos
urbano, com grande repercussão nos sistemas
modos coletivos de transporte. A formação
de transportes.
e consolidação de sub-centros urbanos, ou a
Por outro lado, os Planos Diretores tradi- multicentralidade, resulta na diminuição de
cionalmente estabelecem diretrizes para a viagens. Logicamente não se pode reconstruir
expansão/adequação do sistema viário e para uma cidade, mas quando se posiciona melhor
o sistema de transporte público, consideran- os equipamentos sociais, se realiza a informa-
do apenas o deslocamento dos veículos e tização e descentralização dos serviços públi-
não das pessoas. A idéia é de se trabalhar a cos e ocupam-se os vazios urbanos modifica-
mobilidade das pessoas, em substituição ao se de forma concreta os fatores geradores de
enfoque de se planejar apenas o transporte viagens. Trata-se portanto de procurar não
e o trânsito. Incorporar a mobilidade urbana gerar necessidade de deslocamento motoriza-
no Plano Diretor é priorizar, no conjunto de do para a população.
políticas de transporte e circulação, a mobili-
dade das pessoas e não dos veículos, o acesso Repensar o desenho urbano
amplo e democrático ao espaço urbano e os Este princípio tem como conseqüência um
meios não-motorizados de transporte. novo desenho urbano e uma outra forma de
É importante ressaltar que a necessidade planejamento das vias para dar suporte à mo-
de deslocamento é conseqüência da distri- bilidade urbana sustentável. Nos novos lote-
buição e densidade de ocupação das diversas amentos, onde normalmente o sistema viário
atividades pela malha urbana e que, por outro é planejado em forma de tabuleiro, pode ser
lado, o sistema viário e de transporte é um utilizado o desenho de vilas ou a ausência de
forte indutor do uso e da ocupação do solo, cruzamentos, que preservam os moradores
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
pos de veículos utilizados no Brasil. Esta visão conseqüente desregulamentação do setor.
impediu uma abordagem mais adequada do Os municípios podem estruturar a gestão
problema, desconsiderando-se, nesta solu- local para a regularização dos contratos das
ção, todos os tipos de deficiência existentes. empresas operadoras de transporte público
Trata-se de discutir a mobilidade das pessoas e a municipalização do trânsito, conforme
com deficiência pela cidade, através dos vá- estabelecido no Código de Trânsito Brasilei-
rios modos possíveis de transporte e as ade- ro. Outra ação é o aperfeiçoamento, criação
quações nos espaços públicos para garantir e regulamentação de mecanismos de gestão
a circulação também dos idosos, gestantes e compartilhada entre municípios, possibili-
crianças. tando a ampliação do planejamento urbano
para as regiões metropolitanas, aglomera-
Priorizar efetivamente o transporte ções, áreas conurbadas e micro-regiões. As
coletivo ações de gestão podem estabelecer me-
A priorização ao transporte coletivo, seu me- canismos de controle e participação da so-
lhor planejamento e a racionalização do uso ciedade, tanto na formulação da política de
do automóvel estão intimamente ligados para mobilidade quanto na sua implementação.
a diminuição dos efeitos nocivos do trânsito. É possível desenvolver ações visando ganhos
Poucos são os investimentos públicos destina- de eficiência do transporte coletivo, a redu-
dos à infra-estrutura dos serviços, ao contrário ção do custo operacional, o barateamento
dos projetos de expansão do sistema viário, das tarifas para o usuário e a criação de no-
que é rapidamente apropriado pelos automó- vas formas de financiamento para o setor,
veis. A priorização de operação do transporte como os recursos obtidos no estacionamen-
coletivo pode ser garantida através da cons- to rotativo (área azul).
trução de corredores exclusivos, faixas exclu- Principais desafios no uso e ocupação do
sivas com segregação espacial ou através de solo:
controles eletrônicos de tráfego, controles se- Consolidar e regularizar os centros, áreas já
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CADERNOS MCIDADES MOBILIDADE URBANA
dos sistemas de mobilidade, inclusive no âm- tar o atual estágio de evolução conceitual
bito metropolitano, a defesa do interesse dos acerca da mobilidade urbana e apresentar
usuários e a promoção da universalização do os principais eixos, objetivos e estratégia da
acesso, da participação e do controle social implementação de uma política nacional em
dos serviços públicos de transportes. bases sustentáveis.
Os projetos e programas apresentados
compreendem um esforço de sistematização
CONSIDERAÇÕES FINAIS
das propostas e ações em curso da SeMOB.
Este caderno representa mais uma etapa da Não conformam, ainda, um documento finali-
construção da Política Nacional de Mobilidade zado da política, apesar de muitas das ações e
Urbana Sustentável e da consolidação de um projetos já estarem em curso e apresentarem
novo paradigma, que ultrapassa a visão seto- resultados concretos. Tal documento de políti-
rial tem marcado as políticas de transportes ca, espera-se, deve ser consolidado através do
urbanos, em busca de compreender a mobili- processo participativo e em concertação com
dade urbana de maneira sistêmica e integrada os agentes e atores da mobilidade urbana.
com as demais políticas participativas de A política deverá contemplar os programas
desenvolvimento urbano e sócio-econômico, e ações de modo completo, com orçamento,
tendo como finalidade a produção de cidades fonte de financiamento, metas e objetivos a
mais justas e humanas, lugar da promoção e serem alcançados, como também um siste-
expansão da cidadania, através do acesso uni- ma de avaliação dos programas e das ações
versal ao espaço urbano e às oportunidades empreendidas, com vistas a aferir o alcance
que as cidades oferecem. dos impactos almejados de transformação
A presente publicação deve ser encarada da realidade
como documento para discussão com os social e econômica, com critérios de eficiên-
agentes e atores, com o objetivo de apresen- cia, eficácia e efetividade.
AUGUSTO VALERI
Equipe técnica Gerente de Integração das Políticas de Mobilidade
LIA BERGMAN
Gerente de Regulação
MÁRCIA MACÊDO
Gerente de Desenvolvimento da Gestão
LÚCIA MALNATI
Gerente de Projeto
Ministério Ministro de Estado
OLÍVIO DE OLIVEIRA DUTRA
das Cidades cidades@cidades.gov.br
Chefe de Gabinete
DIRCEU SILVA LOPES
cidades@cidades.gov.br
Consultora Jurídica
EULÁLIA MARIA DE CARVALHO GUIMARÃES
conjur@cidades.gov.br
Assessor de Comunicação
ÊNIO TANIGUTI
enio.taniguti@cidades.gov.br
Assessor Parlamentar
SÍLVIO ARTUR PEREIRA
aspar@cidades.gov.br
PROJETO GRÁFICO
Anita Slade
Sonia Goulart
FOTOS
Arquivo MCidades
REVISÃO
Carla Lapenda