Ichiro e Daigo estão na plantação colhendo arroz e como de costume enchendo as cestas, levando aos tambores e batendo. Quando Daigo se vira para Ichiro, e diz: Daigo – Começamos o seu treino hoje, só descansaremos um tempo antes pra não se cansar demais. Ichiro – Tá. Tudo bem, eu dormi bastante ontem pra não me cansar. Daigo – O treino vai começar da maneira mais rápida possível, você precisa aprender pelo menos o básico até o dia do campeonato. Ichiro – Como vai ser esse treino, o que a gente vai fazer? Daigo – Quando chegar a hora, eu lhe ensino. Por agora vamos nos preocupar somente em colher. Ichiro – (tsc...) Ok.
Eles terminam a colheita, Daigo entra para casa e como
da última vez vem com uma garrafa de chá, mas somente um copo. Ichiro olha sem entender direito, mas não questiona. Daigo põe chá em seu copo, bebe e não fala mais nada. Os dois permanecem em silencio por mais alguns momentos até que então Ichiro ainda não entendendo nada pergunta.
Ichiro – E então, podemos começar?
Daigo – Já começamos. Ichiro – ???
Novamente um silêncio se instaura, Ichiro percebe o copo
sobre o chão ao lado da jarra, sem pestanejar move-se rapidamente para pega-lo. Estranhamente Daigo não expressa reação. Ichiro pega o copo e põe para si mesmo o chá e então finalmente o bebe. Depois de toda essa cena aparentemente muito esquisita Daigo finalmente esboça um pequeno sorriso, Ichiro ao achar que tal sorriso seria algum tipo de deboche indaga:
Ichiro – Por que não tentou me impedir de pegar?!
Daigo – Claro que não, o fogo tem vontade por si só. Ichiro – O que? O desafio não era para ver se eu iria conseguir pegar o copo? Daigo – HAHAHA. Daigo – Eu achei que você tinha entendido, mas parece que não. Isso foi simplesmente pra te fazer ter atitude. Em uma luta nunca farão o que você espera. Todas as pessoas tem estilos próprios, elas podem e vão lhe surpreender caso você não esteja preparado. Ichiro – Não entendi. O que você quer dizer com isso? Daigo – Quero dizer que você precisa tomar decisões muitas vezes óbvias, mas além disso, você precisa tomar decisões! Ficar parado esperando que eu lhe diga algo nem sempre vai ser a melhor opção. Ichiro – Ah! Agora eu entendi. Daigo – Na luta nem tudo se trata realmente de atrito entre corpos, é preciso um físico forte e um psicológico mais forte ainda para poder suportar todo o peso que uma luta traz consigo. Daigo – Mas dito isso não vou mais lhe explicar questões assim, daqui pra frente você precisa começar a notar quando eu quero lhe falar as coisas de forma não verbal. Ichiro – Tudo bem, vamos começar então.
Após isso Daigo começa a trazer alguns incensos e povoa
todo o local com fumaça, ao fazer isso ele vai explicando para Ichiro o que isso significa.
Daigo – Essa primeira forma de treinamento vai servir pra
te ensinar a ter melhores reflexos, eu sei que você já é bem ágil devido suas lutas com espadas. Mas nem sempre podemos confiar em nossos olhos. Você tem experiência com a espada, então vamos começar o treino com ela.
Assim que Daigo termina de falar isso ele dá uma espada
de madeira a Ichiro e literalmente some no meio da fumaça, ao fundo Ichiro ouve um grito falando “EM GUARDA!” Nem ao menos tem o tempo de se preparar quando sente alguma presença se aproximando dele, foi uma sensação tão forte que mesmo sem ouvi-lo era possível sentir ele cortando a fumaça enquanto se aproximava. Ao levantar a espada para fechar a guarda Ichiro se depara com um ataque em sua espada que o faz se desequilibrar e cair para trás com o impacto. Assim que ele cai, tal força lhe ataca novamente, dessa vez ele por pouco consegue desviar, provavelmente instintivamente. Pois assim que o impacto do ataque toca o chão rachaduras começam a se formar e mesmo sem ver o barulho foi tão grande que chegou a dispersar a fumaça de uma pequena área onde o ataque se concentrou. Toda a fumaça começa a atrapalhar Ichiro e seus sentidos vão ficando cada vez mais embaralhados, já não é mais possível para ele diferenciar o que é real de uma possível ilusão criada pela confusão mental que tal fumaça havia gerado nele. Seus olhos, agora turvos fixam somente em sua frente, quando Ichiro se lembra do que Daigo alguns instantes atrás lhe dissera: “Nem sempre podemos confiar em nossos olhos.” Ao perceber isso fecha os olhos procurando maior clareza confiando somente em seus ouvidos para poder localizar de onde vem os próximos ataques que lhe seriam desferidos. Ao se concentrar durante um tempo, novamente ele ouve o comando. “EM GUARDA!” De prontidão se arruma em sua posição de guarda, dessa vez com olhos fechados consegue ouvir melhor que dá outra vez os passos de Daigo se aproximando, porém mesmo assim seus reflexos não acompanham seu cérebro lhe dando o comando para defender o ataque que viria a ser aplicado na área do lado esquerdo do torso próximo ao seu ombro. Ao levar tal pancada, dessa vez sente grande dor e exprime um grito desesperado em uma tentativa de pedir para que Daigo não pare o treinamento. Nesse mesmo momento Daigo, dá a mão para Ichiro e o parabeniza.
Daigo – Parabéns, você tem garra.
Ichiro – Eu pedi pra não parar! Daigo – Tenha calma, por hoje o treino é só isso. Você precisa de tempo para se acostumar e só então irá começar a melhorar seus reflexos. Ichiro – Ah, entendi. Mas por que já paramos? Ainda é bem cedo. Daigo – Paramos porque preciso te mostrar outra coisa além disso, lembra que eu lhe falei sobre fogo ontem? Daigo - Vou te contar um pouco sobre toda essa história, então entre os treinos vamos por um pouco de conhecimento sobre o fogo nessa sua cabeça. Mas vamos lá para fora, toda essa fumaça precisa sair daqui.
Eles saem da casa/Dojo e Daigo leva Ichiro em direção aos
campos de arroz. Ele diz as seguintes palavras: Daigo - O fogo é complicado, nossa família estuda as suas propriedades desde muito antes de até meu bisavô nascer, se ele (fogo) for mal controlado pode causar um incêndio, mas além disso pode servir para lhe acender uma vela quando se encontrar no escuro. Afinal, o problema não está nas sementes e sim em seu cultivador, não? Nesse momento Ichiro interrompe Daigo falando: “É do Confúcio essa frase, né?” Daigo lhe responde e sim e prossegue dizendo.
Daigo – Olhe toda essa plantação, como você acha que
consegui deixa-la tão grande? Ichiro – Plantando bastante? Daigo – Também, mas isso é mais sobre controle. A quantidade de água certa, de agrotóxicos, o quanto eu posso ceifar de cada vez. Enfim... Tudo é programado, nada sai de meu controle. Ichiro – Mas quando você fala de fogo, é literalmente? Daigo – hahaha. Não, é uma forma mais poética de pregar filosofia e auto controle. É óbvio que tem sim um lado de verdade no fogo, mas não espere ver pessoas com poderes extravagantes como bolas de fogo, porque isso normalmente é bem fora do comum. Ichiro – Mas é possível sim soltar bolas de fogo? Daigo – Claro, porém normalmente ele (o fogo) se manifesta de uma forma bem mais discreta.
Daigo põe sua mão sobre o ombro de Ichiro e
instantaneamente ele expressa uma reação. Ichiro – Ahhh, sua mão tá queimando. Daigo – É disso que eu estou falando, o fogo é simplesmente uma forma de manifestação da sua energia vital. Ichiro – Mas eu sempre pensei que essas histórias de energia vital fossem balela... Daigo – Grande parte são mesmo, porém algumas famílias antigas não só aqui no Japão (mas em todo o mundo) praticam o uso dessas energias e vai por mim. Não se impressione caso encontre alguém que use alguma coisa assim no campeonato. Ichiro – Mas como eu nunca fiquei sabendo disso? Daigo – Você já usa sua energia vital, só não sabe ainda. Ichiro – Você diz quando estou aqui como agora? Tipo, apenas de viver eu já gasto minha energia vital? Daigo – Não, digo sobre seu uso de espada. Você disse que seu pai lhe ensinou. Provavelmente ele mesmo usava energia vital só nunca te explicou como funcionava. Ichiro – Eu era muito pequeno quando aprendi, talvez eu tenha esquecido... Daigo – Pode ser também, mas no geral isso não vem ao caso. Daigo – Então por hoje é só. No mais tente usar os ensinamentos do treino de hoje para desvendar o uso de energia vital em sua técnica de espada. Ichiro – Tudo bem.