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RESUMO
Este artigo tem como objetivo mapear, em diferentes fontes de pesquisa como livros,
capítulos de livros, artigos de periódicos, artigos online, eventos, teses e dissertações,
as produções brasileiras sobre o letramento digital, no período de 2000 a 2010. Para
esta pesquisa buscou-se fundamentação teórico-metodológica na pesquisa qualitativa
de abordagem histórico-cultural, fundamentada na teoria enunciativa da linguagem
de Mikhail Bakhtin e na teoria da construção social do conhecimento de Lev Vygotsky.
As tecnologias digitais reúnem e mesclam diferentes formas de comunicação como
as letras, imagens, movimentos e sons. Em cada grupo socialmente organizado,
diferentes práticas sócio-culturais de leitura e de escrita se fazem presentes, portanto,
o letramento digital deve ser pensado na sua pluralidade e em uma constante (re)
construção. A possibilidade de reunir em um único ambiente, diferentes formas de
comunicação e expressão, demanda novas formas de apropriação do ato de ler
(compreender) e de escrever (produzir). E, por fim, observou-se ser necessário discutir
as tecnologias digitais e Educação, superando o uso do computador e da internet
apenas como meras ferramentas, transformando-os em instrumentos que favoreçam
a aprendizagem. Com isso, compreendeu-se que não é necessária a exclusão das
práticas sócio-culturais de leitura e de escrita existentes fora da escola, ao contrário, é
preciso encontrar um modo de legitimá-las.
ABSTRACT
This article aims to map in different research sources such as books, book chapters,
journal articles, online articles, events, theses and essays, Brazilian productions on digital
literacy in the period 2000 to 2010. For this research it sought theoretical-methodological
approach in qualitative research of historical and cultural, based on the enunciative
language theory by Mikhail Bakhtin and the social construction theory of knowledge by 1 PPGE, Universidade
Federal de Juiz de Fora.
Lev Vygotsky. Digital technologies mix different forms of communication such as letters,
mariana.hribeiro@gmail.
pictures, sounds and movements. In each socially organized group, different socio-cultural com
practices of reading and writing are presents, therefore the computer literacy should be
thought of in its plurality and a constant construction. The possibility of putting together 2 PPGE, Universidade
Federal de Juiz de Fora.
into a single environment, different forms of communication and expression, requires
freitas.mteresa@gmail.com
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new ways of appropriating the act of reading (understanding) and write (produce).
Finally, there was need to discuss digital technologies and education, surpassing the use
of computers and the internet as mere tools, turning them into instruments that would
facilitate learning. Thus, it was understood that it is not required the exclusion of socio-
cultural practices of reading and writing outside the existing school, on the contrary, we
must find a way to legitimize them.
4 Site do Google
Acadêmico: http://scholar.
Gráfico 1: Total das produções encontradas sobre letramento digital.
google.com.br/
6 Para as áreas
de conhecimento
aqui apresentadas
serão respeitadas as
nomenclaturas presentes
no próprio site do Portal
Capes.
7 Em três dissertações
(uma em 2009 e duas
em 2006) não foram
completados o item “Área(s)
do conhecimento”. Porém,
foi possível, a partir dos
outros itens preenchidos,
identificar que essas
dissertações tem como
a área de conhecimento
Gráfico 2: Distribuição dos artigos encontrados por periódicos. “Educação”.
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Os dados construídos com esse levantamento quantitativo nos levaram a
compreender que os estudos sobre letramento digital no Brasil estão em seu estágio
inicial, representando ainda poucas produções, mas que assinalam um crescimento
de pesquisas sobre a temática nos últimos anos da década abordada. Caracteriza-se
assim o letramento digital entre nós, como um tema recente, que precisa ser mais
investigado.
Percebemos que o letramento digital é mais pesquisado nas áreas de Letras e Linguística
Aplicada, o que demonstra a sua preocupação com as relações entre o letramento
digital e o ensino. Na área de Educação esse movimento é menor; e uma aproximação
com essas áreas acima identificadas, buscando o diálogo e a troca de experiências,
poderia ampliar o seu olhar sobre a questão do letramento digital.
De acordo com o que foi abordado, o letramento digital mostra-se como um assunto
importante para a Educação, não podendo essa área ficar defasada ou se omitir em
relação a ele. Foi preocupante perceber que a Educação pesquisa pouco o letramento
digital. As práticas de leitura e escrita se constituem como focos centrais dessa área e a
questão das tecnologias digitais é uma demanda da sociedade contemporânea. Sendo
assim, ao não abordar as questões do letramento digital, a Educação se distancia de
um dos seus mais importantes papéis: o de formar um sujeito ativo e crítico, que
responda às diferentes demandas sociais. Entre elas está o letramento digital.
Letramento é o “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas
cultiva e exerce as práticas sociais” (SOARES, 2009, p. 47). No letramento digital, a
apropriação está relacionada tanto à técnica, quanto ao uso social das práticas de
leitura e de escrita presentes no computador-internet. O letramento digital “permite
às pessoas participarem nas práticas letradas mediadas por computadores e outros
dispositivos eletrônicos” (BUZATO, 2009a, p. 24).
Percebe-se nesse exemplo que o manuseio do e-mail ultrapassa, porém não exime,
a necessidade técnica, trazendo o uso para a prática social de comunicação. O
letramento não exclui a alfabetização, ao contrário, “alfabetização e letramento são,
pois, processos distintos, de naturezas essencialmente diferentes; entretanto, são
interdependentes e mesmo indissociáveis” (SOARES, 2003b, p. 91-92).
Kleiman (1995) define letramento como “um conjunto de práticas sociais que usam
a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para
objetivos específicos” (p. 19). Baseada em Street (1984, apud KLEIMAN, 1995), sugere
dois modelos de letramentos: o modelo autônomo e o modelo ideológico.
Souza traz vários autores que ultrapassam as barreiras das competências técnicas,
considerando o uso crítico e contextual. Destacamos entre eles, Selfe (1999, apud
SOUZA, 2007) que considera o letramento digital como “uma complexa série de
valores, práticas e habilidades situados social e culturalmente envolvidos em operar
lingüisticamente dentro de um contexto de ambientes eletrônicos, que incluem
leitura, escrita e comunicação” (p.11, apud SOUZA, 2007, p. 59).
Após a análise das concepções restritas e amplas, Souza (2007) define letramento digital
como conjunto de competências imprescindíveis ao sujeito, para que compreenda
e use a informação, apresentada em diferentes formatos e fontes, de forma crítica,
respondendo a seus objetivos compartilhados, na maioria das vezes, socialmente.
Essas duas visões - restrita e ampliada - apresentadas por Souza (2007), podem ser
comparadas aos dois modelos de letramentos – autônomo e ideológico – citados
por Kleiman (1995). O enfoque autônomo, assim como as visões restritas, concebe
o letramento nos seus aspectos técnicos, desconectados do contexto social. Em
contrapartida, o modelo ideológico e as visões ampliadas compreendem que as
práticas de letramento sofrem variações de acordo com os espaços e movimentos da
sociedade.
Segundo Soares (2002) o leitor-autor determina o início e o fim de seu texto na tela, o
que difere do leitor no papel. A dimensão do texto em um livro impresso, por exemplo,
é materialmente definida, identificando-se o início e o fim do texto pela numeração
das páginas, estabelecendo uma ordem consecutiva de leitura.
Em consonância com tais ideias, Marcelo Buzato propõe uma como uma outra
alternativa a concepção de letramentos digitais
Pensar a leitura e escrita no ciberespaço é compreendê-la para além das letras. Segundo
Costa (2005) ler é compreender. Compreensão de uma imagem ou de um movimento.
Escrever é produzir. É a produção de um texto escrito, de uma fotografia e de um vídeo.
A possibilidade de reunir em um único ambiente, diferentes formas de comunicação
e expressão, demanda do internauta novas formas de apropriação do ato de ler e de
escrever.
Nosso objetivo não foi estabelecer parâmetros fixos para analisar os níveis ou tipos
de letramentos digitais. Ao contrário, buscamos ampliar o entendimento de leitura e
escrita na tela do computador. Os letramentos presentes no computador e na internet
não podem estar restritos às letras. O conceito de letramento deve ser entendido na sua
perspectiva ampliada, aquela que articula várias mídias em um mesmo instrumento,
formando uma rede.
Além desse aspecto, é necessário perceber que ler e escrever nas tecnologias digitais
são dois aspectos que se entrecruzam. Desse modo, os internautas precisam possuir
uma participação ativa frente às informações encontradas. Informações que não só se
materializam através de letras e palavras. A leitura-compreensão e a escrita-produção,
nas tecnologias digitais, contemplam a imagem, o movimento e o som. Portanto, não
somos leitores-produtores apenas de signos verbalizados. Ampliamos nossa produção
para signos não-verbalizados, imagéticos e sonoros.
O letramento digital e as práticas educacionais
Constatamos ainda, através do mapeamento realizado, que o uso das tecnologias
digitais e a conseqüente emergência do letramento digital são grandes desafios para a
Outra forma seria integrar os diversos letramentos presentes fora da escola com
aqueles presentes nela e na vida do professor, “abrindo mão de dicotomias entre
o digital e o tradicional e partindo para a idéia de conjuntos de letramentos que se
entrelaçam, ou criam redes entre si” (BUZATO, 2006, p. 8). As práticas de letramentos
se dariam coletivamente, adequadas aos contextos e objetivos propostos para a
comunicação crítica. Integrar as tecnologias digitais no âmbito escolar e acadêmico
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seria ter a oportunidade da pluralidade de linguagens na construção do conhecimento.
Trabalhar com a internet em sala de aula, com o compartilhamento de saberes, através
da hibridação de linguagens, é aproximar o que já é vivenciado pelo aluno fora dos
muros da escola com as práticas experienciadas no âmbito escolar.
REFERÊNCIAS
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