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Introdução
A resistência para experimentar novos alimentos é uma queixa muito comum
de pais de crianças do mundo todo. As pesquisas mostram que o medo ou receio
de experimentar novos alimentos é relativamente frequente em crianças pequenas
e costuma ficar mais evidente a partir do primeiro ano de vida1.
Ao oferecermos apenas uma variedade restrita de alimentos que a criança
aceita, com a boa intenção de garantir a ingestão de uma quantidade suficiente,
estamos (muitas vezes sem perceber) reforçando e contribuindo para a seletividade
alimentar ou neofobia (esse medo de experimentar novos alimentos).
Em termos nutricionais, sabe-se que a variedade de alimentos que a criança
ingere é muito mais importante do que a quantidade. Em outras palavras, para
garantir o suprimento das necessidades nutricionais da criança, é preferível que
ela coma uma quantidade pequena, mas de alimentos variados; do que um prato
imenso de macarrão ao alho e óleo, por exemplo, preparado sempre da mesma
maneira, todos os dias.
É normal que a criança demonstre resistência para comer um alimento novo
na primeira exposição. Isso não significa que ela não goste ou não aceite aquele
alimento de forma definitiva. Na maioria das vezes, é apenas uma forma de
expressar sua cautela e ansiedade frente ao alimento novo.
Então, quando você oferecer um alimento novo e a criança disser logo um
“eca!” ou trancar os lábios e virar o rosto para fugir da colher, entenda como um
“Eu não sei o que é isso e não me sinto seguro para comer esse alimento que você
quer que eu coma”. Não desista logo nas primeiras tentativas!
Comer um alimento novo desconhecido pode ser muito difícil num primeiro
contato e isso não vale apenas para as crianças. Lembre-se de você quando
começou a comer comida japonesa ou outra de sabor e textura muito diferentes
do que você estava acostumado. Quantas vezes você precisou ficar exposto àquela
comida até se sentir seguro para comê-la e aprender a gostar dela? Provavelmente,
pelo menos umas duas ou três vezes. Mas se você for oriental, provavelmente não
teve dificuldades em comer comida japonesa, talvez nem se lembre de quando a
experimentou pela primeira vez, pois você provavelmente foi exposto a ela desde
pequeno.
Além disso, nós adultos temos uma vantagem sobre as crianças que torna
esse processo um pouco mais tranquilo para nós: Somos capazes de prever como
será a textura e a sensação de determinado alimento em nossa boca, antes de
experimentá-lo. Portanto, para a criança, um alimento novo pode parecer ainda
mais estranho e assustador do que para nós.
Nesse sentido, a criança dificilmente aceitará colocar em sua boca aquilo que
ela não conhece ou que não lhe é familiar. Ao expormos a criança de forma repetida
a um mesmo alimento, ela passa a se acostumar com a presença, o aspecto, o
cheiro, e se torna mais aberta para interagir com ele.
Assim, os cinco passos que descrevo a seguir devem ser entendidos como
parte de um processo de familiarização e desenvolvimento de uma relação positiva
com a situação de alimentação, cujo resultado será o aumento do interesse e da
motivação interna da criança para conhecer e experimentar novos alimentos.
Passo 1
Seja o exemplo!
As crianças nos observam o tempo todo e tendem a reproduzir os modelos
que têm em casa. Portanto, dar o exemplo é fundamental para que a criança
sinta a segurança e a motivação necessárias para experimentar e comer novos
alimentos. Em outras palavras, não adianta ficar falando para a criança comer
frutas, legumes e verduras porque é bom para a saúde, se você não come. Se
este argumento não é suficiente para motivar você a comer esses alimentos,
porque você acha que com a criança será diferente?
Quando você fala para a criança comer alguma coisa porque faz bem à saúde,
mas você mesmo não come, ela imediatamente vai inferir que aquele alimento
tem um gosto ruim, que é preciso fazer um sacrifício para comê-lo.
Então, o primeiro passo é comer na frente da criança os alimentos que
você gostaria que ela experimentasse. Apenas sente na frente dela e coma o
Copyright 2018 | Dra. Fabíola Flabiano Almeida
A CRIANÇA QUE NÃO COME - 5 passos para vencer a resistência em experimentar novos alimentos
Passo 2
Convide a criança a
conhecer mais sobre o
alimento
poderes). Diga, por exemplo, que o super poder da cenoura é fazer com que a gente
enxergue melhor. Conte para a criança que a cenoura pode se transformar em
sopa, bolo, purê, quadradinho, cabelinho etc. Quanto mais a criança se interessar
em conhecer o alimento, menos receio ela terá de experimentá-lo.
Passo 3
Faça um jogo ou
brincadeira com o
alimento alvo
Passo 4
era e não se sentia segura para experimentar, agora já não é mais um desconhecido.
Passo 5
Modifique a forma de
apresentação
Se mesmo depois de seguir os quatro primeiros passos, a criança ainda não tiver
se interessado em experimentar ou experimentou, mas não gostou do alimento da
forma que vocês cozinharam, varie as receitas com o mesmo alimento, partindo
de coisas que a criança já gosta e aceita. Por exemplo, se a criança não gostou de
cenoura cozida, faça cenoura refogada ou cenoura crua ralada. Pode ser que você
tenha que começar pelo bolo de cenoura que a criança terá mais facilidade em
aceitar.
Considerações
Finais
Agora que você já sabe os Cinco Passos para vencer a resistência da
criança em experimentar novos alimentos, é hora de colocar em prática
tudo o que você aprendeu!
Porém, não se esqueça de que para algumas crianças, o processo de
aceitação de novos alimentos pode ser mais difícil do que para outras.
Respeite o tempo e o processo da sua criança. Segure a ansiedade e não
tente acelerar as coisas.
EXPOR A CRIANÇA AO ALIMENTO NÃO SIGNIFICA FAZÊ-LA
EXPERIMENTÁ-LO. Lembre-se que a decisão de experimentar ou não
deve ser da criança e não sua!
A paciência é o principal
ingrediente da receita do sucesso!
REFERÊNCIAS:
1. Cooke, L. The importance of exposure for healthing eating in
childhood: a review. Journal of Human Nutrition and Dietetics. 2007;
20(4): 294-301.
2. Howard A, Mallan K, Byrne R, Margarey A, Daniels L. Toddlers’
food preferences: the impact of novel food exposure, maternal
preferences and food neophobia. Appetite. 2012; 59(3):818-825.
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A CRIANÇA QUE NÃO COME - 5 passos para vencer a resistência em experimentar novos alimentos
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