Vous êtes sur la page 1sur 1

Biocarvão, fertilidade, estoque de carbono do solo e produtividade do milho

Isabella Menuzzo Lucon


Sabe aquele dito popular: A grama do vizinho é sempre mais verde? Pois bem, na região
amazônica isso realmente acontecia. Vizinha a áreas de solo pobre e improdutivo encontram-
se solos extremamente férteis, ricos em material orgânico e com alta produtividade. Buscando
entender se isso se tratava apenas de sorte, foi descoberta a Terra Preta do Índio, rica em
material carbonizado, com alto teor de carbono estável e alta porosidade, aumentando a
capacidade de troca de cátions, disponibilidade de nutrientes e capacidade de retenção de água
(CRA) do solo.
Tentando reproduzir o que os índios fizeram instintivamente, originou-se o biocarvão (BC),
feito através da queima sem oxigênio de alguma biomassa (palha de arroz ou de cana de açúcar,
esterco de galinha, lodo de esgoto, lixo urbano, podas de árvores, etc.). Neste processo, a
biomassa sofre uma decomposição termoquímica, deixando o produto final (biocarvão) mais
estável, com maior porosidade e menor densidade.
A partir daí estudos foram desenvolvidos tentando comprovar a eficiência do BC, mas a maioria
deles ocorreu em solos degradados (com fertilidade comprometida e baixo teor de matéria
orgânica) e de textura arenosa, como baixa capacidade de troca de cátions e de retenção de
água. Nestes solos os resultados da aplicação de biocarvão foram promissores, com melhorias
tanto físicas e químicas como na biologia do solo, proporcionando maiores produtividades e
ajudando no processo de recuperação de áreas degradadas.
No entanto, para que realmente o BC pudesse ser testado, optamos em desenvolver um
experimento de campo com aplicação de BC em um solo não degradado, de textura argilosa e
com histórico de produtividade satisfatório. O biocarvão utilizado é subproduto da indústria de
carvão vegetal, que utiliza o eucalipto como biomassa. As doses aplicadas foram equivalentes
a 0, 10, 20, 30, 40 e 50 toneladas de BC por hectare, incorporados ao solo com auxílio de arado
de disco. Nesta área, durante o verão (2016/17 e 2017/18), foi cultivado milho com intuito de
produzir grãos, com uma população de 66.000 plantas por hectare. A adubação foi feita em toda
a área com a quantidade de N, P e K estipuladas pelo Boletim Técnico 100, do IAC.
Neste experimento, avaliamos a fertilidade do solo, estoque de carbono, capacidade de retenção
de água, porosidade/densidade, resistência do solo a penetração, nutrição e produtividade do
milho. As doses de BC provocaram aumento nos valores de pH, cálcio e MOS no primeiro ano
de coleta e nos teores de fósforo e potássio no segundo ano. A densidade, porosidade total,
macro e microporosidade e CRA foram alteradas apenas na camada 0,05-0,10 m do solo, não
interferindo na resistência do solo à penetração, mas proporcionando na dose máxima de BC
aplicada, 11500 litros por hectare a mais de água disponível para as plantas. Essas modificações,
no entanto, não foram suficientes para alterar os teores de nutrientes das folhas do milho, nem
a produtividade de grãos em nenhuma das safras (2016/17 e 2017/18). Os teores de carbono no
solo aumentaram linearmente em função do aumento da dose de biocarvão aplicada, sendo de
19 g dm-³ para o tratamento sem biocarvão e atingindo o valor de 35 g dm -³ com aplicação de
50 toneladas de biocarvão por hectare. Da mesma forma, os estoques de carbono no solo na
camada 0,00-0,40 m foram 36 e 55 % superiores ao tratamento sem BC, com aplicação de 40 e
50 toneladas de biocarvão por hectare respectivamente.
Os resultados mostraram que o BC realmente é uma fonte estável de carbono, capaz de
aumentar os teores no solo. Se o objetivo é sequestrar carbono, aumentando o estoque no solo,
o BC é um produto viável e recomendado para isso. No entanto, seus efeitos na fertilidade do
solo e capacidade de retenção de água foram muito discretos e o biocarvão não interferiu na
produtividade ou aproveitamento do nutriente pela cultura, não justificando a aplicação de BC
no solo para estes propósitos.

Vous aimerez peut-être aussi