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Djoni Schallenberger

Mauricio Capellari

Teologi@

Teologia e História:
Questões Fundamentais
Fundamentais da
da
Teologia Cristã
Cristã
ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DAS IGREJAS EVANGÉLICAS
ASSEMBLÉIA DE DEUS NO ESTADO DO PARANÁ – AEADEPAR
FACEL FACULDADES

Djoni Schallenberger
Mauricio Capellari

Teologia e História:
Questões Fundamentais da
Teologia Cristã

Curitiba
2011
ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DAS IGREJAS EVANGÉLICAS
ASSEMBLÉIA DE DEUS NO ESTADO DO PARANÁ – AEADEPAR
FACULDADE FACEL

Copyright © 2011 – Todos direitos reservados à Associação Educacional


das Igrejas Evangélicas Assembléia de Deus no Estado Do Paraná –
AEADEPAR.

Proibida reprodução total ou parcial sem a expressa autorização.


Pirataria é crime e pecado.

Diagramação: Devilyn Carvalho


Editor: Djoni Schallenberger
Revisão: Berta Morales Figueroa
Ficha Catalográfica: Rozane Denes

Schallenberger, Djoni
Teologia e história. / Djoni Schallenberger;
Mauricio Capellari. – Curitiba : Unidade, 2011.
170 p.

1. Cristianismo - História. 2. Teologia – História


3. Santissima Trindade – História das doutrinas
I. Faculdade de Administração Ciências, Educação
e Letras – FACEL. II. Título.

CDD 231.044

APRESENTAÇÃO

Os professores:
Djoni Schallenberger1
Mauricio Capellari2

É notória ao leitor da Bíblia a importância de alguns temas que


são fundamentais para o relacionamento com Deus e a prática de um
cristianismo sadio e eficaz. Dentre esses temas, destacam-se o estudo
sobre Deus, Jesus Cristo, o Espírito Santo e a Salvação. Por este motivo,
a fim de auxiliar você, estudante na compreensão, na prática cristã, e
no desempenho ministerial foi preparado este livro, que aborda esses
quatro assuntos, e recebe o título de TEOLOGIA E HISTÓRIA: Questões
Fundamentais da Teologia Cristã. Esta sistematização da teologia ajudará
muito o(a) estudante da Bíblia, visto que as doutrinas bíblicas estão
distribuídas por todos os livros canônicos de forma assistemática.
Reconhecemos que esses assuntos são complexos e abordá-los
sempre resulta em debates e até polêmica. Contudo, o objetivo deste livro
é preparar uma teologia contextualizada, mas fundamentada na tradição
Ortodoxa Evangélica Pentecostal. Sem qualquer intenção de dogmatizar
doutrinas, elas serão apresentadas com as devidas referências de fontes
e citações bíblicas com a intenção de expor e explicar a interpretação e
corrente teológica adotada.
A tradução bíblica utilizada em todas as referências será a Almeida
Revista e Atualizada (ARA). A fim de dinamizar a leitura do texto, o termo
“Antigo Testamento” será abreviado por AT e o termo “Novo Testamento”
será abreviado por NT.
1 Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná (FTBP), Bacharel
e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Especialista em Filosofia
pela Faculdades Integradas de Jacarepaguá (FIJ), Mestre em Ciências da Religião pela Universidade
Metodista de São Paulo (UMESP).
2 Bacharel em Teologia e pós-graduado lato sensu em Liderança e Pastoreio pela Faculdade
Teológica Batista do Paraná (FTBP).
Acreditamos que este livro será de valor para o(a) estudante de
teologia, bem como a todos os que amam a Palavra de Deus e se esmeram
em conhecê-la.

OBJETIVOS DAS UNIDADES


UNIDADE 1 - A DOUTRINA DA TRINDADE

O tema a ser estudado nesta Unidade é a Trindade e a existência
de Deus. Analisaremos esses conceitos dentro da ortodoxia evangélica
e também na história cristã, desde os pais da Igreja até nossos dias. Em
seguida, estudaremos os argumentos racionais que defendem a existência
do Criador. Por fim, mais importante que os argumentos racionais,
veremos que a fé cristã está baseada principalmente na revelação divina
nas Escrituras Sagradas e que alcança sua excelência através de Jesus
Cristo. Nas demais seções desta Unidade, identificaremos alguns conceitos
ortodoxos e não ortodoxos a respeito de Deus. Na seção 3, a ênfase está nos
atributos da natureza divina e na seção 4, os atributos morais de Deus.

UNIDADE 2 -A DOUTRINA DE CRISTO (CRISTOLOGIA)

Nesta Unidade estudaremos a doutrina sobre Jesus Cristo, também


denominada de Cristologia. Serão explicadas algumas das principais doutrinas
não ortodoxas surgidas no princípio da igreja, mas também a ortodoxia defendida
pela Igreja Cristã, como resultado de vários concílios eclesiásticos. Nas seções
seguintes, analisaremos a presença de naturezas em Cristo: a divina e a humana e
a união dessas duas naturezas em uma só pessoa.

UNIDADE 3 - A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO


(PARACLETOLOGIA)

Nesta Unidade estudaremos a Doutrina do Espírito Santo, também


chamada de Pneumatologia ou Paracletologia. Veremos alguns nomes e
títulos que descrevem sua ação, natureza e personalidade. Veremos que o
Espírito de Deus é divino, apesar de haver grupos cristãos que negam isto.
Alguns símbolos bíblicos para designar o Espírito também serão estudados.
Assim se proporcionará ao(à) estudante uma visão geral da atuação do
Espírito divino tanto no AT como no NT, além de sua ação na vida cristã
e na Igreja de Cristo. Em seguida serão estudados os dons espirituais e
a visão pentecostal a respeito deles. A última seção desta Unidade será
destinada ao tema que tem dividido pentecostais e tradicionais, ou seja, o
Batismo no Espírito Santo.

UNIDADE 4 - DISCIPULADO - A DESCOBERTA DE UM MINISTÉRIO

Nesta Unidade o estudo se baseará na Doutrina da Salvação, também


chamada de Soteriologia. Primeiramente, veremos o conceito de salvação
na Bíblia, tanto no AT como no NT. Serão estudadas teorias a respeito da
salvação e qual foram os objetivos e os efeitos da mesma em relação a Deus
e na vida do fiel. Em seguida, se sugere uma sequência do processo de sal-
vação no indivíduo, desde a eternidade até o “tempo” de sua existência.
Por fim, a última seção da Unidade abordará os três estágios no processo
salvífico do ser humano: justificação, santificação e glorificação.
SUMÁRIO

UNIDADE 1- A DOUTRINA DA TRINDADE


SEÇÃO 1 - A TRINDADE E A EXISTÊNCIA DE DEUS .............................13
Conceito de Deus e de Trindade ......................................................13
A Doutrina da Trindade na História Cristã ....................................14
Argumentos em Favor da Existência de Deus ................................18
A existência de Deus é Absoluta na Bíblia ......................................20
Exercícios .............................................................................................21
SEÇÃO 2 - CONCEITOS SOBRE DEUS: ORTODOXOS E NÃO
ORTODOXOS....................................................................................................23
Credos e declarações da Ortodoxia Cristã ......................................23
Conceitos Cristãos Trinitários Não-Ortodoxos ..............................24
Conceitos sobre Deus de Religiões e Grupos Não-Cristãos ........24
Exercícios .............................................................................................31
SEÇÃO 3 - OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS ...................................32
Descrição Geral dos Atributos de Deus ..........................................32
Descrição dos Atributos Naturais de Deus .....................................34
Exercícios .............................................................................................39
SEÇÃO 4 - OS ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE DIVINA .................40
A Personalidade Divina ....................................................................40
Atributos da Personalidade Divina .................................................42
Exercícios..............................................................................................48
RESUMO DA UNIDADE ..............................................................................50
UNIDADE 2 - A DOUTRINA DE JESUS CRISTO (CRISTOLOGIA)..53
SEÇÃO 1 - A DOUTRINA CRISTOLÓGICA ...............................................53
Quem é Jesus Cristo? .........................................................................53
Doutrinas Cristológicas não Ortodoxas ..........................................54
Doutrina Cristológica Ortodoxa........................................................58
Exercícios..............................................................................................61
SEÇÃO 2 - UNIÃO HIPOSTÁTICA E A DIVINDADE DE CRISTO ........63
União Hipostática ...............................................................................63
Aplicação da União hipostática .......................................................65
A Divindade de Cristo .......................................................................66
Exercícios..............................................................................................70
SEÇÃO 3 - HUMANIDADE DE CRISTO ......................................................71
A Humanidade de Cristo ..................................................................71
Nascimento virginal de Jesus Cristo ...............................................72
Cristo e sua Plena Humanidade ......................................................76
Exercícios..............................................................................................78
SEÇÃO 4 - OBRA, HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO ..........78
Ofícios de Cristo .................................................................................79
A Humilhação de Cristo ....................................................................81
A Ressurreição e Ascensão de Cristo...............................................81
A Segunda Vinda de Jesus Cristo ....................................................84
Exercícios..............................................................................................85
RESUMO DA UNIDADE...............................................................................87
UNIDADE 3 - A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO
(PARACLETOLOGIA)
SEÇÃO 1 - A NATUREZA E ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA
BÍBLIA ................................................................................................................91
Doutrina do Espírito Santo ...............................................................91
Títulos Descritivos do Espírito Santo ..............................................92
Evidências Natureza Pessoal do Espírito ........................................93
O Espírito Santo é Deus .....................................................................94
Símbolos do Espírito Santo ...............................................................95
O Espírito de Deus Auxilia a Igreja em sua Missão ......................97
Exercícios..............................................................................................99
SEÇÃO 2 - A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA E NA VIDA
CRISTÃ .............................................................................................................100
O Espírito Santo na Bíblia ................................................................100
A Obra do Espírito Santo na Vida Cristã ......................................104
Exercícios............................................................................................106
SEÇÃO 3 - A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ E OS
DONS ESPIRITUAIS ......................................................................................107
Ação do Espírito Santo na Vida Cristã ..........................................107
Dons Espirituais ................................................................................109
Exercícios............................................................................................115
SEÇÃO 4 - BATISMO NO ESPÍRITO SANTO ...........................................115
O Derramamento do Espírito Santo ..............................................116
O Conceito Pentecostal do Batismo no (com) o Espírito Santo: uma
Bênção Posterior à Regeneração Saber Iniciar ............................................118
Conceitos Discordantes do Conceito Pentecostal do Batismo no
Espírito Santo ..................................................................................................121
Exercícios............................................................................................122
RESUMO DA UNIDADE.............................................................................124
UNIDADE 4 - A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (SOTERIOLOGIA)
SEÇÃO 1 - CONCEITO DE SALVAÇÃO ...................................................127
Salvação .............................................................................................127
Teorias a respeito da salvação ........................................................130
Exercícios............................................................................................133
SEÇÃO 2 - ATOS DIVINOS RELACIONADOS À SALVAÇÃO ............134
A Sequência da Salvação ................................................................134
Eleição ................................................................................................135
A Graça Preveniente, o Chamado e o Convencimento ..............137
O Sacrifício ........................................................................................138
Exercícios............................................................................................140
SEÇÃO 3 - ATOS DIVINOS RELACIONADOS À SALVAÇÃO
(CONTINUAÇÃO ..........................................................................................140
Propiciação (ou Expiação) ...............................................................141
Reconciliação .....................................................................................141
Redenção ...........................................................................................142
Perdão ................................................................................................144
O Selo do Espírito Santo .................................................................144
Mediação ...........................................................................................144
Regeneração e Novo Nascimento ..................................................145
Adoção ...............................................................................................146
Exercícios ...........................................................................................146
SEÇÃO 4 - ETAPAS DA SALVAÇÃO ........................................................147
Justificação: Salvos da Separação de Deus e da Condenação
Eterna ...............................................................................................................148
Santificação: Salvação do Poder do Pecado .................................151
Glorificação: a Salvação da Presença do Pecado .........................152
Exercícios............................................................................................153
RESUMO DA UNIDADE.............................................................................154
REFERÊNCIAS...............................................................................................155
APÊNDICE A – RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS..................................157
t
Teologia e História
Questões Fundamentais
da Teologia Cristã

UNIDADE I
A Doutrina da Trindade
Teologia e História:
Questões Fundamentais da
Teologia Cristã

UNIDADE 1


A Doutrina da
Trinda-
de
˂˂˂ 13

PARA INÍCIO DE CONVERSA

O tema nesta Unidade será sobre a Trindade e a existência


de Deus. Estudaremos esses assuntos do ponto de vista da ortodoxia
evangélica, na história cristã, desde os pais da Igreja até nossos dias. Em
seguida, estudaremos alguns dos principais argumentos racionais sobre a
existência de Deus. Por fim, mais importante que os argumentos racionais,
veremos que a fé cristã está baseada principalmente na revelação divina
nas Escrituras Sagradas e, em sua excelência, através de Jesus Cristo. Nas
demais seções desta Unidade, identificaremos alguns conceitos ortodoxos
e não ortodoxos a respeito de Deus. Na seção 3, a ênfase está nos atributos
da natureza divina e na seção 4, os atributos morais divinos.
O Salmo 67. 1, 2 resume nosso objetivo: “Seja Deus gracioso para
conosco, e nos abençoe, e faça resplandecer sobre nós o rosto; para que se
conheça na terra o teu caminho e, em todas as nações, a tua salvação.”

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


SEÇAO 1- A TRINDADE E A EXISTÊNCIA DE DEUS

O objetivo desta seção é conhecer o conceito de Trindade, inclusive


no período da história cristã. Serão apresentados argumentos racionais em
defesa da existência divina e o reconhecimento de que essa existência é
atestada pela Bíblia de forma absoluta.

• Conceito de Deus e de Trindade

Quanto à palavra “Trindade”, este termo não está na Bíblia.


Severa sugere que Tertuliano (160-220 d.C.) tenha sido o primeiro a
14 ˃˃˃

utilizar esta palavra. Tanto ele como Orígenes (184-254 d.C.) trabalharam
na formulação da doutrina da Trindade. Nesta doutrina, afirmaram que
tanto o Filho como o Espírito Santo se subordinam operacionalmente ao
Pai; o Espírito também é subordinado ao Filho (SEVERA, 2010, pág. 86).
Severa afirma sobre a doutrina ortodoxa da Trindade que “há um
único Deus em essência, existente eternamente em três ‘pessoas’ distintas
e co-iguais, manifestas no Pai, no Filho e no Espírito Santo”. O termo
“pessoa” com relação à Trindade não significa a individualidade isolada,
mas o relacionamento pessoal dentro da Divindade que, embora seja trina,
é uma (2010, pág. 85).
A ortodoxia cristã defende que o Filho é gerado eternamente pelo
Pai, e o Espírito de Deus procede do Pai e do Filho. Esses conceitos de
geração (filiação) e processão (procedência) não são bem explícitos na
Bíblia, mas são derivados da noção de que o Filho é o Unigênito do Pai (Jo
3. 16) e que o Espírito procede do Pai e do Filho (Jo 15. 26) (FRANKLIN;
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

MYATT, 2008, pág. 181).

• A Doutrina da Trindade na História Cristã

■ Os Pais da igreja

Durante toda a história da teologia, fazia parte da discussão a


possibilidade ou não de se conhecer a Deus. Alguns dos chamados “Pais
da Igreja” foram influenciados pela cultura grega e admitiam que Deus
é absoluto, mas destituído de atributos. Na Idade Média, a negação de
qualquer possibilidade de conhecimento da essência do ser divino ou, pelo
menos, reduzir este conhecimento ao mínimo era a tendência nessa época.
˂˂˂ 15

Os reformadores defendiam a essência de Deus como incompreensível,


embora não excluíssem todo o conhecimento dela. Berkhof afirmou que “o
consenso da opinião da igreja primitiva durante a Idade Média, e o tempo
da Reforma, foi que Deus, em seu Ser mais recôndito, é O incompreensível”
(SEVERA, 2010, pág. 57).

■ Concílio de Constantinopla

A Trindade ontológica é considerada em si mesma, em sua


eternidade e comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Durante
os primeiros séculos, para evitar as heresias, a Igreja definiu a Trindade
no Concílio de Constantinopla (381) como uma essência (ousia) divina
revelada em três pessoas (hypostasis). O problema era solucionar os
dados bíblicos que ensinam tanto a unidade como a pluralidade divina.
Agostinho possui a mais profunda análise sobre este assunto em toda a

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


história da igreja. Essa sistematização a seguir provém de sua doutrina
trinitária (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 180).

■ Conceito Trinitário de Agostinho

Agostinho (354-430 d.C.) não inicia sua teologia a partir do Pai,


como ponto de partida tradicional, mas a partir da natureza divina em
si. Essa essência e imutável natureza constituem a Trindade. A ênfase
está na unidade da Trindade em que é excluída toda e qualquer ideia de
subordinação. Tudo o que se afirma de Deus caracteriza cada uma das
três pessoas. Agostinho afirmou que “o Deus único e verdadeiro não é
somente o Pai, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (FRANKLIN; MYATT,
2008, pág. 180).
Agostinho observou que tudo o que pertence à natureza divina
16 ˃˃˃

deve ser expresso no singular, já que essa natureza é única. O Credo de


Atanásio, com forte influência agostiniana, afirma que cada uma das três
pessoas seja incriada, infinita, onipotente, eterna; não há três incriados,
infinitos, onipotentes e eternos, mas apenas “um”. Observou também que
a Trindade possui uma única e indivisível ação e vontade. As pessoas da
Trindade são inseparáveis e Sua operação também é inseparável. As três
pessoas atuam como “um único princípio”. Além disto, a Trindade possui
uma ação única, indivisível e “inseparável”, procedente de uma única
vontade (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 181).
Agostinho defendeu que as teofanias, que são manifestações
de Deus no AT, não devem ser consideradas como manifestações
exclusivamente do Verbo divino, como defendia a tradição patrística
primitiva. Essas teofanias podiam ser manifestações do Verbo ou do
próprio Espírito Santo, ou mesmo do Pai, ou até mesmo dos três. Logo,
seria impossível definir qual das três pessoas se manifestou. Franklin e
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

Myatt observam que a teologia de Agostinho sobre a Trindade ignora as


funções inerentes às três pessoas. Isto se percebe em que o Filho, distinto
do Pai, nasceu, sofreu e ressuscitou. O Pai cooperou com o Filho e a ação
do Filho foi bem definida e distinta do Pai. Logo, cada pessoa da natureza
divina, em sua operação externa da divindade, possui uma função distinta
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 181).

■ Pós Reforma: João Calvino

Timothy George diz que durante o século XVI, no século em


ocorreu a Reforma Protestante, João Calvino deu mais atenção à doutrina
da Trindade do que Martinho Lutero ou Ulrich Zwínglio. Tornou-se um
defensor inflexível dessa doutrina; sustentou a crença da igreja antiga que
Deus é a única essência que subsiste em três pessoas distintas: o Pai, o
˂˂˂ 17

Filho e o Espírito Santo (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 169).


João Calvino afirmou que:

O Pai está todo no Filho; o Filho, todo no Pai, como ele


próprio também o declara: “Eu estou no Pai e o Pai está em
mim” [Jo 14. 10]. E por essa causa os doutores eclesiásticos
não admitem diferença alguma quanto à essência entre as
Pessoas. (...) Quando se diz que Deus é Pai, em relação ao
Filho, ele não é o Filho; quando se diz Filho, em relação
ao Pai, ele não é o Pai; quando se diz que o Pai é Deus, em
relação a si mesmo, e se diz que o Filho é Deus, em relação a
si mesmo, ele é o mesmo Deus (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 169, 170).

■ Século XX

No século XX Karl Barth foi o teólogo que mais abordou a doutrina


trinitária. Afirmou que Deus é absolutamente transcendente. Distinguiu

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


a procura helênica de Deus, denominada de “teologia natural”, e a
proclamação do evangelho através de Cristo, denominada de “revelação”.
Para ele, a Trindade somente é identificada na “revelação”. Disse que “a
doutrina da Trindade é o que, basicamente, define o caráter cristão da
doutrina de Deus e, portanto, distingue como sendo cristão o conceito de
revelação, diferente de outras doutrinas possíveis sobre Deus e sobre o
conceito de revelação” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 171).
Sobre a Trindade Barth disse que a Bíblia revela Deus. O Pai, o
Filho e o Espírito Santo são formas divinas de ser (Seinsweise), que existem
eternamente dentro da unidade divina absoluta.
18 ˃˃˃

• Argumentos em Favor da Existência de Deus

Severa (2010, pág. 52) apresenta argumentos válidos e coerentes


com a revelação bíblica, defendendo racionalmente a existência de Deus.
São argumentos baseados na natureza, na experiência e na história,
elaborados pela lógica humana. Tornam-se úteis para aqueles que desejam
explicar racionalmente sua fé (1Pe 3. 15).

■ Argumento Ontológico

O argumento ontológico foi desenvolvido por Anselmo (1033-


1109). O termo vem do grego ontos (ser) e se relaciona com as “ideias
necessárias” da mente humana. “Ideia necessária é aquela que vem
inevitavelmente à consciência na medida em que a mente se desenvolve
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

em suas relações com o mundo” (SEVERA, 2010, pág. 49).


O ser humano tem em si a imagem de um ser absolutamente
perfeito, superior e infinito. Logo, esta ideia inclui a necessidade da
existência deste ser. Esta ligação entre a figura abstrata e a própria
realidade é fundamentada no fato de que o ser humano possui percepções
do universo objetivo, do subjetivo e também do espiritual (religioso). O
filósofo Immanuel Kant (1724-1804) afirmou que este é um dos argumentos
mais fracos em prol da existência de Deus, apesar de ser aceito por muitos
filósofos e cristãos (SEVERA, 2010, pág. 49).

■ Argumento Moral

O argumento moral baseia-se na natureza moral do ser humano.


Ele tem consciência do bem e do mal e de sua obrigação em evitar o mal
˂˂˂ 19

e praticar o bem (Rm 2. 14, 15). “Essa consciência moral é da natureza


de um ‘imperativo alegórico’, isto é, põe o sujeito sob absoluta obrigação
de obedecer às ordens, sem desculpas”. Esta consciência moral conduz o
indivíduo a sentir que deve prestar contas do que faz. Isto é percebido no
ambiente social onde ele reconhece que há uma ordem moral, um bom
senso coletivo, que deve ser obedecido (SEVERA, 2010, pág. 49, 50). O
filosofo Kant partiu dessa ideia de “imperativo categórico” e deduziu que
existe um legislador e juiz supremo para estabelecer leis e julgar a conduta
humana: Deus. Cria ser este o melhor argumento em prol da existência
divina (SEVERA, 2010, pág. 50).

■ Argumento Teleológico

“O argumento teleológico baseia-se no propósito ou desígnio que


se verifica na ordem das coisas criadas”. O termo grego telos significa: fim,

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


propósito, desígnio. Este argumento mostra que todo o universo revela
“organização, origem, harmonia, propósito, indicando a existência de um
Ser inteligente que o teria planejado antes de tê-lo feito”. O filosofo ateu
Voltaire e Kant se interessaram por este argumento (SEVERA, 2010, pág.
50, 51).

■ Argumento Histórico

O argumento histórico baseia-se nos fatos históricos onde a


presença de Deus é invocada. É notória a prática de cultos dedicados à
divindade, comum a todos os povos e tribos da terra. Este sentimento
religioso inerente ao ser humano indica a existência do Criador com quem
o próprio ser humano almeja se relacionar (At 17. 27) (SEVERA, 2010, pág.
51).
20 ˃˃˃

Além disto, há também os fatores ocorridos na história da nação


de Israel, explicados e aceitos – até os dias atuais – como atos divinos
na história. Soma-se a estes fatos a ação profética que contem predições
de acontecimentos extraordinários com exatidão no seu cumprimento
(SEVERA, 2010, pág. 51).

• A existência de Deus é Absoluta na Bíblia

Não há qualquer empenho ou preocupação dos escritores bíblicos


em provar a existência do Criador. Descrevem as ações e o caráter divino,
partindo da premissa básica e notória da existência de Deus (Hb 11. 3). O
registro bíblico já inicia partindo do princípio da existência divina: “No
princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1. 1). A Bíblia auxilia na fé do
discípulo, pois traz um testemunho vivo acerca de Sua existência e de um
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

possível relacionamento com Ele mediante a fé (Hb 11. 6) (SEVERA, 2010,


pág. 53).

■ O Deus Filho Revela o Deus Pai

A revelação bíblica fornece subsídios para uma definição mais


precisa de Deus. É evidente que isto é finito e limitado, pois a criatura
jamais poderá entender o Criador em toda a sua plenitude. O conceito de
Deus está relacionado com a revelação cristã através de Jesus Cristo. Logo,
conhecer a ideia que Jesus tinha de Deus é o alvo principal do teólogo
cristão (LANGSTON, 1999, pág. 32).
A própria revelação afirma que o Senhor Jesus veio com esta
missão: revelar a Deus (João 14. 9, “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo
estou convosco, e não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai;
˂˂˂ 21

como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”). Quando alguém conhece aquilo


que Jesus revelou sobre Deus obtém a ideia verdadeira sobre Ele e um
fundamento sólido e basilar para a sua teologia. O Senhor Jesus não
enunciou as características divinas de forma sistemática, mas utilizou
expressões compreensíveis aos ouvintes para este entendimento. “O
método de Jesus era mais sintético do que analítico, mas sugestivo que
exaustivo. Jesus procurou dar uma ideia clara e precisa de Deus, mas não
uma ideia analítica”. (LANGSTON, 1999, pág. 33).

SAIBA MAIS

Representação gráfica dos atributos de Deus:


HOUSE, H. Wayne. Teologia cristã em quadros. São Paulo: Vida, 2000.
Tabela 19.

Sobre a doutrina de Deus:

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:
Vida Nova, 1999. Pág. 97 a 357.

Argumentos em prol da existência de Deus:


CHAMPLIN, Russel. N. O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo: Vol. 3 (Atos e Romanos). São Paulo: Milenium. 1979.
Pág. 48 a 65.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: A Bíblia, Deus, a Criação. Rio


de Janeiro: CPAD. 2010

STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto


Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 111 a 171.

EXERCÍCIOS
1. Qual a origem da palavra “Trindade”?

______________________________________________________________
22 ˃˃˃

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________
2. Basicamente, explique o conceito ortodoxo de Trindade?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________
3. Em qual Concilio Eclesiástico foi definido o conceito ortodoxo
cristão de Trindade e a que conclusão se chegou?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

______________________________________________________________
4. Cite alguns dos argumentos racionais que defendem a existência
de Deus.

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________
˂˂˂ 23

SEÇÃO 2 – CONCEITOS SOBRE DEUS: ORTODOXOS E NÃO


ORTODOXOS

O objetivo desta seção é apresentar o resultado dos credos


defendidos pelos Concílios Eclesiásticos a respeito da Trindade que definiu
a chamada Ordoxia Cristã. Veremos também os conceitos diferentes desta
ortodoxia. Além disto, serão apresentados conceitos sobre Deus que estão
presentes em religiões e grupos não-cristãos.

• Credos e declarações da Ortodoxia Cristã

Desde o início, o cristianismo definiu sua fé de forma lógica


e objetiva, através de credos, confissões e catecismos. Isto resultou no
“Credo dos Apóstolos”, “Credo de Niceia”, “Definição de Calcedônia” e

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


no “Credo de Atanásio”. O termo “credo” vem do latim credo, “creio”.
Mark Noll disse que credo são as “declarações da igreja primitiva que os
cristãos em todos os tempos e lugares têm reconhecido”. Seu objetivo é
proporcionar ao candidato ao batismo “um modo claro de expor sua fé,
servir como roteiro para instrução na doutrina cristã, além de ser usado
na liturgia cristã, geralmente depois da leitura das Escrituras, como uma
afirmação da fé congregacional” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. XXII).
O Concílio de Niceia foi realizado para combater o arianismo em
325 d.C. Neste Concílio definiu-se que o Filho é da mesma essência do Pai.
Atanásio (295-373) foi um dos principais opositores da doutrina de Ário, e
declarou isto no Concílio de Constantinopla (381 a.C.). Neste Concílio foi
sustentada a divindade do Espírito Santo; que o filho é gerado pelo Pai e
que o Espírito procede do Pai e do Filho. Agostinho, por sua vez, elaborou
a doutrina trinitária e eliminou todo elemento de subordinação (SEVERA,
24 ˃˃˃

2010, pág. 87).


Outro importante credo foi o de Atanásio, cuja origem é incerta,
mas que foi escrito contra os arianos. Estudiosos afirmam que este credo
atribuído a Atanásio não foi escrito por ele; revela mais uma teologia de
Agostinho. Sua menção mais antiga é do século VI, mas a forma final seria
do século VIII. Hodge afirma que este credo é “um majestoso e único
monumento da fé imutável de toda a igreja quanto aos grandes mistérios
da divindade, da Trindade de pessoas e um só Deus e da dualidade de
naturezas de um único Cristo” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 166).

• Conceitos Cristãos Trinitários Não-Ortodoxos

Através dos séculos, inúmeras foram as tentativas de solucionar


o dilema da compreensão trinitária. Muitas tentativas resultaram em
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deturpação da doutrina bíblica da Trindade. As primeiras concepções


diferentes da ortodoxia foram:

■ Sabelianismo e Modalismo

“O sabelianismo é a noção de que só existe uma pessoa divina,


Deus o Pai, que se manifesta nas três formas, Pai, Filho e Espírito Santo
– no entendimento de Sabélio de Pentápolis, Deus é uma pessoa que se
transformou no transcorrer da história” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
160).
O modalismo, defendido por Paulo de Samosata, ensinava
que “Deus apresentou-se de três modos, mas não existe eternamente
como três pessoas, Deus é somente uma pessoa”. Orígenes defendeu o
“subordinacionismo”, que é a “noção de que na essência de Deus há três
˂˂˂ 25

pessoas divinas que coexistem num relacionamento hierárquico”. Este


sistema defende que o Filho se subordina e depende o Pai. O Espírito
Santo, por sua vez, está subordinado aos dois. Logo, a divindade do Filho
e do Espírito Santo é derivada do Pai e não faz parte de sua essência. Por
consequência da relação hierárquica, tanto o Filho como o Espírito Santo
são inferiores ao Pai (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 160).

■ Arianismo

Esta foi outra doutrina diferente da ortodoxia cristã. Defendida


por Ário, diácono da igreja em Alexandria, ensina que Cristo era apenas
uma criatura e jamais o Deus eterno. Cristo teria sido o primeiro a ser
criado e que criou em seguida o que existe: o Filho foi a primeira criatura
do Pai e o Espírito é a primeira criatura do Filho. Esta crença até hoje é
defendida pelas Testemunhas de Jeová, afirmando que Jesus é o arcanjo

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Miguel. Ou seja, para as Testemunhas de Jeová Jesus é apenas um anjo
que está subordinado ao Deus Pai eternamente. O arianismo também
negou a divindade do Espírito Santo e defende que este é apenas uma
força impessoal do poder de Deus (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.161;
SEVERA, 2010, pág. 86):

■ Socianismo

No período da Reforma, no século XVI, surgiu um movimento


antitrinitário liderado por Fausto Socino, que influenciou a Europa. Essa
corrente teológica foi denominada de “socianismo” (ou socinianismo).
Negam a divindade de Cristo, e dizem que era um mero homem até que
ressuscitasse e que, a partir daí, tornou-se divino. Negaram também a
personalidade do Espírito de Deus, e afirmaram tratar-se de uma força
26 ˃˃˃

impessoal. Este movimento deu origem ao unitarianismo e ao liberalismo


teológico moderno (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 161).

■ Triteísmo

Outra doutrina é o “triteísmo”, que apresenta a ideia de que


Deus consiste de três deuses separados; tal pensamento é difícil de ser
encontrado na história da igreja. O islamismo acusa o cristianismo de ser
triteísta. Também, “os mórmons ensinam que o Pai, o Filho e o Espírito
Santo são três pessoas distintas quanto à essência e à personalidade. Eles
existem como três deuses distintos”. Rejeitam as decisões dos concílios
da igreja primitiva de Niceia e Calcedônia. Defendem que Deus é um
ser de carne e osso e que possui um corpo físico. Logo, não existe uma
essência espiritual da qual as três pessoas participam. Essas três pessoas
são distintas uma das outras (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 161).
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• Conceitos sobre Deus de Religiões e Grupos Não-Cristãos

■ O Ateísmo

Ninguém nasce ateu. Existe uma “percepção intuitiva e racional


da existência de Deus”, natural aos seres humanos. Contudo, os ateus
surgem devido à natureza pecaminosa do próprio indivíduo e do ambiente
secularizado em que vivem. Isto gera um afastamento da percepção e da
consciência divina (Rm 1. 19-21) (SEVERA, 2010, pág. 54).
Severa distingue dois tipos de ateus: os teóricos e os práticos.
Os ateus práticos preferem viver como se Deus não existisse; negam-no
˂˂˂ 27

por conveniência pessoal (Sl 14. 1ss). Não possuem um bom argumento
para agirem assim; apenas preferem crer na inexistência de Deus, pois
se Ele existisse prejudicaria seu estilo de vida. Os ateus teóricos negam
a existência de Deus, para isso utilizam argumentos racionais. Estão
convictos de suas verdades pessoais apenas dentro do plano racional
(2010, pág. 54).

■ Materialismo

O materialismo nega a realidade do mundo espiritual.


Consequentemente, nega a possibilidade de qualquer conhecimento
na esfera religiosa. Para o materialista, “tudo é matéria ou alguma
manifestação dela”. Partindo desta premissa, explica que todos os
fenômenos mentais ou espirituais estão relacionados com a matéria. Logo,
defende que não existem nem Deus, nem diabo, nem anjos, muito menos

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céu, inferno e imortalidade. Tudo é apenas matéria e força. O materialista
é um tipo de ateu. Tanto a Palavra de Deus como a experiência humana
mostram que existe algo que ultrapassa a matéria. A matéria não é a parte
mais significativa nem a única realidade (SEVERA, 2010, pág. 55).

■ Agnosticismo

O agnosticismo não rejeita a realidade da verdade, mas nega a


possibilidade de ser conhecida. Por este motivo não pode afirmar a
existência do Criador. A revelação bíblica mostra que o ser humano foi
criado a sua imagem e semelhança e que não somente o conhecimento
divino, mas também um relacionamento com Ele é possível (Rm 1. 19-21)
(SEVERA, 2010, pág. 55, 56).
28 ˃˃˃

■ Animismo e Religiões Antigas

A tendência das religiões primitivas é identificar o criador com


sua criação. Esse ser divino é impessoal e abrange tudo. Para eles não
existe o sobrenatural, pois tudo faz parte da criação. O sobrenatural não
está “acima” mais dentro da criação. As religiões animistas possuem seus
deuses associados aos elementos da natureza: o sol, o mar, os rios, o vento,
a chuva e outros elementos importantes do dia-a-dia. Havia também as
divindades geográficas e tribais. “A continuidade do ser é vista nessa
mistura entre o divino e a criação, o sagrado e o profano” (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 157).

■ Panteísmo
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O animismo “evoluiu” para o panteísmo em um processo de


identificação da divindade com a criação. “O panteísmo é a noção de que
a divindade é a totalidade das coisas que existem. Ela é considerada igual
à energia e à matéria do universo. Tudo faz parte desta divindade, e essa
divindade engloba tudo” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 157, 158).
Para o panteísmo não existe nem um Deus pessoal nem uma
revelação especial. “Deus é tudo, tudo é Deus. Deus é a inteligência
impessoal e a vida que penetra todo o universo”. Desta forma, o panteísmo
nega a existência do Criador parte de sua criação. Deus é a própria natureza.
Isto é uma forma de ateísmo. A Bíblia distingue claramente o Criador da
criação e mostra que ela depende do Criador (SEVERA, 2010, pág. 55).
˂˂˂ 29

■ Politeísmo

Politeísmo é a crença de que existem muitos deuses. Tem sido


encontrado com frequência no panteísmo. O hinduísmo possui inúmeros
deuses que são manifestações do deus absoluto e impessoal. O mormonismo
acaba se tornando uma religião politeísta, pois crê que o deus da Terra tem
um pai que é deus de outro planeta. “Eles também esperam um dia se
tornarem deuses de seus próprios planetas. Além de serem politeístas, os
mórmons acreditam que Deus tem um corpo físico, de carne e osso, como
um ser humano”. A diferença básica entre panteísmo e politeísmo é que
o panteísmo enfatiza a unidade de todas as coisas (o uno) e o politeísmo
destaca a diversidade do ser (o múltiplo) (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
158).

■ Monoteísmo Não -Trinitário

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Tanto na teologia do islamismo como na teologia das Testemunhas
de Jeová estão presentes formas diferentes de monoteísmo que não
aceitam a doutrina da Trindade. Norman Anderson afirma que o conceito
fundamental da religião islâmica é a unicidade de Deus. Esta religião
condena intensamente a idolatria; a possibilidade de Deus ter um filho
divino é considerada blasfêmia (ANDERSON; FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 159).

O alcorão nega a doutrina da Trindade especificamente


em Surates 4. 167-170 e 5. 77,116. Surate 5. 116 mostra que
Maomé ou não entendeu ou distorceu deliberadamente a
doutrina cristã da Trindade. Segundo ele, em Surate 5. 116,
a doutrina cristã ensina que existem três deuses, Deus o
Pai, Jesus e Maria. Assim, o muçulmano acusa o cristão de
politeísmo (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 159, 160).
30 ˃˃˃

O mesmo livro de Surate 19. 35 afirma que é impossível que Alá


(Deus) tenha um filho. Assim, Jesus Cristo é aceito como profeta, mas a
natureza divina não permite sua encarnação na forma humana. Segundo
Maomé, a natureza divina jamais poderia se unir com a natureza humana
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 160).
As Testemunhas de Jeová também rejeitam a ideia de Deus existir
em três pessoas. Deus é um e as afirmações bíblicas tornam incompatível
qualquer interpretação sobre Trindade. “Jesus é uma criação distinta,
apesar de ser chamado ‘um deus’, ele é apenas um anjo, um ser criado
e finito”. Os versículos na Bíblia utilizados para justificar a Trindade são
interpretados como declarações de que Cristo é distinto do Pai e também
inferior. Da mesma forma, o Espírito Santo não é uma pessoa; é uma
força impessoal controlada que Deus utiliza segundo seus propósitos
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 160).
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SAIBA MAIS

Quadro ilustrativo sobre as concepções não-ortodoxas da pessoa de Cristo:


HOUSE, H. Wayne. Teologia cristã em quadros. São Paulo: Vida, 2000.
Tabela 28.

Sobre a doutrina da Trindade:


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 533 a 615.

ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.


Pág. 127 a 139.

Declarações das Confissões de fé históricas:


GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:
Vida Nova, 1999. Pág. 995 a 1038.
˂˂˂ 31

EXERCÍCIOS

1. O que são os credos?


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
2. Quais os objetivos do credo?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Concernente a Cristo:
a. O que afirma o sabelianismo?
______________________________________________________________

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
b. O que afirma o modalismo?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
c. O que afirma o arianismo?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
d. O que afirma o socianismo?
32 ˃˃˃

_________________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

SEÇÃO 3 – OS ATRIBUTOS NATURAIS DE DEUS

O objetivo desta seção é apresentar uma descrição dos atributos


divinos pertencentes à natureza de Deus. Estudar esses atributos é
conhecer quem é Deus e suas capacidades. Somente assim, é possível um
relacionamento adequado com o Criador.
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• Descrição Geral dos Atributos de Deus

Conhecer os atributos de Deus está relacionado em conhecer o


próprio Deus. J. I. Packer diz que o conhecer a Deus é fundamental para
a vida. Desconhecê-lo torna o mundo um lugar estranho, louco, penoso,
onde viver é decepcionante e desagradável. Desprezar a Deus resultaria
em viver a vida com vários tropeços; seria como viver sem poder enxergar,
como se não houvesse qualquer senso de direção e nem compreensão do
que cerca o indivíduo. O resultado seria o desperdício da vida e a perda da
alma (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 198).
Sobre as qualidades divinas, Louis Berkhof diz que:

Os atributos de Deus podem ser definidos como as perfeições


˂˂˂ 33

que constituem predicados do Ser Divino na Escritura, ou


que são visivelmente exercidas por ele em Suas obras de
criação, providência e redenção. Se continuamos a empregar
o nome “atributos”, é porque é comumente utilizado, e
o fazemos com claro entendimento de que se deve excluir
rigidamente a noção de algo acrescentado ao Ser de Deus
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 215).

■ Classificação dos Atributos

Nenhuma classificação é perfeita, varia conforme critérios


estabelecidos pelos próprios teólogos. Contudo essa divisão em dois
grupos ajuda o pesquisador a compreender os atributos divinos. Porém,
de forma alguma representa uma divisão ontológica da natureza divina.
Os atributos e o ser de Deus não podem ser separados. “Todos os atributos
são essenciais ao ser de Deus, e cada um existe em plena harmonia com os
demais. Deus, portanto, é totalmente justo, santo, bondoso.” (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 216).
Dentre as classificações mais utilizadas, destacam-se as seguintes:

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■ Atributos Incomunicáveis ou Comunicáveis

Os atributos incomunicáveis são aqueles exclusivos do Criador que


não estão e nem podem jamais estar presentes em suas criaturas: asseidade,
simplicidade e imensidade. Os atributos comunicáveis são propriedades
comunicadas ao espírito humano: bondade, poder, misericórdia, retidão
(SEVERA, 2010, pág. 67).

■ Atributos Naturais e Atributos Morais

A diferença entre atributos naturais e morais está na presença ou não


de qualidades morais. Dentre os atributos naturais estão: auto-existência,
34 ˃˃˃

eternidade, onipresença eles pertencem à natureza constitutiva de Deus,


sem relação com sua moral. Os morais são: santidade, justiça, amor;
identificam qualidades morais no ser divino (SEVERA, 2010, pág. 67).
Neste estudo, os atributos serão divididos em Atributos Naturais
e Atributos da Personalidade divina.

• Descrição dos Atributos Naturais de Deus

■ A Unidade de Deus

O atributo da Unidade de Deus salienta a unidade e unicidade


divinas. Sua implicação é que Deus é um e único, que há somente um Deus
soberano e que tudo depende dEle. Este atributo rejeita completamente
a ideia de dois ou mais deuses, pois um limitaria o outro, destruindo o
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conceito absoluto do outro. Esta Unidade também se refere ao fato que em


Deus não há divisão, conflito no Ser ou na natureza divina (Dt 6. 4; Is 44. 6;
1Co 8. 6; Ef 4. 5, 6; 1Tm 2. 5) (SEVERA, 2010, pág. 74, 75).
Louis Berkhof diz “que as três Pessoas da Trindade não são
outras tantas partes das quais se compõe a essência divina, que não há
distinção entre a essência e as perfeições de Deus, que os atributos não são
adicionados à Sua essência”. Nenhum atributo é mais importante que os
demais (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 217).

■ Deus é Auto-Existente

“Auto-existência é a perfeição de Deus em poder existir por si


mesmo, na completa autonomia de qualquer fonte, origem ou energia.” Ele
não depende de nada ou ninguém para existir. Sua dependência é única e
˂˂˂ 35

exclusivamente depende dele mesmo, de sua própria natureza. Esta auto-


existência está implícita em seu nome “Jeová” (Ex 3. 14) (SEVERA, 2010,
pág. 69).
Deus existe por si mesmo e é independente do que existe fora dele
(Gn 1. 1; Ex 3. 14; Is 40. 13-17; At 17. 25). A independência divina significa
que Ele sempre existiu na eternidade, que é distinto da criação e é auto-
suficiente. Ele não tinha necessidade alguma para criar todas as coisas.
Nada o comanda, mas tudo ele comanda; não é condicionado à criação,
mas a criação é completamente subordinada a sua soberania (At 17. 24-31;
Rm 11. 36) (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 216).

■ Deus é Espírito

Em João 1. 18 está escrito que ninguém jamais viu a Deus; além


disso os Evangelhos afirmam que Deus é espírito (Jo 4. 24) e que um espírito

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não possui carne e ossos (Lc 24. 39). Desta forma, conclui-se que Ele não
possui os atributos físicos que são naturais ao ser humano (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 210).

■ Deus é Vida

Deus é vivo e fonte de vida (Jr 10. 10-12; Jo 5. 26). É impossível


definir “vida”, mas pode ser reconhecida pelas suas manifestações. O
Deus vivo tem existência própria, ou seja, ele tem em si mesmo a fonte da
vida. Desta forma, ninguém externo a Deus originou o próprio Deus, pois
ele é a única fonte. Assim, ninguém pode tirar a vida de Deus, pois ele
possui “existência própria”. Ele é eterno, ou seja, existe desde a eternidade
até a eternidade (Sl 90. 2) (LANGSTON, 1999, pág. 49).
36 ˃˃˃

■ Deus é Criador e Sustentador de Tudo

O verbo “criar” tem dois sentidos práticos: fazer existir o que


nunca existiu e multiplicar o que já existe. Ambas ideias aparecem no
primeiro capitulo de Gênesis. Em Gênesis 1. 1, Deus fez existir o que nunca
antes existira. Em Gênesis 1. 11,12, produziu vida na terra e nas águas. Ele
faz existir o que nunca existira e multiplica o existente. Logo, tudo o que
existe é criação dele. A sua maior criação é a do ser humano (Jo 1. 3, 4; Cl
1. 16; Rm 11. 36) (LANGSTON, 1999, pág. 41).
Aquele que criou também sustenta. A causa que originou é a
mesma que preserva tudo o que foi criado. Nunca faltou energia para
mover e sustentar os planetas. De onde vem essa força? Esta força vem
de Deus. Além disso, Ele ainda tem recursos necessários para prover a
sua criação de tudo o que é essencial para sua continuidade (LANGSTON,
1999, pág. 42).
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■ Deus é Eterno

É a infinidade de Deus em relação ao tempo. Ele é antes e permanece


depois da eternidade (Sl 90. 2; 102. 12; Ef 3. 21; Ap 1. 8). Ele transcende
todas as limitações temporais (2Pe 3. 8). Não possui passado, presente e
futuro como possuem as Suas criaturas. Berkhof define a eternidade do
Criador como “a perfeição de Deus pela qual Ele é elevado acima de todos
os limites temporais e de toda sucessão de a totalidade da sua existência
num único presente indivisível” (SEVERA, 2010, pág. 71,72).

■ Deus é Imutável

A imutabilidade “é a qualidade que Deus tem pela qual não


˂˂˂ 37

há mudança em Seu próprio ser.” Ele não está passível de qualquer


acréscimo ou diminuição, desenvolvimento ou decréscimo de todas as
Suas perfeições. Esta imutabilidade afeta diretamente a preservação do
universo e a segurança de sua criação. Deus não muda o seu ser com o
passar do tempo (1Sm 15. 29; Sl 102. 27; Is 48. 12; Ml 3. 6; Hb 13. 8; Tg 1. 17)
(SEVERA, 2010, pág. 70, 71).
Ele é perfeito e não há nada a melhorar ou piorar. Qualquer
mudança para melhor seria impossível; para pior, tornaria-o imperfeito.
Essas duas possibilidades são absurdas (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
216).

■ Deus é Onipotente

Onipotência é a infinidade de Deus em relação ao Seu poder.


Significa que Ele pode todas as coisas de acordo com sua natureza perfeita

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(Jó 11. 10; Sl 135. 6; Is 43. 13; Mt 19. 26; Lc 1. 37). Toda a força que age
no universo, tanto no micro como no macrocosmo, tanto o físico como o
espiritual, tem sua fonte no próprio Deus. “Quer dizer que não há limite ao
poder de Deus para executar a Sua vontade”, desde que isto não contrarie
sua perfeição (2Tm 2. 13; Hb 6. 18; Tg 1. 13) (SEVERA, 2010, pág. 73, 74).

■ Deus é Onipresente

A Onipresença de Deus está intimamente relacionada com sua


Onisciência. O Salmo 139 ensina esta onipresença de Deus, assim como
outros textos: Jr 23. 24; Hb 1. 3; At 17. 27-28 (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 218).
A onipresença de Deus não significa que Ele está igualmente
presente e com o mesmo sentido em todas as criaturas. Ele não está
38 ˃˃˃

presente na terra do mesmo modo como está no céu, nem com os animais
da maneira como está com os seres humanos, nem na Igreja como está
em Cristo. A natureza da Sua presença está em harmonia com a das Suas
criaturas (SEVERA, 2010, pág. 73).
Qualquer criatura, onde estiver, pode desfrutar da presença de
Deus. Os demais deuses são locais. Deus não é apenas local; é tanto local
como universal devido a essa sua onipresença. Onipresença não significa
que Deus enche todo o espaço. Não é correto dizer que Deus está em toda
a parte. Deus é espírito e não ocupa espaço, ao contrário da matéria. A
ideia de que Deus está distribuído por todo o espaço, como a atmosfera,
é errada. Este conceito faz parte do materialismo e não do cristianismo.
Outro conceito equivocado é afirmar que Deus está dentro de tudo: “Ele
é onipresente, logo está em tudo”. Esta ideia não é cristã, mas é panteísta.
(LANGSTON, 1999, pág. 50)
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■ Deus é Onisciente e Absolutamente Sábio

A onisciência é inseparável da onipresença divina. O Criador


é onisciente porque contempla tudo. Nada o surpreende. “Como em
sua onipresença não há espaço, também em sua onisciência não há
desconhecido”. Deus sabe todas as coisas e não há o que ele não saiba
explicar. Não há segredo para Deus, pois ele é o criador de tudo (Mt 6. 8;
10. 30) (LANGSTON, 1999, pág. 51)
É a sua infinidade em relação ao conhecimento, abrangendo todo
o conhecimento divino. Deus conhece a si próprio e tudo o que fez, o
presente, o passado e o futuro da mesma forma. Nada está oculto a ele (Jó
28. 24; 34. 21-25; Sl 139. 1-6, 12; Pv 15. 3, 11; Mt 6. 8, 32; At 1. 24; Hb 4. 13)
(SEVERA, 2010, pág. 73).
A sabedoria de Deus é definida como uma associação com sua
˂˂˂ 39

inteligência e raciocínio; nada está oculto a Deus. A inteligência e o


raciocínio humanos são reflexos da imagem divina. Assim sua inteligência
e raciocínio são comunicáveis. Contudo, “a extensão, a qualidade e a
originalidade desses atributos são incomunicáveis” (FRANKLIN; MYATT,
2008, pág. 219).

SAIBA MAIS

Sobre os atributos de Deus


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 429 a 532.

ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.


Pág. 99 a 126.

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EXERCÍCIOS

1. Explique os seguintes atributos de Deus:


a. A unidade de Deus.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
b. A auto-existência.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________________________________________________________________
c. Ele é a Vida.
40 ˃˃˃

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
d. Ele é imutável.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
e. Ele é onipotente.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
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SEÇÃO 4 – OS ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE DIVINA

Após estudarmos os atributos da natureza divina, o objetivo desta


seção é apresentar atributos da personalidade divina, fundamentais para
que haja um adequado relacionamento com o Criador.

• A Personalidade Divina

O termo “pessoa” não implica obrigatoriamente a ideia da presença


do corpo físico. “Um ser pessoal é aquele que possui as propriedades
fundamentais da personalidade, e não necessariamente o corpo”. Severa
˂˂˂ 41

destaca as qualidades essências da personalidade são: autoconsciência,


autodeterminação e consciência moral (SEVERA, 2010, pág. 63).

■ Autoconsciência

Entende-se por autoconsciência a consciência de si mesmo


como pessoa distinta do mundo que a cerca. O ser autoconsciente pode
“pensar sobre seus próprios pensamentos, analisar seus próprios
sentimentos, avaliar sua própria vontade e compará-los com os dos outros”.
É capaz de analisar criticamente seus pensamentos ou os de outrem. Deus
é autoconsciente em um nível de perfeição absoluta (Ex 3. 14; Is 45. 5; 1Co
2. 11) (SEVERA, 2010, pág. 63)

■ Autodeterminação

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A determinação do animal é mecânica e instintiva. O ser humano
pessoal, tem liberdade e faz suas escolhas internamente de acordo com
seus motivos e propósitos. Ele define os objetivos para suas ações, analisa
as consequências, faz projetos pessoais e canaliza suas forças na direção
desse planejamento. Deus é soberano em suas determinações que partem
dele mesmo e não de circunstâncias determinadoras externas (Rm 9. 11;
Hb 6. 17) (SEVERA, 2010, pág. 64).

■ Consciência Moral

Consciência moral é a “consciência do que é direito e do que é


errado e da obrigação de fazer o bem e de evitar o mal. Autoconsciência e
autodeterminação só tem sentido para quem tem consciência moral”. Deus
é santo, justo, e tem consciência moral, autoconsciência e autodeterminação
42 ˃˃˃

(Gn 2. 8, 16-20). Essas características pessoais encontram em Deus seu auge


de perfeição absoluta, pois Ele é uma “Personalidade Perfeita” (SEVERA,
2010, pág. 64).
O ser humano criado à imagem e semelhança de Deus conhece a si
mesmo, é autodeterminante, tem consciência do certo e do errado, porém
em grau menor, principalmente pela presença do pecado que entrou na
criação. Deus, contudo, não recebe qualquer interferência: permanece
perfeito (SEVERA, 2010, pág. 64, 65).

• Atributos da Personalidade Divina

■ Deus é a Verdade
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Wayne Grudem afirma que “a veracidade divina implica que ele é


o Deus verdadeiro, e que todo o seu conhecimento e todas as suas palavras
são ao mesmo tempo verdadeiras e o parâmetro definido da verdade”. Ele
não mente nem se contradiz (1Sm 15. 29). Todo o alicerce da lógica está no
próprio Deus. Por consequência, toda a verdade é a verdade divina. Isto
ocorre em todas as áreas de investigação e conhecimento: ciências naturais
e sociais, literatura e filosofia (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 219, 220).
Sendo assim, “Deus é o fundamento de todo o conhecimento e de
toda a verdade, não apenas na esfera da moral e da religião, mas também
em todos os campos da atividade do saber humano” (SEVERA, 2010, pág.
82, 83).
■ Deus é Justo

A justiça divina está relacionada com a retidão do caráter do


Criador e de tudo quanto Ele faz. Não há qualquer injustiça em suas ações.
Seu caráter é santo e suas ações também. “O conceito de justiça divina
toma por base a própria natureza de Deus, que constitui o mais elevado
padrão possível, pelo qual todas as outras leis são julgadas” (SEVERA,
2010, pág. 77).
Berkhof, Apud Severa (2010, pág. 77), distingue entre justiça
absoluta e relativa de Deus. Justiça absoluta é “a retidão da natureza
divina, em virtude da qual Ele e infinitamente reto em Si mesmo”; justiça
relativa é “a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda
violação da Sua santidade e mostra, em tudo e por tudo, que Ele é Santo”.
Segundo este conceito, a justiça de Deus reflete sua justiça relativa. E isto é
constantemente reivindicado para Deus (Ed 9. 15; Ne 9. 8; Sl 119. 137; 145.
17; Jr 12. 1; Dn 9. 14; Jo 17. 25; 2Tm 4. 8; 1Jo 2. 29; 3. 7; Ap 16. 5) (2010, pág.
77, 78).

■ Deus é Santo

A palavra hebraica para “ser santo” e qadash, que deriva da raiz


qad, trazendo em si o significado de “cortar” ou “separar”. Faz parte da
religiosidade na Bíblia Hebraica (AT), sendo aplicada prioritariamente
para o próprio Deus. Na Bíblia Grega (NT), as palavras utilizadas são
hagiazo e hagios. “A ideia fundamental é de uma relação ou posição com
Deus, seja de pessoas ou coisas” (SEVERA, 2010, pág. 75).
“Santidade é a plenitude gloriosa da excelência moral de Deus,
princípio básico de suas ações e aferidor único e verdadeiro de suas
criaturas”. A santidade divina é a soma de todas as suas qualidades morais,
44 ˃˃˃

ou aquilo que a Bíblia denomina de “bondade de Deus” (LANGSTON,


1999, pág. 55).
A santidade divina denota que Ele é distinto absolutamente de
todas as Suas criaturas e separado de todo o mal moral. Sua santidade
implica também que Ele é absolutamente perfeito em tudo. Nada pode
separar Sua natureza ou caráter. Sua Santidade implica também em outras
qualidades morais: justiça e amor. Indica a “plenitude da excelência moral
de Deus. Ele é moralmente perfeito” (SEVERA, 2010, pág. 75, 76).
A santidade divina é destacada em toda a Escritura Sagrada. A
palavra “santo” quer dizer “ser separado”. Ele é exaltado em majestade
e glória sobre toda a criação (Ex 24. 17). A santidade divina revela
a profundidade da corrupção da alma humana (Is 6). Por ser santo,
ele exige essa perfeição moral de suas criaturas; rejeitar a santidade é
rejeitar o próprio Deus, o que ocasiona separação entre ele e os seres
criados (Jó 34. 10; Is 59. 2). Sua santidade fica também clara na revelação
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dos dez mandamentos, a lei moral para seu povo (Ex 20; Dt 5) (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 220).
Não há conflito entre a santidade e o amor divino. A santidade
exige que a pena do pecado seja paga (Rm 1. 18-32; 2. 1-3). O seu amor age
para que o ser humano seja justificado e tenha comunhão com ele (Rm 1. 17;
3. 21-26). Gordon Lewis e Bruce Demarest afirmam que “o Justo satisfaz a
justiça através da misericórdia, graça e amor” (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 221).

■ Deus é Amor

O motivo da criação está no caráter do Criador: Deus é amor. O Seu


propósito está relacionado com a perfeição e bondade divinas. Este amor
está presente em João 3. 16. O amor divino é “aquela bondade pela qual
˂˂˂ 45

Ele busca continuamente comunicar-se com os seres racionais, promover-


lhes o seu bem, e tê-los em sua presença. O amor, em sua forma mais alta,
é uma relação entre seres inteligentes, morais e livres”. O amor é divino
e eterno, porque ele é da Sua própria natureza: “Deus é amor” (1Jo 4. 8).
Cristo foi amado mesmo antes da fundação do mundo (Jo 17. 24). O amor
divino motiva Deus a agir em favor de seus amados, desejando tê-los em
Sua presença (Jo 3. 16; 1Co 6. 19, 20; Ap 21. 3) (SEVERA, 2010, pág. 79, 80).
A consequência lógica desta verdade é que qualquer conclusão ou
dedução teológica que elimina o amor do caráter divino gera uma imagem
e uma interpretação equivocada de Deus. O amor permeia as ações de
Deus: Cristo no lugar de pecadores (Rm 5. 5); Deus em Cristo se auto-
sacrificou pelos pecadores (2Co 5. 14); Cristo morreu no lugar do seu povo
eleito (Gl 2. 20); este amor é tão intenso e real que Paulo afirma que por
causa deste amor Ele nunca abandonará o fiel (Rm 8. 31-39) (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 213).

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


■ Deus é Bom e o Supremo Bem

Deus é bom é o supremo bem (summum bonum). Deus ama o bem,


o qual caracteriza sua natureza. Por este motivo, não existe um padrão de
bem e mal fora de Deus: ele é o padrão único. Tudo o que ele faz é bom,
mesmo que aos olhos humanos não pareça (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 219). O caráter definido de Deus é que ele é “bom”. Em Lucas 18.
18, 19 está presente esta ideia de “bom”; no sentido utilizado pelo Senhor
Jesus, fala de uma excelência moral elevada, muito além de tudo quanto
um coração bom aprova (LANGSTON, 1999, pág. 39).
O termo “bom” não se refere a uma só qualidade, mas a todas
as qualidades divinas, às excelências morais do seu caráter. O “bom” de
Deus é perfeito, diferentemente do “bom” humano que é mesclado com
46 ˃˃˃

imperfeições. Deus “é o mesmo para todos e em tudo: na sua essência, na


sua natureza, no seu coração, nos seus desejos, nos seus planos, nos seus
atos, nos seus pensamentos mais íntimos; enfim, Deus é bom em tudo”
(LANGSTON, 1999, pág. 39).
O conceito da bondade perfeita de Deus é o ponto principal da
revelação cristã. No NT, esta bondade é mais nítida e perceptível do que
no AT. Percebe-se a revelação deste amor tem sua expressão mais sublime
e gloriosa na vida e morte do senhor Jesus, nos seus sofrimentos, trabalhos
e finalmente, sacrifício (Rm 5. 8). Afirmar que Deus é bom é dizer tudo
o que há de sublime a respeito do seu caráter; é resumir todas as suas
qualidades com um só vocábulo. “Deus não pode ser melhor do que é,
e nem é possível imaginar-se outra bondade mais sublime do que a sua.
É Ele a Pessoa ideal, o excelso padrão de toda a excelência moral. Deus é
bom como ninguém o é” (LANGSTON, 1999, pág. 40).
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■ A Longanimidade e Misericórdia Divinas

Longanimidade também faz parte da natureza perfeita e bondosa


de Deus. Está relacionada com a “qualidade de Deus tolerar os rebeldes e
maus a despeito da sua prolongada desobediência. Revela-se no adiamento
do merecido julgamento”. A longanimidade divina é mencionada varias
vezes nas Escrituras Sagradas (Ex 34. 6; Sl 86. 15; Rm 2. 4; 9. 22; 1Pe 3. 20;
2Pe 3. 15) (SEVERA, 2010, pág. 81).
A misericórdia faz parte da perfeita bondade de Deus; está
relacionada com as necessidades do ser humano. Misericórdia de Deus é
a Sua bondade “demonstrada para aqueles que se acham na miséria ou na
aflição, necessitados do socorro divino”. São sinônimos de misericórdia:
compaixão, pena, benignidade (SEVERA, 2010, pág. 81).
A Bíblia Sagrada afirma que Deus é rico e cheio de misericórdia,
˂˂˂ 47

que se estende a todos, tanto a gentios como a judeus, mas particularmente


para com os que O temem e O buscam para salvação, conforme registrado
nas seguintes referências bíblicas: Lc 1. 50, 72; Ef 2. 4; Rm 11. 30, 31; Is 55.
7; Tg 5. 11.

■ A Graça e Fidelidade Divinas

O termo “graça” traduz o hebraico chanan e o grego charis;


significa basicamente “o favor que alguém faz a outro”. No caso de Deus,
é a “concessão da Sua bondade a alguém que não tem nenhum direito
a ela”. Berkhof define-a como “a imerecida bondade ou amor de Deus
aos que perderam o direito a ela, e, por natureza, estão sob sentença de
condenação”. Todas as bênçãos espirituais concedidas à humanidade
pecadora possuem como fonte única a graça de Deus (Ef 1. 6, 7; 2. 7-9; Tt 2.
11; 3. 4-7) (SEVERA, 2010, pág. 80, 81).

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


A fidelidade divina é revelada e evidenciada em todas as relações
de Deus com seu povo. Pode-se confiar nele e em suas promessas, com
segurança (1Jo 1. 9; Ap 19. 2). Esta mesma fidelidade é percebida não
apenas em suas promessas, mas naquilo que ele falou sobre si mesmo
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 220).

■ A Ira de Deus

A ira e justiça divinas não são de forma alguma arbitrárias ou


ditatoriais, fruto de caprichos e vaidades (Sl 7. 11); são motivadas pela
justiça (tsaddîq). Este termo hebraico representa um padrão de justiça, de
retidão e moral: é a natureza de Deus (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
207).
A ira do Criador está relacionada com sua santidade. John Murray
48 ˃˃˃

diz que “a ira [de Deus] consiste na santa reação do ser de Deus contra
aquilo que é contrário a sua santidade” (Sl 78. 31; Os 5. 10; Jo 3. 36; Rm 1.
18, 19; Ef 2. 3; 1Ts 1. 10; Ap 6. 16). A. W. Pink afirma que:

A ira de Deus é a Sua eterna ojeriza por toda injustiça. É o


desprazer e a indignação da divina equidade contra o mal.
É a santidade de Deus posta em ação contra o pecado. É a
causa motora daquela sentença justa que Ele lavra sobre os
malfeitores. Deus está irado contra o pecado porque este é
rebelião contra Sua autoridade, um ultraje à Sua soberania
inviolável. Os insurgentes contra o governo de Deus saberão
um dia que Deus é o Senhor. Serão levados a sentir quão
grandiosa é aquela Majestade que eles desprezaram, e como
é terrível aquela ira de que foram ameaçados e a que não
deram a mínima importância. Não que a ira de Deus seja
uma retaliação maldosa e mal intencionada, infligindo
agravo só pelo prazer de infligi-lo, ou devolver a ofensa
recebida. Não; embora seja verdade que Deus vindicará
o domínio como Governador do universo, Ele não será
revanchista (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 220).
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SAIBA MAIS

Sobre os atributos de Deus:


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 429 a 532.

EXERCÍCIOS

1. Cite as qualidades em Deus que identificam que ele possui uma


personalidade divina.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________________________________________________________________
˂˂˂ 49

2. Explique os atributos da personalidade divina:


a. Deus é a verdade.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________________________________________________________________
b. Deus é justo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

c. Deus é santo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


______________________________________________________________
_________________________________________________________________
d. A ira de Deus.
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
50 ˃˃˃

RESUMO DA UNIDADE

Nesta Unidade estudamos sobre a Trindade e a existência de


Deus. Analisamos esses conceitos dentro do ponto de vista da ortodoxia
evangélica, também na história cristã desde os pais da Igreja até nossos
dias. Estudamos alguns dos argumentos racionais sobre a existência
de Deus. Por fim, vimos que a fé cristã está baseada principalmente na
revelação divina nas Escrituras Sagradas e, principalmente, através de
Jesus Cristo. Identificamos alguns conceitos ortodoxos e não ortodoxos
a respeito do Criador, atributos da personalidade e também os atributos
morais de Deus.
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t
Teologia e História
Questões Fundamentais
da Teologia Cristã

UNIDADE II
A Doutrina de Jesus Cristo
(Cristologia)
˂˂˂ 53

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Cristologia é o estudo que aborda a pessoa e a obra de Cristo.


Estuda aquilo que é mais distintivo no Cristianismo, que é a própria pessoa
de Jesus Cristo. A Cristologia é uma doutrina intimamente relacionada
com a Soteriologia, ou seja, a doutrina da salvação. Serão explicadas
algumas das principais doutrinas sobre Jesus e não ortodoxas surgidas
no princípio da igreja, mas também a doutrina ortodoxa que foi pregada
e defendida pela Igreja Cristã, resultado de vários Concílios. Nas seções
seguintes, será abordado o assunto que das duas naturezas de Cristo: a
divina e a humana, e a união de duas naturezas em uma só pessoa.

SEÇAO 1 - A DOUTRINA CRISTOLÓGICA

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


O objetivo desta seção é explicar, dentro da ortodoxia cristã, quem
é Jesus Cristo, contudo, é importante ao(à) estudante conhecer outras
interpretações sobre Jesus e defendidas por grupos cristãos consideradas
não-ortodoxas. Também, serão apresentados conceitos sobre Cristo
defendidos por grupos não-cristãos.

• Quem é Jesus Cristo?

Jesus Cristo, no final de seu ministério terreno, questionou aos


seus discípulos: “Quem diz o povo ser o Filho do Homem?” (Mt 16. 13-16).
As respostas eram diferentes: João Batista, Elias, Jeremias ou outro profeta.
Ele agora direciona sua pergunta aos discípulos: “E vós, continuou ele,
que dizeis que eu sou?” Independente das respostas da multidão ou dos
54 ˃˃˃

discípulos, Ele sabia muito bem quem era e aprovou a resposta de Pedro:
“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus Cristo é o Messias, o ungido
que há tempo era esperado por seu povo; é o mediador designado pelo Pai
para ser o supremo profeta, sumo sacerdote e rei para sempre do seu povo.
Foi humilhado, mas também foi exaltado; Ele é o filho de Deus eterno e a
única fonte de vida (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 481).
Esta passagem deixa claro que o conhecimento de Jesus é a
revelação de Deus Pai (Mt 16. 13-20). Ninguém conhece o Filho senão o
Pai, e ninguém conhece o Pai senão o Filho (Jo 14. 9; Mt 11. 27). Mistérios
ocultos agora se tornam revelados através de Cristo Jesus, sua vida e seu
ministério terreno e celestial (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 482).

• Doutrinas Cristológicas não Ortodoxas


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Desde o segundo século até o Concílio de Calcedônia, em 451


d.C., diversas proposições foram feitas a respeito da natureza de Cristo.
Isto ocasionou muitos conflitos de ideias que provocaram a instauração
de concílios para definirem o conceito que a Igreja Cristã deveria aceitar.
As discussões giravam em torno dos assuntos a respeito da natureza de
Cristo: ele era somente humano ou somente divino, ou ambos; quanto ele
era humano ou divino; como as duas naturezas se relacionavam na mesma
pessoa (SEVERA, 2010, pág. 222).
Franklin e Myatt (2008, pág. 487) classificam as principais correntes
teológicas surgidas: 1) doutrinas que negaram a humanidade de Jesus
Cristo: docetismo, apolinarianismo e eutiquianismo; 2) doutrinas que
negaram a divindade de Cristo: ebionismo, adocionismo e o arianismo;
3) doutrinas que negaram a união pessoal de Cristo: o nestorianismo; 4)
doutrinas que negam a distinção entre o Pai e o Filho: sabelianismo e
˂˂˂ 55

modalismo. Estas correntes teológicas serão explicadas com mais detalhes


a seguir.

■ Docetismo

O termo “docetismo” vem do termo grego doketes, dokein, cujo


significado é “parecer”. Para o docetismo, que foi um grupo surgido em
fins do primeiro século, os docetas defendiam que Jesus Cristo era apenas
divino e não humano. Por influência da filosofa grega, consideravam que a
matéria era essencialmente má e que o divino não podia se tornar humano.
Assim, o corpo e o sofrimento de Jesus Cristo eram apenas aparentes, mas
não reais (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 487; SEVERA, 2010, pág. 222,
223).

■ Apolinarianismo

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


O Bispo de Laodiceia, Apolinário, defendeu a divindade de
Cristo, mas não concordava com sua real humanidade. Cria que Cristo, a
alma divina, ou o Verbo (gr. Logos), tornou-se o lugar da alma humana.
Apolinário negava a integridade da natureza humana de Jesus. Afirmava
que Jesus Cristo não tinha mente humana; possuía apenas o corpo humano
e a alma irracional. Assim, o verbo tomou o lugar da mente, da alma
irracional. Desta forma, segundo Apolinário, a constituição de Jesus Cristo
era: corpo, alma e Verbo. Como consequência desta ideia, Apolinário
defendia que o Senhor Jesus não assumiu a mente humana e não estaria
apto a salvar a humanidade nesta parte. O apolinarianismo também foi
condenado no Concílio de Constantinopla (SEVERA, 2010, pág. 225).
56 ˃˃˃

■ Eutiquianismo

Eutiques era monge em Constantinopla e afirmou que a natureza


divina de Cristo absorveu a natureza humana. Após a união, somente
permaneceu a natureza divina, revestida de carne humana. Essa posição
teológica, conhecida como eutiquianismo foi posteriormente denominada
de monofisismo (uma só natureza); foi combatida pela Igreja Cristã e
condenada pelo Concílio em Calcedônia. Continuou a exercer influência
sobre cristãos do Egito, Etiópia, Síria, Armênia e outras regiões. O
Concílio de Calcedônia reconheceu as duas naturezas de Cristo, chamado
de diofisismo (duas naturezas) (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 487;
SEVERA, 2010, pág. 224, 225).

■ Ebionismo
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Os ebionistas derivam do termo hebraico ’ebyôn, cujo significado


é: pobre, necessitado, miserável, mendigo, pedinte de esmolas. Foi uma
doutrina surgida em Israel, no final do século primeiro. Criam que Jesus
era um extraordinário profeta, que se identificava com os pobres, que não
era Deus, mas apenas um filho natural de José e Maria. Franklin observa
que esta doutrina faz parte do atual “unitarismo” presente em alguns
teólogos liberais e adeptos da teologia da libertação (FRANKLIN; MYATT,
2008, pág. 487, 488; SEVERA, 2010, pág. 222).

■ Adocionismo

Os adocionistas criam que Jesus era tão submisso ao Deus Pai, que
este o adotou como seu Cristo e Salvador dos seres humanos. Desta forma,
Jesus tornou-se o Cristo e possui agora uma posição divina e de destaque
˂˂˂ 57

(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 488).

■ Arianismo

O Arianismo provém de Ário, diácono de Alexandria, que


ensinava que Jesus Cristo era apenas uma criatura e não o Deus eterno. Foi
a principal heresia dos primeiros séculos da Igreja (FRANKLIN; MYATT,
2008, pág. 488).
Negava desta forma a natureza divina e a eternidade de Jesus,
ou seja, houve um tempo em que ele não existia. Segundo Ário, Cristo
foi a primeira criação divina, através de quem o universo foi criado. A
interpretação de Jesus feita por Ário foi condenada no Concílio de Niceia,
em 325 d.C. Neste Concílio, com a presença do Imperador Constantino, a
disputa era entre Ário e Atanásio. Ário defendia que o Senhor Jesus era
homoiousios com o Pai, ou seja, tinha uma natureza similar com o Pai, mas

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


não a mesma natureza (SEVERA, 2010, pág. 223).
O Concílio definiu que Jesus Cristo era da mesma essência do Pai,
com a natureza divina completa e possuía também a natureza humana;
que é eternamente gerado (e não criado), sendo que nunca houve um
tempo em que ele não existia. O Concílio de Constantinopla, em 381
d.C. confirmou esta posição (SEVERA, 2010, pág. 223, 224). Atualmente,
o arianismo continua presente na doutrina das Testemunhas de Jeová
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 488).

■ Nestorianismo

Nestório foi Bispo em Constantinopla e negou a união entre as


duas naturezas de Cristo Jesus. Ensinou que Maria não era “mãe de Deus”
(theotokos), que ela não deu à luz o verdadeiro Deus, mas sim a um Jesus
58 ˃˃˃

humano, cuja humanidade estava unida ao Logos divino (embora deva


ser compreendida como separada e distinta de sua natureza divina).
Nestório defendeu que ocorreu em Cristo uma “união mecânica de suas
duas naturezas”. “Maria, então, é a ‘portadora de Cristo’ (Christotokos)
ou ‘portadora da humanidade’ (anthropotokos), porque, segundo ele, o
corpo de Jesus pertenceu à natureza humana e não à natureza divina. O
nestorianismo foi rejeitado pelo Concílio de Éfeso, em junho de 431, dirigido
por Cirilo, bispo de Alexandria (SEVERA, 2010, pág. 224; FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 488).

■ Sabelianismo e Modalismo

O sabelianismo teve sua origem com Sabugo, presbítero de


Ptolemaida. Defendia que somente existe uma pessoa divina. O Deus Pai
se manifesta em três formas: Pai, Filho e Espírito Santo. O modalismo
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foi defendido por Paulo de Samosata, bispo de Antioquia; afirmava que


Deus apresentou-se em três modos, mas que não existe eternamente como
três pessoas. Logo, Deus é em essência uma só pessoa. Essa doutrina foi
rejeitada pelo Sínodo de Antioquia, ocorrido em 268 d.C. (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 488).

• Doutrina Cristológica Ortodoxa

■ Concílio de Calcedônia

Houve dois concílios que foram de grande importância na


formulação da doutrina de Cristo: o Concílio de Niceia e o de Calcedônia.
˂˂˂ 59

O Concílio de Calcedônia conseguiu encerrar as controvérsias levantadas


até a data de sua realização. Definiu que Jesus Cristo teve uma natureza
humana completa e uma natureza divina também completa: duas
naturezas em uma só pessoa. Assim, as duas naturezas se unem na
pessoa de Jesus Cristo: “sem confusão, sem mudança, sem divisão,
sem separação, conservando, cada qual, a sua própria especificidade”.
Jesus Cristo é vere Deus ET vere homo, ou seja: verdadeiramente Deus e
verdadeiramente homem. A sua divindade era “consubstancial com o Pai”
e a sua humanidade era “consubstancial com a humanidade” (SEVERA,
2010, pág. 225).

■ De Calcedônia até Hoje

J. Scott Horrel, citado por Severa, resumiu a Cristologia na história


do seguinte modo: “até 500 d.C., a Cristologia foi estabelecida, com

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


posições extremas entre a humanidade e a divindade de Jesus. De 500 a
1800 a Cristologia foi preservada. De 1800 até hoje, ela foi desmontada”.
Scott observou que nesses períodos houve algumas diferenças de conceitos.
No período medieval (600 a 1500), por exemplo, embora preservada,
a Cristologia sofreu um desequilíbrio, quando era mais enfatizada a
divindade de Jesus e não a sua humanidade. “Cristo tornou-se tão divino
que os medievais relacionavam-se melhor com Maria, os santos e os
padres”. Por outro lado, a Cristologia estabeleceu-se em associação com a
doutrina da expiação de Cristo (2010, pág. 226).
Entre 1500 e 1800, no período da Reforma Protestante, era seguida
a Cristologia mais ortodoxa. Lutero também destacou a humanidade
de Cristo e defendeu uma inter-relação entre as duas naturezas “onde o
homem foi divinizado e o divino foi humanizado” (SEVERA, 2010,
pág. 226).
60 ˃˃˃

De 1800 até hoje surgiu uma variedade de opiniões em torno de


Cristo. Isto foi resultado do movimento cultural nessa época, marcado
pelo movimento do Iluminismo, de novas filosofias e o criticismo bíblico.
Surgiu o liberalismo antigo buscando o “Jesus da história” e não o “Jesus
da Escritura”. Após este período de liberalismo, surgiu a neo-ortodoxia,
que enfatizou o “Cristo da fé”. Desta forma, “a objetividade histórica da
Cristologia foi cedendo espaço para uma Cristologia subjetiva” (SEVERA,
2010, pág. 227).

■ Espiritismo Kardecista

O kardecismo ensina que Jesus Cristo é o grande exemplo, modelo


para a humanidade, que revelou como louvar “o Bem e o Belo”. Ele é
padrão da lei moral, a qual todos devem alcançar em sua trajetória nesta
terra. Ele foi animado pelo espírito divino. Logo, ele não pode ser Deus,
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criador e redentor. Ele está entre os espíritos evoluídos e exaltados. A única


diferença entre Jesus e os demais seres humanos é de ordem quantitativa
e não qualitativa. Ou seja, ele é como qualquer ser humano, mas que está
à frente em seu desenvolvimento espiritual (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 484).

■ Espiritismo Afro-Brasileiro

Harmon Johnson diz que para o espiritismo afro-brasileiro Jesus


é um dos orixás. Dentro da tradição de vincular os orixás da religião
africana com os santos da fé católica, Jesus é Oxalá, uma divindade ou
espírito criado por Olorum e subordinado a ele. Logo, ele não é igual à
divindade suprema, Olorum, embora possua poder superior aos demais
espíritos (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 485).
˂˂˂ 61

■ Islamismo

O islamismo nega a divindade de Jesus Cristo, pois Alá é uma


unidade absoluta e não pode se unir à natureza humana. Considerar a
divindade de Cristo para o Islamismo é uma grande blasfêmia. O Islamismo
nega que Alá tenha um filho e amaldiçoa aqueles que dizem ser Cristo o
filho de Deus. Segundo Maomé, Jesus era um homem; podia ser mesmo
um profeta, mas não possuía atributos divinos. Era, de fato, um apóstolo
de Alá, que fazia milagres e ensinava o islamismo. Para os muçulmanos, a
doutrina da divindade de Cristo não faz parte dos ensinos de Jesus, mas é
uma deturpação feita pela Igreja Cristã (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
485).

SAIBA MAIS

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


Sobre a doutrina de Cristo e sua obra:
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
Pág. 275 a 340.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:


Vida Nova, 1999. Pág. 435 a 545.

Sobre doutrinas não-ortodoxas a respeito de Cristo:


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1175 a 1190.

EXERCÍCIOS

1. Explique as seguintes doutrinas não-ortodoxas a respeito de Cristo:


A. Docetismo.
______________________________________________________________
62 ˃˃˃

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
B. Apolinarianismo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
C. Eutiquianismo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
D. Ebionismo.
______________________________________________________________
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
E. Adocionismo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

3. Qual Concílio conseguiu encerrar as controvérsias levantadas até


a sua data sobre a pessoa de Cristo?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
˂˂˂ 63

SEÇÃO 2 – UNIÃO HIPOSTÁTICA E A DIVINDADE DE CRISTO

O objetivo desta seção é definir o conceito de “união hipostática”


e sua aplicação na vida cristã. Serão apresentados argumentos bíblicos que
evidenciam a natureza divina de Jesus Cristo.
As Escrituras Sagradas, principalmente os Evangelhos, mostram
Cristo tendo a natureza humana, mas também a natureza divina, ambas
unidas em uma só pessoa. O Concílio de Calcedônia definiu melhor esta
situação (SEVERA, 2010, pág. 227).

• União Hipostática

A união das duas naturezas em Jesus é denominada de “união


hipostática” (gr. hypostasis). A encarnação é a união das duas naturezas,

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


a divina e a humana, presentes ao mesmo tempo em uma só pessoa, Cristo,
que se tornou então verdadeiro Deus e verdadeiro Homem (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 516).
As Escrituras neotestamentárias referem-se a uma só pessoa, mas
a duas naturezas unidas em uma personalidade singular e não dividida (Jo
1. 1-18; Rm 1. 3-4). A passagem de Paulo aos Filipenses (2. 6-11) diz que ele
estava na “forma” (morphē) de Deus e tomou a “forma” de homem; isto
ocorreu em uma única pessoa, Jesus, que passou a ter as duas naturezas
após sua encarnação (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 516).
Franklin e Myatt (2008, pág. 516, 517) afirmam que a expressão
“união hipostática” destaca algumas verdades importantes para a doutrina
cristã: 1) o Filho de Deus é uma pessoa; 2) essa pessoa é eternamente
preexistente; 3) essa união de duas naturezas está em uma única pessoa,
que é a segunda pessoa da Trindade encarnada; 4) essa única e mesma
64 ˃˃˃

pessoa, o Filho de Deus “é o Agente por detrás de todas as ações do


Senhor, o Porta-voz de todas as suas elocuções e o sujeito de todas as suas
experiências”.
Por causa da união hipostática, toda a obra de Cristo está
relacionada à presença da natureza divina e humana na pessoa de Cristo:
ele opera sinais e maravilhas, sofre dor, sono, cansaço, perdoa pecados,
recebe adoração, morre na cruz e é ressuscitado ao terceiro dia (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 517).
Irineu de Lion, Apud Franklin e Myatt, repudiou a separação
gnóstica entre o Cristo celeste e o homem Jesus, conforme escreveu:

Se um homem não tivesse vencido o inimigo do homem,


a vitória não seria justa; por outro lado, se a salvação não
tivesse vindo de Deus, não a teríamos de maneira segura; se o
homem não estivesse unido a Deus não poderia participar da
incorruptibilidade. Era necessário, portanto, que o Mediador
entre Deus e os homens, pelo parentesco entre as duas
partes, restabelecesse a amizade e a concórdia, procurando
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que Deus acolhesse o homem e o homem se entregasse


a Deus. De fato, como poderíamos participar da filiação
divina de Deus se não tivéssemos recebido a comunhão com
ele por meio do Filho, se seu verbo não tivesse entrado em
comunhão conosco encarnando-se? (2008, pág. 517).

A presença das naturezas divina e humana em Jesus é


explicitamente afirmada no NT (Jo 1. 14; Rm 1. 2-5; Fp 2. 6-11; 1Tm 3. 16;
Hb 2. 14; 1Jo 1. 1-3). Essa união hipostática continua para sempre mesmo
após a ressurreição de Cristo (Mt 26. 64; Jo 3. 13; At 7. 56). Isto significa que
Jesus não exerceu sua divindade em algumas ocasiões e sua humanidade
em outras. Seus atos sempre refletiam as duas naturezas. Contudo, os
atributos divinos eram limitados pela sua humanidade, mas não reduzidos
em sua natureza, em sua essência. Ele continuava com seus atributos, mas
havia uma limitação circunstancial no exercício de seu poder e de suas
˂˂˂ 65

capacidades (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 518).


Não é correto afirmar sobre Cristo que a “natureza humana fez
isto” ou “a natureza divina falou aquilo”, pois tudo o que ele fez ou falou
está relacionado com a pessoa única de Cristo. Desta forma, Herber Carlos
de Campos afirmou que “tudo o que pertence e é típico de uma natureza
deve ser atribuído inquestionavelmente à pessoa total” (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 518, 519).

• Aplicação da União hipostática

Uma aplicação da união hipostática para a igreja atual é o fato de


Jesus Cristo permanecer eternamente com sua natureza divina e humana.
Por ser Deus, ele é objeto de adoração. Quando é adorado, não é por sua
natureza humana, mas por sua natureza divina, pois somente Deus é digno

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


de adoração. Disse Louis Berkhof que o objeto do culto é o Deus e Homem
Jesus Cristo; a base desta adoração é a pessoa do Logos, que é Deus (Jo 1.
1, 2) (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 520).
Devido a essas duas naturezas em uma só pessoa, Jesus Cristo
tornou-se o perfeito mediador entre Deus e a humanidade (1Tm 2. 5; 1Jo 2.
2; Ef 2. 16-18). “A união do divino com o humano em Cristo trouxe a glória
do Filho de Deus para o homem e a morte do homem para o Filho de Deus”.
Percebe-se que fazia parte das tentações de Cristo utilizar as prerrogativas
da sua divindade para aliviar os sofrimentos da sua humanidade (Mt 4.
4-11; Mt 26. 53, 54). Após ressuscitar, Cristo foi exaltado, retornando ao
seu estado de glória eterna (Jo 17. 5); assentou-se no trono juntamente com
Deus Pai. Ele permanece para sempre Deus e homem glorificado (Hb 7.
24-28) (SEVERA, 2010, pág. 236).
B. B. Warfield diz que as manifestações de uma consciência humana
66 ˃˃˃

e divina permanecem lado a lado. Ele ao mesmo tempo apresentava-se


como inteiramente divino e inteiramente humano. Reflete uma consciência
divina e também a humana, mas sempre havia uma unidade de consciência.
Ele é o único Jesus Cristo na sua própria compreensão “verdadeiramente
Deus e plenamente homem em uma vida unida e pessoal” (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 516).

• A Divindade de Cristo

A formulação clássica da pessoa de Cristo inclui três proposições


que a exegese no NT revela. Em Cristo há duas naturezas em uma só pessoa:
1) Cristo é verdadeiramente Deus; 2) Cristo é verdadeiramente humano;
e 3) Cristo é uma só pessoa. As duas naturezas, divina e humana, são
“claramente distintas e substancialmente diferentes, mas inconfundíveis,
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imutáveis, indivisíveis e inseparáveis (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.


510).
Cristo não poderia ser ao mesmo tempo um referencial de moral
e caráter e, também, um mentiroso e megalomaníaco incurável. Ou ele
é uma “farsa” ou ele é quem diz ser: Deus. Atanásio defendeu o dogma
trinitariano e da divindade de Cristo. As consequências práticas da
divindade de Cristo são (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 511, 512): 1)
Somente é possível conhecer a Deus através de Jesus, pois “ninguém viu a
Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou (Jo 1. 18);
2) O próprio Deus Filho, por amor à humanidade, a fim de salvá-la, desceu
do céu, encarnou através do Espírito Santo na virgem Maria. Desta forma,
Cristo é suficiente para salvar os pecadores de todos os tempos e lugares,
“pois quem morreu não foi uma criatura, mas o Deus infinito”; e 3) Na
pessoa de Jesus, seres humanos são unidos a Deus por toda a eternidade,
˂˂˂ 67

não por meio de seres humanos ou anjos, mas pelo próprio Deus que
venceu o pecado. Jesus deve ser louvado e obedecido, pois ele não é apenas
uma criatura, “mas Deus, consubstancial ao Pai” (FRANKLIN; MYATT,
2008, pág. 511, 512).

■ Identificação de Jesus Cristo com Yahweh

As Escrituras mostram que Yahweh se manifesta através do


Filho, Jesus Cristo. Este relacionamento do Filho com Yahweh é percebido
claramente em passagens citadas do AT pelos apóstolos, que colocam o
nome de Jesus no lugar de Yahweh e que atribuem as qualidades divinas
de Deus a ele. Por exemplo, a citação de Isaías (45. 23) feita por Paulo em
Filipenses (2. 10) é digna de nota, principalmente pelo fato de Paulo ser
fariseu e conhecer Isaías profundamente (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág.
178).

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


■ Jesus é o Verbo Divino

Franklin e Myatt (2008, pág. 178) afirmam que o próprio Senhor


Jesus declarou-se Deus. Em João 17, o Senhor intercedeu por seus
discípulos e mostrou a unidade de propósito e pensamento que havia
entre ele e o Pai. Eles estavam juntos antes mesmo da criação do mundo,
conforme registrado em João 1. 1 “No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Algumas observações interessantes
sobre o texto original deste versículo podem ser extraídas:
- “No princípio” é uma clara alusão ao primeiro versículo
de Gênesis; o Logos já existia, e isto é uma forma de afirmar a
eternidade divina. Além disso, João não deixa dúvidas: “o Verbo
era Deus”;
68 ˃˃˃

- “no principio era o verbo”: “era” traduz a palavra original grega


ēn, que está no imperfeito do indicativo de eimi; significa uma
ação contínua no passado; mostra que no “princípio” o Verbo não
foi criado, mas já existia;
- “estava com Deus”: a palavra “com” traduz o termo grego pros,
que significa mais do que “estar junto”, mas tem o sentido de
igualdade.

Alguns grupos cristãos, como as Testemunhas de Jeová, traduziram


em sua Bíblia denominada “Tradução Novo Mundo” a frase “o Verbo era
Deus” por “o Verbo era um deus”, com o artigo indefinido “um” e sem a
letra maiúscula em “deus”. Afirmam que a expressão utilizada em João 1.
1 significa “um deus” e não propriamente “Deus”. A esse respeito Franklin
e Myatt (2008, pág. 178) dizem que:
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O fato de a palavra grega “Verbo” (logos) ter aqui um artigo


e de a forma grega para “Deus” (theos) estar sem o artigo não
significa que se deva traduzir a palavra “Deus” como “um
deus”. Nessa construção predicativa do objeto, o verbo grego
“ser”, quando liga o substantivo “Deus”, é usado de forma
genérica, isto é, com função atributiva. Isso, portanto, não
significa que o Verbo seja “um deus” em oposição a “Deus”
ou que o Verbo simplesmente possua alguns atributos da
“natureza divina”. Conforme foi destacado por Beasley-
Murray, existe outra palavra grega (theios) para indicar esse
tipo de referência divina, como é o caso de 2Pedro 1. 4, onde
se diz que os crentes participam da “natureza divina”.

Gerald L. Borchert citado por Franklin e Myatt (2008, pág. 178)


sobre este assunto afirma que “O significado de João 1. 1 não é simplesmente
que o Verbo possui características divinas, mas que o Verbo faz parte da
realidade denominada Deus. Aquele Verbo era uma divindade de fato, e
João quis que ali não houvesse qualquer dúvida a respeito”.
˂˂˂ 69

■ Nomes e Atributos Divinos de Cristo

Franklin e Myatt (2008, pág. 179) citam alguns nomes divinos


atribuídos à divindade de Cristo. Ele é denominado: Deus (Mt 1. 23; Jo 1. 1;
Rm 9. 5; Tt 1. 3; 2. 13); Senhor (Mt 12. 8; Rm 14. 9); Senhor meu, e Deus meu
(Jo 20. 28); Filho de Deus, Deus verdadeiro (1Jo 5. 20); Alfa e Ômega (Ap 1.
8).
Thomas Ofen, Apud Franklin e Myatt (2008, pág. 179), destaca que
a Jesus são atribuídos os atributos divinos. Ele é: Eterno (Mt 28. 20; Hb 1. 8;
13. 8); Auto-existente (Jo 5. 26; Cl 1. 17); Onisciente (Jo 16. 30); Onipresente
(Mt 18. 20); Imutável (Hb 13. 8); Onipotente (1Co 1. 24; Ef 1. 22; Mt 28. 18);
Sábio (1Co 1. 24); Glorioso (Hb 1. 3); Verdadeiro (Jo 8. 46); sem pecado (1Pe
1. 19)
Franklin e Myatt (2008, pág. 179) dizem que a Cristo também são
atribuídas as obras feitas por Deus. Ele também é: Criador (Jo 1. 3; Cl 1. 16;

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


Hb 1. 10); governador da criação (Hb 1. 3); salvador que perdoa pecado
(Mt 1. 21; Mc 2. 17); ressuscita os mortos (Jo 6. 39); afirmam que, assim
como Deus, Cristo aceitou o louvor dos discípulos (Mt 14. 33); é digno de
honra igual ao Pai (Jo 5. 23).
Cristo tinha plena consciência da sua Divindade: igualou-se ao
Pai na vida (Jo 5. 26), na honra (Jo 5. 23), na fórmula batismal (Mt 28. 19);
declarou sua união com o Pai (Jo 5. 18; 10. 33, 38). As prerrogativas divinas
de Cristo: autoridade para perdoar pecados (Mc 2. 10); autoridade para
alterar a lei de Deus (Mt 5. 21, 22); autoridade sobre o sábado (Mc 2. 28);
autoridade sobre a vida dos homens (Mt 16. 24-28); poder para salvar o
ser humano do seu pecado (Mt 1. 21; Jo 8. 34-36) (SEVERA, 2010, pág. 231,
232).
70 ˃˃˃

■ O Testemunho dos Apóstolos Acerca da Divindade de


Cristo

Os apóstolos testemunharam a divindade de Cristo. Eles criam e


pregavam a Jesus divino. Os escritos do NT ratificam esta ideia: Jo 1. 1; Rm
9. 5; Tt 2. 13; Hb 1. 8; 1Jo 5. 20. Negar a divindade de Cristo é negar o claro
testemunho da Palavra de Deus e seu ensino: Jesus Cristo tinha a natureza
humana e a natureza divina (SEVERA, 2010, pág. 232).

SAIBA MAIS

Sobre as duas naturezas de Cristo:


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1191 a 1237.
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EXERCÍCIOS

1. O que é união hipostática?


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
2. Explique a união hipostática em Cristo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
3. Cite nomes divinos atribuídos a Cristo.
˂˂˂ 71

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________

SEÇÃO 3 – HUMANIDADE DE CRISTO

O objetivo desta seção é apresentar argumentos que evidenciam


que além da natureza divina, o Senhor Jesus também possuía uma natureza
humana.

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


• A Humanidade de Cristo

Jesus tinha um corpo humano normal, nasceu de uma mulher,


experimentou fome, cansaço e todas as sensações humanas (Hb 2. 14).
Após sua ressurreição afirmou não ser um “fantasma” (Lc 24. 39). Ele
era uma alma vivente e experimentou emoções como ira, medo, alegria e
tristeza. Foi tentado inúmeras vezes pelo diabo, mas em momento algum
pecou (Hb 4. 14-16). Não “parecia” um ser humano, mas “era” humano
plenamente como os demais seres humanos com uma única diferença: sem
pecado (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 512, 513).
72 ˃˃˃

• Nascimento virginal de Jesus Cristo

Conforme registrado em Lucas 1. 35 a geração de Jesus no útero de


Maria foi sobrenatural: “respondeu-lhe o anjo: descerá sobre ti o Espírito
Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso,
também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”.
A encarnação foi miraculosa e envolveu a união da divindade
e humanidade de Jesus. Ele não se tornou Cristo mais tarde, como foi
defendido por alguns teólogos. Há poucos textos que falam do nascimento
virginal: Mateus 1. 18-25, Lucas 1. 26-38 e profetizado por Isaías 7. 14. Essa
doutrina foi confessada pela igreja apostólica, mencionada em antigos
credos e em todas as confissões de fé protestantes e católicas (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 514).
“A doutrina do nascimento virginal estabelece a importância da
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encarnação como um evento sobrenatural”. Rejeitar esta doutrina reflete


um preconceito em relação ao sobrenatural. Essa doutrina destaca também
o fato de Jesus ter sido sempre tanto Deus como homem. A pergunta que
o nascimento virginal desperta é a impecabilidade de Jesus. Se toda a raça
humana está contaminada pelo pecado original desde Adão, Maria também
teria passado os efeitos do pecado original para Jesus? Obviamente que
não (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 515).
A ação do Espírito Santo demonstra que o que foi gerado é
sobrenatural e santo. Isto garantiu que não houve transmissão da culpa
de Maria (consequentemente de Adão) para Jesus. A ação de Deus em
nenhum momento conduziria a um efeito intencionalmente mau para o
próprio Jesus. Millard J. Erickson diz que o nascimento de Jesus lembra
o relato da criação. Assim como o primeiro Adão foi criado sem pecado
e marcou o surgimento da raça humana, o nascimento virginal de Cristo
˂˂˂ 73

é uma evidência do poder e da soberania de Deus sobre a natureza


(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 515).
Abraham Kuyper, Apud Franklin e Myatt (2008, pág. 515), afirma
que:

Tudo depende se a culpa original de Adão foi também


imputada ao homem Cristo Jesus. Entendendo a doutrina
da culpa adâmica no mesmo sentido em que ela é definida
na dogmática tradicional, torna—se claro que tal culpa não
foi imputada a Cristo. O único fator disponível para nos
ajudar a entender esta imunidade é o nascimento virginal.
Adão gerou um filho a sua imagem (Gn 5. 3). Mas Adão não
gerou Cristo. A existência do nosso Senhor não tem nada
a ver com o desejo ou a iniciativa adâmica. (...) Ele veio de
cima. Ele não é derivado e nem é um galho de Adão. Ele
é paralelo ao primeiro homem, um novo começo, e, como
tal, não envolvido na culpa que faz parte do curso original.
Todavia, ao dizer isso, não devemos nos esquecer que ele
assumiu voluntariamente essa culpa ao abraçá-la (Hb 2. 16).

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


O nascimento virginal atesta o caráter sobrenatural da salvação
e, principalmente, o amor de Deus para proporcionar um meio de
reconciliação com a humanidade pecadora. Herber Carlos de Campos
define que conforme a sua natureza divina o redentor era: infinito,
independente, imutável, não sujeito ao tempo e espaço, não passível de
ser tentado, Todo-Poderoso e de conhecimento ilimitado. Conforme a
sua natureza humana o redentor era: finito, totalmente dependente de
Deus, mutável, sujeito ao tempo e ao espaço, passível de ser tentado,
fraco e limitado como qualquer ser humano, de conhecimento restrito
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 515, 516).

■ A Identidade Humana de Cristo

Franklin e Myatt destacam que há menos controvérsia em relação


74 ˃˃˃

à humanidade do que em relação à sua divindade (2008, pág. 512).


Observam que:
Primeiro: sua humanização era essencial, pois sem ela não seria
possível se identificar e salvar a humanidade. “A validade e
aplicação da obra realizada na cruz dependem da realidade de sua
humanidade, assim como sua eficácia depende da genuidade da
sua divindade”;
Segundo: se Jesus não fosse humano não poderia realizar o tipo de
intercessão sacerdotal em favor daqueles que ele representa (Hb
2. 17); e
Terceiro: se Jesus era humano, tendo sido tentado da mesma
forma que os seres humanos o são, então ele pode compreender e
auxiliar as pessoas em suas lutas e dificuldades (Hb 2. 18; 4. 15-16).

A Bíblia afirma que o Verbo, a Palavra (Logos) se fez carne (Jo 1. 1,


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14). Herber Carlos de Campos afirma que

A encarnação do Verbo não foi uma teofania. Foi uma forma


humana definitiva e permanente que o Verbo tomou para
si. A encarnação lhe trouxe um corpo real que podia não
somente ser visto e ouvido, mas também tocado, e que veio
a ser passível de sofrimento, morte e ressurreição (CAMPOS
in FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 512).

A ideia de Apolinário de que o Logos divino passou a habitar um


corpo humano, e assumiu o lugar da alma, não representa a união das
naturezas em Cristo Salvador. Os registros bíblicos que mostram suas
emoções (raiva, medo, alegria, tristeza) indicam sua plena humanidade.
Esta humanidade é fundamental para a doutrina cristã pelo fato de
que assim como Adão deu origem a uma descendência, ligada a ele
˂˂˂ 75

biologicamente, desobediente e condenada à morte eterna, Cristo


também iniciou uma humanidade nova e redimida, ligada a ele pela fé.
A humanidade condenada em Adão recebeu a oportunidade de ter um
reinício através de Cristo, que é o segundo Adão, através de um processo
espiritual e sobrenatural (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 513).
Irineu de Lion mostra como o primeiro Adão trouxe o pecado e a
morte para dentro desta criação, mas também o modo como Jesus Cristo
introduziu a graça e a vida eterna para salvação de todos:

O inimigo não teria sido vencido com justiça se não tivesse


nascido de mulher o homem que venceu, pois fora por
meio de uma mulher que ele dominara o homem, opondo-
se a ele desde o princípio. Por este motivo é que o próprio
Senhor declara ser o Filho do homem, recapitulando em si
aquele primeiro homem, a partir do qual fora modelada a
mulher. E assim como pela derrota de um homem nossa raça
desceu para a morte, pela vitória de outro homem subimos
novamente à vida, e, como a morte tinha triunfado sobre nós
por um homem, assim todos nós triunfamos da morte por
um homem. O Senhor não teria recapitulado em si a antiga

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


e primeira inimizade contra a serpente e não teria cumprido
a promessa do Criador e nem o seu mandamento, se tivesse
vindo de outro Pai. Mas, sendo um só e idêntico àquele
que, no princípio, nos modelou e, no fim, enviou seu Filho,
o Senhor cumpriu verdadeiramente o seu mandamento
nascendo de uma mulher, aniquilando o nosso adversário e
completando no homem a imagem e semelhança com Deus
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 513).

Desta forma, pode-se afirmar que Jesus trouxe o que foi perdido
por Adão. Mesmo em um ambiente paradisíaco e sem pecado Adão pecou;
Jesus Cristo em um ambiente completamente adverso e contaminado
pelo pecado foi obediente. O redentor tornou-se “o cabeça” da nova
humanidade ao assumir a culpa e condenação desta humanidade em sua
obra expiatória. Isto somente foi possível por ele não ter participado do
pecado. O redentor precisava ser santo e sem qualquer culpa. “A plena
humanidade de Jesus Cristo é necessária para a plena redenção do homem”
76 ˃˃˃

(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 514).

• Cristo e sua Plena Humanidade

Alguns eventos e referências bíblicas são necessários para destacar


e evidenciar a plena humanidade de Cristo:

■ Evidências de sua Humanidade

A humanidade de Cristo é bem definida. Os aspectos seguintes


dão prova de que durante sua vida, ministério e morte há evidencias que
demonstram sua humanidade: Jesus Cristo está nas listas das genealogias
humanas (Mt 1. 1-16; Lc 3. 23-28); seu nascimento foi normal e humano (Mt
1. 25; Gl 4. 4); seu crescimento e desenvolvimento foram aparentemente
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normais (Lc 2. 40-52; Hb 5. 8); esteve sujeito às limitações físicas: como


cansaço (Jo 4. 6), fome (Mt 4. 2; Mc 11. 12), sede (Mt 11. 19; Jo 19. 28); sofreu
intensa agonia em sua morte física (Mc 14. 33-36; Lc 22. 44, 63; 23. 33);
experimentou emoções humanas: alegria (Lc 10. 21); tristeza (Mt 26. 37),
amor (Jo 11. 5), compaixão (Mt 9. 36); surpresa (Lc 7. 9), ira (Mc 3. 5); foi
morto (Jo 19. 33).

■ Possuía Vida Religiosa

Embora possuísse a divindade, sua humanidade buscava a


Deus. Assim, sua vida religiosa evidenciou sua humanidade. Jesus Cristo
participou da adoração pública (Lc 4. 16); estudou, meditou e explicou as
Escrituras (Mt 4. 4-11; 19. 4; Lc 2. 46; 24. 27); orava publicamente (Lc 3. 21)
e individualmente (Lc 6. 12); foi submisso ao Pai e dependia totalmente
˂˂˂ 77

d’Ele (Jo 6. 38; 12. 49) (SEVERA, 2010, pág. 229).

■ Possuía um Conhecimento Limitado

Embora Jesus Cristo fosse superior em conhecimento às demais


pessoas, seu conhecimento era limitado (Jo 1. 47; 4. 29; Lc 6. 8; 9. 47);
Compreendia o AT de forma singular (Mt 22. 29; 26. 54, 56; Lc 4. 21ss; 24.
27, 44ss). Contudo, demonstrava um conhecimento limitado (Mc 5. 30; 6.
38; 9. 21. Lc 2. 46; Mc 13. 32) (SEVERA, 2010, pág. 229).

■ Era Tentado ao Pecado

Assim como Adão e os demais seres humanos, Cristo também foi


tentado, mas nunca pecou (Mt 4. 4-11; Hb 4. 15). Embora Cristo pudesse
ser tentado, ele estava livre da corrupção moral que assola a humanidade

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


desde a queda de Adão (2Co 5. 21; Hb 7. 26). Embora fosse humano como
qualquer ser humano, não tinha a natureza corrupta que a humanidade
tem, nem praticou qualquer pecado em momento algum (SEVERA, 2010,
pág. 230).

■ Implicações da Humanidade de Cristo

Franklin e Myatt destacam a importância do Messias possuir sua


plena humanidade (2008, pág. 514) eles afirmam: 1) a morte expiatória de
Cristo foi fundamental para os que nele confiam, pois ele foi o segundo
Adão, um homem real e que poderia oferecer um sacrifício eficaz em favor
da humanidade; 2) Jesus demonstrou empatia e intercessão pelo povo, pois
experimentou a dor e o sofrimento; e 3) Jesus revela como é a humanidade
em seu estado original. A humanidade não pode ser relacionada com o
78 ˃˃˃

pecado. Erickson disse que “não passamos de modelos imperfeitos da


humanidade”. Logo, no estado original, errar não é humano.

EXERCÍCIOS

1. Cite algumas evidências de que Cristo era humano.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
2. Cite três implicações da humanidade de Cristo.
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
______________________________________________________________
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______________________________________________________________

SEÇÃO 4 – OBRA, HUMILHAÇÃO E EXALTAÇÃO DE CRISTO

O objetivo desta seção é apresentar e explicar os três ofícios


fundamentais no meio do povo de Deus, ou seja: profeta, sacerdote e rei.
Estudaremos também a humilhação de Cristo necessária para a conquista
da salvação para a humanidade. Por fim, sua exaltação, ressurreição,
ascensão e segunda vinda.
˂˂˂ 79

• Ofícios de Cristo

No AT havia três ofícios ou funções fundamentais no meio do


povo de Deus: profeta, sacerdote e rei. Tais ofícios eram executados por
pessoas escolhidas, ungidas e investidas na função. Através do oficio
profético o povo ouvia a vontade de Deus; através do ofício sacerdotal eram
representados diante de Deus; através do rei, havia o governo político.
Diferentes pessoas exerciam estas funções, mas no caso do Messias, estes
ofícios seriam reunidos em uma só pessoa: Profeta, Sacerdote e Rei. Assim,
ele é um mediador perfeito e completo (SEVERA, 2010, pág. 239).

■ Cristo como Profeta

A função do profeta é falar em nome de Deus. No AT, ele


interpretava os atos e os planos de Deus e orientava o povo quanto a esses

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


planos. Assim, tornava-se um representante de Deus para o povo. Cristo
foi verdadeiro profeta, conforme profecia do próprio Moisés (Dt 18. 15).
Seus discípulos reconheceram que Jesus Cristo era o profeta que deveria
vir ao mundo (Jo 6. 14; At 3. 22). Através do seu ministério profético revelou
a Deus e a Sua vontade suprema não somente por meio de palavras, mas
também com suas atitudes e obras (Hb 1. 1-3). Essa revelação foi final e
nada mais restou para ser acrescentado (SEVERA, 2010, pág. 239).

■ Cristo como Sacerdote

O ofício sacerdotal de Cristo é descrito no livro de Hebreus. No


AT, “o sacerdote era uma pessoa divinamente escolhida e consagrada
para representar os homens diante de Deus e oferecer dons e sacrifícios
que assegurassem o favor divino, e ainda para interceder pelo povo (Hb
80 ˃˃˃

5. 4; 8. 3)”. Este serviço era imperfeito, devido tanto às limitações do


próprio sacerdote como às limitações dos animais oferecidos em sacrifícios
(SEVERA, 2010, pág. 240, 241).
Ele atuou como intercessor durante seu ministério terreno, mas foi
após sua ascensão que ele passou a exercer especificamente este ministério
de intercessão (Hb 7. 25; 9. 24). “A base da sua intercessão é o seu sacrifício
(1Jo 2. 1, 2)”. (SEVERA, 2010, pág. 241).

■ Cristo como Rei

As profecias no AT anunciaram a vinda de um rei, da descendência


de Davi, que iria governar Israel e as nações, com justiça, paz e prosperidade
(Is 11. 1-9). O anjo anunciou isto a Maria (Lc 1. 32, 33); ele mesmo afirmou
de si mesmo que era o rei prometido; após sua ressurreição também
declarou isto (Mt 28. 18; Jo 18. 36, 37). (SEVERA, 2010, pág. 241).
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Após a sua ascensão ele foi exaltado à direita de Deus; Ele reina,
mas não de modo visível aos olhos humanos, nem do modo pleno como
está profetizado. A consumação desta profética está ainda por vir (Ef 1. 20-
22; 1Co 15. 25-28; Hb 10. 13; Hb 2. 8; Ap 3. 21; 11. 15) (SEVERA, 2010, pág.
241).
Severa afirmou que no mundo, o governo se restringe aos fieis, a
os seus discípulos, à igreja de Cristo. Contudo, virá o dia em que Cristo
se mostrará em toda a sua plenitude neste mundo e estabelecerá a justiça
para sempre (2Pe 3. 13). O Messias Jesus é absoluto e suficiente para que
haja relação entre Deus e o ser humano. Disse também que

Ele é o Profeta, o Sacerdote e o Rei do mundo. Através dele


podemos ouvir e aprender de Deus; por ele podemos chegar
à presença do Pai e ali permanecer; nele temos segura direção
da vida, da nova sociedade e do novo mundo conquistados
por ele. Mas tudo isto em uma fase preliminar, que avança
˂˂˂ 81

para a perfeição, e há de consumar-se na vinda gloriosa, no


final dos tempos (2010, pág. 242).

• A Humilhação de Cristo

Cristo passou por dois estados ou “estágios” após sua encarnação:


humilhação e exaltação. Isto já havia sido profetizado no AT e confirmado
pelos escritos neotestamentários (Is 52. 13, 14; 53. 1-3, 11, 12; Fp 2. 6-11; 1Pe
1. 11). O estado de humilhação de Jesus Cristo ocorreu em virtude de sua
encarnação, sua vida, ministério até sua morte na cruz. Sua encarnação
envolve humilhação, sujeição às leis físicas e humanas (Jo 17. 5; 2Co 8. 9;
Gl 4. 4; Fp 2. 6-8) (SEVERA, 2010, pág. 237).
Nessa situação, a Segunda Pessoa da Trindade em tudo dependia
da Terceira Pessoa: o Espírito Santo, ele foi gerado pelo Espírito Santo (Lc
1. 34, 35); foi ungido (Mt 3. 16); conduzido ao local da tentação (Mt 4. 1);

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


levado à cruz (Hb 9. 4); ressuscitado pelo espírito (Rm 8. 11); fortalecido
para realizar as obras (Mt 12. 28; At 1. 1, 2; 10. 38); Ele, por decisão própria,
assumiu a condição humana para sofrer com a humanidade nesse período
de humilhação (Jo 10. 17, 18) (SEVERA, 2010, pág. 237, 238).

• A Ressurreição e Ascensão de Cristo

O sacrifício de Jesus não teria poder redentivo se não houvesse


a ressurreição e ascensão. Sua ressurreição e ascensão confirmam sua
posição de glória e, principalmente, a “validade da sua obra sacrificial em
prol dos pecadores e proporciona aos seus discípulos uma esperança de
glória futura” (SEVERA, 2010, pág. 251).
82 ˃˃˃

■ A Ressurreição Foi Profetizada no Antigo Testamento

Jesus Cristo, após sua ressurreição explicou aos discípulos no


caminho para Emaús o significado de textos do AT referentes ao Messias (Lc
24. 27). Provavelmente, tenha incluído os textos que prediziam sua morte
e ressurreição. Outros textos também foram utilizados pelos apóstolos
para mostrar que o Messias teria que sofrer, morrer e ressuscitar. À luz
do NT, pode-se afirmar que o AT antecipou o que ocorreria no ministério
de Cristo. Franklin e Myatt destacam dois grupos de passagens bíblicas
encontradas: 1) aquelas em que está prevista a ressurreição do Messias e
2) aquelas que falam a respeito de sua exaltação e glória futura como rei
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 634).
A primeira profecia messiânica encontra-se em Gênesis 3. 15
ocorrida logo após a queda, ainda no Éden. Este texto mostra o destino
da serpente e da semente (descendência) da mulher; fica nítida a vitória
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dessa descendência sobre a serpente: “Este te ferirá (shûp – confundir,


esmagar) a cabeça, e tu lhe ferirás (shûp) o calcanhar”. “Ferir a cabeça” é
matar; “ferir o calcanhar” é produzir um ferimento dolorido. Em síntese,
a serpente seria mortalmente vencida, mas a pessoa que a venceu sairia
viva, mas ferida (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 634).
O próprio Senhor Jesus associou sua morte à historia de Jonas,
que ficou três dias no ventre do grande peixe (Jn 1. 7). Da mesma forma o
Senhor disse que permaneceria três dias no “coração da terra” (Mt 12. 40).
Jesus também fez analogia entre sua morte e ressurreição e a destruição
do templo em Jerusalém (Mt 26. 61; 27. 40; Mc 15. 29; Jo 2. 19). Ele sabia da
morte que estava para acontecer (Mc 8. 31; 9. 31). Até os seus inimigos, os
principais sacerdotes e fariseus, sabiam disto e solicitaram a Pôncio Pilatos
que fosse posta ao lado do túmulo uma guarda romana (Mt 27. 62-66)
(FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 635).
˂˂˂ 83

A ressurreição de Cristo tornou-se a mensagem central da pregação


apostólica. Isto é evidenciado tanto no livro de Atos como nas Epístolas,
nas pregações de Pedro (At 5. 30; 10. 40; 1Pe 1. 21) e nas pregações de Paulo
(At 13. 30, 34; 17. 31). A ressurreição de Jesus foi a declaração pública de
Deus Pai de que a expiação foi aceita, o pecador poderá ser justificado e
seus pecados perdoados (Rm 4. 25). Paulo afirma que sem a ressurreição
a fé cristã é uma farsa e inútil (1Co 15. 17). Mas, “Jesus foi ressuscitado
e, por meio disto, sua identidade como Filho de Deus foi estabelecida e
confirmada ao mundo (Rm 1. 4)” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 639).
Após a ressurreição, Jesus ascendeu aos céus sob o olhar dos
discípulos que contemplaram o ocorrido. Louw e Nida, a respeito de Atos
1. 10, afirmam que seus olhos estavam fitos (Gr. atenizō), ou seja, “um
olhar contínuo e intenso, com o propósito de não perder nada daquilo que
estava acontecendo”. Isto mostrou que Jesus corporeamente ascendeu aos
céus e que agora estaria à direita do Deus Pai, no céu (Marcos 14. 62; Atos

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


7. 56) (LOUW e NIDA in FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 640).
Não foi um retorno ao mesmo corpo com que ele viveu, morreu
e foi sepultado; foi o “surgimento de um novo corpo”, em uma situação
diferente (Mt 28. 1-9; 16-20; Mc 16. 1-18; Lc 24. 1-49; Jo 20. 1- 21. 14; At 2.
31-32; 1Co 15. 3-20) (SEVERA, 2010, pág. 251, 252).

■ Ascensão de Cristo

O triunfo e a glorificação de Cristo são declarados pela sua


ascensão aos céus (1Pe 3. 22; Hb 2. 9; Fp 2. 9). Estabelece condições sob as
quais a igreja é convocada para servir sob o comando de um Senhor que é
exaltado no céu (Ef 1. 20-23) (SEVERA, 2010, pág. 252, 253).
Após a ascensão, Cristo foi exaltado por Deus Pai e permaneceu à
direita de seu trono (Mc 16. 19; Hb 10. 12). Contrastando com a vergonha
84 ˃˃˃

e humilhação na cruz, “Deus o exaltou sobremaneira” (Fp 2. 9). O termo


grego traduzido por “sobremaneira” é hyperypsoō que significa levantar,
elevar. Esta exaltação de Cristo proclama sua divindade “(...) para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra
(...)” (At 2. 10). Jesus Cristo é o objeto de louvor e adoração de todos.
Cristo é o sumo-sacerdote que leva a igreja até a presença de Deus
e intercede por ela (Hb 4. 14-16; 7. 25; 9. 24; 1Jo 2. 1). Sua ascensão é a
garantia do completo domínio futuro e final de Cristo em glória e evidencia
e sua autoridade sobre todo o universo (1Co 15. 25; Ap 11. 15). Tornou-
se sacerdote para sempre. As Escrituras relacionam a sua obra sacerdotal
com a ascensão de Cristo à direita de Deus (Zc 6. 13; Hb 4. 14; 7. 24, 25; 8.
1-6; 9. 11-15; 24-26; 10. 19-22; 1Jo 2. 2).

• A Segunda Vinda de Jesus Cristo


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Os teólogos evangélicos concordam quanto à natureza dos eventos


futuros, que Cristo um dia voltará à terra conforme ele mesmo prometeu
(At 1. 10-11). Essa vinda marcará a intervenção final de Deus na história
humana (Mt 24. 3; 2Pe 3. 1-13). “Ele será o ponto culminante da exaltação
de Cristo”. Berkhof disse que “o ponto supremo não será alcançado
enquanto o que sofreu nas mãos do homem não voltar na qualidade do
juiz” (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 644).
No AT, a segunda vinda do Messias está relacionada com a
restauração final de Israel. Esse evento é demonstrado através do uso das
expressões “Dia do Senhor”, “naquele dia” ou “nos últimos dias” (Am 5.
18; Jl 1. 15; Sf 3. 11; Is 2. 2-4; Os 3. 5; Ml 3. 1-2) (FRANKLIN; MYATT, 2008,
pág. 644).
No NT, a encarnação é vista como o cumprimento da esperança
˂˂˂ 85

messiânica registrada no AT. Sua segunda vinda é a consumação da


esperança. A primeira e a segunda vindas do Messias pertencem a duas
fases da única obra redentora cujas implicações afetam o passado, o
presente e o futuro (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 644, 645).
Essa segunda vinda será precedida por sinais visíveis e
inconfundíveis; será repetida e inesperada. Tem por finalidade destruir
o Anticristo já manifesto, ressuscitar os fieis que morreram, transformar
os fieis vivos, reunir vivos e ressuscitados nos céus, estabelecer seu reino
milenar na terra, separar os justos dos injustos, julgar os infiéis, estabelecer
novos céus e nova terra. Assim, sua exaltação e vitória estarão completas
(Ap 21. 1-7) (FRANKLIN; MYATT, 2008, pág. 645).

SAIBA MAIS

Sobre o estado de humilhação e exaltação de Cristo e os ofícios ministeriais:

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1175 a 1190; 1239 a 1368.

EXERCÍCIOS

1. Quais eram os três ofícios principais no meio do povo de Deus no


AT
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
2. Explique Cristo como:
a) Profeta.
_____________________________________________________________
86 ˃˃˃

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
b) Sacerdote.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
c) Rei.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
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˂˂˂ 87

RESUMO DA UNIDADE

Nesta Unidade estudamos a Doutrina sobre Jesus Cristo (Cristologia). Foram


explicadas algumas das principais doutrinas não ortodoxas surgidas no
princípio da igreja, mas também a doutrina ortodoxa defendida pela Igreja
Cristã, resultado de vários Concílios. Nas seções seguintes, analisamos o
polêmico assunto sobre as duas naturezas de Cristo: a divina e a humana,
e como ocorre esta união de duas naturezas em uma só pessoa.

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


Teologia e Histó-
ria:
Questões Fundamentais
da
t
Teologia e História
Questões Fundamentais
da Teologia Cristã

UNIDADE III
A Doutrina do Espírito
Santo (Paracletologia)
˂˂˂ 91

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Nesta Unidade estudaremos a Doutrina do Espírito


Santo, também denominada de Pneumatologia ou Paracletologia.
Veremos alguns nomes e títulos que descrevem sua ação, natureza e
personalidade. Veremos que o Espírito de Deus é divino, apesar de haver
grupos cristãos que negam isto. Alguns símbolos bíblicos para designar o
Espírito também serão estudados. Será proporcionado ao(à) estudante uma
visão geral da atuação do Espírito Santo tanto no AT como no NT, além de
sua ação na vida cristã e na Igreja de Cristo. Em seguida serão estudados
os dons espirituais e a visão pentecostal a respeito deles. A última seção
desta Unidade será destinada ao tema tão polêmico que divide evangélicos
pentecostais e tradicionais: o Batismo no Espírito Santo.

SEÇAO 1 - A NATUREZA E ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA

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BÍBLIA

O objetivo desta seção é apresentar os títulos descritivos do


Espírito Santo, as evidências da sua natureza pessoal e a sua divindade.
Abordaremos também os principais símbolos bíblicos que identificam o
Espírito Santo.

• A Doutrina do Espírito Santo

A Doutrina do Espírito de Deus tem mais a ver com a verdade


do Novo Testamento do que com o Antigo Testamento. Sobre a doutrina
do Espírito Santo, Severa diz: “O tema é de suma importância, pois a
doutrina do Espírito Santo é básica na revelação do NT e fundamental
92 ˃˃˃

na vida do crente e da Igreja”. É uma doutrina essencial para o povo


de Deus, mas também tem se tornado motivo de discórdias entre as
diversas denominações evangélicas: natureza, ministério, derramamento
do Espírito Santo, batismo no Espírito, obra e ação do Espírito Santo,
plenitude e dons espirituais (SEVERA, 2010, pág. 311).

• Títulos Descritivos do Espírito Santo

Compreender a natureza do Espírito Santo afeta diretamente a


experiência do cristão com Deus (SEVERA, 2010, pág. 313). Sobre os nomes
atribuídos ao Espírito pode-se dizer que

Os muitos títulos do Espírito Santo com seus múltiplos


significados falam eloqüentemente das belezas de Sua
Pessoa e das maravilhas de Seus atributos. Os muitos
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aspectos revelados falam de Sua infinita Pessoa, igual em


poder e glória com o Pai e com o Filho (CHAFER, 2003,
pág. 369).

Lewis Sperry Chafer (2003, pág. 367-369) separa os títulos do


Espírito Santo de acordo com suas funções e atributos:
- Com relação ao relacionamento do Espírito com Cristo há cinco
títulos: Espírito de Cristo (Rm 8. 9; 1Pe 1. 11); Espírito de Jesus
Cristo (Fp 1. 19); Espírito de Jesus (At 16. 7); Espírito de Seu Filho
(Gl 4. 6); Espírito do Senhor (At 5. 9; 8. 39);
- Há dezessete títulos do Espírito que indicam seus atributos
divinos: um Espírito (Ef 4. 4); Sete Espíritos, que revela a Sua
perfeição (Ap 1. 4; 3. 1); Senhor, o Espírito (2Co 3. 18); Espírito
eterno (Hb 9. 14); Espírito da glória e de Deus (1Pe 4. 14); Espírito
˂˂˂ 93

da vida (Rm 8. 2);


- Há três títulos que afirmam sua santidade: Espírito de santidade
(Rm 1. 4); Espírito Santo (Sl 51. 11; Mt 1. 20; Lc 11. 13), que é o
“título mais formal do Espírito e mais frequentemente usado”; o
Santo (1Jo 2. 20);
- Há cinco títulos que se referem a Ele como autor da revelação e
da sabedoria: Espírito de Sabedoria (Ex 28. 3; Ef 1. 17); Espírito de
sabedoria e de entendimento (Is 11. 2 ); Espírito de conselho e de
fortaleza (Is 11. 2); Espírito de conhecimento e de temor do Senhor
(Is 11. 2 ); Espírito da verdade (Jo 14. 17);
- A graça divina é destacada em dois títulos: Espírito da graça (Hb
10. 29); Espírito da graça e de súplicas (Zc 12. 10);
- Há também o Espírito de adoção (Rm 8. 15), pois sua atuação
torna o indivíduo arrependido em filho adotivo de Deus.

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• Evidências da Natureza Pessoal do Espírito

Severa (2010, pág. 314-316) destaca alguns argumentos e textos


bíblicos que identificam a personalidade do Espírito de Deus:
Primeiro: Ele possui uma personalidade, possui qualidades
inerentes a uma pessoa, que o diferencia de coisas ou energias
impessoais como o vento, o ar, o fogo e a luz, pois possui inteligência (1Co
2. 10-12); consciência de si mesmo e dos outros ao redor (Jo 16. 13, 14);
decisão própria (1Co 12. 12); consciência da existência do bem e do mal (Gl
5. 16,17; Rm 8. 13); emoções (Ef 4. 30);
Segundo: Ele age como uma pessoa, fala à Igreja (At 13. 2; Ap 2. 7);
ensina (Jo 14. 26); convence (Jo 16. 8-11); intercede (Rm 8. 26); testemunha
a respeito de Cristo (Jo 15. 26); guia os obreiros (At 8. 29); orienta os
94 ˃˃˃

missionários na obra (At 16. 6, 7); designa obreiros para as igrejas (At 20.
28); distribui dons à igreja (1Co 12. 7-11);
Terceiro: o Espírito reage às atitudes humanas dos indivíduos
(At 5. 3, 4); pode ser ultrajado (Hb 10. 29); blasfemado (Mt 12. 31, 32);
Entristecido (Ef 4. 30);

• O Espírito Santo é Deus

O Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Trindade; logo, é divino. O


apóstolo Pedro ao afirmar que Ananias mentira e pecara contra o Espírito
Santo, explicou que esta mentira não foi a homens, mas foi a Deus (At 5. 3,
4) (SEVERA, 2010, pág. 315).
As qualidades inerentes a Deus que fazem parte de seus atributos
divinos, pertencentes somente à divindade, são também atribuídas ao
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Espírito Santo: Eternidade (Hb 9. 14); Onisciência (Sl 139. 1-6; 1Co 2. 10,
11); Onipresença (Sl 139. 7); Onipotência (Lc 1. 35; Gn 1. 2). Tudo o que
Deus fez é também obra do Espírito Santo: a criação (Gn 1. 2; Jó 33. 4); a
regeneração (Tt 3. 5); a justificação e a santificação (1Co 6. 11); a ressurreição
de Jesus (Rm 8. 11) (SEVERA, 2010, pág. 315, 316).
Há mensagens proferidas no Antigo Testamento por Deus que
são referidas em outros textos e relacionadas pelo Espírito Santo no
NT (compare Is 6. 8, 9 com At 28. 25, 26; Jr 31. 33, 34 com Hb 10. 15, 16)
(SEVERA, 2010, pág. 316). O apóstolo Paulo ensinou que o Espírito de Deus
é o próprio Yahweh, ao substituir Espírito Santo por Yahweh na citação
de Isaías 6. 8-10 feita aos judeus em Roma (At 28. 25-27) (FRANKLIN;
MYATT, 2008, pág. 179).
˂˂˂ 95

• Símbolos do Espírito Santo

Na Bíblia há inúmeras figuras de linguagem: metáforas, símiles,


símbolos, tipos, parábolas, alegorias e emblemas. Por trás de toda figura
de linguagem há uma realidade da verdade que não deve ser desprezada
por causa da forma em que ela é apresentada.

■ Óleo

A declaração de Pedro a Cornélio declara que Jesus foi “ungido”


com o Espírito Santo e com virtude (At 10. 38). Citou Isaías 61. 1, 2, sobre
a unção e capacitação do Messias. Jesus proclamou que esta unção do
Espírito Santo estava sobre ele para anunciar o evangelho aos pobres (Lc
4. 18). No AT, a unção com óleo era utilizada pra ungir os sacerdotes de
Javé, seus reis e seus profetas. Logo, o azeite é símbolo da consagração

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divina e da capacitação do Espírito Santo no crente para o serviço no reino
de Deus. Assim, esta unção capacita o fiel para servir a Deus (1Jo 2. 20, 27)
(MCLEAN in HORTON, 1996, pág. 389).

■ Água

A água é um elemento comum e que serve na Bíblia como figura do


julgamento divino (dilúvio, morte do exército egípcio no Mar Vermelho),
da Palavra de Deus (Jo 3. 5; Tt 3. 5; 1 Jo 5. 6, 8) e do próprio Espírito Santo.
Cristo conversou com a mulher samaritana (Jo 4. 4-26) e comparou a água
que Ele daria como “água viva”, que é prefigurada tipologicamente como
água corrente:

O Espírito Santo é tipificado pela água e este conjunto de


96 ˃˃˃

verdades é de fato extenso. Como a água é essencial para


a purificação e satisfação, para reviver e refrescar, assim o
Espírito Santo é vital para o filho de Deus. Este tema geral
pode ser dividido de uma maneira tríplice: (a) o Espírito
aplica o sangue de Cristo para toda purificação; (b) o Espírito
habita dentro do homem; e (c) as manifestações do Espírito
fluem (CHAFER, vol. 5 e 6, 2003, pág. 396, 397).

■ Fogo

O fogo é também um emblema do Espírito Santo, porque Ele é


comparado a “sete lâmpadas de fogo que ardiam diante do trono que
são os sete espíritos de Deus” (Ap 4. 5), e Seus dons no Pentecostes são
comparados a “línguas como que de fogo” (At 2. 3), Direta e indiretamente
o poder e o ministério do Espírito podem ser comparados ao fogo.
O zelo do serviço, a chama do amor, o fervor da oração, a sinceridade
do testemunho, a devoção da consagração, o sacrifício da adoração são
atribuídos ao Espírito (CHAFER, vol. 5 e 6, 2003, pág. 398).
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■ Vento

O sopro de Deus é assemelhado ao vento, e pode ser como um


julgamento (Is 40. 24) ou como uma bênção. Após a sua ressurreição, Jesus
soprou sobre os Seus discípulos e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.
22). Cristo comparou a obra do Espírito à ação do vento, quando disse a
Nicodemos: “O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do
Espírito” (Jo 3. 8) (CHAFER, vol. 5 e 6, 2003, pág. 398, 399).
Da mesma forma o Espírito inspirou homens santos para escrever
as Escrituras Sagradas. Pedro afirma: “Porque a profecia nunca foi
produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus
falaram movidos pelo Espírito Santo” (2Pe 1. 21). O Espírito veio no
˂˂˂ 97

Pentecostes como “vento impetuoso”, e assim Ele vem como um poder


despertador e revivificador para salvar os perdidos (CHAFER, vol. 5 e 6,
2003, pág. 398, 399).

■ Pomba

O Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma corporal semelhante


à de uma pomba no batismo de Cristo. Sobre este momento importante na
vida do Senhor sobre a terra, João Batista afirmou que ele mesmo viu o
Espírito Santo descer do céu como pomba (Jo 1. 30-34) (CHAFER, vol. 5 e
6, 2003, pág. 399, 400).

• O Espírito de Deus Auxilia a Igreja em sua Missão

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


O termo paracleto foi utilizado no evangelho de João e em 1João (Jo
14. 16, 26; 15. 26; 16. 7, referem-se ao Espírito Santo e, em 1Jo 2. 1 refere-se a
Cristo). Este termo é principalmente atribuído ao Espírito Santo e tem por
significado: ajudador, advogado, consolador. Logo, indica propriedades
pessoais. O próprio Senhor Jesus afirmou que o Espírito Santo seria
“outro paracleto”, que continuaria a obra de Cristo. Este “outro” indica
que Ele é da mesma natureza de Jesus. “O Espírito Santo é um Ser dotado
de personalidade e em nosso relacionamento com Ele é preciso levar em
conta a Sua vontade, os Seus desejos, os Seus propósitos aos quais todo o
nosso ser deve estar submisso” (SEVERA, 2010, pág. 315; CHAFER, vol. 5
e 6, 2003, pág. 384).
O termo grego paracleto tem trazido algumas dificuldades para os
tradutores, os quais procuram “interpretar” a palavra ao invés de apenas
“traduzi-la”. Jesus Cristo no Discurso do Cenáculo (Jo 13. 1 - 17. 26),
98 ˃˃˃

refere-se ao Espírito Santo como o paracleto diversas vezes. Nas versões


em português a palavra que traduz este termo é “consolador”, que é na
verdade uma interpretação. Desta forma, o paracleto significa literalmente
um ajudador ou alguém que é chamado para ficar ao lado para ajudar.
Este termo destaca sua toda-suficiência para agir. Inclui a ideia de consolar,
mas restringi-la apena a “consolo” é inadequado e incompleto (CHAFER,
vol. 5 e 6, 2003, pág. 384).
Esta palavra é formada de pela preposição grega para (para o
lado de) e o verbo grego kaleo (chamar). Corresponderia a um advogado
em uma corte de justiça atuando em prol de alguém. O Espírito Santo
é através desta palavra representado como advogado ou conselheiro.
Desta forma Ele “sugere um verdadeiro raciocínio para as nossas mentes,
e verdadeiros cursos de ação para nossas vidas, que convence nosso
adversário, o mundo, do erro, e pleiteia a nossa causa perante Deus nosso
Pai”. O mesmo autor observa que o Espírito Santo é outro advogado, pois
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Jesus Cristo foi apresentado primeiro nesta função (CHAFER, vol. 5 e 6,


2003, pág. 385).
Outro ponto a destacar em João 14. 26, na expressão “outro
consolador” é a palavra “outro”. Ela traduz allon que significa outro
igual (similar); não traduz a palavra grega heteron que significa “outro
diferente”. Cristo está dizendo que o Espírito Santo seria “outro similar” a
Si mesmo. A promessa de Jesus quanto a “outro” paracleto demonstra que
aquilo que Cristo foi para eles, o Espírito continuaria a ser (CHAFER, vol.
5 e 6, 2003, pág. 385).

SAIBA MAIS

Sobre a doutrina do Espírito Santo:


ERICKSON, Millard J. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
˂˂˂ 99

Pág. 343 a 365.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:


Vida Nova, 1999. Pág. 530 a 545.

EXERCÍCIOS

1. Cite títulos atribuídos ao Espírito Santo:


a) Que o associam a Cristo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
b) Que identifica seus atributos divinos.

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
c) Que revelam a sua santidade.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
d) Que o identificam como autor da revelação e da sabedoria.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________
100 ˃˃˃

2. Explique o termo paracleto e por que está relacionado com o


Espírito Santo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

_____________________________________________________________

SEÇÃO 2 – A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA BÍBLIA E NA VIDA


CRISTÃ

O objetivo desta seção é apresentar a ação do Espírito Santo tanto


no Antigo como no Novo Testamento e sua atuação na vida cristã a fim de
capacitar e fortalecer o discípulo de Cristo para uma vida cristã vitoriosa.
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• O Espírito Santo na Bíblia

Embora o Espírito Santo atue em toda a Bíblia, tanto no AT como


no NT. O(a) estudante perceberá que a diferença entre as duas atuações
não está na qualidade da atuação, mas na intensidade.

■ No Antigo Testamento

Apesar de que o nome “Espírito Santo” não seja comum no AT


(Sl 51. 11; Is 63. 10, 11) está presente e sempre atuante em toda a história
bíblica. Os nomes mais utilizados são “Espírito de Deus” e “Espírito do
Senhor”. No hebraico, o termo original traduzido por “espírito” é ruah,
˂˂˂ 101

que significa: fôlego, vento ou espírito. Aplicado este termo a Deus ressalta
o significado da ação de Deus neste mundo. O Espírito Santo também pode
ser chamado de “Executivo de Deus” (SEVERA, 2010, pág. 317).
Pode-se afirmar que “a obra do Espírito Santo consiste em
manifestar a presença ativa de Deus no mundo e em especial na igreja.”
Ele é a pessoa da Trindade que as Escrituras citam com mais frequência
como aquele que está presente para fazer a obra de Deus no mundo.
No AT, a presença de Deus era manifestada através da glória de Deus e
de teofanias; nos evangelhos, a manifestação divina ocorreu através do
próprio Senhor Jesus. Quando este subiu aos céus, o Espírito Santo passou
a ser a manifestação divina que atua de contínuo na igreja e através dela
até os dias de hoje (GRUDEM, 1999, pág. 530).
Desde a criação, o Espírito Santo está atuando para completar
e sustentar aquilo que Deus Pai planejou e o Filho executou. Logo em
Gênesis 1. 2, “o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. No dia de

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


Pentecostes, com o início da nova criação, em Cristo,
O Espírito Santo veio para conceder poder à Igreja (At 1. 8; 2. 4; 17-
18). Mesmo no AT havia a predição de que o Espírito Santo traria bênçãos
abundantes da parte de Deus. Isaías predisse esse tempo de grande
renovação (Is 44. 3). Leia também Isaías 32. 14-18 (GRUDEM, 1999, pág.
531).
Por outro lado, o pecado e o afastamento do Espírito Santo fizeram
com que a bênção divina fosse retirada do meio do povo (Is 63. 10). Porém,
inúmeras profecias no AT anunciaram o tempo em que o Espírito Santo
viria de modo mais pleno e abundante, quando Deus faria uma aliança
nova com seu povo (Ez 36. 26, 27; 37. 14; 39. 29; Jl 2. 28-29) (GRUDEM,
1999, pág. 531).
Severa resume a atuação Espírito Santo percebida no AT (2010,
pág. 317, 318):
102 ˃˃˃

- Na criação: o Espírito de Deus atua no segundo versículo da


Bíblia, gera e estabelece ordem no caos (Gn 1. 2; Jó 26. 13);
- Na história de Israel: O Espírito atuou em toda a história do
povo de Israel; pessoas escolhidas por Deus eram dotadas de
poderes especiais para realizarem grandes feitos (Ex 31. 2-5; Jz 11.
29, 32; 14. 6);
- Na revelação dos escritos bíblicos: o Espírito capacitava os
profetas para compreenderem a vontade e os desígnios divinos;
também eram capacitados a transmitirem esta mesma mensagem
(Nm 11. 25; Ez 2. 2; 8. 3; 11. 1, 2);
- No caráter das pessoas: o Espírito Santo atuou no caráter daqueles
que foram escolhidos por Deus (Sl 143. 10; Is 63. 10);
- Na profecia que o Messias seria ungido (Is 11. 2; 42. 1; 61. 1-3).
Promessa cumprida em Cristo;
- Na profecia que seria derramado sobre todos (Is 32. 15; 44. 3;
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Ez 39. 28, 29; Jl 2. 28, 29): Foi cumprida no dia do Pentecostes e


inaugurou a terceira etapa do ministério do Espírito de Deus.
É importante observar sobre a atuação do Espírito de Deus no
AT. Muitos têm se equivocado em achar que o Espírito Santo não agia
dentro das pessoas antes do Pentecostes. Esta ideia foi o resultado da
interpretação de João 7. 39 e 14. 17. Não é possível concluir que não havia
uma ação do Espírito Santo no interior das pessoas antes do cumprimento
profético do derramamento do Espírito (Jl 2. 28 e At 2. 1-4). Mesmo que
não haja, com frequência, menção de pessoas que tinham dentro de si o
Espírito Santo ou que dele tinham a plenitude, há alguns exemplos a serem
destacados: Josué é descrito como homem que tem o Espírito (Nm 27. 18;
Dt 34. 9), Ezequiel (Ez 2. 2; 3. 24), Daniel (Dn 4. 8-9, 18; 5. 11) e Miqueias (3.
8) (GRUDEM, 1999, pág. 533).
˂˂˂ 103

■ No Novo Testamento

Quando Jesus disse em João 7. 39 e 14. 17 sobre o recebimento do


Espírito por parte dos discípulos, não significava que não havia qualquer
atividade do Espírito na vida das pessoas antes do Pentecostes.

Ambas as passagens devem ser maneiras diferentes de dizer


que a obra mais poderosa, mais plena do Espírito Santo,
característica da vida após o Pentecostes, ainda não havia
começado na vida dos discípulos. O Espírito Santo não
havia chegado dentro deles do modo pelo qual Deus havia
prometido colocá-lo dentro do seu povo quando viesse
a nova aliança (Ez 36. 26, 27; 37. 14), nem o Espírito Santo
havia sido derramado com grande abundancia e plenitude
que caracterizaria a era da nova aliança (Jl 2. 28-29). Nesse
sentido poderoso da nova aliança, o Espírito Santo ainda
não estava operando dentro dos discípulos (GRUDEM, 1999,
pág. 533).

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


A obra do Espírito Santo no NT é vista primeiramente nos
Evangelhos, na unção e capacitação de Jesus Cristo como Messias. O
Espírito Santo desceu sobre Cristo no momento do batismo (Mt 3. 16; Mc 1.
11; Lc 3. 22). João Batista mesmo afirmou da vinda do Espírito sobre Jesus
(Jo 1. 32). Em seguida, o Senhor foi conduzido “cheio do Espírito Santo”
(Lc 4. 1) ao deserto para ser tentado pelo diabo. Após a tentação, Cristo
“no poder do Espírito” retornou para a Galileia (Lc 4. 14) (GRUDEM, 1999,
pág. 533).
Em Nazaré, ao pregar na sinagoga, Jesus declarou o cumprimento
da profecia de Isaías 61. 1 e 2 (compare com Lucas 4. 18, 19). O poder
capacitador do Espírito é evidente nas curas, milagres e expulsão de
demônios (Lc 4. 36, 40-41). A expulsão de demônios, segundo o próprio
Jesus, era “pelo Espírito de Deus” (Mt 12. 28). “Jesus tinha uma unção do
Espírito Santo sem medida, e essa unção permanecia sobre Ele” (At 10. 38)
104 ˃˃˃

(GRUDEM, 1999, pág. 533).


O Espírito de Deus também capacitou os discípulos de Cristo a
desempenharem seus ministérios. A promessa foi: “mas recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At
1. 8) (GRUDEM, 1999, pág. 534). Há inúmeros registros do sobrenatural
do Espírito Santo capacitando os primeiros cristãos a operarem milagres à
medida que proclamavam o Evangelho (Estevão, At 6. 5, 8; Paulo, Rm 15.
19; 1Co 2. 4; At 4. 8, 31; 6. 10; 1Ts 1. 5; 1Pe 1. 12). O NT encerra sua revelação
com um convite do Espírito Santo e da igreja, que juntos convidam as
pessoas à salvação (Ap 22. 17) (GRUDEM, 1999, pág. 534).
Outra ação do Espírito Santo é conceder dons espirituais para
capacitar os cristãos para o ministério. Paulo afirma que é o mesmo
Espírito que realiza todas as coisas, distribuindo dons conforme ele decide
(1Co 12. 11). A atuação do Espírito é tão intensa que os dons espirituais
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são chamados de “manifestações” do Espírito Santo (1Co 12. 7). “Os dons
espirituais representam um sinal da presença de Deus Espírito Santo na
Igreja” (GRUDEM, 1999, pág. 534).

• A Obra do Espírito Santo na Vida Cristã

O Espírito Santo tem por missão aplicar a salvação na vida do novo


discípulo até que este alcance a estatura completa de Cristo (SEVERA,
2010, pág. 332).

■ Ajuda a Orar

Na vida devocional dos fieis a Cristo, o Espírito de Deus concede


˂˂˂ 105

poder para orar de forma eficaz (Rm 8. 26). Paulo mostra que o acesso ao
Pai é através do Espírito (Ef 2. 18) e que esta oração pode ocorrer em outras
línguas (1Co 12. 10-11; 14. 2; 14-17) (GRUDEM, 1999, pág. 534).

■ Santifica

O próprio nome atribuído à Terceira Pessoa da Trindade mostra


que uma das suas atividades principais é purificar o fiel do pecado,
santificá-lo e torná-lo santo em sua conduta diária. Até mesmo na vida
dos incrédulos há alguma influência do Espírito de Deus, pois é ele quem
convence o mundo do pecado humano, da justiça e do juízo divinos (Jo 16.
8-11; At 7. 51) (GRUDEM, 1999, pág. 535).
Quando o pecador se converte a Deus, o Espírito realiza nele uma
obra inicial de purificação (1Co 6. 11; Tt 3. 5). Após o primeiro passo de
rompimento inicial com o pecado, ele produz no fiel o “fruto do Espírito”

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


(Gl 5. 22-23), que são as qualidades do caráter de Deus implantadas na
alma do discípulo. Esta santificação é obra do Espírito Santo (2Co 3. 18;
2Ts 2. 13; 1Pe 1. 2; Rm 8. 4, 15-16). Somente com a força e o poder divinos é
possível alguém vencer a carne e crescer em sua santidade pessoal (Rm 8.
13; Fp 1. 19) (GRUDEM, 1999, pág. 535).

■ Ensina e Revela

Foi o Espírito Santo quem revelou a verdade divina aos profetas


e aos apóstolos. Toda Escritura Sagrada chegou até hoje por homens
inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1. 21; Mt 22. 43; At 1. 16; 4. 25, 26; 28.
25). Os apóstolos e outros escritores foram guiados pelo Espírito em toda a
verdade (Jo 16. 13; Ef 3. 5). Outros foram cheios do Espírito Santo e falaram
ou cantaram palavras que se tornaram parte das Escrituras: Isabel (Lc 1.
106 ˃˃˃

41), Zacarias (Lc 1. 67) e Simeão (Lc 2. 25) (GRUDEM, 1999, pág. 535).
Além de revelar, Ele capacita o fiel a compreender a revelação
(1Co 2. 12). Por este motivo, quem não possui o Espírito de Deus não está
apto a compreender assuntos espirituais (1Co 2. 14-15). Esta foi a oração do
salmista: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas
da tua lei” (Sl 119. 18). Observe também as palavras de Paulo em Efésios 1.
17-19 (GRUDEM, 1999, pág. 539).

■ Regeneração

O Espírito de Deus transmite vida espiritual ao fiel e o santifica,


unindo-o a Cristo (Jo 3. 6; Ef 2. 1; 1Co 6. 11). “Neste ato regenerador, o
crente é transformado moral e espiritualmente, e é colocado no Corpo de
Cristo, a Igreja, em sentido universal (1Co 12. 13; 1Pe 2. 4, 5) (SEVERA,
2010, pág. 333). Da mesma forma que o Espírito sustenta a vida humana e
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animal na terra, ele também sustenta a vida espiritual do fiel (Jo 6. 63; 2Co
3. 6) (GRUDEM, 1999, pág. 532).

■ Selo do Espírito

O termo “selo” “indica que aquele indivíduo pertence a Deus, que


ele tem a promessa da vida eterna garantida e está seguro eternamente”. O
Espírito Santo sela aqueles que creram no momento quando foram unidos
a Cristo (2Co 1. 22; Ef 1. 13; 4. 30) (SEVERA, 2010, pág. 333).

EXERCÍCIOS

1. De uma forma geral, qual foi a atuação do Espírito Santo no AT?


˂˂˂ 107

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________

2. Cite algumas das atividades do Espírito Santo na vida cristã.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_____________________________________________________________

SEÇÃO 3 – A AÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ E OS


DONS ESPIRITUAIS

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã



O objetivo desta seção é dar continuidade à seção anterior que
aborda sobre a ação do Espírito Santo na vida cristã e uma análise dos
dons espirituais como capacitações sobrenaturais de Deus para o fiel.

• Ação do Espírito Santo na Vida Cristã

Além das atuações do Espírito Santo vistas na seção anterior, é


possível identificar mais algumas ações divinas na vida do fiel.

■ Habitação no Crente

O Espírito Santo passa a habitar naquele que creu e se comprometeu


108 ˃˃˃

com Jesus Cristo e o recebeu como seu Salvador e Senhor (Jo 14. 16, 17; Rm
8. 9; 1Co 6. 19). No NT, a habitação do Espírito no salvo é a garantia desta
salvação (Ef 1. 13). Esta habitação do Espírito é um dom Gratuito de Deus
(Rm 5. 5); é pela graça e não é meritório (1Co 3. 3, 16) (SEVERA, 2010, pág.
333).
A presença do Espírito Santo na vida do fiel resulta em uma
santificação contínua, cujo objetivo é torná-lo semelhante a Cristo; este é o
alvo e padrão para o salvo. Ele fortalece a vida espiritual do fiel (Ef 3. 16);
ajuda no combate às paixões da carne, a vencer as tentações e desenvolver
sua vida cristã (Rm 8. 6-9, 11, 13; Gl 5. 16-26); promove a progressiva
santificação no crente (2Co 3. 18) e implanta nele o fruto do Espírito (Gl 5.
22, 23) (SEVERA, 2010, pág. 334).

■ Ensino e Consolo
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O Espírito Santo confirma no interior do fiel a sua relação filial


com Deus, o que resulta em segurança espiritual para quem nasceu de
novo (Rm 8. 14-17). Auxilia o discípulo de Cristo quando está abatido,
desanimado, dando o devido consolo (Jo 14. 16-18). Traz alegria ao coração,
paz e esperança (Rm 14. 17; 15. 13). Ensina e dirige aquele que nasceu de
novo para que identifique, conheça e viva a verdade mais e mais (1Jo 2. 27)
(SEVERA, 2010, pág. 334, 335).

■ Poder Espiritual

O poder concedido pelo Espírito de Deus resulta em: 1) coragem


para proclamar o nome de Jesus mesmo em uma sociedade hostil (At 1. 8;
2. 22-24; 4. 18-20); 2) capacidade para realizar obras incomuns (Hb 2. 4); e
3) resistência ao poder da natureza carnal e do tentador na vida pessoal (Gl
˂˂˂ 109

5. 16-25);

■ Plenitude do Espírito Santo

“Plenitude do Espírito é o mesmo que ser ou estar cheio do Espírito


Santo”. Há vários exemplos desta plenitude no NT (At 2. 4; 4. 8, 31; 6.
3, 5; 11. 24; Ef 5. 18). Esta plenitude tem por significado a atuação plena
do Espírito Santo na vida do fiel, o que resulta no modo como o cristão
deve viver e agir segundo a vontade de Deus. É evidenciada também por
sabedoria espiritual, um caráter aperfeiçoado, capacitação para realização
da obra do Senhor (At 6. 3; Gl 5. 22, 23; At 2. 4; 4. 31). Estar cheio do Espírito
Santo não significa ter chegado à maturidade cristã (SEVERA, 2010, pág.
337).

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• Dons Espirituais

O termo “dons espirituais” traduz a palavra grega pneumatikon,


derivado de pneuma, “espírito” (1Coríntios 12. 1; 14. 1, 12). Através de
uma variedade de dons espirituais concedidos sobrenaturalmente aos
crentes o Espírito Santo age no meio da igreja e através dela (1Co 12. 7-11).
O objetivo dessas manifestações do Espírito é a edificação e a santificação
do povo de Deus (1Co 12. 7; 14. 26). Esses dons e ministérios não são
os mesmos de Romanos 12. 6-8 e Efésios 4. 11, através dos quais o fiel
recebe poder e capacidade para servir na igreja de modo mais permanente
(ARAUJO, 2007, pág. 268).
Pode-se dizer a respeito dos dons que essas manifestações do
Espírito ocorrem conforme a soberana vontade do Espírito (1Co 12. 11),
diante de uma necessidade, e também conforme o desejo na busca desses
110 ˃˃˃

dons (1Co 12. 31; 14.1). Não se deve confundir: os dons do Espírito com o
fruto do Espírito, o qual se relaciona mais diretamente com a soberania de
Deus na vida do indivíduo, e que produz o caráter de Cristo e a santificação
no discípulo (Cl 5. 22, 23) (ARAUJO, 2007, pág. 268).
Araujo (2007, pág. 268-270) observa que em 1Coríntios 12. 8-10, o
apóstolo Paulo apresenta uma diversidade de dons (derivado de charis,
“graça”) que o Espírito Santo concede aos crentes:

■ Dom da Palavra da Sabedoria (1Co 12. 8)

Quanto ao dom da palavra de sabedoria, o Dicionário Pentecostal


diz “Trata-se de uma mensagem vocal sábia, enunciada mediante a
operação sobrenatural do Espírito Santo. Tal mensagem aplica a revelação
da Palavra de Deus ou a sabedoria do Espírito Santo a uma situação ou
problema específico” (At 6. 10; 15. 13-22).
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É uma manifestação do Espírito Santo em um momento de


necessidade e não se refere à sabedoria proveniente do relacionamento
com Deus, nem é obtida pelo estudo e meditação nas coisas de Deus e na
sua Palavra (Pv 1. 7; Tg 1. 5, 6) (ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dom da Palavra do Conhecimento (1Co 12. 8)

O dom da palavra de conhecimento “trata-se de uma mensagem


vocal, inspirada pelo Espírito Santo, revelando conhecimento a respeito
de pessoas, de circunstâncias, ou de verdades bíblicas”. Este surge com
frequência relacionado com o dom da profecia (At 5. 1-10; 1 Co 14. 24, 25)
(ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dom da Fé (1Co 12. 9)


˂˂˂ 111

O dom da fé não se trata da fé salvífica, mas de uma “fé sobrenatural


especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em
Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas”. Esta fé
remove montanhas (1Co 13. 2) e opera com frequência em conjunto com
outras manifestações dadas pelo Espírito (por exemplo, as curas e os
milagres) (Mt 17. 20; Mc 11. 22-24) (ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dons de Curas (1Co 12. 9, 28, 30)

Dons de curas é a tradução da expressão grega charismata


iamatōn. “Esses dons são concedidos à igreja para a restauração da saúde
física, por meios divinos e sobrenaturais (Mt 4. 23-25; 10. 1; At 3. 6-8; 4.
30)”. Quanto ao plural utilizado “dons” o Dicionário Pentecostal sugere
que isto define curas de diferentes enfermidades e afirma que cada ato
de cura vem de um dom especial de Deus. Embora os dons de curas não

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


sejam concedidos a todos os membros do corpo de Cristo (1Co 12. 11, 30),
todavia, eles são convocados a orar pelos enfermos (Mc 16. 18; Tg 5. 14-16)
(ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dom de Operação de Milagres (1Co 12. 10)

O dom de operação de milagres “trata-se de atos sobrenaturais de


poder que intervêm nas leis da natureza. Incluem atos divinos em que se
manifesta o reino de Deus contra satanás e os espíritos malignos (Jo 6. 2)”
(ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dom de Profecia (1Co 12. 10)

E preciso distinguir entre o dom da profecia e o ministério


112 ˃˃˃

profético. Esta profecia mencionada em 1Co 12. 10 é uma manifestação


momentânea do Espírito. O ministério profético da profecia é um dom
ministerial na igreja, mencionado em Efésios 4. 11 (ARAUJO, 2007, pág.
269).
Araujo (2007, pág. 269) também esclarece que o dom ministerial
de profecia é concedido a alguns crentes, os quais servem na igreja como
ministros profetas. A manifestação do Espírito está potencialmente
disponível a todo discípulo de Cristo (At 2. 16-18). Quanto à profecia,
como manifestação do Espírito, observe o seguinte:
- Este dom capacita o discípulo a “transmitir uma palavra ou
revelação diretamente de Deus, sob o impulso do Espírito Santo
(1 Co 14. 24-31)”. Não se refere a uma pregação previamente
preparada;
- Embora o termo “profecia” seja associado à predição futura,
tanto no AT como no NT o profetizar é “proclamar a vontade
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de Deus e exortar e levar o seu povo à retidão, à fidelidade e à


paciência (1Co 14. 3)”;
- A mensagem profética serve para revelar a condição do coração
de uma pessoa (1Co 14. 25), ou prover edificação, exortação,
consolo, advertência e julgamento (1Co 14. 3, 25, 26, 31);
- As profecias devem ser provadas e o profeta não pode ser
considerado infalível, pois há atuação de falsos profetas (1 Jo
4. 1), além de profecias emotivas, cuja origem não é do Espírito
Santo. Assim, toda profecia deve ser analisada e julgada quanto à
sua autenticidade e conteúdo (1Co 14. 29, 32; 1 Ts 5. 20, 21). Não
poderá conflitar com os princípios e verdades reveladas na Palavra
de Deus (1Jo 4. 1); deve contribuir para a o crescimento espiritual
dos ouvintes (1Co 12. 3);
- A pessoa através de quem o Espírito manifesta o dom da profecia
˂˂˂ 113

não possui o comando do dom. Ou seja, a mensagem profética


ocorre na igreja somente quando Deus desejava usar determinado
profeta para esse fim (1Co 12. 11).

■ Dom de Discernimento de Espíritos (1Co 12. 10)

Trata-se de uma manifestação do dom que torna ao fiel apto


a discernir e julgar corretamente se as profecias ou as manifestações
espirituais provêm do Espírito Santo ou não (1Co 14. 29; 1Jo 4. 1). Quanto
mais se aproxima a volta do Senhor, cada vez mais haverá falsos mestres
(Mt 24. 5), distorção do cristianismo bíblico (1Tm 4. 1) e esse dom espiritual
torna-se essencial para a igreja (ARAUJO, 2007, pág. 269).

■ Dom de Variedades de Línguas (1Co 12. 10)

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


As línguas em idiomas diferentes são muito comuns no ambiente
pentecostal. O capítulo 12 de 1Coríntios refere-se às “línguas” (gr. glōssa)
como manifestação sobrenatural do Espírito. Observa-se o seguinte a esse
respeito (ARAUJO, 2007, pág. 269, 270):
- Essas línguas podem ser humanas e presentes nas diversas
nações (At 2. 4-6) ou pode ser uma língua desconhecida na terra
como mencionou Paulo sobre a “língua dos anjos” (1Co 13. 1).
Essa língua falada através da manifestação do Espírito Santo
não é aprendida normalmente e não é logo entendida, nem por
quem fala nem por quem as ouve, por ser um idioma diferente do
ouvinte (1Co 14. 14-20);
- O falar em outras línguas possibilita comunicação entre o
espírito do indivíduo e o Espírito de Deus; possibilita ao discípulo
a comunicação direta com Deus a fim de orar, louvar ou render-lhe
114 ˃˃˃

graças; é uma expressão do espírito humano e não da mente


consciente (1Co 14. 2, 14, 15, 28; Jd 20);
- As línguas diferentes faladas no culto devem ser seguidas de
sua interpretação, que ocorre também através da ação do Espírito
de Deus, a fim de que a congregação compreenda e seja edificada
(1Co 14. 3, 27, 28). Ela pode conter revelação, advertência, profecia
ou ensino (1Co 14. 6);
- Paulo deixa claro que a edificação tem prioridade em um culto
cristão. Por isso deve haver ordem quanto ao falar em línguas
em voz alta durante o culto. Quem fala em línguas pelo Espírito,
nunca fica “fora de controle” (1Co 14. 27, 28).

A expressão “língua estranha” e “outra língua” (gr. glossa, língua)


aparecem nos textos em 1Coríntios 14. 2, 4, 5, 6, 13, 14, 23, 27 (ARA 1993;
ARC 1995). “Não constam no texto grego do NT, sendo acrescentados
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nestas versões para dar ênfase ao caráter distintivo dessas línguas”


(GERMANO, 2011, pág. 18).

■ Dom de Interpretação de Línguas (1Co 12. 10)

O dom de interpretação de línguas é a “capacidade concedida


pelo Espírito Santo, para o portador deste dom compreender e transmitir o
significado de uma mensagem dada em línguas”. A interpretação de uma
mensagem em línguas pode ser um meio de edificação da congregação
inteira, pois toda ela recebe a mensagem (1Co 14. 6, 13, 26). A interpretação
pode vir através de quem deu a mensagem em línguas ou de outra pessoa.
Quem fala em línguas deve orar para que possa interpretá-las (1Co 14. 13)
(ARAUJO, 2007, pág. 270).
˂˂˂ 115

EXERCÍCIOS

1. Cite outras ações que o Espírito de Deus promove na vida do


cristão.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________________________________________________________________
2. O que são os dons espirituais?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
_________________________________________________________________
3. Quais os objetivos dos dons espirituais?
______________________________________________________________

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

SEÇÃO 4 - BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

O objetivo desta última seção é abordar o Derramamento do


Espírito Santo profetizado por Joel e cumprido em Atos 2. Estudaremos
argumentos em favor do batismo no Espírito Santo como uma “segunda
bênção” e também refutações a essa visão pentecostal.
Teólogos pertencentes às inúmeras denominações tradicionais,
reformadas e históricas, apresentam proposições conflitantes com a ideia
116 ˃˃˃

pentecostal clássica que define o Batismo no Espírito Santo. Questionam a


sua natureza, nomenclatura e atualidade desta experiência.

• O Derramamento do Espírito Santo

João Batista ratifica a promessa do derramamento do Espírito


Santo (Jl 2. 28; Mt 3. 11) assegurando que o Senhor Jesus é quem cumpriria
esta promessa (Lc 24. 49; At 1. 4, 5; 2. 33). O cumprimento histórico da
promessa ocorreu em Jerusalém no dia de Pentecostes sobre os judeus
convertidos (At 2. 2-4). Houve outras manifestações posteriores que
confirmam a promessa para a igreja de Cristo (SEVERA, 2010, pág. 321).

■ Em Jerusalém, Sobre os Cristãos Judeus


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O Pentecostes, festa religiosa dos judeus se realizou Cinquenta


dias após a Páscoa em Jerusalém a fim de celebrar a colheita das primícias
dos frutos. Naquela data havia judeus e prosélitos de varias regiões da
terra. O derramamento foi evidenciado pelos idiomas das nações que
visitaram a festa, o que autenticou a ocorrência sobrenatural (At 2. 1-2)
(SEVERA, 2010, pág. 321,322).

■ Em Samaria, sobre Cristãos Samaritanos

Os novos crentes samaritanos também receberam o derramamento


do Espírito Santo. O registro bíblico mostra que mediante a imposição das
mãos dos apóstolos, algo extraordinário aconteceu, pois o próprio Simão
reconheceu a presença do Espírito Santo (At 8. 14-19) (SEVERA, 2010, pág.
322).
˂˂˂ 117

■ Em Cesareia, sobre Cristãos Gentios

O Espírito Santo foi derramado na cidade de Cesareia, na casa de


Cornélio (At 10. 4-46). Isto ocorreu antes que fossem batizados em águas.
Falaram em línguas, que foi o sinal de que o Espírito Santo foi derramado
sobre eles também (SEVERA, 2010, pág. 322)

■ Em Éfeso, Sobre Cristãos Seguidores de João Batista

Um grupo de discípulos de João Batista também presenciou o


fenômeno do derramamento do Espírito Santo, na cidade de Éfeso, através
da imposição de mãos dos apóstolos: receberam o Espírito Santo, falaram
em línguas e profetizaram (SEVERA, 2010, pág. 322, 323).
Severa afirma que:

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


O derramamento do Espírito Santo, sobre os judeus,
samaritanos, gentios, discípulos de João, foi necessário para
convencer os judeus de que a promessa não era somente
para eles, e também para comprovar o fato de que a igreja
de Cristo não seria constituída somente de judeus, mas de
pessoas de todas as raças e nações da terra (2010, pág. 323).

Em Atos 2. 39 esta ideia é ratificada, mostrando que a promessa


era sobre “toda a carne” e para “tantos quantos Deus nosso Senhor
chamar”. Este derramamento do Espírito Santo, confirmado por sinais
extraordinários, colaborou intensamente para a aceitação na incipiente
igreja cristã dos samaritanos, dos gentios e de outros grupos discriminados
pelos judeus (At 11. 17, 18) (SEVERA, 2010, pág. 323).
118 ˃˃˃

• O Conceito Pentecostal do Batismo no (com) o Espírito


Santo: uma Bênção Posterior à Regeneração

O comentário da Bíblia Pentecostal (2007, pág. 1627) sobre o


Batismo no Espírito Santo explica que

O Batismo com o Espírito Santo é uma obra distinta e à parte


da regeneração, também por Ele efetuada. Assim como a obra
santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação
à Sua obra regeneradora, o batismo também complementa
a obra regeneradora e santificadora do Espírito. [...] Ser
batizado no Espírito significa experimentar a plenitude do
Espírito (At 1. 5; 2. 4). Este batismo teria lugar somente a
partir do dia de Pentecostes. Quanto aos que foram cheios do
Espírito Santo antes do pentecostes (e.g. Lc 1. 15, 67), Lucas
não emprega a expressão ‘batizados no Espírito Santo’. Este
evento só ocorreria depois da ascensão de Cristo (At 1. 2-5,
Lc 24. 49-51, Jo 16. 7-14).
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A nomenclatura deste derramamento possui algumas variantes


(na versão Almeida Revista e Atualizada): “batismo com o Espírito Santo”,
“batizará com o Espírito Santo”, “batiza com o Espírito Santo”, “batizados
com o Espírito Santo” (Mt 3. 11; Mc 1. 8; Lc 3. 16; Jo 1. 33; At 1. 5; At 11. 16)
(BÍBLIA ON LINE).
Em Atos 1. 5 está escrito “ Porque João, na verdade, batizou com
água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois
destes dias”. Ao comentar este versículo, a Bíblia Pentecostal (1995, pág.
1626) esclarece que a partícula grega en que traduz a preposição “com” na
expressão “com o Espírito Santo” pode ser traduzida como “em” ou “com”.
Por este motivo, muitos optam por outra tradução “sereis batizados no
Espírito Santo” (GERMANO, 2011, pág. 16).
Myer Pearlman disse que o batismo no Espírito Santo é um
revestimento descrito como batismo em Atos 1. 5. Assim, quando a palavra
˂˂˂ 119

“batismo” é aplicada à experiência espiritual, é usada em sentido figurado


para descrever a imersão no poder capacitador e vitalizador do Espírito de
Deus (GERMANO, 2011, pág. 17).
Andrade, em seu Dicionário Teológico, define o batismo com o
Espírito Santo como um

Revestimento de poder que, segundo os evangelhos e o livro


de Atos dos Apóstolos, segue-se à conversão a Cristo Jesus.
Tornando-se realidade no cenáculo, na casa de Cornélio e
entre os doze de Éfeso, a experiência do batismo no Espírito
Santo fez-se padrão na vida dos seguidores do Nazareno
(GERMANO, 2011, pág. 17).

Antônio Gilberto define o batismo com o Espírito Santo como

Um revestimento e derramamento de poder do Alto, com

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


a evidência física inicial de línguas estranhas, conforme o
Espírito Santo concede pela instrumentalidade do Senhor
Jesus, para o ingresso do crente numa vida de mais profunda
adoração e eficiente serviço para Deus (Lc 24. 49, At 1. 8; 10.
46, 1 Co 14. 15, 26) (GERMANO, 2011, pág. 18).

O pastor e teólogo batista Enéas Tognini escreve

O batismo no Espírito que os 120 receberam no Pentecostes,


foi uma bênção distinta do NOVO NASCIMENTO ou
regeneração, porque já tinham nascido de novo, portanto
eram regenerados [...] essa BÊNÇÃO (do batismo no
Espírito) transformou os discípulos covardes e negadores –
em fieis testemunhas do Senhor Crucificado (GERMANO,
2011, pág. 18, 19).

John Fletcher de Madeley o expressou assim: “Cada cristão deve


120 ˃˃˃

ter o seu Pentecostes”. R. A. Torrey afirmou que o batismo no Espírito Santo


é uma operação do Espírito Santo diferente do novo nascimento; é uma
concessão de capacitação para o serviço. Não é apenas para os apóstolos
do primeiro século, mas para todos os que estão longe, para todos quantos
o Senhor o nosso Deus, chamar. Ela é dada a cada fiel, de todas as épocas,
de todos os lugares durante a história da Igreja (GERMANO, 2011, pág. 19,
20).
Fica claro nas presentes definições, que o batismo com o Espírito
Santo é entendido como um acontecimento ou evento distinto da
regeneração do Espírito (At 2. 1- 4; 8. 12 -17; 19. 1-7). Para entender melhor a
distinção entre regeneração e batismo com o Espírito Santo, é preciso saber
que a obra regeneradora do Espírito consiste na transformação operada no
interior do ser humano (aspecto subjetivo da salvação), também chamada
de nova criação (2Co 5. 17; Ef 2. 10; 4. 24), renovação (Ef 4. 24; Tt 3. 5), nova
geração (1Pe 1. 23) ou novo nascimento (Jo 3. 3-8), por ocasião de sua fé na
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obra salvífica de Cristo (GERMANO, 2011, pág. 20, 21).


Com a regeneração, a vida de Deus é comunicada ao ser humano
e Ele promove vida espiritual abundante e eterna (Jo 10. 10; Rm 6. 13; Ef
2. 1), realiza uma mudança na disposição do coração, de onde procedem
todas as decisões e atitudes humanas (Mt 15. 19; Rm 6. 17). A regeneração
torna o indivíduo filho de Deus (Jo 1. 12- 13; Rm 8. 16), herdeiros de Deus
e co-herdeiros de Cristo (Rm 8. 17). O batismo no Espírito Santo, como
experiência subsequente, é operado na vida dos que já foram regenerados,
capacitando-os com um revestimento de poder para a vida e serviço cristão
(Lc 24. 49; At 1. 8) (GERMANO, 2011, pág. 21).
˂˂˂ 121

• Conceitos Discordantes do Conceito Pentecostal do


Batismo no Espírito Santo

O conceito pentecostal clássico não é aceito unanimente pelos


estudiosos. Podem-se destacar quatro questionamentos básicos à ideia
pentecostal sobre o batismo no Espírito Santo e algumas refutações
pentecostais a eles:

■ O Batismo com Espírito Santo é uma referência ao Novo


Nascimento, à regeneração do Espírito e não a uma segunda
bênção

Grudem comenta o texto de 1Coríntios 12. 13: “Pois, em um só


Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer
gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só
Espírito”. Afirmou que a expressão utilizada “todos nós” (hemeis pántes)

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


atesta que todos os verdadeiros cristãos foram batizados em um só Espírito.
Sobre o mesmo texto, John R. Stott chega à conclusão de que as evidências
reunidas do Novo Testamento em geral e do sermão de Pedro em Atos
2, mostra que o “batismo” do Espírito (1Co 12. 13), é idêntico ao “dom”
do Espírito (At 1. 5). Assim, não existiria uma “segunda experiência”,
distinta da conversão, pois isto não poderia ser comprovado nas Escrituras
Sagradas (GERMANO, 2011, pág. 24).
J. I. Packer também rejeitou a ideia de que o Batismo no Espírito
Santo é uma experiência distinta e subsequente à conversão. Augustos
Nicodemus Lopes afirmou que “aqueles que insistem na ideia do batismo
com o Espírito Santo ser uma experiência distinta da bênção da conversão,
uma obra de caráter especial na vida de alguns crentes, acabam de perceber
o quanto isto compromete a unidade do corpo de Cristo”. Gordon D. FEE,
de origem pentecostal, também concordou com a teologia tradicional de
122 ˃˃˃

que não há base escriturística que autorize a separação entre conversão e


uma segunda experiência (GERMANO, 2011, pág. 24, 25).

■ O Batismo com Espírito Santo Foi um Momento Único na


História que Não Deve Ser Imitado nos dias de hoje

Errol Hulse alegou que o Pentecostes como promessa, tal como é


explicado em Atos 15. 8, 9 é um fato histórico isolado e que em nenhum
outro lugar do NT haveria referência a uma experiência semelhante a
esta. Hulse ignora as promessas nos Evangelhos (Mc 1. 8 e Lc 24. 49) e não
comenta Atos 2. 39 (GERMANO, 2011, pág. 30).

SAIBA MAIS

Sobre o batismo e plenitude do Espírito Santo:


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GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:


Vida Nova, 1999. Pág. 635 a 658.

EXERCÍCIOS

1. Cite no livro de atos situações e sobre quem que houve o


derramamento do Espírito.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

2. Explique a visão pentecostal do Batismo no Espírito Santo.


______________________________________________________________
˂˂˂ 123

______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

3. Cite os dois principais argumentos contrários à visão pentecostal


do Batismo no Espírito Santo.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


124 ˃˃˃

RESUMO DA UNIDADE

Nesta Unidade estudamos a Doutrina do Espírito Santo, alguns


nomes e títulos que descrevem sua ação, natureza e personalidade. Vimos
que o Espírito de Deus é divino, apesar de haver grupos cristãos que negam
isto. Foram apresentados os principais símbolos bíblicos para designar o
Espírito. Foi apresentada uma visão geral da atuação do Espírito divino
tanto no AT como no NT, além de sua ação na vida cristã e na Igreja de
Cristo. Estudamos os dons espirituais e a visão pentecostal a respeito deles.
A última seção desta Unidade apresentou a visão pentecostal do Batismo
no Espírito Santo e refutações a essa visão.

Teologia e História:
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

Questões Fundamentais da
Teologia Cristã

UNIDADE 4


t
Teologia e História
Questões Fundamentais
da Teologia Cristã

UNIDADE IV
A Doutrina da Salvação
(Soteriologia)
A Doutrina da
Salvação (Soterio-
logia)
˂˂˂ 127

PARA INÍCIO DE CONVERSA

Nesta Unidade o estudo se baseará na Doutrina da Salvação,


também denominada de Soteriologia. Primeiramente, veremos o conceito
de salvação na Bíblia, a qual significa muito mais do que salvação espiritual.
Serão vistas também teorias a respeito da salvação e que foram os objetivos
e os efeitos da mesma. Em seguida, é sugerida uma possível sequência do
processo de salvação no indivíduo, desde a eternidade até o “tempo” da
existência da pessoa. Por fim, a última seção da Unidade abordará o tríplice
estágio do processo salvífico do ser humano: justificação, santificação e
glorificação.

SEÇAO 1 - CONCEITO DE SALVAÇÃO

O objetivo desta seção é apresentar o conceito e aspectos bíblicos


de salvação, tanto no AT, como no NT. Serão apresentadas algumas teorias

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


a respeito deste assunto e seus efeitos no “em Deus” e no ser humano.

• Salvação

O termo “salvação” ou “ser salvo” é a palavra mais comum para


designar o processo através do qual Deus qualifica uma pessoa para o céu.
Earl Radmacher diz que

A palavra salvação tem suas raízes na palavra hebraica yasa,


[a qual significa] “ser vasto” ou “ser amplo” em contraste
com o ser “estreito ou restrito”. Dessa forma palavra como
libertação, emancipação, preservação, proteção e segurança
surgem a partir dela. Ela se refere à libertação de uma pessoa,
ou de um grupo de pessoas da angústia ou do perigo, de
uma condição “restrita” na qual elas eram incapazes de agir
por si mesmas (GEISLER, 2010, pág. 198).
128 ˃˃˃

O termo “Salvação” é normalmente utilizado no sentido de


libertação física da mesma forma que Paulo desejava ser liberto ou solto
do cárcere (Lc 1. 69, 71; At 7. 25; Fp 1. 19). No sentido espiritual, “a salvação
se refere ao processo pelo qual Deus, por intermédio da obra de Cristo,
liberta os pecadores da prisão do pecado” (GEISLER, 2010, pág. 198).

■ Aspectos Gerais da Salvação na Bíblia

“A obra da salvação de Cristo é a coluna central no templo da


redenção divina”. Esta obra salvífica teve início no registro do AT, onde
era identificado nas ações e nas palavras de Deus o seu objetivo redentor.
Tipos e predições específicas anunciaram aquele que viria e executaria
o plano da redenção. Parte das terminologias salvíficas utilizadas pela
igreja provêm de termos empregados no AT para descrever esta salvação
(PECOTA in HORTON, 1996, pág. 335).
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■ “Salvação” no Antigo Testamento

O vocabulário hebraico é rico neste assunto. Em um conceito


geral, as palavras descrevem “livramento” ou “salvação”, tanto no sentido
natural, jurídico ou espiritual. Dois verbos são muito utilizados: natsal e
yasha‘. O verbo natsal ocorre 212 vezes e significa na maior parte “livrar”
ou “libertar” (Ex 3. 8; 2Cr 32. 17; Sl 69. 14; 71. 2). Tal verbo denota uma
salvação física, pessoal ou nacional. Além desses significados, o termo
adquire conotação espiritual: salvação mediante o perdão dos pecados (Sl
39. 8; 51. 14). (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 336).
A raiz yasha‘ aparece 354 vezes no texto do AT. Sua maior
concentração ocorre nos Salmos (136 vezes) e nos livros proféticos (100
vezes). Seu significado é: salvar, livrar, conceder vitória ou ajudar. Ocorre
˂˂˂ 129

sem significado teológico (Ex 2. 17), mas frequentemente o sujeito da ação


é o próprio Deus em favor do seu povo. Ele salvou Israel, ou seja, livrou
de todos os tipos de aflição: inimigos nacionais e pessoais e calamidades
(Ex 14. 30; Dt 20. 4; Jz 3. 9; 2Cr 20. 9; Jr 17. 14-18). Por este motivo Yahweh
é chamado de “Salvador”, “meu Salvador” e “minha salvação” (2Sm 22. 3;
Sl 18. 14; 27. 1; Is 43. 11, 12) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 336).

■ “Salvação” no NT

A riqueza lexical do AT não ocorre no NT a respeito de salvar,


livrar ou libertar. Os substantivos gregos que correspondem à salvação são
soteria e soterion. O adjetivo correspondente é soterios, do qual deriva a
palavra “soteriologia”. Basicamente o significado de soteria e soterion é:
libertação, preservação, salvação (GEISLER, 2010, pág. 198).
Outra palavra utilizada no original é sōzō que significa salvar,

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


preservar, tirar do perigo e suas formas derivadas. Na Septuaginta, o
termo sōzō foi utilizado para traduzir yasha‘ em sessenta por cento
das ocorrências; sōtêria (salvação) é empregada principalmente para
os derivados de yasha‘. O nome de Jesus está relacionado com o nome
hebraico “Josué”: “Salvação mediante o Senhor” (Mt 1. 21). Assim, a ideia
salvífica presente no NT com certeza reflete as ideias antigotestamentárias.
O termo sōzō refere-se a salvar a pessoa da morte (Mt 8. 25; At 27. 20,
31), das doenças do corpo (Mt 9. 22; Lc 17. 19; Tg 5. 15), da possessão de
demônios (Lc 8. 36) ou da morte (Lc 8. 50). Na maioria das ocorrências,
refere-se à salvação espiritual que Deus providenciou por meio de Cristo
(1Co 1. 21; 1Tm 1. 15) e que as pessoas experimentam pela fé (Ef 2. 8)
(PECOTA in HORTON, 1996, pág. 337, 338).
O título “salvador” (gr. sōtêr) era atribuído pelos gregos aos seus
deuses, líderes políticos e outros que trouxessem honra ou benefícios ao
130 ˃˃˃

seu povo. Na literatura cristã foi aplicado somente a Deus (1Tm 1. 1) e a


Cristo (At 13. 23; Fp 3. 20) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 346).
Além dos termos vistos anteriormente, o NT utiliza muitas outras
palavras e expressões que denotam salvação. Os fieis são considerados:
“batizados em um Espírito” (1Co 12. 13); como pessoas que estão “em
Cristo” (Ef 1. 3; 2. 6; 2Co 5. 17); identificam-se (unem-se) com Cristo (Rm
6. 2-4; 1Co 12. 13); recebem iluminação (Jo 8. 12; 12. 36; 2Co 4. 4-6; 1Ts 5.
5); podem viver em paz com Deus (Rm 5. 1; 12. 1; Ef 2. 14-15; Cl 1. 20);
experimentam a cura (Is 53. 5; Mc 2. 17; 1Pe 2. 24); torna-se “um novo
homem” (Ef 2. 15; 4. 24; Cl 3. 10); recebem a vida (Ef 2. 1; Jo 5. 21, 24; 1Co
15. 22; 1Jo 3. 14); são “nova criatura” (2Co 5. 17; Gl 6. 15); são purificados,
ou limpos (Tg 2. 14; Hb 1. 3; 9. 14; 10. 22) (GEISLER, 2010, pág. 204).

• Teorias a respeito da salvação


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■ Teoria da Substituição Penal

A teoria da substituição penal reflete o pensamento básico dos


teólogos reformadores sobre o significado da morte de Cristo. Declara que
“Cristo suportou em nosso lugar a total penalidade que deveríamos pagar”.
Assim, sua morte foi vicária, substitutiva, em favor da humanidade. Ele
não sofreu apenas para “nosso benefício ou vantagem”, mas assumiu o
lugar de cada ser humano (Mc 10. 45; 2Co 5. 14) (PECOTA in HORTON,
1996, pág. 350).
˂˂˂ 131

■ Teoria da Influência Moral

A Teoria da Influência Moral é também chamada de “Teoria do


Amor de Deus” ou “exemplarismo”. Esta teoria destaca o amor divino
e rejeita a ideia de haver uma exigência para a liquidação da dívida do
pecado. Segundo esta teoria, Deus não exigiu o pagamento pelo pecado, mas
perdoou graciosamente por causa do seu amor. Esse amor demonstrado na
encarnação e na cruz produz no ser humano arrependimento, fé e desejo de
mudança de vida. Esta teoria não vê na cruz nenhum propósito ou efeito
expiador. Se Cristo tivesse morrido apenas para comover os corações, a
cruz teria sido apenas uma mera encenação e seu sangue derramado teria
sido desnecessário (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 346, 347).

■ Teoria do Resgate

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


A “Teoria do Resgate” é também chamada de “resgate a satanás”
ou “teoria dramática”. Afirmam que Deus “ofereceu o seu filho ao diabo
como preço do resgate para nos libertar”. O Diabo aplaudiu a troca, mas
desconhecia o fato de que não conseguiria manter Cristo no Hades; assim,
com a ressurreição, perdeu tanto o resgate como aqueles que estavam
presos por ele. Isto teria sido uma trama do Deus sábio “enganando” o tolo
satanás. Esta teoria vê a humanidade de Jesus como uma isca que escondia
a divindade de Cristo e que enganou o Adversário. O problema não está
nas verdades bíblicas que a teoria destaca, mas na ideia que Deus utilizasse
de meios de astúcia e engano para levar satanás à derrota (PECOTA in
HORTON, 1996, pág. 347, 348).


132 ˃˃˃

■ Teoria da Satisfação

Anselmo propõe uma teoria que influenciou a totalidade da


doutrina católica e protestante sobre a expiação até os dias de hoje. Tal
teoria afirma que a humanidade peca e ultraja a honra do Criador que
é soberano e infinito. Esta ofensa não pode passar sem castigo, e exige
satisfação. Como a humanidade pode pagar essa multa se o Soberano que
foi ultrajado é o próprio Deus? O ser humano pecou e deve uma satisfação
ao Criador. Somente Deus poderia pagar o preço à altura da ofensa e
somente um ser humano poderia pagá-lo. Assim um “Deus-homem
poderia dar uma satisfação pela ofensa contra a honra de Deus e pagar o
preço infinito do perdão” (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 348).
Embora possua verdades bíblicas na proposição da teoria, não é
possível reduzir a salvação a uma “transação comercial”, mas a iniciativa
e ação de um Deus amoroso, gracioso e totalmente disposto a perdoar. Na
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verdade, a humanidade está passiva, observando uma “transação” entre


Deus Pai e seu Filho. Ela recebe os benefícios do que foi realizado entre
eles. “Embora a teoria de Anselmo tenha suas fraquezas, esta não anula
o sentido fundamental – uma expiação que presta contas” (PECOTA in
HORTON, 1996, pág. 349).

■ Teoria Governamental

A “teoria governamental” foi proposta por Hugo Grotius


(1583-1645) jurista, estadista e teólogo holandês. Considerava Deus um
Legislador que promulga e também sustenta as leis que regem o universo.
Essa lei foi produzida por Deus e somente ele tem a liberdade de “alterá-
la ou até mesmo ab-rogá-la”. Essa Lei declara que “a alma que pecar,
essa morrerá” (Ez 18. 4). A justa e perfeita justiça divina exige a morte do
˂˂˂ 133

pecador. Contudo, esta teoria não considera plenamente a depravação da


raça humana. Da mesma forma que na teoria da influência moral, defende
que um mero exemplo bastará para capacitar o ser humano a levar adiante
um modo de vida fiel à Lei (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 349).

SAIBA MAIS

Sobre a salvação de crianças, doutrina da salvação através de Cristo e do


Espírito Santo:
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.
Pág. 369 a 433.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: pecado, salvação, a Igreja, as


últimas coisas. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Pág. 157 a 451.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:


Vida Nova, 1999. Pág. 549 a 634.

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto
Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1167 a 1181.

EXERCÍCIOS

1. Qual é o significado básico de salvação.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
2. Quais as principais teorias a respeito da salvação e qual é a mais
ortodoxa.
______________________________________________________________
134 ˃˃˃

______________________________________________________________
______________________________________________________________

______________________________________________________________

SEÇÃO 2 - ATOS DIVINOS RELACIONADOS À SALVAÇÃO

O objetivo desta seção é propor uma sequência de salvação,


abordar o tema eleição, a graça e o necessário sacrifício de Jesus Cristo.

• A Sequência da Salvação
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Como a salvação opera na vida de uma pessoa? Isto já foi


considerado e denominado de ordo salutis (ordem da salvação), expressão
utilizada em 1737 pelo luterano Jakob Karpov, embora esta ideia seja
mais antiga. Tenta esclarecer qual a ordem lógica do processo que ocorre
em uma pessoa que passa do estado pecaminoso para a plena salvação
(PECOTA in HORTON, 1996, pág. 361).
Não há na Bíblia uma ordem definida, apesar de que alguns textos
trazem algumas informações a este respeito: Efésios 1. 11-14 e Romanos 8.
28-30. Nestes textos Paulo alista a presciência, predestinação, chamamento,
justificação e glorificação (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 361).
O Catolicismo Romano apresenta a seguinte sequência: o batismo
(na qual a pessoa experimenta a regeneração), a confirmação (na qual a
pessoa recebe o Espírito Santo), a eucaristia (participação da presença física
de Cristo), a penitência (perdão dos pecados não-mortais), a extrema-unção
˂˂˂ 135

(quando a pessoa recebe a certeza da entrada no Reino de Deus) (PECOTA


in HORTON, 1996, pág. 361).
Para os protestantes a diferença está entre a abordagem reformada
e a wesleyana. A ordem da posição reformada é: eleição, predestinação,
presciência, chamamento, regeneração, arrependimento, fé, justificação,
adoção, santificação e glorificação. A ordem wesleyana seria: presciência,
eleição, predestinação, chamamento, arrependimento, fé, regeneração e os
demais. A diferença está nos três primeiros que se referem à atividade de
Deus na eternidade e na posição da regeneração nesta sequência (PECOTA
in HORTON, 1996, pág. 362).

• Eleição

A Bíblia ensina que houve uma escolha feita por Deus: a eleição

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


divina. No AT, Deus escolheu Abraão (Ne 9. 7), o povo de Israel (Dt 7. 6; 14.
2; At 13. 17), Davi (1Rs 11. 34), Jerusalém (2Rs 23. 27) e o Servo (Is 42. 1; 43.
10). No NT, a escolha divina inclui anjos (1Tm 5. 21), Cristo (Mt 12. 18; 1Pe
2. 4,6), um remanescente de Israel (Rm 11. 5), e os eleitos individualmente
(Rm 16. 13; 2Jo 1. 1, 13) ou coletivamente (Rm 8. 33; 1Pe 2. 9). De qualquer
forma a iniciativa sempre é divina (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 362).
Deus não escolheu Israel pela sua grandeza (Dt 7. 7). Os discípulos
foram escolhidos por Jesus (Jo 15. 16). Paulo disse que Deus escolheu os
descendentes de Isaque para serem seus filhos antes mesmo de nascerem
(Rm 9. 6-24). Deus escolheu a Jacó e não a Esaú, embora este último fosse
legitimamente o primogênito (v. 11). Paulo enfatiza a graça e misericórdia
do Criador que inclui tanto os gentios como os judeus (Rm 9. 24-26; 10. 12)
(PECOTA in HORTON, 1996, pág. 362, 363).
A palavra “eleição” (ou “eleito”) ocorre quatorze vezes no NT.
136 ˃˃˃

Uma pessoa eleita é alguém que foi escolhida. Esse termo eleição foi
utilizado para referir-se ao povo de Israel (Rm 9. 11; 11. 28), aos anjos
(1Tm 5. 21) e aos crentes em Jesus. “Com relação aos crentes, a eleição é
a decisão divina, desde a eternidade, pela qual Deus elegeu aqueles que
seriam salvos”. Essa eleição foi mencionada por Paulo em 2Timóteo 2. 10 e
por Pedro em 1Pedro 1. 2 (GEISLER, 2010, pág. 195).
O Calvinismo defende a “eleição incondicional”. Entende que
esse texto bíblico afirma a escolha arbitrária de Deus; isto implica que
a responsabilidade e participação humana no processo não existem.
Contudo, o próprio texto de Romanos 9 a 11 possui evidências da
participação e responsabilidade humanas (Rm 9. 30-33; 10. 3-6, 9-16; 11. 20,
22, 23) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 363).
A doutrina da eleição é explicada pelo próprio Jesus. Deus elege,
mas em seus ensinos não há a ideia de particularismo. Jesus ensina que a
motivação de Deus em agir é o amor. Paulo vincula o amor à eleição (ou
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predestinação) (1Ts 1. 4; Cl 3. 12) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 363).


Paulo argumentou que embora os judeus tenham agido com
crueldade e ignorância ao crucificar Cristo, sua morte foi predita pelos
profetas (At 3. 17, 18). A crucificação não foi uma “indução divina” e a
culpa ainda era deles (At 4. 27, 28). Desta forma, a Bíblia associa eleição à
presciência divina, e isto não significa causalidade (1Pe 1. 2; Romanos 8. 2)
(PECOTA in HORTON, 1996, pág. 364).
O Senhor falou através de Amós 3. 2 (RC) “De todas as famílias
da terra a vós somente conheci; portanto, todas as vossas injustiças
visitarei sobre vós”. Este “conhecimento” (que é uma escolha) também
é percebido nas palavras de Paulo aos Filipenses (3. 10) em 1João (2. 13,
14). Estes exemplos mostram que “conhecer” na Bíblia pode incluir tanto
amor como relacionamento. Assim, é possível ver na presciência de Deus
sobre a humanidade uma demonstração de amor e solicitude. Deus ama a
˂˂˂ 137

todos. “Quando, porém, a Bíblia se refere àqueles que crêem no seu Filho,
a presciência é aplicada a eles e a eles somente. Um Pai amoroso apresenta
uma Noiva ao seu Filho amado” (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 365).
Assim, no AT esta chamada ocorria em primeiro lugar com o
povo de Israel, a partir de Abraão, seu ancestral. No NT, o chamamento
é universal e individualista. O chamamento refere-se: 1) ao convite para
seguir a Cristo (Mt 4. 21; Mc 2. 14, 17; Lc 18. 22); 2) a uma chamada divina
aos crentes (Rm 8. 30; Ef 4. 1; 2Tm 1. 9); 3) a uma descrição daqueles que
são chamados (1Co 1. 24; 4) ao propósito para o qual Deus os chamou (Rm
1. 7; 1Co 1. 2) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 365).

• A Graça Preveniente, o Chamado e o Convencimento

A graça é preveniente, ou seja, anterior à salvação. Ela é também

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


eficaz ou efetiva ao gerar a salvação dos eleitos. Essa graça realiza na vida
do pecador a salvação que Deus mesmo ordenou. Deus jamais realiza o
que não esteja de acordo com sua natureza santa e perfeita (Fp 1. 6; 2. 13).
Ele conduz as pessoas a este objetivo por intermédio de Cristo (Tt 2. 11;
2Co 8. 9) (GEISLER, 2010, pág. 197).
Essa graça conduz o ser humano ao arrependimento (Rm 2. 4).
Assim, “a graça preveniente é a graça de Deus exercida em nosso lugar
mesmo antes dele nos conceder a salvação” (GEISLER, 2010, pág. 197).
O chamado divino é um ato eterno. Deus chama pessoas para
a salvação, conforme é visto em algumas passagens bíblicas (Rm 8. 28-
30). Paulo mostra o chamado dentro do processo de salvação. É um ato
de Deus anterior à salvação, que foi realizado “no tempo”. Constitui na
atividade divina em convencer o ser humano de que ele é pecador (Gn 6.
3; Jo 8. 9; 16. 8). Em Jo 16. 8, com referência ao Espírito Santo, mostra que
138 ˃˃˃

“quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”.


Este ato de convencimento por parte do Espírito Santo mostra que Deus
persuade uma pessoa e a convence de que ela é verdadeiramente pecadora
e que precisa de um salvador (GEISLER, 2010, pág. 196, 197).

• O Sacrifício

O sacrifício está no centro da redenção tanto do AT como do NT.


O uso de um cordeiro ou cabrito utilizado na salvação e redenção do povo
fez parte da saída do povo do Egito (Ex 12. 1-13). O sangue aspergido nas
portas das residências dos israelitas no Egito faria com que Deus “passasse
por cima” e não ferisse o primogênito naquela casa. No sistema sacrificial
de Israel, quando o fiel colocava suas mãos sobre o animal a ser sacrificado,
o significado era mais do que identificação: era um substituto sacrificial,
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ou seja, o fiel estava dizendo: “sacrifico isto em meu lugar” (PECOTA in


HORTON, 1996, pág. 352).
Esta figura é claramente transferida para Cristo no NT. O próprio
João Batista apresentou-o como o “cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (Jo 1. 29). Em Atos 8, Filipe menciona ao Eunuco etíope a profecia
de Isaías que o Servo seria levado como um cordeiro ao matadouro (Is 53.
7). Paulo refere-se a Cristo como “nossa páscoa” (1Co 5. 7). Pedro diz que
a Igreja foi redimida através do precioso sangue de Cristo, “como de um
cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pe 1. 19). Até mesmo nas regiões
celestiais o sacrifício marcou a imagem de Cristo: o Leão da Tribo de Judá
é o Cordeiro que foi morto (Ap 5) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 352).
Colin Brown refere-se a um “amplo segmento de estudiosos
bíblicos que sustentam que o sacrifício na Bíblia tem mais a ver com a
expiação que com a propiciação”. G. C. Berkouwer refere-se à declaração
˂˂˂ 139

de Adolph Harnack, no sentido da ortodoxia conferir a Deus o “horrível


privilégio” de não ter “condições de perdoar por amor”. Leon Morris
expressa assim o consenso geral dos evangélicos: “O ensino bíblico
consistente é que o pecado do homem tem incorrido na ira de Deus...
evitada pela oferta expiadora de Cristo. Deste ponto de vista, sua obra
salvífica é corretamente chamada propiciação”. Nem a Septuaginta nem
o Novo Testamento esvaziaram o pleno significado de hilaskomai como
“propiciação” (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 353).
O Senhor não é uma divindade má e cheia de caprichos pessoais,
cuja natureza e atitudes são imprevisíveis, como era comum nas religiões
pagãs. Contudo, a ira divina é uma realidade incontestável na Bíblia.
O amor e a misericórdia divinos providenciaram um meio para que
esta ira fosse aplacada. Ele mesmo se tornou alvo de sua ira (1Jo 4. 10).
Cristo morreu uma só morte agonizante por toda a humanidade. Ele era
perfeito em santidade e não possuía qualquer culpa pessoal que merecesse

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


tal castigo. “A perfeição de Cristo não lhe diminuiu o sofrimento, e até
pode tê-lo intensificado, por saber Ele que era imerecido” (PECOTA in
HORTON, 1996, pág. 353, 354).

SAIBA MAIS

Sobre a doutrina da Eleição:


FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Lucy Iamakami, Luís Aron
de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Pág. 575
a 597

PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. Vol. 3. Trad. Werner


Fuchs Paulus. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009. Pág. 579 a 691.

STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto


Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1373 a 1397.
140 ˃˃˃

EXERCÍCIOS

1. Qual a sequência da salvação apresentada por Paulo em Efésios 1.


11-14 e Romanos 8. 28-30?

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2. Explique a visão calvinista a respeito da Doutrina da Eleição.

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3. Cite argumentos bíblicos que refutam a ideia calvinista.

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SEÇÃO 3 - ATOS DIVINOS RELACIONADOS À SALVAÇÃO


(CONTINUAÇÃO)

O objetivo desta seção é dar continuidade ao assunto da seção


anterior. Nesta seção, serão estudados alguns temas relacionados à
˂˂˂ 141

salvação: propiciação, reconciliação, redenção, perdão, o selo do Espírito


Santo, mediação, regeneração e adoção.

• Propiciação (ou Expiação)

A palavra hebraica kipper e a grega hilaskomai significam


“propiciar” e “expiar”. Possuem uma referência vertical e horizontal. Os
dois grupos de palavras significam: aplacar, pacificar, conciliar (propiciar),
encobrir com um preço, fazer expiação por (expiar é remover o pecado
ou ofensa da presença de alguém). Quando o contexto focaliza a expiação
em relação a Deus, o significado é “propiciação”. Quando estas palavras
se relacionam com o ser humano, opta-se por “expiação” (PECOTA in
HORTON, 1996, pág. 353, 354).
No AT, o trono de misericórdia era o trono da graça, na qual,

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


depois que o sangue do sacrifico era aspergido, Deus se achava satisfeito
e liberava a sua misericórdia e o perdão sobre o pecador. No NT, Cristo,
por intermédio do seu sangue, satisfez a justiça de Deus, em lugar do
ser humano, por toda a eternidade (1Jo 2. 2) e através de apenas um e
definitivo sacrifício (Hb 10. 14) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 354).

• Reconciliação

O termo “reconciliação” não é exclusivamente bíblico e teológico:


faz parte do vocabulário comum, retirado do contexto social. Reconciliação
tem a ver com relacionamentos interrompidos. O NT ensina que a
obra salvífica de Cristo tem por objetivo a reconciliação entre Deus e a
humanidade. Através de seu sacrifício, Jesus removeu todos os obstáculos
142 ˃˃˃

que separavam o Criador de sua criatura humana (PECOTA in HORTON,


1996, pág. 355).
O grupo de palavras utilizado para designar este termo no NT é o
grego allassõ. Este termo ocorreu raramente na Septuaginta e é incomum
no NT. Basicamente, este verbo significa: “mudar, fazer uma coisa cessar
e outra tomar o seu lugar”. Por seis vezes o NT utiliza este termo com
referência à doutrina da reconciliação (por exemplo: At 6. 14; 1Co 15.
51, 52). O verbo katallassõ e o substantivo katallagê trazem a ideia de
“trocar” ou “reconciliar”, palavra utilizada em ajustes e acertos entre livros
contábeis. A obra reconciliadora de Cristo restaura-nos ao favor de Deus,
pois literalmente “foi tirada a diferença ente os livres contábeis” (PECOTA
in HORTON, 1996, pág. 355).
Assim, Deus garante que já tomou a iniciativa de perdoar. É
preciso que o ofensor reconheça que a separação não existe mais e deseje
Sua presença perdoadora, aceitando em sua vida o que Deus tem feito
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através de Cristo Jesus. Logo, para que a reconciliação seja efetivada, é


preciso duas ações: a do ofendido (que já foi feita) e a do ofensor (que
dependerá de cada um) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 356).

• Redenção

A Bíblia descreve como resgate ou redenção a obra salvífica de


Cristo. Este tema aparece mais no AT do que no NT. É utilizado este termo
no AT ao referir-se aos tipos da “redenção” no tocante às pessoas ou aos
bens (Lv 25; Rt 3 e 4). O “parente redentor” é o go’el. Javé é o Redentor
(heb. go’el) do seu povo (Is 41. 14; 43. 14) que é por Ele redimido (heb.
ge’ulim, Is 35. 9; 62. 12). O Senhor providenciou a redenção (heb. padhah)
os primogênitos (Ex 13. 13-15), redimiu Israel do Egito (Ex 6. 6; Dt 7. 8; 13.
˂˂˂ 143

5) e também os redimirá do exílio (Jr 31. 11). Deus redime um indivíduo


(Sl 49. 15; 71. 23) ou o próprio indivíduo clama a Deus solicitando esta
redenção (Sl 26. 11; 69. 18) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 356).
A redenção também admite o sentido moral. O Salmo 130. 8 diz
que “É ele quem redime a Israel de todas as suas iniquidades”. Somente
os “remidos”, ou “resgatados” andarão pelo “caminho santo” (Is 35. 8-10).
Afirma que a “filha de Sião” será chamada “povo santo, os remidos do
Senhor” (Is 62. 11, 12) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 356, 357).
No NT, Jesus Cristo é apresentando como “resgatador” e também
como “resgate”; os pecadores perdidos são os “resgatados”. Ele afirma
que veio “(...) dar a sua vida em resgate (gr. lutron) (...)” (Mt 20. 28; Mc
10. 45). Ele proporcionou um “livramento” (gr. apolutrōsis) que ocorreu
mediante a morte de Cristo, “que libertou da ira retributiva de Deus e da
penalidade merecida do pecado” (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 357).
O propósito de Cristo ao redimir é “purificar para si um povo

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seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2. 14). Haverá também a redenção
final dos gemidos e dores da era presente quando acontecer a ressurreição;
neste momento será o estado final dos filhos de Deus, mediante a obra de
Cristo na redenção (Rm 8. 22,23) (PECOTA in HORTON, 1996, pág. 357,
358).
Alguns estudiosos (e pregadores) concluíram que o preço do
resgate foi pago a satanás, pois os pecadores eram seus escravos. Porém,
a maioria dos eruditos ortodoxos rejeita esta posição; insistem que o
pagamento de Cristo pelo pecado foi feito a Deus, pois o pecado torna o
ser humano devedor diante dele. Este pagamento foi efetivado por Cristo
em favor da humanidade, sem o qual a salvação seria impossível (Hb 9.14)
(GEISLER, 2010, pág. 199).
144 ˃˃˃

• Perdão

Geisler afirma que o termo grego para perdão é aphesis, cujo


significado é: perdoar, remir os pecados de alguém. O livro de Hebreus
declara que não é possível o perdão sem que haja derramamento de sangue
(9. 22). Paulo declarou que através de Cristo ocorre a remissão dos pecados
(At 13. 38). Observa também que “o perdão não apaga o pecado; a história
não pode ser modificada. Mas o perdão apaga o registro do pecado. Tal
ocorre como um indulto, o crime do acusado não é eliminado da história,
mas é apagado da sua conta” (Rm 8. 1; Ef 1. 7; Cl 1. 14) (2010, pág. 201).

• O Selo do Espírito Santo

Paulo utiliza a expressão “sermos selados” com o Espírito Santo,


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como um ato salvífico que garante a salvação. Ele disse aos efésios sobre
a presença do Espírito Santo na vida deles: “o qual é o penhor da nossa
herança, ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef 1. 14).
Este selo é recebido no momento da justificação e também serve como a
garantia da glorificação até o final (Rm 8. 9) (GEISLER, 2010, pág. 197,198).

• Mediação

Quanto à salvação, Cristo é o único mediador. O termo hebraico


yakach é utilizado uma vez no AT (Jó 9. 33). Uma palavra grega utilizada
no sentido de mediar é mesites, que é utilizada seis vezes no NT (Gl 3.
19-29; Hb 8. 6; 9. 15; 12. 24; 1Tm 2. 5; Jo 10. 9) (GEISLER, 2010, pág. 199;
BÍBLIA ON LINE, 2002).
˂˂˂ 145

Geisler (2010, pág. 199) destaca que o conceito de mediação


de Cristo possui três aspectos: 1) como Profeta, ele representa Deus ao
indivíduo (Hb 1. 2ss); 2) como Sacerdote, ele representa o indivíduo
diante de Deus (Hb 9. 15); e 3) como Rei, reina sobre o indivíduo por parte
de Deus (Sl 2).

• Regeneração e Novo Nascimento

Geisler define que “a regeneração é a transmissão da vida


espiritual, por parte de Deus, às almas daqueles que estavam ‘mortos em
ofensas e pecados’ (Ef 2. 1) e que foram ‘salvos’ – trazidos novamente à
vida – por Deus ‘pela fé’ em Jesus Cristo (Ef 2. 8).” Observa também que
“a Fonte da regeneração é Deus, o resultado da regeneração é a filiação;
o meio da regeneração é o Espírito Santo; e a duração da regeneração é

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eterna” (Jo 1. 12,13; Gl 3. 16) (2010, pág. 199).
Paralelos ao termo regeneração são as expressões “nascer de
novo” (ou “nascer do alto”). O novo nascimento acontece quando uma
pessoa “morta em ofensas e pecado” recebe vida espiritual (Ef 2. 1). O
Senhor Jesus disse que “o que é nascido da carne é carne; e o que é nascido
do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de
novo” (Jo 3. 6, 7). Pedro afirma: “pois fostes regenerados não de semente
corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive
e é permanente” (1Pe 1. 23). No AT, esta ideia está presente na profecia
de Ezequiel ao falar que Deus daria um novo coração a Israel se houvesse
arrependimento (Ez 11. 19) (GEISLER, 2010, pág. 200).
146 ˃˃˃

• Adoção

O termo “adoção” (gr. huiothesia) significa “colocar como filho”;


é literalmente “um filho legal”. No contexto teológico, adoção é um termo
de posição pelo qual o ser humano se torna filho de Deus por intermédio
do novo nascimento (Jo 1. 12, 13). O indivíduo é redimido das amarras
da lei (Gl 4. 1-5); inicialmente ele é filho (gr. teknion) através da adoção e
torna-se filho adulto (gr. huios), o que fica manifesto na ressurreição do
corpo (Rm 8. 23; 1Jo 3. 2) (GEISLER, 2010, pág. 200).

SAIBA MAIS

Tabela comparativa de diferentes concepções sobre a doutrina da expiação:


HOUSE, H. Wayne. Teologia cristã em quadros. São Paulo: Vida, 2000.
Tabela 64
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

Sobre a doutrina da regeneração:


FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Lucy Iamakami, Luís Aron
de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Pág. 351
a 393

Sobre a doutrina da reconciliação:


PANNENBERG, Wolfhart. Teologia sistemática. Vol. 2. Trad. Werner
Fuchs Paulus. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009. Pág. 553 a 640.

EXERCÍCIOS

1. Explique o significado de propiciação.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
˂˂˂ 147

______________________________________________________________
______________________________________________________________

2. Explique o que é redenção no NT.


______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Explique o que é o selo do Espírito Santo e o que representa para o
cristão.
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


SEÇÃO 4 - ETAPAS DA SALVAÇÃO

O objetivo desta seção é mostrar ao(à) estudante que a salvação


não ocorre completamente em um só ato, mas atua mediante um processo
de três etapas: justificação, santificação e glorificação.
A salvação é um ato imediato ou um processo? A salvação é
um processo que passa por três estágios. Começa com o ato jurídico da
“justificação”, continua em um processo contínuo de “santificação” e
se completará na segunda vinda de Cristo em um ato de “glorificação”
(GEISLER, 2010, pág. 208).
148 ˃˃˃

• Justificação: Salvos da Separação de Deus e da Condenação


Eterna

O primeiro estágio da salvação é chamado de “justificação”. É a


libertação da punição ou do castigo merecido pelo pecado. “A justificação
é um ato instantâneo e passado da parte de Deus, por meio do qual somos
salvos da culpa advinda do pecado – o registro do pecado é apagado e nos
tornamos sem culpa diante do nosso Juiz” (Rm 8. 1) (GEISLER, 2010, pág.
208).
O grande brado dos reformadores foi o da “justificação somente
pela fé”. Contrário a isto, o Movimento da Contra-Reforma, que foi iniciado
dentro da Igreja Católica Romana, insistia que a justificação deveria ser
pela fé e pelas obras. Há uma sólida base bíblica tanto no AT como no
NT que defende a doutrina protestante da “justificação forense”, tal como
defendida pelos reformadores e seus seguidores (GEISLER, 2010, pág.
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

208).
Geisler (2010, pág. 201, 202) também observa que a justificação é
o ato divino em declarar o indivíduo arrependido “justo” diante de Deus,
apesar de que, na prática, continua sendo pecador. Inúmeros termos
gregos são utilizados para descrever o ato da justificação. O termo dikaios
significa justo ou reto; é utilizado com relação: aos seres humanos (Mt 1.
19; 5. 45; 9. 13), a Cristo (At 3. 14; 7. 52; Rm 5. 7), a Deus (Rm 3. 26) e à
salvação (Rm 1. 17; Gl 3. 11; Hb 10. 38). O termo dikaiosyne (justiça) está
relacionado à “justificação prática”, ou à “justificação posicional”. O termo
dikaioo (justificar, justificado) refere-se a Deus ou à salvação (Lc 7. 29; Rm
3. 4), a Cristo (1Tm 3. 16) ou à salvação. Romanos 4. 2-5 descreve a justiça
obtida pela fé por Abraão. O termo dikaiosis é traduzido por “justificação”
(Rm 4. 25; 5. 18).
Geisler (2010, pág. 202) afirma que é importante observar que
˂˂˂ 149

“justificação significa “declarar alguém justo” e não “fazer alguém justo”.


Logo, deduz-se que: 1) Esta declaração de justo não depende das obras da
lei (Rm 1. 17; 3. 20; 4. 2-5); 2) Ela é feita aos pecadores enquanto pecadores
(Rm 3. 21-23) e 3) É um ato jurídico (legal) (Rm 4. 4-6; 5. 18).
Isto é evidenciado por expressões utilizadas como “imputar” e
“tomar conta” para referir-se à “conta” (dívida) que o ser humano tem
diante de Deus (Rm 4. 3, 6, 11, 22-24). O próprio Tiago deu em sua epístola
especial ênfase às obras como evidência da verdadeira fé; falou da justiça
“imputada” ou “creditada”, ou seja, a justiça forense (Tg 2. 23). Paulo na
carta aos Romanos, capítulo 5, utilizou a palavra “justificação” em duas
ocasiões para descrever o que Jesus conquistou a todos os seres humanos
(v. 16, 18) (GEISLER, 2010, pág. 202).
Geisler (2010, pág. 203) afirma que o NT deixa claro que embora a
salvação seja para todos, nem todos tomarão posse dela. O sacrifício vicário
de Cristo justificou a todos “potencialmente”, mas isto não foi aplicado

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


arbitrariamente na vida de alguém, como se percebe na seguinte análise:
1) Romanos 5 declara que as consequências do pecado de Adão, como a
morte física, são passadas adiante para todos os seres humanos (vv. 12-14);
2) O paralelismo entre Adão e Jesus não é perfeito; o que é percebido pela
presença das expressões “não é assim”, “não foi assim” (vv. 15-16); 3) A
expressão “os que recebem” (v. 17) implica que somente recebem o dom
da salvação aqueles que recebem a Cristo como Salvador e Senhor; 4) Isto
está de acordo com Romanos 4 que declara que a salvação vem somente
àqueles que em Jesus confiam (v. 3-5, Rm 5. 1).

■ Justificação Forense no AT

A origem da justificação forense está no AT. Anthony Hoekema,


Apud Geisler, afirma que o termo hebraico hitsdique é traduzido
150 ˃˃˃

normalmente por “justificar”; é utilizado em “um sentido forense ou legal,


não no sentido de “tornar justo”, mas no de “declarar judicialmente que
se está em harmonia com a lei”. George Eldon Ladd, citado por Geisler,
observou que “ao justo justificarão e ao injusto condenarão (Ex 23. 7; Dt
25. 1); isto é, quem for julgado inocente passa a ter um relacionamento
correto para com Deus”. Erickson diz que a maior parte dos eruditos
reformados concordaria que “no Antigo Testamento, o conceito de justiça
frequentemente aparece em um contexto forense ou judicial. Um homem
justo é aquele que foi declarado livre da culpa por um juiz”. Hans Kung
concorda que de acordo com uso bíblico original do termo, a “justificação”
é definida como uma “declaração de justiça por ordem de um tribunal”
(GEISLER, 2010, pág. 209).

■ Justificação Forense no NT
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras

Quanto ao NT, o verbo que é traduzido como “justificar” é


dikaioó. É utilizado em um sentido forense ou legal: o pecador é declarado
“justo” (Rm 3-4). Anthony Hoekema disse que “o contrário de condenação,
entretanto, não é ‘tornar justo’, mas ‘declarar justo’.” Portanto, Paulo usa
do verbo dikaioó no sentido de “imputação legal da justiça de Cristo
ao pecador crente”. “Quando uma pessoa é justificada, Deus a declara
absolvida – antes do julgamento final” (GEISLER, 2010, pág. 209).
Erickson, citado por Geisler, acrescenta que

A justiça resultante não é perfeição ética; ela é ‘ausência do


pecado’ no sentido de que Deus não mais atribui o pecado
ao homem (2Co 5. 19). Assim no Novo Testamento, vemos
que a justificação é o ato declaratório de Deus por meio do
qual, com base na suficiência da morte expiatória de Cristo,
Ele declara que os crentes preencheram todos os requisitos
da lei que lhes diziam respeito (2010, pág. 209).
˂˂˂ 151

• Santificação: Salvação do Poder do Pecado

A santificação é o segundo estágio no processo de salvação.


Consiste na libertação do poder do pecado. Diferente da justificação que é
um ato pelo qual declara o fiel justo, a santificação é um processo contínuo
que ocorre no tempo presente, através do qual Deus está tornando o
indivíduo justo em sua prática diária (GEISLER, 2010, pág. 211).
A santificação proporciona vitória ao fiel em três áreas
fundamentais: sobre o mundo (1Jo 5. 4), sobre a carne (Rm 7. 24, 25) e sobre
o diabo (Tg 4. 7). Geisler destaca três passos para a santificação baseado em
Romanos, capítulo 6. 1) Saber que, através de Cristo, o fiel está morto para
o pecado (v. 6); 2) Considerar isto como um fato (v. 11); e 3) Render-se às
exigências justas e perfeitas de Deus (v. 13) (2010, pág. 211).

■ Considerações a Respeito da Santificação

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


Os seguidores de John Wesley (1703-1791) defendem que as
pessoas experimentam uma segunda obra da graça, também chamada
de “santificação total” ou “perfeccionismo”. Wesley argumentou que é
possível atingir o estado de perfeição livre de pecado nesta vida. Este
estágio já fora alcançado por alguns, mas é possível a todos o alcançarem
(GEISLER, 2010, pág. 211).
A segunda obra da graça no fiel não pode ser confundida com o
enchimento do Espírito Santo, o qual é contínuo, repetido e é mandamento
divino. Paulo diz aos Efésios “E não vos embriagueis com vinho, no qual
há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (5. 18). O verbo grego utilizado
“enchei-vos” está no imperativo, no tempo presente grego. O livro de
Atos mostra que aqueles que foram cheios do Espírito Santo foram cheios
novamente em tempo posterior (At 4. 31) (GEISLER, 2010, pág. 212;
152 ˃˃˃

BÍBLIA ON LINE, 2002).

• Glorificação: a Salvação da Presença do Pecado

A glorificação é o terceiro estágio da salvação. Diferentemente da


justificação, que livra o fiel do castigo merecido, e da santificação que livra
o fiel do controle e poder presente do pecado, a glorificação é o ato futuro
que livrará o fiel da presença constante do pecado em sua vida (Rm 8. 18-
23; Ap 21. 1-4; 1Jo 3. 2-4; 1Co 13. 10, 12) (GEISLER, 2010, pág. 213).
Geisler (2010, pág. 213) diz que a Bíblia mostra alguns eventos que
marcarão o terceiro e final estágio da glorificação:
- A natureza pecaminosa do fiel será eliminada, pois no tempo
presente o pecado é real (1Jo 1. 8). Naquele dia o fiel será perfeito
(1Co 13. 10; 1Jo 3. 2). O corpo abatido será como seu corpo glorioso
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(Fp 3. 21);
- Deus será visto face a face. O ser humano, mortal e limitado como
é, não pode olhar para Deus e continuar vivo; o fiel na eternidade
poderá ver Deus face a face e viver nesta presença eternamente
(Mt 5. 8; Ap 22. 4).
- A liberdade do fiel será aperfeiçoada. Hoje, a liberdade é
constantemente testada e pode tomar rumos diferentes do ideal:
é o “poder libertário da decisão contrária”. No céu, esta liberdade
será perfeita, semelhante à liberdade divina; não haverá mais
testes nem a possibilidade do surgimento do mal (Tg 1. 13). Diante
da perfeição absoluta o mal não será mais possível.
- Todo fiel é capaz de pecar (1Co 10. 13; 1Jo 2. 1), mas naquele dia
isto não mais será possível. Não significa a perda da liberdade, mas
um aperfeiçoamento dela. “A perfeita liberdade não é a liberdade
˂˂˂ 153

de ficar escravizado pelo pecado; mas sim, é a liberdade de ficar


liberto do pecado”. O céu não será a privação da liberdade, mas o
seu pleno cumprimento.

SAIBA MAIS

Conceito de Justificação e Santificação:


FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Lucy Iamakami, Luís Aron
de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010. Pág. 467
a 574.

STRONG, Augustus Hopkins. Teologia sistemática. Trad. Augusto


Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007. Pág. 1495 a 1558.

EXERCÍCIOS

Teolologia e História: Questões Fundamentais da Teologia Cristã


1. Quais as três etapas do processo da salvação. Explique cada uma
delas.

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________

______________________________________________________________
154 ˃˃˃

RESUMO DA UNIDADE

Nesta Unidade foi analisada a doutrina da Salvação tanto na visão


do Antigo como do Novo Testamento. Foram vistas teorias a respeito
da salvação e seus efeitos “em Deus” e no ser humano. Em seguida, foi
sugerida uma possível sequência do processo de salvação no indivíduo,
desde a eternidade até o “tempo” da existência da pessoa, e o que ocorre no
fiel quando é salvo. Por fim, a última seção da Unidade abordou o tríplice
estágio no processo salvífico no ser humano: justificação, santificação e
glorificação.
Esperamos que os conhecimentos adquiridos nesta disciplina lhe
acompanhem sempre e que sejam realmente necessários ao bom exercício
de sua profissão,
Que Deus lhe abençoe ricamente!
FACEL - Faculdade de Administração, Ciências, Educação e Letras
˂˂˂ 155

REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, Russel Norman. Tradução do Novo Mundo das Escrituras


Sagradas. Watch Tower Bible: USA, 1967.

______. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. 1


(artigos introdutórios. Mateus e Marcos). São Paulo: Milenium, 1979.

ARAUJO, Isael de. Dicionário Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro:


CPAD, 2007.

Bíblia on Line. Módulo Avançado. Versão 3.0. São Paulo: SBB, 2002. 1 cd.

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada (ARA).


Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil
(SBB), 1993.

CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Vol. 5 e 6. São José dos


Campos, SP: Hagnos, 2003.

CHAMPLIN, Russel. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por


Versículo: Vol. 3 (Atos e Romanos). São Paulo: Milenium, 1979.

DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova,


1962.

ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997.

FERREIRA, Aurélio B. de Hollanda. Dicionário Aurélio Eletrônico Século


XXI. Versão 3.0. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 1 cd-rom.

FINNEY, Charles. Teologia Sistemática. Trad. Lucy Iamakami, Luís Aron


de Macedo e Degmar Ribas Júnior. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

FRANKLIN, Ferreira; MYATT, Allan. Teologia Sistemática: uma análise


histórica, bíblica e apologética para o contexto atual. 2 Ed. São Paulo: Vida
Nova, 2008.

GEISLER, Norman. Teologia Sistemática: A Bíblia, Deus, a criação. Vol. 1.


Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

______. Teologia Sistemática: pecado, salvação, a Igreja, as últimas coisas.


156 ˃˃˃

Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

GERMANO, Altair. O Batismo com o Espírito Santo: perspectivas sob um


olhar crítico do pentecostalismo clássico. São Paulo: Arte Editorial, 2011.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: atual e exaustiva. São Paulo:


Vida Nova, 1999.

HORTON, Stanley M. (ed.). Teologia Sistemática: uma perspectiva


pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.

HOUAISS. Dicionário Eletrônico da Língua Portuguesa. Versão


1.0 Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 1CD.

LANGSTON, A. B. Esboço de Teologia Sistemática. Rio de Janeiro:


JUERP. 1991.

PANNENBERG, Wolfhart. Teologia Sistemática. Vol. 2. Trad.


Werner Fuchs Paulus. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009.

______. Teologia Sistemática. Vol. 3. Trad. Werner Fuchs Paulus.


São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2009.

SEVERA, Zacarias de Aguiar. Manual de Teologia Sistemática. 5


ed. Curitiba: Santos, 2010.

STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Trad. Augusto


Victorino. 2 ed. São Paulo: Hagnos, 2007.
˂˂˂ 157

APÊNDICE A – RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS

UNIDADE 1

SEÇÃO 1
1. Quanto à palavra “Trindade”, este termo não está na Bíblia.
Provavelmente tenha sido Tertuliano (160-220 d.C.) o primeiro
a utilizar esta palavra. Tanto ele como Orígenes (184-254 d.C.)
trabalharam na formulação da doutrina da Trindade.
2. Há um único Deus em essência, existente eternamente em três
pessoas distintas e co-iguais, manifestas no Pai, no Filho e no
Espírito Santo.
3. Concílio de Constantinopla (381): definiram Trindade como
uma essência divina revelada em três pessoas.
4. Argumento Ontológico, Moral, Teleológico e Histórico

SEÇÃO 2
1. O credo são as declarações da igreja primitiva que os cristãos em
todos os tempos e lugares têm reconhecido.
2. Seu objetivo é proporcionar ao candidato ao batismo um modo
claro de expor sua fé, servir como roteiro para instrução na doutrina
cristã, além de ser usado na liturgia cristã, geralmente depois da
leitura das Escrituras, como uma afirmação da fé congregacional.
3A. O sabelianismo é a noção de que só existe uma pessoa divina,
Deus o Pai, que se manifesta nas três formas, Pai, Filho e Espírito
Santo.
3B. Deus apresentou-se de três modos, mas não existe eternamente
como três pessoas, Deus é somente uma pessoa.
3C. Ensina que Cristo era apenas uma criatura e jamais o Deus
eterno.
3D. Negaram a divindade de Cristo, que era um mero homem até
que ressuscitasse e que, a partir daí, tornou-se divino.

SEÇÃO 3
1A. Deus é um e único; há somente um Deus soberano e que tudo
depende dEle.
1B. Auto-existência é a perfeição de Deus em poder existir por
si mesmo, na completa autonomia de qualquer fonte, origem ou
energia.
1C. O Deus vivo tem existência própria, ou seja, ele tem em si
mesmo a fonte da vida.
1D. A imutabilidade é a qualidade que Deus tem pela qual não há
mudança em Seu próprio ser. Ele não melhora nem piora.
1E. Onipotência é a infinidade de Deus em relação ao Seu poder.
Significa que Ele pode todas as coisas de acordo com sua natureza
perfeita.

SEÇÃO 4
1. As qualidades essências da personalidade são:
autoconsciência, autodeterminação, consciência moral.
2A. A veracidade divina implica que ele é o Deus verdadeiro e que
todo o seu conhecimento e todas as suas palavras são ao mesmo
tempo verdadeiras e o parâmetro definido da verdade.
2B. O conceito de justiça divina toma por base a própria natureza
de Deus, que constitui o mais elevado padrão possível, pelo qual
todas as outras leis são julgadas.
˂˂˂ 159

2C. A santidade divina denota que Ele é distinto absolutamente


de todas as Suas criaturas e separado de todo o mal moral. Sua
santidade implica também que Ele é absolutamente perfeito em
tudo.
2D. A ira do Criador está relacionada com sua santidade. A ira de
Deus consiste na santa reação do ser de Deus contra aquilo que é
contrário à sua santidade.

UNIDADE 2

SEÇÃO 1
1A. Os docetas defendiam que Jesus Cristo era apenas divino e
não humano.
1B. Apolinário negava a integridade da natureza humana de Jesus.
Afirmava que Jesus Cristo não tinha mente humana; possuía
apenas o corpo humano e a alma irracional. Assim, o verbo tomou
o lugar da mente, da alma irracional.
1C. A natureza divina de Cristo absorveu a natureza humana.
Após a união, somente permaneceu a natureza divina, revestida
de carne humana.
1D. Criam que Jesus era um extraordinário profeta, que se
identificava com os pobres, que não era Deus, mas apenas um
filho natural de José e Maria.
1E. Os adocionistas criam que Jesus era tão submisso ao Deus Pai,
que este o adotou como seu Cristo e Salvador dos seres humanos .
Desta forma, Jesus tornou-se o Cristo e possui agora uma posição
de destaque e divina.
2. Concílio de Calcedônia (451 d.C.)
160 ˃˃˃

SEÇÃO 2
1.A união das duas naturezas humana e divina em Jesus é
denominada de união hipostática.
2.As duas naturezas, divina e humana, são claramente distintas
e substancialmente diferentes, mas inconfundíveis, imutáveis,
indivisíveis e inseparáveis.
3.Ele é denominado: Deus (Mt 1. 23; Jo 1. 1; Rm 9. 5; Tt 1. 3; 2. 13);
Senhor (Mt 12. 8; Rm 14. 9); Senhor meu, e Deus meu (Jo 20. 28);
Filho de Deus, Deus verdadeiro (1Jo 5. 20); Alfa e Ômega (Ap 1. 8).

SEÇÃO 3
1.Seu nascimento foi normal e humano (Mt 1. 25; Gl 4. 4); seu
crescimento e desenvolvimento foram aparentemente normais (Lc
2. 40-52; Hb 5. 8); esteve sujeito às limitações físicas: como cansaço
(Jo 4. 6), fome (Mt 4. 2; Mc 11. 12), sede (Mt 11. 19; Jo 19. 28); sofreu
intensa agonia em sua morte física (Mc 14. 33-36; Lc 22. 44,63; 23.
33); experimentou emoções humanas: alegria (Lc 10. 21); tristeza
(Mt 26. 37), amor (Jo 11. 5), compaixão (Mt 9. 36); surpresa (Lc 7. 9),
ira (Mc 3. 5); foi morto (Jo 19. 33).
2.1) a morte expiatória de Cristo foi fundamental para os que nele
confiam, pois ele foi o segundo Adão, um homem real e que poderia
oferecer um sacrifício eficaz em favor da humanidade; 2) Jesus
demonstrou empatia e intercessão pelo povo, pois experimentou a
dor e o sofrimento; e 3) Jesus nos revela como é a humanidade em
seu estado original.

SEÇÃO 4
1.Sacerdote, profeta e rei.
2A. A função do profeta é falar em nome de Deus. No AT, ele
˂˂˂ 161

interpretava os atos e os planos de Deus e orientava o povo quanto


a esses planos. Tornava-se um representante de Deus para o povo.
2B. Sacerdote era uma pessoa divinamente escolhida e consagrada
para representar os homens diante de Deus e oferecer dons e
sacrifícios que assegurassem o favor divino, e ainda para interceder
pelo povo.
2C. As profecias no AT anunciaram a vinda de um rei, da
descendência de Davi, que iria governar Israel e as nações, com
justiça, paz e prosperidade

UNIDADE 3

SEÇÃO 1
1A. Espírito de Cristo (Rm 8. 9; 1Pe 1. 11); Espírito de Jesus Cristo
(Fp 1. 19); Espírito de Jesus (At 16. 7); Espírito de Seu Filho (Gl 4.
6); Espírito do Senhor (At 5. 9; 8. 39);
1B. Um Espírito (Ef 4. 4); Sete Espíritos, que revela a Sua perfeição
(Ap 1. 4; 3. 1); Senhor, o Espírito (2Co 3. 18); Espírito eterno (Hb 9.
14); Espírito da glória e de Deus (1Pe 4. 14); Espírito da vida (Rm
8. 2);
1C. Espírito de santidade (Rm 1. 4); Espírito Santo (Sl 51. 11; Mt
1. 20; Lc 11. 13), que é o “título mais formal do Espírito e mais
frequentemente usado”; o Santo (1Jo 2. 20);
1D. Espírito de Sabedoria (Ex 28. 3; Ef 1. 17); Espírito de sabedoria
e de entendimento (Is 11. 2 ); Espírito de conselho e de fortaleza (Is
11. 2); Espírito de conhecimento e de temor do Senhor (Is 11. 2 );
Espírito da verdade (Jo 14. 17)
2. O termo paracleto significa literalmente um ajudador ou alguém
que é chamado para ficar ao lado para ajudar. O próprio Senhor
162 ˃˃˃

Jesus afirmou que o Espírito Santo seria “outro paracleto”, que


continuaria a obra de Cristo. A promessa de Jesus quanto a “outro”
paracleto demonstra que aquilo que Cristo foi para eles, o Espírito
continuaria a ser.

SEÇÃO 2
1. Na criação, na história de Israel, na revelação dos escritos
bíblicos, no caráter das pessoas, na profecia que o Messias seria
ungido, na profecia que seria derramado sobre todos.
2. Ajuda a orar, santifica, ensina e revela, regenera e sela com o
Espírito.

SEÇÃO 3
1. Habitação no crente, ensino, consolo, poder espiritual, plenitude
do Espírito Santo.
2. O termo dons espirituais traduz a palavra grega pneumatikon,
derivado de pneuma, “espírito” (1 Coríntios 12. 1; 14. 1,12).
Através de uma variedade de dons espirituais concedidos
sobrenaturalmente aos crentes o Espírito Santo age no meio da
igreja e através dela.
3. O objetivo dessas manifestações do Espírito é a edificação e a
santificação do povo de Deus.

SEÇÃO 4
1.Em Jerusalém, sobre os cristãos judeus; em Samaria, sobre
cristãos samaritanos; em Cesareia, sobre cristãos gentios; em
Éfeso, sobre cristãos seguidores de João.
˂˂˂ 163

2. O Batismo com o Espírito Santo é uma obra distinta e à


parte da regeneração efetuada por Deus. Assim como a obra
santificadora do Espírito é distinta e completiva em relação à
Sua obra regeneradora, o batismo também complementa a obra
regeneradora e santificadora do Espírito. Ser batizado no Espírito
significa experimentar a plenitude do Espírito (At 1. 5; 2. 4).
3. 1º) o Batismo com Espírito Santo é uma referência ao novo
nascimento, à regeneração do espírito e não a uma segunda
bênção; 2º) o Batismo com Espírito Santo foi um momento único
na história que não deve ser imitado em nossos dias.

UNIDADE 4

SEÇÃO 1
1. Salvação é normalmente utilizado no sentido de libertação física
da mesma forma que Paulo desejava ser liberto ou solto do cárcere
(Lc 1. 69, 71; At 7. 25; Fp 1. 19). No sentido espiritual, a salvação
se refere ao processo pelo qual Deus, por intermédio da obra de
Cristo, liberta os pecadores da prisão do pecado.
2.Teoria da Substituição Penal, teoria da influência moral, teoria
do resgate,
teoria da satisfação, teoria governamental.

SEÇÃO 2
1.A presciência, predestinação, chamamento, justificação e
glorificação
2.O Calvinismo defende a eleição incondicional. Entende que esse
164 ˃˃˃

texto bíblico afirma a escolha arbitrária de Deus; isto implica que a


responsabilidade e participação humana no processo não existem.
3.Resposta individual.

SEÇÃO 3
1.Significa: aplacar, pacificar, conciliar, encobrir com um preço,
fazer expiação por (expiar é remover o pecado ou ofensa da
presença de alguém). Quando o contexto focaliza a expiação em
relação a Deus, o significado é “propiciação”. Quando estas
palavras relacionam-se com o ser humano, opta-se por “expiação”
2.No NT, Jesus Cristo é apresentando como “resgatador” e também
como “resgate”; os pecadores perdidos são os “resgatados”.
3.Paulo utiliza a expressão “sermos selados” com o Espírito
Santo como um ato salvífico que garante a salvação. Ele disse aos
efésios sobre a presença do Espírito Santo na vida deles: “o qual
é o penhor da nossa herança, ao resgate da sua propriedade, em
louvor da sua glória” (Ef 1. 14). Este selo é recebido no momento
da justificação e também serve como a garantia da glorificação até
o final.

SEÇÃO 4
a)A justificação é um ato instantâneo e passado da parte de Deus,
por meio do qual somos salvos da culpa advinda do pecado – o
registro do pecado é apagado e nos tornamos sem culpa diante do
nosso Juiz (Rm 8. 1);
b)A santificação é o segundo estágio no processo de salvação.
Consiste na libertação do poder do pecado. Diferente da justificação
que é um ato pelo qual declara o fiel justo, a santificação é um
processo contínuo que ocorre no tempo presente, através do qual
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Deus está tornando o indivíduo justo em sua prática diária.


c)A glorificação é o terceiro estágio da salvação. Diferentemente da
justificação, que livra o fiel do castigo merecido, e da santificação
que livra o fiel do controle e poder presente do pecado, a
glorificação é o ato futuro que livrará o fiel da presença constante
do pecado em sua vida.
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