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Rev. Dir. PúbJ. e Ciência Política - Rio de Janeiro - \'01. VI, n" 3 - set./dez. 1963
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ilusórias do conflito, cuja profundidade jamais se alcançará
preterindo o envolvimento da questão social.
Ontem, na recente década dos cinqüenta, os problemas
dessa mudança se disputavam em têrmos acadêmicos e doutri-
nários. Desde 1960, a fase de saber se as reformas devem ou
não ser feitas já passou. Agora, pergunta-se com impaciência
qual a reforma que se fará, entrando a sociedade brasileira na
crise mais aguda de combate pela aplicação das fórmulas pre-
conizadas. Se não andarmos com muita pressa, os fatos toma-
rão a dianteira, de nada valendo as receitas preparadas, pois
a opção paz ou guerra ocorerrá nas ruas, sem o consentimento
ou o contrôle dos que responsàvelmente deveriam estar à testa
da mudança irreprimível.
Mas êstes se omitem no meio dessa baderna de opiniões,
onde um côro de vozes reacionárias dá a falsa impressão de
que uma crise existe porque está sendo subversivamente fo-
mentada por agentes agitadores quando a verdade se acha
precisamente no contrário: é a crise mesma que faz pulular os
agitadores, tôda essa casta de promotores ostensivos da solu-
ção violenta, que o patriotismo nos impõe prevenir a todo o
custo. Como preveni-la, pois? Arvorando as bandeiras da re-
forma coeial, cclocando-as nas mãos dos que têm idoneidade
para promovê-la. Desarmando o elemento sedicioso. Tirando-
lhe as razões, o argumento, o combustível, a crítica certa com
que poderão levar-nos ao desfecho incerto, em suma, acabando
com a crise para podermos então acabar com a agitação.
Os cooperadores reacionários que sustentam a contra-re-
forma deviam romper a espêssa névoa de preconceitos que lhes
tolda a visão social, tomando alguma lição útil no exemplo da
China de Chiang-Kai-Schek e daquela Cuba do general Batista.
Estão êsses fanáticos mais próximos de Fidel Castro e Mao-
Tse-Tung do que poderia parecer à primeira vista pela distân-
cia ideológica em que o seu extremismo aparentemente os co-
locou.
O maior reformista do continente é o presidente Kennedy.
No caso brasileiro as horas contam por meses. Cada dia que
perdemos, equivale a anos de atraso na solução social do gra-
víssimo problema nacional. Cada procrastinação que o esfôrço
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anti-reformista faz poderá custar-nos imensamente caro; pode-
rá tornar irremediável o que ontem seria fácil, o que hoje é
difícil, o que amanhã será impossível. E dêste amanhã que
vertiginosamente nos acercamos. O País está entrando no ca-
minho da violência; armas rebeldes se estão levantando contra
a ordem constitucional, os quartéis se acham inquietos, a au-
toridade se desmancha, a inflação, que roeu as resistências
tradicionais, que minou as instituições mais respeitáveis, lança
já no meio da desordem o «ultimatum~ político de tôdas as
espirais inflacionárias: a revolução ou a ditadura.
•••
Tornemos, porém, ao ponto de partida: a técnica de go-
vêrno de que dispomos é má e embaraçosa. Solidária com a
reação e o caudilhismo no programa anti-reformista se acha o
sistema presidencial de govêrno. Eis o que intentaremos de-
monstrar, em apreciações subseqüentes.
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2. A infeliz Técmca pI'leSidoocial de Govêmo. No sistema
presidencial de govêrno é consideràvelmente mais difícil que no
parlamentarismo abrir a via constitucional para as reformas
indispensáveis ao País.
Um dos traços marcantes dessa forma de govêrno vem a
ser a separação rígida ou acentuada de podêres, uma incomu-
nicabilidade relativa, um certo grau de equilíbrio - quando
o sistema presidencial funciona a contento - entre os três
ramos básicos da atividade estatal: o executivo, o legislativo
e o judiciário.
Em conexões ideológicas, o presidencialismo é técnica de
govêrno com mais de cento e cinqüento anos de atraso. Ex-
prime por excelência a concepção de organização política do
Estado liberal, com o dogma de Montesquieu relativo à sepa-
ração de podêres, a obsessão de salvaguarda judiciária de
direitos individuais prevalecendo contra o interêsse social e
o federalismo, mal entendido, como fôrça de contenção do
poder estatal.
Hão de retorquir-nos que o sistema parlamentar também
traduziu históricamente uma fase na concepção do Estado li-
beral. Com efeito, tanto o presidencialismo como o parlamen-
tarismo foram mecanismos da democracia limitada, da demo-
cracia temperada, da «democracia governada» (Burdeau), da
democracia liberal, como todo seu esplendor do século XIX.
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Mas como técnicas iniciais da democracia representativa,
tiveram ambas desenvolvimento distinto. Ao passo que o par-
lamentarismo se mostrou extraordinàriamente flexível, o mes-
mo não se deu com o presidencialismo.
Aplicado à democracia liberal, o sistema parlamentar tra-
zia em si mesmo o germe de uma evolução que sOmente o colo-
caria em máxima autenticidade quando põsto a serviço da de-
mocracia representativa na linha final de seu desdobramento,
como democracia política inteira, democracia do sufrágio uni-
versal, por isso mesmo «democracia governante», segundo a
usual terminologia do publicista francês já referido. Esta a
razão pela qual, ao contrário do que se diz em alguns com-
pêndios, o século XX - e não o século XIX - é o verdadeiro
século do parlamentarismo, quer dizer, do parlamentarismo
adulto, do parlamentarismo que amadureceu, que cresceu, che-
gando, conforme o exemplo da Inglaterra, à máxima perfeição
e ao mais extenso emprêgo de tôdas as suas faculdades de ser-
vir de veículo à condução do pensamento político em bases ri-
gorosamente democráticas.
Já o presidencialismo é de sua índole a versão mais aca-
bada do antigo poder liberal. Os «Pais da Constituição» ame-
ricana de Filadélfia eram gênios políticos. O código constitu-
cional que elaboraram consagrcu aquela técnica, consciente-
mente concebida, racionalmente formulada, cientificamente pre-
parada na solidão das leituras e reflexões de gabinete, com
relativa tranqüilidade, e proposta depois no debate tempestuoso
da Convenção, onde imperava, porém, a unanimidade ideoló-
gica do liberalismo, que fàcilmente permitiu edificar uma pá-
tria modêlo das novas idéias.
Vê-se na história americana como o presidencialismo res-
ponde com dificuldades à mudança dos tempos, ao desafio das
crises, ao reequilíbrio periódico das instituições, face a novas
exigências do comportamento político e social.
A história constitucional dos Estados Unidos é sucessiva-
mente a história de um «govêrno de juízes» (as eminências
pardas da «ditadura togada», aquêles intocáveis que barraram
por quase um século o advento da justiça social, aquêles «guar-
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diões:. da Constituição, que, segundo um autor, «nunca se apo-
sentam e raramente morrem:. ... ), logo seguida de «govêrno
congressionab, a que alude amargamente Wilson, empregan-
do-o por título de uma de suas obras clássicas, «govêrno con.
gressionab, pois, em que o Presidente americano viu todo seu
trabalho a favor da paz internacional desfeito com a recusa
senatorial de ratificação do Tratado de Versalhes, desastre
político cujas conseqüências arredaram os Estados Unidos do
campo europeu e fizeram possível na Europa a proliferação
das ditaduras nazista e fascista do primeiro após-guerra; e,
por último, no período mais raro dos homens fortes, dos Pre-
sidentes de personalidade enérgica, «govêrno presidenciab, a
um. passo já da onipotência, da ditadura, dos abusos da auto-
ridade pessoal.
São três podêres que concorrentemente disputam a hege-
monia em épocas distintas da história política americana, po-
dêres rivais, cordialmente desafetos, a se embaraçarem reci·
procamente em campanhas que, por vêzes, deixam desorientada
e extenuada a opinião pública do País.
E êste modêlo de luta é o paradigma da democracia re~
presentativa de cunho presidencialista. Se deixamos a pátria
do presidencialismo e entramos nas áreas que lhe copiaram o
retrato, o quadro é irremediàvelmente doloroso e repugnante.
Haja vista a América Latina. Que fêz aqui o presidencialismo?
Engendrou duas pragas da opressão política: o militarismo e
o caudilhismo; fêz desta parte do continente um sombrio quin-
tal do despotismo, onde durante mais de século e meio a fome
das ambições imperialistas se cevou fartamente, tranqüilamen-
te, no confisco da riqueza colonial, com a intervenção econô-
mica estrangeira garantida pelas próprias annas dos povos
subjugados.
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Vejamos agora o Brasil e sua infeliz técnica presidencial
de govêrno. Nós que podíamos haver constituído uma exceção
digna nesse quadro de tanta desonra política, desperdiçamos o
pouco que o Império nos deu de bom: o rudimento da expe-
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A forma parlamentar de govêrno, marcando «os minutos
da opinião», como já disseram seus propugnadores é, no qua-
dro das instituições democráticas, o sistema tecnicamente mais
adequado a desobstruir de resistências procrastinadoras a es-
trada da reforma social. A energia das assembléias represen-
tativas, dispondo de plenos podêres, já fêz histôricamente mi~
lagres de ação, trabalho e capacidade. As casas legislativas são
no parlamentarismo a mobilização geral e permanente dos po-
dêres políticos do povo.
No parlamentarismo, não estaria a opinião pública assis-
tindo sem participação a êsse trágico estremecimento de dois
podêres que a rivalidade, a estreiteza de vistas e a desconfiança
mútua separaram irremediàvelmente, ficando o País sem meios
de conter a crise.
A essa crise se prendem tanto os princípios sociais em
disputa como também os instrumentos de que dispomos para
encaminhar o povo brasileiro a pronta solução do problema da
metamorfose institucional. Tais meios se repartem nas mãos
do Executivo e do Legislativo, que fazem todavia do preceito
constitucional do artigo 36 a mais dolorosa irrisão.
A opinião maciça do povo brasileiro é reformista. Mas essa
opinião no sistema presidencial se faz algo inoperante; chega
quase sempre lenta, tardia, ineficaz a produzir efeitos. Quando
se aquece às mais elevadas temperaturas, sua ebulição põe em
perigo as instituições; é mais de temer-se, que de preconizar,
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4. ~ e Comrpc;ão 00 listado 80cial brasileiro, Ing&-
rência. do Poder econômico e Necessidade de o Estado ampamr
fina.ooei:mmente o S:lSItema partidário. O desprestígio das ins-
tituições em que se cifra a organização política nacional pa-
tenteia crise tão séria que só a percebem plenamente aquêles
que, descendo a análises mais profundas, não ficam na crosta
dos acontecimentos, comentando superficialmente a desordem
social como reflexo do ato impensado de um Presidente que se
suicidou, das obras inacabadas de um faraó que fêz arder a
fantasia popular levantando no deserto a metrópole do Pais,
da deserção de um Messias que renunciou suburbanamente ao
poder, com seis meses de govêrno, ou da inépcia de um gover-
nante, que se fêz herdeiro do mais prestigiado culto póstumo
dêste País e antigo vice, não menos infeliz, cujo poder chega
aparentemente ao fim com as instituições mesmas a que pre-
side. Em suma, o suicídio, a prodigalidade, a renúncia e a inca-
pacidade dos Presidente.s agravaram a crise, mas em maneira
alguma a criaram.
Essa crise alcançou culminação histórica e se vai resolver
em têrmos de opção: ou conservamos a obsoleta e anacrônica
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Urge, além das refonnas previstas, a refonna eleitoral
incontinente. Qual meta precípua, faz-se mister certa legisla-
ção de partidos, que ponha tênno à ação com que o poder eco.-
nômico desvirtua o regime. As eleições se tornam continua-
mente mais caras e proibitivas. Cada legislatura assinala a
presença de repetidas levas de milionários ignorantes investi-
dos no mandato representativo.
A burguesia, que perdeu a batalha do sufrágio universal,
ganhou novamente o poder das urnas, estendendo sôbre o País
vasta rêde de conspiração financeira, através de capitais par-
ticulares ou oficiais, individuais ou agrupados, que se caracte-
rizam todos por sua inconfessável origem, e cuja intervenção
concentrada tem por imediata conseqüência a contaminação
da vontade democrática, o falseamento do processo eleitoral.
As casas legislativas se esvaziam dos antigos políticos,
cujos mandatos descendiam das situações sociais estáveis, pré-
vias à crise da transfonnação industrial.
Não basta dar lições de moral aos políticos ou ministrar-
lhes conselho de retidão cívica para que se conservem os mes-
mos sempre imaculados do aviltante contacto e dependência do
poder financeiro.
A penúria de meios materiais no processo eleitoral carís-
simo e corrompido já sacrificou consideràvelmente a democra-
cia brasileira, já encerrou brilhantes carreiras parlamentares,
já desterrou da vida pública vocações respeitáveis de homens
públicos, já ocasionou gravíssimos dan~s à ordem democrática.
Os últimos políticos sem compromissos na área financeira da
putrefação se acham debaixo da mesma ameaça iminente, pois
a consciência lhes dita de preferência a deserção da vida par-
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A reforma partidária no Brasil faz imprescindível de igual
maneira a adoção de medidas concretas tendentes a quebrantar
a ação nefasta das potências financeiras, que pervertem as
urnas e corrompem a representação. Do mesmo passo que não
tememos nem repudiamos o intervencionismo do Estado na
vida econômica, quando êsse intervencionismo não busca fins
alheios ou contrários ao interêsse comum, tão pouco depara-
mos razões com que impugnar a legitimidade do auxílio pe-
cuniário do Estado aos partidos políticos, tanto da oposição
como do poder, desde que o financiamento oficial se faça em
estrita observância dos preceitos legais porventura estatuídos
para disciplinar essa ajuda.
Institucionalizada juridicamente semelhante subvenção,
tornada compulsória a publicidade das despesas partidárias,
erigidos meios de fiscalização eficaz e permanente, tudo indíca
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teríamos chegado de vez ao saneamento da operação eleitoral,
eliminando o impedimento técnico mais grave de corrupção da
verdade democrática em nosso País, que é a presença de finan-
ciamento caudaloso a candidatos e candidaturas, triunfantes
exclusivamente graças às «caixinhas» invisíveis e às fontes
suspeitas e misteriosas do dinheiro escuso.
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5. A Refonna. como Instrumento de Conservação. Todos
os movimentos de sentido reformista que a história política e
social do Brasil registra não se deram sem graves abalos e
apreensões do elemento conservador. Êste, no meio de tôdas as
torrentes reivindicatórias, vislumbrou sempre a iminência de
uma catástrofe ou decomposição nacional.
Mas quando a reforma chegava, por métodos tranqüilos
e pacíficos, que invariàvelmente redundam da recatada índole
do povo brasileiro, de sua paciência perseverante, de seu tem-
peramento privilegiadamente brando e acomodado à ordem, o
que para logo se observava era a iniqüidade de tôdas aquelas
resistências, a sem razão absoluta daqueles temores e assom-
bros, a compreensiva certeza de que a mudança fôra proveitosa
aos superiores e patrióticos interêsses da coletividade suposta-
mente ameaçada.
No século XIX. muitos fantasmas fizeram o pesadelo da
sociedade brasileira, quando se queria extinguir a escravidão.
Essa horrenda forma social do passado, que foi uma nódoa nas
instituições da antigüidade, encontrou em nossa Pátria arden-
t::s apologistas, penas vibrantes de estadistas e escritores que
viram nas bases daquele sistema ominoso a garantia mais
segura da ordem, da riqueza, do bem-estar da família brasi-
leira. Todos os que se abraçaram à idéia reformista pagaram
caro sua adesão ao princípio inovador. As raras individualida-
des suspeitas que esposaram a causa foram ferozmente con-
fundidas com a natureza mesma do movimento. Com isso,
buscava-se mostrar pelo descrédito o caráter malsão da re-
forma e enfrear a corrente que agitou o pensamento de mu-
dança e sàbiamente apontou os rumos incriminadamente
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As mesmas vozes do século XIX prognosticam pois no
País de 1963 o apocalipse agrário da reforma que inevitàvel-
mente se fará. Mas depois da tempestade, como Rui já uma
vez assinalou e realmente aconteceu, veremos a mesma ordem
conservadora agradecer seus destinos de continuidade e pro-
gresso à implantação das reformas obtusamente impugnadas
pela cegueira reacionária. Kennedy e Moscoso no continente
americano são homens um milhão de vêzes mais inteligentes
do que êsses cavalheiros que formam a fina flor da boçalidade
botocuda, aforçurada mais em antecipar vertiginosamente a
convulsão social, com suas posições rígidas e sabotadoras da
idéia reformista, do que em salvar o patriciado rural, cuja
causa tão desastradamente desservem. Entre a mudança legal
, e a mudança revolucionária, estão inquestionàvelmente optando
por esta última.
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6. A Demooracia. cr-".iStã e a Ques1;ãA) social no Brasa
Como assinalou um dos órgãos mais respeitáveis da imprensa
britânica, o pontificado de João XXIII reconciliou o altar com
o progresso social, apagando nas duas cartas circulares - a
«Mater et Magistra:. e a «Pacem in Terris» - aquela antiga
imagem que equivocadamente associava o sacerdócio à Reação,
o poder de Deus ao poder dos privilegiados, e a palavra divina
do apostolado cristão ao destino das situações conservadoras
e retrógradas.
Arvorando a bandeira reformista, as camadas mais lúci-
das do movimento cristão, caminhando com o povo na van-
guarda de sua luta emancipadora, intentam arrebatar aos
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No Brasil a democracia cristã aderiu decididamente ao
movimento reformista. Seu programa político usa linguagem
desembaraçada e clara, comprometendo nas transformações
sociais que se preludiam o comportamento dos que exprimem
a orientação mais chegada ao pensamento oficial da igreja.
Dispõe-se a facção democrata-cristã a fazer a cruzada das
correntes reformadoras.
A leitura do manifesto lançado êste ano pelo Partido
Democrata Cristão e assinado pelo seu Presidente, o Gover-
nador Ney Braga, do Paraná, não deixa nenhuma dúvida a
êsse respeito. Os têrmos em que tal documento se acha vazado
indicam a posição vanguadeira dos elementos católicos que se
abrigam à sombra de uma radicalização inequívoca.
As reformas ali propostas abrangem a reforma agrária, a
reforma urbana, a reforma eleitoral, a administrativa, tribu-
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