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HISTÓRIA, LUTA E RESISTÊNCIA: A FORMAÇÃO DO MST NA PARAÍBA

(1970-1995)

090.159.524-18

Projeto apresentado ao Programa de Pós


Graduação em História do Centro de Humanidades
da Universidade Federal de Campina Grande,
como requisito parcial para obtenção de uma vaga
da Linha de Cultura, Poder e Identidades do
PPGH.

Campina Grande

15 de outubro de 2018
RESUMO

O presente projeto ambiciona analisar o processo de formação do Movimento


dos Trabalhadores Sem Terra na Paraíba, levando em conta as experiências
históricas da luta pela terra no Estado, os embates entre os modelos de luta
presentes quando da gênese da formação do movimento e seu processo de
hegemonização na luta pela acesso à terra no Estado, no recorte temporal 1970
a 1995. As fontes que darão respaldo a futura pesquisa estão disponíveis nos
sites do MST, da CPT, bem como nos arquivos da direção estadual do
movimento e no Sindicato Rural de Alagoa Grande. Além destes acervos, o
projeto visa análise de jornais locais, a saber, O Jornal da Paraíba e o Jornal A
União, bem como recorrerá ao recurso da história oral. No que concerne ao
aporte teórico-metodológico, o projeto irá apoiar-se na História Social Inglesa,
especificamente nos conceitos de experiência, consciência de classe, além de
contar com a discussão sobre a problemática dos movimentos sociais, presentes
nas obras de E. P. Thompson e E. Hosbsbawn, além de recorrer aos conceitos
gramscianos de ideologia, hegemonia e à teoria de Estado ampliado.

Palavras chave: Movimentos Sociais, MST, História.


OBJETIVO GERAL:

Analisar o processo de formação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra


na Paraíba, levando em conta as experiências históricas da luta pela terra no
Estado, os embates entre os modelos de luta presentes quando da gênese da
formação do movimento no território paraibano e seu processo de
hegemonização na luta pela acesso à terra, tendo como recorte temporal o
período que vai do ano de 1970 ao de 1995.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Compreender o cenário nacional do contexto da formação e consolidação


do movimento dos Trabalhadores Sem Terra;
 Analisar a gênese do MST na Paraíba, especificando as experiências de
luta pelo acesso à terra no Estado e a sua aparição como um ‘novo’
modelo de luta, resistência e combate à exploração no campo;
 Problematizar o processo de hegemonização do modelo de luta do MST
em detrimento dos modelos antes consolidados no Estado.
INTRODUÇÃO

O campo da História Social, em sua versão inglesa, permitiu aos


historiadores, graças às investidas historiográficas empreendidas por E. P.
Thompson e seus companheiros Cristopher Hill e Eric Hobsbawn, a possibilidade
de ampliação dos horizontes de pesquisa. As biografias das grandes
personalidades e o estudo das classes privilegiadas encontraram uma oposição
na constituição do paradigma historiográfico perpetrado pelos ingleses nas
décadas de 1950 e 1960. As atenções da História Social Inglesa centram-se nos
estudos dos de baixo, dos subalternizados, dos chamados homens sem
senhores. Foi a partir desta viragem historiográfica, que a categoria Movimentos
Sociais pôde encontrar respaldo e legitimação.

Sejam análises que visam os movimentos urbanos ou rurais, a


historiografia brasileira vem sendo guarnecida de relevantes estudos que
apoiaram-se na temática dos movimentos populares. No que concerne aos
movimentos sociais do campo, muito já se avançou, e o presente projeto visa
contribuir ainda mais para este campo historiográfico, apresentando uma
proposta de pesquisa sobre um dos mais emblemáticos, e ainda atuantes,
movimentos sociais que lutam pelo direito dos trabalhadores rurais e pelo acesso
à terra no país: o MST. Mais especificamente, ambiciono analisar a gênese do
movimento no Estado da Paraíba, tendo como recorte temporal o período que
vai de 1970 a 1995.

A luta pelo acesso à terra no Brasil remonta ao período colonial, quando


da invasão e consequente partilha desigual do território brasileiro por parte dos
colonizadores. Em um primeiro momento, o regime de Capitanias Hereditárias e
de concessão de sesmarias deram as bases para uma estrutura agrária
extremamente excludente e desigual. Índios e, um pouco tempo depois africanos
escravizados, foram os mais prejudicados com tal façanha. Passados os
primeiros séculos de colonização, a situação das classes subalternizadas só se
agravou. Outra medida que acabou por cativar ainda mais a terra (MARTINS,
1986) foi a Lei imperial número 601 de 1850. Segundo Stedile (2011), a referida
lei representa “o batistério do latifúndio no Brasil”, momento no qual a
propriedade privada da terra foi institucionalizada, visando, sobretudo, o não
acesso por parte dos futuros ex-escravizados e dos pobres.
A Lei de Terras, como ficou conhecida, determinava a proibição das
“aquisições de terras por outro título que não fosse o de compra” (STEDILE,
2005), corroborando para a sedimentação da injusta estrutura agrária do país, a
saber, uma estrutura marcada pela grande propriedade rural, voltada para a agro
exportação e com mão de obra, por quase quatro séculos, eminentemente
escrava. A Lei, além de excluir o pobre do acesso a um pedaço de chão, passou
a criminalizar àqueles que chegassem a ocupar as terras devolutas, sob a pena
de pagamento de multas ou de prisão, o homem pobre do campo se viu
compelido diante do latifúndio.

A partir de então, a estrutura agraria brasileira se manteve desigual,


excludente e opressora. Passados os anos, o quadro não alterou-se:
concentração fundiária nas mãos de poucos proprietários e milhares de
camponeses a mercê de relações desiguais com os latifundiário, ou, na maioria
das vezes, amargando a sua condição de homens sem terra e perambulando
pelos recantos do país. Quando do golpe de 1964, a Ditadura Empresarial Militar
veio a endurecer ainda mais estas relações entre latifundiários e agricultores
desapropriados. Veio a “modernização dolorosa”, para usar o termo do
economista José Graziano da Silva (SILVA, apud, STEDILE, 2005), momento no
qual a lavoura brasileira passou por um intenso processo de mecanização, tendo
como auge a década de 1970, e causou a expulsão do homem pobre do campo
e agravou ainda mais a situação dos que lá ficaram.

Diante deste quadro desolador, o camponês, excluído do acesso à terra,


não ficou omisso ao que lhe afligia. A história tem mostrado centenas de
movimentos sociais do campo, organizações de trabalhadores ou sem terras que
lutaram por um pedaço de chão. Muitos destes movimentos já encontram o
direito à voz nos estudos, dos mais variados campos do saber, estudos que
revelam a face de opressão do latifúndio e de resistência e ação do homem
pobre do campo. Ainda no período colonial, diversos motins, levantes e revoltas
foram desencadeadas por indígenas e/ou escravizados, o trabalho de Clovis de
Moura (1981) é ilustrativo e contribui para desmistificar a ideia do negro como
passivo e não agenciador de revoltas diante de sua condição de escravizado. Já
na passagem do Brasil Império para a República, muitos movimentos sociais do
campo desencadearam-se. Canudos, Contestado, Revolução de Juazeiro, o
cangaceirismo, dentre outros. Maria Isaura P. de Queiroz (1976), Douglas
Teixeira Monteiro (1977), HERMAN (2014), por exemplo, foram intelectuais que
debruçaram-se sobre o estudo dos movimentos citados, cada qual utilizando-se
das abordagens teóricas que estavam disponíveis ao seu tempo, mas todos
indicando a atividade dos camponeses em meio aos problemas de seu meio.

Já entre os anos de 1945 a 1964, muitos outros movimentos sociais


desencadearam-se no campo brasileiro. É sintomático desta época a gênese
das Liga Camponesas no Nordeste, começando por Pernambuco e, em poucos
anos, espalhando-se pelos Estados do Nordeste. Muitos trabalhadores rurais,
em especial os que se exauriam nas lavouras canavieiras, passaram a
reivindicar direitos, melhores condições de trabalho e uma reforma agrária. Na
Paraíba, desenvolveu-se uma das mais atuantes e significativas, a Liga de Sapé,
organizada pelo pedreiro João Pedro Teixeira, brutalmente assassinado no ano
de 1962. Diante das perseguições e repressões por parte dos latifundiários, os
trabalhadores resistiram e a luta teve continuidade. No entanto, com o golpe de
1964, não só as Ligas, mas todos os movimentos sociais existentes, foram
suprimidos, seus líderes e membros perseguidos, torturados ou mortos. As Ligas
Camponesas foi um movimento que influenciou outros tantos pelo país.

Na década de 70, em pleno curso da “modernização dolorosa”, os


movimentos sociais do campo passam a se reorganizar, ainda sob o jugo dos
Anos de Chumbo. Pode-se destacar neste sentido, a formação da Comissão
Pastoral da Terra (CPT), quando a ala mais progressista da Igreja Católica
reaproximou-se das questões sociais, foi nesta ocasião, por exemplo, que o
debate sobre reforma agrária mudou, na pregação dos religiosos, de um sentido
de ameaça para o de uma medida que favoreceria o desenvolvimento do país.
Nas palavras de João Pedro Stedile, “o surgimento da Comissão Pastoral da
Terra, em 1975, em Goiânia (GO), foi muito importante para a reorganização das
lutas camponesas” no país (2005, p.19).

Neste interim, e motivados pelas organização e atuação da CPT, em um


contexto político, social e economicamente conturbado do país, um outro
movimento social do campo surge: O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra
(MST). A gestação do movimento teve início no ano de 1979, no Rio Grande do
Sul, quando ocorreu a primeira ocupação, porém, ele é fruto de um histórico de
lutas que vinham ocorrendo em outros Estados do Sul e do Sudeste do país
desde anos. Segundo um dos líderes do movimento, o MST surge imbuído e
inquietado por três elementos: o socioeconômico, tendo em vista a chamada
Revolução Verde que assolava o camponês; o ideológico, e aqui entra o papel
da CPT guiada pela Teologia da Libertação e o processo de conscientização do
camponês, e o terceiro elemento, a luta pela redemocratização da sociedade
brasileira, uma vez que os ditadores ainda estavam no poder e dificultavam a
organização dos movimentos de caráter popular (STEDILE, 2005, p.21-25).

Formalmente, o marco fundante do MST se deu em janeiro de 1984, na


ocasião do I Encontro Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, realizado na cidade de Cascavel, Estado do Paraná. 23 Estados da
federação enviaram comissões de trabalhadores, inclusive a Paraíba. Foi
durante o encontro que definiram-se “os princípios, quais as formas de
organização, reivindicações, estrutura e formas de luta do movimento”
(STEDILE, 2005, p.45). Os objetivos do MST foram estabelecidos, dentre os
principais estavam: a luta pela reforma agrária, a busca por uma sociedade justa,
a superação do modo de produção capitalista, unir, aos sem-terra, todos os
trabalhadores do campo, meeiros, arrendatários, pequenos proprietários, enfim,
todo o campesinato e a palavra de ordem era: terra para quem nela trabalha e
dela precisa para viver (FERNANDES, 2000). Ainda durante o encontro, ficou
determinado que o principal meio de luta para o acesso à terra devia ser a
ocupação. Estava oficialmente fundado o Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra.

Traçados os princípios e os objetivos, o MST expandiu-se. Com o fim do


I Encontro Nacional, segundo Fernandes 2000), o MST encerrou a fase de
gestação e teve início o período de expansão. O objetivo agora era organizar e
formar o movimento em outras regiões do país. E eis que é chagado ao ponto
de maior interesse para este projeto de pesquisa: a expansão do movimento,
mas especificamente, a formação do MST na Paraíba. A operacionalização que
desembocou na formação do movimento no Estado teve início no ano de 1985,
quando os trabalhadores paraibanos retornaram do Encontro Nacional e
resolveram unir-se para uma reunião na cidade de Alagoa Grande, mas as ações
parecem não ter evoluído do debate. Segundo Silva (2000), os trabalhadores
rurais da Paraíba, antes do MST, contavam com os intelectuais orgânicos da
CPT e de sindicatos rurais para resoluções de questões sobre a terra e os
direitos do camponês. Mas em 1985, os contatos com o movimento já iniciaram.
No de 1989, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, definitivamente,
chega à Paraíba como um novo ator na luta pela terra.

O marco fundante, segundo alguns relatos historiográficos locais, foi a


ocupação da Fazenda Sapucaia, no município de Bananeiras, na Região do
Brejo. Duramente reprimida, a ação acabou tomando as páginas dos jornais do
Estado e a “inauguração” das ações do movimento na Paraíba ficou marcada
pelo derramamento de sangue. Segundo Silva (2000), a repressão foi
capitaneada pelo famoso Grupo da Várzea, grupo de latifundiários que dominam
a região canavieira do Estado. Apesar do choque da primeira ocupação, os
trabalhadores sem terra não desistiram, muitas se seguiriam à esta e o
movimento aos poucos foi tomando corpo.

O que me chama atenção, e é aí que reside a problemática da pesquisa


que esboça-se neste projeto, é exatamente esta demora para a efetivação das
ações do movimento no Estado, tendo em vista que desde o primeiro encontro,
em 1985, os trabalhadores paraibanos já participaram e iniciaram as reuniões no
Estado, no entanto, a primeira ocupação só veio a efetivar-se no ano de 1989.
Na historiografia local, a exemplo dos trabalhos de SILVA (2000), CAVALCANTE
(2017) e SILVA (2014), observa-se menção às divergências entres movimentos
socias e instituições que atuavam junto aos trabalhadores antes do MST. Logo,
fique a me questionar: quais eram estes movimentos e instituições que divergiam
do MST? Quais as ideologias e/ou modelos de luta digladiavam-se no período
de gestação do movimento no Estado? como eram as relações do MST com os
outros movimentos existentes? Qual a posição dos trabalhadores sem terra
diante destas convergências? Como, enfim, deu-se o processo de
hegemonização do MST na Paraíba, no que concerne à luta pela reforma agrária
e pelos direitos dos trabalhadores do campo? Portanto, são tais
questionamentos que ambiciono responder com a futura pesquisa.
JUSTIFICATIVA

O interesse pela temática dos movimentos sociais do campo despertou


para mim quando da minha atuação durante as atividades de extensão
universitária. Em uma delas, eu, juntamente com mais dois colegas de curso,
tive a oportunidade de atuar em uma escola situada no assentamento Oziel
Pereira, na cidade de Remígio - PB. A partir daquela experiência com os alunos
filhos de assentados do MTS, depois de ouvir alguns relatos e de ter um contato
mais aproximado com a vivência deles, passei a me inquietar com a realidade
agrária do país e a enxergar o quão importante é a ação dos movimentos sociais
para a luta pelo acesso e permanência na terra.

O contato com o campo sempre foi uma realidade para mim, oriunda da
zona rural e filha de agricultores, logo, a oportunidade de realizar uma pesquisa,
na direção dos movimentos que lutam pela terra, representa um compromisso
para com minhas origens campesinas que, apesar de não ter sofrido a dor de
não ter um pedaço de chão, reconhece o quão valoroso é tê-lo.

Partindo para um o âmbito acadêmico, a relevância da pesquisa pauta-se


nas lacunas que se apresentam na historiografia local no tocante à emergência
do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra na Paraíba. Reconhecendo a
riqueza dos trabalhos desenvolvidos sobre a temática em tela, nas mais diversa
áreas do saber, mas reconhecendo a necessidade de aprofundá-las,
principalmente no que concerne ao campo da história, o presente projeto busca
analisar o processo de gestação do MST no Estado, no entanto, apoia-se em
questionamentos sobre as divergências de modelos de luta presentes na gênese
do movimento na Paraíba, ambicionando entender quais os percalços e
facilidades que o MST encontrou para efetivar-se enquanto ator da luta pela
terra, sem deixar de lado, é claro, a análise da ação dos trabalhadores neste
processo.

A bibliografia local que versa sobre a temática em tela, seja no campo da


história, geografia ou ciências sociais, têm contribuído significativamente para o
entendimento da história e ação do movimento no território paraibano, desde sua
gênese, até a atualidade. São sintomáticos os trabalhos de (SILVA, 2000),
(LIMA, CECATO et al.,2008) e (SILVA, 2014), nas áreas de ciências sociais e
geografia, respectivamente, que tratam da trajetória do MST no Estado, aludem
sobre a sua origem, as primeiras ocupações, trazem relatos de militantes e
narram algumas experiências de assentamentos e da expansão do movimento,
como é o caso do trabalho de José Avelino da Silva (2014), no qual trata da
chegada do MST no sertão paraibano. Já Luciana Henrique da Silva (2000)
apresenta um quadro mais geral da gestação do movimento, sem pormenorizar
os os embates que refere-se rapidamente no texto. Outras obras de folego que
tomaram o MST como mote de pesquisa, também mencionam as divergências
que se apresentaram no nascedouro do movimento, como na obra Aprendizes
da terra: a voz e a resistência do MST na Paraíba (CAVALCANTE, 2017) e no
estudo sobre as relações entre o movimento e o poder local (MIRANDA, GOMES
e NUNES, 2009).

Em toda a bibliografia consultada até então, há a menção às divergências


presentes no nascedouro do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra na
Paraíba. Porém, são apenas menções, não há um aprofundamento na questão,
ou questões. Foi exatamente este quase silenciamento que me inquietou e me
fez questionar: quais eram estes movimentos e instituições que divergiam do
MST? Quais as ideologias e/ou modelos de luta digladiavam-se no período de
gestação do movimento no Estado? Qual a posição dos trabalhadores sem terra
diante destas convergências? Como, enfim, deu-se o processo de
hegemonização do MST na Paraíba, no que concerne à luta pela reforma agrária
e pelos direitos dos trabalhadores do campo? Portanto, são tais
questionamentos que ambiciono responder com a futura pesquisa. São a estas
perguntas, que por ora estão sem respostas satisfatórias na historiografia local,
que eu procuro responder com a pesquisa que esboça-se neste projeto.

Vale ainda lembrar que, o tempo do historiador, como bem alertou Marc
Bloch, é o presente, neste sentido, o projeto que ora apresento têm uma
relevância social que merece ser mencionada, uma vez que tramita na Câmara
dos Deputados a lei 13.260/16, lei esta que visa a criminalização dos
movimentos do MST e MTST. Portanto, faz-se necessário superar este quadro
de retrocessos, e a academia apresenta-se como um espaço privilegiado para o
debate em tela, além da responsabilidade social de oferecer à sociedade
pesquisas de cunho crítico tal como a que ora esboça-se
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

Segundo o filósofo Douglas Kellner (2001), as teorias são modos de ver,


espécie de óculos usado na intenção de melhorar a visão embaçada diante de
determinados fenômenos. A teoria proporciona modos de ver, interpretar e
entender fenômenos, sejam eles políticos, econômicos, culturais, enfim, todo o
sistema social. Logo, a ferramenta teórica se faz indispensável para o
desenvolvimento de uma pesquisa, uma vez que ela oferece os recursos
necessários para a análise das narrativas, dos conflitos, das relações sociais,
experiências, etc, possibilitando discuti-los ou solucioná-los (KELLNER, 2001).

O óculos teórico que irá contribuir para a operacionalização das fontes, e


consequente estruturação da pesquisa, será buscado nos estudos da história
social inglesa, especialmente naqueles que tratam da conceituação e
problematização dos movimentos sociais, como é o caso dos estudos de E.
Hobsbawm (1998) e E. P. Thompson (1988), colocando-os enquanto
movimentos sociais e políticos, dotados de consciência de classe. O conceito de
experiência, do historiador inglês E. P. Thompson, também será usado para
atender aos objetivos da pesquisa, principalmente no tocante à interpretação da
realidade dos trabalhadores sem terras antes da chegada do MST no Estado.
No que concerne aos debates sobre ideologia e hegemonia, que respaldarão os
objetivos pretendidos neste projeto, recorrer-se-á aos estudos Antonio Gramsci,
além de contar com seus conceitos sociedade civil e de teoria ampliada de
Estado para entender a organização do movimento e a repressão sofrida pelos
trabalhadores.

Metodologicamente, as fontes, sejam impressas ou orais, serão


operacionalizadas visando uma construção dos fragmentos narrativos sobre o
movimento no Estado, em uma análise de conteúdo que não se proponha
apenas a investigar a narrativa em si mesmo, mas caracterizar as suas
condições de produção, contexto, lugar social dos produtores, direcionamentos,
etc. A pesquisa irá pautar-se, também, na investigação da produção bibliográfica
disponível sobre a temática em tela. Vale salientar que, todo este movimento
seguirá a lógica indiciária de Ginzburg, de coleta e organização dos fragmentos
para, enfim, construir a narrativa pertinente para o estudo.
DISCUSSÃO DAS FONTES

Um dos desafios para o historiador que deseja lançar-se na seara dos


movimentos sociais tem que ter em mente é a limitação no tocante as fontes,
uma vez que escassos são os registros sobre tais movimentos, em especial, os
do campo. No caso da história do MST na Paraíba, o quadro se repete. As fontes
são poucas, e as que restam, estão fragmentadas. No entanto, como bem
alertou-nos o Carlo Ginzburg (1989), o conhecimento histórico é indiciário e
indireto, cabendo aos historiadores a tarefa de estar atento aos sintomas, sinais,
rastros e pedaços para, enfim, reuni-los e dar-lhes uma sequência narrativa. E
partindo do paradigma indiciário ginzburgiano, passo a relatar os fios e rastros
aos quais recorrerei para responder aos questionamentos outrora apresentados.

Para tal intento, lançar-me-ei na análise das fontes disponíveis nos


arquivos do MST estadual, do Sindicato Rural de Alagoa Grande, bem como nos
acervos digitalizados no site da CPT e do MST, além da consulta aos periódicos
locais, a saber, O Jornal da Paraíba e o jornal A União. Também irei recorrer à
história oral, no intuito de coletar as narrativas dos trabalhadores e lideranças
que estiveram envolvidas na gênese do movimento na Paraíba. Três entrevistas
já estão sinalizadas e, duas delas pré-agendadas, os nomes escolhidos, neste
primeiro momento da pesquisa, foram: Dilei Schioche, uma das lideranças no
MST no Estado; o líder da CPT à época, o senhor Frei Anastácio e o professor
Jonas Duarte, que no período militava no Partido dos Trabalhadores. Acredito
que a partir destas três primeiras conversas, o leque de possibilidades para
futuras entrevistas se ampliará.

As fontes serão operacionalizadas buscando respaldos para responder as


perguntas norteadoras deste projeto, uma delas é como eram as relações do
MST com os outros movimentos existentes? Vasculhando as fontes do MST no
seu acervo digitalizado, encontra-se fragmentos que poderão respaldar tal
pergunta. Segue um trecho de um depoimento de um ex-líder da CPT sobre o
movimento dos trabalhadores:

O MST está com uma sólida organização à nível nacional e há a


necessidade de se discutir e aprofundar linhas políticas de
atuação. É necessário que o MST leve em consideração a
necessidade de outas entidades se comprometerem com a luta
pela reforma agrária. É preciso convencer toda a sociedade para
que o movimento não se isole. (D. José Gomes, bispo da
Diocese de Chapecó/SC, ex presidente da CPT. 1989).
Pelo fragmento, já pode-se entender que, para a CPT, o MST vinha
apresentando uma postura isolacionista, logo, de não abertura e maior diálogo
com outros movimentos sociais. São a partir destes fragmentos, destes rastros,
que responderei aos questionamentos esboçados neste projeto.
REFERÊNCIAS
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MST na Paraíba. João Pessoa: Editora do CCTA, 2017.

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