Vous êtes sur la page 1sur 238

 

 
____________________________________________________________________________
H765 Anales - Textos completos del VI Coloquio Internacional de Estudios
sobre Varones y Masculinidades – Volumen 01. Recife: UFPE, IFF/Fiocruz;
Instituto PAPAI, 2019. Organizadores: Benedito Medrado; Jorge Lyra; Marcos
Nascimento e Mariana Azevedo.

237p.
Bibliografia

ISSN 2178-4787

1. Homens – políticas públicas. 2. Paternidade e direitos reprodutivos. 3.


Diversidade e direitos sexuais. 4. Violência e direitos humanos II Gema/UFPE.
II. Instituto PAPAI. III. Promundo. V. Título.
CDU 342.231.14
______________________________________________________________
Presentación | Apresentação
Este és el Volumen 01 de la publicación que Este é o Volume 01 da publicação que reúne os
presenta los textos completos de los trabajos textos completos dos trabalhos aprovados pelo
que han sido aprobados por el comité Comitê Científico para compor o VI Colóquio de
científico para el VI Coloquio Internacional Estudos sobre Homens e Masculinidades.
de Estudios sobre Varones y Masculinidades.
Realizado em Recfe, entre 2 e 5 de abril de 2017,
Realizado en la ciudad de Recife - Brasil, este este encontro reuniu pesquisadores/as, ativistas em
congreso promueveu el intercambio entre direitos humanos (especialmente na promoção da
investigadores/as, activistas en derechos equidade de gênero e ação feminista), gestores/as e
humanos (especialmente en la promoción de profissionais que atuam no campo das políticas
equidad de género y acción feminista), públicas, em diferentes países, especialmente da
gestores/as y profesionales que actúan en el América Latina.
campo de las políticas públicas, en diferentes
países, especialmente de América Latina. Os Colóquios Internacionais de Estudos sobre
Homens e Masculinidades acontecem desde 2004,
Los Coloquios Internacionales de Estudios tendo sido o primeiro na cidade de Puebla, no
sobre Varones y Masculinidades acontecen México, organizado pela Benemérita Universidad
desde 2004. El primero se realizó en la ciudad Autónoma de Puebla. As edições seguintes
de Puebla, en México, organizado por la aconteceram em Guadalajara (México), Medellín
Benemérita Universidad Autónoma de Puebla. (Colombia), Montevideo (Uruguay) e Santiago
Las ediciones siguientes acontecieron en (Chile), respectivamente, em 2006, 2008, 2011 e
Guadalajara (México), Medellín (Colombia), 2015.
Montevideo (Uruguay) y Santiago (Chile),
respectivamente, en 2006, 2008, 2011 y 2015. Esses eventos foram fundamentais para alimentar
uma Red Internacional de Estudios sobre Varones y
Estos eventos fueron fundamentales para Masculinidades que envolve pesquisadores,
alimentar una Red Internacional de Estudios estudiosos e ativistas no campo de estudos e outras
sobre Varones y Masculinidades que envuelve ações políticas em gênero e masculinidades,
investigadores, estudiosos e activistas en el especialmente os países de língua portuguesa e
campo de estudios y otras acciones políticas en espanhola, especialmente aqueles das América
género y masculinidades, en países de lengua Latina.
portuguesa y española, especialmente en los
países de América Latina. Ao longo das últimas décadas, esses encontros têm-se
consolidado, em âmbito nacional e internacional,
A lo largo de las últimas décadas, estos como espaço privilegiado de produção de
encuentros se han consolidado, en ámbito conhecimento sobre os homens, a partir do enfoque
nacional e internacional, como un espacio de gênero, na interface entre a produção acadêmica,
privilegiado de producción de conocimiento a atuação militante e a gestão pública. Constituem
sobre los hombres, a partir del enfoque de momentos privilegiados de encontros entre
género, en la interface entre la producción pesquisadores/as, ativistas das mais diversas origens
académica, la acción militante y la gestión e campos de atuação e profissionais inseridos/as na
pública. Constituyen momentos privilegiados
5
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

de encuentros entre Investigadores/as, formulação, monitoramento, gestão ou


activistas de los más diversos orígenes y campos implementação políticas públicas.
de actuación y profesionales participantes en la
formulación, supervisión, gestión o Nesses encontros, tem-se buscado aprofundar temas
implementación de políticas públicas. complexos, com vistas ao desenvolvimento de
outros/novos caminhos a serem trilhados nesse
En estos encuentros, se ha buscado profundizar amplo campo de pesquisas e de intervenções sociais.
temas complejos, con el objetivo de desarrollar
otros/nuevos caminos a ser recorridos en este Para este encontro, a comissão científica
amplio campo de estudios y de intervenciones internacional elegeu como tema central:
sociales. “Masculinidades frente às dinâmicas de
poder/resistência contemporâneas: pressupostos
Para este encuentro, la comisión científica éticos, ideológicos e políticos das diversas vozes,
internacional escogió como tema central: práticas e intervenções no trabalho com homens e
“Masculinidades ante a las dinámicas de masculinidades”, de modo a dar visibilidade às
poder/resistencia contemporáneas: experiências e dialogar sobre princípios e efeitos
presupuestos éticos, ideológicos y políticos de destas iniciativas. Recebemos 618 trabalhos, dos
las diversas voces, prácticas e intervenciones en quais 544 foram aprovados. Deste total, 313 foram
el trabajo con hombres y masculinidades”, para alocados como comunicações orais e 231 para sessão
dar visibilidad a las experiencias y dialogar de posters.
sobre principios y efectos de estas iniciativas. Se
registraron 618 trabajos, de los cuales 544 Em relação ao número de participantes, tivemos 798
fueron aprobados. De este total, 313 fueron pessoas inscritas, das quais compareceram 586.
asignados como comunicaciones orales y 231 Além disso, entre integrantes do comitê científico
aprobados para sesión de pósteres. internacional (38); palestrantes e coordenadores/as
de GT convidados/as (50), integrantes do comitê
En cuanto al número de participantes, organizador local (40) e pareceristas (52), o evento
contamos con 798 personas registradas, de las contou com 180 colaboradores/as. Assim, nosso
cuales 586 asistieron al evebnto, evento envolveu um total de 978 pessoas.
personalmente. Además, considerando los
miembros del comité científico internacional
(38); ponentes invitados (50), miembros del
comité organizador local (40) y evaluadores/as
(52), el evento contó con 180 colaboradores.
De este modo, nuestro evento involucró a un
total de 978 personas.

Organizadores de esta publicación:


Benedito Medrado; Jorge Lyra; Marcos Nascimento e Mariana Azevedo

 
6
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Comité Científico Internacional

Brasil Colombia Espanha


Benedito Medrado, Prof. Dr. Gabriel Gallego, Prof. Dr. Joan Pujol., Prof. Dr.
Jorge Lyra, Prof. Dr. Hernando Muñoz, Prof. Dr. Lupicinio Iñiguez, Prof. Dr.
Marcos Nascimento, Prof. Dr. Mara Viveros, Profa. Dra. Marisela Montenegro, Profa. Dra.
Mariana Azevedo, Me. Sara Fernández, Profa. Dra.
Tatiana Moura Profa. Dra. México
Costa Rica Benno de Keijzer, Prof. Dr.
Argentina Álvaro Campos Guadamuz, Me. Elva Rivera, Prof. Dr.
Hugo Huberman, Sr. Mauricio Menjívar, Prof. Dr. Gloria Careaga, Profa.
Irene Meler, Prof. Dr. José Manuel Salas Calvo, Me. Guillermo Nuñez, Prof. Dr.
Luciano Fabbri, Dr. Juan Carlos Ramírez, Prof. Dr.
El Salvador Juan Guillermo Figueroa, Prof. Dr.
Bolivia Larry José Madrigal, Prof. Dr.
Jimmy Telleria, Sr. Wilfredo Mármol, Sr. Nicaragua
Douglas Mendoza, Me.
Chile Estados Unidos
Carlos Güida, Prof. Dr. Gary Barker, Prof. Dr. Perú
Francisco Aguayo, Me. Miguel Ángel Ramos, Me.
José Olavarría, Prof. Dr.
Klaudio Duarte, Prof. Dr. Uruguay
Sebastián Madrid, prof. Dr. Dario Ibarra Casals, Prof.
Franco González Mora, Prof.
Lilián Abracinskas, Sra.

Comissão de Pareceristas | Evaluadores


Adriano Beiras Jimmy Telleria Mónica Franch Gutiérrez
Adriano de León Jorge Lyra Paula Sandrine Machado
Álvaro Campos José Roberto Luna Pedro Nascimento
Benedito Medrado Juan Guillermo Figueroa Ricardo Castro
Benno de Kejzer Jullyane Brasilino Ricardo Pimentel Méllo
Carlos Guida Larry Madrigal Roberto Efrem Filho
Cláudio Henrique Pedrosa Lenise Santana Borges Romeu Gomes
Danielly Spósito Pessoa de Melo Luciana Kind Russell Parry Scott
Dario Ibarra Casals Luciano Fabbri Sandra Unbehaum
Douglas Mendoza Marcia Couto Sara Fernandez
Edgar Vega Suriaga Maria Lúcia Chaves Lima Sergio Carrara
Emerso7n Rasera Marcos Nascimento Sirley Vieira
Fernando Seffner Marion Quadros Sylvia Cavasin
Francisco Aguayo Marisela Montenegro Telma Low Silva Junqueira
Franco González Mora Maristela de Melo Moraes Vanessa Fonseca
Hemerson Moura Marlene Strey Viviane Mendonça
Hugo Huberman Miguel Ramos Walfrido Nunes de Menezes
Jefferson de Souza Bernardes Mônica Prates Conrado

 
7
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

SUMÁRIO
LA CO-PRODUCCIÓN DE NARRATIVAS CON MUJERES FEMINISTAS COMO
MÉTODO-PROCESO PARA EL DESPRENDIMIENTO ANDROCÉNTRICO ANTI-
MASCULINISTA | Luciano Fabbri ............................................................................................. 9

DA SELEÇÃO EXAUSTIVA DE PERFIS AO MESSENGER: A PERFORMANCE-PAQUERA


ENTRE HOMENS NO FACEBOOK | Fabrício de Sousa Sampaio ......................................... 20

LINGUÍSTICA QUEER | Djalma Wanderley Albuquerque de Hollanda, Iran Ferreira de Melo


e Natanael Duarte de Azevedo ..................................................................................................... 33

PERFORMANCES DE MASCULINIDADES NA PRÁTICA CLÍNICA: A


SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL E ANÁLISE DA CONVERSA COMO LÓCUS DE
INVESTIGAÇÃO | Alexandre José Cadilhe .............................................................................. 41

QUE HOMEM É ESSE?! Uma análise junguiana sobre os homens, a afetividade e a


conjugalidade em transformação | Patrícia Cristina de Conti e Durval Luiz de Faria .............. 54

PARA LIMPAR É PRECISO CRIAR A SUJEIRA?: ENSAIO CRÍTICO À TEORIA DO


DIREITO | Gabriel Cerqueira Leite Martire .............................................................................. 65

VEJEZ MASCULINA Y CALIDAD DE VIDA | Rosa María Flores Martínez e Sagrario | Garay
Villegas ......................................................................................................................................... 78

ANÁLISIS DE LAS ACCIONES DE LA MESA DE TRABAJO SOBRE MASCULINIDADES


Y GÉNERO, EN EL MARCO DEL TERCER PLAN DE IGUALDAD DE GÉNERO DE LA
INTENDENCIA DE MONTEVIDEO, URUGUAY 2014-2017. | Noelia Belén ..................... 89

INCLUSIÓN DE VARONES EN POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÉNERO. ANÁLISIS DEL


PROYECTO “PATRIARCADO, MASCULINIDADES HEGEMÓNICAS Y VIOLENCIAS”,
DEL MUSEO CASA DE LA MEMORIA DE MEDELLÍN–COLOMBIA (2014-2015) | Daniel
Arias Osorio ...............................................................................................................................106

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REFLEXÃO SOBRE A MASCULINIDADE


| Vanessa Silveira de Brito .........................................................................................................119

VARONES Y COMPORTAMIENTOS SEXUALES DE RIESGO. | David Amorín Fontes. 129

DE MACHOS, MUXES Y MAYATES: UN ACERCAMIENTO A LA MASCULINIDAD EN


MÉXICO DESDE EL VIH | Guillermo Rivera Escamilla........................................................138

 
8
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

MASCULINIDADES E AUTOCUIDADO: PRODUÇÃO DE SENTIDOS COM HOMENS


DA MICRORREGIÃO DE SUAPE – NORDESTE DO BRASIL | Anna de Cássia Pessôa de
Lima; Benedito Medrado; Túlio Romério Lopes Quirino ........................................................151

PADRÕES IDENTITÁRIOS MASCULINOS: ARMADILHAS PARA O HOMEM JOVEM |


Elaine Ferreira do Nascimento; Marcondes de Lima Oliveira; Breno de Oliveira Ferreira e Liana
Maria Ibiapina do Monte ...........................................................................................................161

TRANSMASCULINIDADES, SAÚDE E ESPERA - O TEMPO DOS SUJEITOS, OS TEMPOS


INSTITUCIONAIS E O ACESSO À SAÚDE PARA HOMENS TRANS | Camilo Braz .....173

A MARCHA NICO LOPES E A CONSTRUÇÃO DAS MASCULINIDADES EM UM


CARNAVAL FORA DE ÉPOCA. | Jairo Barduni Filho .........................................................183

UMA "VISÃO PARCIAL" SOBRE SER HOMEM NO SERVIÇO SOCIAL | Vivian Matias dos
Santos; Laudicena Maria Pereira Barreto; Valeria Nepomuceno Teles de Mendonça; Henrique
da Costa Silva; Maria Angélica Pedrosa de Lima Silva ..............................................................196

SUJEITOS MASCULINOS EM ESPAÇOS FEMININOS: O QUE DIZEM OS ESTUDANTES


DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE/CAA | Marciano Antonio da Silva ....................206

SER HOMEM É SER MACHISTA... É PEGAR MULHER? O QUE DIZEM JOVENS


ARACAJUANOS | Francis Fonseca Oliveira; Claudiene Santos.............................................218

 
9
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

LA CO-PRODUCCIÓN DE NARRATIVAS CON MUJERES


FEMINISTAS COMO MÉTODO-PROCESO PARA EL
DESPRENDIMIENTO ANDROCÉNTRICO ANTI-
MASCULINISTA.
Luciano Fabbri
Lic. en Ciencia Política (UNR) y Doctorando en Ciencias Sociales (UBA); Jefe de Trabajos Prácticos
“Introducción a la perspectiva de género” (UNR).
E-mail: lucianofabbri2017@gmail.com

Resumen:

Con el presente trabajo buscamos presentar la hipótesis central de la investigación doctoral del
expositor, socializando los principales resultados alcanzados. Consideramos que tanto las
aproximaciones a las producciones intelectuales feministas como la escucha de sus padecimientos
cotidianos, posibilitaría reconocer a un nivel práctico y afectivo la vivencia oprimida de las
mujeres. Para habilitar dicho proceso apostamos al desarrollo de un método proceso de co‐
producción de narrativas con mujeres feministas, considerando que éste posibilitaría el
descentramiento epistemológico del sujeto cognoscente, habilitando procesos de desplazamiento
de la propia posición de conocimiento. Para el caso de los investigadores “varones”
comprometidos con la transformación de las relaciones sexo‐género, esta posición generizada
estaría ligada al habitus masculino, en tanto conjunto de disposiciones que interiorizan y
corporizan los discursos sobre lo masculino en el marco de una socialización de género.
Denominamos desprendimiento androcéntrico anti‐masculinista a la apertura de espacios de
comprensión y producción de significados ligados a la vivencia oprimida de las mujeres, como
condición de posibilidad para un análisis de la dimensión generizada del poder de parte de
aquellos varones investigadores comprometidos con las perspectivas feministas.

Introducción al proceso de investigación y sus desplazamientos.

Las reflexiones en torno a la necesidad de desarrollar un andamiaje metodológico factible de ser


articulado con ciertos preceptos epistemológicos emergen con fuerza del proceso de investigación

 
10
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

del proyecto doctoral denominado “Narrativas de mujeres feministas de la izquierda


independiente argentina. Tensiones, resistencias y desafíos en el proceso de despatriarcalización
de la política (Provincia de Buenos Aires, 2007-2015)”.

Inicialmente el objetivo constaba en co-producir narrativas con mujeres feministas de la izquierda


independiente argentina para identificar y analizar las tensiones, resistencias y desafíos
emergentes del proceso de despatriarcalizacion de sus organizaciones.

Se caracteriza como izquierda independiente al espacio heterogéneo de organizaciones


emergentes en el transcurso de la última década, que se distancian de las expresiones político
partidarias de la izquierda tradicional procurando encarnar las reivindicaciones de renovación e
innovación política expresadas en las jornadas de protesta de Diciembre del 2001 en Argentina.
Dos principios políticos que establecen las coordenadas de sus experiencias son la construcción
de poder popular, concibiendo al poder como relación social y a la construcción del mismo como
una relación dialéctica entre medios y fines; y la lucha prefigurativa, en tanto anticipo aquí y
ahora de las formas de organización social anheladas para la sociedad futura.

A su vez, parte de los fenómenos sociales de las últimas décadas, oportunamente descriptos como
feminización de la pobreza y feminización de la resistencia, nos sirven para señalar y comprender
la masiva participación de las mujeres en estas organizaciones. Este protagonismo no tuvo un
correlato proporcional con su inclusión en los espacios de definición y representación política,
dando cuenta de un diferencial de poder entre mujeres y varones, fruto de las asimétricas
relaciones sexo-genéricas1. No obstante, los procesos de politización de las experiencias de las
mujeres fueron habilitando la inclusión creciente de la perspectiva feminista en estos espacios
organizativos, para ir progresivamente – aunque no de manera armónica (Espinosa, 2008; 2013)-
instalando debates en el conjunto de cada organización. Uno de estos debates gira en torno al
carácter patriarcal del sistema de dominación y a la necesidad de que las organizaciones
incorporen la lucha antipatriarcal entre sus definiciones.

Una de las hipótesis que catalizó esta investigación afirma que el incipiente desplazamiento de la
enunciación antipatriarcal a la elaboración de una política despatriarcalizadora por parte de estas
organizaciones, fue haciendo visible la necesidad de caracterizar el impacto del patriarcado al
interior de las mismas. Por despatriarcalización referimos a

“Una estrategia emancipadora, de denuncia de la desigualdad y discriminación en todas


sus formas. Y un ejercicio de reorganización horizontal de los pactos relacionales y
desarticulación del poder en tanto esquema relacional opresivo basado en la
desvalorización de las diferencias y en el tratamiento estratificado, jerárquico e injusto de
las mismas (…) Emprender un camino de deconstrucciones entraña identificar
previamente lo que se quiere desmantelar. Por tanto, para pensar la despatriarcalización
como maniobra desplegada para sacudir los cimientos de un sistema de dominación y

1
 Usamos la expresión “relaciones sexo‐genéricas” articulando los aportes de las feministas materialistas francesas a la problematización de 
las relaciones sociales de sexo en el marco de la división sexual del trabajo (Kergoat, 2003; Curiel y Falquet, 2005; Falquet, 2007), con las 
reflexiones que nos advierten sobre la necesidad de realizar una arqueología del género  (Dorlin, 2008) que no naturalice, deshistorice y 
despolitice al sexo.  

 
11
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

opresión difuso en todos los niveles sociales y, por tanto, naturalizado, hay que
contextualizar lo que se entiende por patriarcado” (Uriona, 2012:41).

De esta manera definimos avanzar en la realización de diagnósticos situados junto a sus


protagonistas, a partir de los cuales identificar las principales tensiones, resistencias y desafíos del
proceso de despatriarcalización de las organizaciones de la izquierda independiente argentina, y
de esta manera contribuir a la construcción de estrategias de democratización de las relaciones
sexo-genéricas acordes a esos contextos concretos.

Un primer y fundamental desplazamiento es el que fundamenta el recorte realizado en dicho


proyecto de investigación y en el que se centra esta ponencia. Si bien comenzamos
proponiéndonos analizar los procesos de despatriarcalización de las organizaciones de la izquierda
independiente argentina, en el transcurso del proceso de investigación fuimos advirtiendo la
necesidad de profundizar las reflexiones en torno a la disponibilidad de recursos heurísticos y
epistemológicos específicos, congruentes con la posición teórica-política del sujeto investigador.
De esta manera, un objetivo específico pero secundario vinculado a la apuesta por la reflexión
epistemológica feminista y sus particularidades al ser encarnadas por un sujeto socializado en la
masculinidad, fue cobrando, en el transcurso de la investigación misma –y en el encuentro y
mutua interpelación con otras agencias- tal relevancia que abandonó la periferia para ocupar un
lugar central.

En ese sentido, la identificación y análisis de las tensiones, resistencias y desafíos de los procesos
de despatriarcalización de la izquierda independiente argentina, siguió siendo el objetivo que
catalizó y moduló los espacios de conversación (y la co-producción de narrativas con nuestras
interlocutoras), pero su apelación será en función de una meta-reflexión epistemológica que, si
bien lo contiene, también lo trasciende.

Hilvanando ambos objetivos, fue la aproximación a las vivencias de las mujeres feministas de la
izquierda independiente, la que nos ha puesto ante la necesidad de descentrar nuestra mirada
“masculinista” para poder así comprender las tensiones, resistencias y desafíos emergentes del
proceso de despatriarcalización desde una dimensión generizada del poder.

La co-producción de narrativas con mujeres feministas.

A la histórica y nunca acaba pregunta por si los sujetos socializados “varones” podemos devenir
feministas, podemos interrogarla en una especificidad ligada a la labor científica: ¿podemos los
varones realizar investigación feminista? Para intentar responder dicho interrogante tendremos
el siguiente apartado, donde presentaremos la propuesta de una epistemología anti-masculinista.
Antes, veamos cómo llegamos a pensar que para abonar a tal fin podíamos apelar a la co-
producción de narrativas como método-proceso para una investigación crítica feminista.

Para comenzar y retomando a Fernández y Montenegro podemos preguntamos

 
12
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

“¿una investigación es feminista porque somos (nos autoidentificamos como) feministas?,


¿Porque citamos autoras feministas?, ¿Porque las participantes son (se autoidentifican
como) feministas?, ¿Porque trata de feminismo? En conclusión y retomando la cuestión
que se planteaba Sandra Harding (1987/1988): ¿qué hace feminista a la investigación
feminista?” (…) “mientras la pregunta de si existe un método feminista quizás pudiera
parecernos innecesaria –y la existencia de un método feminista por excelencia poco
deseable-, preguntarnos por la especificidad de las metodologías feministas abre un
espacio para la reflexión y la redefinición de las prácticas feministas investigadoras”
(2004:64-65).

Siguiendo a Gandarias Goikoetxea (2014:128) podríamos afirmar que;

“La investigación feminista se caracteriza por la reflexión crítica y política de los valores
implícitos tanto en el conocimiento producido como en los procedimientos mismos de
investigación (Reinharz, 1992). Por ello, las investigaciones feministas hacen hincapié en
los aspectos reflexivos del proceso de investigación atendiendo a la postura y las
responsabilidades de la investigadora (Harding, 1987, 1998; Stanley, 1990)”.

En consonancia, Harding señala tres aspectos que hacen a la especificidad de los estudios
feministas y que fortalecen nuestro objetivo de erosionar las dicotomías del pensamiento
occidental.

En primer lugar, considera que un rasgo distintivo de la investigación feminista es que defina su
problemática desde la perspectiva de las experiencias de las mujeres, partiendo de la base de que:

“un problema es siempre problema para alguien”, y que “la ciencia social
tradicional (…) formula únicamente preguntas sobre la vida social que
plantean problemas desde la perspectiva de las experiencias sociales de
los hombres (por supuesto, de los blancos, occidentales y burgueses)”
(1987:5).

Como segundo criterio de identificación de investigaciones feministas, Harding establece una


consideración contundentemente ética y política e inevitablemente parcial que liga de manera
profunda ontología con epistemología; “Si la investigación parte de lo que aparece como problemático
desde la perspectiva de las experiencias de las mujeres, la consecuencia es que la investigación tiende a
diseñarse a favor de las mujeres” (1987:7).

Al mismo tiempo, “diseñar una investigación a favor de…”, asumir una parcialidad y una
intencionalidad, supone también asumir una vocación de intervención, de incidencia, de
contribución a una transformación social que postula a la producción de conocimiento como
acción política, o cuanto menos, contaminada de ella. Sin lugar a dudas, realizar investigación
feminista supone asumir, de manera más o menos explícita, la vocación y el deseo de contribuir
a la democratización de las relaciones sexo genéricas.

 
13
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

En tercer lugar, Harding considera que

“los mejores estudios feministas (…) insisten en que la investigadora o el investigador se


coloque en el mismo plano crítico que el objeto explícito de estudio, recuperando de esta
manera el proceso entero de investigación para analizado junto con los resultados de la
misma”, reconociendo que “las creencias y comportamientos culturales de las
investigadoras feministas moldean los resultados de sus análisis tanto como lo hacen los
de los investigadores sexistas y androcéntricos” (1987:7).

Si el compromiso político y ontológico del feminismo consiste a groso modo en contribuir a


denunciar, reducir y erradicar las jerarquías sexo-genéricas, éste debe verse reflejado en las
epistemologías y metodologías adoptadas como en los modos en que narramos las relaciones de
producción de conocimiento.

Haciéndonos eco de estas reflexiones, a las que debemos a su vez observar con los recaudos de
ser sujetos socializados para ejercer posiciones sociales opresivas en el marco de las relaciones
sexo-genéricas que buscamos transformar, es que conectamos con la propuesta episto-
metodológica de la co-producción de narrativas.

Ésta consiste en la co-producción de textos híbridos entre investigador e interlocutoras. Para ello,
en primer lugar, se pautaron (1) espacios (bilaterales) de conversación con nuestras interlocutoras
donde dialogamos en base a algunos ejes de interés para el abordaje del fenómeno social que
motiva la investigación. Luego de transcribir los diálogos establecidos y en función de las
interpelaciones que estas narrativas produjeron en la posición de conocimiento del investigador,
se llevó a cabo una (2) textualización de la conversación construyendo una narrativa que
mantuviera una lógica argumentativa y permitiera obtener un texto que diera cuenta del
fenómeno. En tercer lugar, (3) dicha narrativa fue presentada a las interlocutoras para su
modificación e intervención, habilitando un proceso de intercambios hasta que el texto cobrara
la forma en que cada una de ellas desea que sea leída su visión del fenómeno.

Respecto a la modalidad de aproximación a los relatos de mis interlocutoras, lo específico del


método-proceso de producción de narrativas es la textualización de aquello dicho, en forma de
una narrativa continua en las que las preguntas del investigador y las respuestas de las
interlocutoras se funden en un texto que ha de entenderse como reconstrucciones significantes
de sus trayectorias militantes (Balasch y Montenegro, 2000; Biglia y Bonet-Martí, 2009).

La producción de narrativas no sigue una receta específica sino que dependerá de la capacidad
del narrativizador (investigador) para reescribir el texto de la conversación con el objeto de hacerlo
inteligible.

Como hemos expresado anteriormente, la reconversión del diálogo en texto no es una tarea
realizada sólo por el investigador, sino que la textualización elaborada por el narrativizador es
presentada a su interlocutora para su modificación e intervención, generando un proceso de
hibridación y producción en co-autoría, que habilita el despliegue de la agencia de la interlocutora
sobre el texto, hasta que el mismo exprese la visión que ella desea comunicar respecto del
fenómeno en cuestión. Esta textualización supone, a su vez, un proceso de interpretación, en que

 
14
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

hablante y narrativizador intervienen como productores de conocimiento (Biglia y Bonet-Martí,


2009). Realizado este proceso con todas las mujeres con las que se compartieron los espacios de
interacción conversacional, obtenemos un conjunto de narrativas diversas del fenómeno.

Explicado el método de co-producción de narrativas quisiera dejar sintéticamente planteados


algunos aspectos del mismo que consideramos de especial interés por habilitar a modificar las
relaciones de poder que se ponen en juego en toda relación de producción de conocimiento:

 La co-producción de narrativas considera que tanto investigador como interlocutoras son


subjetividades productoras de conocimiento que se agencian mutuamente desde sus
lugares de enunciación. Por lo tanto las interlocutoras no son “informantes” que proveen
“materia prima” para que el investigador procese, produzca y valide como conocimiento,
sino, al igual que el mismo, portadoras de teorías situadas.
 La participación de las interlocutoras en el proceso de producción no se limita a la
entrevista / conversación, sino que al ser parte de la co-producción del texto tienen
capacidad de agencia sobre el mismo, sus contenidos y las formas en que serán dados a
conocer. Esto a la vez que reducen el margen de arbitrariedad del investigador, aumenta
las posibilidades de cuidado de la información circulante.
 La narrativas, en tanto piezas textuales en sí mismas, pueden tener otros canales de
circulación además de su integración en los productos de la investigación académica. De
esta manera, tratándose de reconstrucciones de procesos militantes, pueden funcionar
como catalizadores de procesos de reflexión y acción en ámbitos activistas, según decidan
sus co-autoras.

De esta manera, las asimetrías de poder en la relación de conocimiento pueden verse alteradas
en un sentido democratizador, erosionando ciertos preceptos de los modos positivistas y
androcéntricos que hegemonizan la producción de conocimiento científico.

Siendo que estamos ante un proceso donde un académico varón convoca a mujeres feministas en
tanto interlocutoras de “su” investigación, éstos desplazamientos epistemológicos y
metodológicos se vuelven aún más relevantes, puesto que el proceso de construcción de
conocimiento podría, de no ser vigilado desde un fuerte ejercicio de reflexividad, encontrarse
naturalizando las asimetrías de poder que los resultados de la investigación pretenden combatir.

Veamos porqué consideramos que este método-proceso de co-producción de narrativas, además


de contribuir a erosionar los modos positivistas de investigar, podría significar también un salto
hacia la articulación de una epistemología feminista específica para los investigadores varones
comprometidos con las luchas anti-sexistas.

Desprendimiento androcéntrico y anti-masculinismo.

Hablamos de desprendimiento androcéntrico anti-masculinista para describir el proceso


experimentado por el propio investigador al verse interpelado en un nivel práctico y afectivo por
la narración de las vivencias oprimidas de las mujeres militantes, desplazando los obstáculos

 
15
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

epistemológicos ligados al habitus masculino, en tanto conjunto de disposiciones que interiorizan


y corporizan los discursos sobre lo masculino en el marco de una socialización de género (Nuñez
Noriega, 2006).

Este descentramiento, al que denominamos desprendimiento androcéntrico (Fabbri, 2014), es


teorizado por Thiers Vidal (2002) como condición de posibilidad para un análisis de la dimensión
generizada del poder de parte de aquellos varones investigadores comprometidos con las
perspectivas feministas.

Partimos de una premisa; nuestra posición en las relaciones sociales de sexo condiciona nuestras
posibilidades de comprensión en los fenómenos sociales, por ende, también nuestras
posibilidades de producción de conocimiento. Esta premisa tiene su anclaje en las epistemologías
feministas materialistas del punto de vista, donde se establece un vínculo entre la posición social
de sexo oprimida de las mujeres y sus posibilidades de realizar análisis feministas de la realidad.

Si bien consideramos que éstas epistemologías materialistas deben nutrirse también de los aportes
contemporáneos de la perspectiva del conocimiento situado y los enfoques interseccionales, de
manera de matizar el carácter determinante (en clave estructuralista) de una única posición de
sujeto -la vinculada a la posición sexuada/generizada- nos hacemos eco de sus potencialidades
para problematizar la relación entre posición socio-sexual y posición de saber en los investigadores
varones.

Thiers Vidal elabora un agudo análisis para pensar el desfase de género entre mujeres y hombres
feministas a partir de sus reflexiones sobre el lazo generizado entre sujeto cognoscente y objeto
de conocimiento. Para ello aporta dos pistas.

En primer lugar planteará la existencia de un desfase de género con anclaje motivacional:


mientras las mujeres feministas politizan su experiencia vivida para ponerle nombre a las
opresiones padecidas por su relación de subordinación respecto a los hombres, éstos últimos se
resisten a politizar sus experiencias desde una dimensión generizada del poder, puesto que
expondría sus propios mecanismos de opresión de las mujeres. Por ende, la resistencia masculina
a hacer lugar a las vivencias oprimidas de las mujeres no respondería a una falta de información
sino a una defensa egocéntrica de sus intereses personales y de clase social de sexo.

Una segunda pista de reflexión sobre el lazo generizado entre sujeto cognoscente y objeto de
conocimiento concierne específicamente a la capacidad de análisis. La epistemología feminista
del standpoint permite comprender que vivir como mujer u hombre en una sociedad jerarquizada
produce valoraciones asimétricas, formas de conciencia pre-política de funcionamiento de las
relaciones sociales de sexo. La noción de valoración pone el acento en el hecho de que mujeres y
hombres son sujetos cognoscentes afectivos, reaccionando en una estructura social dada, que
administra informaciones y análisis permitiendo localizarse y orientarse. Estas valoraciones son
asimétricas en la medida en que las mujeres acumulan información, sentimientos, intuiciones y
análisis que parten de las consecuencias violentas de la opresión que ellas sufren para remontar
hacia la fuente de éstas, elaborando así conocimientos sobre las relaciones concretas que ellas
viven. Contrariamente, los hombres acumulan desde la infancia informaciones, sentimientos,

 
16
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

intuiciones y análisis sobre el mantenimiento y el mejoramiento de su calidad de vida, ya que


como hombres, no tienen que “prestar servicios” ni a someterse a las mujeres. También lo que
ellos aprenden en lo cotidiano de sus relaciones con las mujeres queda centrado sobre ellos
mismos: una mayor escucha de las mujeres es susceptible de cuestionar sus comportamientos y
por tanto de costarles la energía física y afectiva, incluso el abandono o la pérdida de ventajas
concretas (Thiers Vidal, 2002).

Estas valoraciones asimétricas – que pueden sintetizarse en valoraciones relacionales en el caso


de las mujeres y no relacionales o auto-centradas en el caso de los hombres- condicionarán las
capacidades de análisis de las relaciones sociales de sexo, y con ellas las potencialidades de sus
investigaciones desde enfoques feministas. De esta manera, resulta indispensable que las
investigaciones desarrolladas por varones comprometidos con las luchas anti-sexistas contemplen
la necesidad de movilizar las propias valoraciones del sujeto cognoscente como requisito para
compensar los obstáculos epistemológicos que se desprenden de su posición socio-sexual
privilegiada.

El reconocimiento del terreno de antagonismos sociales y epistémicos en los que como varones
nos encontramos habitando, nos permite afirmar que la tarea de producir conocimientos
transformadores de las relaciones de sexo no puede encontrarse escindida de las transformaciones
que precisamos realizar en el plano subjetivo y en nuestras prácticas sociales. Esta implicación ya
no se presenta sólo en tanto plus que permitiría profundizar en el plano de la reflexividad del
propio investigador -en caso de proponérselo-, sino como condición indispensable para la
generación de conocimiento no androcéntrico desde una posición social dominante.

El acercamiento, comprensión y estudio de las teorizaciones feministas constituyen un aporte


sustancial en ésta tarea, en tanto posibilitan un cuestionamiento intelectual de la visión
masculinista del mundo, provocando un progresivo distanciamiento de las relaciones de
complicidad con “el club masculino”. Este proceso no está exento de resistencias, y las mismas
también se constituyen en sesgos a la hora de investigar.

Juan Guillermo Figueroa (2011) nos recuerda la pertinencia de recuperar la distinción de Ortega
y Gasset a propósito de las ideas y las creencias;

“en su apreciación las ideas son los conocimientos que adquirimos vía la razón, las
explicaciones y la coherencia de los argumentos, mientras que las creencias son nuestros
supuestos, es decir, los parámetros con los cuales accedemos al conocimiento de la
realidad, al ordenamiento de la misma y a su valoración” (Figueroa, 2011: XX).

De acuerdo con éste autor, a “las ideas las tenemos, mientras en las creencias estamos”, por lo
que éstas últimas, de carácter “arracional”, no requieren de la razón para ser aceptadas y por tanto
tampoco será suficiente con ella para cuestionarlas. Esto viene a cuenta del aporte, pero también
del límite que supone una aproximación meramente intelectual al feminismo. Como explica
Figueroa (las creencias) más bien necesitan de otra creencia con la misma validez o con una validez
cercana para poder ocupar su lugar, pero siempre dentro de procesos complejos, contradictorios
e incluso dolorosos. La complejidad del cuestionamiento se debe a que revisitar las creencias es
cuestionarse a sí mismo, es cuestionar la historia personal, es cuestionar los ojos con los que se

 
17
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

ha visto y se ha ordenado la realidad, pero no únicamente a nivel teórico, sino en aspectos muy
prácticos, cotidianos y existenciales (2001).

Esto nos conduce a un segundo nivel de compromiso en la tarea de transformar nuestro habitus;
la participación de prácticas militantes feministas, y así desde la práctica, abrir la posibilidad de
percibir las micro dinámicas opresivas que atraviesan las relaciones entre los géneros.

Lo anterior implica una repetición de abandonos momentáneos de los puntos de vista opresores
a fin de hacer un lugar intelectual y afectivo más importante y más permanente de los puntos de
vista oprimidos. Y es precisamente este descentramiento –el renunciamiento al egocentrismo– lo
que permite sobrepasar los modos de compromiso limitados ligados a una comprensión
puramente intelectual de las teorizaciones feministas. El reconocimiento a un nivel empírico de
la vivencia oprimida de las mujeres, un análisis basado en la empatía neutraliza las resistencias
masculinas a las teorías feministas y abren la vía a una implicación de otra naturaleza, más
comprometida, en el estudio de las relaciones sociales de sexo (Thiérs Vidal, 2002).

La aproximación intelectual a las teorizaciones feministas, y fundamentalmente el compromiso


práctico y afectivo con sus luchas, son condiciones del largo trabajo de toma distancia del sentido
masculinista. Progresivamente estos vaivenes permiten al sentido feminista volverse la perspectiva
de interrogación del objeto de investigación (…) Examinando todos los aspectos del modo
masculino de actuar, de ser en el mundo y de ver el mundo bajo el ángulo de los beneficios que
los varones obtienen de su relación con las mujeres, los varones investigadores comprometidos
pueden analizar el poder en su dimensión generizada. Es, entre otras cosas, únicamente luego de
efectuar esta ruptura que pueden igualmente movilizar su valoración pre-política en lo que
conciernen a las técnicas empleadas por los varones para oprimir a las mujeres, apoyándose sobre
sus propias experiencias, sentimientos y percepciones. Es en este momento que la reflexión se
vuelve realmente anti-masculinista y que puede aportar los elementos sobre la manera en la cual
los varones instrumentalizan a las mujeres (Thiérs Vidal, 2002).

Como nos advierte Thiérs Vidal; “sólo un trabajo teórico, político y personal sobre este aspecto
de la subjetividad masculina permitirá romper el lazo con el grupo social de los varones y elaborar
una conciencia anti-masculinista” (2002).

Consideraciones finales

Las conversaciones mantenidas con nuestras interlocutoras –mujeres feministas militantes de las
izquierdas independientes en la Argentina contemporánea- en torno a las relaciones sociales de
sexo y los procesos de despatriarcalizacion de sus organizaciones, indagando sobre las
dimensiones políticas y cognitivas de sus malestares ante esas dinámicas opresivas, han sido
insumo imprescindibles para el desplazamiento de las posiciones de conocimiento del
investigador. Y como venimos afirmando, estos desplazamientos se han visto acompañados por
procesos de descentramiento de la propia vivencia masculinista de esas dinámicas relacionales.

 
18
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

La posibilidad de aproximarse a un análisis de la vivencia oprimida de las mujeres hacia el interior


de sus organizaciones, además de compromisos intelectuales, políticos y afectivos previos con sus
luchas, supuso el desafío de articular un método-proceso de investigación que habilitara las
mutuas afectaciones e interpelaciones, las escuchas flotantes y las conmociones emocionales,
posibilitando los desprendimientos androcéntricos que hicieran posible la conexión con
fenómenos no experimentados en carne propia –y por ende usualmente relativizadas o
subestimados por el egocentrismo masculino- producto de las asimetrías en las posiciones sociales
de sexo.

La co-producción de narrativas con mujeres feministas como método-proceso de investigación ha


funcionado como escenario donde desplegar esta hipótesis durante el proceso de investigación,
permitiendo la emergencia de una epistemología anti-masculinista, en tanto teoría del
conocimiento de las maniobras desplegadas por los varones para retener su poder y privilegios en
el marco de las dinámicas militantes hacia el interior de sus organizaciones.

Referencias bibliográficas
Biglia, B. (2005), Narrativas de mujeres sobre las relaciones de género en los movimientos
sociales. Tesis de doctorado, Universidad de Barcelona, Departamento de Psicología Básica, sin
publicar.
Biglia, B. y Bonet-Martí, J. (2009), “La construcción de narrativas como método de investigación
psicosocial. Prácticas de escritura compartida”. En FQS Forum Qualitive Research. Vol. 10, Art.8.
Bonino, L. (2005), Obstáculos y resistencias masculinas al comportamiento igualitario. Una
mirada provisoria a lo intra e intersubjetivo. En ASMLMA, Huelva, España.
Bonino, L. (2004). Obstáculos y resistencias masculinas al comportamiento igualitario. Una
mirada provisoria a lo intra e intersubjetivo. Artículo presentado en Séminaire international Les
hommes en changements: les résistances masculines aux changementes dans une perspective d´égalité.
Francia, Febrero 2004. Recuperado de http://www.luisbonino.com/PUBLI01.html
Dorlin, E. (2008), Sexo, Género y Sexualidades. Introducción a la teoría feminista, Nueva Visión,
Bs As.
Fabbri, L (2013). “Masculinidad y producción de conocimiento no androcéntrico.
Interpelaciones de la epistemología feminista”. En Revista Sujeto, subjetividad y cultura. Nº5,
pp.36-44, Santiago de Chile. ISSN 0719-1553.
Fabbri, L (2014), “Desprendimiento androcéntrico. Pensar la matriz colonial de poder desde los
aportes de Silvia Federici y María Lugones”. En Revista Universitas Humanística. Vol.78, Nº 78,
Bogotá, ISSN 2011-2734, PP. 89-107.
Falquet, J. (2007), “División sexual del trabajo militante: reflexiones en base a la participación de
las mujeres en el proceso revolucionario en El Salvador (1981-1992)”. En:
Fernández García, N. y Montenegro, M. (2014). Re/pensar las Producciones Narrativas como
propuesta metodológica feminista. Athenea Digital, 14(4), 63-88.
http://dx.doi.org/10.5565/rev/athenea.1361

 
19
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Figueroa, J. (2001) Los procesos educativos como recurso para cuestionar modelos hegemónicos
masculinos. En Diálogo y Debate de Cultura Política, Centro de Estudios para la Reforma del
Estado. Año 4, Núm. 15-16, pp. 7-32. México.
Gandarias Goikoetxea, I. (2014), “Tensiones y distensiones en torno a las relaciones de poder en
investigaciones feministas con Producciones Narrativas”. En Quaderns de Psicología, Vo.16, Nª1,
127-140.
Haraway, D. (1995), Ciencia, cyborgs y mujeres. Cátedra, Valencia.
Harding, S. (1987), ¿Existe un método feminista? Traducción de Gloria Elena Bernal.
Kergoat, D. (2003), “De la relación social de sexo al sujeto sexuado”, En Revista Mexicana de
Sociología, Año 65, Nº4, s/d.
Martínez-Guzman, A. y Montenegro, M. (2014), “La producción de narrativas como herramienta
de investigación y acción sobre el dispositivo sexo/género: Construyendo nuevos relatos”. En
Quaderns de Psicología, Vol.16, Nª1, 111-125.
Nuñez Noriega, G. (2004) Los “hombres” y el conocimiento. Reflexiones epistemológicas para el
estudio de los “hombres” como sujetos genéricos. En Desacatos. Núm. 15-16, Otoño-Invierno
2004, pp- 13-32.
Thiers Vidal, L. (2007), Del "Enemigo principal" a los principales enemigos. Posición vivida,
subjetividad y conciencia masculina de dominación. Sin publicar.
Uriona, P. (2012), Sistematización de las Jornadas Pensando los feminismos en Bolivia. En
Pensando los feminismos en Bolivia, Conexión Fondos de Emancipación, La Paz, pp. 11-65.

 
20
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

DA SELEÇÃO EXAUSTIVA DE PERFIS AO MESSENGER: A


PERFORMANCE-PAQUERA ENTRE HOMENS NO FACEBOOK
Fabrício de Sousa Sampaio
Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN- Natal/Brasil
Bolsista Demanda Social/Capes
E-mail: farcosousa@yahoo.com.br

RESUMO

Introdução: A paquera ou “crush” pode ser definida como um processo ritual de busca por
alguém com intenção amorosa e/ou sexual. Atualmente, o ato de paquerar entre homens do “off-
line” é mediado e modificado pelas mídias digitais- aplicativos, redes sociais e sites de
relacionamento, por exemplo. Objetivos: Partindo da premissa de que a paquera pode ser
considerada um continuum “off/online” articulado e interdependente, este artigo objetiva
analisar os rituais que constituem as performances de paquera entre homens no Facebook.
Metodologia: Para tanto, foi iniciada uma etnografia no Facebook em 2013 cujas reflexões
preliminares constituem este artigo. Durante dois anos, dez colaboradores foram entrevistados.
Resultados: Ritual, performances de gênero, corpo, cibercultura, virtual e sexualidade
constituíram as chaves de interpretação desse fenômeno cultural. Erving Goffman (2009, 2010,
2011), Richard Schechner(2012), Eva Illouz (2011), Pierre Levy (2010), Judith Butler (2010,
2013), Berenice Bento(2006) e Richard Miskolci (2009, 2011,2012, 2013) são os interlocutores
principais na elucidação do processo cultural ritualizado da paquera. Análise: A título de análise
a paquera enquanto performance ritual foi dividida em três fases: esquadrinhamento, interação
desfocada, focada e/ou multifocada. Uma das principais constatações da pesquisa foi a marcação
social da paquera masculina pelos ditames da heteronormatividade, pela moral da “boa forma”,
por códigos sociotemporais localizados e pela misoginia.

 
21
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Introdução

O objeto de pesquisa – performance-paquera – surgiu da constatação de que ações virtuais


engendradas no perfil da rede social Facebook tais como curtidas de fotos e solicitações de
amizade de usuários desconhecidos eram consideradas estratégias ou práticas de paquera no
“online” de acordo com os primeiros colaboradores da etnografia.

Essas ações se tornaram padronizadas e alguns questionamentos foram surgindo: a paquera entre
homens no Facebook seria ritualística, ou seja, seria permeada por ações codificadas que
objetivariam uma eficácia nos termos de Schechner (2012)? Quais seriam esses rituais e que
sentidos sociais eles teriam? Os rituais seriam então constituintes do processo de paquera entre
homens no Facebook?

Com a pretensão de elucidar essas questões, uma etnografia foi iniciada no final de 2013 no
Facebook. Após um ano de observação participante, foram escolhidos alguns sujeitos para realizar
entrevistas abertas. Foram convidados dez usuários amigos diariamente o período de dois meses.
Nesses diálogos iniciais me apresentava como investigador social, explanava os objetivos da
pesquisa e anexava o currículo lattes para possíveis confirmações. Esses usuários solicitaram
prontamente o anonimato na pesquisa, por isso que os depoimentos serão identificados neste
texto com nomes aleatórios: Josué, Cláudio, Romeno, Italiano, Sírios, David, Marcos, Romário,
Rivero e Juliano.

O presente artigo é constituído pelas reflexões preliminares dessa etnografia em andamento no


contexto “on-line” do Facebook cujo objetivo principal foi analisar os rituais da performance-
paquera entre homens e os seus significados socialmente constituídos.

Vale destacar que a vida “on-line” e “off-line” não constituem realidades distintas e separadas.
Estes ambientes – “on-line” e “off-line” – se encontram em permanente interação e por isso
Carolina Parreiras (2011) e Richard Miskolci (2011) citam a sugestão de Hine (2009) de tratar o
virtual2 ou a internet como “contextos culturais”. Além disso, para o sociólogo Richard Miskolci
(2011) é necessário se pensar essa “divisão” como um contínuo interdependente e articulado “no
qual nos inserimos assim como nossos sujeitos de pesquisa” (ibid, p. 15). Pois, não existe um
universo social apartado chamado de ciberespaço3 e sim uma mediação e modificação da vida off-
line através das mídias digitais (ibid, p. 16).

2
 A preferência pelos termos virtual e virtualidade neste artigo se deve a ideia de que os “processos de virtualização são concernentes a 
agenciamentos de corpo, do espaço, do tempo e do sexo que atravessam as dimensões do humano e do não humano” (GADELHA, 2015, 
p.67). 
3
 O termo ciberespaço foi criado pelo escritor de ficção científica William Gibson, em 1984, com base em dois conceitos: cibernética e espaço. 
Gibson destacava a desconexão entre ciberespaço e espaço físico material. Com a popularização da internet e o surgimento do world wide 
web (WWW) em 1992, ciberespaço e internet passaram a ser tratados quase que como sinônimos. Neste ínterim, os espaços digitais foram 
considerados desconexos da realidade física, processo que resultou no uso do termo realidade virtual como antônimo da vida real (SOUZA; 
SILVA, 2006, p. 21‐22). 

 
22
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Conforme Miskolci (2011) deve-se entender que os usos sociais da mídia digital estão vinculados
a necessidades e aos interesses off-line. Em outras palavras, no Facebook, o ato de paquerar entre
homens do “off-line” está mediado e modificado contextualmente pelo “on-line”. E a paquera de
forma geral se constitui num “contínuo articulado e independente” (ibid, p. 17) característico do
mundo social na atualidade, embora que em ambos os contextos culturais existam peculiaridades.

As relações sociais mediadas digitalmente são objeto de discussão da primeira parte do artigo. Em
seguida, performance, gênero e paquera constituem o foco de análise. E na terceira parte, são
identificados e analisados os rituais da paquera no Facebook.

Mídias digitais e as buscas por parceiros

Miskolci (2011) assevera que o uso das mídias digitais no mundo e no Brasil ainda está em
processo de disseminação. As mídias transformaram as formas de se comunicar das pessoas e as
relações sociais. Algumas pesquisas4 apontam uma fragmentação identitária e outras para uma
maior fluidez dos eus envolvidos na vida “on-line”.

O autor destaca dois importantes aspectos da utilização das mídias digitais: o protagonismo
individual e a articulação das diferenças pessoais como elementos para efetivação de contatos e
socialização (MISKOLCI, 2011, p.13). Essas mídias fazem a mediação e a modificação daquilo
que é vivido no “off-line” – lócus de origem das necessidades e interesses dos seus usos sociais –
numa espécie de “contínuo articulado e interdependente” (ibid, p. 16).

A internet possibilita exacerbar a incompletude de determinado parceiro escolhido


temporariamente pela simples razão de que ao descartá-lo, haverá uma abundância de outros
possíveis parceiros. Justamente porque a internet “nos faz ver todo o mercado de escolhas
possíveis a nossa disposição, [...] ao chegarmos ao encontro real costumamos tender a subestimar
e não a supervalorizar a pessoa encontrada” (ILLOUZ, 2011, p.151).

Os contatos “virtuais” se intensificam a cada dia e a tese de que tal intensificação diminui os
contatos “reais” é questionável, pois, embora muitos prefiram, por exemplo, paquerar ou buscar
parceiro(a)s no “on-line”, não se tem o descarte da possibilidade das interações face a face depois
dos flertes na virtualidade.

A busca de parceiro(a)s na internet adquire uma forma racionalizada, baseando-se numa interação
incorpórea caracterizada pela abundância e permutabilidade (ILLOUZ, 2011, p.129). Os
namoros e os processos de paquera seguem princípios do consumo de massa “baseados numa

4
 Na cibercultura o “eu” “também torna‐se desterritorializado” (LEMOS; LÉVY, 2010, p. 202) e, portanto, ávido por assumir as territorialidades 
tanto possíveis quanto estratégicas frente a seus desejos e objetivações. Eva Illouz (2011, p.115) assevera que a internet possibilita um eu 
flexível, aberto e múltiplo. 

 
23
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

economia de abundância, escolha infinita, eficiência, racionalização, orientação para alvos


seletivos e padronização” (ibid, p.130).

O contexto “on-line” pode ser considerado uma passagem quase obrigatória “para sujeitos que
nutrem desejos homoeróticos em sua autodescoberta, contatos sexuais ou amorosos e a criação
de redes de apoio” (MISKOLCI, 2009, p. 176). Mas também ela pode atuar na “ampliação do
armário” por que a explicitação dos desejos homoeróticos está disciplinada pelas atmosferas do
anonimato e do segredo.

O armário como regime de controle da sexualidade que rege a vida dos gays e lésbicas e também
dos heterossexuais, é uma estrutura de opressão conforme Segwick (2007). Entretanto esse
armário persiste nas mídias digitais não como regime de opressão gay, mas como dispositivo de
controle que é incorporado subjetivamente através de aprendizado social que define tanto no
espaço público quanto privado as relações a serem reconhecidas e visíveis, como as que serão
punidas e toleradas (MISKOLCI, 2013, p. 316).

Uma das tendências vislumbradas no Facebook e recorrente na cibercultura5 é a sacralização dos


eus e por conta disso uma tendência obsessiva de conseguir fiéis, fãs ou adoradores. As estratégias
virtuais de exibição dos corpos nos perfis das redes sociais objetivam transformá-los em objetos
de consumo, ídolos ou até ‘santidades’. Na própria plataforma do Facebook e twitter existe a
opção de seguir e a quantidade de seguidores é razão midiática de se autoconsiderar ou de
identificar determinadas pessoas celebridades ao ponto de até serem chamadas como
“celebridades instantâneas”.

Os corpos passíveis de exibição e atribuição de status de “celebridade” (SIBILIA,2010) ou de


“glamour” nos termos dos colaborados são os corpos jovens em “boa forma” ou malhados. Na
moral contemporânea da “boa forma”, os corpos autorizados a terem visibilidade e, portanto,
objeto de assédio pelos “outros”, são corpos sarados, musculosos, belos, de pele lisa
(CANEVACCI, 2012). A esses corpos triunfantes é permitida a nudez, a pornografia, a fluidez
identitária e de orientação sexual.

Na internet, o conteúdo da paquera – o corpo – como programa ajustável aos ideais estéticos
dominantes é construído com auxílio da imaginação. Esse processo é desencadeado por dois
textos a foto e o perfil “e por um conhecimento do outro que é verbal e racional, isto é, baseado
em categorias e cognições, não nos sentidos” (ILLUOZ, 2011, p. 148). Há a construção de
projeções das pessoas. Este estilo de imaginação no “on-line” “descorporifica os contatos,
transforma-os em puros fatos psicológicos e textualiza a subjetividade” (ibid, p. 138). E
diferentemente da imaginação romântica calcada no corpo e na ordem do sentir, a imaginação
da internet é baseada na ordem do conhecer em que fantasiar e buscar alguém tem como
referência uma lista de atributos abstratos e incorpóreos que se supõe corresponder ao ideal
desejado pelo individuo (ibid, p. 148).

5
  Lemos  (2010,  p.  22)  define  a  cibercultura  como  um  “conjunto  tecnocultural”  que  surge  no  final  do  século  XX  em  consonância  com  a 
microinformática e o surgimento das “redes telemáticas mundiais”. Esta forma cultural engendra modificações nas práticas sociais por meio 
de “novas relações no trabalho e no lazer, novas formas de sociabilidade e de comunicação social”. 

 
24
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Performance, gênero e paquera

A performance é um processo de ritualização de sons e gestos num processo de estilização do


comportamento (SCHECHNER, 2012, p. 49). Os indivíduos utilizam técnicas de performance
para se dirigir aos diversos públicos com o objetivo de “manter, modificar ou inverter a ordem
social existente” (ibid, p.77). Ela se origina da interação entre o jogo e o ritual. Os rituais
constituem ações codificadas que movimentam a memória e ajuda os indivíduos a lidar com
relações sociais “ambivalentes, hierarquia e desejos que problematizam, excedem ou violam as
normas da vida diária” (LIGIÉRO, 2012, p.49). Embora que os rituais se apresentem
publicamente sob o caráter de estabilidade e permanência, eles mudam dependendo das
circunstâncias sociais (SCHECHNER, 2012, p.84). Neste sentido podemos considerar que os
rituais performatizados na paquera homoerótica dentre outras razões ajudam os indivíduos a se
relacionarem eroticamente entre si num contexto heteronormativo que além de negar a
legitimidade do desejo homoerótico também o aprisiona num padrão heterossexual binário de
homens e mulheres.

Schechner (2012) divide a performance em eficácia e entretenimento. Dois pólos que fazem parte
de uma ação contínua dependendo do contexto e da função. A performance é ritual quando se
vincular a eficácia ou buscar resultados. E é entretenimento quando o objetivo for dar prazer, ser
mostrada ou passar o tempo. Para o autor esse jogo binário – eficácia e entretenimento – não são
opostos e sim continuamente interdependentes. Não há eficácia ou entretenimento puro. E é das
tensões criativas desse jogo e suas várias finalidades que se originam as performances (ibid, p.81).
Assim, a performance durante a paquera objetiva dentre outras razões principalmente tornar um
corpo reconhecido como objeto de paquera ou de desejo, além de eficazmente conseguir um
“fica” ou amante em contextos homoeróticos que violam de certa maneira a preservação da
heterossexualidade como norma.

A performance-paquera “on-line” é ritual ao se vincular a ação racional que busca resultados


específicos nos termos de Schechner (2012). E a partir dos depoimentos e das incursões no
Facebook podemos afirmar que na paquera homoerótica masculina quem executa os rituais são
corpos sexuados e generificados e que buscam outros corpos sexuados/generificados, ambos
marcados socialmente pela heteronormatividade6 e padrões estéticos de beleza dominantes. E
especificamente na paquera entre homens, a efeminofobia – aversão aos trejeitos ditos femininos
nas performances masculinas – atua como reforçador auxiliar da heteronormatividade.

Conforme os relatos dos colaboradores os “corpos digitais ou virtuais” agenciam o desejo e a


intenção de iniciar a paquera. Entretanto é a movimentação desse corpo que tanto pode
corroborar esse desejo como intensificar ou finalizar o processo de paquera. Dito de outra forma,
é a performance e não somente o corpo feito de texto e imagem que é o alvo do processo de
paquera.

6
  Termo  criado  por  Wagner  (1993)  que  identifica  um  conjunto  de  disposições  –  discursos,  valores  e  práticas‐  que  naturaliza,  sanciona  e 
legitima  a  heterossexualidade  como  a  única  possibilidade  de  expressão  dos  sujeitos  (JUNQUEIRA,  2012,  P.66).  A  heteronormatividade  é 
sustentada pela heterossexualidade obrigatória conforme Louro (2012). E, além disso, reforçada pela efeminofobia no caso das relações 
amorosas e sexuais entre homens. 
 

 
25
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Uma das primeiras constatações etnográficas é a de que a paquera entre homens na internet é
regulada pelos imperativos da “matriz heterossexual”. No regime da heterossexualidade existem
“performances de gênero hegemônicas” atreladas ao feminino e ao masculino. Elas constituiriam
“ficções sociais sedimentadas ao longo do tempo e que gerariam um conjunto de estilos corporais”
(BENTO, 2006, p. 92).

Assim, o binarismo de gênero que sustenta a “heterossexualidade compulsória” modula também


a paquera homoerótica. Pois as sexualidades atualmente estão reguladas pelo dispositivo da
heteronormatividade.

E outro elemento da paquera homoerótica constatado na pesquisa em andamento é a estética.


Semelhante a pesquisa de Berenice Bento (2006) sobre a experiência transexual, a estética
constitui num “indicador de níveis de masculinidade e de feminilidade” (ibid, p. 163). Ela atuaria
para visibilizar e estabilizar os corpos na dicotomia dos gêneros. Além disso, constituiria numa
espécie de “capital de gênero” (ibid, p.228) através do qual os corpos estariam classificados como
abjetos ou “glamourizados”.

Sendo assim, o corpo paquerado é marcado por um sexo que é considerado a “naturalidade” do
gênero binário. Judith Butler (2010, 2013) destaca que tanto a materialidade do sexo quanto a
essência do gênero são efeitos de práticas discursivas que precisam ser performatizadas. É na
performance contínua e repetitiva que o poder regulador dos gêneros é produzido e naturalizado
como algo “pré-cultural”. Em suma, podemos falar de performatividades de paquera como atos
estilizados e repetitivos das “performances de gênero” valorizadas pelas sociabilidades
homoeróticas nos contextos culturais específicos.

Na busca de parceiro (a)s pela internet seleciona-se quem pode ser alvo da paquera por imagens
dos perfis sexualizados e generificados pressupondo que tais imagens sejam confirmadas nos bate-
papos ou nas exibições da webcam, e consequentemente desencadear e confirmar a atração e o
afeto ou até o amor. Ou seja, o “corpo digital” paquerado terá sua performance avaliada através
das interações na plataforma num jogo de materialização corporal onde o gênero, a sexualidade,
vocabulário utilizado, jeitos de corpo, estética e vestimentas serão modulados no delinear do
processo de paquera (GADELHA, 2015, p. 58). A performance para este autor funcionaria como
dispositivo de materialização dos corpos, gêneros e sexualidades nos contexto “on-line”.

Gadelha (2015) em sua pesquisa trata o “corpo digital ou virtual” feito de texto e imagem.
Entretanto esse processo de feitura do corpo, no caso o alvo da paquera virtual, não é uma simples
identificação, tradução ou representação de um “corpo real”. É muito mais geração de outra
materialidade articulada a processos de mutação. O agenciamento dos corpos se dá entre os
sujeitos, as máquinas e os espaços (ibid, p. 57-8). Assim, o corpo digital, além dos diferencias
identitários, se “engendra em processos de hibridização com o espaço, do real com o virtual”
(ibid, p.60). Este autor critica a ideia de reduzirmos o agenciamento entre corpo, gênero e espaço
a uma perspectiva do representacional, pois “há uma performatividade do corpóreo, do espacial
e do sexual que se expandem” para além desse domínio representativo (ibid, p. 64).

 
26
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Facebook e os rituais de paquera

O Facebook pode ser utilizado pelos usuários sob a forma de contexto “on-line” de paquera, pois
não sendo um site específico de busca por parceiros sexuais como Manhunt, Disponível, Badoo
e outros, ele inicialmente é considerado uma rede social que objetiva buscar ‘amigos’ e construir
uma rede de sociabilidades virtuais e na medida do possível de encontros face a face.

É uma rede social que tem muitos recursos, mas, por delimitação da pesquisa, foram escolhidos
para análise dos perfis, o mural, status, a linha do tempo, os botões curtir, compartilhar e cutucar.
O mural é um espaço na página de perfil do usuário onde os amigos postam mensagens para os
outros verem. Pode ficar visível para qualquer um, com permissão para visualizar o perfil
completo. O status fica na página de visualização pública do perfil, de acordo com o usuário, que
informa seus amigos e membros de sua comunidade coisas que acham interessantes. A linha do
tempo organiza cronologicamente todas as atividades, postagens e publicações dos usuários. Os
botões curtir e compartilhar se relacionam a postagens e publicações e constituem os principais
instrumentos de paquera virtual.

Atualmente, o botão compartilhar está sendo utilizado mais fortemente para intenções políticas:
campanhas, abaixo-assinados e serviços de alerta e conscientização pública. Agora, o botão cutucar
é muito polissêmico. Até os criadores dizem que ele não tem uma finalidade específica. As
cutucadas podem significar um olá, um pedido de amizade indiscreto, caso não conheça o
usuário, e pode ser um recurso de iniciar uma paquera ou investida sexual.

Durante a etnografia, percebi determinados rituais que constituíam a paquera homoerótica no


Facebook. Esses rituais serviam para tornar esse processo mais eficaz e evitar desconfortos ou
conflito de interesses amorosos entre os usuários. Além disso, os rituais eram utilizados para
“informar” o processo de paquera iniciado por alguém sem que houvesse a necessidade de
explicitar claramente as intenções de ambos e muitas vezes promover uma saída do armário de
forma cuidadosa e paulatina: “não vou de cara, primeiro sem ter uma noção, tenho que me saber
conduzir para não me expor e não me constranger e nem chegar a constranger, mesmo se ele
gostasse de homem ainda não seria cabível por não saber o que ele tá vivendo ou seus planos”
(Juliano/2014). Assim, a utilização dos rituais durante a paquera virtual se justifica porque “às
vezes essas coisas [um convite de amizade, uma curtida na foto ou uma cutucada] não tem nada
a ver com o que você espera que seja” (Romário/2014).

A paquera e a “pegação” no Facebook é complexa e ritualística. E os rituais atuam como forma


de mobilizar os indivíduos a fim de os tornarem “participantes autorreguladores em encontros
sociais” (GOFFMAN, 2011, p. 49). Em salas de bate-papo ou sites de busca por parceiros como
Manhunt, Disponível e Badoo, geralmente o segredo e anonimato se referem à identificação do
usuário e não ao seu desejo homoerótico: as pessoas já entram em salas temáticas relacionadas ao
que realmente buscam na web. No Facebook, é o desejo homoerótico que é resguardado no
“armário” e vai sendo ritualmente exposto aos poucos, porque o usuário já foi publicizado e há
um “risco” social para muitos, ou seja, a publicização de seus desejos, através de um possível
compartilhamento de sua “identificação” através de sua rede de amigos direta e indiretamente.

 
27
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

No Facebook, são entre curtidas, cutucadas e compartilhamentos que os usuários vão navegando
pelos perfis, criando estratégias de manipulação identitária e de gênero, além de se tornarem
visíveis na rede e, portanto, consumíveis entre os milhões de participantes da rede. Sem
visibilidade, não se “existe” na rede social. Esse processo de navegação caracterizado pelo ritual
do esquadrinhamento dos perfis pode ser considerado o início da primeira fase do processo de
paquera virtual que será chamada de “desfocada”.

Numa interação “desfocada” “os indivíduos em presença visual e auditiva uns dos outros cuidam
de suas próprias vidas sem estarem ligados por um foco de atenção compartilhado” (GOFFMAN,
2011, p. 128). Não há aqui um único centro de atenção. No caso específico do Facebook, os
usuários analisam os perfis e inicialmente buscam alguma “pista” ou indício de que o “cara curte”
a partir das publicações, curtições e amigos gays em comum. Ter amigos gays, curtir publicações
relacionadas ao assunto da homossexualidade, não ter fotos com crianças ou junto-beijando-
mulheres, curtir páginas de boates ou festas gays constituem as “pistas” apontadas pelos
colaboradores. Mas um usuário relata que mesmo sem a identificação dessas “pistas” “agente às
vezes tenta o colar colou” (David/2014). Ou então “me declaro para ele mesmo correndo o risco
de pegar um fora” (Juliano/2014).

Fundamentalmente a paquera “on-line” é orientada pelas “performances de gênero”. Durante o


esquadrinhamento, os usuários tentam se “encaixar” e “encaixar” os perfis esquadrinhados em
julgamentos de identidade de gênero reconstituídas a partir de estereótipos já reconhecidos pelo
senso comum como pertencentes a perfis de “caras que curtem”. Nessa fase “desfocada” da
paquera os colaboradores vão paquerando vários perfis através de curtidas em fotos e cutucadas.
Os perfis vão sendo classificados como “boy” ou “gay”: o perfil “gay” é aquele que possui as
“pistas” acima; e o perfil “boy” é constituído por “coisas de hetero” – assuntos e páginas
relacionados a futebol, mulheres e filho (a)s (Rivero/2014). Essa redução binária dos perfis
corresponde ao binarismo das “performances de gênero” – masculino e feminino – que nas
homossexualidades assume as configurações de macho ou “boy” e fêmea ou bicha, acompanhadas
da divisão também binária das posições sexuais correspondentes: macho ou másculo – ativo e gay
ou afeminado – passivo.

Durante o ritual de esquadrinhamento da paquera “desfocada”, ocorre uma seleção de perfis


possíveis e que possuem materializações de corpos desejáveis para serem paquerados. Ela se
assemelha a paquera “off-line” que tem seu início com uma relação peculiar com a “desatenção
civil”. O paquerador pode iniciar seus investimentos utilizando-se desta cortesia. Na desatenção
civil o indivíduo oferece um “avisovisual suficiente” de que percebeu a presença do outro e depois
retira seu olhar ou atenção para não expressar que o outro “constitui um alvo de curiosidade ou
interação especial” (GOFFMAN, 2010, P.96).

O reconhecimento da paquera entre indivíduos se dá por infrações a desatenção civil – olhar


prolongado a alguém ou as olhadelas mútuas – confirmada por outros sinalizadores e pela
contextualização espaço-tempo. Entretanto no contexto “on-line” a desatenção civil pode ser
emitida pelas curtições em fotos ou cutucadas, ou seja, através da emissão de que aquele perfil
está chamando atenção a alguém. E o olhar prolongado ou mútuo – confirmador do início da
fase focada da paquera – pode ser confirmado pelo retorno das curtições em fotos, cutucadas e

 
28
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

solicitações de amizade: “cutucadas no começo eram o auge. Hoje as cantadas por mensagens são
mais frequentes e curtidas em fotos” (Marcos/2014).

Tento observar um por um o perfil do face da pessoa e tento ver como se aproximar.
Observo, mando uma mensagem formal ou cutuco e daí vejo mais nunca ir direto [...]. A
pessoa fica te curtindo, mostrando interesse para as coisas que você curte e aí vai de você
[...] (Juliano/2014).

A passagem da paquera como interação “desfocada” para um encontro ou engajamento de face


[no caso engajamento “on-line”] é autorizada pela intensidade dos retornos às curtições de fotos,
pelas cutucadas e em algumas situações por comentários e mensagens direcionadas a fotos ou algo
publicado: “começo a observar pelas inúmeras vezes em que curtiu uma foto ou um status em
menos de um minuto [risos]. Isso acontece muito, mais o fator principal é durante a conversa no
bate-papo” (Romário/2014);

Observo, mando uma mensagem formal ou cutuco e daí eu vejo no que dá mais nunca ir
direto [...] eles puxam conversa, fazem comentários de alguma foto, curte alguma coisa, a
maioria das coisas que curto ou compartilho num face, [...] (Juliano/2014).

“Cutucar”, “curtir uma foto dele”, “comentar uma foto onde ele foi marcado, ou comentar e
também curtir suas recentes postagens”, “solicitar amizade” ou “mandar uma mensagem qualquer
de paquera” (Josué/2013) foram apontadas como principais rituais de aproximação na busca por
parceiros amorosos e/ou sexuais no Facebook, de acordo com os colaboradores. Tais ações são
rituais por serem consideradas eficazes na busca por chamar atenção de algum usuário durante
as performances de paquera. Vale destacar que, antes desses rituais, o principal ritual de seleção
dos futuros objetos de desejo é a visualização das fotos e consequente análise dos perfis dos
usuários localizados tanto através dos amigos dos usuários quanto também dos amigos em comum
com outros usuários.

A “interação focada” da paquera virtual é marcada geralmente quando um dos usuários aceita o
convite de solicitação de amizade de outro ou em menor frequência quando um deles envia uma
mensagem qualquer. Na interação focada existe um único foco de atenção cognitiva e visual
durante os atos de fala e gestos. E os participantes ajudam a manter esse foco de atenção
(GOFFMAN, 2011, p. 128). O início desta fase ocorre segundo os colaboradores quando dois
usuários se tornam “amigos” no Facebook. Há outros rituais de aproximação da paquera mais
diretos como elogios às fotos e ao corpo dos usuários ou a solicitação de amizade como primeira
ação sem passar pelas curtições de fotos ou publicações.

Realizada no bate-papo do Facebook esta fase “focada” principia com a deferência, ou seja, um
ritual interpessoal através de pequenas saudações, elogios ou desculpas de comunicar apreciação
ou estima ao receptor. Esse ritual é utilizado para se aproximar ou fazer investidas aos corpos
paquerados. Entretanto é a fase mais complexa porque lida principalmente com a confirmação
das performances exibidas pelos indivíduos durante a fase desfocada ou não-verbal. E no caso do
Facebook, a confirmação performática se dá por uma avaliação do desempenho linguístico em
confronto com a análise do perfil realizada anteriormente através dos trânsitos “virtuais”:
curtições de fotos, de festas, eventos, páginas e publicações em geral, principalmente as fotos

 
29
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

pessoais. Aqui, ocorre uma exacerbação/manipulação/reformulação dos significados atribuídos


aos dois polos da paquera – cálculo e desejo (PERLONGHER, 1987, p. 161) – desde o início do
processo. Além disso, essa fase da paquera é caracterizada pela “deferência”.

A deferência pode assumir a forma de ritual de evitação e ritual de apresentação. Os “rituais de


evitação” são empregados onde a deferência leva o ator a manter distância do receptor e para não
violar a esfera que está ao seu redor (GOFFMAN, 2011, p. 65). Eles assumem a forma de
proscrições, proibições e tabus os quais encerram “atos que o ator deve se abster de realizar se
não quiser violar o direito do receptor de mantê-lo a distância” (ibid, p. 74).

Um segundo tipo de deferência são os rituais de apresentação. Eles funcionam - através de quatro
formas comuns – saudações, elogios, convites e pequenos serviços – para confirmar aos receptores
que são estimados e sinaliza para o tratamento que está por vir na interação. Ou seja, eles
especificam o que deve ser feito (GOFFMAN, 2011, p. 72).

Da mesma forma que na paquera “off-line” “pegar o olho” do paquerado é uma forma do
paquerador ser visto e demonstrar sua paquera, evitar que alguém “pegue seu olho” constitui na
forma cortes de bloquear ou interromper uma paquera em curso, pois é “compreensível que um
indivíduo que deseje controlar o acesso dos outros a ele e a informação que recebe pode evitar o
olhar para a pessoa que o está procurando” (GOFFMAN, 2010, p.106). Ou seja, quem quer evitar
encontros, as olhadelas mútuas devem ser evitadas, visto que o “contato visual nos abre para
engajamentos de face” (ibid, p. 108). No caso da paquera virtual, o evitar “pegar o olho” de alguém
é constituído pelos seguintes “rituais de evitação”: não retornar as curtições de fotos, as cutucadas
e não confirmar as solicitações de amizade.

Os rituais de apresentação – regularmente empregados na fase posterior às correspondências das


curtições e solicitações de amizade – ocorrem geralmente durante o bate-papo do Facebook. Neste
recurso, auxiliado pela webcam, os usuários entram num processo de avaliação mútua cujo
objetivo é tentar se confirmar a materialização emitida pelos corpos em seus perfis e aquela
materialização que foi recebida/construída por alguém. Estas confirmações ou confrontos entre
o imagético e a simulação do que poderia ser o “real” capturado pela webcam vão também
confirmando ou modificando o desejo inicial movido pela análise dos perfis durante a fase
“desfocada” da paquera.

De forma geral, essa fase “focada” da paquera no Facebook pode assumir a configuração de
“multifocada”, pois os colaboradores ratificam a possibilidade de abrir várias janelas de bate-papo
com outros usuários e engendrar diferentes processos “focados” de paquera. O “foco” onde será
dispendido maior atenção é constituído por aquele bate-papo que há maior possibilidade de
ocorrer uma “real”: além de outros aspectos como um “perfil atraente” e “um bom papo”, a
velocidade de retorno das mensagens enviadas e consequente envio de novas mensagens de ambas
as partes. Se o usuário custa responder ou não pergunta nada já é considerado indício suficiente
para encerrar a conversa ou investir talvez noutro “foco”.

A possibilidade de acontecer “uma real” pode desencadear na ocorrência do “ficar” ou da


“pegada” como a etapa final de um processo de paquera em que a fase de interação “focada” é
essencial. Pois, para ser bem-sucedida, deve ser constituída pelo mútuo envolvimento de ambos

 
30
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

os indivíduos. Embora que nem sempre o grau de envolvimento dos indivíduos seja semelhante,
a permanência desse grau sempre estará sujeita a rupturas e distrações que às vezes podem até ser
consideradas como sinal de desinteresse de algum dos indivíduos. Essas distrações podem até se
constituir em tempos necessários para dar atenção ou focalizar outros bate-papos abertos e em
curso durante o “multifoco” da paquera virtual. E os colaboradores já sabem disso.

Considerações finais

A performatividade-paquera no Facebook pode ser dividida ritualmente em duas fases: a


“desfocada” e a “focada” e/ou “multifocada”. Na primeira, o ritual de esquadrinhamento objetiva
selecionar perfis na plataforma tendo como referência os ideais estéticos de beleza masculinos –
corpo sarado – e as “performances de gênero”.

Os corpos materializados nos perfis são classificados em duas categorias binárias apenas: em
masculino – o ideal ‘macho’, ‘másculo’ ou viril – que é perseguido por todos que paqueram e os
que querem ser paquerados; e em feminino – a ‘bicha’, “trejeitada”, “afeminada” – que constitui
o abjeto, o exterior constitutivo do masculino supervalorizado. O corpo – material da paquera –
tenta expressar o triunfo: estética ideal e masculinidade e evitar comunicar a feminilidade
principalmente se não possuir a beleza corporal padrão. Além disso, o gênero performativo se
relaciona com a sexualidade. O macho é ativo e o “afeminado” – fêmea – deve ser passivo. A
categoria que os colaboradores identificam como “boy” é constituída por homens ativos e passivos
não afeminados que possuem uma vida social: serem másculos, possuírem namoradas ou esposas
ou não compartilharem de uma pretensa ‘identidade gay’- frequentarem boates, festas, saunas e
terem certos ‘gostos’ – moda, música pop, literatura, decoração ou “coisas de salão de beleza”
(David/2014).

A partir dessa classificação são utilizados como rituais de aproximação as curtidas de fotos ou em
postagens e as cutucadas. Se ocorrer retorno significativo dessas investidas, é enviado um convite
de solicitação de amizade e mensagens ou comentários sobre fotos ou status sobre o perfil alvo
da paquera. Nesse momento se inicia a fase “focada” da paquera virtual que se prolonga com a
aceitação da amizade solicitada e se desenrola no bate-papo da plataforma. Geralmente, nessa fase
pode se configurar numa paquera “multifocada” pela possibilidade de se abrir inúmeras janelas
e manter diferenciados “focos” de paquera na internet.

O bate-papo é caracterizado pelas confirmações das materializações corpóreas percebidas por


ambos os usuários envolvidos no processo de paquera iniciado na fase “desfocada”. Ou seja, o
processo de paquera virtual é atravessado pelo constante esquadrinhamento das materializações
corpóreas acionadas pelos usuários – desde a seleção dos perfis desfocadamente ao bate-papo e
talvez durante a “real” – possível encontro face a face.

A performatividade da paquera virtual envolve processos híbridos entre humano e máquina das
dinâmicas performáticas de sexualidade e gênero. Tal processo encerra um dispositivo de
materialização corpórea nos termos de Gadelha (2015) reiterativa de formas de gênero
hegemônicas, de sexualidade inteligível ou de sexualidades dissidentes. Embora que parcela das

 
31
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

homossexualidades “on-line” estejam aprisionadas no “armário ampliado”, a “performatividade-


curtição” pode se constituir em fissuras temporárias desse aprisionamento.

Referências

BENTO, Berenice (2006). A Reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio
de Janeiro: Garamond-Universitária.

BUTLER, Judith (2010). Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad.


Renato Aguiar. 3. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

_____________ (2013). Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ‘sexo’. In: LOURO,
Guacira Lopes Louro (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Trad. Tomaz Tadeu
da Silva. 2.ed. Belo Horizonte: Autêntica.

CANEVACCI, Massino (2012). Corpos polifônicos e tecnologias digitais. In: COUTO, Edvaldo
Souza; GOELLNER, Silvana Vilodre (orgs.). O triunfo do corpo: polêmicas contemporâneas.
Petrópolis, RJ: Vozes. P. 33-64.

GADELHA, Kaciano Barbosa (2015). Para além da “pegação”: performatividade e espacialidade


na produção de materialidades sexuais on-line. In: Àskesis, v.4, n.1, p. 56-73. Jan./jun. Disponível
em: http://www.revistaaskesis.ufscar.br/index.php/askesis/article/view/44
.Acesso:10/12/2016.

GOFFMAN, Erving (2011). Rituais de interação: ensaios sobre o comportamento face a face.
Trad. Fabio Rodrigues Ribeiro da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes.

________________ (2010). Comportamento em lugares públicos: notas sobre a organização


social dos ajuntamentos. Trad. Fabio Rodrigues Ribeiro da Silva. Petrópolis, RJ: Vozes.

ILLOUZ, Eva (2011). O Amor nos tempos do capitalismo. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor.

JUNQUEIRA, Rogério Diniz (2012). A pedagogia do armário: heterossexismo e vigilância de


gênero no cotidiano escolar. In. Revista Educação On-line PUC-Rio nº 10, p. 64-83. Disponível
em http://www.maxwell.lambda.ele.pucrio.br/rev_edu_online.php?strSecao=input0. Acesso:
20/03/2014.

LÉVY, Pierre; LEMOS, André (2010). O futuro da Internet: em direção a uma ciberdemocracia
planetária. São Paulo: Paulus.

LIGIÉRO, Zeca (org.) (2012). Performance e Antropologia de Richard Schechner. Trad.


Augusto Rodrigues da Silva. Rio de Janeiro: Mauad X.

 
32
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

LOURO, Guacira Lopes (2013). O corpo educado. Pedagogias da Sexualidade. Autêntica


Editora.

MISKOLCI, Richard (2009). O armário ampliado: notas sobre a sociabilidade homoerótica na


era da internet. In: Gênero. Niterói, v.9, n.2, p. 171-190.

_________________(2011). Novas conexões: notas teórico-metodológicas para pesquisas sobre


o uso de mídias digitais. In: Cronos: R. Pós-Grad. Ci. Soc. UFRN, Natal, v.12, n.2, p. 09-22,
jul/dez.

_________________(2013). Machos e Brothes: uma etnografia sobre o armário em relações


homoeróticas masculinas criadas on-line. In: Estudos Feministas, Florianópolis, 21(1): 424,
p.301-324. Jan., /abr.

PARREIRAS, Carolina (2011). “Não leve o virtual tão a sério”?- uma breve reflexão sobre
métodos e convenções na realização de uma etnografia do e no on-line. In: FERIANI, Daniela
Moreno; CUNHA, Flavio Melo de; DULLEY, Iracema (orgs.). Etnografias, etnografias: ensaios
sobre a diversidade do fazer antropológico. São Paulo: Annablume, Fabesp.

PERLONGER, Néstor (1987). O negócio do michê: a prostituição viril em São Paulo. São Paulo:
Brasiliense.

SEDGWICK, Eve Kosofsky (2007). A epistemologia do armário. In: Cadernos Pagu (28), p. 19-
54. Jan./jun. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n28/03.pdf . Acesso: 10/12/2016.

SIBILIA, Paula (2010). Celebridade para todos: um antídoto contra a solidão? Cienc. Cult.
[online]., vol.62, n.2, p. 38-44.

SOUZA E SILVA, Adriana (2006). Do ciber ao híbrido: tecnologias móveis como interfaces de
espaços híbridos? In: ARAÚJO, Denize Correa (Org.). Imagem (ir) realidade: comunicação e
cibermídia. Porto Alegre: Sulina, p. 21-51.

 
33
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

LINGUÍSTICA QUEER
Djalma Wanderley Albuquerque de Hollanda, Iran Ferreira de Melo e Natanael Duarte
de Azevedo
Universidade Federal Rural de Pernambuco
E-mail: iranmelo@hotmail.com

Nós não somos homens, nem somos mulheres.


Nós somos gente, computada igual a vocês.
(DZI CROQUETTES)7

Breve introdução

Este texto traz para o contexto brasileiro discussões sobre um paradigma recente dos estudos da
linguagem: a Linguística Queer (LQ). Essa nova perspectiva ocupa-se das relações entra a
linguagem e as expressões de sexualidade e de gênero não hegemônicas, a partir do arcabouço
teórico da Teoria Queer (BUTLER 1990, 1999, 2003a, 2003b; JAGOSE 1996; PRECIADO
2000), mas também fornecendo subsídio para essa abordagem. Seguindo uma perspectiva não-
essencialista das identidades sexuais e de gênero, a LQ defende que, em vez de uma realidade pré-
discursiva, essas identidades emergem de contextos socioculturais e só podem ser entendidas
como produtos/efeitos de performances semióticas que reproduzem ou subvertem ideologias que
trancafiam as posições de sujeito em binarismos como homem/mulher, hetero/homo. Neste
ensaio, objetivamos desenhar um panorama dos principais conceitos e princípios desse novo
campo.

7
 Sob essa máxima, o grupo de atores/bailarinos Dzi Croquettes, símbolo da contracultura nos anos 1970 e 1980, iniciava seu espetáculo 
teatral  satírico  questionando  os  binarismos  dominantes  homem/mulher,  masculino/feminino  e  heterossexual/homossexual,  ainda  tão 
arraigados em nossa sociedade – conforme apresentado por Issa & Alvarez (2009). Em virtude disso, esse grupo representou uma importante 
voz de combate aos estigmas e aos preconceitos ligados à construção de gênero e à sexualidade, como inúmeras outras que resistem em 
nosso país. 

 
34
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Contextualizando o campo

As últimas décadas testemunharam uma explosão de interesse sobre performances de sexualidade


e gênero que foi transformada em objeto de estudos de diversas áreas – por exemplo,
Antropologia, Sociologia, Psicologia – e constitui-se, dessa maneira, numa questão a ser
pesquisada, questionada, diagnosticada, normatizadade várias formas. Essa explosão consiste no
reflexo de mudanças sociais profundas que têm nos realçado a diversidade de significados de
categorias sexuais e de gênero. Tais significados constituem uma preocupação para as ciências
sociais que, no afã de caracterizá-los, vêem-se em um campo onde as delimitações não são claras
e as fronteiras são frequentemente ultrapassadas e/ou sobrepostas, o que acaba por produzir
interpretações estreitas. As tentativas, portanto, de caracterizar as expressões polimorfas de
sexualidades e gênero acabaram por nos fornecer explicações baseadas em categorias inertes que
constituem o binarismo de gênero que organiza as sociedades ocidentais. Podemos ser homens
ou mulheres heterossexuais, quem escapa dessa dicotomia é tido/a como desviante ou é
descrito/a a partir dessa dicotomia.

Sendo assim, sob o esteio cultural desse modo de representar a sexualidade, quando alguém
nasce, em nossa sociedade, cria-se uma série de expectativas a respeito do comportamento social
e da performance sexual apropriados que a pessoa deve seguir no decorrer de suas vidas. Tais
expectativas são impostas por meio de vários mecanismos ideológicos, fazendo com que meninos
e meninas sejam, desde cedo, submetidos/as a “um tratamento diferenciado que os ensina os
comportamentos e emoções considerados adequados. Qualquer ‘desvio’ é reprimido e recupera-
se o ‘bom comportamento’” (FRY & MACRAE, 1985, p. 11). Nascemos machos e fêmeas e a
cultura dessas sociedades nos faz homens e mulheres. Mais ainda, torna-nos seres masculinos e
femininos e estabelece as fronteiras entre a identidade dominante e as outras consideradas
subversivas e, por isso, periféricas, ou seja, marginais do lugar simbólico de poder e prestígio social
que o mundo ocidental contemporâneo erige (FÍGARI & DÍAZ-BENÍTEZ, 2009).

Essas identidades periféricas, em geral, transgridem a relação de congruência sexo-gênero-prática-


desejo construída culturalmente (BUTLER, 1990), matriz linear que corresponde à classificação
de pessoas cujo sexo biológico é coerente com a sexualidade/desejo dirigida a pessoas do sexo
biológico oposto e cujas expressões de gênero estão diretamente ligadas aos modos de viver essa
sexualidade, atrelando a masculinidade à vivência sexual/erótica de homens biológicos com
mulheres biológicas e a feminilidade à experiência contrária. É essa matriz que posiciona a
sociedade a definir esses homens biológicos e que desempenham o papel de ativos no ato sexual
(aqueles que penetram as mulheres e compõem o grupo dos dominantes) como verdadeiramente
homens, e todos os outros, que nasceram biologicamente homens (machos) – mas que não
preenchem esse perfil –, como “bichas” ou (trans)“viados”, identidade subversiva ao “normal”
(FRY, 1982).

Nessa matriz, o ato sexual é percebido estritamente em termos hierárquicos, pois “a ideia é que
quem penetra é de certa forma vencedor de quem é penetrado” (FRY & MACRAE, 1985, p. 48).
Segundo esse modelo normativo e hierárquico, também em atividades homossexuais, o indivíduo
que assume o papel ativo no ato sexual (o verdadeiro homem), ou seja, pratica a penetração anal
em seu parceiro não tem seu status social de masculinidade abalado (e é considerado vencedor),

 
35
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

mas àquele que assume papel passivo atribui-se a posição social estigmatizada de inferioridade
(portanto, perdedor) (MARIANO & GROTZ, 2011). Do mesmo modo, concebe-se uma versão
desse modelo à mulher que se relaciona afetivo/sexualmente com outras mulheres. Entretanto,
aquela que ocupa papel sexual ativo é marginalizada por estar fora do paradigma dominante do
gênero, sendo considerada, por isso, menos mulher, já a outra que ocupa papel feminino não
tem sua feminilidade questionada (GREEN, 2000), estando essa questão indivisivelmente ligada
ao machismo.8

Essa hierarquia de sexualidade e de gênero, articulada a partir da oposição


macho/masculinidade/atividade sexual versus fêmea/feminilidade/passividade sexual, busca
englobar compulsoriamente todas as categorias e identidades sexuais. Quem não se enquadra é
percebido/a como uma espécie híbrida e dissidente do cânone cultural. Entretanto, em geral,
esse referido padrão de identidade periférica vem se mostrando, ao longo dos tempos, como
agente desestabilizador da homogeneidade e hierarquia dos comportamentos sexuais/eróticos e
das performances de gênero instituídos pelo modelo hegemônico, contrariando valores e
“representando uma verdadeira revolução dos costumes, na medida em que questiona, ameaça e
pode destruir os [...] alicerces em que se escoram a moral e a sexualidade na cultura tradicional
do Ocidente” (MOTT, 2001, p. 02). Por isso, tal pensamento nos obriga a repensar diversos
axiomas fundantes de nossa cultura hodierna, que, de forma irrefletida e perversa, persistem em
nossa ideologia e modus vivendi.

No entanto, com o advento da Teoria Queer, as identidades não-normativas têm sido discutidas
sob um novo e libertador prisma. Pesquisadores/as de diversas áreas vêm questionando as
perspectivas tradicionais que têm norteado as investigações sobre sexualidade e gênero nas
ciências humanas (por exemplo, PRECIADO 2000; LOURO 2001; FOUCAULT, 2003;
BUTLER 2003a; PARKER 2002; UZIEL, RIOS & PARKER, 2004; BENTO 2006). Esses
questionamentos, em última análise, referem-se às limitações impostas por categorias estanques e
hegemônicas – como homem e mulher – que castram as potencialidades identitárias de alguns
indivíduos que dessas categorias não participam. Várias áreas já aderiram a tal perspectiva, pois
ela tem se mostrado eficiente para a investigação de identidades não-normativas. Uma dessas
áreas é a Linguística que, desde a segunda metade dos anos 1990, traz novas vozes para a
investigação: drag queens (BARRETT, 1998), transexuais (LIVIA, 1997), gays (LEAP, 1996);
lésbicas (QUEEN, 1997), entre outras.

Na próxima sessão, esmiuçaremos os principais construtos teóricos, analíticos e metodológicos


da Teoria Queer, a fim de, a seguir, associá-los aos estudos linguísticos da LQ.

8
 Ainda sob essa lógica, é tido como natural que o homem que se relacione afetivo‐sexualmente com outro apresente traços do considerado 
comportamento feminino e, da mesma forma, a mulher que se relacione afetivo‐sexualmente com outra expresse traços do chamado perfil 
masculino. 

 
36
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Descortinando a Teoria Queer

Para tentar entender o que vem a ser a Teoria Queer (TQ), é importante esclarecer o significado
do lexema inglês que compõe o nome da área. “Queer” pode ser traduzido por “esquisito”,
“estranho”, “raro”, “ridículo”, “excêntrico”. Contudo, o termo ficou mais conhecido na língua
inglesa como uma forma pejorativa de se referir a mulheres e homens homossexuais. Um insulto
lesbo-homofóbico que, a partir do final da década de 1980, foi apropriado por grupos que
pretendia resignificá-lo em uma ação política que afirmava “We’re queer, we’re here, get used to
it!”. Nesse momento, teóricos/as gays e lésbicas também se apropriam do termo para referir-se ao
que se costumava chamar de Estudos Gays e Lésbicos. Com efeito, o termo “queer” passou a ter
dois significados distintos, mas interligados: 1) refere-se a grupos de gays, lésbicas e transgêneros
de modo abrangente; 2) refere-se à área de estudos sobre esses grupos (BORBA, 2015).

No entanto, com a publicação do livro “Gender Trouble: Feminism and the subversion of
identity”, em 1990, escrito pela filósofa Judith Butler, o significado da palavra “queer” é
expandido e novamente resignificado. Como nos explica Louro (2001, p. 546), “queer significa
colocar-se contra a normalização – venha ela de onde vier [...]. Queer representa claramente a
diferença que não quer ser assimilada ou tolerada e, portanto, sua forma de ação é muito mais
transgressiva e perturbadora”. Nessa abordagem, adotar uma perspectiva queer é ter uma visão
crítica, por exemplo, dos discursos sobre sexualidade que normatizam uns e marginalizam outros.
Um dos principais construtos teórico-metodológicos dessa teoria é a desnaturalização do que é
considerado normal no discurso. Os padrões de normatividade são construções discursivas com
viés político que visa à marginalização dos que com ela não se identificam (KATZ, 1996). Esses
padrões são constantemente repetidos e reiterados para dar o efeito de natural. Esse efeito é
performativo, isto é, tem o poder de produzir aquilo que nomeia e, assim, repete e reitera normas
de gênero, de sexualidade e tantas outras.

A noção de performatividade foi construída inicialmente pelo filósofo da Linguagem John Austin
em sua Teoria dos Atos de Fala, quando ele afirma que, ao falarmos, não só descrevemos o
mundo, mas agimos sobre ele, fazemos coisas usando o discurso. Tomando por base essa teoria
para pensar como performamos gênero social a partir de uma ação individual da linguagem,
Butler (2003a) desenvolve uma filosofia importante para a TQ. Para ela, a performatividade de
gênero ocorre por meio do processo de estilização repetida dos corpos. É, assim, segundo ela, que
criamos nossas identidades.

As performances de gênero, para a autora, são reguladas por discursos que estabelecem como
homens e mulheres devem agir – isso identifica, segundo ela, na nossa sociedade, o que chama
de heteronormatividade. Essas regras limitam as potencialidades dos gêneros circunscrevendo-os
a um binarismo castrador. E, como disseram, quem ousar subverter isso é considerado/a abjeto.
Contudo, como adverte Louro (2001), esses sujeitos abjetos, exatamente por subverterem as
normas de gênero “são socialmente indispensáveis, já que fornecem o limite e a fronteira, isto é,
fornecem o ‘exterior’ para os corpos que ‘materializam a norma’, os corpos que efetivamente
importam” (p. 549).

Para uma mudança que desestalibize e destrua a lógica binária de gênero e seus efeitos
controladores – a exclusão, a hierarquia, a classificação, a dominação, a segregação –, eis as

 
37
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

propostas da TQ como epistemologia e método de análise e crítica sociocultural. Para a realização


desse projeto, surge a Linguística Queer.

Conhecendo a Linguística Queer

Um dos pontos mais importantes para a TQ é demonstrar as maneiras que pressuposições


heteronormativas relacionadas a categorias identitárias pré-definidas são parte de um discurso
social de dominação. O significante “queer” pretende não ter um significado no mundo-real.
Assim, não se pode dizer que a LQ seja o estudo de uma categoria pré-definida e bem delimitada.
O que se quer é criar inteligibilidades sobre como construímos, negociamos e estruturamos nossas
identidades dentro de sociedades que impõem determinadas maneiras de ser. Nessa perspectiva,
práticas discursivas que envolvem indivíduos são entendidas como parte de uma estrutura de
dominação que se confunde com essas práticas, criando-as e sendo resultado delas. Nossos
discursos ajudam a construir as normas.

Segundo Borba (2015), a LQ surgiu com a publicação de “Queerly Phrased: Language, Gender,
and Sexuality”, em 1997, por Livia e Hall, uma coletânea de artigos que versam sobre a construção
discursiva de identidades sexuais a partir da Teoria dos Atos de Fala. Livia e Hall argumentam
que o conceito de performatividade é essencial no campo dos estudos da linguagem. Segundo as
autoras, embora Butler tenha derivado o conceito de teorias linguísticas, ela não está interessada
em analisar como o queer emerge da linguagem.

O objetivo principal da LQ é investigar como indivíduos considerados não-normativos negociam


suas identidades dentro das limitações discursivas das normatividades ao repeti-la ou subvertê-la
através de suas performances linguísticas. Bucholtz e Hall (2004) asseveram que uma das
características mais instigantes da LQ, de uma visão teórica, é que ela nos permite falar sobre
ideologias, práticas e identidades como fenômenos interrelacionados sem perde de vista as
relações de poder. Borba (2015) cita como exemplos de pesquisas nessa perspectiva os estudos de
Barret (1998) sobre drag queens afro-americanas, Hall (1997) sobre as hijras indianas, Livia (1997)
sobre a construção discursiva de uma transexual francesa, Queen (1997) sobre a identidade
lésbica, Moita Lopes (2006a) sobre as performances de masculinidade hegemônica em uma escola
pública brasileira, Moita Lopes (2006b) sobre a construção da homossexualidade em um jornal
popular carioca e Borba & Ostermann (2007) sobre a construção discursiva da identidade de
travestis que se prostituem. Esses estudos nos mostram que a LQ interessa-se pela investigação de
toda a extensão de identidades, ideologias e práticas que emergem de contextos socioculturais
específicos e adversos. Dessa maneira, a LQ lança seu foco de atenção sobre o comportamento
humano e pode nos dar a oportunidade de compreender como as sexualidades são estruturadas,
construídas, controladas, negociadas.

A LQ é tributária ainda de fontes teórico-metodológicas provenientes da Sociolinguística, da


Antropologia Linguística e das análises do discurso. Todas essas disciplinas enfatizam que a
linguagem tem um papel mediador entre estruturas de poder e atividades humanas. Conforme
Borba (2015), as investigações da LQ devem, em estudos etnográficos, salientar os
atravessamentos identitários que constituem as sexualidades localmente construídas. Assim, por

 
38
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

exemplo, não se é somente uma lésbica; mas sim uma lésbica, feminista, negra, de classe popular,
secretária, com práticas sexuais sadistas etc. Dessa forma, ao analisarmos as práticas discursivas
nas quais os indivíduos engajam-se podemos verificar a construção de um imenso leque
identitário que, através de performances corporais e linguísticas, escapam as dicotomias
homem/mulher, hetero/homo. Contudo, é crucial observar que, embora a primeira vista essas
identidades pareçam escapar do binarismo, elas podem ser por ele moldadas. Um dos insights da
TQ sobre a dominação heterossexual das identidades é que, mesmo identidades queer podem
derivar seus sentidos de estruturas normativas.

Para finalizar...

Queerificar os estudos linguísticos significa produzir uma visão mais nuançada e multifacetada
de como todos/as aqueles/as que, em suas performances, de alguma forma, desestabilizam
dicotomias identitárias – utilizam a linguagem para construir-se dentro das limitações
heteronormativas dos discursos que impõem posições de sujeito naturalizadas. Essa queerificação
pode ter efeitos decisivos no escopo do campo dos estudos linguísticos que têm, por muito tempo,
reduzido seus sujeitos de pesquisa a indivíduos brancos, de classe média e ocidentais como se
todos/as falantes assim o fossem e como se a linguagem utilizada por esses indivíduos fosse a
única que merecesse ser investigada. Com o estudo de como queers utilizam a linguagem, a
linguística pode aumentar a compreensão do poder da linguagem como um construto mediador
e constitutivo de nossas identidades (MOITA LOPES, 2002).

Referências

BARRET, R. (1998) Markedness and style switching in performances by African American drag
queens. In: MYERS-SCOTTON, C. (Ed.) Codes and consequences: Choosing linguistics
varieties. New York: Oxford University Press. p. 139-161.

BENTO, B. (2006) A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio


de Janeiro: Garamond.

BORBA, R. (2015) Linguística Queer: uma perspectiva pós-identitária para os estudos da


linguagem. Revista Entrelinhas. vol. 09. n. 01. jan/jun.

______.; OSTERMANN, A. C. (2007) Do bodies matter? Travestis’ embodiment of (trans)gender


identity through the manipulation of the Brazilian Portuguese grammatical gender system.
Gender and Language 1(1): 129-145.

BUCHOLTZ, M.; HALL, K. (2003) Language and Identity. In. DURANTI, A. (ed.) A
Companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Basil Blackwell. p. 268-294.

BUTLER, J. (1990) Gender Trouble: Feminism and the subversion of identity. New York and
London: Routledge.

 
39
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

______. (1999) Corpos que pensam: sobre os limites discursivos do sexo. In. LOURO, G. (Org.)
O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica.

______. (2003a). Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro,


Civilização Brasileira.

______. (2003b) Critically Queer. In: STRIFF, E. (ed.) Performance Studies. New York,
Palgrave. p152-177.

FÍGARI, C.; DÍAZ-BENÍTEZ, M. E. (2009) Introdução. Sexualidades que importam: entre a


perversão e a dissidência. In: DÍAZ-BENÍTEZ, M. E.; FÍGARI, C. Prazeres dissidentes. Rio de
Janeiro: Garamond, p. 21-30. (Coleção sexualidade, gênero e sociedade)

FOUCAULT, M. (2003) A história da sexualidade I. Rio de Janeiro: Graal.

FRY, P. (1982) Para inglês ver. Identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro, Zahar.

______; MACRAE, M. (1985) O que é homossexualidade. São Paulo: Brasiliense. (Coleção


Primeiros Passos)

GREEN, J. (2000) “Mais amor e mais tesão”. A construção de um movimento de gays, lésbicas e
travestis. Cadernos Pagu, Campinas, n. 20, p. 271-295.

HALL, K. (1997) “Go suck your husband’s sugarcane!”: hijras and the use of sexual insult. In:
LIVIA, A.; HALL, K. (eds.) Queerly Phrased: Language, gender, and sexuality. New York: Oxford
Univesity Press. p. 430-460.

ISSA, T.; ALVAREZ, R. (2009) Dzi Croquettes. Rio de Janeiro: Canal Brasil/Tria Productions.
DVD.

JAGOSE, A. (1996) Queer Theory: An introduction. New York: New York University Press.

KATZ, J. (1996) A Invenção da heterossexualidade. Rio de Janeiro: Ediouro.

LEAP, W. (1996) Words Out: Gay men’s English. Minneapolis and London: University of
Minesota Press.

LIVIA, A. (1997) Disloyal to masculinity: Linguistic gender and liminal identity in French. In:
LIVIA, A.; HALL, K. Queerly Phrased. New York: Oxford University Press. p. 349-368.

LOURO, G. L. (2001) Teoria Queer: uma perspective pós-identitária para a Educação. Revista
de Estudos Feministas 9(2): 541-553.

MARIANO, B.; GROTZ, F. (2011) Homossexualidade: uma categoria criada. Disponível em <
http://www.clam.org.br/publique > Acesso em 01 de julho de 2011.

MOITA LOPES, L. P. (2002) Identidades fragmentadas. Campinas: Marcado de Letras.

 
40
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

MOITA LOPES, L. P. (2006a) On being white, male and heterosexual: Multiple positionings in
oral narratives. In: SCHIFFRIN, D.; FINNA, A.; BAMBERG, M. (eds.), Discourse and Identity.
Cambridge: Cambridge University Press. p. 288-311.

MOITA LOPES, L. P. (2006b) “Falta homem até pra homem”: A construção da masculinidade
hegemônica no discurso midiático. In: HEBERLE, V. M.; OSTERMANN, A. C.; FIGUEREDO,
D. Linguagem e Gênero no trabalho, na mídia e em outros contextos. Florianópolis: EDUFSC.
p. 131-157.

MOTT, L. (2001) A revolução homossexual: o poder de um mito. Revista USP, São Paulo, n.49,
p. 40-59, mar./mai.

PARKER, R. (2002) Abaixo do Equador: Culturas do desejo, homossexualidade masculina e


comunidade gay no Brasil. Rio de Janeiro: Record.

PRECIADO, B. (2002) Da filosofia como modo superior de dar por el culo. Reverso Revista de
Estúdios Lesbianos, Gays, Bisexuales, Transexuales, Transgéneros. Madrid: Higueras Arte S.L.
n.3.

QUEEN, R. (1997) “I don’t speak spritch”: locating lesbian language. In: LIVIA, A.; HALL, K.
(eds.) Queerly Phrased. Nova York: Oxford University Press. p. 233-256.

UZIEL, A. P.; RIOS, L. F.; PARKER, R. G (Orgs.) (2004) Construções da sexualidade: gênero,
identidade e comportamento em tempos de aids. Rio de Janeiro: Pallas.

 
41
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

PERFORMANCES DE MASCULINIDADES NA PRÁTICA


CLÍNICA: A SOCIOLINGUÍSTICA INTERACIONAL E ANÁLISE
DA CONVERSA COMO LÓCUS DE INVESTIGAÇÃO
Alexandre José Cadilhe
Universidade Federal de Juiz de Fora
alexandre.cadilhe@ufjf.edu.br

Introdução

Neste trabalho, apresento alguns resultados do projeto de “Linguagem, gênero e sexualidade: a


construção discursiva de masculinidades na prática clínica”9, iniciado em 2015. Para isso, são
apresentados os pressupostos teóricos-metodológicos sobre Masculinidades, Linguagem e Saúde.
Em seguida, são apresentados elementos de análise e discussão de dados. Já nas considerações
finais, são retomados os objetivos deste estudo, bem como os encaminhamentos a ele dados.

Este estudo situa-se num campo interdisciplinar da Linguística Aplicada, da Saúde, e das
Masculinidades, ancorado no propósito de “criar inteligibilidade sobre problemas sociais em que
a linguagem tem um papel central” (MOITA LOPES, 2006, p. 14). Trata-se de uma abordagem
da Linguística Aplicada que, ao lançar lentes sobre o espaço “onde as pessoas vivem e agem, deve
considerar a compreensão das mudanças relacionadas à vida sociocultural, política e histórica que
elas experienciam” (Idem, p. 21), constituindo a linguagem como uma ferramenta primordial
para a compreensão da construção social deste espaço.

Sendo, portanto, uma pesquisa interdisciplinar com ênfase na linguagem voltada a um contexto
aplicado, seleciono as práticas de um serviço de atenção à saúde como campo de pesquisa,
especificamente cenários de atenção à saúde de um hospital universitário gerenciado por uma

9
 Sou grato a FAPERJ, pelo apoio a este projeto, através do Programa de Apoio a Pesquisa (APQ1 – Processo E‐26/111.459/2014), bem como 
a Fundação Educacional Serra dos Órgãos (RJ), instituição onde esta pesquisa teve início, antes de iniciar minhas atividades docentes na 
Universidade Federal de Juiz de Fora. 
 
 

 
42
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

fundação filantrópica e de ensino. Assim como outras práticas sociais, o serviço de saúde é
constituído por uma série de ações e interações entre profissionais e usuários do serviço prestado,
orientado pela atualização da chamada “tecnologia leve”, conhecida como uma tecnologia de
caráter relacional, ou seja, baseada na interação entre sujeitos (cf. MERHY, 2007)

Ao investigar as relações entre masculinidades e interação no serviço de saúde, e compreendendo


o papel desempenhado pela linguagem neste cenário, o objeto selecionado para tal investigação
é a fala produzida em contexto interacional espontâneo – denominada nos estudos da linguagem
de fala-em-interação, produzida em situação de consulta clínica por pacientes do sexo masculino.

Nesta pesquisa, apresento como objetivo compreender como masculinidades são produzidas e
sustentadas em performance interacional na prática clínica. Para isso, inicio a próxima seção
relacionando as temáticas de masculinidades e linguagem, seguido por reflexões sobre a interação
em práticas de saúde. Após, apresento as ferramentas conceituais da Análise da Conversa e da
Sociolinguística Interacional, para então apresentar a metodologia e análise dos dados

As masculinidades pelas lentes da linguagem

Pensar as masculinidades como um tema de estudo no âmbito da Linguagem constitui uma


prática recente, de meados da última década de 90, numa tentativa de problematizar os homens
nos estudos de gênero e sexualidade. Benwell (2014) apresenta uma série de tópicos que
orientaram os estudos de masculinidades e linguagem nos últimos anos, considerando
possiblidades metodológicas, teóricas e políticas diversas. Eles podem ser sintetizados em sete: (i)
como homens falam; (ii) como sustentam performances de masculinidade; (iii) como homens
falam ou são representados em comunidades de práticas específicas; (iv) as manifestações
discursivas de relações e posições de poder; (v) o cenário de discursos situados culturalmente,
representantes de experiências, comportamentos, idelologias, marcadores identitários,
produzidos ou vivenciadas por homens; (vi) os alinhamentos performativos na fala-em-interação
ou no texto escrito; (vii) o conjunto de textos onde categorias de masculinidades são marcadas e
orientadas (cf. BENWELL, 2014).

O que aproxima estes tópicos, do ponto de vista epistemológico, é a compreensão de que as


masculinidades e seus marcadores não são universais nem imutáveis: são, antes, performativos,
conforme Butler (2013) defende a respeito do gênero e da sexualidade de forma mais ampliada.
Milani (2015), neste contexto, compreende as masculinidades a partir de três facetas: constitui
um conceito relacional, em interação com a compreensão de feminilidade; é marcado pelo
pluralismo – masculinidades são sempre plurais, indexicalizadas em diversas performances; e por
fim, intersecciona com outros marcadores, como classe, raça, idade, naturalidade, etc.

Portanto, o trabalho desempenhado pelos pesquisadores que se ocupam em pensar a linguagem


– preferencialmente em uso – e as masculinidades compreende um esforço de construir
inteligibilidade sobre como diferentes masculinidades realizam-se microssocialmente, nas
interações e discursos locais. Deste modo, as masculinidades não são tratadas como constructos
idealizados ou projetados, tal como Connell (1995) parece propor ao descrever os índices de uma

 
43
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

masculinidade hegemônica. Por outro lado, propõe-se justamente apresentar uma compreensão
sobre como marcadores interacionais e discursivos de uma masculinidade hegemônica são
indexicalizados pela linguagem nas práticas sociais, através da fala-em-interação, do discurso
escrito e/ou também multimodal.

Neste sentido, o presente estudo se propõe a analisar a fala-em-interação produzida por um


homem num serviço de saúde, observando como marcadores de masculinidade são produzidos
ou sustentados numa interação institucional, que é o caso de uma consulta clínica. Na próxima
seção, situo alguns aspectos da prática clínica pela lente dos estudos da linguagem de caráter
interacional.

O trabalho em saúde do ponto de vista interacional

Segundo a Política de Saúde vigente no Brasil, o trabalho em saúde deve orientar-se por uma
prática humanizada, que se traduz no acolhimento como uma diretriz ética, estética e política,
“uma tecnologia do encontro, um regime de afetabilidade construído a cada encontro e mediante
os encontros, portanto uma construção de rede de conversações afirmadoras de relações de
potências nos processos de produção de saúde (BRASIL, 2006, p.18). Relaciono tal compreensão
ao disposto Sarangi (2004, p.03), para quem a prática comunicativa se constitui como um
reconhecimento das limitações do modelo biomédico de tratamento de doenças.

A descrição das práticas institucionais, das interações entre os seus participantes e o discurso por
eles produzidos torna-se mecanismo fundamental para análise, reflexão e compreensão sobre tais
práticas, e atribuo tanto ao profissional (de saúde) quanto ao pesquisador (dos estudos da
linguagem ou da saúde) o papel de tal empreitada, situado nas suas devidas dimensões e objetivos.
No primeiro caso, o profissional poderá fazer uso das descrições e análise das suas práticas de
trabalho como dispositivo para reflexão e mudança no se que fizer necessário. No segundo caso,
tanto o pesquisador na área de estudos do discurso quanto da saúde poderá, através dos mesmos
estudos, produzir conhecimentos sobre mecanismos de funcionamento da linguagem (cf.
SARANGI, 2001), cujo produto também poderá se constituir como objeto de reflexão para os
profissionais em formação ou já atuantes (cf. SARANGI, 2001; SARANGI & ROBERTS, 2005)

O que as pesquisas no campo da interação e saúde apontam em comum (cf. CLARCK &
MISHLER, 2002; HERITAGE, 2011; OSTERMANN & MENEGHEL, 2012; dentre outros) é
que a análise da fala-em-interação em contexto profissional é produtiva mediante o uso de
ferramentas teórico-analíticas que possibilitem uma compreensão fundamentada sobre o que os
participantes estão fazendo em um contexto situado. Para isso, apresento alguns conceitos de
duas tradições com aproximações em suas concepções: a Análise da Conversa de base
Etnometodológica e a Sociolinguística Interacional.

 
44
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A análise da conversa e o conceito de explicabilidade

Estudo fundamentado com as contribuições de Emanuel Schegloff, Gail Jefferson e Harvey Sacks
(doravante, SSJ [1974] 2003), a Análise da Conversa de cunho etnometodológico10 (doravante,
AC) “é uma tradição de pesquisa de origem anglo-norte-americana, de extração eminentemente
sociológica, voltada para o estudo da ação social humana situada no espaço e no decorrer do
tempo real (GARCEZ, 2008, p.17)”. De modo sistemático, a AC orienta-se em descrever como
os participantes de uma conversa constroem sua interação, orientando a distribuição de suas falas
e fazendo a manutenção do tópico discursivo, de modo a “descobrir os padrões por meio dos
quais as pessoas orientam a si mesmas (e umas às outras) nas dimensões específicas de alguma
ordem normativa subjacente” (HELLER, 1998, p.24).

Em sua proposta, a AC organiza dados orais através de transcrições ordenadas em turnos de fala
– “espaço de uma fala ou uma elocução numa conversa” (SOUZA & OSTERMANN, 2012,
p.195), que por sua vez são compostos por unidades de construção de turnos (UCTs). Tais
unidades podem ser do tipo “1) lexical (compostas por uma só palavra; 2) sintagmáticas
(equivalentes a um sintagma; 3) clausais (oração com um único núcleo verbal; e 4) sentenciais
(orações com mais de um núcleo verbal” (GAGO, 2002, p.93, a partir de SSJ, 1974).

Os turnos conversacionais são alocados ou tomados segundo diversas estratégias, cuja


sequencialidade constrói a interação (cf. SSJ [1974]2003):

há fortes evidências nos dados de interação conversacional de que os participantes se


orientam para sequencias de ações, apresentando os turnos de fala, por isso, um caráter
de atividade desenvolvida sequencialmente: um turno corrente projeta uma próxima ação,
cuja execução torna-se relevante no próximo turno. Exemplos disso encontramos nos
chamados pares adjacentes, que projetam ações específicas em resposta: uma pergunta,
por exemplo, projeta em resposta uma resposta; um pedido, uma aceitação ou recusa; uma
saudação, outra saudação, etc. (GAGO, 2002, p.93, grifo do autor).

Os registros de turnos ocorrem através de sinais gráficos que compõem normas de transcrições,
que incluem sinais entonacionais. É válido salientar a importância do cuidado na transcrição,
pois este será um dado de pesquisa, que exige um processo de seleção e reflexão por base do
pesquisador na seleção e detalhamento do que será transcrito, sendo válida a máxima da
economia no uso de símbolos, sob o efeito de não dificultar a leitura por aqueles que tiverem
acesso à transcrição. Neste sentido, a própria transcrição constitui-se como um trabalho analítico
(cf. GAGO, 2002; GARCEZ, 2008).

No âmbito da Análise da Conversa de cunho etnometodológico, parte-se também do pressuposto


que a fala dispõe de um papel fundamental na sociabilização humana: é através dela que sujeitos
explicam suas ações, de modo a alterar, mitigar, modificar a avaliação do outro. Em outros termos,

10
 Garcez (2008) salienta as diferenças que se produziram no Brasil entre a chamada Análise da Conversa Etnometodológica e a Análise da 
Conversação, apesar de ambas terem o mesmo início: enquanto a primeira funda‐se como metodologia para compreender articulações de 
ações sociais por meio da fala, a segunda constituiu‐se como uma produtiva vertente da Linguística Textual.  

 
45
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

a fala possibilita práticas discursivas com uma função transformativa, a partir da reinterpretação
de condutas dos sujeitos em interação social (cf. BUTNNY, 1993).

Neste sentido, uma ferramenta conceitual produtiva para análise da fala-em-interação é a


denominada explicabilidade. O termo tem sua origem na tentativa de tradução do conceito de
accountability, como é definido na linha anglo-americana de estudo da fala-em-interação. Não há
um consenso acerca da tradução do termo, mas converge-se para a compreensão de que
accountability relaciona-se a uma ação de dar explicações, como uma “prestação de contas” ou
ainda o ato de “dar satisfações”11 (cf. GARCEZ, 2008). Em outros termos, indica diferentes
mecanismos que um falante lança ao atribuir responsabilizações sobre o dito, no sentido de que
tanto pessoas físicas quanto jurídicas são responsáveis por seus atos e não podem se eximir da
responsabilidade por não querer ou não saber.

Assim como não há consenso sobre sua tradução, o mesmo ocorre em relação a sua definição.
Buttny (1993, p.14-15) aponta, pelo menos, quatro perspectivas atribuídas ao conceito: (a) trata-
se de explicações para ações impróprias ou inusitadas (conceito estabelecido por Scott & Lyman,
1968) ; (b) refere-se a descrições, explicações ordinárias sobre atividades cotidianas, que não
necessariamente justificam ações impróprias, mas que são consideradas relevantes pelos
participantes (como estabelecido por Antaki, 1988); (c) relaciona-se a teoria da atribuição,
incluindo o relato verbal de uma explicação ou a cognição de sujeitos a respeito de pessoas, ações,
eventos; (d) em perspectiva etnometodológica, é compreendido como vários mecanismos
engendrados por sujeitos para tornar as atividades da quais participam compreensíveis ou
adequadas.

Em outros termos, a explicabilidade é analisada a partir da demonstração que participantes de


uma interação fazem uns para os outros no sentido de “produzir ações que estejam sempre
justificadas nos termos da pergunta ‘por que isso agora’” (GARCEZ, 2008, p.27). Trata-se ao
mesmo tempo de um dispositivo retórico e performativo de manutenção da ordem interacional.
Tais demonstrações de justificativas e uso de dispositivos retóricos e performativos são, então,
denominados accounts.

A Sociolinguística Interacional e os conceitos de Enquadre e Footing

A Sociolinguistica Interacional (SI) constitui-se como um estudo interdisciplinar a partir da


Linguística, da Sociologia e da Antropologia. Um de seus precursores é Erving Goffman, cujas
ideias indicam que a linguagem é situada em circunstâncias particulares, de modo a refletir e
adicionar significados às estruturas sociais. Segundo o sociólogo, não há significado que não seja

11
 Opto pelo tradução explicabilidade do termo accountability por ser a utilizada em Garcez (2008) e por pressupor que tal termo aproxima‐
se das situações que serão analisadas nesta pesquisa, onde os accounts terão como efeito o esclarecimento e/ou a justificativa sinalizada 
pelos participantes em interação. O tema é por si só amplo, e não será objeto desta pesquisa a enumeração de diferentes possibilidades de 
accounts, como as escusas [escuses] e as justificativas [justification], somente para citar dois, até pelo fato de aqui ser compreendido não 
somente em termos de explicações de ações inapropriadas, cf. Scott & Lyman (1968).  
 

 
46
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

situado. A partir deste pressuposto, a noção de contexto torna-se relevante, passando a ser
entendida como criação conjunta de todos os participantes presentes ao encontro e emergente a
cada novo instante interacional (cf. GOFFMAN, [1964]2002).

Dois conceitos fundamentais para a SI são os de enquadre e alinhamento, ou footing. A noção de


enquadre, primeiramente (também traduzido como “quadros da experiência social”), relaciona-
se ao estudo da organização da experiência, tema comum aos estudos da cognição e da interação
(cf. RIBEIRO & HOYLE, 2002). No âmbito dos estudos da interação, parte-se do pressuposto
de que um indivíduo compreende suas experiências a partir de esquemas interpretativos, de
cunho social. Estes esquemas definem situações sociais que “são elaboradas de acordo com
princípios de organização que governam os acontecimentos” (GOFFMAN, [1986]2012, p.34).

Em outros termos, as experiências são organizadas a partir de esquemas interpretativos, também


reconhecidos como esquemas de conhecimento, para referir-se “às expectativas dos participantes
acerca de pessoas, objetos, eventos e cenários no mundo” (TANNEN & WALLAT [1987]2002,
p. 189), construídos ao longo da vida social de um sujeito. Por exemplo, quando alguém afirma
que irá ao médico consultar-se, é evocada uma série de informações, como o cenário de uma
clínica ou hospital, a valorização do saber profissional médico, a consulta como um encontro que
envolve um relato do paciente e uma orientação profissional, a prescrição de exames e
medicamentos, etc. Estes esquemas interpretativos apontam, por sua vez, para a definição da
situação social “consulta clínica”, que será compreendida como o quadro social da interação, ou
enquadre.

A partir desta noção, compreende-se por enquadre “a definição do que está acontecendo em uma
interação, sem a qual nenhuma elocução (ou movimento ou gesto) poderia ser interpretada”
(idem, p.188). Complementam as autoras que “os enquadres emergem de interações verbais e
não verbais e são por elas constituídos” (p.189). Tal conceito foi cunhado por Bateson
([1972]2002), cujo clássico exemplo é de quando uma mordida pode ser considerada uma
brincadeira ou uma briga.

O conceito de alinhamento, ou footing, por sua vez, refere-se ao “porte, ou posicionamento, ou


postura, ou projeção pessoal do participante [que] está de alguma forma em questão”
(GOFFMAN, ([1979]2002, p. 113). A mudança de alinhamento, no decorrer de uma interação
social, engendra uma mudança de enquadre por parte dos sujeitos participantes, ou seja, “a
maneira como construímos e sinalizamos o contexto de situação em curso” (RIBEIRO &
PEREIRA, 2002, p.53). Novos enquadres são ainda marcados pelas alternâncias de códigos
linguísticos, como o tipo de discurso, as interjeições e repetições, a ênfase, o tópico discursivo,
entre outros (cf. GOFFMAN, [1979] 2002).

No âmbito dos estudos do discurso em práticas de saúde, diversas pesquisas fizeram uso dos
conceitos da SI de modo a compreender como os seus participantes enquadram e alinham-se aos
eventos. A título de exemplos, o clássico trabalho de Tannen & Wallat ([1987] 2002), indica a
mudança de alinhamentos e enquadres em uma consulta pediátrica. O estudo foi fundamental
para indicações de como a tarefa clínica pode ser co-construída na interação, como demonstrado
por Sarangi (2010a, 2010b), que orienta análise do discurso em práticas de saúde fazendo uso

 
47
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

dos estudos da SI em interface com a Análise da Conversa, exemplificando com a consulta em


clínica genética.

Metodologia

A pesquisa desenvolvida orienta-se por uma abordagem qualitativa, a qual se caracteriza, segundo
Lüdke & André (1986) por (a) ter o ambiente natural como fonte de dados e o pesquisador como
seu principal instrumento, (b) constituir seus dados de forma descritiva, (c) preocupar-se mais
com o processo do que o produto, (d) atribuir valor ao significado que os sujeitos dão às suas
ações e objetos; (e) seguir um processo indutivo de investigação. Em outros termos, a pesquisa
qualitativa “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças,
dos valores, das atitudes” (MINAYO, 2008, p. 21). Esta perspectiva parte da compreensão de um
sujeito que se distingue “não só por seu agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar
suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada pelos seus participantes” (idem).

Nesta perspectiva, a pesquisa foi realizada no ambulatório de um hospital universitário de uma


fundação filantrópica localizada no interior do Estado do Rio de Janeiro. Trata-se, portanto, de
um cenário de serviço de saúde e de ensino ao mesmo tempo. Enquanto serviço de saúde, atende
tanto a usuários do Sistema Único de Saúde quanto a usuários de planos conveniados. O
atendimento é feito por médicos das cerca de 30 especialidades. Enquanto cenário de ensino, é
também um espaço onde estudantes do curso de medicina e médicos residentes da Instituição
participam ativamente das consultas, com a anuência dos pacientes.

A pesquisa foi desenvolvida a partir da observação participante de um pesquisador em iniciação


científica, estudante de graduação em medicina. Foi realizada a gravação em áudio de 30 consultas
com pacientes homens, principalmente nas especialidades de clínica médica, urologia,
proctologia e cardiologia12. As consultas foram transcritas segundo as orientações da Análise da
Conversa Etnometodológica, a partir do modelo Jefferson de transcrição (cf. LODER, 2008).
Para as análises, conforme apresentadas a seguir, considerei as ferramentas conceituais da Análise
da Conversa e da Sociolinguística Interacional.

Análise e discussão

Neste estudo, apresento dois excertos de transcrição da consulta do Alan, homem de 51 anos que
encontra-se em primeira consulta com clínico geral, com o intuito de fazer um check-up, a partir

12
 Os participantes foram convidados a participar da pesquisa, através do esclarecimento prestado pelos pesquisadores oralmente e por 
escrito  (“Termo  de  Consentimento  Livre  e  Esclarecido”).  A  pesquisa  orienta‐se  pela  Resolução  466/2012,  e  produz  um  risco  mínimo  de 
exposição dos participantes, dado que as informações pessoais, como nome e outros identificadores, foram trocados na transcrição. Este 
projeto foi também aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa, através da Plataforma Brasil. 

 
48
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

das insistências de sua companheira. O médico Mário inicia, portanto, levantando questões sobre
o cotidiano do paciente, incluindo trabalho, família, histórico de saúde, etc. Nos excertos
selecionados, o médico seleciona o tópico “vida sexual”. Neste enquadre de consulta clínica que
teço as análises a seguir.

Excerto 1
147 Mário @@@ e na:: na vida sexual como é que você ta alan?
148 Alan TO BEM
o
149 Mário tá bem o
150 Alan inclusive ela ta até co(hhh)rrendo de mim @@@
152 Mário tá com o que?
152 Edu tá correndo dele
153 Mário ah tá correndo? @@@
154 Alan só que eu não tomo remédio não (.) esse azulzinho não inclusive o:: lá em
155 XXXXXX (.) é::
156 Mário hã
157 Alan lá em XXXXXXX tem um doutor lá (.) ele:: nós até asfaltamos um pedaço pra
158 ele lá, ele veio com uma:: com uma amostra grátis né pra gente, <tá até lá em
159 casa nem usei> eu falei ih se=
160
161 Mário =amostra de que?
162 Alan amostra grátis do azulzinho
163 Mário a do azulzinho
164 Alan do viagra=
165 Mário =é viagra?
166 Alan é ai a mulher falou assim “ih tu nem precisa disso ai não alan”, ai eu falei e se
167 eu usar isso ai então é que [tu vai ver @@@@@@@
168
169 Mário [@@@@@
170 Alan é muito mais firme né
171 Mário é::(.)entendi
172 Alan acho que isso ai já é da minha natureza mesmo

Neste excerto, o médico introduz o tópico, numa agenda interacional tradicional na interação
médico-paciente: o par de turnos de fala “pergunta-resposta”, um tipo do chamado “par
adjacente”. Ao ser perguntado sobre a sua vida sexual, Alan responde com uma avaliação, em
tom ascendente, alto e com ênfase, demonstrando um contentamento: TO BEM . Mário, no
turno seguinte, reitera a fala do Alan, em tom descendente. A partir desse momento, nos
próximos turnos, Alan oferta uma série de explicações e justificativas adicionais sobre sua avalição
de estar bem: nas linhas 150, 154, 157 e 166, Alan justifica sua avaliação a partir de uma 3a parte:
a sua companheira. Suas recusas a investidas de relação sexual marcariam sua pré-disposição física
para isso.

 
49
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Esses diferentes accounts por parte do Alan produzem um alinhamento, ou footing, marcado pela
virilidade, onde a potência sexual não precisa de medicamentos - estes, inclusive, em circulação
no seu ambiente de trabalho. Ainda nas linhas 170 e 172, os índices de virilidade são marcados
pela ideia de “firmeza” (implicitamente, do pênis), associada pelo Alan à sua “natureza”.

Em outros termos, Alan enquadra o evento “vida sexual” a partir da potencialidade de realização
o ato, em um tom de conversa marcada pela cumplicidade do médico, que responde com risos
em dois turnos. Contudo, como veremos na sequencia a seguir, imediatamente após o último
turno do excerto analisado, Mário reformula sua pergunta duas vezes, possibilitando outras
respostas pelo paciente:

Excerto 2
173 Mário qual é: a frequência que você tem vida sexual com a tua esposa?
174
175 (2.3)
176 Alan é: assim, (1.0) pra falar a verdade a hora que:: (.) que eu encos to já era @@@
177
178 Mário aham ma:s vamos dizer assim na semana quantas vezes você fica com ela, ou no
179 mê s?
180 Alan oh pra falar a verdade eu tô até um tempinho mermo sem, sem- porque ela tá
181 falando “não alan não quero mais filho porque isso porque aquilo” ai eu falei
182 vamos usar camisinha inclusive esse meu moleque que ta (xxx) agora né
183 inclusive foi até sobre camisinha mesmo que estourou @@@ com aquela pressão
184 né, ai veio esse moleque ai é, ela também tem problema do: (.) do: remédio né
185 que ela- (.) ai eu falei então toma injeção
186
187
188 Mário qual é o remédio que ela tá tomando?
189 Alan ai eu não me lembro, ela, ela ta aqui ela vai se consultar com o senhor
190
191 Mário entendi mas você=
192 Alan =ai eu tô subindo até nas paredes @[@@
193 Mário [@@@ mas há quanto tempo você já não tá com relação então com
194 ela?
195 (.)
196 Alan ah tem um mês
197 Mário um mês mais o menos
198 Alan é tem um mê s
199 Mário e agora tem sido assim=
200 Alan =é tem sido assim =
201 Mário normalmente tem ficado um mês e [tal?
202 Alan [isso

 
50
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Na sequência deste 2o excerto, são produzidos dois pares adjacentes “pergunta-resposta”, cujas
perguntas são reformulações da inicial sobre a vida sexual. Ao perguntar sobre a frequência, Alan
responde narrativizando sua potência: a hora que:: (.) que eu encos to já era @@@ . Contudo, o
médico reformula a sua pergunta, solicitando uma informação de ordem quantitativa. A partir
desta sequência, após uma pausa de cerca de dois segundos, Alan responde formulando seu turno
com a fórmula “pra falar a verdade...”, o que também ocorre na linha 180. Ao falar “a verdade”,
Alan topicaliza sua vida sexual pela pouca ocorrência, e produz um account que responsabiliza sua
esposa pela pouca atividade, pelo receio de engravidar.

Neste mesmo turno (linhas 180-187), Alan reafirma sua virilidade, indexicalizado pela
informação de pressão na camisinha, modo pelo qual teria engravidado a esposa no último filho.
Ele ainda reafirma a negativa da esposa pelo uso de camisinha, para quem sugere o uso de outro
contraceptivo, através da medicalização da mulher. Essa tentativa de reafirmar a virilidade ocorre
novamente no turno 192: =ai eu tô subindo ate nas paredes @[@@ . No turno seguinte, pela
quarta vez, o médico formula uma questão a respeito da frequência de atividade sexual do
paciente. Ao responder em tom descendente, nos turnos 198, 200 e 202, Alan parece demonstrar
descontentamento ao fornecer sua resposta. O médico, nos turnos seguintes, não reformula mais
a pergunta sobre frequência sexual.

Esta segunda sequência coloca em jogo um diferente enquadre do evento “vida sexual”: da
potencialidade de atividade sexual pelo homem à frequência de relações com a mulher. De um
tom mais eufórico e animado ao buscar reafirmar a virilidade, esta sequência finaliza com um
tom menos animador ao evidenciar que essa potencialidade não se realiza em ato com frequência.

Considerações finais

Ao iniciar, apontei como objetivo deste estudo construir uma compreensão sobre como
masculinidades são produzidas em interação na consulta clínica. Nestes dois excertos, ilustro a
potencialidade dos estudos da Análise da Conversa e da Sociolinguística Interacional em propor
ferramentas analíticas para isso.

O engajamento interacional do paciente, a partir de uma pergunta do médico, organizou-se em


prol da reafirmação da virilidade e da potência, numa auto avaliação positiva. As diferentes
reformulações da pergunta do médico possibilitaram uma reavaliação do paciente, menos
eufórica, ao perceber que sua vida sexual não pode ser respondida somente com base na
potencialidade física. Accounts sobre a vida sexual, então, passam a ser produzidos, ainda que sem
o pedido do médico.

Tal interação nos ilustra os incômodos e delicadezas ao tratar de tal tópico num consultório.
Suponho que o fato de ter um interlocutor também do sexo masculino, que se engajava de forma
empática na interação, tenha facilitado uma maior abertura pelo paciente. A interação nos
permite pensar sobre como a virilidade pode constituir ainda um marcador identitário relevante
para a masculinidade heterossexual, que ainda também atribui a terceiros – no caso, a mulher –
qualquer impossibilidade de não realização do ato sexual.

 
51
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Neste estudo, por questões metodológicas, não proponho, obviamente, generalizar conclusões;
contudo, busco contribuir para reflexões a respeito de como um homem produz performances
que buscam sustentar um tipo de masculinidade, como proposto por Benwell (2014). Outras
análises serão realizadas com outros dados para problematizarmos a questão das masculinidades
na prática clínica.

Referências
Antaky, Charles (1988). “Explanations, Communication And Social Cognition”. In Analysing
Everyday Explanation: A Casebook Of Methods. London: Sage.
Bateson, Gregory ([1972] 2002). “Uma Teoria Sobre A Brincadeira e a Fantasia”. In Sociolingüística
Interacional. São Paulo: Edições Loyola.
Benwell, Bethan (2014). “Language And Masculinity”. In The Handbook Of Language, Gender And
Sexuality. United Kindom: Wiley & Blackwell.
Brasil, Ministério da Saúde (2006). “Acolhimento Nas Práticas De Produção Da Saúde”. Brasília:
Ministério da Saúde.
Butler, Judith (2013). “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade”. 5a. Ed.
Rio De Janeiro: Civilização Brasileira.
Buttny, Richard (1993). “Social Accountability In Communication”. London: Sage Publications.
Clarck, Jack & Mishler, Elliot (2001). “Prestando Atenção Às Histórias dos Pacientes: O
Reenquadre da Tarefa Clínica”. In Narrativa, Identidade e Clínica. Rio De Janeiro: Ipub/Cuca.
Connell, Raewyn (1995). “Políticas da Masculinidade”. In Educação & Realidade. Rio de Janeiro,
20[2].
Gago, Paulo (2002). “Questões de Transcrição em Análise da Conversa”. In Veredas – Revista De
Estudos Linguísticos da UFJF. Juiz De Fora, V.6 N.2.
Garcez, Pedro (2008). “A Perspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica sobre o uso da
Linguagem em Interação Social”. In Fala-em-Interação Social: Introdução à Análise da Conversa
Etnometodológica. Campinas: Mercado de Letras.
Goffman, Erving ([1959] 2009). “A Representação do Eu na Vida Cotidiana”. Petrópolis: Vozes.
Goffman, Erving ([1979] 2002). “Footing”. In Sociolingüística Interacional. São Paulo: Edições
Loyola.
Goffman, Erving ([1986] 2012). “Os Quadros da Experiência Social: Uma Perspectiva de
Análise”. Petrópolis: Vozes.
Goffman, Erving ([1967] 2011). “Ritual De Interação: Ensaios sobre o Comportamento Face a
Face”. Petrópolis: Vozes.
Heller, Monica (1998). “A Análise do Discurso Interacional”. In Trab. de Ling. Aplic. Campinas,
N. 31.

 
52
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Heritage, John (2011). “The Interaction Order in Clinical Practice: Some Observations on
Dysfunctions and Actions Steps”. In Patient Education And Counseling, 84.
Loder, Letícia (2008). “O modelo Jefferson de Transcrição: convenções e debates”. In Fala-em-
Interação Social: Introdução à Análise da Conversa Etnometodológica. Campinas: Mercado de Letras.
Lüdke, Menga. & André, Marlo. (1986). “Pesquisa Em Educação: Abordagens Qualitativas”. São
Paulo: Epu.
Maynard, Douglas. & Heritage, John (2005). “Conversation Analysis, Doctor-Pacient Interaction
And Medical Communication”. In Medical Education 39.
Merhy, Emerson (2007). “Saúde: Cartografia do Trabalho Vivo”. São Paulo: Hucitec.
Milani, Tommaso (2015). “Language and Masculinities: Performances, Intersections,
Dislocations”. New York: Routledge.
Minayo, Maria Cecília (2008). “Pesquisa Social: Teoria, Método, Criatividade”. Petrópolis: Vozes.
Moita Lopes, Luis Paulo (2006). “Uma Linguística Aplicada Mestiça e Ideológica: interrogando
o campo como Linguista Aplicado”. In Por Uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo:
Parábola.
Ostermann, Ana. & Meneghel, Stela (2012). “Humanização. Gênero. Poder. Contribuições dos
Estudos da Fala-em-Interação para a Atenção à Saúde”. Campinas: Mercado de Letras; Rio de
Janeiro: Fiocruz.
Ribeiro, Branca & Pereira, Maria das Graças (2008). “A Noção de Contexto em Análise do
Discurso”. In Desvendando Discursos: Conceitos Básicos. Florianópolis: Editora Da Ufsc.
Ribeiro, Branca.; Hoyle, Suzan (2002). “Frame Analysis”. In Palavra: Departamento De Letras da
Puc Rio. Rio de Janeiro: Trarepra.
Sacks, Harvey; Schegloff, Emanuel; Jefferson, Gail ([1979] 2003). “Sistemática Elementar para a
Organização da Tomada de Turnos para a Conversa”. In Veredas: Revista De Estudos Linguísticos,
V.7, N.1-2.
Sarangi, Sirikant. & Roberts, Celia (2005). “Theme-Oriented Discourse Analysis Of Medical
Encounters”. In Medical Education, V. 39. Blackwell Publishing.
Sarangi, Sirikant (2001). “Discourse Practioners as a Community of Interprofessional Practice:
Some Insights from Health Communication Research”. In Research And Practice In Professional
Discourse. Hong Kong: City University Of Hong Kong Press.
Sarangi, Sirikant (2004). “Towards A Communicative Mentality In Medical And Healthcare
Practice”. In Communication & Medicine, N.1(10), 2004.
Scott, Marvin; Lyman, Stanford. (1968). “Accounts”. In American Sociological Review, V. 33, N.1.
Souza, Joseane & Ostermann, Ana (2012). “Glossário Conciso de Termos de Estudos da Fala-
Em-Interação”. In Humanização. Gênero. Poder. Contribuições Dos Estudos da Fala-em-Interação Para
a Atenção à Saúde. Campinas: Mercado De Letras; Rio De Janeiro: Fiocruz.

 
53
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Tannen, Deborah. & Wallat, Cynthia , ([1987] 2002). “Enquadres Interativos e Esquemas de
Conhecimento em Interação: exemplos de um exame/consulta médica”. In Sociolingüística
Interacional. São Paulo: Edições Loyola.

Anexo: Convenções de Transcrição


Símbolo Uso
= Elocuções contíguas.
[ Sobreposição / Vozes simultâneas.
MAIÚSCULA Fala em voz alta.
ºpalavraº Fala em voz baixa.
Sublinhado Ênfase.
(.) Micro pausa (até 0.3 milésimos de segundo).
(número) Pausa em segundos.
(palavra) Hipótese do que se ouviu.
XXX Trecho omitido
? Entonação indicando pergunta.
, Entonação indicando continuidade de fala no mesmo turno.
- Parada súbita/truncamento.
:: Prolongamento de som.
@@@ Risos.
>palavra< Fala acelerada.
<palavra> Fala desacelerada.
Entonação descendente
Entonação ascendente
hhh Riso ao produzir a palavra

 
54
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

QUE HOMEM É ESSE?! UMA ANÁLISE JUNGUIANA SOBRE OS


HOMENS, A AFETIVIDADE E A CONJUGALIDADE EM
TRANSFORMAÇÃO
Patrícia Cristina de Conti e Durval Luiz de Faria
Mestre e doutoranda em Psicologia Clínica pelo PEPG em Psicologia Clínica da PUC-SP, especialista em
Psicologia Junguiana (COGEAE PUC-SP).
E-mail: patriciacdeconti@gmail.com
Doutor em Psicologia Clínica, professor do Pós em Psicologia Clínica da PUC-SP e Analista
junguiano pelo Instituto Junguiano de São Paulo, AJB e IAAP (Zurich).
e-mail: dl.faria@oul.com.br

Introdução

Vivemos hoje um importante e frutífero período de mudanças culturais, apontando para a


relativização dos valores patriarcais e para novas propostas de articulação entre características
masculinas e femininas, na psique individual e coletiva, que repercutem diretamente na
personalidade e no perfil idealizado para os homens, sobretudo na abordagem de sua afetividade
e de sua conjugalidade.

Cabe destacar que, na perspectiva da psicologia analítica, os conceitos de masculino e de feminino


são concebidos como princípios arquetípicos fixos, definidos e imutáveis, sendo que ambos estão
presentes na personalidade de homens e de mulheres. Eles podem ser aproximados, de acordo
com Whitmont (2006), dos conceitos chineses Yang e Yin, em quem essas polaridades apresentam
um aspecto dinâmico e outro estático. O aspecto dinâmico da esfera Yang manifesta-se como um
impulso instigador, investigador, agressivo e realizador. Já o aspecto estático da esfera Yang
manifesta-se como abstração, reflexão, consciência, discernimento, razão, disciplina, significado
e objetividade não pessoal. No que se refere à esfera Yin, seu aspecto dinâmico se manifesta por
meio de um anseio de unir, envolver-se de forma pessoal, subjetiva e emocional, com pessoas
concretas e não com ideias ou coisas. O aspecto estático da esfera Yin manifesta-se por meio de
posturas gestantes e expectantes, frias, inertes e indiferentes, expressando-se de forma receptiva e
doadora, remete às vivências emocionais, ao mundo das imagens, da fantasia e da intuição.

 
55
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

No que se refere a psicologia dos homens, Whitmont (2006) acredita que ela tem sito, em grande
parte, “determinada por vários graus de predominância do Yang manifesto e uma necessidade ou
funcionamento em segundo plano do Yin” (WHITMONT, 2006, p. 159). No entanto, essa
característica parece estar passando por algumas transformações, que são observadas na imagem
pública e nos comportamentos idealizados para os homens, principalmente no que se refere à
maneira como lidam com seus sentimentos e emoções. Conforme observa Maffesoli (2014),
diante de situações emocionantes ou mesmo cotidianas, atualmente muitos homens apresentam
tendência a procurarem conciliar os ideais de virilidade e os antigos modelos patriarcais de
masculinidade com expressão de características consideradas femininas, tais como, sensibilidade,
emotividade, acolhimento e criatividade.

Apesar de haver cada vez mais incentivo social e cultural para apoiar essas tendências, parece que
as transformações ainda ocorrem de maneira conturbada, repleta de dificuldades, situações
inusitadas e soluções criativas. Sendo assim, tem crescido significativamente o número de homens
que buscam apoio psicoterapêutico para resolverem questões afetivas.

Com o objetivo de fornecer subsídios para profissionais que lidam com a saúde psíquica de homens, esse
trabalho apresenta alguns fundamentos teóricos, uma revisão de pesquisas e uma reflexão, com base na
psicologia analítica, sobre as transformações ocorridas na afetividade e no perfil idealizado para os homens
contemporâneos, sobretudo no campo dos relacionamentos conjugais.

Personas dos homens

Em princípio, importante considerar que a personalidade dos homens, assim como de todos os
seres humanos, passa por um processo que envolve movimentos de inserção e de adaptação à
realidade externa. Ao longo desse processo as pessoas percebem que nem todas as suas
características de personalidade são facilmente aceitas pela sociedade, então desenvolvem uma
identidade social ou persona, que é uma espécie de máscara destinada a produzir um determinado
efeito sobre os outros e também a ocultar alguns traços de personalidade. A adoção de uma
persona socialmente aceita parece ser uma tendência comum, uma estratégia que visa facilitar e
apaziguar as relações sociais. Entretanto, há casos em que o indivíduo se identifica com a persona,
apesar de algumas características serem essenciais a estruturação da personalidade, não são aceitas
pela consciência e são vivenciadas de maneira inconscientes, contudo não menos intensas, tendo
em vista que determinam boa parte das escolhas e atitudes diante de situações impactantes ou
mesmo rotineiras.

Ao longo do período patriarcal, os homens apresentaram a tendência a adotarem personas


preponderantemente marcadas por aspectos masculinos, demonstrando virilidade, pensamento
racional, capacidade de controlar as pessoas e o mundo, exibindo façanhas audaciosas que
envolvam risco, excitação e conquistas sexuais; apresentaram também a tendência a rejeitarem ou
negligenciarem os aspectos femininos em suas personalidades, comprometendo a sua afetividade
e suas relações interpessoais; e, em consequência, tendo “O domínio de si mesmo como um ideal
tipicamente masculino a ser alcançado pela repressão da sensibilidade” (JUNG, 2007, p. 43)

 
56
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Sustentar essa persona envolve esforço, determinação e flexibilidade para adaptar as


características pessoais ao perfil socialmente aceito. Maciel e Souza (2008) observam que “[...] são
poucos os homens que têm controle sobre seus mundos: a maioria está em conformidade com
aqueles que correm poucos riscos significativos de quaisquer tipos e geralmente têm mais fantasias
do que conquistas sexuais”.

Sendo assim, Nolasco (1997) observou que, apesar de os homens poderem usufruir de diversos
privilégios de poder e de dominação na sociedade, eles têm de lidar com diversas regras
estereotipadas e segregadoras que inibem boa parte de sua personalidade, assim tendem a
apresentar grandes dificuldades para lidarem com seus sentimentos e suas fantasias, sobretudo
em seus envolvimentos íntimos; além disso, tendem a ficar pouco à vontade com a proximidade,
a troca, a solidariedade, a cumplicidade e a acolhida durante uma situação difícil.

Contudo, parece que estão ocorrendo significativas transformações desses padrões de


comportamentos. O desempenho masculino, idealizado para a persona dos homens, vem sendo
gradativamente mesclado com características femininas, inclusive com reflexos claros em seus
relacionamentos. Essas transformações são expressas nas artes, na cultura, na política, no
comportamento das pessoas, sobretudo nos meios de comunicação utilizados pela publicidade
dos últimos cinquenta anos, inclusive porque esta recorre às normas sociais aceitas e
interiorizadas pelos indivíduos.

Essas transformações na imagem idealizada do homem, impulsionadas sobretudo pela


necessidade de darem vazão a desejos vinculares, eróticos e afetivos reprimidos pelo padrão
patriarcal, podem ser evidenciadas em diversas produções culturais cinematográficas que retratam
a suavização da imagem do vampiro em relacionamentos amorosos, presente em filmes
produzidos entre 1922 e 2012. A análise dessas produções sugere que, ao longo do tempo, houve
um processo de humanização da imagem do vampiro, no qual destaca-se a importância da relação
amorosa para esse personagem. Essas produções parecem retratar simbolicamente a aproximação
entre aspectos masculinos e aspectos femininos reprimidos (BILOTTA, 2015).

Abordando as representações masculinas, Wilm (2002) apresenta anúncios, impressos em revistas


de circulação nacional das décadas de 60 e de 70, mostrando exemplos dessas transformações e
também as diferenças significativas na abordagem do gênero. Ele ressalta que na publicidade
dirigida às mulheres eram apresentados homens gentis e carinhosos, na publicidade dirigida aos
homens eles eram representados como machos conquistadores. Podemos notar que, em ambos
os casos, a afetividade dos homens é evidenciada e, de alguma maneira, valorizada.

Muller (2013) aponta importantes transformações divulgadas pela publicidade feita em torno dos
jovens em 1968. Elas indicam que, ainda que houvesse restrições quanto às atitudes
independentes de moças jovens, foram reavaliadas e assimiladas pela consciência de homens e de
mulheres características de virilidade, força, segurança, independência e potência sexual que até
então eram associadas às atitudes de rebeldia. Isso nos leva a pensar que as características ditas
“masculinas” não representam traços inerentes aos homens, mas sim potencialidades que podem
ou não serem desenvolvidas por homens ou mulheres.

 
57
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Apesar de, naquele período histórico, boa parte da publicidade ainda contribuir para manutenção
e a perpetuação de valores tradicionais, houve publicações que divulgavam interessantes
movimentos culturais, expressando mudanças na idealização quanto à postura dos homens,
sobretudo no que diz respeito à imagem, à afetividade e à virilidade. Nas décadas seguintes,
apoiadas pela globalização e por novas tecnologias, tais mudanças tornaram-se mais frequentes e
evidentes.

Algumas revistas direcionadas aos homens, entre as décadas de 60 e 90, apresentavam sinais mais
claros dessas mudanças. Monteiro (2013) faz uma análise sobre três dessas revistas bastante
veiculadas nesse período: Ele Ela, VIP Exame e Sui Generis. De acordo com esse autor, o material
publicado nessas revistas indica um número crescente de homens pró-feministas, que criticam o
machismo e buscam novas formas de atuação menos violentas e hierárquicas; também indica um
crescente número de homens atentos aos cuidados com o próprio corpo, com sua beleza, com
sua subjetividade e com a moda, que desejam sentir-se bem consigo mesmo e também desejam
serem mais bem aceitos e admirados.

Observamos que a partir da década de 60 começa a ocorrer a crescente sexualização e objetificação


da imagem do homem na cultura. Ainda que prevaleça a imagem do homem sedutor e
conquistador, cada vez mais eles são retratados como mais sensíveis e envolvidos em atividades,
antes exclusivas de mulheres, relacionadas à participação nos cuidados parentais e à busca da
beleza e da eterna juventude. De acordo com Freitas (2016), isso é evidenciado em estereótipos
apresentados em gravações de spots televisivos, no Brasil e em Portugal, em horário nobre durante
o mês no qual se comemora do Dia dos Pais, em canais de televisão que são líderes de audiência.

No que ser refere aos cuidados com a beleza e estética, Porto e Lins (2009) observam que,
aparentemente, os homens americanos estão superando as mulheres no que se refere ao grau de
insatisfação corporal e recorrem cada vez mais a produtos de beleza, aos procedimentos estéticos
e às sugestões de moda.

Vieira-Sena e Castilho (2011) apresentam um padrão de classificação e nomenclatura, feito pelo


grupo Leo Burnett e utilizado em estratégias midiáticas para criar uma espécie de imagem social,
composto por cinco perfis comumente vistos e idealizados para os homens atuais. Eles são
denominados: retrossexuais, neopatriarcais, metrossexuais, übersexuais e power-seekers. Os
retrossexuais são homens que adotam modelo da masculinidade hegemônica da sociedade
patriarcal, são formais e conservadores nas ideias e na forma de consumir. Os neopatriarcais são
caracterizados por homens que valorizam o exercício da paternidade e a vida em família, ao lado
da esposa compartilham as atividades domésticas e participam de atividades relacionadas à
educação dos filhos. Os metrossexuais são homens urbanos excessivamente preocupados com a
aparência e com a moda, empregam muito tempo e dinheiro comprando e consumindo
cosméticos, acessórios e roupas. Os übersexuais são homens que consomem boa quantidade de
produtos de beleza e procuram se vestir de acordo com a moda, além disso, demonstram
virilidade, autoconfiança e personalidade assertiva. Já os power-seekers, são homens que valorizam
a carreira profissional e o poder, utilizam a vaidade, as práticas de consumo e suas relações
pessoais para conquistar sucesso no trabalho.

 
58
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Percebemos que a publicidade, as práticas de consumo e a moda expressam um conjunto de


valores e de hábitos, assim como configuram um conjunto de significados que traduz
simbolicamente informações sobre os indivíduos que, de maneira parcialmente consciente,
atuam como um dos principais fatores expressão da subjetividade e de mediação das relações
sociais e conjugais. Isso também pode ser evidenciado atualmente na forma como é visto o corpo
do homem e na maneira como ele se veste. Neste contexto, notamos que surgem novos modelos
de identidade para os homens que são socialmente aceitos. Cabe destacar que atualmente muitos
homens optam por ter um visual alegre e flexível, sem macular sua identidade sexual ou os ideais
de virilidade propostos pelos valores patriarcais.

Ainda considerando a questão da imagem social, Guerra (2010) reflete sobre a persona e sua
associação com o gênero, aborda a questão do cross-dressing apresentando casos de homens que se
“disfarçam” de mulheres usando roupas e acessórios, socialmente considerados femininos. Estes,
independentemente de sua sexualidade e de suas relações afetivas, percebem-se como seres do
sexo masculino que tem papéis e posturas socialmente determinados, contudo querem viver a
experiência de pensar, agir, sentir e reagir como se fossem uma mulher. Nesses casos, “O motivo
do disfarce explicita as diferenças e os estereótipos atribuídos aos gêneros. Disfarçar-se do outro
é obter aquilo cujo acesso é restrito pela cultura” (GUERRA, 2010, p. 37). Portanto, quanto mais
rígidas forem as diferenças entre os papéis atribuídos aos homens e as mulheres, mais elas serão
impeditivas para o exercício pleno da personalidade e dificultarão o desenvolvimento da
consciência.

A preocupação com o corpo e a estética também pode ser notada em aspectos mais sombrios e
desagradáveis envolvendo a subjetividade e a saúde dos homens. Conforme pesquisa desenvolvida
por Alfonso, Lugo e Bracero (2010), que aborda as desordens alimentares em homens jovens que
são estudantes universitários, os padrões estéticos socialmente aceitos impõem aos homens um
ideal de corpo magro e musculoso que a maioria não consegue manter, ou ao menos atingir, em
consequência eles se sentem inferiorizados e impotentes. A dificuldade para lidar com a
autoimagem tem levado um número crescente de homens a apresentarem problemas com relação
aos transtornos alimentares. Cabe observar que, devido ao fato de, em geral, os problemas de
desordem alimentar serem frequentemente vistos pela sociedade como problemas femininos,
muitos homens têm medo de assumirem esse tipo de problema e de colocarem em dúvida sua
masculinidade. Apesar das mudanças de perspectiva em relação à imagem dos homens ainda há
um número reduzido de grupos de terapia e centros de tratamento especialmente designados para
eles.

Apesar de ainda ser bem distinto o modelo de imagem social adotado por homens e por mulheres,
há uma tendência a aproximação e uma reconfiguração desses modelos, sobretudo no que diz
respeito à sensibilidade, à afetividade e ao impacto que elas exercem na personalidade como um
todo. A identidade dos homens passa por um processo de transformação que caminha em direção
à individuação, na medida em que procura desenvolver e integrar à consciência aspectos do
dinamismo feminino. Assim, em meio a ambiguidades inevitáveis, o conceito de homem vem
sendo redefinido.

 
59
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Os homens na conjugalidade

Cada vez mais, na cultura, leva-se em conta a subjetividade dos homens, além disso valoriza-se a
intimidade e a expressão da afetividade. Isso se reflete diretamente na configuração dos
relacionamentos conjugais.

Avaliando a situação moderna dos relacionamentos conjugais, Pondé (2010) considera que os
homens desejam receber de suas companheiras atenção, cuidados e delicadeza, porém acreditam
que esses desejos são vistos por elas como opressão ao sexo feminino. O autor aponta diversas
exigências que recaem sobre os homens contemporâneos, tais como: serem sensíveis,
compreensivos, companheiros, respeitarem a cultura da subjetividade e, ao mesmo tempo, serem
durões e sustentar suas esposas. Sendo assim, caso demonstrem características de depressão ou
fracasso são sistematicamente abandonados por cônjuges e rejeitados pelas mulheres em geral.
Essa situação pode ser ilustrada pela seguinte metáfora: “[...] diante de uma mulher carregando
algo pesado, se você não carregar para ela, é um mal-educado, um covarde, um fraco. Mesmo que
ela seja “culpada” por tentar transportar algo com peso acima de sua capacidade” (PONDÉ, 2010,
p. 38). Assim, paira uma sensação de injustiça para com os homens, em consequência surgem
comportamentos de baixo investimento afetivo, muitas vezes ocasionados pelo medo de investir
no relacionamento amoroso e receber de volta apenas a insatisfação feminina.

Essas afirmações desse autor parecem refletir a angústia e a dificuldade que alguns homens têm
de conciliar em sua postura atitudes que demonstram sensibilidade com atitudes condizentes com
os valores masculinos patriarcais, sobretudo em seus relacionamentos conjugais.

Hollis (2008) observa que essa dificuldade pode ser devida há quantidade ainda insuficiente de
recursos e de mecanismos culturais que propiciem oportunidade para os homens manterem sua
sensibilidade em equilíbrio respeitoso, assim como para serem emocionalmente sinceros e
saberem que não serão humilhados ao expressarem as dificuldades encontradas para sustentarem
a tarefa de ser homem.

Em meio a essas dificuldades os homens encontram estratégias, possivelmente impulsionada por


um forte apelo psíquico e coletivo, para que a sensibilidade e o acolhimento sejam partes
integrantes da persona e que sejam vividas de maneira consciente pelos homens, inclusive na
conjugalidade.

Para Gui (2014), uma das estratégias comumente utilizadas pelos homens para entrarem em
contato com esses afetos relacionados à conjugalidade, muitas vezes sombrios, feridos e
reprimidos, é a pornografia. Esse autor observa a crescente procura por pornografia nos meios de
comunicação, sobretudo no meio digital, possivelmente utilizados como alento ou um bálsamo
curativo para feridas emocionais, principalmente no que diz respeito à sexualidade.

Encontramos outro tipo de estratégia para lidar com aspectos afetivos nas letras de músicas
populares do gênero Funk que enaltecem a sexualidade de maneira explícita. Nelas, muitas vezes,
identificamos a inversão do modelo tradicional de conjugalidade, pois notamos que as mulheres
também buscam a conquista de poder sobre os homens e relacionam-se com eles

 
60
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

predominantemente para obtenção do prazer sexual (BERTAGLIA; MANFREDINI;


KUBLIKOWSKI; REIS, 2016).

Entendemos que a pornografia e a música podem ser vistas como manifestações do desejo e do
imaginário popular imerso em nossa cultura, os quais refletem valores presentes na dinâmica
psíquica de homens e mulheres contemporâneos. Algumas das características mais marcantes
desses valores são: a ampliação das redes afetivas; a busca de poder por meio da sexualidade
demarcada; as construções de gênero feminino e masculino polarizadas e diferentes do modelo
tradicional e a sexualidade livre de compromissos formais. Nessas estratégias predominam a
objetificação e sexualização, tanto da imagem da mulher quanto do homem, que por sua vez
denota que boa parte dos sentimentos e emoções ainda permanece inconsciente e, portanto,
pouco elaborados e integrados na personalidade consciente.

Notamos também que muitas vezes o modelo tradicional de conjugalidade é redefinido para
abarcar a afetividade e os aspectos femininos presentes nas personalidades dos homens, assim
como, viabilizar a obtenção de prazer e satisfação no campo relacional. Em consequência,
atualmente, há diversas formas de vínculos conjugais, moldados por determinantes individuais e
coletivos, objetivos e subjetivos. Todos parecem ser pautados por uma espécie de contrato que
contém as expectativas, preferências, valores e combinações acerca de como a relação será
estabelecida e quais os aspectos fundamentais para cada cônjuge.

Apesar das várias mudanças identificadas, parece que na sociedade atual prevalecem estímulos
que são a favor dos relacionamentos conjugais, afetivos e duradouros, entre duas pessoas. Dados
do IBGE (2014) reafirmam essas informações e indicam que tem crescido o número de registros
de casamentos e recasamentos realizados no Brasil. Os casamentos entre cônjuges solteiros
permanecem como conjunto majoritário, porém sua tendência é de decréscimo. O índice de
recasamentos é crescente, sendo que em 2011 os recasamentos representavam 20,3% do total de
uniões formalizadas. Os homens se unem mais tarde do que as mulheres e mantêm taxas de
nupcialidade legal mais altas que as mulheres. Os casamentos em que os cônjuges masculinos têm
idades mais elevada que as mulheres são mais frequentes. Porém na comparação dos anos de
2001 e 2011, observamos um aumento de 3,4% no aumento dos percentuais em que a mulher é
a mais velha. O crescimento dos recasamentos ocorridos no período entre 2001 e 2011 é um dos
fatores que tem impulsionado a elevação das taxas de nupcialidade legal e da idade mediana de
homens e de mulheres na data do casamento. Cabe destacar que há percentuais mais elevados
para composição que tem homens divorciados que casaram com mulheres solteiras, quando se
compara a situação inversa de mulheres divorciadas que se casaram com homens solteiros.

Abordando os modelos de conjugalidade idealizado atualmente, Vargas (2015) considera que os


“casamentos verdadeiros” são uma forma comum de pessoas se relacionarem por meio de trocas
simétricas e dialéticas, pautadas por amor, atração e solidariedade recíprocas entre os cônjuges,
com desejo de compartilharem suas vidas e alguns ideais, nos quais os cônjuges buscam apoio
mútuo, seja material ou emocional, formal ou informal, duradouro ou casual.

Para Andrade e Hime (2009) os relacionamentos conjugais podem se sustentar fora dos modelos
de casamento patriarcal, sobretudo quando envolve a comunidade de relação, uma nova ética e
a dinâmica da alteridade. Para isso é preciso que o desenvolvimento e individuação dos cônjuges

 
61
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

sejam considerados a partir de toda a rede de relação e não apenas no âmbito da díade do casal.
Pois, mantidas as dimensões éticas e afetivas, a comunidade também poderá ser sustentadora e
promotora de reflexão sobre as questões amorosas, assim como também poderá atuar em favor
da continuidade do relacionamento conjugal e do processo de individuação.

Aragão (2014) nota que os jovens adultos solteiros tendem a adotar posturas flexíveis em relação
à conjugalidade. Eles tendem a ver os vínculos conjugais não como obrigações, mas sim como
escolhas que visam à satisfação mútua, sendo assim devem ser pautados pela igualdade e pela
parceria e podem ser desfeitos quando houver insatisfação dos cônjuges. Hurtarte, Aragón e
Loving (2014) apontam que os fatores que mais contribuem para a satisfação conjugal são a
situação financeira do casal, a intimidade, o respeito entre eles, o tempo que fazem atividades
juntos, o senso de humor e suas personalidades. Com relação a opinião dos homens, Maciel Jr.
(1999) observa que muitos homens acreditam que para obter satisfação conjugal é fundamental
que haja intimidade entre os cônjuges. Essa intimidade é compreendida como o conhecimento
profundo daquele de quem se é íntimo, abrangendo o compartilhamento de segredos com a
confiança de que haverá sigilo e respeito; assim como, a existência de sintonia e apoio mútuo
entre o casal, o que por sua vez envolve ter projetos de vida em conjunto, amor, afeto, exercício
da sexualidade e a privacidade do lar. Outros aspectos eleitos como fundamentais na intimidade
conjugal são a busca de maior comunicação e sexualidade conjugal satisfatória, que envolvem
conhecimento e satisfação tanto de si mesmo quanto da esposa. Apesar de a esposa ser vista como
a pessoa com quem se pode ser bastante sincero, há uma necessidade de se preservar alguns
aspectos da individualidade, sobretudo com relação aos fatos ou situações que envolvam outras
mulheres, o que pode ser devido à coexistência, em planos dissociados, de ideais tradicionais e
modernos.

Podemos notar que, em geral, o modelo ideal de relacionamento conjugal determina que o
clássico padrão de valorização da racionalidade, objetividade, autoridade e competitividade possa
coexistir com posturas amorosas tanto em homens quanto em mulheres. Esse modelo parece ser
uma tentativa favorecer a participação ativa dos homens e das mulheres no mundo privado e
afetivo dos relacionamentos, sem que com isso seja preciso abandonar o mundo dinâmico e
competitivo do trabalho.

Considerações finais

Analisando pesquisas e publicações que abordam o comportamento dos homens


contemporâneos, percebemos que estão surgindo mudanças significativas no perfil idealizados
para os homens, inclusive em seus relacionamentos conjugais. Notamos que atualmente há
homens que adotam personas condizentes com o modelo patriarcal e reprimem ou negligenciam
características consideradas femininas voltadas para o acolhimento, a afetividade e os cuidados
com saúde, estética e bem-estar. Contudo, parece ser crescente o número de homens que adotam
outros estilos, procurando conciliar em sua identidade o antigo modelo patriarcal com
características consideradas femininas. Esses aspectos podem ser evidenciados na crescente
preocupação de muitos homens em cuidar bem de sua aparência, inclusive para agradar a pessoa
amada; ampliar a consciência sobre suas qualidades criativas e eróticas; desenvolver boas

 
62
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

estratégias de relações interpessoais; assim como, participar ativamente dos cuidados com o lar e
com os filhos. Em consequência, surgem também novos modelos de conjugalidade, que são
menos projetivos e mais moldados pelas personalidades dos cônjuges, pois valorizam a
intimidade, a expressão da afetividade, a alteridade, o respeito às diferenças e à liberdade de
escolhas.

Essas mudanças parecem ser impulsionadas por demandas psíquicas, parcialmente conscientes,
que vem acompanhadas por inúmeras dificuldades e ambiguidades. Cabe destacar que a
ampliação do autoconhecimento e da integração à consciência de aspectos da personalidade que
a princípio podem parecer antagônicos, como no caso dos aspectos masculinos e femininos, exige
um grande esforço, sobretudo flexibilidade, criatividade e discernimento, inclusive para
identificar o homem que ele quer ser e o que ele tem condições de sustentar. Nesses momentos
surgem medos, fantasias e diversas formas de angústias e violências psíquicas, inclusive porque
em momentos de transição as pessoas estão muito mais abertas aos aspectos sinistros e
perturbadores dos arquétipos. Podemos entender que assimilar conscientemente fantasias e
características na personalidade, que estão além de padrões tradicionais, favorece o
desenvolvimento psíquico e a articulação da afetividade com referenciais mais profundos do
repertório arquetípico da humanidade, além disso propicia recursos para a solução de problemas
individuais e coletivos.

Referências
ALFONSO, J. T.; LUGO, K, N; BRACERO, N. B., “Cuerpo y Masculinidad: Los Desordenes
Alimentarios em Hombres”. Revista Interamericana de Psicologia/Interamerican Journal of Psychology
Vol. 44 n. 2 (2010): 225-234.
ANDRADE, G. M. P.; HIME, F. A., “Relacionamentos e individuação na sociedade pós-moderna”. Psic.
Rev. São Paulo Vol. 18 n. 2 (2009): 165-187.
ARAGÃO, R. L. O que se diz e o que se faz: os significados do casamento, relacionamento amoroso e infidelidade
para jovens adultos solteiros. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo, 2014).
BERTAGLIA, P. C. C.; MANFREDINI, A.M. N.; KUBLIKOWSKI, I; REIS, J. B. G., “Jogos do
amor no funk: o significado atribuído às relações amorosas nas letras de músicas do funk”. Artigo
apresentado no Congresso Brasileiro de Terapia Familiar, Gramado, Rio Grande do Sul, 08-11
de junho de 2016.
BILOTTA, F. A. Vampiros: de predadores a príncipes. Uma análise junguiana sobre as transformações do
masculino a partir do relacionamento amoroso. (Tese de Doutorado em Psicologia Clínica, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2015).
FREITAS, S.. “Príncipes ou Sapos? Os estereótipos masculinos em spots brasileiros e
portugueses”. Comunicação e Sociedade Vol. 21 (2012),
http://revistacomsoc.pt/index.php/comsoc/article/view/703. (Acessado setembro 01, 2016):
109-122.

 
63
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

GUERRA, M. H. R. M., “Homem disfarçado de mulher, mulher disfarçada de homem – Persona


e Gênero”. Revista Jung & Corpo. n.10 (2010): 29-38.

GUI, R., “Afrodite Porneia no Temp(l)o Digital: a subjetivação feminina da pornografia”,


Cadernos Junguianos n. 10 (2014): 101-120.
HOLLIS, J.. Sob a sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens. São Paulo: Paulus, 2008.
HURTARTE, C. A.; ARAGÓN, R. S.; LOVING, R. D, “Exploración e identificación de los
determinantes de la satisfacción marital: contexto, individuo e interacción”, Revista de Psicologia
Vol. 10 n. 19 (2014): 7-30.
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2011. Estatísticas do registro civil de 2011.
(Acesso setembro 13, 2014). Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/registrocivil/2011/default.shtm.
JUNG, C. G.. Civilização em transição. O. C. Vol. 10/3. Petrópolis: Vozes, 2007 [1931].
MACIEL JR., P. A. E agora José? Um estudo exploratório sobre a concepção masculina de intimidade no
relacionamento conjugal. (Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, 1999).
MACIEL JR., P. A.; SOUZA, R. M.. “Homem entrevista homem, mulher entrevista homem:
questões de gênero nos procedimentos de pesquisa”. Artigo apresentado no Simpósio Temático
sobre Sexualidade Gênero e Subjetividade, do 8º Simpósio Internacional Fazendo Gênero,
Florianópolis, Santa Catarina de 25 a 28 de agosto de 2008
MAFFESOLI, M.. “Iniciação, arquétipos e Pós-modernidade”. Em: A alma Brasileira: Luzes e
sombra. Organizado por W. Boechat, 19-41. São Paulo: Vozes, 2014.
MONTEIRO, M.. “Masculinidade em revista: 1960 – 1990”. Em: História dos homens no Brasil.
Organizado por M. Del Priore e M. Amantino, 335 - 358. São Paulo: UNESP, 2013.
MULLER, A.. “Não se nasce viril, torna-se: juventude e virilidade nos “anos 1968 Em: História
dos homens no Brasil. Organizado por M. Del Priore e M. Amantino, 299 - 334. São Paulo: UNESP,
2013.
NOLASCO, S.. “Um homem de verdade”. Em: Homens: comportamento, sexualidade, mudanças.
Organizado por D. Caldas, 13 – 29. São Paulo: SENAC São Paulo, 1997.
PONDÉ, L. F.. Contra um mundo melhor: ensaios do afeto. São Paulo: Leya, 2010.
PORTO, A. e LINS, R.. “Imagem Corporal Masculina e a Mídia”. Revista Digital Buenos Aires n.
132, (2009) http://www.efdeportes.com/efd132/imagem-corporal-masculina-e-a-midia.htm.
(Acessado setembro 29, 2016).
VARGAS, N. S.,”Conflito e criatividade na conjugalidade”. Artigo apresentado no Congresso
Latinoamericano de psicologia analítica: Conflicto y creatividad, puentes y fronteras arquetípicas,
Buenos Aires, Argentina, 3-6 de junho de 2015.
VIEIRA-SENA, T; CASTILHO, K.. “Moda e masculinidade: breves apontamentos sobre o
homem dos séculos XX e XXI”. Moda palavra E-periódico Ano 4, n.7 (2011),

 
64
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

http://www.revistas.udesc.br/index.php/modapalavra/article/view/7911/5445. (Acessado
agosto 27, 2016).
WHITMONT, E. C.. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. São Paulo: Cultrix,
2006.
WILM, A.. “A representação masculina em anúncios: uma observação sobre as diferenças na
abordagem do gênero”. Artigo apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da
comunicação, Salvador, Bahia, 1-5 de setembro de 2002.

 
65
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

PARA LIMPAR É PRECISO CRIAR A SUJEIRA?: ENSAIO


CRÍTICO À TEORIA DO DIREITO
Gabriel Cerqueira Leite Martire
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense
(UFF) 13
E-mail: gclm85@yahoo.com.br

Resumo

Falar em teoria do direito requer alguns cuidados iniciais. Primeiramente, é necessário partir do
pressuposto que existem discursos situados e determinantes de teorização. Nesse sentido, este
trabalho objetiva desenvolver uma breve abordagem crítica sobre algumas perspectivas teóricas
do direito no mundo ocidental, revisitando alguns autores que justificam modelos ideais da teoria
do direito. Visto isso, cabe destacar que é impossível, metodologicamente, não cair em alguns
descuidos generalizantes diante do universo teórico sobre o direito nos dias atuais. Como
provocação, retomam-se enfrentamentos contra a construção de naturalizações e a constituição
de marcadores sociais da diferença. Por fim, resgatam-se reflexões críticas de Joaquín Herrera
Flores, sugerindo inquietações sobre uma teoria do direito que aposte em uma visão
descentralizada de poder.

Introdução

Antes de tudo, cabe explicar que o sentido alegórico do título deste trabalho sugere algumas
provocações iniciais. Com isso, busca-se não só mecanismos mais didáticos para a compreensão
abstrata da teoria do direito, como também estimular reflexões em termos críticos sobre a teoria
do direito.

13
 Graduado em Direito pela Unilasalle/RJ e em Artes pela Escola de Belas Artes da UFRJ; professor de Artes e Direito na SEEDUC/RJ; artista 
plástico;  especializado  em  Direito  Imobiliário  pela  UCAM/RJ  e  em  Direitos  Humanos,  Gênero  e  Sexualidade  pelo  CLAM  &  IMS  &  UERJ; 
atualmente cursando a especialização em Ensino da Arte pela EAV & UERJ; Mestrando do Programa de Pós‐Graduação em Sociologia e Direito 
da Universidade Federal Fluminense – PPGSD/UFF; integrante do grupo de pesquisa Sexualidade, Direito e Democracia do PPGSD/UFF. 

 
66
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Assim, imagine comparar o conceito de teoria do direito com o conceito de limpeza. Nas duas
conceituações existem buscas de axiomas que tentam implementar ações práticas. No entanto,
criar conceitos a partir de abstrações parece algo inalcançável, isso porque, ao se distanciar do
mundo concreto, há grandes chances de se perder em discursos vazios para soluções concretas.

Por certo, tanto a limpeza, como a teoria do direito necessitam de critérios para identificar,
comunicar e organizar algo. Assim, tendo por modelo a limpeza de um quadro pintado, por
exemplo, seria necessário conceituar o que se entenderia por sujeira.

Seria a sujeira qualquer interferência surgida na tela sem a intenção do artista que a pintou, ou
seria sujeira algo que um observador qualquer identificasse como sujeira? Então, como
determinar o sentido de sujeira sem que haja uma investigação mais cuidadosa e convenções
sobre critérios razoáveis diante de distintos pontos de vista?

Nesse sentido, a complexidade do caso em questão aponta para uma série de caminhos que,
talvez, possibilitem identificar, comunicar e organizar critérios a partir de fatos. Estes podem
ganhar múltiplas dimensões e transformações. Desse modo, não é tão simples falar que existe
uma única forma de conceituação para a teoria do direito, ao mesmo tempo, como será analisado,
alguns autores destacam a importância de se estabelecerem bases comuns para o conceito de
teoria do direito. Consequentemente, sustentam a existência de uma essência que permite a
identificação, a comunicação e a organização da dogmática jurídica.

Contudo, não desmerecendo a importância de um direito positivo, novos temas atravessam a


teoria do direito forçando aprimoramentos na gênese dos conceitos tradicionais já formulados e
solidificados sobre o tema. Esse ponto crítico e contextual não se resume a um simples ato ao
longo da história, mas se constitui em constantes processos de vanguarda que emergem dos fatos
sociais.

Por isso, o tema da desigualdade diante da diversidade de raça, de gênero e de sexualidade entram
em foco questionando e exigindo soluções diante das hegemonias detentoras dos discursos que
insistem em criar bases essencialistas para justificar apenas uma forma de compreender a teoria
do direito. Nesse sentido, novamente, voltam-se os olhos para os problemas entre direito e moral,
bem como para aqueles que sofrem constantemente exclusões, em razão de discursos de direitos
abstratos.

Por fim, destacam-se os fundamentos críticos de Joaquín Herrera Flores contra as lógicas
pragmáticas, abstratas e universalistas que preponderam algumas discussões teóricas do direito,
distanciando-o das realidades do mundo material.

Como metodologia, será utilizada a revisão de literatura.

Composição de interior: qual objeto definirá a morada?

Para iniciar a análise sobre a teoria do direito, tomam-se emprestados alguns trechos da obra de
Hebert Hart (2010), cujo estudo abriu caminho para posteriores críticas de Joseph Raz, seu aluno.

 
67
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Hart (2010), em uma breve justificação argumenta a necessidade de construir uma teoria do
direito relativamente estável para a organização social. Nesse sentido, relata que

[...] gostaria de avançar um pouco mais em dois aspectos (ainda que isto implique lançar mão
de uma fantasia filosófica) e mostrar o que, de maneira inteligível, poder-se-ia querer dizer
com a tese de que algumas provisões em um sistema jurídico são “necessárias”. O mundo em
que vivemos, e nós, que nele vivemos, podemos mudar, qualquer dia, de modos muito
diferentes; e se essa mudança fosse radical o suficiente, não apenas certas declarações de fato,
ora verdadeiras, se tornariam falsas, e vice-versa, mas modos inteiros de pensar ou de falar,
que constituem nosso atual aparato conceitual, por meio do qual vemos o mundo e os outros,
desapareceriam. Só precisamos considerar quanto toda nossa vida social, moral e jurídica,
como as entendemos hoje, dependem do fato contingente de que, embora nossos corpos
mudem em sua forma, tamanho e em outras de suas propriedades físicas, isto não se dá de
forma tão drástica, nem com uma rapidez e irregularidade tão instantâneas que não possamos
nos identificar uns aos outros como o mesmo persistente indivíduo ao longo do tempo.
(HART. 2010, p. 86-87)

Em síntese, a composição da grande morada, que é a teoria do direito, parece estar arquitetada
como se fosse uma solução imediata às intempéries exteriores. Agora, seria possível admitir que
o engenheiro conhecesse tão bem as forças externas a ponto de sustentar suas bases contra
qualquer choque? E o que dizer sobre a organização interna dessa grande morada? As respostas a
essas inquietações parecem não ser as preocupações centrais de Hart, mas simplesmente que

Atualmente, e até que ocorram tais mudanças radicais, tais regras são tão fundamentais que,
se um sistema jurídico não as contém, haveria muito pouco sentido em que contivesse
quaisquer outras regras que fossem. Tais regras superpõem-se a princípios morais básicos que
proíbem o assassinato, a violência e o roubo; e assim podemos acrescentar à declaração
factual de que todos os sistemas jurídicos coincidem, de fato, com a moral em pontos tão
vitais, a declaração de que, neste ponto, isto é necessariamente assim. E por que não a chamar
de necessidade “natural”? (HART. 2010, p. 87)

Em uma discussão sobre a teoria do direito, Joseph Raz, Robert Alexy e Eugenio Bulygin chamam
a atenção pela reflexividade das proposições de cada um deles acerca do objeto da teoria do
direito, bem como suas condições de sucesso.

A grande questão é compreender em que medida existe de fato uma teoria do direito que se
pretenda essencial para a formulação das bases metodológicas da dogmática jurídica.

Resumidamente, ao longo do tempo, algumas características práticas e filosóficas foram


identificadas. Essa trajetória pode facilitar a compreensão e contextualizar as questões que
circunscrevem as análises discutidas pelos três autores já mencionados.

Assim, por exemplo, a concepção de direito entre os séculos XVIII e XIX foram voltadas à
justificar as bases para um positivismo que pretendia cientificamente aplicar fórmulas universais.
Concomitantemente, em termos filosóficos, sustentava-se a tensão entre razão e volição.

 
68
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Já por meados do século XIX e XX, houve um choque em termos de manutenção das tradições
privatistas. Assim, diante do desenvolvimento e mudanças sociais, houve necessidade de alteração
no direito positivo. Nesse sentido, no campo filosófico, traçavam-se discussões em torno do
significado de ciência para a dogmática jurídica e uma pretensão mais pragmática.

Por fim, do século XX ao XXI, iniciaram-se buscas por critérios e interpretações para além da
objetividade legal na justificação das sentenças judiciais. Diante disso, surgem dificuldades para
a sustentação de um conceito normativo que confrontava direito e moral.

Visto isso, passa-se à análise da perspectiva de Joseph Raz sobre a teoria do direito. Para este autor,
o direito possui alguns traços que permitem sua universalização. Isso ocorreria porque

[...] ainda que o conceito de direito positivista reflita o conceito de nosso tempo, i.e. ainda
que seja nosso conceito de direito, ele pode ser aplicado de modo universal, para compreender
práticas sociais de outros tempos e culturas como prática jurídica. Mais do que isso, é
necessário para que seja possível a compreensão dos conceitos de culturas estranhas, pois o
processo hermenêutico de aquisição dos conceitos de outras culturas se dá na medida em
que os relacionamos com nossos conceitos (2013, p. 34).

Dos muitos argumentos que foram levantados, parece persistirem consensos quanto a certos
aspectos do objeto da teoria do direito, pois, ainda que mudem drasticamente as propriedades
desse objeto, ele ainda sustenta algo de específico diante de outros objetos e conceitos. “A essa
ideia se deve a revitalização no âmbito analítico da noção de essência e necessidade” BOUVIER,
Hernán et al. (2013, p. 49).

Joseph Raz sustenta ainda que a “teoria do direito consiste em explicar a natureza do direito”
BOUVIER, Hernán et al. (2013, p. 60). Nesse sentido, para desenvolver o conceito da teoria do
direito caberia buscar todas as propriedades essenciais da natureza teórica.

Essa ideia, para Bulygin, segundo BOUVIER, Hernán et al. (2013, p. 61-62), parece ser
problemática, não pela possibilidade de analisar conceitos, mas sim quanto à necessidade de
explicar a natureza do direito, visto que bastaria o conceito utilizado para captura-la. Assim, o
direito não teria uma essência por si, mas sim as propriedades essenciais indicadas pelo conceito
que é utilizado.

Por último, Alexy defende que “a tarefa da teoria do direito consiste em explicar a natureza do
direito que se reflete no correto conceito de direito” BOUVIER, Hernán et al. (2013, p. 62).
Desse modo, existe uma pretensão de verdade do conceito que tende a refletir alguma essência
como ela verdadeiramente é. Isso não quer dizer que a verdadeira essência do direito possa ser
substanciada na prática jurídica. Por isso, o conceito correto de direito é uma entidade ideal, ou
seja, o “dever ser”.

Ainda assim, Raz, Bulygin e Alexy parecem deixar em aberto algumas discussões acerca do caráter
local ou universal dos conceitos. Por conseguinte, Raz explica que, em essência, é fundamental o
domínio completo do conceito e da coisa, em todas as suas perspectivas, bem como do conceito
extraído delas. Não basta o mero conhecimento da coisa e do conceito.

 
69
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A natureza do direito deveria ser imutável, porém ela se altera. Por exemplo, no tempo e no
espaço. Isso não é o ideal para uma boa teoria do direito.

Compreender a sociedade, quando estudamos a natureza do direito, é compreender a natureza


da nossa própria compreensão. Ela está oculta na consciência do modo como concebemos e
compreendemos nossa sociedade, é parte do que estudamos quando nos perguntamos sobre a
natureza do direito. Ao melhorar nossa compreensão da natureza de direito, consideremos uma
compreensão do conceito de direito, e a melhoramos BOUVIER, Hernán et al. (2013, p. 73-83).

Prosseguindo, Raz indica que a teoria do direito vai além da localidade, visto que ela envolve até
mesmo aquelas sociedades que não possuem conceito de direito. Assim é que, mesmo em
sociedades que não tiveram nosso conceito de direito ou instituições reconhecidas como direito
a partir da nossa perspectiva, pode haver teoria do direito. Desse modo, uma teoria do direito
que se propõe a explicar a natureza das instituições e práticas que nosso conceito de direito
reconhece como direito, seria universal somente no nome. Logo, a admissão de uma teoria do
direito ser local se é aplicada somente a países que possuem nosso conceito de direito, ou a países
que possuem algum conceito de direito, é errada.

Isso traduz para Raz o motivo pelo qual

Em nossas tentativas para compreender sociedades com culturas radicalmente diferente das
nossas, encontramos um conflito. Por um lado, para compreender outras sociedades
devemos dominar seus conceitos, pois não as compreendemos a menos que entendamos
como se percebem a si mesmas. Entretanto, por outro lado, não podemos compreender
outras culturas, a menos que possamos relacionar suas práticas e costumes aos nossos. [...]
Como se pode resolver esse conflito? Parece nos deixar em um impasse que nos força a
admitir a impossibilidade de compreender verdadeira ou completamente, culturas estranhas
(BOUVIER, et al., 2013, p. 94).

Assim, a compreensão de novas coisas se daria através das relações entre o conhecido e o
desconhecido.

Alexy (2013, p. 104) vai discordar de Raz no que tange o significado de direito (perspectiva da
filosofia), pois este pode explicar o conceito e a natureza do direito. Isso porque, uma teoria
adequada da natureza do direito deveria especificar os tipos de entidades em que consiste o
direito. Desse modo, analisar o significado da expressão direito pode ser um avanço.

Outro aspecto divergente para Alexy é, por exemplo, o conceito positivista do direito não poder
ser local ou específico de um espaço e tempo. Segundo a teoria de Raz, seria, mas a teoria, como
tal, seja verdadeira ou falsa, continua sendo universal.

Por essa razão, inferir o caráter local de um conceito de direito pelo fato de ser parte do
direito de seu país, é equivocado. Esse é simplesmente um aspecto da verdade mais geral de
que o universal também pode estar no local (ALEXY, 2013, p. 108).

Já para Bulygin “parece razoável sustentar que é somente em virtude de nossos conceitos que as
coisas têm uma natureza, que algumas de suas propriedades são necessárias ou essenciais, e isso

 
70
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

significa que são propriedades definidoras do conceito correspondente” (BULYGIN, 2013, p.


113). Para ser essencial, há que ter conceitos que a tornem essencial, pois por si só ela não pode
ser.

É o conceito de algo que determina quais são suas propriedades essenciais e, em consequência, a
sua natureza, e não o contrário. Assim, se o posicionamento de Raz sugere que as essências são
independentes dos conceitos, nesse ponto, provavelmente, estariam as divergências de análises.

Outro ponto divergente sobre “o essencialismo de Raz consiste em sua distinção entre análise
conceitual e explicação do direito. Segundo Raz, a teoria do direito não consiste na análise do
conceito do direito, e sim na análise da natureza do direito” (BULYGIN, 2013, p. 114).

Em replica, Raz inicia sua sustentação dizendo que o direito se modifica, agora como, isso não se
sabe. Mas a capacidade que ele tem de modificação é bem-vinda.

Raz continua sua argumentação contra a divergência sobre um dos pontos levantados por Alexy.
Este “supõe que o direito tem características essenciais que o conceito pode fracassar em capturar.
Mas, se há um conceito que não ‘captura’ as características essenciais do direito, então não é um
conceito de direito, ou ao menos essa é parte da postura que defendi” (RAZ, 2013, p. 124).

Para expressar a postura que propus, tinha que me basear no fato de que as propriedades que as
coisas têm (com algumas poucas exceções) – independentemente de se estamos a par dessas
propriedades, ou ainda independentemente de sermos capazes de estar a par delas – diferem dos
conceitos, que são produtos culturais (RAZ, 2013, p. 124).

Quanto à resposta a Bulygin, “parece pensar que há muitos conceitos de direito diferentes, entre
os quais podemos escolher” (RAZ, 2013, p. 126).

Toda essa discussão, que gira em torno da constituição de fórmulas para a compreensão de uma
teoria do direito, torna-se relevante aqui, como se verá a seguir, pois destaca a precariedade que
o essencialismo gera diante das demandas práticas constituídas pelas relações sociais de poder.
Dessas tensões emergem questionamentos não só sobre a teoria do direito que se apresenta
colonizadora, mas também conveniente aos privilégios de determinado grupo hegemônico.

Igualdade para quem?: questionamento contra a criação de naturalizações

Para iniciar a inquietação, puxando o gancho do parágrafo anterior, é interessante notar a


predominância da fala masculina letrada na teorização do direito. Cabe destacar que a mulher só
começou de fato a participar historicamente das discussões acadêmicas muito recentemente14.

14
 Os primeiros movimentos de mulheres considerados movimentos feministas surgem em meados do século XIX. 

 
71
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Segundo FACCHI (2005), os movimentos feministas, vastos e heterogêneos em razão do


desenvolvimento das configurações e pautas, pode ser caracterizado pelo esforço de melhorar a
situação das mulheres.

Mas, a resistência desses grupos promoveram muito mais, pois foi possível observar a construção
de falsas neutralidades. Isso ocorria nos discursos da construção de teorias do direito e nas
elaborações de normas, por referências genéricas, a partir do momento que a igualdade se revelava
como princípio universal, sem raça, sem sexo, sem classe social etc.

Nesses passos, no século XVIII, como identifica Hunt (2009, p. 26), o conceito de autonomia
dependia da presença de duas qualidades: a capacidade de raciocinar e a independência de decidir
por si mesmo. Assim, as crianças, os insanos, os escravizados, os criados, os sem propriedade e as
mulheres não tinham autonomia, razão que levava a exclusão dessas pessoas na participação dos
direitos humanos naturais, iguais e universais.

Desse modo, o sujeito universal, ao contrário, tinha características precisas que correspondiam
ao grupo dominante, e, tornar isso um modelo significaria a exclusão e discriminação de outros
sujeitos: de indivíduos de culturas diversas dos grupos dominantes, de classes sociais
subordinadas e de mulheres.

Por exemplo, estatísticas apontam que a maioria das pessoas condenadas à morte nos Estados
Norte Americanos, com exceção do Estado de Nevada, são compostas segundo características
raciais distintas da população branca. Isso abre espaço para se refletir sobre as incoerências da
neutralidade do sistema de justiça penal como um todo (INGRAM, 2010, p. 157).

Essas questões envolvem tanto problemas de limites morais, como, consequentemente, os


impactos das leis penais sobre determinados grupos (INGRAM, 2010, p. 157-158).

Com a finalidade de ampliar as reflexões sobre o tema, David Ingram analisa o “princípio do
dano de Mill”. Sobre este, vários pontos parecem restar obscuros na aplicação do princípio,
principalmente diante de injustiças cometidas com respaldo na própria legalidade. Para tanto,
David Ingram destaca alguns exemplos práticos da jurisprudência Norte-Americana. Mais uma
vez, entra em discussão o embate entre direito e moral.

David Ingram (2010, p. 165-166), menciona, em primeiro lugar, algumas colocações de Hart a
Devlin informando que nem todos os aspectos da moralidade popular são cruciais na
manutenção da ordem social. Por exemplo, sobre a aversão popular ao comportamento
homossexual, não caberia justificar uma natureza prejudicial às pessoas, por mais que uma crença
popular defendesse o contrário.

Em segundo lugar, Hart afirma que o preconceito moral sozinho não fornece base racional para
a legislação moral. Nesse sentido, o próprio Devlin menciona que a

proscrição da homossexualidade não apenas acarreta tormentos para o homossexual,


forçando-os a serem desonestos sobre quem são, mas também fortalecendo o poder do
governo de interferir em nossa vida privada e pavimenta o caminho para chantagem e outras
atividades criminosas (INGRAM, 2010, p. 166).

 
72
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Por fim, Hart invoca como uma possível solução na promoção de padrões racionais de evidência
por meio da ciência (social) como uma nova autoridade subjacente à legislação penal. Nesse
sentido, para evitar a prevalência de pluralidades morais populares e conflitantes, busca-se um
direito que se pretende ideologicamente neutro, sustentado nas bases de uma moralidade contra-
hegemônica.

A questão, porém, não é tão simples, pois, como analisa Jeffrey Weeks (2000), mesmo as ciências,
por mais cuidadosas que sejam, dificilmente escapam aos posicionamentos e aos discursos
contaminados. Tais argumentos podem ser constatados por meio de fontes diversas, dentre as
quais a investigação e a análise histórica e sociológica são as escolhidas por Weeks. O autor revela
que as definições, convenções, crenças, identidade e comportamentos sexuais não resultam de
uma evolução do fenômeno natural.

Desse modo, a ciência têm sido modelada no interior de relações definidas de poder. A mais
óbvia dessas relações são entre homens e mulheres, nas quais a sexualidade feminina tem sido
historicamente definida em relação à masculina.

Dentre vários marcadores sociais, a sexualidade é uma em particular, constituída a partir de


relações de poder no cenário social. Diversas instituições representam as intervenções da
regulamentação corporal. As diferenças de classe e de raça ampliam ainda mais as tensões no
interior desse teatro.

Com isso, o surgimento de forças feministas e outros movimentos de reforma entram no palco
das críticas e exigências frente às supostas definições de “neutralidade”, de naturalizações e de
abstrações teóricas do direito.

Recentemente, por exemplo, as teorias formuladas por Judith Butler (2003) ajudam a
desestabilizar, através de problematizações cuidadosamente bem fundamentadas, as aparentes
ontologias e as formas de construções gnosiológicas e epistemológicas.

Nesse sentido, a Teoria Queer ganha lugar de destaque. Isso porque, ela se insere nas novas formas
de percepção sobre as estruturas pré-estabelecidas e naturalizadas socialmente.

As novas perspectivas de embates envolvendo gênero, sexualidade, classe e raça tendem a


questionar arranjos fixos de identidades. Por outro lado, pensar no sujeito requer soluções
possíveis para que as identidades possam ser reconhecidas e fluírem sem que isso determine
formas de exclusão, discriminação e desigualdade.

Emerge assim um pensamento queer, não-normalizador, uma teoria social não heterossexista
e que, portanto, reconhece a sexualidade como um dos eixos centrais das relações de poder
em nossa sociedade. A teoria queer foi se constituindo como um conjunto bastante
heterogêneo de discussões críticas que desafiaram a ordem heterossexual como sinônimo de
normalidade. E desde seu surgimento nos Estados Unidos, em meados dos anos de 1980,
constitui-se como um saber marginal que procurou desafiar as ciências canônicas, mas
também o próprio movimento de gays e lésbicas, que, na crítica queer, estava se tornando
assimilacionista e reiterador da ordem heterossexual, ou seja, da mesma lógica social que os
havia constituído como seres anormais e socialmente indesejáveis (PELÚCIO, 2015, p. 2).

 
73
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Nesse sentido, tem-se por base a crítica às estruturas impostas. Por isso, “não há identidade de
gênero por trás das expressões do gênero; essa identidade é performativamente constituída, pelas
próprias ‘expressões’ tidas como seus resultados”, como afirma a filósofa Judith Butler (2003, p.
48).

Nesses termos, é preciso “observar o modo como as fábulas de gênero estabelecem e fazem circular
sua denominação errônea de fatos naturais” (BUTLER, 2003, p. 12).

Indo um pouco além, fazendo algumas apropriações das questões levantadas pela filósofa Judith
Butler, “O que acontece ao sujeito e à estabilidade das categorias quando o regime epistemológico
da presunção é desmascarado, explicitando o produto de uma arrogante ontologia?” (BUTLER,
2003, p. 8). Ainda seguindo essa linha, “Que possibilidades políticas são consequências de uma
crítica radical das categorias de identidade?” (BUTLER, 2003, p. 10).

Visto isso, seria possível, então, pensar em uma substituição daquilo que Butler (2003)
desestabiliza enquanto categoria de gênero, também para pensar os discursos criados sobre as
teorias do direito?

A aposta na visão periférica das relações de poder

Portanto, seguindo as definições de Joaquín Herrera Flores, parece ser justificável a construção
de novas perspectivas de análise da teoria do direito. Por isso, é necessário falar da abertura de
processos de luta por direitos, pois o direito não está hermético em si mesmo, mas serve como
um meio necessário para que as práticas sociais desempenhem maior acesso a dignidade.

Quando começamos a falar de direitos humanos destacando o conceito de “direitos”,


corremos o risco de “nos esquecer” dos conflitos e lutas que conduziram a existência de um
determinado sistema de garantias dos resultados das lutas sociais e não a outro diferente.
Falamos de direitos e parece que tal reconhecimento jurídico já solucionou todo o problema
que envolve situações de desigualdade ou de injustiça que as normas devem regular. Somente
devemos nos preocupar com as garantias judiciais do direito, desprezando absolutamente
que, atrás de todo edifício jurídico, se escondem sistemas de valores e processos de divisão
do fazer humano que privilegiam uns grupos e subordinam outros (FLORES, 2009, p. 21).

Pode-se dizer também que os direitos foram “inventados”15 e devem continuar suas
“(re)invenções”16 interagindo relacionalmente mais a partir do que vêm de baixo, assumindo
desde o início uma perspectiva contextual e crítica, emancipadora (FLORES, 2009, p. 18). Isso
porque, ao contrário da visão tradicional que se tinha sobre o direito, na qual grande parte das
abordagens teóricas buscavam compreender a natureza dos direitos resultando em puras

15
 Lynn Hunt expõe de forma resumida a sua ideia chave logo no título do seu livro “A invenção dos direitos humanos: uma história”. 
16
 Em seguida, o mesmo se expressa na obra de Joaquín Herrera Flores, quando ele parece dar prosseguimento a ideia de Lynn Hunt, ao falar 
“A (re)invenção dos direitos humanos”. 

 
74
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

abstrações, em vazias declarações de princípios ou em meras confusões com categorias afins, urge-
se pela implementação de uma nova perspectiva, na qual a abordagem dos direitos não deve ser
simplificada ou mesmo reduzida sua complexidade. Continuar buscando uma essência do direito
pode implicar na deformação de perigosas consequências para os que sofrem a cada dia as
injustiças de uma ordem global baseada na desigualdade e na invisibilidade das causas profundas
de seu empobrecimento (FLORES, 2009, p. 42).

Tal visão só pode ser concebida a partir da abertura de ações comprometidas com perspectivas
descentralizadas. Nesse sentido, Joaquín Herrera Flores (2004) observa que

A visão complexa dos direitos aposta por situar-nos na periferia. Centro há, somente, um. O
que não coincida com ele é abandonado à marginalidade. Periferias, no entanto, existem
muitas. Na realidade, tudo é periferia, se aceitamos que não há nada puro e que tudo está
relacionado. Uma visão, a partir da periferia dos fenômenos, indica-nos que devemos
abandonar a percepção de “estar no entorno”, como se fôssemos algo afastado do que nos
rodeia e que deve ser dominado ou reduzido ao centro que inventamos. Não estamos no
entorno. “Somos o entorno”. Não podemos nos descrever sem descrever e entender o que é
e o que faz o entorno do qual formamos parte. No entanto, educaram-nos para nos
entendermos e “vivermos” como se fôssemos entes isolados de consciência e de ação, postos
em um mundo que não é o nosso, que nos é estranho, que é diferente do que somos e
fazemos e, por esta razão, podemos dominar e explorar (FLORES, in: WOLKMER, 2004, p.
367).

Assim, uma sociedade comprometida com relações democráticas de participação deve se propor
ao deslocamento por meio da constante e atenta crítica sobre as forças dominantes. Esta é a razão
que sugere uma leitura contextual da teoria do direito.

Se em tempos pretéritos a exclusão de determinadas categorias de sujeitos constituíam partes


integrantes das legislações, hoje em dia muitas legislações estão sendo revisitadas frente aos
embates dos movimentos feministas e reformistas. Isso vêm possibilitando a criação de previsões
de mecanismos para o combate às posturas de grupos dominantes.

Portanto, a teoria crítica de Herrera Flores é invocada aqui, visto que a teoria do direito parece
sugerir a construção de bases que indicam o alcance desejável, ou seja, a previsibilidade de
chegada. Segundo esse pressuposto, seria plenamente aceitável a implementação da leitura
filosófica crítica a partir de Herrera Flores. Consequentemente, o direito não estaria pronto,
muito menos as leis, vistos os contrastes, as descontinuidades e as fluidezes sociais observadas nas
complexidades e marcadores diversos e constantemente atuantes.

Em síntese, múltiplos contextos se alinham constantemente, produzindo e reproduzindo formas


de desigualdades, opressões e exclusões talvez mais sutis, mas não menos devastadoras que os
massacres ocorridos no passado longínquo.

O mercado necessita de uma ordem jurídica formalizada que garanta o bom funcionamento
dos direitos de propriedade. Essa ordem jurídica com todo seu fundamento ético e político,
é o que se universaliza a priori, deslocando, da análise, questões, tais como o poder, a
diversidade ou as desigualdades (FLORES, in: WOLKMER, 2004, p. 372)

 
75
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Por isso, repensar constantemente conceitos a partir de mecanismos de resistência e


descentralizações são primordiais. Cotidianamente são formadas novas relações de força no
campo social. Apontar para um universalismo pronto e acabado, uma neutralidade científica e
abstrata, incorporando isso para as noções e sistemáticas do direito, é ocultar que ainda há muito
a ser feito pelo alcance de fato do ideal de igualdade previsto no ordenamento jurídico, bem
como a efetividade da participação democrática de todos e todas. Dessa forma, a diversidade, em
suas múltiplas nuances, requer um direito criado por pessoas reais e para pessoas reais.

Por isso, nossa visão complexa dos direitos aposta por uma racionalidade de resistência. Uma
racionalidade que não nega que é possível chegar a uma síntese universal das diferentes
opções relativas aos direitos. E tampouco descarta a virtualidade das lutas pelo
reconhecimento das diferenças étnicas ou de gênero. O que negamos é considerar o universal
como um ponto de partida ou um campo de desencontros. Ao universal há que se chegar –
universalismo de chegada ou de confluência (FLORES, in: WOLKMER, 2004, p. 374-375)

Logo, por tudo exposto, acredita-se que resistências e reflexões críticas à teoria do direito são
forças potencialmente transformadoras na abertura de espaços contínuos de democracia. Ora,
“se a universalidade não se impõe, a diferença não se inibe; sai à luz” (FLORES, in: WOLKMER,
2004, p. 375). Isso resta comprovado no tocante às diversas reformas e conquistas, por exemplo,
dos movimentos feministas.

Considerações finais

O artigo inicia com breves trechos de Hebert Hart para tentar explicar a justificativa de uma
arquitetura teórica do direito. Nesse sentido, acredita-se relevante a existência de bases que
impulsionaram a proliferação de discussões e reflexões cada vez mais interessadas no
entendimento do direito em suas múltiplas formas.

Em seguida, entraram as enriquecedoras discussões entre Joseph Raz, Robert Alexy e Eugenio
Bulygin. Todos eles, com os mesmos propósitos, mas sob pontos de vista diferentes, também
buscaram uma melhor compreensão da teoria do direito.

A posição de Joseph Raz parece sedimentada na ideia de que o conceito de direito é local, mas a
teoria não. Desse modo, para o autor, a teoria do direito possui aplicação universal, e, na medida
do êxito que alcança, provê uma explicação da natureza do direito, onde quer e quando quer que
se encontre.

Como dito anteriormente, não se nega aqui a importância que as fórmulas criadas para sustentar
os pilares teóricos tradicionais do direito tiveram.

Contudo, muitas críticas foram direcionadas às teorias formuladas. Algumas críticas foram mais
radicais, com propostas reformadoras intrínsecas. Essas, muitas vezes restavam sem sucesso.
Outras críticas, menos radicais, foram mais frutíferas e conseguiram promover reformas pontuais
e graduais.

 
76
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Muitas das críticas que tangenciaram a tradicional teoria do direito foram traçadas por forças de
movimentos feministas situados historicamente. Outras reformas ainda se constituem,
predominantemente, a partir de relações periféricas e de oposição às relações de poder de grupos
dominantes.

Mas, a teoria do direito parece estar sempre inacabada diante da perspectiva crítica. Essa é a razão
que invoca frentes contra as constantes colonizações hegemônicas que se constituem, sejam no
plano prático, sejam no plano simbólico.

Por isso, a proposta de Joaquín Herrera Flores, parece ser justificável. Nesse sentido, repensar
constantemente conceitos a partir de mecanismos de resistência e descentralizações são
primordiais, visto as constantes formações de relações de força no campo social. Daí, apostar na
complexidade do direito sugere também apostar em uma visão que se situe sempre na periferia
das relações de poder. Esse propósito abre espaço para um “universalismo de chegada”, que está
progressivamente se remontando a partir dos contextos e relações em termos democráticos de
participação.

Referências

BUTLER, Judith. (2003). Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira.

FACCHI, Alessandra. (2005). El pensamento feminista sobre el Derecho: um recorrido desde


Carol Gilligan a Tove Stang Dahl. In: ACADEMIA. Revista sobre enseñanza del Derecho de
Buenos Aires. Ano 3, nº 6, p. 27-47.

FLORES, Joaquín Herrera. (2009) A (Re)invenção dos Direitos Humanos. Florianópolis:


Fundação Boiteux.

________________. (2004). Direitos Humanos, Interculturalidade e Racionalidade da


Resistência. Traduzido por Carol Proner. Cap. 11, in: WOLKMER, Antonio Carlos. Org.
Direitos humanos e filosofia jurídica na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris.

HART, Hebert L. A. (2010) Ensaios sobre teoria do direito e filosofia. Tradução de José Garcez
Ghirardi, Lenita Maria Rimoli Esteves; revisão técnica de Ronaldo Porto Macedo Junior,
Leonardo Gomes Penteado Rosa. Rio de Janeiro: Elsevier.

HUNT, Lynn. (2009). A Invenção dos Direitos Humanos: Uma história. Tradução de Rosaura
Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras.

INGRAM, David. (2010). Filosofia do direito: conceitos-chave em filosofia. Tradução de José


Alexandre Durry Guerzoni; consultoria, supervisão e revisão técnica de Mateus Baldin. Porto
Alegre: Artmed. Capítulo 5, p. 157-175.

 
77
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

PELÚCIO, Larissa. (2015) Teoria Queer/Estudos Queer. In: CARRARA, Sérgio...[et al]. (Org.).
Curso de Especialização em Gênero e Sexualidade. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília, DF:
Secretaria Espacial de Políticas para as Mulheres.

RAZ, Joseph.; ALEXY, Robert.; BULYGIN, Eugenio. (2013). Uma discussão sobre a teoria do
direito. Estudos preliminares de Juliano S. de A. Maranhão, Hernán Bouvier, Paula Gaido e
Rodrigo Sánchez Brigido. Tradução Sheila Stolz.São Paulo: Marcial Pons.

WEEKS, Jeffrey. (2000). O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo
educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica.

 
78
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

VEJEZ MASCULINA Y CALIDAD DE VIDA


Rosa María Flores Martínez e Sagrario Garay Villegas
1) Estudiante del programa de Doctorado, en el Posgrado de la Facultad de Trabajo Social y Desarrollo
Humano de la UANL
E-mail: rosamariaflores1@gmail.com
2) Profesora-Investigadora de tiempo completo, en el Posgrado de la Facultad de Trabajo Social y
Desarrollo Humano de la UANL
E-mail: sgarayv@gmail.com

Resumen

El objetivo de este documento es presentar un análisis de la calidad de vida de los hombres adultos
mayores, a partir de los entornos físicos y sociales. Su relevancia se sustenta básicamente en dos
puntos: por un lado, debido a la falta de desarrollo de esta línea de investigación (vejez), dentro
del estudio de las masculinidades; por otro lado, dado el inminente proceso de envejecimiento
que se presenta en México.

El estudio de la calidad de vida en la vejez masculina puede incidir en la formulación de políticas


sociales que contribuyan en el bienestar de este grupo poblacional. En este sentido, se plasman
algunas reflexiones en torno al proceso de envejecimiento en términos demográficos,
diferenciando a partir del sexo de las personas adultas mayores. En seguida, se realizan algunas
precisiones teórico-conceptuales, enfocadas en el tema de las masculinidades y la calidad de vida
en la vejez. El estudio es de corte cuantitativo, para el análisis se retoman datos de la Encuesta
sobre Condiciones de Vida de las Personas Adultas Mayores en México, 2016.

A partir de la información obtenida, se esboza el análisis de los resultados, en donde se advierte


que los varones al ser adultos mayores, enfrentan vulnerabilidad, especialmente respecto a su
entorno social, lo cual influye en el deterioro de la calidad de vida. Finalmente, el trabajo concluye
con algunas reflexiones y propuestas analíticas que contemplan dar visibilidad a la población
adulta mayor masculina, así como las condiciones en torno a la calidad de vida que este grupo
social presenta.

 
79
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Proceso de envejecimiento demográfico en México


A nivel global, el envejecimiento poblacional17 es un fenómeno que ha marcado el siglo XXI. De
acuerdo con las Naciones Unidas (2003), este proceso demográfico sucede de manera vertiginosa,
especialmente en los países en desarrollo y en algunos países con economías en transición. En
términos generales, el envejecimiento de la población es un proceso heterogéneo, caracterizado
por su diversidad, que acontece de forma distinta según las características y condiciones de cada
región.
En México, Partida (2005) señala que el proceso de envejecimiento demográfico está sucediendo
a un ritmo acelerado, en comparación con otras regiones más desarrolladas. Al respecto, el
Instituto Nacional de Estadística y Geografía (INEGI, 2015) informa, con base en la Encuesta
Intercensal 2015 que, en el país, en el año 2015, el número de personas de 65 años y más
representó en términos absolutos 8,546,566 personas, lo que en términos relativos equivale al
7.15% de la población total, de los cuales 54.0% son mujeres, mientras que 46.0% son varones.
De acuerdo con estimaciones del Consejo Nacional de Población (CONAPO, 2015), en el país,
para el año 2017, la esperanza de vida en promedio para la población es de 75.34 años y se estima
que para el año 2050 ésta será de casi los 80 años (79.4 años); cabe señalar que la esperanza de
vida es más elevada en el caso de las mujeres (77.9 años), en comparación con los hombres (72.9
años), lo cual se prevé sea una tendencia en las próximas décadas. Pese a que la esperanza de vida
es más elevada para las mujeres, ellas viven esos años adicionales con mayor discapacidad y peores
condiciones de salud que los varones (Gutiérrez, Agudelo, Giraldo y Medina, 2016).
El envejecimiento poblacional de hombres y mujeres, así como el aumento de la esperanza de
vida desde el nacimiento, representan logros importantes, no obstante, al mismo tiempo traen
consigo importantes desafíos, principalmente en términos políticos, económicos y sociales; tanto
para las personas adultas mayores, como para las familias, la sociedad y el Estado, no por el
incremento en términos absolutos y relativos de este grupo etario, sino por la capacidad para
abordar y hacer frente a los desafíos que conlleva este proceso, que forma parte de la realidad
cotidiana que se vive en de diversos países, incluido México.

Masculinidades y vejez
Las relaciones de género en el curso de la vida no son estáticas, al contrario, en éstas se producen
diversas transiciones que, en conjunto con las normas basadas en la edad y los cambios
fisiológicos, inciden en el modo de interpretar las funciones asignadas a los géneros (Ginn y
Arber, 1996, p. 17). De esta forma, tal y como señalan las autoras, “el género y el envejecimiento
están estrechamente conectados con la vida social, de modo que cada uno sólo puede entenderse
en relación con el otro”.

17
 “Se considera que una población está envejeciendo cuando las cantidades de personas mayores van constituyendo proporciones cada vez 
mayores del total de la población” (UNFPA‐ HelpAge International, 2012, p. 3). 

 
80
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Conforme transcurren los años, las personas están constantemente influidas por el contexto
social, económico, cultural y político, de igual manera, por el género y las relaciones que se
producen entre los géneros en transcurso de la vida, así “la conexión entre género y
envejecimiento surge tanto del cambio social propio del paso del tiempo como de los
acontecimientos relacionados con la edad que suceden a lo largo de la vida” (Ginn y Arber, 1996,
p. 17).
El género se define como una categoría dinámica construida socialmente, que tiene como
fundamento, por un lado, las diferencias sexuales biológicas y, por otro lado, el contexto y el
ambiente social que determinan las expresiones de los comportamientos y los roles sociales
atribuidos a hombres y mujeres (Careaga, 1996 citado en Hardy y Jiménez, 2001).
Entre las líneas de pensamiento que realizan estudios sobres masculinidad, existe una que alude
a que la masculinidad construida, a partir de un hecho arbitrario, la genitalidad; este imaginario
es interiorizado por los hombres, quienes a su vez lo reproducen; así, luego de la determinación
anatómica del sexo, el proceso de socialización juega un papel fundamental, pues en este proceso
se fomenta en los varones comportamientos atribuidos a lo masculino y, al mismo tiempo, se le
reprimen otros (Menjívar, 2010). Para Hardy y Jiménez (2001), la masculinidad es una
construcción social, que al igual que la feminidad, comienza a edificarse incluso antes del
nacimiento y continua a lo largo de la vida.
La masculinidad adquiere un nuevo sentido en la vejez, el varón a lo largo de su vida ha sido
socializado bajo ciertos roles, fuertemente vinculados con nociones de poder, fortaleza,
productividad y virilidad. Sin embargo, en la vejez, los hombres enfrentan “un dejar de ser”, en
otras palabras, viven un proceso en el que sufren una devaluación social, en donde cada vez se le
toma menos en cuenta (Ramos, 2014). Además, está etapa coincide con el proceso de jubilación,
lo cual repercute en la disminución de ingresos y en la pérdida del estatus de proveedor principal.

Calidad de vida en la vejez masculina


El tema de la vejez remite al abordaje de éste no sólo en términos físicos, sino también sociales y
culturales. De acuerdo con Fericgla (2002), el concepto de vejez es una construcción sociocultural,
en la que intervienen diversos elementos relacionados con la salud, la situación económica, la
situación familiar, la capacidad de automantenimiento y la funcionalidad.
En este sentido, es preciso señalar que no todas las personas viven la vejez de la misma forma; el
funcionamiento y la calidad de vida que se presentan durante esta etapa, se encuentran
vinculados con las omisiones y acciones que cada una de las personas ha realizado durante el
transcurso de los años (González-Celis, 2010).
Para Fernández- Ballesteros (1997), la calidad de vida en la vejez es un tema complejo y
multifactorial, que comprende distintas dimensiones –objetivas y subjetivas–, igualmente se
encuentra marcada por el género y la edad, así como el estrato socioeconómico, el nivel de
estudios, el estado de salud, la funcionalidad y las políticas de bienestar implementadas por el
Estado.

 
81
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Una de las dimensiones que influye en la calidad de vida de la población, consiste en contar con
entornos físicos y sociales emancipadores, propicios y favorables, que den respuesta a las
oportunidades y retos que implica el envejecimiento poblacional y procuren condiciones de
bienestar para las personas adultas mayores (Naciones Unidas, 2003).
Dentro de los entornos sociales, “las redes sociales de apoyo son estrategias que utilizan las
personas para obtener o mantener ciertos beneficios en su calidad de vida” (Montes de Oca, 2004,
p. 27). Éstas se han encargado de dar respuesta a las necesidades de las personas adultas mayores,
desde los apoyos más básicos, hasta brindar ayuda de tipo económico e incluso emocional
(CELADE-CEPAL, 2006). Cabe señalar que hoy en día, existe un segmento importante de la
población que “no tiene acceso a mecanismos institucionales para satisfacer sus necesidades”, por
lo que depende, en gran medida, de la familia y de las redes sociales de apoyo, para poder cubrir
sus requerimientos (Guzmán, Huenchuan y Montes de Oca, 2003, p. 39).
Otro aspecto importante que forma parte del entorno físico, es la vivienda; este espacio constituye
un elemento clave que incide en la calidad de vida de las personas adultas mayores. Además de
ser un factor de apoyo y seguridad económica en la vejez, pues podría ser un activo que genere el
intercambio de apoyo con otros miembros de la familia, especialmente con los hijos (Garay,
Montes de Oca y Hebrero, 2015). Según la CELADE-CEPAL (2006, p. 145), “el acceso a una
vivienda adecuada constituye una exigencia imprescindible para una plena satisfacción de las
necesidades humanas”.
La calidad de vida de la población masculina, al llegar a la vejez, cambia. Se presentan una serie
de transformaciones físicas, familiares, sociales y económicas. Aquel hombre que durante el
transcurso de su vida cumplió con una serie de roles asignados y socializados para los varones;
ahora, en la vejez, enfrenta nuevas circunstancias, entre ellas, el deterioro del cuerpo, la aparición
de enfermedades, la etapa de la jubilación y el regreso a casa, entre otras.
Los entornos físicos y sociales que están a su alrededor, en ocasiones le suelen ser ajenos, pues
ahora ve con otros ojos a la familia, a las redes de apoyo, incluso su propia imagen es diferente.
Ahora, en su casa, ya le cuesta un poco más subir los escalones o caminar a paso ligero por los
espacios públicos que existen en su comunidad.

Método
La presente investigación analiza datos de la Encuesta sobre Condiciones de Vida de las Personas
Adultas Mayores en México, 2016. Dicha investigación es de corte cuantitativo, con un diseño
transversal, no experimental y ex post facto. Con una muestra constituida por 1152 casos, calculada
en función de dos estratos: urbano y rural. Las entidades federativas de levantamiento de la
información fueron las siguientes: Nuevo León, Jalisco y la Ciudad de México.
Para fines del presente estudio, de la muestra general (n=1152) se seleccionó únicamente a las
personas adultas mayores varones, dado que se pretende profundizar, particularmente en la
calidad de vida de los hombres adultos mayores, a partir de los entornos físicos y sociales. Así,
finalmente la muestra total de este análisis quedó conformada por n= 640 casos, mismos que
serán considerados como la totalidad de la población sujeto de estudio.

 
82
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Análisis de los resultados


La calidad de vida de los hombres adultos mayores está relacionada con diversos aspectos, los
entornos propicios y favorables son parte esencial de estos elementos. Por tanto, en este
documento se asume la relevancia de analizar las condiciones de la calidad de vida en la vejez
masculina a partir del entorno social y físico, particularmente ahondando en las redes de apoyo
social y las condiciones de la vivienda en la que residen las personas entrevistadas.
De acuerdo con los datos del estudio, la edad de los hombres adultos mayores entrevistados oscila
entre 60 y 95 años, con una media de 69.3 años y una desviación estándar de 6.6 años. Respecto
a su estado civil, 58.8% de la población se encuentran casados o unidos, en tanto 26.5% están
viudos. En relación con su escolaridad, la mayoría (28.4%) cuenta con primaria completa,
mientras que sólo 3.0% refirió que tiene estudios profesionales y 12.5% no cursó ningún grado
escolar.
De lo anterior, cabe destacar un aspecto pocas veces toma relevancia dentro de los estudios de
vejez y masculinidad, el estado civil. En este estudio, más de la mitad de la población se encuentra
casado o unido, lo cual quiere decir que no vive su vejez en soledad. Según Askham (1996), el
matrimonio es una de las relaciones básicas de las personas adultas mayores (especialmente
posterior a la jubilación), de forma particular para los hombres.
Scott y Wenger (1996) sostienen que la diferencia entre la esperanza de vida de hombres y
mujeres, influye en el estado civil de las personas adultas mayores; la menor esperanza de vida en
los varones, aunado con su tendencia a casarse con mujeres menores que ellos y el hecho de que
se vuelvan a casar (tras presentarse la viudez), incide en que exista mayor probabilidad de que
sigan casados en la vejez, en tanto, en el caso de las mujeres es más factible que enviuden y
permanezcan así hasta su muerte.
Parte importante de los entornos sociales en la vejez, son las redes de apoyo social. En esta
investigación se observa que, al preguntar a los entrevistados, en el último año ¿ha recibido algún
tipo de apoyo por parte de su familia? 66.4% manifestó que sí lo ha recibido por parte de algún
familiar, oscilando entre 1 y 8 el número de familiares que brindan el apoyo, aunque cabe decir
que es más frecuente que sea sólo una persona quien provea el apoyo (30.6%), generalmente son
los hijos (hombres y mujeres). De la misma manera, al cuestionar, en el último año ¿ha recibido
apoyo de personas no familiares? Sólo 5.6% contestó que sí ha recibido apoyo por parte de
personas no familiares, en su mayoría han sido los vecinos quienes brindan el apoyo.
Durante la vejez las redes de apoyo familiar juegan un papel crucial, para hombres y mujeres, pues
es en esta etapa cuando comienzan a presentarse diversas situaciones vinculadas con la aparición
de enfermedades, dependencia, fragilidad y discapacidad, por lo que, las personas en la gran parte
de los casos comienzan a requerir ayuda, no sólo en actividades de la vida diaria, sino también
apoyo económico e incluso afectivo.
Scott y Wenger (1996) refieren que conforme las personas envejecen, sus redes de apoyo se
transforman, a su vez, estos cambios se encuentran marcados por el género; en el caso de los
hombres, el matrimonio les resulta ser más beneficioso, pues gozan de compañía y bienestar a
partir de su cónyuge, además dada la menor esperanza de vida de los varones, es más probable
que durante su vejez le sobrevivan familiares cercanos, es decir, enfrenten la vejez con menor

 
83
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

soledad, en comparación con las mujeres. Para Ramos (2014), las relaciones familiares que los
varones adultos mayores establecen, con otros miembros del hogar, son vitales, ya que éstas
contribuyen en el bienestar y calidad de vida de esta población, o bien, cuando no se cuenta con
ello, en su deterioro.
Al distinguir a partir del género, se ha encontrado evidencia que muestra que las mujeres en la
vejez, mantienen redes de apoyo más extensas, basadas no sólo en la familia, sino también en
amigas y vecinas; mientras que los hombres suelen estar conformadas principalmente por sus
hijos e hijas (cuando los hay) y sus vecinos (Corin, 1982 citado en Scott y Wenger, 1996). Lo
anterior, concuerda con lo encontrado en presente investigación, tanto las hijas como los hijos
son los principales proveedores de apoyo.
Por lo que respecta a las redes de apoyo fuera del núcleo familiar, aunque en el estudio no resultó
ser una proporción elevada, estas redes representan un grupo de apoyo complementario e
importante que, de acuerdo con lo encontrado en el estudio, apoyan a los hombres adultos
mayores, principalmente proporcionado comida o despensa.
En cuanto al tamaño de la red (entre familiares y no familiares), se encontró que el número de
personas que brindan apoyo oscila de 1 a 8 personas, con una media de 1.8 y una desviación
estándar de 1.1, en otras palabras, tiende a ser reducida. En cuanto a la distancia, al preguntar
¿en dónde viven los familiares que dan apoyo y que no viven con usted? La mayoría contestó que
viven en otra colonia, pero en el mismo municipio (20.9%), mostrando así, que cuentan con una
red de apoyo relativamente cercana a su vivienda.
En términos generales, se advierte que, para los hombres adultos mayores, las redes de apoyo
social desempeñan un papel importante en la etapa de la vejez. En este sentido, Montes de Oca
y Macedo (2013, p. 175) manifiestan que: “las redes sociales conforman mecanismos que
procuran aminorar los efectos negativos de contextos en desventaja, que afectan de manera
diferencial a grupos de la población”.
De igual manera, inciden en mejorar la calidad de vida de la población; por lo que, contar con
redes de apoyo social durante la vejez, que procuren apoyo (tanto formal como informal), favorece
el bienestar y la calidad de vida de los hombres adultos mayores, no sólo en términos de salud,
sino también afectivos y emocionales.
Ahora bien, por lo que corresponde al entorno físico de los hombres adultos mayores, se encontró
evidencia empírica que refleja parte de las condiciones físicas y materiales de la vivienda de los
entrevistados, que es el espacio en el desarrollan su vida cotidiana. El análisis se realiza
diferenciando entre la zona de residencia urbana y la zona rural, a partir de esta distinción se
describen las características de la vivienda, así como el acceso a servicios públicos y el
equipamiento con el que cuentan.
Uno de los principales aspectos relacionados con la dimensión de la calidad habitacional de las
personas mayores, se relaciona con las condiciones materiales de las viviendas (CELADE-CEPAL,
2006). Para los hombres adultos mayores contar con una vivienda propia genera mayor bienestar,
pues tienen un patrimonio que al menos les asegura un espacio para vivir.

 
84
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

En la investigación se encontró que existe una proporción elevada de hombres adultos mayores
que cuenta con vivienda propia, tanto en la zona urbana (82.9%) como en la zona rural (76.4%).
No obstante, existen autores (Vázquez-Honorato y Salazar-Martínez, 2010) que advierten, pese a
que existe cierta generalidad en el hecho de que los adultos mayores sean propietarios de una
vivienda, eso no es garantía de que este espacio cuente con las condiciones de habitabilidad,
seguridad y accesibilidad que se requieren para favorecer su calidad de vida.
Así, de acuerdo con los datos obtenidos, en la zona urbana se presentan mejores condiciones
materiales de las viviendas, en comparación con la zona rural. En la primera, las paredes se
encuentran construidas, en más del 90.0% de los casos, por ladrillo, block o tabique; al igual, el
techo está hecho de losa de concreto en la mayoría de las viviendas; en cuanto al material del
piso, si bien 52.6% de la población tiene piso de cemento o firme, 45.2% lo tiene de madera,
mosaico u otros recubrimientos.
En tanto, en la zona rural, aunque las viviendas están construidas con ladrillo o block (79.5%),
se observa que aún se encuentran casas construidas de adobe, con techos de lámina metálica o
de cartón (15.7%) y, en su mayoría, con pisos de cemento o firme 65.5%). En estas zonas, el
entorno físico puede ser más hostil, dado que existen mayores condiciones de pobreza y menos
recursos.

Cuadro 1. Condiciones materiales de la vivienda de los hombres adultos mayores habitantes de


contextos urbanos y rurales de Nuevo León, Jalisco y la Ciudad de México
Materiales de la vivienda Zona urbana Zona rural
Material de paredes
Lámina de cartón, asbesto o metálica 2.1% 2.3%
Adobe 6.0 15.0
Madera 0.5% 1.4%
Tabique, ladrillo, block, piedra, cantera, 91.4% 79.5%
cemento o concreto
Sillar 0.0% 1.8%
Material de techo
Lámina de cartón, asbesto o metálica 5.7% 15.7%
Madera 0.7% 5.0 %
Teja 2.1% 12.3%
Losa de concreto, tabique, ladrillo o terrado 91.4% 67.3%
con viguería
Material de piso
Tierra 2.1% 6.4%
Cemento o firme 52.6% 65.5%
Madera, mosaico u otros recubrimientos 45.2% 28.2%
Fuente: elaboración propia a partir de datos de la Encuesta sobre Condiciones de Vida de las
Personas Adultas Mayores en México, 2016.

 
85
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

En un estudio realizado sobre las condiciones de las viviendas, de la población adulta mayor que
habita en algunos países de América Latina, se encontró que existen condiciones disimiles y que
aún persisten rezagos que afectan la calidad de vida de las personas envejecidas; por ejemplo, el
caso de Uruguay destacó por presentar las mejores condiciones de vivienda (en comparación con
los otros países), al contar en su mayoría con piso de mosaico, paredes de ladrillo y techos de
concreto; sin embargo, en países como Ecuador y México existe una proporción importante de
viviendas que cuentan con piso de tierra, 9.5% y 12.3% respectivamente, dicho porcentaje es
superior al presentado en otros países (Garay, Montes de Oca y Hebrero, 2015).

Por lo que respecta a la disposición de servicios, en el estudio se observó lo siguiente: en la zona


urbana, los entrevistados manifestaron que disponen del servicio de agua dentro de su vivienda
sólo en 84.0% de los casos, respecto al acceso del drenaje conectado a la red pública, éste se
encuentra cubierto prácticamente en la mayoría de los casos, al igual que el servicio de electricidad
y la disponibilidad de gas el interior de la vivienda.

Cuadro 2. Disposición de servicios en la vivienda de los hombres adultos mayores habitantes de


contextos urbanos y rurales de Nuevo León, Jalisco y la Ciudad de México
Disposición de servicios Zona urbana Zona rural
La vivienda dispone de agua
Dentro de la vivienda 84.0% 74.5%
Fuera de la vivienda, pero dentro del terreno 7.4% 18.6%
Agua de llave pública 1.0% 0.9%
Agua que acarrean de otra vivienda 0.2% 0.5%
Agua de pipa 7.4% 4.6%
Agua de pozo 0.0 0.9
La vivienda dispone de drenaje o desagüe de agua
sucia
A la red pública 97.6% 91.8
A una fose séptica 1.7% 2.7%
A una tubería que va a dar a una barranca o río 0.4% 0.5%
No tiene drenaje 0.2% 5.0%
La vivienda dispone de electricidad
Sí 100.0% 98.6%
No 0.0% 1.4%
La vivienda dispone de gas para cocinar
Sí 99.3% 95.0%
No 0.7% 5.0%
Fuente: elaboración propia a partir de datos de la Encuesta sobre Condiciones de Vida de las
Personas Adultas Mayores en México, 2016.

Por lo que respecta a la zona rural, se muestra que el acceso al servicio de agua dentro de la
vivienda es menor en comparación con la zona urbana (74.5%), para una proporción importante
de la población (18.6%), aunque tienen el acceso les implica trasladarla desde fuera de la vivienda;
en relación al drenaje, si bien la mayor parte de la población cuenta con este servicio, 5.0% no
tiene drenaje y 2.7% utiliza fosa séptica; finalmente, la disposición de electricidad y gas para

 
86
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

cocinar, pese a que la mayoría cuenta con ello, la proporción es menor en las comunidades rules
que en las localidades urbanas.

A partir de los datos mostrados en el cuadro 2, se advierte que los hombres adultos mayores
entrevistados en la investigación, habitan en viviendas que presentan rezagos, especialmente en
el caso del acceso al agua potable dentro de las viviendas, lo cual es más notorio en las zonas
rurales. Al momento de realizar trabajo de campo, las personas expresaron que el agua no llega
con suficiente presión y no alcanza a llegar hasta el interior de la vivienda, además es común que
los pozos de agua presenten fallas y las autoridades no realizan acciones para resolver el problema,
por lo que en ocasiones duran días sin tener agua.

Bajo este contexto, es preciso señalar que, contar con una vivienda segura y propicia que dé
respuesta a las necesidades de la población adulta mayor, implica tener cubiertos de manera
universal los servicios básicos. Asimismo, considerar las condiciones materiales y la adecuación
habitacional, que reconozcan e integren la diversidad de necesidades y preferencias de las
personas mayores (CELADE-CEPAL, 2006).

Reflexiones finales

Desde la política social, la calidad de vida de los hombres adultos mayores debe considerarse
como un aspecto prioritario de intervención social por parte del Estado. En México, las acciones
que se han realizado han sido principalmente de carácter asistencialista, dejando de forma casi
exclusiva a la familia, la responsabilidad satisfacer la mayor parte de las necesidades de la
población adulta mayor.

En la vejez masculina, la familia es la principal red de apoyo social, que brinda cuidados, ayuda y
compañía a los varones, siendo principalmente los hijos (hombres y mujeres) quienes
desempeñan este rol, sin embargo, esta red es reducida, generalmente es sólo una persona quien
desempeña está labor. Respecto a las redes no familiares, éstas tienden a ser escasas, lo cual
pudiera estar relacionado con dos aspectos, por un lado, debido a las actividades desempeñas por
los hombres en el transcurso de su vida, centradas especialmente en el trabajo; y por otro lado,
por la menor esperanza de vida en los varones.

Contar con redes de apoyo en la vejez (familiares y no familiares) influye directamente en la


calidad de vida de la población, dado que generan bienestar en las personas adultas mayores, al
mismo tiempo que contribuye en la creación en vínculos en donde las personas envejecidas no
sólo son receptores, sino que también brindan apoyos e intercambios, en la medida de sus
posibilidades.

Con respecto al entorno físico, la vivienda es un espacio vital en el que los hombres adultos
mayores desarrollan su vida cotidiana, especialmente tras el proceso de la jubilación. En el estudio
se observó que existen diferencias entre las condiciones de las viviendas de la zona urbana y las
de la zona rural, en la primera, se presentan condiciones más adecuadas, particularmente en el
material de las viviendas y en el acceso a servicios; mientras que en las comunidades rurales,

 
87
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

enfrentan mayores rezagos, lo cual evidencia la carencia de políticas integrales que garanticen los
mínimos necesarios para poder lograr una calidad de vida más saludable y con mejores
condiciones.

Referencias bibliográficas

Ana Luisa González-Celis. «Calidad de vida en el adulto mayor.» En Envejecimiento humano: una
visión transdisciplinaria, de Luis Miguel Gutiérrez y Héctor Gutierrez, 365-378. México, D.F.:
Instituto Nacional de Geriatría, 2010.

Anne Scott y Clare Wenger . «Género y redes de apoyo social en la vejez.» En Relación entre géenro
y envejecimiento , de Sara Arber y Jay Ginn, 221-240. Madrid: Narcea, 1996.

CELADE-CEPAL. Manual sobre indicadores de calid de vida ne la vejez . Santiago de Chile: Naciones
Unidas, 2006.

CONAPO. «República Mexicana: indicadores demográficos 2010-2050.» 2015.


http://www.conapo.gob.mx/es/CONAPO/Proyecciones_Datos (último acceso: 14 de Enero de
2017).

Ellen Hardy y Ana Luisa Jiménez. « Masculinidad y género.» Rev. Cubana Salud Pública, 2001: 77-
88.

INEGI. «Encuesta Intercensal 2015.» 2015.


http://www.inegi.org.mx/est/contenidos/Proyectos/encuestas/hogares/especiales/ei2015/
(último acceso: 7 de Octubre de 2016).

Janet Askham. «Vida matrimonial de las personas mayores.» En Relación entre género y
envejecimiento , de Sara Arber y Jay Ginn, 127-140. Madrid: Narcea , 1996.

Jay Ginn, y Sara Arber. «“Mera conexión”. Relaciones de género y envejecimiento». En Relación
entre de Género y Envejecimiento, de Sara Arber y Jay Ginn, 17-34. Madrid: Narcea , 1996.

Josep Maria Fericgla. Envejecer. Una antropologia de la ancianidad. Barcelona : Herder , 2002.

Luis Arturo Vázquez-Honorato y Bertha Salazar-Martínez. «Arquitectura, vejez y calidad de vida.


Satisfacción residencial y bienestar social.» Journal of Behavior, Health & Social Issues, 2010: 57-70.

Luis Miguel Gutiérrez , Marcela Agudelo, Liliana Giraldo y Raúl Hernán Medina. Hechos y desafíos
para un envejecimiento saludable en México. México: Instituto Nacional de Geriatría, 2016.

Mauricio Menjívar. La masculinidad a debate. Costa Rica: FLACSO, 2010.

Miguel Guzmán, Sandra Huenchuan y Veronica Montes de Oca. «Redes de apoyo social de las
personas mayores: marco conceptual.» Notas de Población, 2003: 35-70.

 
88
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Miguel Ángel Ramos. «Masculinidad en el envejecimiento: vivencias de la vejez de varones de una


zona popular de Lima.» En ¿Y si hablas de…sde tu ser hombre? Violencia, paternidad, homoerotismo y
envejecimiento en la experincia de algunos varones, de Juan Guillermo Figueroa y Alejandra Salguero,
429-460. México, D.F: El Colegio de México, 2014.

Naciones Unidas. Declaración Política y Plan de Acción Internacional de Madrid sobre el Envejecimiento.
Nueva York: Naciones Unidas, 2003.

Rocío Fernández-Ballesteros. «Calidad de vida en la vejez: condiciones diferenciales». Anuario de


Psicología, 1997: 89-104.

Sagrario Garay, Veronica Montes de Oca, y Mirna Herbrero. « Los entornos y el envejecimiento
en Iberoamérica: análisis a partir de las condiciones de vivienda.» Notas de Población, 2015: 109-
125.

UNFPA- HelpAge International. Envejecimiento en el siglo XXI: una celebración y un desafío. Nueva
York: Fondo de Población de Naciones Unidas (UNFPA) y HelpAge International, 2012.

Veronica Montes de Oca. Redes comunitarias, género y envejecimiento. México. México: Colección
Cuadernos de Investigación, Instituto de Investigaciones Sociales-UNAM, 2004.

Veronica Montes de Oca y Lilia Macedo. «Redes sociales como determinantes de la salud .» 2013.
Montes de Oca, V. y Macedo, L. (2013). Redes sociales como determina
http://www.inger.gob.mx/bibliotecageriatria/acervo/pdf/envejecimiento_y_salud_11.pdf
(último acceso: 30 de Octubre de 2016).

Virgilio Partida. « La transición demográfica y el proceso de envejecimiento en México» Papeles de


población, 2005: 9-27.

 
89
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

ANÁLISIS DE LAS ACCIONES DE LA MESA DE TRABAJO


SOBRE MASCULINIDADES Y GÉNERO, EN EL MARCO DEL
TERCER PLAN DE IGUALDAD DE GÉNERO DE LA
INTENDENCIA DE MONTEVIDEO, URUGUAY 2014-2017.
Noelia Belén
Mag. Psi. Vinculación institucional?
E-mail: belenoe17@gmail.com

Introducción

El presente trabajo es producto de la investigación que se focalizó en el análisis de las acciones de


la Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y Género (MTMG) colectivo de varones y mujeres, que
fue coordinado por la Secretaría de la Mujer (SM), ahora División Asesoría para la Igualdad de
Género de la Intendencia de Montevideo, Uruguay, durante el período 2011-2016.

La Mesa por iniciativa de la entonces Secretaría surge en el año 2011 luego del desarrollo del
Cuarto Coloquio de Estudio sobre Varones y Masculinidades que tuvo lugar en la ciudad de
Montevideo, Uruguay.

Este coloquio promovió la creación de un espacio de reflexión sobre las masculinidades,


invitando a diferentes actores de instituciones públicas, privadas, académicas y de la sociedad
civil.

Este colectivo, que tiene como objetivos: “dar participación a varones antimachismo” (aunque no
convoca sólo a varones) e “incorporar la perspectiva de los estudios sobre masculinidades a las
agendas de género”(ROCHA,2015), se encuentra incluido en el Tercer Plan de Igualdad de
Género (TPIG) 2014-2017, de la División Asesoría para la Igualdad de Género del gobierno
departamental de Montevideo.

La inclusión de los varones y la problemática de las masculinidades en la igualdad de género,


fueron entendidas como un componente fundamental para este Plan de Igualdad (PI). Se parte
de la premisa de que una mayor participación de los varones en las acciones que promuevan la
igualdad entre géneros, es fundamental para el cambio de actitudes, comportamientos y valores.

 
90
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Considerando que la promoción de igualdad de género debe involucrar a los varones, y no solo
debe ser promovida por mujeres.

Se considerara un avance, que desde el Estado exista la intención de transversalizar las acciones
estatales desde una perspectiva de género con acciones concretas que incluyan las masculinidades
no hegemónicas, en esta perspectiva que continua problematizando el sistema patriarcal e intenta
alejarse del modelo hegemónico que se promueve.

Consolidar espacios de reflexión como este colectivo, incentiva la participación de varones que
no se sienten identificados con los mandatos que la hegemonía dictamina, sino que por el
contrario intenta cotidianamente, de forma individual y/o colectiva, cuestionar este modelo y el
ejercicio del rol que no los incluye.

Legitimar estos espacios es necesario para la materialización de las acciones, que el Estado
mediante sus diferentes entes gubernamentales establezca.

El involucramiento de varones en la promoción de Igualdad de Género: la importancia del


colectivo.

En esta investigación se propuso un análisis de las acciones de la Mesa de Trabajo sobre


Masculinidades y Género coordinada por la Secretaría para la Igualdad de Género (anteriormente
Secretaría de la Mujer, Resolución N° 1039/16) y actual División Asesoría para la Igualdad de
Género18 (DAIG) de la Intendencia de Montevideo19.

En el Tercer Plan de Igualdad de Género 2014-2017 de este gobierno departamental, se enuncia


dentro de uno de sus lineamientos, específicamente el número siete: “Impulsar cambios culturales
que promuevan estereotipos y prejuicios de género” (Secretaría de la Mujer, 2014, p.48), teniendo
como primer objetivo específico: “Incorporar la perspectiva de género en los planes, programas y
proyectos educativos, culturales y deportivos” (Secretaría de la Mujer, 2014, p.48).

Dentro de las siete actividades que se explicitan para la acción: “Fortalecer el Programa
masculinidades y género” (Secretaría de la Mujer, 2014, p.48), se estableció el análisis de la línea:
“Fortalecer la mesa de trabajo sobre masculinidades y género” (Secretaría de la Mujer, 2014, p.48).
El plan elegido es una política que se proyectó en el año 2014 a partir de los antecedentes en
materia de género y masculinidades que ésta Secretaría ha apoyado y coordinado.

18
 Primeramente llamada Secretaría de la Mujer, después (desde marzo de 2016) Secretaría para la Igualdad de Género y por último, a partir 
del  24  de  Octubre  de  2016,  nombrada  División  Asesoría  para  la  Igualdad  de  Género  por  Resolución  Nº  4872/16  de  la  Intendencia  de 
Montevideo. 
19
 Montevideo es uno de los diecinueve departamentos de la República Oriental del Uruguay, siendo la capital y la ciudad más poblada del 
país,  con  1.319.108  habitantes  según  el  último  censo  del  Instituto  Nacional  de  Estadística  (INE)  realizado  en  el  año  2011.  La  capital  se 
encuentra dividida 8 municipios: denominados por las letras A a la G. El titular de la intendencia es la persona responsable de este ente 
gubernamental y los‐las directores de cada una de las 13 sub‐dependencias como: Cultura, Desarrollo Ambiental, Desarrollo Económico, 
Desarrollo Social, entre otras. 
 

 
91
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

El Gobierno departamental de Montevideo mediante la Asesoría ha impulsado acciones para la


igualdad de género y el trabajo en el área de masculinidades desde la primera década del siglo
XXI, desarrollando diferentes dispositivos que se focalizan en la inclusión de varones en las
acciones por la igualdad de género, siendo la creación de la Mesa uno de ellos desde el año 2011.

La formalización de este espacio de reflexión, convocado desde la Secretaría de la Mujer, permite


visibilizar y dar voz a los varones interesados en involucrarse en la promoción de igualdad de
género.

La organización de una sociedad no es equitativa, sino que por el contrario se ordena de forma
desigual según las jerarquías existentes según los grupos dominantes y sus respectivos
subordinados.

Desde los estudios feministas y de género, étnico-raciales, de pueblos originarios, se han generado
investigaciones que demuestran las desigualdades existentes en relación al sexo, la orientación
sexual, la raza-etnia, situación económica, edad, entre otras.

Las desigualdades que se generan en las diferentes instituciones por las cuales atraviesan la gran
mayoría de los ciudadanos: familia, educación, trabajo, religión, reproducen un sistema de valores
determinado por una dominación social ya estructurada.

Una de las mayores problemáticas que se demuestra es la desigualdad de género, ya que a lo largo
del siglo pasado y el presente se manifiestan empíricamente que la desigualdad no es solo un tema
de las mujeres, sino que involucra a los varones también.

Los cuidados, la vida familiar y la normativa actual en el Uruguay son un ejemplo de


contradicciones en los discursos, la coexistencia de intereses contrapuestos y falta de comprensión
de los alcances del problema en términos gubernamentales. Aun hoy se percibe el ámbito privado
naturalizado hacia las mujeres, sosteniendo el ámbito público como un espacio exclusivo para los
varones, que genera por ejemplo, ajenidad a un rol de cuidado de otro-a (incompleto..).

Antecedentes sobre Masculinidades en Uruguay

En Uruguay el primer antecedente que se conoce en relación al tema varones y género fue “la
conformación del “Grupo de Reflexión sobre la Condición Masculina” a fines de los años 80’ y
principio de los 90’” (ROCHA, 2015) que impulsó la conformación de otros colectivos y acciones
posteriores.

Los temas de interés que los convocaba eran la violencia hacia las mujeres y los derechos sexuales
y reproductivos. Posterior a su desintegración se creó otro grupo, en el año 1993 denominado
Grupo E.T.H.O.S., el mismo era una organización que brindaba sostén a personas que se
encontraban en conflicto con el orden de género en los ámbitos familiares a nivel personal.

Posteriormente se propiciaron desde diferentes disciplinas: Antropología, Sociología, Psicología,


entre otras, investigaciones que nutrieron las diversas líneas de investigación en relación a los

 
92
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

varones, la masculinidad y las teorías de género: salud sexual y reproductiva, cuidados,


paternidad, educación, identidad, entre otras.

A pesar del gran cúmulo de actividades, investigaciones y artículos, la mayoría de las acciones han
permanecido aisladas y algunas no han prosperado. El grupo ETHOS se disgregó, el grupo
Movimiento Apertura y Cambio de Hombres Organizados y Sensibles -M.A.C.H.O.S que surgió
en el 2011 desde la Intendencia de Montevideo, como grupo de varones implicados en la
promoción de igualdad de género, también se disolvió luego de un año de trabajo.

Otras de las acciones relevantes fue la creación del “Área Condición del Varón y Salud de las
Mujeres” en el Programa Nacional de la Salud de la Mujer y Género (2005). (ROCHA, 2015,
p.29) pero luego dejó de funcionar.

En materia de varones, género y juventud: se han desarrollado “talleres sobre sexualidad y salud
sexual y reproductiva por parte del el Instituto Nacional de la Juventud (INJU) en 2003 un taller
sobre masculinidades y violencia de género en los Juegos Nacionales de Juventud (2011), con
apoyo de ONU Mujeres y UNFPA.” (ROCHA, 2015, p.29)

Existen en la actualidad redes que han apoyado campañas en nuestro país como son la Campaña
Lazo Blanco (Argentina/Uruguay), la Organización Multidisciplinaria

Latinoamericana de Estudios de Masculinidades (OMLEM), Alianza MenEngage y la Campaña


de Paternidad MenCare América Latina. (ROCHA, 2015, p.28).

Dos acciones que nacieron al comienzo de esta década desde la Intendencia de Montevideo y aun
funcionan desde el año 2011 fueron: el colectivo “Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y
Género” y el “Programa de Atención a Hombres que Deciden Dejar de Ejercer Violencia”.

La División Asesoría para la Igualdad de Género de la Intendencia departamental de


Montevideo

La División Asesoría para la Igualdad de Género que anteriormente fue Secretaría de la Mujer, y
a principio de 2016 pasa a ser Secretaría para la Igualdad de Género (Resolución N° 1039/16)
antes de ser Asesoría, funciona desde el año 1991, se ubica en la división políticas sociales del
Departamento de Desarrollo Socia de la Intendencia de Montevideo.

Ésta es la encargada de diseñar, implementar y evaluar las políticas municipales de género.

Tiene como objetivos:

a) Atender las demandas específicas de las mujeres, derivadas de las desigualdades de género,
b) fortalecer la ciudadanía activa a través del desarrollo de espacios de participación y ejercicio
ciudadano, c) promover los cambios culturales necesarios para la construcción de una
sociedad más justa, diversa e igualitaria y d) transversalizar la perspectiva de género en el
quehacer de la Intendencia. (Secretaría de la Mujer, 2014, p.10)

 
93
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

La Asesoría, procura transversalizar en políticas, planes y programas la perspectiva de género,


articulando con los ocho municipios correspondientes geográficamente a los barrios de la capital
uruguaya, así como con la Comisión de Equidad y Género y diferentes organismos estatales,
instituciones y la sociedad civil, promoviendo en sus acciones la igualdad de género.

Se ha focalizado desde sus orígenes en promover igualdad de oportunidades entre mujeres y


varones, así como brindar el apoyo necesario a mujeres para que puedan mejorar su calidad de
vida y garantizar la participación y el ejercicio de ciudadanía de los vecino-as montevideanos.

La DAIG ha planificado y ejecutado en los últimos quince años tres planes de igualdad,
nucleando acciones que promueven la igualdad de oportunidades y derechos entre varones y
mujeres, e incluyen la línea de masculinidades en alguna de ellas.

El Primer Plan de Igualdad de Oportunidades y Derechos comenzó a implementarse en el año


2002, cinco años después se comenzó a ejecutar el Segundo Plan cambiando su título Plan de
Igualdad de Oportunidades y Derechos entre Mujeres y Varones de Montevideo (2007-2011), en
el año 2012 se realizaron las evaluaciones de este último por parte de la Socióloga María Bonino
y otra por la Socióloga Ana Laura Rodríguez Gustá.

En 2013 comenzó a elaborarse el tercer plan, denominado 3er. Plan de Igualdad de Género.
Montevideo avanza en derechos sin discriminaciones para el período 2014-2017, realizado por
los equipo de igualdad de cada municipio, de las dependencias de la Intendencia y la
participación de la sociedad civil.

Se destacan algunas acciones en relación a los varones y las masculinidades dentro del Primer
Plan de Igualdad como: el proyecto “Fortaleciendo ciudadanías adolescentes, mujeres y varones”
(2001-2002).” (ROCHA, 2015, p.31)

Pero fue en el segundo plan cuando se enunció claramente y solicitó a los varones a ocupar un
rol más protagónico, partiendo previamente de líneas como la comunicación no sexista,
diversidad y masculinidades. (Rocha, C. 2015)

Y es efectivamente en el Tercer Plan de Igualdad de Género, donde se hizo énfasis en el área de


trabajo sobre Masculinidades y Género, incluyéndolo como parte de la agenda.

La Intendencia se ha caracterizado por ser pionera en acciones que promuevan la participación


de varones en la promoción de igualdad de género. En el año 2006 se desarrolló la primera
marcha de varones en contra de la violencia doméstica, contando con la presencia y
posteriormente un compromiso firmado de quinientos varones.

Desde el 2007 hasta la fecha se han realizado diferentes talleres, seminarios, jornadas de
sensibilización y capacitaciones sobre masculinidades y género. En el año 2011 se implementó el
programa piloto, activo en la actualidad, del “Programa de atención a varones que deciden dejar
de ejercer violencia”, incorporándose a la Secretaría de la Mujer, apoyado en primera instancia
por el Fondo de Población de las Naciones unidas-UNFPA y gestionado por el Centro de Estudios
sobre Masculinidades y Género.

 
94
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

También en 2011 luego del desarrollo del IV Coloquio Internacional de Estudios de Varones y
Masculinidades, en la ciudad de Montevideo, centrándose la temática sobre Políticas Publicas de
acción transformadoras y la intervención desde la organización civil, se creó la Mesa de Trabajo
sobre Masculinidades y Género, convocando a varones de diferentes organismos públicos,
activistas, la sociedad civil y la ciudadanía, intentando favorecer el intercambio entre estos actores.

La Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y Género

Este colectivo, fue creado en el año 2011, como se mencionó anteriormente, por la entonces
Secretaría de la Mujer, luego del IV Coloquio de Estudio sobre Varones, Masculinidades y
Género, el mismo se presentó como espacio de intercambio, difusión, participación y producción
sobre la temática de masculinidades. (ROCHA, 2015).

Tenía como objetivos “dar participación a varones antimachismo20” (aunque no convoca sólo a
varones) e “incorporar la perspectiva de los estudios sobre masculinidades a las agendas de
género”. (Rocha, C. 2015:65).A su vez se define como objetivo “Trabajar en procesos de reflexión
y sensibilización con el tema de las masculinidades y género”.21

Este espacio se creó para habilitar el intercambio entre varones que se sentían comprometidos
con la promoción de equidad de género. Desde la primera instancia contó con la coordinación
de una funcionaria de la Secretaría de la Mujer, realizando la convocatoria a este espacio a
referentes (investigadores, académicos, activistas) del tema Masculinidades en nuestro país, así
como a diferentes organismos gubernamentales.

La Mesa ha funcionado desde sus orígenes en 2011 hasta principio de 2016, en la Casa de las
Ciudadanas de la Secretaría de la Mujer, dos veces al mes en el horario de la tarde, era un espacio
abierto a toda persona que le interese la temática, tanto varones como mujeres.

Se han desarrollado desde el colectivo diferentes actividades: Segundo Seminario Sobre


Masculinidades y Género “Los varones nos movilizamos en contra de la violencia hacia las
mujeres”, co-organizaron las Primeras y Segundas Jornadas Nacionales: “Estudios de
Masculinidades y Perspectiva de Género” 2012, en conjunto con la Facultad de Psicología, la
Intendencia de Maldonado y La Intendencia de Montevideo, se realizaron aportes para el 3er
Plan de Igualdad Se crea almanaque “Día a día los varones también construimos una sociedad
con equidad de género” 2014, participaron en la campaña “Marzo mes de la mujer” ediciones
2012, 2013, 2014, 2015 y 2016.Desde marzo del año 2016 la Asesoría decidió suspender la

20
 Término utilizado por la autora de la sistematización extraída de entrevistas con integrantes del colectivo.  
21
 Fragmento extraído en entrevista a un integrante del colectivo. 

 
95
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

coordinación, ya que a realizando una evaluación intermedia sobre la línea de Masculinidades y


Género.22

Análisis de la experiencia de la Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y Género en el marco de


la Secretaría de la Mujer 2011-2016.

Para el desarrollo de esta investigación se realizaron entrevistas cualitativas semi-dirigidas a los


integrantes del colectivo, a las autoridades de la Asesoría y referentes en el tema Masculinidades
en Uruguay.

Uno de los aspectos que los integrantes entrevistados han destacado de este espacio de reflexión,
además del tema que los convoca, es la apertura a la heterogeneidad de los participantes, dado
que este colectivo a diferencia de otros colectivos antipatriarcales latinoamericanos, como en
Argentina, México y Colombia, entre otros, no es exclusivo para varones, sino que por el
contrario desde el origen han participado mujeres y en este último año, 2016, comenzó a
participar un varón trans.

Este aspecto no es menor dado que el hecho de que sea inclusivo y diverso denota una
innovación, en el momento de deconstruir y pensar acerca de las masculinidades.

A diferencia del feminismo que fue históricamente pensado, construido y problematizado por el
sujeto oprimido, las mujeres, en exclusividad, esta línea a reflexionar genera la apertura a que
varones, mujeres, varones y mujeres trans, académicos, personas de la sociedad civil, etc., se
reúnan a pensar en conjunto acerca de las masculinidades. Son diversas las reflexiones que se
pueden desarrollar, ya que desde hace más de dos décadas el tema masculinidades se ha ido
posicionando entorno a las teorías de género.

Uno de los aspectos más importantes sobre el tema, que ha tomado mayor notoriedad, han sido
los colectivos antipatriarcales, que en su mayoría son colectivos de varones, que se sienten
incómodos con los mandatos de la masculinidad hegemónica.

Los grupos de hombres proveen una fuente de apoyo para el crecimiento personal y el
cambio, así como un ambiente más seguro y reafirmante en el cual podemos confrontar
nuestras conductas opresivas y autodestructivas. Desarrollamos habilidades tales como la
escucha, la comunicación y la construcción de relaciones, que son esenciales para tener
relaciones saludables con mujeres, niños, niñas y otros hombres. Adquirimos conciencia de
nuestros propios hábitos y actitudes emocionales. La experiencia de grupo ofrece una
sensación de pertenencia, amistad y compromiso con un propósito común. Los grupos nos
brindan la oportunidad de reír, jugar, compartir, llorar, confesar, sanar heridas emocionales,
bromear, confrontar y unirnos hacia una meta. Ofrecen un antídoto a la soledad y al
aislamiento que son reportados por muchos hombres. (FLOOD, 1995, p.1).

22
 Información extraída de la entrevista realizada a la Coordinadora de la línea Masculinidades y Género de la división Asesoría para la Igualdad 
de Género, Intendencia de Montevideo. 

 
96
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Este aspecto que señala Michael Flood, desde su experiencia en grupos de varones
antipatriarcales, enuncia un espacio con características alejadas a lo que la “masculinidad
hegemónica” impone, varones que puedan ser de otras formas más allá de las características de
rudeza, fortaleza, imposición y opresión. Donde los varones pueden comenzar a conectarse con
otros aspectos que pueden ser ajenos a las características en las que actúan y encontrar comodidad
en ejercer un rol que les pueda ser más grato, varones pero no hegemónicos.

A diferencia de otros colectivos la mesa tiene la característica de apertura y diversidad de actores,


aspecto que los integrantes entrevistados destacan, ya que al comienzo del colectivo se cuestionaba
que fuera solo de varones y la modalidad en que las mujeres participarían del mismo.

Los entrevistados del colectivo subrayan y reconocen que deben poder construir en conjunto,
varones y mujeres, ya que la participación, en particular de mujeres, colabora a la progresión del
espacio. Las mujeres como principal sujeto de opresión de la hegemonía masculina, poseen
décadas de experiencias en cuestionar, desestructurar y poner en agenda estrategias continuas
ante la lucha contra un sistema que las posiciona contrariamente al privilegio de los varones, en
subordinadas, por tanto el cúmulo de experiencia que pueden sumar históricamente las mujeres
a deconstruir y reconfigurar la idea de lo que las masculinidades son, es un insumo de gran
relevancia para el colectivo.

El hecho que desde un ente gubernamental se promoviera un espacio donde las personas
pudieran desde sus propias experiencias y conocimiento, ya sea académico o no, construir nuevas
líneas de análisis para contribuir mediante acciones específicas, a desestructurar un sistema
generizado, que privilegia algunos en detrimento de otros-as, fue un avance para la sociedad civil,
la academia y la agenda gubernamental.

En relación a las acciones que se desarrollaron a lo largo de cuatro años y medio, mientras que el
colectivo funcionó en el marco de la entones Secretaría, se destacan por una parte la realización
de jornadas o talleres de sensibilización con diferentes actores: concejales, vecinos, etc. Además
de los seminarios sobre la temática de Masculinidades realizados en los departamentos de
Montevideo y Maldonado, la participación en fechas relevantes como Marzo el mes de la mujer
o Noviembre mes donde se conmemora la lucha contra la violencia de género, mediante sesiones
ampliadas del colectivo.

La Mesa se ha caracterizado por ser un espacio de reflexión sobre la línea masculinidades y género,
intentando consolidar este espacio con escasos participantes y de alta fluctuación promovía, que
por momentos se encontraran estancados en el avance de acciones concretas organizadas por el
colectivo, más allá de las mencionadas anteriormente.

Los entrevistados destacaron que se han generado aportes en las acciones concretas como
seminarios y talleres de sensibilización sobre el tema, pero consideraron que eran necesario
generar otras acciones que le diera mayor visibilización al colectivo.

Entre mediados de 2015 hasta marzo de 2016, la participación de la Asesoría en el espacio se


encontró en evaluación dado que cambió la dirección, según la información obtenida mediante
entrevistas individuales de carácter presencial con autoridades de la Asesoría e integrantes de la

 
97
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Mesa; la coordinación desde la Asesoría fue retirada del espacio bajo el argumento de falta de
recursos humanos, era necesario que estas funcionarias se dedicaran a otras tareas. De esta forma,
la DAIG ya no coordinaría el espacio y no brindaría los recursos humanos, sin embargo, la IM
(se refiere a qué?) continuaría participando a través de otros funcionarios de esta sub-dependencia
y otra como lo es el área de salud.

Uno de los aspectos más relevantes señalados por los entrevistados es que el colectivo puso el
tema Masculinidades en agenda. Si bien nació del interés de las autoridades, la motivación de la
sociedad civil en reflexionar sobre esta línea ha sido fundamental, ya que la Mesa se incluye en el
Tercer Plan de Igualdad.

La masculinidad hegemónica vs. Las masculinidades no hegemónicas

A través de las entrevistas individuales se entiende que el colectivo dista de retroalimentar la


hegemonía masculina en el ejercicio del rol, sino que por el contrario enuncian ideas que
mediante diferentes acciones alentarían a promover un modelo de masculinidad diverso; desde
el colectivo no están de acuerdo con el término “Nuevas Masculinidades”, sino con la pluralidad
de masculinidades, no están tampoco de acuerdo con la inclusión de todas las formas de
ejercerlas, ya que no comparten las ideas Neomachistas, sino que se alejan de esta.

La deconstrucción de un modelo hegemónico dominante desde la reconstrucción de otras formas


de ser varón, lejanas a las clásicas características que pregona la hegemonía dominante:
receptividad, escucha, respeto, diversidad, términos que se destacan al momento de generar un
espacio colectivo y una postura clara para re-configurar las diferentes formas de cambiar el rol
masculino y generar nuevas formas de relacionamiento entre los géneros que conforman este
sistema dicotómico.

La Mesa, como colectivo puede ser un lugar de reflexión, donde varones, mujeres y personas trans
se encuentran problematizando acerca de la hegemonía de la masculinidad y desde cada
experiencia individual es que se reflexiona, sin embargo uno de los mayores desafíos, en primer
lugar es que los varones estén decididos a renunciar a los privilegios que adquieren a partir del
rol que ejercen consignado por los mandatos. Se debe reconocer que la MTMG es un espacio
que está legitimado, pero durante el 2016, al encontrase en un proceso de reflexión en relación
a su forma de continuidad, es relevante destacar que lograron dar un primer paso en su proceso
de independencia de ciertos privilegios que tenían, al no ser parte ya de la Secretaría “En el
segundo o tercer encuentro (…) nos dimos cuenta de que nos soltaron la mano y que podemos
caminar solos, fue un proceso de independencia y de madurez del espacio bien, bien interesante”
(Integrante MTMG, 42 años, entrevista individual, setiembre de 2016).

El colectivo se vio expulsado de la Secretaría, en esta frase que dice el entrevistado, es gráficamente
simbólico, como este grupo se siente obligado a funcionar fuera de la zona de confort en la que
se encontraba dado que a pesar de estar en el marco de un ente gubernamental tenían sus
limitaciones ante determinadas acciones, este proceso de reconocimiento e independencia se
puede comparar con:

 
98
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Quienes se comportan de manera sexista les conviene que las cosas continúen así. Los
hombres ganamos mucho con el sexismo: tenemos alguien que cuida de nosotros, que
cocina, lava y limpia para nosotros, que nos alimenta, nos consiente, nos alivia y nos halaga.
Si el sexismo no existiera, tendríamos que crecer y cuidar de nosotros mismos, tendríamos
que aceptar que, después de todo, no somos tan especiales como creíamos (FLOOD, 1995,
p.2)

Un factor importante y el cual generó este proceso, fue la quita de recursos humanos por parte
de la Asesoría, impone salir de “una zona de comodidad”, ya que el respaldo no es el mismo que
poseían antes del cambio generado, sin respaldo deben “cuidar de sí mismos” y velar por buscar,
promover y participar por sus propios medios de acciones que aborden el tema masculinidades y
género.

El proceso de independización del colectivo, puede ser arduo, pero no es casual que deba
comenzar a “caminar solo y completar su proceso de independencia”, no depender ni de la
Secretaría donde “nace”, ni de la Asesoría donde lo “sueltan”.

Es parte del proceso de reconocimiento y renuncia a los privilegios, trazar nuevas líneas donde,
los privilegios sean para todos los géneros y habiliten la promoción de un cambio en relación a:
la salud, los cuidados, la afectividad y el no ejercicio de la violencia. Es la oportunidad para crecer
y aprender a hacer algo diferente.

Acciones de varones: aportes para un Plan de Igualdad de Género

Carlos Güida señala, que las posibilidades de que los varones se sientan convocados son escasas
si las agendas que se presentan apuntan a las mujeres, y es un hecho que los varones que se
involucran en la promoción de igualdad de género y el cuestionamiento a las masculinidades son
la minoría, sin embargo en los últimos 10 años han ido en aumento los grupos antipatriarcales y
de varones, en nuestro país como en el resto de los países de Latinoamérica.

Las autoras Gioconda Herrera y Lily Rodríguez problematizan desde los aportes que han
brindado el feminismo23 para no continuar con la línea de que al hablar de género, nos referimos
solo a las mujeres, como si ambas palabras fueran sinónimos, y quede en el entendido de que el
género al nacer en la corriente feminista, sean solo cosas de mujeres.La tarea como lo plantean las
autoras, consistiría en desnaturalizar la masculinidad y femineidad como tales, para revertir las
consecuencias, ya que el empoderar a las mujeres no alcanza, pero desempoderar a los varones
tampoco. Es un ejercicio no solo de sensibilización constante, sino de concientización de la
vulneración que se ejerce.

23
 Se entiende por feminismo: movimiento social, político, económico y cultural, que surge a finales del siglo XVIII. donde las mujeres se 
concientizaron como colectivo que se encuentran en una situación de subordinación y opresión por parte de los varones, desde un sistema 
patriarcal que  retroalimenta la dominación de los varones sobre mujeres históricamente desde los diferentes ámbitos, y tiene como fin 
alcanzar la igualdad de derechos entre ambos. 

 
99
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

La desnaturalización de los usos de la masculinidad hegemónica como discursos de poder es


un primer paso hacia el fortalecimiento de una cultura democrática en lo público y en lo
privado. De allí, su importancia para la equidad de género y los derechos humanos. (…)
Estrategias basadas en la modificación de roles sexuales y la re-socialización de los hombres,
pueden ser insuficientes si a ellas no se acompañan cambios sociales, económicos y políticos
más profundos que permitan en la cotidianidad re-negociar las relaciones de género y
modificar las relaciones de poder que cruzan, además del género, con determinaciones de
clase y etnia. (HERRERA Y RODRÍGUEZ, 2001, p. 166-167)

Los integrantes de la Mesa apuestan al diálogo, la sensibilización y la problematización de lo que


las masculinidades son, desde diferentes vivencias y afectaciones individuales y colectivas, no solo
desde la academia ya que todos los saberes y discursos son válidos para la construcción de nuevos
modelos. Desarrollar como estrategia el dialogo con mujeres feminista, es la apertura a que se
pueda negociar en conjunto por el fin común que se tiene: la igualdad entre géneros.

Consentir la apertura a dialogar en conjunto podría generar espacios donde se habilite a que los
varones, en principio, puedan problematizar las cuestiones de género.

Retomando la reflexión que amerita el feminismo desde su conceptualización como se señala


anteriormente, desde su conceptualización como movimiento político y la necesidad de abordar
el cambio que ha generado en algunos varones y como señala Kaufman, sabemos que un creciente
número de hombres se han convertido en simpatizantes del feminismo (en cuanto al contenido,
aunque no siempre en cuanto al nombre), y se han acogido a la teoría y a la acción feminista
(aunque, de nuevo, más en función de teoría que de acción) (KAUFMAN, 1995, p.137).

En ausencia de una nueva denominación, el autor incluye que en los 90 nace en EEUU, el
movimiento de los hombres, que se divide en dos corrientes: movimiento mítico poético de los
hombres y el movimiento de hombres a favor de la causa feminista o movimiento pro-feminista,
que lamentablemente en su accionar derivaron en una reproducción de la hegemonía más que
en su crítica.

Por ello para repensar lo que los movimientos representan mediante sus conceptos se podría
tener en cuenta que:

Las primeras teorías feministas buscaban interrogar la apropiación que los hombres habían
hecho de algunos aspectos sociales a través de la naturalización de los géneros. Por eso,
mostraron a los hombres como un modelo de género específico, que se definía de acuerdo a
ideales culturales que servían a determinados propósitos (Viveros, 2009). Si bien este
proyecto tenía un propósito de evidenciar la desigualdad en que hombres y mujeres se
encontraban, no daba cuenta de muchos aspectos que quedaban invisibles frente a este
enemigo imaginado que era la masculinidad (…)Sin embargo, la masculinidad no puede ser
pensada como un concepto que cobra sentido por sí mismo, su comprensión se instala
dentro de un sistema sexo/género específico, ya que en éste, tanto la masculinidad como la
feminidad se encuentran mutuamente implicadas y la posición que una ocupe tiende a
definir y a afectarse por la que la otra parte ocupe (Ramírez, 2005). (SCHONGUT
GROLLMUS, 2012, p.42)

 
100
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Quizá un nuevo comienzo seria tomar y trabajar desde la teoría del feminismo atrayendo la
atención de estos varones que cuestionan la hegemonía pero desde un nuevo concepto que los
pueda hacer sentir identificados, no como feministas o pro-feministas, sino una línea que incluya
el cuestionamiento a las desigualdades de género y el sistema patriarcal pero que contemple las
masculinidades no-hegemónicas.

Se puede señalar, sin embargo que uno de los cambios más notorios en relación a este avance fue
el cambio de nombre de la Secretaría de la Mujer a la Secretaría para la Igualdad de Género y
posteriormente Asesoría. Esto resulta estratégico para comenzar a trabajar con las masculinidades
desde las políticas públicas, reconociendo que éstas implícitamente se encuentran ya incluidas en
la perspectiva de género, y que el género está en cada política pública nacional o departamental,
pero “los y las responsables individuales de formular políticas, hombres y mujeres (más a menudo
hombres) ven al mundo a través del lente de sus propias actitudes frente al significado de ser
hombre o mujer.” (BARKER Y GREENE, 2011, p.25) de esta manera las políticas que se generan,
la forma en que se desarrolla y para las personas que se desarrollan están sesgadas por una mirada
sexista donde se promueve que los varones continúen en la esfera del ámbito público y las mujeres
en el ámbito privado.

La apertura a promover estos cambios, implican una serie de desafíos a superar, porque no solo
se trata de cambiar la perspectiva de las políticas, sino cambiar el orden social y jerárquico que
sostiene el sistema patriarcal.

Conclusiones

Luego de reflexionar acerca del proceso del colectivo Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y
Género en el marco del Tercer Plan de Igualdad; se considera relevante realizar un cambio desde
la praxis, que incluya las masculinidades no hegemónicas dentro de la perspectiva de género,
forjando un cambio radical en las desigualdades aun existentes.

En los últimos veinte años hemos leído que los estudios de masculinidades han enunciado
teóricamente un cambio, el cual han denominado “crisis de la masculinidad”, justificando que,
ante los avances del feminismo del siglo XX, algunos hombres no han podido asimilar los
movimientos sociales y culturales que se han concretado.

Lo cierto es, que más que una crisis, denominación que sugiere a priori un momento de
inestabilidad a los cambios que se han generado, podríamos decir que los varones se han
encontrado en los últimos años y hasta la fecha, en un proceso de reflexión. Una prueba de ello
son los colectivos de varones, colectivos antipatriarcales y/o de reflexión de masculinidades no
hegemónicas desarrollados en las últimas décadas en Uruguay.

Se considera que el primer paso para poder avanzar hacia una igualdad, que no sólo sensibilice y
empodere a las mujeres, es generar conciencia en todas las personas que la igualdad se construye
cuando, quien ejerce el poder es capaz de reconocer que ganará renunciando a esos privilegios
adquiridos. Si los varones pueden renunciar, el beneficio sería para todos los géneros, los varones

 
101
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

ganarían en calidad de vida, humanidad y afectividad, el resto de los géneros accedería a espacios
antes vedados. El objetivo está en que los varones puedan reconocer que estos privilegios se
alcanzan a través de los mandatos de la hegemonía, que implican su esfuerzo constante para
sostenerlos. Es fundamental concientizar que el alcance de esas ventajas se conquista en
detrimento de la vulneración de un otro-a. El avance se ha ido concretando mediante diferentes
acciones de aquellos que se identifican, posicionan y promueven las masculinidades diversas y/o
no hegemónicas.

Se cuestiona el concepto nuevas masculinidades, entendiéndolas como aquellas que surgieron luego
de los avances del feminismo de la década del 80, y que pueden abarcar posturas de
masculinidades hegemónicas, que retroalimentan el sistema patriarcal. Es importante enunciar
una denominación que incluya la postura que se sostiene, masculinidades no hegemónicas, ya
que hay muchas maneras de ser y vivir como varón, pero lo relevante es que diste de ser
hegemónica, machista y androcéntrica.

En esta línea, las transformaciones deberían comenzar desde los discursos, en el lenguaje utilizado
por los propios colectivos. Como vimos, la propuesta del feminismo en sus inicios tuvo sus
limitaciones al no representar a las masculinidades no hegemónicas. En ese sentido posicionarse
como feminista no sería suficiente para manifestarse contrarios a las masculinidades hegemónicas
ya que se desconocería que hay otras formas de ejercer la masculinidad. Además de feminista o
pro-feminista, tomar posicionamiento y enunciarse pro-masculinidad no hegemónica, favorece la
visibilización de las otras formas de ser varón.

Debería ser necesario un diálogo interdisciplinario para producir la creación de nuevos conceptos
más igualitarios y representativos de estas posturas político-sociales.

Y el colectivo, puede ser un espacio de participación diversa, construcción de nuevos discursos,


reivindicación y resistencias, a las formas hegemónicas que vulneran los derechos de las personas
subordinadas de este sistema.

En el momento que varones y mujeres sean educados desde la diversidad, y no desde el


androcentrismo, la heteronormatividad y el machismo, se evitarían actos discriminatorios
misóginos, de violencia y homofóbicos.

Resignificar el lugar que ocupan los varones dentro del sistema familiar y social, reconstruir los
ámbitos de forma equitativa permite un mayor desarrollo social, intelectual, académico y
económico para las mujeres así como para el desarrollo afectivo de los varones.

Promover el cuidado en otros, desmitifica no solo el rol de proveedor en el sentido económico,


para cumplir con el mandato de hombre independiente, autónomo y duro, sino que habilita a
ellos a pensarse como sujetos de cuidados, que además de cuidar a otros debe cuidar de sí mismo.
Abandonar la postura de rudeza y omnipotencia dará lugar a que los hombres piensen en su salud
física, emocional y mental; ya que la salud es un aspecto que los hombres históricamente no
cuidan, por probar (se) constantemente lo fuerte que son. Estas acciones deben ser creadas,
promovidas y ejecutadas por el Estado, mediante los entes gubernamentales nacionales,
departamentales y la sociedad civil.

 
102
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Bibliografía

Aguayo, Francisco. Nascimento, Marcos, (2016). Dos décadas de Estudios de Hombres y


Masculinidades en América Latina: avances y desafíos. Sexualidad, Salud y Sociedad. Revista
Latinoamericana. Pp. 207-220.

Aguayo, Francisco y Sadler, Michelle (editores) (2011). Masculinidades y Políticas Públicas:


Involucrando Hombres en la Equidad de Género. Departamento de Antropología Universidad de
Chile - Facultad de Ciencias Sociales, Chile.

Aguilar, L. F. (2009) “Marco para el análisis de la políticas públicas.” En: Martínez Navarro, F. y
Garza Cantú, V. (coords.) Políticas públicas y democracia en América Latina: del análisis a la
implementación. México: Tecnológico de Monterrey, Escuela de Graduados en Administración
Pública y Política Publica: CERALE : Miguel Ángel Porrúa. Pp. 11-32.

Anderson, Jeanine. (2006) “Sistemas de género y procesos de cambio.” En Batthyány, Karina


(coord). Género y Desarrollo. Una propuesta de formación. FCS, UDELAR, Montevideo.

Asturias, Laura E. (1997). Construcción de la masculinidad y relaciones de género. En: Foro


“Mujeres en Lucha por la Igualdad de Derechos y la Justicia Social”.

Barker ,Gary y Greene, Margaret, (2011) “ ¿Qué tienen que ver los hombres con esto?: Reflexiones
sobre la inclusión de los hombres y las masculinidades en las políticas públicas para promover la
equidad de género”. En: Aguayo, Francisco y Sadler, Michelle (editores). Masculinidades y Políticas
Públicas: Involucrando Hombres en la Equidad de Género. Chile. Pp.23-49

Connell, R.W. (1997). “La organización social de la masculinidad”. En: Valdés, Teresa y
Olavarría, José (eds) Masculinidad/es. Poder y crisis. Sgo. de Chile: FLACSO - Isis Internacional.
Pp.31-62.

Declaración y Plataforma de Acción de Beijing, (1995),- Cuarta Conferencia Mundial sobre la


Mujer, Beijing.

Flood, Michael (1995): “Grupos de hombres” en: XY: men, sex, politics. Australia.

Flood, Michael (1995). “La política del género” (The Politics of Gender). Revista XY: men, sex,
politics. Australia.

Flood, Michael (S/F). “La Sexualidad de los Hombres Heterosexuales”.

Fuller, Norma. (2012). “Repensando el Machismo Latinoamericano”. Masculinidades y cambio


Social. Pp.1 1 4-1 33.

García Prince, Evangelina/América Latina Genera ‐PNUD (2008). “Políticas de Igualdad,


Equidad y Gender Mainstreaming ¿De qué estamos hablando? Marco Conceptual”. Edición
Revisada y actualizada 2012.

 
103
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Güida, Carlos (2011). “Varones, paternidades y políticas públicas en el primer gobierno


progresista uruguayo”. En: Aguayo, Francisco y Sadler, Michelle (editores). Masculinidades y
Políticas Públicas: Involucrando Hombres en la Equidad de Género. Departamento de Antropología
Universidad de Chile - Facultad de Ciencias Sociales, Chile. Pp.: 83-104.

Herrera, Gioconda y Rodríguez, Lily (2001). “Masculinidad y equidad de género:

Desafíos para el campo del desarrollo y la salud sexual y reproductiva”. En: Andrade, Xavier y
Herrera, Gioconda (editores). Masculinidades en Ecuador. Quito, Ecuador.

Instituto Nacional de las Mujeres (INMUJERES) (2007). “Articulado convención sobre la


eliminación de todas las formas de discriminación contra la mujer”.

Kaufman, Michael, (1995) “Los hombres, el feminismo y las experiencias contradictorias del
poder entre los hombres” En: Arango, Luz Gabriela León, Magdalena, Viveros, Mará
(compiladoras) Género e identidad. Bogotá: Tercer Mundo Editores. Pp.:123-146.

Lasswell, Harold (1992): “Orientación hacia las políticas”, En: Aguilar Villanueva, Luis F. (ed.),
Estudio de las Políticas Públicas. Antologías de Política Pública Núm. 1, México: Porrúa. Pp. 79-103.

Marqués, Josep-Vicent (1997), “Varón y Patriarcado”. En: Valdés, Teresa y Olavarría, José (eds).
Masculinidad/es. Poder y crisis. Sgo. de Chile: FLACSO - Isis Internacional.Pp.17-30.

Mesa de Trabajo sobre Masculinidades y Género (2015). “Criterios de funcionamiento de la Mesa


de trabajo sobre Masculinidades y Género”. Montevideo, Uruguay.

Moreno Sardà, Amparo (1986). “El arquetipo viril protagonista de la historia. Ejercicios de
lectura no androcéntrica”; Barcelona, Cuadernos Inacabados.

Nascimento, Marcos y Segundo, Márcio (2011). “Hombres, masculinidades y políticas públicas:


aportes para la equidad de género en Brasil”. En: En: Aguayo, Francisco y Sadler, Michelle
(editores). Masculinidades y Políticas Públicas: Involucrando Hombres en la Equidad de Género.
Departamento de Antropología Universidad de Chile - Facultad de Ciencias Sociales, Chile.
Pp.:50-63.

Olivarría, José, (2003) “Los estudios sobre masculinidades en América Latina. Un punto de vista”.
Anuario Social y Político de América Latina y el Caribe Nro. 6, Flacso / Unesco / Nueva
Sociedad, Caracas, Pp.: 91-98.

Ortegón, E. (2008). “Guía sobre diseño y gestión de la política pública”. CAB, Serie Ciencia y
Tecnología No. 168. Bogotá.

Programa Naciones Unidas para el Desarrollo – PNUD (2012). “Masculinidades plurales:


reflexionar en clave de géneros”. Buenos Aires.

Ramírez Rodríguez, J. C. y Cervantes Ríos, J. C. (2013). “Estudios sobre la masculinidad y


políticas públicas en México. Apuntes para una discusión”. En Ramírez Rodríguez, J. C. y

 
104
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Cervantes Ríos, J. C. (eds.). Los hombres en México: veredas recorridas y por andar. Una mirada a los
estudios de género de los hombres, las masculinidades Guadalajara, México: Universidad de
Guadalajara. Pp.:201- 221.

Rocha, Cecilia, (2015), Políticas públicas, masculinidades y género: la experiencia de la Intendencia de


Montevideo, Uruguay 2006-2014. Intendencia de Montevideo (IM)- Fondo de Poblaciones de las
Naciones Unidas (UNFPA).

Rodríguez Gustá, Ana Laura (2008), “Las escaleras de Escher: la transversalización de género vista
desde las capacidades del Estado”. Revista Aportes para el estado y la administración
gubernamental. Año 14, Número 25: 53 – 70. Buenos Aires.

Rodríguez Gustá, Ana Laura (2008), “Las escaleras de Escher: la transversalización de género vista
desde las capacidades del Estado”. Revista Aportes para el estado y la administración
gubernamental. Año 14, Número 25: 53 – 70. Buenos Aires.

Sánchez, Ariel (s/f). “Marcar la cancha. Reiteraciones, desvíos y tensiones en el arduo proceso de
hacerse varón.”

Sánchez, Ariel (2015). Hombre, varones y sociedades de la diferencia (sobre la posibilidad de


penetrar a la masculinidad). XI Jornadas de Sociología. Facultad de Ciencias Sociales,
Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires.

Sau, Victoria. (1990) “Diccionario Ideológico Feminista” Vol.1. Editorial Icaria

Sautu, Ruth; Boniolo, Paula; Dalle, Paulo; Elbert, Rodolfo (2005). Manual de metodología.
Construcción de marco teórico, formulación de los objetivos y elección de La metodología. CLACSO,
Colección campus virtual, Buenos Aires, Argentina.

Schongut Grollmus, Nicolás (2012). “La construcción social de la masculinidad: poder,

hegemonía y violencia”. En: Psicología, Conocimiento y Sociedad. Pp. 27-65.

Scott, Joan (1990): “El género: una categoría útil para el análisis histórico”. En: Edic. Alfonso El
Magnánimo Historia y Género. Valencia. España.

Secretaría de la Mujer, Comisión de Equidad y Género, (2014), “3er Plan de Igualdad de Género
Montevideo avanza en derechos, sin Discriminaciones 2014 – 2017. Compromisos de los
departamentos de la Intendencia de Montevideo 2014 -2015”. Intendencia de Montevideo (IM).

Subirats, Joan (2008). “Análisis y gestión de las políticas públicas” de Subirats, Knoeprel, Larrue
y Varone. Capítulo 2 Editorial Ariel, España.

Valdés, Teresa y Olavarría, José (eds) Masculinidad/es. Poder y crisis. Sgo. de Chile: FLACSO -
Isis Internacional.

 
105
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Páginas de internet

Diario “El Observador” (2016/8/9). “Uruguay es el país de la región con más muertes de mujeres a
manos de sus parejas”, Recuperado de: http://www.elobservador.com.uy/uruguay-es-el-pais-la-
region-mas-muertes-mujeres-manos-sus-parejas-n697896.

Diario “El Observador”. (2016/8/9) “Licencia por paternidad: 373 hombres solicitaron trabajar medio
horario”. Recuperado de:http://www.elobservador.com.uy/licencia-paternidad-373-hombres-
solicitaron-trabajar-medio-horario-n953048.

Espectador.com. (2016/8/5) “Uruguay registró un total de 23 feminicidios en el último año” en:


http://www.espectador.com/sociedad/327501/uruguay-registro-un-total-de-23-feminicidios-en-
el-ultimo-ano..

Instituto Nacional de las Mujeres (INMUJERES) (2016/5/1). “Violencia basada en Género”.


Recuperado de:
http://www.inmujeres.gub.uy/innovaportal/v/15090/6/innova.front/violencia_basada_en_ge
nero.

Intendencia de Montevideo. (2016/10/11) “Planes de Igualdad”. Recuperado de:


http://www.montevideo.gub.uy/institucional/politicas/planes-de-igualdad-de-genero-0

Instituto Nacional de Estadística –Uruguay (INE). (2016/10/1) “Uruguay: esperanza de vida al


nacer por sexo, tasa global de fecundidad y edad media a la maternidad”. Recuperado de:
http://www.ine.gub.uy/indicadores-demograficos1

Ley Nº 17.514 aprobada 2 de julio del 2002, (2016/5/2) “Violencia doméstica”, Recuperado de:
http://www.parlamento.gub.uy/leyes/AccesoTextoLey.asp?Ley=17514&Anchor=.

Murguialday, Clara. Diccionario de Acción Humanitaria. (27/11/2016). “Políticas de Género”.


Recuperado de: http://www.dicc.hegoa.ehu.es/listar/mostrar/114.

Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo en Uruguay (2016/8/2) . “Mujeres perciben
20% menos de ingresos que hombres con igual nivel educativo, según cuaderno del PNUD”
Recuperado de:
http://www.uy.undp.org/content/uruguay/es/home/presscenter/pressreleases/2015/05/13/d
esigual-remuneraci-n-por-igual-nivel-de-estudio.html.

 
106
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

INCLUSIÓN DE VARONES EN POLÍTICAS PÚBLICAS DE


GÉNERO. ANÁLISIS DEL PROYECTO “PATRIARCADO,
MASCULINIDADES HEGEMÓNICAS Y VIOLENCIAS”, DEL
MUSEO CASA DE LA MEMORIA DE MEDELLÍN–COLOMBIA
(2014-2015)
Daniel Arias Osorio
Universidad Nacional de Colombia- Sede Medellín
E-mail: Daniel.arias70@gmail.com

Resumen:

Esta presentación tiene como objetivo general disertar sobre las violencias masculinas
hegemónicas que ejercen los varones en el marco del conflicto armado colombiano, haciendo
especial referencia al proyecto “Patriarcado, masculinidades hegemónicas y violencias”, ejecutado
por el Museo Casa de la Memoria de Medellín, que desde una investigación- acción abordaron el
tema en la ciudad de Medellín durante los años 2014-2015, trabajando con varones de la ciudad
en la deconstrucción de sus concepciones de género y la puesta en común de sus formas de ser
hombres. El objeto de esta presentación es exponer los resultados de la tesis de maestría en
políticas públicas y género donde se analizó la formulación, el proceso de implementación y los
alcances del proyecto Patriarcado, Masculinidades Hegemónicas y Violencias realizado por el
Museo Casa de la Memoria de Medellín entre 2014 y 2015.

La configuración de masculinidades en el conflicto armado colombiano.

El conflicto armado interno colombiano es uno de los más antiguos del continente, con un
número de desaparecidas/os que ascienden a cien mil, más de doscientos mil muertos y un
número de desplazadas/os que supera las/os cuatro millones según cifras presentadas por el
informe ¡Basta Ya! (2013), consolidándose como uno de los problemas sociales de mayor gravedad
en el país. Según el Registro Único de Víctimas del gobierno colombiano al 23 de octubre de 2016,

 
107
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

se contabilizan ocho millones doscientos treinta mil ochocientas sesenta víctimas, de las cuales
seis millones doscientas setenta y siete mil, ciento diecisiete son objeto de reparación24.

En el año 2011 el Gobierno Nacional promulgó la Ley Estatal de Víctimas como una apuesta a
la justicia, la verdad y la reparación a las víctimas de la guerra. Son varias las intervenciones que
se han realizado en el marco de esta Ley, especialmente proyectos vinculados con la restitución
de tierras, acciones afirmativas para generar acceso a servicios básicos de salud, educación,
vivienda, etc., y la reconstrucción histórica de las memorias del conflicto. Desde una perspectiva
de género la mayoría de intervenciones se han focalizado en el universo femenino con el fin de
promover reivindicaciones para grupos de mujeres. Entre los proyectos a nivel nacional se
destacan el plan nacional de prevención de riesgos y vulneraciones de las mujeres ejecutado
durante los años 2013-2015 y el proyecto vivienda gratis destinado a hogares cuyas jefes de familia
son mujeres víctimas del conflicto armado25. Son muy pocos los proyectos que desde una
concepción más amplia de género abarquen otras identidades sexuales y de género, como
poblaciones Lesbianas, Gays, Transgénero, Bisexuales, Intersexuales-LGTBI26- y varones, también
involucrados en el conflicto armado.

Según el artículo “Hombres sin memoria” de Ana Cristina Restrepo para la revista Arcadia, el
89% de los victimarios son hombres, incluyendo tanto a los varones que pertenecen a
instituciones como los que operan al margen de ellas27, teniendo como característica común su
situación socioeconómica, pues en concordancia con el primer informe presentado por el Museo
Casa de la Memoria son varones provenientes de ambientes precarios y violentos (Ossa, 2015:60).

De acuerdo con la publicación de febrero de 2014, de la Agencia Colombiana para la


Reintegración– ACR- de las/os combatientes, las masculinidades que se construyen en contextos
de guerra tienen ciertas particularidades, el ideal militar fomenta valores sobre lo que debería ser
la dignidad humana, la división sexual del trabajo se acentúa entre hombres que van al combate
y las mujeres que se encargan del cuidado en los hogares28. Ellos inhiben expresiones de tristeza,
dolor y llanto, pues simbolizan debilidad, característica vinculada a la feminidad, y ellas desde su
condición de género sufren violencias sexuales, intrafamiliares, entre otras tantas violencias
simbólicas y físicas.

Son escasos los programas que reflexionan sobre las construcciones de género de los combatientes
de la guerra, y cómo sus expresiones de virilidad determinan altísimos costos para ellos mismos y

24
Durante el conflicto armado colombiano han existido diversas formas de violación a los Derechos Humanos, por eso las cantidades son tan 
exorbitantes, pues el conflicto se ha librado de muchas maneras, desde minas antipersonales hasta masacres y violaciones a mujeres. Para 
ver actualizado el número de víctimas en Colombia consultar http://rni.unidadvictimas.gov.co/RUV 
25
 Información extraída del artículo de prensa publicado el 26 de noviembre de 2013 “Programa para mujeres víctimas del conflicto armado 
tendrá  $2,1  billones”  http://www.elespectador.com/noticias/paz/programa‐mujeres‐victimas‐del‐conflicto‐armado‐tendra‐2‐articulo‐
460628 
26
De aquí en adelante se nombrará por la sigla LGTBI. 
27
Información  extraída  del  artículo  Hombres  sin  Memoria  publicado  por  la  revista  Arcadia  el  21  de  marzo  de 
2014http://www.revistaarcadia.com/impresa/reportaje/articulo/hombres‐sin‐memoria/36104 
28
Información extraída del informe de la Perspectiva de Género de la Agencia Colombiana para la Reintegración. Consultado el 23 de 
octubre de 2016. In: http://www.reintegracion.gov.co/es/la‐reintegracion/centro‐de‐
documentacion/Documentos/Perspectiva%20de%20g%C3%A9nero%20en%20el%20Proceso%20de%20Reintegraci%C3%B3n.pdf 

 
108
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

para la sociedad colombiana en general. Durante los últimos años hubo algunos procesos de
desarme, desmovilización y reinserción –DDR- en el marco de la ley de Justicia y Paz, pero no
hubo ninguna perspectiva de género que documentara y trabajara con masculinidades
militarizadas, contribuyendo a generar símbolos de prestigio alternativos.

En este contexto, en Medellín se crea El Museo Casa de la Memoria en la línea de Atención de


Víctimas del Conflicto Armado por el Acuerdo Municipal 045 de 2006, pionero a nivel nacional,
el cual implementó diferentes acciones enfocadas a la reconstrucción, visibilidad y difusión de la
memoria histórica. Su diseño se extiende desde el año 2005 hasta el 2013, consolidándose su
implementación con el establecimiento de la Ley Nacional de Víctimas en su deber de preservar
la memoria con el fin de brindar medidas de satisfacción y generar garantías de no repetición.

El Museo Casa de la Memoria desarrolló un programa designado Género, Memoria y


Despatriarcalización, encaminado a reflexionar y discernir alrededor de las diversas y complejas
relaciones entre género, conflicto armado, memoria y resistencias no violentas. Entre noviembre
de 2014 y marzo de 2015 se llevó a cabo la fase inicial de un proyecto de investigación-acción
transformador denominado “Patriarcado, masculinidades hegemónicas y violencias: exploración
en torno a la construcción de identidades masculinas que perpetúan los ciclos de violencia en
Medellín, Colombia”, bajo el cual se desarrollaron actividades tales como tertulias, talleres, etc.,
con 125 hombres y 36 mujeres de la ciudad de Medellín, y se trabajaron temas como el heroísmo,
las imágenes cotidianas del guerrero, los mecanismos de socialización masculina, los rituales
urbanos de masculinidad, entre otros tópicos que sirvieron de base para la segunda fase del
proyecto, llamado Hombres en construcción, el cual se desarrolló durante el segundo semestre
del 2015.Su corto período de funcionamiento se debió a los cambios administrativos que se
dieron a comienzos del año 2016.

El proyecto Patriarcado, Masculinidades Hegemónicas y Violencias, que se ejecutó en la


administración de la arquitecta Lucía González, fue innovador al poner en marcha una lectura
de género que no es la convencional, donde se trabajó con varones y mujeres deconstruyendo
posiciones de género hegemónicas, entendiendo el perjuicio del patriarcado, reconociendo el
carácter histórico y social de la construcción de masculinidades hegemónicas, con el objetivo de
transformar estos patrones de opresión y muerte relacionados de una manera muy estrecha con
la guerra. Contribuyendo con ello a la deconstrucción de ese sistema y fortaleciendo identidades
masculinas proclives con la vida (Museo Casa de la Memoria; 2015, 22).

Una ciudad que piensa en clave de masculinidades:

Para la creación del proyecto “Patriarcado Masculinidades Hegemónicas y Violencias”, sin lugar
a dudas el recorrido que tuvieron las/os ejecutoras/es previo a la vinculación con el Museo Casa
de la Memoria va a marcar la construcción del mismo y las formas como se formuló e implementó.

El Museo casa de la Memoria a través de su Directora decidieron construir un proyecto sobre


masculinidades, sus reflexiones antepuestas habían visualizado cuál es la situación en la ciudad
con respecto a las construcciones de género que atañen a masculinidades hegemónicas y cuáles

 
109
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

son los efectos que tienen estas prácticas tanto en la vida de los varones como en la sociedad en
general,

“[…] tengo tres experiencias, marcas muy fuertes que me conducen al tema de lo masculino:
uno, la experiencia familiar y social cercana donde ve uno reeditar sistemáticamente ese
proyecto patriarcal hegemónico sobre todo por parte de las mujeres. Son las mujeres las que
reeditan ese proyecto patriarcal hegemónico que les hace tanto daño después. Pero es así y
es un proyecto ¡muy costoso! para la sociedad […] Lo segundo es mi experiencia social. Mi
experiencia social me pone en evidencia dos cosas, una: que no hay una reflexión sobre el
proyecto masculino, que los hombres son los que más cerquita están del riesgo. De todos los
riesgos, del riesgo de la droga, del riesgo de la delincuencia, del riesgo de la guerra. De
participar en la guerra o porque sean soldados de esos ejércitos nacionales o porque sean
miembros de las bandas criminales o de los grupos al margen de la ley y frente a eso veo que
no hay ninguna reflexión. Lo otro es que participo del proyecto de reconstrucción del eje
cafetero y muy rápido me doy cuenta que el enfoque privilegiado de género hacia las mujeres
se convierte en un problema muy grave para atender situaciones integrales como las de las
vulnerabilidades de esas comunidades después de una tragedia” (Entrevista Lucía González).

Desde varias instituciones se han venido haciendo reflexiones importantes sobre la construcción
de masculinidades en la ciudad y también se ha indagado sobre las particularidades que tienen
esas masculinidades en la región de Antioquia, lo que marcó unas rutas en la formulación del
proyecto. Desde el año 1994 en la Universidad de Antioquia un grupo de investigadoras/es
empezó a reflexionar sobre las masculinidades desde ese ámbito académico.29En una de las
entrevista se señalan algunos de los principales investigadores que ahora están trabajando sobre
el tema en la Universidad,

“[…] [En] la reflexión de la academia entonces está Hernando Muñoz, el profesor que ahora
es decano de la Facultad de Ciencias Sociales. Él hizo su tesis doctoral sobre masculinidades
y Hernando ha sido además un activista. Un activista como en el campo de la flexibilización
de los roles y de unas maneras de vivir como la identidad sexual menos constrictora […]
también Aníbal Parra. Aníbal fue director del Centro Interdisciplinario de Estudios de
Género de la Universidad de Antioquia, también un hombre inquieto con ese tema de las
masculinidades. Creo que también hizo una tesis, su tesis de pregrado […] sobre el
tema”(Entrevista Luz María Londoño).

Gran parte del equipo que se encargó de la formulación y ejecución del proyecto son
psicólogas/os de profesión30, con experiencias previas en asuntos de masculinidades, al igual que
ya habían realizado varias intervenciones con varones de la ciudad, pues desde la Secretaría de las
Mujeres de la Alcaldía de Medellín se venían generando acciones encaminadas a deconstruir
prácticas masculinas hegemónicas desde el año 2010.

29
Para ampliar esta información se puede consultar el artículo “Aportes desde el Movimiento Social de Mujeres a la consolidación del trabajo 
en Masculinidades en Medellín. Diciembre de 2015” de Margarita Peláez: http://margaritapelaezmejia.blogspot.com.co/2015/12/aportes‐
desde‐el‐movimiento‐social‐de.html 
30
Ver apartado: Fuentes de Información del Capítulo 2 

 
110
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Identificando un problema, pensando un objetivo en común.

Una de las reflexiones que tuvo mayor trascendencia al momento de formular el proyecto fue la
relación que existe entre la construcción de masculinidades y la educación de los varones para la
guerra. A partir de ahí, elaboraron una serie de reflexiones con varones de diferentes procedencias
con el objetivo de sensibilizarlos sobre su participación en la guerra,

“[…] el objetivo que pretendíamos era que a través de la conversación…acercar a los hombres
al deseo a la intención de desinstalar de sí, digamos: sacarse de la cabecita ese chip que
predispone o pone al hombre en función de la violencia y de la participación en grupos
armados. Digamos entonces que era como el objetivo fundamental. Aportar a eso y sobre
todo generando también unos insumos de investigación que permitieran entonces hacer
lecturas, formular artículos de diferentes aspectos que permitieran ilustrar allí cómo es ese
asunto del hombre que le dice no a la guerra o del hombre que estuvo ahí cómo vivió eso.”
(Entrevista Jaime Alberto Osorio)31

Generar un espacio de reflexión sobre cuáles eran los insumos que los varones habían puesto
para la guerra fue uno de los principales objetivos del proyecto, pues en sus reflexiones también
habían identificado que uno de los pilares de las masculinidades en el país estaba dado por una
educación para la guerra. En la documentación y material de trabajo que manejó el Museo para
la formulación de este proyecto se encontró este aparte en el que se afirma,

“No se nace guerrero, se llega a serlo, esto en la medida que la construcción de la


masculinidad se fomentan unos compartimientos, se reprimen otros, siendo incluso la
masculinidad militarizada algo mediado por los discursos e intereses sociales que prefiguran
y dan contenido a dicha construcción social de masculinidad. El moldeamiento social es un
asunto del que no escapan las mujeres, pero tampoco los hombres” (Osorio, 2014, p.6).

La identificación de este problema acompañado de otros factores relacionados con la


construcción de masculinidades hegemónicas en la ciudad y los pocos espacios para la
conversación con varones sobre cómo estas construcciones de género han impartido unas
características en sus vidas, y cómo la cultura ha moldeado estos atributos, también con la
finalidad de resaltar la labor de aquellos varones que día a día hacen resistencias a esos
establecimientos culturales, hizo que el Museo diseñara un espacio para la conversación y la
deconstrucción de prácticas masculinas hegemónicas que son nocivas para la sociedad.

“Entonces la idea desde el museo Casa de la Memoria era más abrir una reflexión que le
sirviera a la sociedad, particularmente a la sociedad paisa [Antioquia]… que esos chicos
tuvieran unos lugares de reflexión sobre eso y cómo lográbamos construir también unos
líderes y unos maestros que acompañaran a los hombres en una pregunta por su sensibilidad
por su desarrollo más integral por menos castración de sus posibilidades y de su lado
femenino y al mismo tiempo pues, evitar que fueran violadores o esas cosas horribles que los
hombres resolvieron ser en la vida” (Entrevista Lucía González).

31
Entrevista realizada al psicólogo experto en intervenciones con varones realizada el 12 de julio de 2016.  

 
111
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Este proyecto logró identificar la manera en que los hombres en sus construcciones de género
generan prácticas violentas nocivas para la sociedad y para ellos mismos, lo que en cierta manera
ubicó a las/os profesionales bajo un problema en común y con un objetivo también compartido:
desarticular ciertas prácticas masculinas hegemónicas de violencias, generando espacios donde se
dialoguen estos temas entre varones, pues estas mismas construcciones de género no han
permitido producir lugares para su disertación.

La metodología utilizada se enfocó en realizar intervenciones que permitieran generar insumos


para la producción de textos y reflexiones sobre las experiencias de varones y la construcción de
masculinidades en Medellín. Sobre este aspecto González comenta:

“Y realmente lo que nos propusimos fue no hacer una investigación, no nos interesaba hacer
una investigación sino abrir una pregunta, una pregunta extendida porque no nos interesaba
generar una hipótesis solamente o construir una tesis o nada por el estilo, sino abrir la
pregunta para que los hombres se preguntaran por ¡su condición¡, ¿qué es ese proyecto
patriarcal que los invalida frente a tantas cosas en la vida? […] entonces la idea desde el museo
Casa de la Memoria era más abrir una reflexión que le sirviera a la sociedad”(Entrevista Lucía
González).

La metodología estuvo enmarcada en una investigación de acción participativa que al mismo


tiempo desarrollara procesos de sensibilización con diversos varones y mujeres de la ciudad.

La apuesta a una investigación-acción-participativa:

Pensar en una investigación que contribuyera a procesos de transformación de prácticas


masculinas hegemónicas fue la apuesta que decidió emprender en el año 2014, el equipo de
trabajo del Museo Casa de Memoria, acogiendo como metodología la Investigación-acción
participativa, no sólo como un trabajo académico, sino que incluyera acciones puntuales de
sensibilización.

“Se planteó como un proyecto de investigación con una acción transformadora. Era como
reflexionar y básicamente aprender qué pasaba con esos modelos de masculinidad
dominantes y sí tenían alguna relación, cómo estaban relacionados con la violencia que se
había vivido en Medellín. Vos sabés que el conflicto en Medellín y en Antioquia ha tenido
digamos una máxima expresión en complejidad, en modalidades, en víctimas, en agresores,
en todo tenemos como premio.” (Entrevista Luz María Londoño)

La pregunta transversal de este proceso planteaba la relación que existe entre la configuración de
masculinidades y la guerra. La construcción de masculinidades en la ciudad y el país está muy
atravesada por el conflicto, los varones han desempeñado unos roles que desde la perspectiva de
género se han abordado muy poco. El proyecto del Museo Casa de la Memoria fue de las primeras
intervenciones a nivel nacional que hizo una exploración de cómo los hombres en nuestros
contextos reciben una educación para enfrentar los conflictos desde las armas y las vías de hecho.

 
112
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

La perspectiva de género en este sentido cobra relevancia pues es una categoría que acogieron en
el proyecto y desde la que se podía visualizar como los varones habían sido educados para la
guerra, cómo las instituciones castrenses tienen una gran importancia al momento de construir
masculinidades en el contexto de la ciudad y el país, pues resulta ser una forma corrientemente
aceptada de cómo los varones pueden demostrar su virilidad. Esta metodología fuera de explorar
estas construcciones, también fue un instrumento para generar insumos académicos que
permitieran contar con mayores reflexiones sobre el tema.

“[…] la metodología del proyecto es investigación acción participativa, o sea, la idea era tener
como una intervención en la que los hombres se cuestionaran, en la que se generaran
reflexiones al respecto de cómo ha sido esa masculinidad hegemónica, cuáles han sido las
masculinidades alternativas pero también era un asunto de investigación porque todos los
encuentros se sistematizaban. Cuando había encuentros con hombres siempre había que
sacar un análisis al respecto” (Entrevista Andrés Mazo).32

La metodología investigación-acción participativa según Colmenares (2011) permite trabajar en


dos procesos simultáneamente: conocer y actuar; de un lado propicia en las/os participantes
reflexiones sobre el contexto en el que viven, al igual que las/os hace conscientes de las
limitaciones, recursos y necesidades que tienen en sus comunidades; por otra parte, el
conocimiento que adquieren de esas realidades les permiten ser propositivos en las posibles
soluciones, mejoras y transformaciones de los ítems que consideren deben cambiar (Colmenares,
2011: 109)

Durante el trabajo de campo la gran mayoría de las/os participantes no hizo alusión a la


sistematización de la experiencia. El proyecto tuvo un producto audiovisual del cual hizo parte el
mecánico que fue entrevistado para la tesina, el cual hizo alusión muy someramente a la
experiencia. Tal vez el equipo de profesionales que gestionó la intervención no llevó a cabo una
socialización con respecto a las labores de investigación adelantadas, o probablemente el tiempo
que transcurrió entre la intervención, la sistematización de los hallazgos y la divulgación de los
textos y productos audiovisuales hizo que no produjera mayores recordaciones.

El proyecto se formuló desde una perspectiva donde todas/os las/os participantes pudieran
expresarse, la metodología investigación-acción participativa plantea un proceso mucho más
incluyente, donde los roles de facilitador/a y estudiantes se desdibuja y todas/os desde sus
experiencias de vida comparten sus saberes, a partir de estos se generan nuevos conocimientos y
se contribuye en la configuración de prácticas masculinas diferentes.

“Porque tampoco era una investigación ni de biblioteca ni de pupitre sino una investigación
participativa entonces tenía que ser gente [orientador]capaz de asomarse también a ese
abismo del otro digo yo. A esa pregunta que el otro no se ha hecho y de hacerlo con
sensibilidad y con respeto y con cariño […] no es tan fácil parársele a un pelao33del colegio de
San Ignacio estrato 14 o a un mecánico a preguntarle por su masculinidad en una sociedad

32
Entrevista realizada a Andrés Mazo trabajador social quien acompañó logísticamente el proyecto el 9 de julio de 2016 
33
 En Colombia la palabra “pelao” significa muchacho. 

 
113
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

de estas donde primero: nadie se lo ha preguntado y segundo: nadie la ha puesto en duda


cierto?” (Entrevista Lucía González).

El trabajo con masculinidades en la ciudad tienen muy pocos espacios desde las instituciones
estatales, y es un tema que se viene desarrollando desde hace varias décadas en la ciudad pero con
muy poca incidencia, lo que hace que aún existan muchas prevenciones con respecto al tema y
que sea poco conocido por la población.

Herramientas de intervención en el trabajo con varones.

Después de tener una metodología definida y el tipo de acción que se quería realizar viene la
pregunta sobre los temas a abordar, pues si bien la pregunta por la relación entre la construcción
de masculinidades y la guerra es transversal, el proceso tuvo unos tópicos que guiaron el debate,
en este sentido uno de los profesionales que participó en el proyecto señala,

“Los temas eran: hombres y paz, masculinidad militarizada, masculinidades otras lo


llamábamos nosotros que era un espacio donde se hablaba de estos hombres que han tenido
unos comportamientos alternativos a la masculinidad hegemónica, museografeándonos era
otro, eran cinco talleres en total. Uno era evaluativo, van cuatro…al final se hacía uno de
corte evaluativo y de semblanzas que lo llamábamos nosotros (Entrevista Andrés Mazo).

Durante esos cinco encuentros descritos por Mazo se propició una reflexión sobre cómo es la
participación de los varones en el conflicto de la ciudad y el país, al igual que se trató de propiciar
la reflexión sobre contextos en entornos de paz y deconstrucción de masculinidades educadas
para la guerra. Una de las estrategias utilizadas por las/os profesionales para trabajar con quienes
participaron en el proyecto fue denominado el ritual,

“Entonces nosotros sabemos por ejemplo que, contra lo que uno se podría imaginar en
principio, en hombres es muy importante el tema ritual. Eso nos ha dado mucho resultado,
a los hombres les gusta mucho […] eso ha sido una sorpresa y uno no creería pues porque
como somos tan machos, pero sí! a los hombres nos gusta mucho llegar a un espacio y
encontrarlo organizado, con flores, con mándalas, con aromas, eso ha sido muy bien acogido
desde los soldados hasta los mecánicos, los pelados [muchachos] de San Ignacio […]. Eso ha
sido una cosa como llamativa, el tema ritual, el asunto del cuerpo es un asunto que es
delicado de trabajar en las masculinidades en el sentido en que los hombres tenemos mucho
miedo al contacto con otros hombres pero sí se puede trabajar mucho desde la consciencia
corporal, desde el juego. El asunto del tema de lo plástico, de poder plasmar y representar a
partir no solo de la palabra sino del color, de las texturas, el collage. El asunto de las
medicinas ancestrales, la utilización por ejemplo del ambil que es el tabaco no para fumar
sino como una pasta que usan los pueblos ancestrales para la conversación, al mambe34, las
piedras, los aromas, los aceites, el masaje […] lo que hemos visto es que cuando se logra crear

34
El mambe es producto de la combinación de hoja de coca con cenizas de yarumo usadas para rituales religiosos por algunas comunidades 
indígenas  de  la  Amazonía.  Para  ampliar  la  información  visitar:  https://laparada.uniandes.edu.co/index.php/la‐revista/la‐revista‐1/la‐
plaza/sobre‐el‐mambe 

 
114
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

un espacio de confianza entre hombres y se supera como ese asunto de la máscara de quién
es aquí […]” (Entrevista Carlos Ossa).

Las estrategias y técnicas que se utilizaron para el trabajo con varones, fue uno de los temas que
más generó evocación y recordación por parte de las/os participantes que fueron contactados
para el análisis, el cual se desarrolla en el apartado Rituales que transforman y algunas críticas, que
se encuentra más adelante en este capítulo.

Las experiencias que tuvieron en otras intervenciones con varones y los conocimientos adquiridos
les permitieron en este caso identificar el ritual como una forma asertiva para el trabajo con
hombres y también como instrumento para romper barreras de acercamiento, pues parte de esas
configuraciones masculinas están enmarcadas en el rechazo a expresiones corporales y
emocionales asociadas a lo femenino.

Como ya fuera mencionado, el proyecto tuvo dos fases, la primera se ejecutó entre finales del
2014 y principios del 2015 y la segunda y última, entre abril y diciembre del mismo año. Había
una tercera fase planeada para el 2016, pero por el cambio administrativo del Museo no se llevó
a cabo, puesto que el proyecto se anuló,

“En la primera fase se hicieron talleres como herramienta de dialogo con los participantes y
de recolección de información […]. En la segunda fase lo llamamos sentí-pensantes haciendo
alusión como a vincular cuerpo a vincular sentimiento, emoción porque sí creemos y eso sale
también de lo que se trabajó con los grupos, que ese exceso de racionalidad que se fomenta
en esas identidades masculinas, en esas figuras masculinas, impide el acercamiento [...]. Se
hacían disco foros, se hacía sensibilización con esencias, con mambe y se hacía discusión.
Entonces se hicieron talleres con los grupos, con cada grupo se hacían cinco talleres con unos
temas que aunque eran distintos conservaban el eje de la pregunta: ¿qué tiene que ver esto,
nuestra manera de haber sido educados como hombres con la guerra?” (Entrevista Luz María
Londoño).

Las masculinidades se configuran desde cimientos muy racionales donde asuntos como el sentir,
las expresiones corporales que enuncian emociones de debilidad, llanto, tristeza, cariño, son
descalificados como características de feminidad. Uno de los elementos centrales desde los que
se configuran las masculinidades es a través del cuerpo, pues es el dispositivo del que dispone el
patriarcado para adoctrinar a los varones.

Algunas reflexiones en la construcción de masculinidades en la ciudad

La pregunta que hizo el proyecto en referencia a la construcción de masculinidades y su relación


con los fenómenos de guerra en Medellín, dio pie a unas reflexiones acerca de la configuración
de masculinidades en el país proclives al establecimiento de conflictos que vale la pena resaltar
en esta investigación.

“¿Por qué los hombres van a la guerra? Los hombres van a la guerra por una decisión
patriarcal que es que cumplen un servicio civil obligatorio o que uno de sus oficios es ser
soldados de la guerra desde todos los imaginarios que le crean desde chiquitos pero también

 
115
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

porque es una salida a su hombría, porque es una salida a ese modelo patriarcal del macho
teso [fuerte] armado, entonces por eso son los sicarios y por eso son los milicianos de tantas
guerras […] el no lugar, el no tener empleo, el no tener educación, el no tener oportunidades
lleva a los chicos a la guerra. Pero la guerra también como una salida deseada en el sentido
en el que te da un lugar, un lugar de poder. Es mucho más honroso ser un sicario, es mucho
más honroso ser el jefe del combo [grupo armado ilegal] que vender galletas en una esquina
por ejemplo. En ese modelo patriarcal pasa una chica por su casa y usted no es nadie y
entonces esa chica le dice a usted: ¿usted qué hace? Y usted le dice: yo vendo frunas
[caramelos] en un bus […] no! usted prefiere decir que es el malo de la cuadra y esa chica
quedó prendada” (Entrevista Lucia González).

La participación en grupos armados les da a algunos hombres prestigio social y poder dentro de
la ciudad, lo que también los hace estaren unas jerarquías más altas en los círculos de varones
con los que se relacionan, generando temor en las comunidades que habitan. Para el caso puntual
de Medellín, la falta de control estatal ha hecho que estas estructuras ilegales se conviertan en las
autoridades de los barrios más pobres de la ciudad. Así como para Colombia como un todo, la
valorización social de esta “cultura de la violencia”, la naturalización de la misma en todos estos
años de violencia del país, unida a la raíz y estructura “machista” que las sociedades
latinoamericanas heredaron y conformaron históricamente, hace más complejo y difícil el tema.

Las estructuras económicas y sociales tienen grandes incidencias en la participación de los varones
en la guerra, aunque ya desde la configuración de masculinidades en niños y jóvenes se dan unos
antecedentes que los hacen propensos a participar en la guerra, pues tal como lo expone Ossa en
la publicación que se realizó de la primera fase del proyecto,

“En muchos lugares de la ciudad y no solo en los estratos más bajos, los pillos [nombre que
se le da en el contexto antioqueño a los hombres que participan en grupos armados ilegales
sobre todo en aéreas urbanas] son referentes cotidianos de masculinidad que encarnan unos
atributos deseables para los niños y adolescentes, quienes son atraídos por sus prácticas
transgresoras asociadas a la adrenalina, a la aventura, a la seducción; así como por sus objetos
de poder, materializados en la moto, el arma y la ropa de marca” (Ossa, 2015: 30).

La incidencia que tiene la configuración de masculinidades en estos fenómenos de guerra ha sido


poco estudiada, el proyecto del Museo resulta pionero en este sentido35, siendo la primera
institución del país en hacer un trabajo con varones en la desarticulación de prácticas masculinas
que desde lo cultural, político y simbólico mantienen latentes dinámicas de guerra. En el contexto
actual de la ciudad y del país es fundamental diseñar estrategias para modificar estas prácticas, las
cuales son una forma corrientemente aceptada de ser hombres, y en algunos casos significa
prestigio y poder.

“Es un tema urgente para una sociedad que lleva décadas, por no decir siglos, atrapada en
un círculo interminable de violencias y guerra y donde los varones jugamos un papel
protagónico en la postergación de esas violencias. Yo creo que no sólo como conversación
sino desde escenarios estéticos, simbólicos… desde muchos escenarios es urgente empezar a

35
En las entrevistas que se realizaron al equipo que conformó el Museo Casa de la Memoria para este proyecto, ninguna/o tuvo conocimiento 
de otra intervención similar en el país, al igual que en el rastreo bibliográfico tampoco se encontraron otras experiencias.  

 
116
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

movilizar esa sensibilización en los hombres porque tras de esas prácticas de riesgo y de
agresión hay un tema de salud pública enorme, las estadísticas en eso son abrumadoras. Las
de medicina legal, el porcentaje de muertes de los hombres por temas de autoagresión y de
agresión a otros es como de un 90% en comparación a las mujeres entonces eso es algo que
es definitivo que hay que abordar” (Entrevista a Jaime Alberto Osorio).

En este sentido resultan fundamentales propuestas como la del Museo Casa de la Memoria, que
trabajaron con hombres de diferentes procedencias, al igual que las investigaciones en la
académica que permitan conocer más la problemática desde esta perspectiva, y los procesos de
evaluación de estos proyectos también resultan de gran relevancia para mejorar las técnicas desde
las que se realizan estas intervenciones.

Recomendaciones y conclusiones

La política pública de Sana Convivencia y Atención Moral y Material a las víctimas de los
conflictos armados, fue el marco institucional a través del cual se dio surgimiento al Museo Casa
de la Memoria, que fue inaugurado en el año 2013. Esta institución ejecutó un proyecto
“Patriarcado Masculinidades Hegemónicas y Violencias” entre el segundo semestre de 2014 y
diciembre de 2015en el cual se hizo una exploración por la configuración de masculinidades y su
relación con la guerra.

El estudio sobre masculinidades es algo que se viene desarrollando en la ciudad desde la última
década del siglo XX. Las intervenciones con varones son mucho más tardías, pues es sólo a partir
de 2010 que la administración pública comienza a generar proyectos y eventos puntuales con
hombres en perspectiva de género.

Estas intervenciones si bien existen, no están atadas a ninguna política pública de género, sino
que se han dado de acuerdo a los intereses y grado de sensibilización de las/os funcionarias/os
que se acercan a estos temas. Para que el asunto de masculinidades tenga mayores impactos y se
pueda generar una reflexión de ciudad, es necesario que este no dependa de los intereses de las/os
funcionaria/os de turno, sino que esté integrada dentro de las políticas públicas de género y del
gobierno. Por esta razón la evaluación de las propuestas innovadoras en este tema, como lo fue
el proyecto que motivó este estudio es de gran importancia para observar y comprender la
importancia social de este tema e ir construyendo en esta dirección a partir de lo ya implementado
por una institución pública que está en consonancia con el proceso de pacificación que el país
como un todo se propone.

El Museo Casa de La Memoria entre los años 2014 y 2015 logró identificar un problema en la
ciudad en relación a la incidencia que tiene la participación masculina en los fenómenos de
guerra que se han presentado históricamente en la ciudad y el país, los cuales tienen altos costos
económicos, sociales y culturales. Académicamente todavía está pendiente una investigación que
indague más profundamente sobre los costos que tienen estas configuraciones masculinas en la
sociedad, pues aún no se logra determinar cuánto dinero invierte el estado en cárceles, en la
guerra, en accidentes de tránsito, que son mayoritariamente masculinos (Ossa, 2015).

 
117
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A través del proyecto “Patriarcado Masculinidades Hegemónicas y Violencias” hizo una


intervención que también produjo insumos académicos y audiovisuales sobre la construcción de
masculinidades en la ciudad, incidiendo además, como intentó demostrarse, positivamente en la
población que participó de las propuestas del proyecto.

Colombia aún no ha podido determinar cuantitativamente cuál ha sido la participación de los


hombres en la guerra, pues parece demasiado evidente cuál ha sido su cuota de contribución,
pero aún no se ha indagado lo suficiente por las construcciones culturales, económicas e
históricas que hay atrás de este proceso.

El proyecto que ejecutó el Museo fue un primer acercamiento a esta situación. En Colombia,
cuando se ha incluido la perspectiva de género en temas de conflicto se ha focalizado los estudios,
consecuencias e impacto en las mujeres, y se ha dejado un poco de lado lo que ha sucedido con
los hombres. En un momento como el presente, en el que se están elaborando en el país
propuestas para construcción de la paz, resulta fundamental generar intervenciones y
producciones académicas donde se analice este fenómeno.

Referencias bibliográficas

Grupo de Memoria Histórica (2013) ¡Basta ya! Colombia: Memorias de guerra y dignidad,
Bogotá.

Bedoya, Pablo (2016) “¿Los espacios de memoria, ni de víctimas ni de victimarios?”


http://elfichero.com/los-espacios-de-memoria-ni-de-victimas-ni-de-victimarios/ [Consultado:
Enero 30 de 2016]

Colmenares, Ana Mercedes (2011), “Investigación-acción participativa: una metodología


integradora del conocimiento y la acción”; en: Voces y Silencios: Revista Latinoamericana de
Educación, Vol. 3, No. 1, 102-115

Concejo de Medellín (2006) Acuerdo Municipal número 45 de 2006

Esquivel Ventura, Isabella (2014) Análisis de las políticas públicas de acceso a las mujeres a una vida
libre de violencia en el Distrito Federal: propuesta de intervención para el trabajo con varones y la prevención
de la violencia masculina, Tesis para optar al título de Maestra en Políticas Públicas y Género,
Ciudad de México, Flacso México.

Faur, Leonor (2004) Masculinidades y desarrollo Social. Las relaciones de género desde la perspectiva de
los hombres. Bogotá, UNICEF.

Fernández de Avilés, Bakea Alonso (2016) “Trabajo social y perspectiva de género: los hombres
como “colectivo” de intervención”; en; Respuestas transdisciplinares en una sociedad global.
Aportaciones desde el Trabajo Social
D. Carbonero, E. Raya, N. Caparros y C. Gimeno (Coords). La Rioja: Universidad de La Rioja.

 
118
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Garda, Roberto (2014) “Experiencia de trabajo con varones como una estrategia de prevención
de la violencia –Caso hombres por la equidad, México”; en; AECID, UNFPA, MESAGEN,
MIMP y la UPCH, Seminario Internacional. Masculinidades y Políticas Públicas. Varones en la
Prevención de la Violencia de Género. Perú: UNFPA.

Instituto Nacional de Medicina Legal y Ciencias Forenses (2014). Forensis 2014, datos para la vida.
Bogotá, Instituto Nacional de Medicina Legal y Ciencias Forenses.

Museo Casa de la Memoria (2014) Informe 2013-2014

Medellín cómo vamos- Seguridad Ciudadana (2014). En:


http://www.medellincomovamos.org/seguridad-y-convivencia, Disponible: Mayo 11 de 2015.

Medellín un Hogar para la Vida, Plan de Desarrollo 2012-2015 (2011). En:


https://www.medellin.gov.co/irj/go/km/docs/wpccontent/Sites/Subportal%20del%20Ciuda
dano/Plan%20de%20Desarrollo/Secciones/Publicaciones/Documentos/PlaDesarrollo2012-
2015/2012-04-30_Proyecto%20de%20acuerdo%20VERSION%20COMPLETA.pdf,
Disponible: Mayo 11 de 2015.

Menjívar Ochoa, Mauricio (Edit.) (2012) ¿Masculinidades Tránsfugas? Políticas Públicas y experiencia
de trabajo sobre masculinidad en Iberoamérica, Costa Rica, Flacso Costa Rica.

Osorio, Jaime (2014) “Proyecto de Investigación Acción Transformadora, Patriarcado,


masculinidades hegemónicas y violencias. Marco Conceptual”. Medellín. Museo Casa de la
Memoria.

Ossa Ossa, Carlos Alberto (2015) Diálogos sentipensantes sobre Patriarcado, Masculinidades y guerra
en Medellín. Trayectorias analíticas y poéticas, Medellín. Museo Casa de la Memoria

Presidencia de la República de Colombia (2012) Lineamientos de la Política Pública Nacional de


Equidad de Género para las Mujeres, Bogotá

Rico, Nieves (2005) “Cambios de Gobierno y sostenibilidad de las oficinas de la mujer”


[Consultado: Marzo 30 de 2016]

Theidon, Kimberly (2009) “reconstrucción de la masculinidad y reintegración de excombatientes


en Colombia”. Fundación ideas para la paz. Bogotá. Consultado en:
http://archive.ideaspaz.org/images/masculinidad_version_web.pdf

Viveros Vigoya, Mara (2002) De quebradores y cumplidores: Sobre hombres, masculinidades y relaciones
de género en Colombia. Universidad Nacional de Colombia, Bogotá.

 
119
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REFLEXÃO


SOBRE A MASCULINIDADE
Vanessa Silveira de Brito
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
E-mail: vanessabrito482@gmail.com

Introdução

Quando falamos de pessoas em situação de rua estamos nos referindo a uma população
heterogênea. O senso comum tende a perceber esta população como um conjunto homogêneo,
o que prejudica a compreensão das questões que envolvem esse fenômeno complexo.

Os dados da Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, realizada pelo Ministério
de Desenvolvimento Nacional em parceria com a Organização das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO) realizada entre 2007 e 2008 em 71 municípios com mais de 300
mil habitantes indica o alcoolismo/drogas como a principal razão pela qual as pessoas estão em
situação de rua, seguidas pelo desemprego e o conflito familiar. Ainda segundo essa pesquisa
estima-se que cerca de 50 mil pessoas vivem em situação de rua (BRASIL, 2008).

Dados semelhantes são encontrados no município de Itaguaí, onde aspectos econômicos, sociais
e culturais atravessam o cotidiano das pessoas e influenciam no processo de utilização da rua
como espaço de moradia.

O meu interesse para o tema foi despertado a partir da atuação como Psicóloga do Centro Pop
de Itaguaí (Centro de Atendimento Especializado para População em Situação de Rua) e da
percepção de que a população em situação de rua é predominantemente masculina. Neste
sentido, vejo como necessário pensar sobre a questão masculina e os elementos que compõem a
masculinidade dos homens que estão em situação de rua. Assim, no presente texto, realizo uma
reflexão sobre a questão da masculinidade, considerando o perfil da população atendida e os
motivos para estarem ou permanecerem nas ruas.

O estudo foi realizado a partir de entrevistas e de análise dos históricos dos sujeitos atendidos na
unidade supracitada, permitindo a elaboração de um perfil da população em situação de rua

 
120
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

presente no território. E também possibilitou a realização de algumas considerações acerca das


concepções de masculinidade presentes no discurso dos sujeitos.

Perfil da População em Situação de Rua (PSR) no município de Itaguaí

Antes de nos deter no perfil da PSR, vale destacar algumas características do território pesquisado.
Itaguaí é um município que fica a 69 km da capital da cidade do Rio de Janeiro. Fica situado
num trecho da Rodovia Rio-Santos, que liga o Estado do Rio de Janeiro ao Estado de São Paulo,
passando pelas cidades de Mangaratiba, Angra dos Reis, Paraty e outras que são consideradas por
grande parte dos usuários atendidos no Centro Pop como lugares oportunos para inserção no
mercado de trabalho e/ou para aquisição de renda, a partir da venda de artesanatos. Assim, é
possível observar ainda a presença de andarilhos fazendo a travessia desse trecho, tendo em vista
que eles vivem em trânsito nesses municípios e Itaguaí se configura como uma cidade “de
passagem”.

De acordo com os dados do Censo de 2010 e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE) de 2011, o município de Itaguaí é constituído por uma população estimada em pouco
mais de 100 mil habitantes e suas principais fontes de dinamização econômica são provenientes
do setor terciário e de atividades portuárias.

Essas características incorrem numa série de consequências sociais, dentre elas: a elevada
demanda por profissionais com qualificação, o trânsito acentuado de pessoas, assim como uma
expressiva incidência de fixação de pessoas para fins de emprego e/ou em busca de oportunidades
de emprego.

Neste contexto, identificamos o município de Itaguaí como área de migração, conforme definição
de Oliveira e Jannuzzi (2005: 135): “Área de atuação migratória, originando fluxos de pessoas em
busca de trabalho ou melhores rendimentos. A disponibilidade de serviços públicos e politicas
sociais nas áreas mais dinâmicas também constituiriam fatores potencializadores do fenômeno”.

Entretanto, as oscilações econômicas no âmbito nacional afetam o município e, em se tratando


de declínio, se materializam na realidade cotidiana da população, na forma de desemprego, por
exemplo. A área portuária e de construção, que há alguns anos atrás aquecia a economia local,
agora está eliminando postos de trabalho de forma numerosa.

Diante desse contexto, observamos o aumento significativo da população em situação de rua em


Itaguaí – que pode estar associado ao crescimento acentuado da população decorrente da
instalação de grandes empresas e do Porto de Itaguaí. A área urbana do município é relativamente
grande, se concentrando nela as pessoas em situação de rua.

É importante dizer que, ao falarmos de pessoas em situação de rua, na maioria das vezes, nos
referimos a migrantes, considerando que grande parcela desta população é oriunda de outras
cidades. Assim, consideramos que há um componente migratório significativo quando se trata
de pessoas em situação de rua.

 
121
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Há uma série de conceitos trabalhados pelos pesquisadores da área da mobilidade humana. Aqui,
apresentamos algumas definições que consideramos importantes para a compreensão do estudo
a ser realizado. A primeira se refere ao próprio conceito de migração:

Na concepção tradicional, é um movimento de pessoas, grupos ou povos de um lugar para


outro com a finalidade de estabelecer-se ou de trabalhar naquele local. Por migrante entende-
se toda a pessoa que migra ou não, transferindo-se de sua residência comum para outro lugar,
região ou país, ou perdendo posição social no seu espaço comum, sendo excluída e tendo
restrita a sua perspectiva de reinserção no processo social produtivo. No fenômeno da
migração há o emigrante (pessoa que deixa a sua pátria ou a região para residir em outro país
ou região); o imigrante (pessoa que ingressa em outra região, cidade ou país diferente, para
aí viver). (ZAMBERLAN, 2004, p. 20).

Como afirma o autor, trata-se de uma definição tradicional sobre o fenômeno migratório. Outra
concepção de migração é apresentada pelo sociólogo José Martins de Souza (2002). Este
pesquisador traz a discussão sobre a migração social e mostra a importância de considerarmos os
aspectos sociais envolvidos nos processos migratórios e não apenas os fatores demográficos
relacionados ao deslocamento. Em outras palavras, o autor enfatiza as questões sociais que
envolvem os fluxos migratórios e coloca em foco a subjetividade dos sujeitos neste processo.

Para ele, o ato de migrar seria uma consequência da desigualdade de classes. E um dos efeitos da
migração seria a dificuldade de reinserção social do migrante em um território desconhecido:

Os problemas que aparecem não são relativos à migração de um lugar a outro (...) é preciso
começar a repensar as migrações além de sua dimensão territorial e demográfica (...). É
preciso pensar no deslocamento social que existe no interior do deslocamento espacial, isto
é, pensar nos fatores propriamente sociais, culturais e políticos embutidos no processo de
migração. (MARTINS, 2002, p. 132).

Além do aspecto social, os autores também atribuem a migração a dificuldades econômicas


ocorridas em determinado território. Assim, definem também o fenômeno da circularidade: o
movimento contínuo da massa de trabalhadores (desempregados, excluídos e trabalhadores
informais) rurais e urbanos que se se deslocam para as cidades médias e regiões metropolitanas
em busca de oportunidades de trabalho. Denomina-se de circularidade porque seriam migrações
de retorno. (Zamberlan, 2004). Em Itaguaí, é possível observar esse tipo de migração,
especialmente de sujeitos vindos do Nordeste para trabalhar nas grandes empresas por um
período determinado.

Ainda sobre os fenômenos migratórios, cabe a definição de nomadismo. Em geral, este tipo de
migrante é conhecido como nômade urbano ou andarilho. No Centro Pop, este é o tipo mais
comum de migrante. Vale destacar que existe uma classificação (feita pelos próprios sujeitos) que
nos dão a ideia dos tons de invisibilidade possíveis, já que habitualmente englobamos a maioria
dos usuários no “rótulo” de andarilhos. De acordo com o discurso dos sujeitos atendidos no
Centro Pop, destaca-se a seguinte classificação:

 Trecheiro: pessoas que viajam de um lugar a outro, exercendo atividades para aquisição
de renda;

 
122
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

 Pardais de estrada: sujeitos que vão de uma cidade a outra, sempre retornando a uma
espécie de cidade de origem.

Classificação semelhante é apresentada por Zamberlan (2004), ao citar as tendências das


migrações no Brasil. No que se refere aos nômades urbanos, o autor afirma: “Além dos grupos
nômades tradicionais avançam os grupos de andarilhos: trincheiros (migrantes que não
restringem seus percursos, percorrem o país e até países vizinhos); os pardais (se mantém nos
limites de uma cidade, ou entre cidades vizinhas)” (ZAMBERLAN, 2004, p. 70).

Por sua localização geográfica e por ser uma cidade litorânea, o município atrai grande quantidade
de andarilhos, que consideram o município como um lugar propício para a venda da sua arte
(por exemplo, atividades circenses, como os malabares) e de seu artesanato – peças confeccionadas
com folhas de coqueiro, materiais recicláveis e outros.

Assim, os sujeitos saem de sua cidade de origem em busca de certa ascensão social ou, ao menos,
de melhorar a sua situação financeira. Na maioria das vezes, planejam acumular uma quantia e
retornar para a sua cidade. Infelizmente, quando estes sujeitos buscam atendimento no Centro
Pop é porque algo não saiu como planejado. São comuns os seguintes relatos: “eu estava no
alojamento da firma, mas a obra acabou e eu fui dispensado. Agora, estou desempregado e não
tenho dinheiro pra voltar pra casa”. E geralmente, nestes casos, os sujeitos não querem pedir
ajuda à família, pois se sentem constrangidos, afinal, saíram de sua cidade para “vencer na vida”
e a ideia de mostrar para a família que fracassou é tão insuportável que optam por manter o
silêncio, ao invés de assumirem as suas dificuldades e, simplesmente, pedirem ajuda aos
familiares. Mais adiante, retomamos esse ponto, no debate sobre as concepções de masculinidade
presentes no discurso desses homens em situação de rua.

De acordo com o levantamento realizado pela equipe do Centro Pop de Itaguaí, passaram pelo
serviço majoritariamente usuários do sexo masculino, predominantemente da cor/raça negra, na
faixa etária entre 18 a 39 anos, com escolaridade do ensino fundamental incompleto e em
situação de desemprego.

Dentre os motivos que levaram os usuários atendidos a viverem em situação de rua, os conflitos
familiares, o uso de álcool e outras drogas e o desemprego representam quase a totalidade dos
casos. Esses dados são semelhantes aos resultados da Pesquisa Nacional sobre População em
Situação de Rua, realizada no ano de 2008. Assim como em outras realidades, é comum os fatores
estarem associados entre si.

Aqui, vale destacar um estudo pioneiro realizado por Nels Anderson (1998), que classificou os
que ele denominou de Hobos (sem-abrigo) da seguinte forma: intelectuais; home-guard e os
trabalhadores migrantes. Como se tratou de um estudo de comunidade, o autor buscou
características comuns aos grupos, identificando assim, a fragilidade dos vínculos familiares e
residenciais.

Anderson (1998) estava preocupado com a natureza humana dos Hobos, investigando a
influência das forças econômicas e sociais para a produção da subjetividade. No estudo realizado,
o autor observou que as dificuldades vão além das questões econômicas.

 
123
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Em relação a isso, Silva Filho (2007) afirma que o fenômeno do desabrigo tem sido abordado
“como um problema crônico de desfiliação, de política habitacional, de assistência social, de
desemprego, doença mental ou mesmo como um efeito de todos esses fatores” (SILVA FILHO,
2007, p. 30). O autor evidenciou a existência de desigualdades da pobreza nas ruas. E percebe
tais desigualdades como decorrentes do manejo de recursos objetivos e subjetivos. Ele afirma que,
apesar da eficácia aparente das estratégias de sobrevivência nas ruas, em termos de renda
adquirida, pode-se observar uma série de precariedades, tais como a assistência à saúde, segurança,
além da degradação moral.

Para o autor supracitado, “a desigualdade entre os pobres de rua envolve fatores subjetivos que
participam do desenho das redes sociais da rua. A complexidade destas redes condiciona as
ocupações, sua duração e a lucratividade de cada expediente posto em prática” (SILVA FILHO,
2007, p. 34).

Pensando o preconceito e o estigma

Para pensar o trabalho com a pessoa em situação de rua é fundamental refletir sobre a questão
do preconceito. Em princípio, deve-se considerar o preconceito como algo construído histórica
(o) e socialmente e, portanto, como algo mutável.

Aronson (1999) define o preconceito como uma atitude hostil em relação a determinado grupo,
baseada em estereótipos – que são generalizações deformadas ou incompletas, tendo em vista a
atribuição de determinadas características a um grupo como um todo, desconsiderando os
componentes individuais. Assim, os estereótipos seriam, concomitantemente, a causa e a
consequência do preconceito (Rodrigues, 1999).

De acordo com o autor supracitado, a maioria dos estereótipos não está baseado em experiências
válidas. Em geral, se originam de posições socioeconômicas e de valores socialmente estimados e
aqueles reprováveis moralmente que determinado grupo mantém na sociedade. Quando se fala
da pessoa em situação de rua, além do estereótipo, temos também a presença do estigma.

Neste ponto, cabe a reflexão de Goffman (1975) sobre o estigma. Para o autor, o estigma é
utilizado para fazer referência a um atributo profundamente depreciativo e estereotipado,
apresentando a seguinte classificação: as abominações do corpo (gordo; raquítico; aleijado; anão);
as culpas de caráter individual (definidas por Goffman como um conjunto de estereótipos
desabonadores que podem assumir caráter de estigma) e aqueles relacionados à raça, nação,
religião.

Além disso, Goffman (1975) afirma que as categorias de identificação são compostas por
características diversas que incluem tanto os traços do caráter como atributos estruturais. E,
dependendo do desenrolar das relações sociais, o indivíduo terá uma identidade social virtual
(características atribuídas pelo outro) e uma identidade social real (atributos que ele prova
possuir), o que nos remete à condição plural da concepção de identidade social.

Assim, consideramos que a noção de estigma se relaciona às representações sociais ao falarmos


da população em situação de rua, à medida que a representação social do morador de rua como

 
124
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

um sujeito potencialmente perigoso nos remete a classificação do estigma a partir de estereótipos


desabonadores.

Além disso, a pessoa em situação de rua ainda pode apresentar uma identidade negativa,
estigmatizada, como uma consequência possível do preconceito. De acordo com Goffman (1975,
p. 41): “as pessoas que têm um estigma particular tendem a ter experiências semelhantes de
aprendizagem relativa à sua condição e a sofrer mudanças semelhantes na concepção do eu”.

Vale ressaltar que, a equipe do Centro Pop, por vezes é tão estigmatizada quanto a população que
atende. O próprio Goffman (1975) diz que os estigmas na sua origem e, até hoje, são empregados
para identificar pessoas as quais se devem evitar o contato. Assim, podemos pensar que os
profissionais que estão em contato com as pessoas em situação de rua também são de alguma
forma, estigmatizadas.

Na área da assistência social, por vezes, observamos que a postura de alguns funcionários parece
ter como base estigmas e estereótipos. No âmbito da saúde, observamos posturas ainda mais
emblemáticas. É comum o acesso aos serviços serem dificultados em função de uma determinada
visão dos profissionais em relação às pessoas em situação de rua.

Por vezes, a pessoa chega a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) necessitando de um


atendimento de urgência e o médico solicita que o paciente realize a higiene pessoal antes do
atendimento. Essa atitude do profissional deixa a pessoa constrangida e em nada favorece a
construção de um vínculo. Podemos pensar até que esta atitude pode ter como consequência a
não aderência da pessoa em situação de rua ao tratamento. Não é raro a equipe do Centro Pop
realizar alguma intervenção para garantir o acesso da população em situação de rua aos serviços
básicos. E isso ocorre porque, na maioria das vezes, as pessoas em situação de rua têm os seus
direitos violados, em função do preconceito dos profissionais que atuam nas políticas públicas.

Outro ponto a ser destacado diz respeito à estigmatização dos estigmatizados, em especial, quando
observamos a divisão dos grupos no território: o grupo dos alcoolistas e o grupo das pessoas que
usam outras drogas. Eles ficam em locais diferentes e se referem uns aos outros de maneira
pejorativa. Por exemplo, "os cachaceiros", "aqueles maconheiros".

Para Elias e Scotson (2000), o processo de estigmatização ocorre entre grupos, tendo em vista que
os aspectos considerados negativos caracterizam determinado grupo. Mais do que isso, o estigma
vem para impor uma hierarquia entre os grupos. Por isso, as pessoas estigmatizadas também
estigmatizam outros grupos, por características que os diferem. Assim, “os maconheiros” não
seriam apenas os sujeitos que consomem a maconha, mas aqueles que portam os aspectos
negativos que caracterizam a pessoa que usa a maconha. Neste caso, aos "maconheiros" são
atribuídos os pequenos furtos, enquanto o grupo dos alcoolistas se percebe como sendo mais
solidários, por exemplo.

O trabalho de perceber os estigmas e atuar na superação destes no atendimento às pessoas em


situação de rua deve ser realizado de maneira interna e externa. Isto porque o estigma opera em
cada um de uma determinada maneira, mesmo em nós, trabalhadores da assistência social. E, por
isso, também precisamos estar atentos para não reproduzir aquilo que rechaçamos.

 
125
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Para a equipe, trata-se de uma tentativa de ir além do estereotipo para enxergar o sujeito que se
coloca à nossa frente, com suas dificuldades e limitações. Mas também, com as suas possibilidades
e potencialidades.

Trabalhamos com uma população marginalizada. Marginalizada no sentido de estar à margem. À


margem do que é visível. À margem das políticas públicas. Pensar política pública é garantir
direitos e também mostrar uma preocupação com a demanda das pessoas a quem a política se
destina.

Fato é que as pessoas em situação de rua também têm os seus desejos que precisam ser respeitados.
E direitos que precisam ser garantidos. Acreditamos que o acesso aos direitos de cidadania pode
trazer benefícios aos usuários de maneira individual e coletiva. Ser reconhecido como cidadão de
direitos tem impacto direto sobre a constituição dos sujeitos que vivem nas ruas. É uma maneira
de se ver e de ser visto como sujeito digno de participar da vida em sociedade.

População masculina em situação de rua: refletindo sobre a masculinidade

Para iniciar uma discussão sobre a concepção de masculinidade vigente em nossa sociedade, faz-
se necessária a reflexão sobre o sistema de patriarcado. De acordo com Almeida (2010, p. 13): “O
patriarcado, sistema estruturador de relações sociais, está presente na sociedade de forma
multifacetada e se expressa de diferentes maneiras em contextos distintos”. E, assim, modela as
relações de gênero entre homens e mulheres, estabelecendo uma relação de dominação e
exploração do homem sobre a mulher.

Vale ressaltar que falamos de gênero e patriarcado pressupondo que existe relação entre o
processo de exploração-dominação e a sociedade capitalista na qual estamos inseridos. E, mais do
que isso, apostando na necessidade de superação do sistema patriarcal de dominação – que
oprime e gera restrição de liberdade, tendo em vista a incorporação dos papéis masculinos e
femininos.

Apesar do debate sobre gênero existir antes desse período, o tema ganha força na década de 1990,
mas ainda restrito a pesquisas sobre mulheres. Apenas na década seguinte, a partir do ano 2000,
os estudos sobre masculinidades começam a despontar, o que podemos considerar um campo
recente de pesquisa. (Medrado e Lyra, 2008).

Consideramos esse debate relevante, tendo em vista que o sistema do patriarcado ainda está
vigente na atualidade: “falar sobre patriarcado implica reconhecer que o mesmo não é um
conceito unânime e que se configura de diversas formas. É um sistema de dominação que se faz
presente nas diferentes instituições sociais, desde a família ao Estado, apresentando-se em todos
os espaços da sociedade” (ALMEIDA, 2010, P. 24).

Em relação a isso, Saffioti (2004) afirma que o sistema de dominação-exploração presente no


modelo do patriarcado permeia tanto o ambiente familiar quanto a esfera política. A dominação

 
126
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

aparece nas mais diversas formas, seja na prática da violência ou na divisão desigual das tarefas
domésticas, por exemplo.

Fato é que esse sistema de dominação-exploração está tão arraigado (seja de maneira invisível ou
explícita) e legitimado que há uma tendência à naturalização. E é nesta naturalização que o
sistema se reafirma e se perpetua: “O patriarcado está arraigado em todas as instituições sociais
impondo modelos e formas diversificadas de dominação e subordinação” (Almeida, 2010, p. 28).

Para a autora supracitada, existe uma classificação das construções sociais de gênero na sociedade
patriarcal e capitalista, portanto, no contexto de relações desiguais de dominação e exploração.
Portanto, “colocar o nome da dominação masculina – patriarcado – na sombra significa operar
segundo a ideologia patriarcal, que torna natural essa dominação-exploração” (SAFFIOTI, 2004,
p. 56).

Alguns autores trabalham com o conceito de patriarcado e outros preferem dar ênfase à noção
de gênero. Entre esses dois grupos, segundo Saffioti (2004) existe, todavia, o seguinte consenso:
“O gênero é a construção social do masculino e do feminino” (p. 45).

Pensar relações de gênero significa pensar em papéis definidos para homens e mulheres. E
compreender que estes padrões estabelecidos moldam atitudes e vivências diferentes e desiguais
para homens e mulheres, ocasionando a naturalização de determinados sentimentos atribuídos à
figura masculina e à figura feminina. Assim, podemos dizer que os papéis sociais atribuídos a
homens e mulheres são perpassados pelo sistema capitalista, afirmando um sistema de
desigualdade entre os sexos.

Os homens dominam coletiva e individualmente as mulheres, exercendo a dominação na esfera


privada ou pública. Isso atribui aos homens privilégios materiais, culturais e simbólicos. Como
foi dito anteriormente, a dominação masculina é apresentada como óbvia, como um fenômeno
natural, integrado de algum modo à divisão social e hierárquica por sexo. E acreditamos que isso
traz consequências para a construção da subjetividade de homens e de mulheres.

Quando pensamos na construção da subjetividade de homens em situação de rua não podemos


desconsiderar a inserção destes no sistema do patriarcado. Mais uma vez, lembramos os motivos
que levam os homens às ruas: conflitos familiares, uso de álcool e outras drogas e o desemprego.
Ainda no que se refere aos conflitos familiares é comum relatos de desilusões amorosas
decorrentes de situações de traição.

A nossa hipótese é de que esse discurso dos sujeitos evidencia a mudança do lugar de dominador,
para o lugar de dominado, de submissão. Lugar esse tão conhecido pelas mulheres. Para Lia
Machado (2004), a construção hegemônica dos valores do masculino ainda está pautada na figura
de provedor. E, na impossibilidade de se manter nessa posição, os homens percebem a si mesmo
como se tivessem perdido a “honra”- aqui entendida como uma categoria relacional que funda a
construção simbólica dos gêneros.

A partir da realização de um estudo em um presídio com homens que haviam praticado algum
tipo de violência contra as suas companheiras, Lia Machado faz a seguinte consideração:

 
127
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

O código relacional da honra exige responsabilidades recíprocas entre homens e mulheres,


mas com tarefas diferenciadas nas suas funções de parceiros e no exercício da parentalidade.
A posição de provedor parece ser a contrapartida da fidelidade sexual feminina. Parcela
importante do núcleo da honra do homem depende da fidelidade da mulher e do seu
estatuto de ser reconhecida como respeitada (MACHADO, 2004, p. 53).

Ressaltamos ainda no que se refere aos conflitos familiares, os sujeitos, de uma maneira geral,
relatam desilusões amorosas decorrentes de situações de traição. O que mais uma vez, evidencia
a mudança do lugar de dominador, para o lugar de dominado, de submissão. Lugar esse tão
conhecido pelas mulheres.

Assim, podemos pensar que existe uma relação entre os motivos que levam os homens à situação
de rua e um certo enfraquecimento da identidade masculina. Acreditamos que, seja por
dificuldades financeiras (desemprego) ou por questões emocionais (uso de drogas e/ou conflitos
familiares), ao sair do lugar de dominação masculina, esses homens não conseguem se manter no
convívio familiar.

Considerações Finais

A partir da análise realizada, observamos que os motivos elencados pelos sujeitos para estarem
nas ruas nos levam a pensar que há um enfraquecimento da identidade masculina, seja por
dificuldades financeiras (desemprego) ou por questões emocionais (uso de drogas e/ou conflitos
familiares). E, ao sair do lugar de dominação masculina, esses homens não conseguem se manter
no convívio familiar.

O estudo revela que a construção hegemônica dos valores do masculino ainda está pautada na
figura de provedor. E, na impossibilidade de se manter nessa posição, os homens percebem a si
mesmo como se tivessem perdido a “honra”- aqui entendida como uma categoria relacional que
funda a construção simbólica dos gêneros. Assim, fica evidente a necessidade de trabalhar junto
à população atendida a desconstrução das concepções vigentes de masculinidade.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, J. P. As multifaces do patriarcado: uma análise das relações de gênero nas famílias
homoafetivas. Departamento de Serviço Social (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal
de Pernambuco. Recife, 2010.

ANDERSON, Nels. Le Hobo. On Hobo and Homelessness. Chicago & London.The University
of Chicago Press (1928), 1998.

 
128
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

ARONSON, E. Prejudice. In: The social animal. New York: Worth Publishers: Freeman and
Company, p. 304-363, 1999.

BRASIL. Decreto Nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para a


População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento. Brasília, 2009.

BRASIL, Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua. Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília, 2008.

ELIAS, N; SCOTSON, L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a


partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

GOFFMAN, Erving. Estigma notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de


Janeiro: Zahar, 1975.

MACHADO, L. Z. Masculinidade e violências: gênero e mal-estar na sociedade contemporânea.


In: SCHPUN, M. R. (org.). Masculinidades. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.

MARTINS, José de Souza. A Sociedade vista do Abismo. Petrópolis: Vozes, 2002.

MEDRADO, B; LIRA, J. Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre homens e
masculinidades. Revista Estudos Feministas, vol. 16, nº 3. Florianópolis, 2008.

OLIVEIRA, K. F.; JANNUZZI, P. M. Motivos para migração no Brasil e retorno ao Nordeste:


padrões etários, por sexo e origem/destino. São Paulo em Perspectiva, v. 19, nº 4, p. 134-143,
out/dez 2005.

RODRIGUES, A. et al. Preconceito, estereótipo e discriminação. 18 ed. In: Psicologia social.


Petrópolis: Vozes, 1999.

SAFFIOTI, H.I.B. Gênero, patriarcado, violência. Coleção Brasil Urgente. São Paulo: Editora
Fundação Perseu Abramo, 2004.

SILVA FILHO. Dario de Sousa. Degredados Filhos de Eva: população de rua e a economia da
miséria no Rio de Janeiro (Tese de Doutorado). Departamento de Sociologia. IUPERJ, 2007.

ZAMBERLAM, J. O processo migratório no Brasil e os desafios da mobilidade humana na


globalização. Porto Alegre: Pallotti, 2004.

 
129
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

VARONES Y COMPORTAMIENTOS SEXUALES DE RIESGO.


David Amorín Fontes
Ex Catedrático Universidad de la República. Director de la Licenciatura de Psicología (UNIFA).
Uruguay.

Este estudio se enmarca en la tradición de los estudios de masculinidades con perspectiva de


género, con enfoque de salud sexual y psicodinámico, con las teorías feministas como texto y
contexto y desde un enfoque de derechos. El análisis de los comportamientos sexuales de riesgo
en clientes de trabajadoras sexuales se realizó sobre la percepción que las propias trabajadoras
sexuales -observadoras sobre implicadas pero privilegiadas por razones obvias- acerca de dichas
prácticas que ponen en riesgo la salud sexual en general. La recolección de datos se efectuó por
medio de entrevistas en profundidad y encuestas, las que fueron realizadas por psicólogas, en el
entendido que esta variable redunda en una mayor riqueza de los datos recogidos dada la mayor
intimidad que se produce intra género36. Las mismas se efectuaron en Policlínicas Municipales y
de la Red de Atención Primaria de los Servicios de Salud del Estado y en un local de trabajo
donde ejercen las trabajadoras sexuales.

Como es sabido el concepto de “grupos de riesgo” ya no tiene estrictamente vigencia


técnicamente y se ajusta mejor al conocimiento científico que se posee sobre el tema la expresión
“comportamientos sexuales de riesgo”, dada la envergadura que ha tomado la epidemia de
VIH/Sida a nivel mundial.

Los datos sobre prostitución muestran un aumento de esta práctica en todo el mundo, lo que va
en consonancia con un aumento de la demanda a pesar de los intentos abolicionistas37 de
determinados sectores militantes y feministas que, muchas veces, entran en conflicto con la
perspectiva de las agrupaciones de trabajadoras sexuales. La militancia abolicionista:

(…) mantiene que la prostitución de mujeres sólo puede analizarse desde la perspectiva de la
historia de la desigualdad entre hombres y mujeres. La mayor parte de que las mujeres
prostituidas son víctimas de una sociedad injusta y patriarcal. La prostitución, que definen
como violencia contra las mujeres, no es comparable a ningún otro trabajo. En realidad, es
el núcleo de una relación de dominación en bruto, sin mediación alguna. (DE MIGUEL).

36
 Ver en sentido amplio el concepto de “sororidad” de Marcela Lagarde (www.asociacionag.org.ar/pdfaportes/25/09.pdf). 
37
  Además  de  la  postura  abolicionista,  existen  la  postura  prohibicionista  y  la  legalista  (reglamentarista),  todas  con  fortalezas  y  debilidad 
dentro del debate contemporáneo sobre el tema. 

 
130
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Sabido es que la indagación acerca de estos temas centrada en el cliente no es la más frecuente
en este tipo de investigaciones, de allí que el cometido del presente proyecto sea exploratorio y
descriptivo, con miras a profundizar en la temática a partir de los aspectos identificados; “sabemos
que si no hubiera hombres dispuestos a pagar por usar sexualmente mujeres no existiría la
prostitución, pero todavía no sabemos mucho del perfil de esos hombres” (ídem).

Hay relativamente pocas investigaciones acerca de cuántos hombres o qué porcentaje de la


población masculina en determinado contexto compra actos sexuales. Es a menudo difícil
comparar las investigaciones disponibles y estadísticas de un país con otro o de una encuesta con
otra debido a los diferentes métodos y definiciones utilizados. Sin embargo, una revisión reciente
de encuestas de hogares, encuestas conductuales de vigilancia e investigaciones existentes de
alrededor del mundo calculó un porcentaje medio de hombres que reportaban haber pagado por
sexo en los últimos 12 meses.

El porcentaje global de hombres que compraron sexo en los últimos 12 meses se estimó en
9-10 por ciento, con estimaciones de 13 por ciento a 15 por ciento en la región de África
Central, y 5-7 por ciento en Asia y Latinoamérica, mientras que un estudio en Europa
Occidental encontró que el porcentaje ahí era de alrededor del 3 por ciento (CARAEL,
2006). (RICARDO Y BARKER, 2008, el destacado pertenece al original).

Específicamente entonces, en relación con el presente proyecto, son casi inexistentes los estudios
de aspectos psicológicos relacionados a comportamientos sexuales de riesgo en clientes de
trabajadoras sexuales, desde una perspectiva de género y masculinidades. Como tantos otros
aspectos de la masculinidad hegemónica, muchos comportamientos francamente inscritos en
dispositivos de dominación y sometimiento de las mujeres por parte de los varones quedan
naturalizados e invisibilizados, no siendo objeto de análisis ni problematización.

Un hombre que compra sexo es visto simplemente como un ‘hombre’ haciendo ‘lo que hacen
los hombres’, y por lo tanto no hay nada extraordinario o suficientemente interesante en ese
comportamiento que justifique una investigación. (BEN-ISRAEL y LEVENKRON en
DURCHSLAG y GOSWAMI, 2008:6; citado en ROSTAGNOL, 2011:12).

Asimismo, uno de los trabajos nacionales relevados como antecedentes expresa en sus
recomendaciones:

6.1 Realizar estudios nacionales sobre sexualidad que permitan visualizar conocimientos,
prácticas y representaciones, incluyendo un énfasis particular en las percepciones y lógicas de
comportamientos frente al SIDA, tanto en población en general como en grupos específicos.
Considerar estudios cuantitativos como estrategia para visualizar rápidamente situaciones de
riesgo, modelos de negociación, roles sexuales, patrones generacionales y establecer líneas de
base referenciales para la acción en salud. (GUCHIN y MERÉ, 2004:64).

Algunos aspectos puntuales de esta recomendación toma en cuenta nuestra investigación. Para
ello priorizamos, desde el punto de vista de la trabajadora sexual y expresado en el contenido de
su discurso con los matices de significado que éstas le confieren, los siguientes elementos:
indagación de las prácticas y comportamientos de los clientes relativos a comportamientos

 
131
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

sexuales de riesgo, formatos de negociación de los cuidados para prevenir ETS, y conocimientos
e información sobre dichas prácticas de riesgo.

Un relevamiento realizado en el año 2010 muestra que, a nivel nacional:

(…) el tópico clientes está inexplorado. Las escasas menciones señalan tres elementos: la
prevalencia masculina; la heterogeneidad en cuanto a clase, profesión, estado civil y edad; la
percepción no estigmatizada del cliente (ROSTAGNOL et al. 2007; GUERRA 2006;
MARTÍNEZ 2004; LAURNAGA ET AL 1995) (MUSTO y TRAJTENBERG:149).

La literatura e investigaciones sobre el tema indican que no existe un perfil definido del cliente
que solicita servicios de trabajadoras sexuales, por tanto no es éste el objetivo del estudio, sino
detectar la complejidad de los aspectos psicológicos implicados en la transacción y negociación
entre estos varones y algunas trabajadoras sexuales en la ciudad de Maldonado, y la emergencia
de comportamientos sexuales de riesgo.

Los clientes presentan cualquier tipo de personalidad y psicopatología dinámica, provienen de


todos los estratos sociales y el rango de edad es bien amplio.

(...), se debe hacer visible la participación del cliente, así como exigir el
reconocimiento particular y social de su responsabilidad. El cliente es
quien financia el negocio de la prostitución; de él proviene el ingreso que
hace lucrativa la actividad, independientemente de la situación
económica de cada país donde existe” (TRAPASSO, 2005).

Contratar servicios sexuales a cambio de dinero es, en sentido amplio, una acción
puntual/circunstancial que se realiza mediante el desempeño de un rol concreto y específico en
un espacio y tiempo acotados, pero en el marco de lógicas patriarcales - siempre reforzadoras de
estereotipos de género y prácticas sexistas - a las que le subyacen variados formatos de
masculinidades. Se trata de una puesta en escena de un aspecto específico de la identidad y
orientación sexual del varón, en consonancia con mandatos de virilidad, al son de un contexto
epocal e histórico estructural de violencia de género.

Podemos afirmar que las teorías y conceptualizaciones basadas en estudios empíricos no


consideran que estos varones porten una psicopatología específica que defina este tipo de actos.
Se apunta más bien a la existencia de variables singulares articuladas con mandatos hegemónicos
de género de prescriben y proscriben conductas viriles y comportamientos eróticos. Por tanto los
clientes de trabajadoras sexuales están muy lejos de ser un grupo homogéneo y generalizable y en
él están representados todas las edades, clases sociales, grupos étnicos, ideologías y, hasta me
animaría a sugerir, credos religiosos. Sería bien interesante proyectar estudios que indaguen
acerca de las diferencias intra género en varones que no utilizan servicios de trabajadoras sexuales
en comparación con los que sí los hacen y, dentro de estos últimos, indagar las características de
aquellos que realizan o proponen prácticas sexuales de riesgo para compararlas con quienes no
lo hacen.

 
132
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Tanto si aceptamos la naturalidad de esta práctica como si consideramos al cliente como un


enfermo mental (seguro que los hay, pero ese no es el caso) nos equivocaríamos mucho,
estaríamos eludiendo la responsabilidad del usuario sostenida por el peso de las costumbres o por
la psicología y, lo que sería peor aún, eludiríamos la perspectiva política de las prácticas
prostituyentes. (VOLNOVICH, 2004).

Existe una relación directa entre aspectos psicológicos del cliente (y de la trabajadora) y dinámica
de la negociación con los comportamientos sexuales de riesgo, los que sabemos están asociados
al riesgo de contagio de VIH-Sida. Por tanto estos cuatro aspectos definen criterios de elaboración
de este proyecto de investigación. Comprender las complejas interacciones entre estos
componentes permitirá manejar información de utilidad para intervenir con miras a procurar
efectos de mayor prevención en contagio de VIH/Sida, tanto por la vía de lograr mayor
sensibilidad en los clientes respecto del autocuidado y del heterocuidado, así como del
empoderamiento38 de la trabajadora sexual. Justamente, uno de los estudios que relevamos a
modo de antecedentes en Latinoamérica, concluye que:

La utilización del condón, por otra parte, parece relacionarse con variables sobre las cuales
es posible realizar intervenciones para modificarlas, como las habilidades para la vida y el
permiso oficial para realizar el trabajo sexual. En ese sentido, es importante realizar
intervenciones específicas que incrementen el uso consistente del condón en esta población”.
(GUTIÉRREZ, et al.).

Es importante entender de forma más precisa los mecanismos que intervienen en el uso del
condón en esta población, las barreras para negociarlo y en general la estructura del mercado del
comercio sexual, además de la negociación que es factible con sus parejas estables, para delinear
de esta forma intervenciones preventivas que se ajusten a su marco de referencia. El énfasis en
comportamientos como una oportunidad de intervención para prevenir infecciones es la base del
concepto de vigilancia epidemiológica de segunda generación, que promueve ONUSIDA.
(ONUSIDA, 2000).

Sólo a título de comentario teórico general, diremos que en todo comportamiento de riesgo
(relacionado o no a la sexualidad) existe una ecuación en cortocircuito: el beneficio que otorga el
placer inmediato empalidece y obtura la conciencia de los riesgos potenciales a evidenciarse en el
futuro. Es una pulseada cronológica paradojal e irracional, donde el presente hedónico vence el
temor ante posibles consecuencias (incluida la muerte) que podrían eclosionar en un tiempo que
aún no existe. El yo que somos se prioriza desde una lógica de placer inmediato, en posible
detrimento del yo que seremos merced al devenir existencial. La variable tiempo para el psiquismo
conlleva derroteros no lineales, de allí que un elemento a destacar como significativo es el lapso
que media entre el acto y sus consecuencias, generando resistencias al cambio de ciertas conductas
que son riesgosas. Esta actitud de descuido, asociada a no pocos elementos de impulsividad y
compulsividad, es más frecuente en varones si lo comparamos con las mujeres.

38
 Entendido, grosso modo, como aquel proceso individual y o colectivo que dota a las mujeres de mayor capacidad para conocer, identificar, 
defender y alcanzar el usufructo de sus derechos, y acceder a una más plena condición de ciudadanía.  
 

 
133
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Las preguntas orientadoras del estudio se formularon de la siguiente manera:¿Cuál es la


incidencia de los comportamientos sexuales de riesgo en el contexto que queremos indagar? ¿Qué
relación tienen dichos comportamientos con la negociación entre cliente y trabajadora sexual?
¿Qué características tienen éstas prácticas de negociación y qué dificultades implican para la
trabajadora sexual? ¿Pueden relacionarse aspectos psicológicos de los clientes de trabajadoras
sexuales a los comportamientos sexuales de riesgo?

Objetivo General:

- Detectar la complejidad de los aspectos psicológicos y de género de los clientes y su


relación con la transacción y negociación entre éstos y algunas trabajadoras sexuales de la
ciudad de Maldonado, y su relación con los comportamientos sexuales de riesgo.

Objetivos Específicos:

- Indagar acerca de la percepción que las trabajadoras sexuales tienen de las características
de sus clientes en relación a comportamientos sexuales de riesgo, y qué significados
otorgan a dichos comportamientos.
- Relevar el conocimiento general acerca de los comportamientos sexuales de riesgo que
tienen las trabajadoras sexuales.
- Identificar aspectos de vulnerabilidad y/o empoderamiento de las trabajadoras sexuales
respecto de la negociación con los clientes acerca de relaciones protegidas para evitar
riesgo de contagio de VIH-Sida.
- Producir conocimiento que aporte a nuevas indagaciones respecto de la relación entre
comportamientos sexuales de riesgo y contagio de VIH/Sida y en la creación de políticas
públicas en la materia.

Se realizaron un total de 33 encuestas (29 mujeres biológicas y 4 mujeres trans), sin intención de
representatividad estadística ni pretensión de generalización de los hallazgos, pero sí con un
propósito descriptivo y exploratorio con énfasis en lo cualitativo. Asimismo, los datos recogidos
en las encuestas permiten contextuar los hallazgos obtenidos de la aplicación de las entrevistas en
profundidad, y tener, grosso modo, un perfil aproximado de las participantes. Las edades de las
encuestadas oscilan entre 19 y 61 años definiendo un rango etario bien amplio y heterogéneo.
De todas ellas 21 (todas mujeres biológicas) tienen hijos/as. Diez ejercen el trabajo sexual hace
menos de un año y cuatro hace más de diez; el resto se ubican dentro de ese rango cronológico
(entre uno y diez años). Ninguna de las trabajadoras trans trabaja en un local, y de las trabajadoras
mujeres biológicas veinticinco sí lo hace en un local, tres en la calle y una en domicilio particular.

Se obtuvieron un total de 21 entrevistas, de las cuales 17 fueron realizadas a mujeres biológicas,


y 4 a mujeres trans, todas ejerciendo en la actualidad el trabajo sexual. Los códigos identificados
para el proceso de análisis de contenido fueron: a) actitudes de los clientes relativas a
comportamientos sexuales de riesgo; b) percepción y significados que asignan las trabajadoras

 
134
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

sexuales a estas actitudes de los clientes; c) dinámica de la negociación; d) fuentes de


conocimiento de las trabajadoras sexuales respecto de formas de contagio de VIH/Sida y su
prevención; e) comportamientos sexuales de riesgo con la pareja estable.

De los datos aportados por las entrevistadas surge a la claras que todas, en mayor o menor medida,
enfrentan permanentemente solicitudes de realizar prácticas sexuales sin preservativo. De ello se
desprende que una cantidad no despreciable de varones arriesgan a contagiar y/o contagiarse
ETS, lo que resulta en un ostensible peligro para sí mismos y otras personas. Desde la perspectiva
de género y estudios de masculinidades este comportamiento, que atenta contra el autocuidado
y el cuidado hacia otros/as, puede interpretarse como emergente de estereotipos asociados a la
masculinidad hegemónica que definen aspectos de la condición del varón internalizados durante
la socialización de género, consolidados y explicitados bajo la forma de acciones concretas en la
vida cotidiana. En el mismo sentido, y salvando las distancias, apuntan todas las investigaciones
que evidencian que los varones mayoritariamente no tienen cultura de prevención en salud, y
asisten a los servicios de atención cuando el malestar ya está francamente instalado, (ver por
ejemplo en nuestro país el informe de Investigación de la Consultora aire.uy, MSP, UNFPA,
Güida, 2009) . De modo que es un plus adicional, como parte del trabajo sexual, enfrentar
frecuentemente intentos de trasgresión de parte de los clientes a los criterios de seguridad que
preservan ante posible contagio de ETS y VIH/Sida; una variable que suma esfuerzo, constancia,
complejidad y conflicto a una tarea que de por sí se presenta no exenta de problemas y amenazas
diversas. Se menciona por parte de las entrevistadas que es constante que tengan que desplegar
estrategias disuasivas y reubicar los límites de su trabajo ante los clientes, situación que con el
tiempo les va dotando de mayor conciencia, experiencia y conocimientos empíricos para el mejor
manejo de la negociación a la que se ven enfrentadas. La paradoja es que se ven envueltas en la
defensa de criterios de salud y cuidados que, en realidad, el propio varón debería exigir para su
autocuidado y el de las demás personas con quienes mantiene o podría mantener relaciones
sexuales. La negligencia de muchos clientes conlleva el necesario imperativo de tener que
desplegar mayor firmeza, estabilidad, constancia, paciencia y obstinación por parte de las
trabajadoras sexuales, para mantener sólidos e inamovibles los límites de la situación. Para ello es
menester disponer de equilibrio emocional para mantener el episodio dentro de parámetros
saludables, sabiendo regular el comportamiento propio y el del cliente, así como tener la agudeza,
inteligencia y sensibilidad para saber discernir, en sentido amplio, con qué tipo de persona se está
lidiando. La trabajadora sexual se transforma así en un agente sanitario del cual depende la
regulación del riesgo de contagio de ETS, sin cuyo concurso las estadísticas sobre estas
enfermedades serían aún mucho más alarmantes. Por tanto, las capacidades de ellas para
mantener a raya los comportamientos masculinos trasgresores y negligentes son imprescindibles
para colaborar con el buen estado sanitario, en particular de esta población de varones, y en
general potencialmente de toda la población sexualmente activa. Esta situación de pretender
sortear el uso del preservativo implica la instalación de una tensión y/o conflicto, dado que se
trata de trasgredir un límite apelando a diversas estrategias, generándose así un escenario de
negociación muy frecuente que puede escalar desde formas sutiles de violencia simbólica, hasta
episodios de violencia manifiesta de diferente tenor. Comprender los aspectos psicosociales de
este entramado negociador es de suma importancia para abordar con pertinencia el problema de
los posibles riesgos de contagio de ETS, por parte de las trabajadoras sexuales.

 
135
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

El varón, por la fragilidad que implica la construcción y mantenimiento de su identidad de


género, necesita estar demostrando su condición masculina viril hacia el exterior, pero en última
instancia también frente a sí mismo por lo que también en estos micro escenarios sociales va a
desplegar sus estereotipos y mandatos. Presentarse como no dependiente ni obediente, y mucho
menos sumiso ante lo femenino (máxime aun cuando esta dimensión de género está encarnada
en una trabajadora sexual, siempre devaluadas como sujetas en el imaginario social), es una forma
de cumplir con un orden cultural que prescribe cómo se debe ser y hacer para considerarse
incluido y pertenecer al colectivo masculino en una sociedad dada. No tener miedo, ser
“valiente”, temerario, duro, no sensible, minimizar y subestimar riesgos y mostrarse osado, son
algunos de los rasgos que se inoculan a los varones desde su socialización de género. Se trata
también del ejercicio de un poder ancestral ejercido sobre la mujer a la que se intenta someter,
arbitrariamente, a los deseos del varón. Se recrean entonces, en la escena sexual entre la
trabajadora sexual y su cliente, universales códigos de dominación de un sexo sobre el otro (más
específicamente: de lo masculino sobre lo femenino), derecho que no pocos varones creen tener
en casi todos los ámbitos de la vida. Se replican inevitablemente en ese encuentro singular,
privado y personal, aspectos generales de las relaciones inter géneros que redundan en diversos
perjuicios para las mujeres. Se trata entonces de un ámbito más donde desde lo masculino se
avasalla lo femenino (representado tanto en las trabajadoras sexuales mujeres biológicas, como
en las trabajadoras trans).

Se dispone así todo un despliegue de estrategias que, entre otros aspectos, involucra de parte de
la trabajadora sexual: estabilidad emocional, inteligencia, experiencia, capacidad para poner
límites y para la tolerancia a la frustración, y habilidad para no dejarse avasallar. Dichas
trabajadoras obviamente no han sido capacitadas, preparadas o instrumentadas psicológicamente
para esta pulseada donde se miden fuerzas con el cliente que intenta trasgredir límites, siendo
entonces la experiencia, el ensayo y error y su potencial capacidad para aprender sobre la
complejidad psicológica de las relaciones humanas, las únicas armas de que disponen para poder
manejarse en este incierto territorio.

Según las entrevistadas el ofrecimiento de más dinero es el intento de manipulación y presión


más usado, consignándose que las cifras manejadas pueden llegar a ser importantes. El elemento
dinero ya está presente en la relación entre ambos, pero con esta variable pasa a ser un arma que
intenta reforzar el poder del varón en detrimento del empoderamiento de la mujer, un intento
de “comprar” algo más de lo que se le ofrece. Este giro cuyo mediador central es el dinero abre
un espacio de análisis respecto a la dimensión del poder económico masculino. Se reproduce
aquí lo que ocurre en otros ámbitos contextuados por la lógica patriarcal (dominadora,
expoliadora, violenta, sexista, machista y misógina), como ser en las relaciones de pareja y en las
relaciones paterno filiales, donde merced al control del dinero se intenta torcer la voluntad y
manipular la conducta ajena. Dinero es poder y capacidad para someter a otros/as, clara consigna
de nuestra sociedad con efectos materiales, simbólicos e imaginarios, con el agravante de que el
poder económico sobre otros/as conlleva poder emocional sobre ellos/as. Constatamos en la
información recabada que, obviamente, si el entorno donde trabajan es continente, reasegurador
y protector, ellas se sienten con más capacidad para manejar la tensión con su cliente respecto
del uso del condón. Un entorno de trabajo amigable para con la trabajadora sexual
decididamente las empodera para enfrentar conflictos y tensiones en la negociación con el cliente

 
136
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

que, como vemos, se presentan con relativa frecuencia. Las condiciones de seguridad del contexto
son determinantes, por lo que realizar el trabajo sexual en condiciones de inseguridad (en lugares
apartados, en solitario, sin posibilidad de apelar a ayudas externas) conlleva riesgos y peligros
adicionales. Según lo que surge en el material son distintos los aspectos que llevan (desde lo
consciente) a estos hombres a solicitar comportamientos sexuales que les pueden exponer -y
exponer a otras/os- a enfermedades de transmisión sexual desde las menos graves hasta las más
temidas como el VIH/Sida. Consignamos a continuación algunos de estos aspectos: a) Pérdida
de la sensibilidad, dificultades en la erección, el placer y el orgasmo; b) Desconocimiento de las
posibilidades de contagio de ETS; c) Confianza en la salud de la trabajadora sexual; d)
Negligencia, desestimación de los riesgos y conducta irreflexiva en extremo temeraria; e)
Irracionalidad y fallas mentales (este tópico se asocia con todos los anteriores excepto con el
relativo a falta de información y desconocimiento); f) Efectos desinhibitorios del alcohol y las
drogas y consiguientes perjuicios en la capacidad de razonar.

En otro orden de cosas, pasando al plano de la vida privada, de las entrevistadas que tienen pareja
en el momento presente (nueve) todas las respuestas van en el mismo sentido (salvo para el caso
de dos de las entrevistadas que sí usan preservativo con su pareja): decididamente no hay cuidado
con preservativos para el caso de las relaciones sexuales con sus parejas. Incluso algunas que no
tienen pareja en la actualidad aluden a situaciones anteriores en las que no usaban preservativo,
fundamentalmente en virtud de confianza en el compañero y/o porque éste no quería usarlo.
Constatamos, en primera instancia, una radical diferencia de actitud a este respecto en el
contraste entre el mundo del trabajo y el mundo de las relaciones afectivas domésticas. Todo el
cuidado, firmeza, convicción y suspicacia ante los varones clientes se desvanece frente a los
varones con quienes se establecen lazos afectivos de pareja.

Para finalizar seleccionamos tres de las recomendaciones y sugerencias generales que surgen de
este estudio:

1) Sería de gran ayuda para el empoderamiento de las trabajadoras sexuales en relación a las
negociaciones con sus clientes, que contaran con espacios psicoeducativos y de apoyo para
ello, en consonancia con la tarea de asesoramiento que, nos consta, realizan con
responsabilidad los médicos/as que asisten a estas usuarias. La capacidad y contundencia
de estas mujeres para poner límites a los comportamientos sexuales de riesgo tienen
directa vinculación con el estado sanitario sexual de la población. Como vimos la mayoría
de los clientes no practican el cuidado de sí mismos y los/as demás a este respecto.
2) Conjuntamente con lo consignado en el punto anterior, sería de mucha utilidad instituir
ámbitos específicos sostenidos sistemáticamente, donde se provea a la trabajadora sexual
de información objetiva acerca de todas las posibilidades de riesgo de contagio de
VIH/Sida y sobre la gravedad del tema en general.
3) Es imprescindible la creación de políticas públicas orientadas a la socialización de género
de los varones, generando prevención, sensibilización y conciencia respecto de la salud
sexual y en relación a las prácticas violentas -explícitas o encubiertas- que en todo sentido
se ejercen sobre las mujeres, en particular las trabajadoras sexuales.

 
137
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Referencias bibliográficas
Amorín, D. (2015). Comportamientos sexuales de riesgo en clientes de trabajadoras sexuales, y
su relación con riesgo de contagio de VIH/Sida: una aproximación descriptiva y exploratoria en
la ciudad de Maldonado. Montevideo. UNIFA
De Miguel, A. (2012) La prostitución de mujeres, una escuela de desigualdad humana. Revista
Europea de Derechos Fundamentales. Núm. 19/1er Semestre 2012. pp 49– 74. Disponible en:
http://mujeresenred.net/IMG/pdf/prostitucion_de_mujeres_escuela_desigualdad_humana.pd
f
Guchin, M. y Meré, J.J. (2004): Jóvenes, sexualidad y VIH/sida en el Uruguay. Conocer para
prevenir. Montevideo. Iniciativa Latinoamericana. Instituto IDES. UNESCO.
Güida, C. (2009). Salud de los hombres uruguayos desde una perspectiva de género. Informe de
investigación. MSP-Programa Nacional Salud de la Mujer y Género. Montevideo. UNFPA.
Gutiérrez, J., Molina-Yépez, D., Samuels, F., & Bertozzi, S. (2006). Uso inconsistente del condón
entre trabajadoras sexuales en Ecuador: resultados de una encuesta de comportamientos. Salud
Pública de México, 48(2), 104-112. Recuperado en 07 de julio de 2019, de
http://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0036-
36342006000200004&lng=es&tlng=es.
Lagarde, M. (s.f.). Pacto entre mujeres. Sororidad. Recuperado de:
www.asociacionag.org.ar/pdfaportes/25/09.pdf
Musto, C. y Trajtenberg, N. Prostitución y trabajo sexual: el estado de arte de la investigación en
Uruguay. Disponible en:
http://www.fcs.edu.uy/archivos/Documento%20de%20trabajo%20PROSTITUCION_2011.p
df
ONUSIDA, Informe (2000). Los varones y el SIDA. Un enfoque basado en consideraciones de
género. Ginebra. ONUSIDA.
Ricardo, Ch., Barker, G. (2008): Hombres, masculinidades, explotación sexual y violencia sexual.
Una revisión literaria y llamada a la acción. S/D. Promundo. MenEngage.
Rostagnol, S. (2011): Consumidores de sexo. Un estudio sobre masculinidad y explotación sexual
comercial en Montevideo y área metropolitana. RUDA (Red Uruguaya de Autonomías),
ÚNETE, UNICEF. Montevideo. Fondo de las Naciones Unidas para la Infancia.
Strauss, A. y Corbin, J. (2002). Bases de la investigación cualitativa. Técnicas y procedimientos
para desarrollar la teoría fundamentada. Antioquia. Editorial Universidad de Antioquia.
Trapasso, R. (2005) La prostitución en contexto. En: Comercio Sexual: Un abordaje desde los
Derechos Humanos. Lima. Movimiento El Pozo.
Volnovich, Juan Carlos (2006) Ir de putas. Reflexiones acerca de los clientes de la prostitución.
Buenos Aires. Topía Editorial.

 
138
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

DE MACHOS, MUXES Y MAYATES: UN ACERCAMIENTO A


LA MASCULINIDAD EN MÉXICO DESDE EL VIH
Guillermo Rivera Escamilla
Unidad de Servicios Audiovisuales de UNIVERSUM. Museo de las Ciencias
Colegio de Estudios Latinoamericanos. Facultad de Filosofía y Letras
Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM)
E-maill: lacatorcenal@gmail.com

La siguiente ponencia es resultado de un trabajo mucho más amplio, que realicé como tesis de la
Maestría en Estudios Políticos y Sociales de la Universidad Nacional Autónoma de México
(UNAM), misma que lleva por título: “Masculinidad Aprendida, factores intrincados para la
transmisión del VIH entre hombres de la Ciudad de México”; y la cual estoy por publicar como libro.
Es por ésta razón que me interesó presentar los resultados que arrojó mi investigación ante este
VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Hombres y Masculinidades.

Quizá otro título más acertado sería “Exploraciones sobre la masculinidad de cara al fenómeno del VIH.
Hallazgos y desafíos a partir de una tesis de maestría”; porque en ella retomé el concepto de
Masculinidad Hegemónica propuesto por Connell, para abundar en lo que posteriormente definí
como “Masculinidad Aprendida”. Esto me permitió explorar en el proceso de socialización que
implica “vivir-se como hombre”; exploración conseguida a partir de las historias de vida de cuatro
hombres que viven con VIH desde hace varios años.

Fue así, destacando el aspecto aprendido de la masculinidad, como puede hablar de hombres y
no sólo homosexuales, ni de Hombres que tienen Sexo con Hombres (HSH), en aras de exhibir
la complejidad que encerraba investigar un tema de esta naturaleza y poner énfasis en seres
humanos que sostienen relaciones sexuales con hombres o mujeres, por diferentes circunstancias.
Es decir, indagué en el trabajo sexual masculino, entre otros factores, que impedían hablar
abiertamente de relaciones homoeróticas, sin que ello implicase regatear su condición humana o
colocarlos en un papel de víctimas. De modo que más allá de la orientación sexual, y
pretendiendo evidenciar la complejidad que antes mencioné, busqué apuntalar lo qué se está
haciendo desde la academia y sobre todo, desde lo cotidiano, para deconstruir la manera como
estamos socializando a nuestros hombres. Y digo “nuestros” porque desde la perspectiva de
género relacional, que atiende a hombres y mujeres simultáneamente, es preciso que ellas
también deconstruyan la manera como socializan a y con sus hijos, hermanos, amigos, parejas
sexuales y/o sentimentales.

 
139
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Esto permite llamar su atención sobre las actitudes y conductas (machistas, misóginas y
homofóbicas) que replican al riesgo como un elemento característico del ejercicio de la sexualidad
masculina y mantienen a los hombres como el grupo poblacional más afectado por el Virus de
Inmunodeficiencia Humana (VIH), condición entendida en todo momento como una Infección
de Transmisión Sexual (ITS), para así derribar barreras lingüísticas y socioculturales, abordando
a las masculinidades desde un enfoque integral, que trascienda el discurso de “los grupos
vulnerables” y las “prácticas sexuales de riesgo”, para efectos del VIH, y que permita colocar en el
centro del debate a los procesos de socialización y la manera cómo éstos se replican
deliberadamente en diferentes niveles.

Aunque interpelar a los hombres desde su condición de género supuso para mi una especie de
“desvalorización social”, en el entendido de que, “algo tenía, que no actuaba como los otros”; o
una confrontación directa a la idea errada respecto a que “los hombres homosexuales son
hombres que perdieron o tienen ‘atrofiada’ su masculinidad”. Insisto en el cuestionamiento, que
supone a su vez, la posibilidad de resignificar y, en el mejor de los casos, abandonar ciertas
prácticas, costumbres, creencias y prejuicios. Esta posibilidad fue lo que me alentó a venir acá y
compartirles los hallazgos de mi investigación.

Entrando en materia

Como ya mencioné, esta presentación es resultado de un trabajo de investigación exploratorio


presentado como tesis de grado, mismo que además de recurrir a la investigación documental,
recogió la experiencia de cuatro hombres viviendo con VIH a partir de tres aspectos: la manera
como ejercen su sexualidad, el momento de su diagnóstico y sus prácticas sexuales una vez que
comenzaron su tratamiento antiretroviral.

Entre los principales hallazgos encontré que el contacto sexual sin protección prevalece como la
principal vía de transmisión del VIH y otras Infecciones de Transmisión Sexual (ITS). También,
que son los jóvenes entre 19 y 24 años quienes registran los mayores índices de prevalencia, sí en
zonas urbanas, pero también en el ámbito rural, que a su vez experimenta un fenómeno de
ruralización-feminización; ante lo cual, la migración masculina, la precariedad laboral y la
desigualdad socio-cultural incrementa la vulnerabilidad de hombres, pero sobre todo de las
mujeres.

De ahí que en el título de esta ponencia haya utilizado las palabras “macho”, “muxe” y “mayate”;
para visibilizar la diversidad de expresiones que encerraba el tema y al mismo tiempo, evidenciar
las contradicciones intrínsecas a un modelo de socialización masculina caracterizado por el riesgo
y la nula prevención. Elaboré un listado de los factores socioculturales que considero, impiden
mostrar la complejidad del VIH como un fenómeno social e implementar campañas de
prevención con un enfoque integral que supere el discurso de “grupos vulnerables y prácticas de
riesgo”, y adopte una actitud de vanguardia del tipo: “no importa con quien tengas sexo, lo
realmente importante es que te cuides”. Esto se torna apremiante, ante posiciones que ven al
VIH como un asunto “crónico o medicable”, y sobre todo, ante quienes afirman que el virus del
VIH no es la causa del SIDA, pues éste, podría deberse a otros factores como la desnutrición o el

 
140
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

estrés. Postura que ha sido tildada de “negacionista” por oponerse al consenso científico actual.
Ante semejantes detractores, la prevención integral y la información apegada a criterios científicos
prevalecieron como dos formas efectivas para evitar la transmisión del VIH.

De Masculinidad Hegemónica a Masculinidad Aprendida

Hablar sobre Masculinidad Aprendida (MA) no implica sustituir el debate aún irresuelto con
respecto a la Masculinidad Hegemónica (MH). En todo caso, se trata de un concepto derivado de
esta última, entendiéndola como:

“La promoción de valores o ideas referentes a cómo se supone que deben ser los hombres:
fuertes, heterosexuales, resistentes al dolor, obedientes, disciplinados, homófobos y
represores de sus emociones. Como una construcción cultural que dicta el comportamiento
socialmente aceptado para los varones basada en el ejercicio del dominio a través de la
violencia (…) Modelo masculino dominante que incluye como primera característica, a la
heterosexualidad y un ‘activo rechazo’ de la homosexualidad, “en una sociedad como la
mexicana, los niños aprenden a rechazar las prácticas de afecto, negar el erotismo y la cercanía
con otros varones, así como a usar el calificativo ‘homosexual’ como una muestra de
minusvalía masculina”(Reyes:2012: 4 y 5).

De modo que, tanto psicológica, como culturalmente, los “peores insultos”, los que “denigran” a
los hombres, están asociados con el género femenino, como aquel que grita “no seas nena”. Como
ya se adelantó, el énfasis de este trabajo se encuentra en el proceso de socialización que dicho
aprendizaje encierra, principalmente, en términos de sexualidad; como un “proceso social de
aprendizaje individual”. Esto es, por la forma cómo se relaciona la manera en que aprendemos a
ser hombres, con el ejercicio de nuestra sexualidad y si esto a su vez, posibilita o no, la transmisión
de una infección sexual, en este caso el VIH. Este planteamiento, abona en una discusión
sociológica que trasciende el lugar común, que ve al uso y abuso de sustancias legales y/o ilegales
como uno de los principales factores en la transmisión de este tipo de infecciones. Sin demeritar
otros esfuerzos, pero considero que pensar un fenómeno sociológicamente, obliga a considerar
las “causas profundas”, que mantienen a los hombres como una población clave en el tema del
VIH, particularmente a los jóvenes entre 15 y 24 años en la Ciudad de México y de este modo,
contribuir a entender qué es lo que provoca que esta situación prevalezca. De ahí la trascendencia
de recuperar la voz de quienes ya viven con VIH.

Elegí abordar la Masculinidad Aprendida, porque entiendo a ésta como el resultado de una
coordinación e integración social que ocurren simultáneamente. Idea que el sociólogo Norbert
Elías sintetizó en su concepto de interdepedencia entre ser humano y sociedad:

“El que las personas cambien al relacionarse con otras personas y el que las personas estén
constantemente formándose y transformándose en el seno de su relación con otras personas,
precisamente esto es característico del fenómeno de interdependencia en general (…) la
relación entre individuo y sociedad, nunca podrá ser comprendida mientras, como sucede
hoy en día, la ‘sociedad’ sea concebida como una sociedad de adultos, de individuos
‘terminados’ que nunca fueron niños y nunca morirán”. (Elías: 1994: 41).

 
141
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

En la medida en que la construcción del ser hombre se entiende como un proceso socio-cultural,
es que se sugiere que al ser aprendida, la masculinidad también puede ser des-aprendida.
También, porque el hecho de que la masculinidad sea entendida como algo aprendido ayuda a
desnaturalizarla, parafraseando a Simone de Beauvoir: “Uno no nace hombre, uno se hace
hombre”; por lo que consciente o inconscientemente, todos aprendemos de todos. De modo que
“el individuo vive como un proceso natural lo que se ha desarrollado mediante un aprendizaje
social” (Elías: 1994: 54). Martín de la Cruz López Moya autor de “Hacerse hombres cabales.
Masculinidad entre tojolabales”, afirma:

“Ser hombre es un caparazón social. Una persona, aunque tenga pene, si no demuestra que
es hombre, no es considerada como tal. Hay toda una actuación y puesta en escena. Una cosa
es ser hombre en el sentido moral y otra es ser bueno como hombre, cuando actúas de
acuerdo con las normas sociales. En estos escenarios donde la masculinidad es una
actualización y una simbolización, también es un ropaje social lleno de elementos de
dominación y poder “(Bastida, 2011:9).

Así, lo que en primera instancia aparece como “ventajas” para el varón (una mayor
independencia, la agresividad, la competencia, pero también conductas violentas y temerarias)
pueden transformarse en un costo para su salud, afectando directa o indirectamente a las
personas que le rodean (amigos, familia, pareja, compañeros de trabajo). Se trata de características
que son vistas como “ventajosas” dentro de las relaciones de poder entre géneros, pero al
examinarlas salen a flote valoraciones, presiones y límites que intervienen en la vida de hombres
concretos, mismas que puestas en relación con aspectos como: nacionalidad, clase social, etnia,
contexto urbano o rural, rango de edad, migración, orientación sexual y discriminación; permiten
profundizar en el estudio de las masculinidades en general y de la Masculinidad Aprendida, en
particular. Si efectivamente, la masculinidad hegemónica “es una construcción cultural que dicta
el comportamiento socialmente aceptado de los varones basada en el ejercicio del dominio a
través de la violencia” (Sánchez, 2011:5), vale la pena destacar la frase que ocupa Benno de Keijzer
(2003) para referirse a la relación entre cuerpo masculino y trabajo: “todo por servir se acaba”. Con
ella resume el planteamiento de entender al cuerpo como elemento imprescindible para el análisis
de la masculinidad, para observar los obstáculos en el auto cuidado; y la relación que guarda la
salud con una socialización masculina tendiente a la competencia, la temeridad y a la percepción
de que una actitud cuidadosa y preventiva no es masculina.

Por este motivo habrá que estar pendientes de los dilemas y retos en los trabajos con hombres,
que van desde las resistencias culturales que supone pensarlos bajo una perspectiva de género,
pasando por qué facilita y qué dificulta los procesos de cambio en ellos y cuáles serían las formas
más eficaces para trabajar en una prevención efectiva. Esto último es de vital importancia para
esbozar algunas pautas de prevención del VIH entre la población más joven.

 
142
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Factores que contribuyen a la transmisión del VIH entre hombres:

¿Qué lleva a los hombres a sostener “prácticas sexuales de riesgo”? A continuación una
exploración del qué, cómo y por qué algunos hombres se ven envueltos en prácticas de este tipo,
para indagar en los significados que subyacen al sexo no protegido. Se busca evidenciar las
necesidades de tipo sociocultural; que aparentemente no tienen relación con lo sexual pero
juegan un papel importante en el ejercicio de la sexualidad de los hombres. Los factores que se
enlistan a continuación, constituyen en mayor o menor medida un riesgo en la posible la
transmisión del VIH, para su identificación y denominación fue necesaria la revisión minuciosa
de tres estudios:

1. “Significado de las prácticas sexuales de riesgo en HSH” (2005). Estudio que analizó 20
entrevistas a HSH (21-40 años de edad) en Barcelona, España.
2. “Identificando necesidades de prevención en HSH seropositivos” (2007). Estudio que
analizó 33 entrevistas individuales y 5 grupos de discusión con HSH seropositivos (25-67
años) de tres ciudades: Madrid, Barcelona y Palma de Mallorca.
3. “InterSex 2006: Internet y el comportamiento sexual en HSH” (2006). Estudio cualitativo
con entrevistas a 31 HSH (19-46 años) en tres contextos: Barcelona, Madrid y Bilbao/
San Sebastián.

A partir del análisis de estos tres estudios mencionados, me propuse “ilustrar” el factor que se
define integrando fragmentos de los mismos y testimonios (++) difundidos en folletos
informativos de la campaña: “Logremos el cero. Cero nuevas infecciones, cero discriminación y cero
muertes por VIH-SIDA”, auspiciada durante 2011, por el Centro Nacional para la Prevención y el
Control del VIH-SIDA (CENSIDA). Cabe mencionar que el orden en que se enlistan dichos
factores se debe a una primera asociación (de mayor a menor) con el riesgo, entendiéndolo como
un elemento característico de un proceso de socialización tendiente a la competencia y lo
temerario, sin que todos dejen de estar íntimamente relacionados entre sí, es decir: intrincados.

a) Erotización del riesgo: En este factor, se asume que algunos hombres “evalúan” el riesgo de
tener penetración anal sin condón, haciendo un cálculo de costo-beneficio como un manejo de
información sobre el mayor o menor riesgo de ciertas prácticas sexuales cuyo costo radica en la
probabilidad de infectarse de VIH y el beneficio, en el placer sexual que se obtendría al no usar
condón. El sexo como un juego de probabilidades, aún sabiendo que el sexo no protegido es una
práctica “de riesgo”, riesgo que a decir de quienes lo practican, despierta una fuerte excitación
sexual que lleva a transgredir la norma del sexo seguro, así es como el riesgo se erotiza.

“Lo que ganas es el, no sé, es un morbo sexual o una idea morbosa y calculas. Creo que el
hecho de que haya ese riesgo, lo hace incluso más morboso, no lo sé. Porque estás jugando
con probabilidades”.

Al referirse a los antiretrovirales como algo que contribuye a una hibridación orgánica-tecnológica
que permite la vida de muchos cuerpos para efectos de la biopolítica, Carlos Colina (2012: 3)
afirma que tras la Revolución Francesa, la sexualidad pasó a ser considerada una actividad
privada, por lo que la medicina será quien se encargará de regularla. El autor recurre a Óscar
Guasch para afirmar que “la función social de la sexualidad es regular el deseo erótico y

 
143
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

reproducir el orden social que la sostiene. No sólo proscribe, sino que también prescribe la
heterosexualidad, en tanto forma de gestión del deseo erótico”.

Aparentemente, esta forma de “regular” el deseo erótico, permite cuestionar la supuesta


“evaluación” por parte de quienes se exponen a tener relaciones sexuales sin protección.
Efectivamente, el riesgo que dicen asumir está relacionado con la actitud temeraria que caracteriza
al modelo hegemónico de socialización masculina, por ello, no hay que perder de vista lo que
advierte Patricia Ponce:

“Las relaciones homoeróticas tienden a cuestionar la dicotomía femenino/masculino, la idea


de lo que significa ser hombre/mujer y el binomio heterosexual/homosexual, aunque el
modelo de valores y normas de comportamientos genéricos no se modifica pues una vez
traslapadas las identidades genéricas los papeles sexuales, al parecer, se reproducen“ (Ponce,
2011: 09):.

En este primer factor se aprecia la pervivencia del modelo hegemónico de socialización masculina
caracterizado por el riesgo, en el cual, la supuesta excitación es vista como resultado de un “juego
de probabilidades”, manteniendo su carácter misógino y homofóbico. En este contexto, la
asociación entre masculinidad y violencia resulta bastante significativa en términos socio-
culturales. Para Judith Butler, el género es una compleja puesta en escena de auto-representación
y autodefinición, “soy alguien que no puede ser sin un hacer” (2006: 16). En este sentido, es que
este tipo de masculinidad está construida sobre una base de diferenciación y negación de los
otros; especialmente de mujeres y homosexuales. En ella, la sexualidad masculina es permisiva y
se asocia con potencia, control y dominio. En contraste, la sexualidad femenina es restrictiva y se
relaciona exclusivamente con fragilidad, debilidad y pasividad. A esto hay que agregar el hecho
de que el sexo anal continúe siendo un tabú sexual, que como afirma Carlos Colina:

“Evoca para el receptor, pasividad y sumisión. Sin embargo, los códigos sociales pueden
definir situaciones ocasionales y excepcionales, en las cuales penetrar maricos, confirma a los
hombres de verdad que realmente lo son”. De tal suerte que, entendidas como una forma de
dominación y poder de la parte activa-masculina, sobre la parte pasiva-femenina, “la peor
humillación que un hombre puede sufrir en las relaciones sexuales, según la visión
hegemónica de la masculinidad, es la que consiste en ser tratado como mujer, es decir, ser
poseído” (Colina, 2012: 4 y 7).

b) Sexo a pelo (Bareback): Una práctica sexual de riesgo en particular, para efectos del VIH entre
hombres, es el Bareback. Se sabe que se tiene VIH y se hace, se sabe que se puede adquirir y
también se practica. De acuerdo con un reportaje de la Agencia de Noticias de Diversidad Sexual
(Anodis, 2008), el movimiento del “sexo a pelo” (sin protección de por medio) surgió en Europa
y Estados Unidos hace aproximadamente 10 años, mientras que en México se estima en no más
de seis. El bareback también es referido como una especie de “ruleta rusa” en términos del
intercambio sexual, porque consiste en grupos de hombres practicantes del “sexo agresivo” sin
protección, buscado intencionalmente. Además de incrementar la posibilidad de hemorragias
que faciliten la transmisión del VIH, se debe tener en cuenta la falsa creencia de que aquel que
penetra no es homosexual y por lo tanto, es inmune al virus. De modo que se tiene identificada
la práctica, pero no una estrategia efectiva de prevención.

 
144
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

“Mira yo no sé qué sea, si joto, bisexual o qué y no me importa. Este es mi rollo, ¿no? Y no
creas que le fallo a mi mujer, yo la amo y le doy lo que ella necesita y a mis hijos también.
Esto –el sexo ocasional en La Casita- es para mí. Esto soy yo y mis necesidades”. (Referencia?)

Al ser cuestionado sobre la posibilidad de que esta práctica pudiera generalizarse, Carlos Bonfil
(2007) responde:

“Todos los estudios muestran que los hombres seropositivos son los que tienen estas prácticas
en número mayor que los seronegativos. Y tienden a tenerlas ya sea con otros hombres
seropositivos, o con aquellos que en su percepción pudieran serlo (…) Muchas personas que
viven con VIH en las grandes ciudades consideran innecesario utilizar condones con otras
personas seropositivas. Existe sin embargo el riesgo, no desdeñable de contraer otras
enfermedades sexualmente transmisibles y el riesgo también de la llamada reinfección”
(Bonfil, 2007, página?).

De acuerdo con Edgar Ávila, ex integrante de La Manta de México, organización civil dedicada a
difundir información para prevenir la transmisión del VIH:

“Quienes practican el bareback lo hacen, entre otra cosas, porque conciben al SIDA como
una enfermedad ‘controlable’, como la diabetes, que bien tratada deja de ser mortal.
También argumentan que en la actualidad, los medicamentos antiretrovirales son más
accesibles (…) otras razones por las que se practica es la baja autoestima. Es decir, los
mexicanos aceptan tener sexo sin preservativo sólo porque un candidato al que consideran
atractivo físicamente ‘se dignó’ a hacerles caso” (Anodis: 2008, página?).

Al presentar el testimonio de Manuel Murillo, microempresario y modelo de pintura, Daniel


Ortega afirma que:

“El sexo a pelo es muy constante, tanto por descuido como conscientemente… y más entre
hombres gay, reconoce que internet facilita la diseminación de esa práctica. Murillo no sólo
conoció esta práctica después de enterarse que tenía VIH, también conoció a los bug-chasers
o caza-bichos, quienes no tienen miedo de tener contacto sexual sin protección con un
seropositivo, sino que buscan tener esta infección (…) Quienes apoyan este movimiento,
aseguran que no se siente lo mismo con condón y el contagio puede ocurrir aunque se use
(…) Manuel refiere que estas prácticas entre seropositivos, reafirman la autoestima, te hacen
sentir parte de algo, no te sientes rechazado, al contrario, te buscan porque tienes VIH”
(Ortega, 2008:11).

Se dice que tanto los bug-chasers, como los gitfgivers o “dadores del regalo”, apelan a la elección
personal de cada persona, con respecto a su vida, su salud y eventualmente su muerte.
“Mexbugchaser puso un anuncio clasificado donde exponía su deseo de vivir su conversión una
madrugada del 1 de enero de 2008 en La Casita Insurgentes. Esto es, mantendría el rol pasivo en
un número suficiente de relaciones sexuales sin protección como para garantizar que le fuera
inoculado el virus del VIH (…) El virus es retóricamente tratado como ‘un don’, el fin de una
vida sexual preocupada por el contagio al optar recibirlo como una liberación plena” (Lanzagorta,
2014). No obstante, para Víctor Velasco, capacitador del Centro de Capacitación y Apoyo
Sexológico Humanista (CECASH), es la falta de afecto con que viven muchos jóvenes lo que les
empuja a correr el riesgo, porque es una forma de “sentirse vivo”… a nivel inconsciente piensan:

 
145
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

¿A qué me quedo?, si viven un ambiente de agresión constante y/o discriminación –en el caso de
los hombres que se asumen abiertamente como homosexuales-, sin desarrollar la habilidad de
establecer lazos afectivos duraderos. Según Velasco, “el espacio que mejor ejemplifica esta
situación son la orgías bareback. Aparejado a esto se encuentra la indiferencia y el miedo a conocer
su estado serológico: 37% no cree necesario hacerse la prueba, 28% tiene miedo al resultado y
18% no sabe dónde hacérsela” (Anodis: 2008).

c) ¿Rebeldía? sexual: En este factor, el sexo no protegido se asume como un acto simbólico de
rebelión y transgresión, un comportamiento explícitamente no-normativo (dado que no usar
condón es “mal visto”). Esto es, como una forma de resistencia ante la normatividad del poder
con respecto a la sexualidad. De tal suerte que aunque la socialización no es solamente un proceso
de imposición frente al cual los seres humanos, sin importar el sexo-género, se asumen de manera
pasiva ni homogénea, “son los hombres quienes aún ostentan el poder de decisión con respecto
al método de prevención que será utilizado y el tipo de sexo a ser practicado durante una relación
sexual. Mientras las mujeres, a pesar de tener más presente el riesgo de la infección con el VIH,
carecen de iniciativa y poder de decisión para romper con esta situación estructural de
vulnerabilidad” (Nantua, 2007: 77).

d) Oro falso: el “valor” del atractivo físico. Otro factor que lleva a tener sexo no protegido, es el
miedo a perder la oportunidad de estar con alguien físicamente atractivo, que no desea utilizar
condón, y creer que sería difícil de volver a encontrar a alguien similar en cualquier otro
momento. Por complacer a la pareja sexual y no perder su atención, se accede a no utilizar
protección.

++ Héctor (trabajador sexual): Sabía que esto pasaría tarde o temprano, por más atractivas
que sean las personas, uno nunca sabe y eso de no querer usar condón, por una lanita extra
¿yo que podía hacer? Entendí que mi salud es primero, aunque yo trabaje con mi cuerpo.

Este factor también se puede asociar con sentimientos de inseguridad o baja autoestima, ante el
cual la posibilidad de negociar el uso del condón se desvanece:

“Las mujeres tienen información inadecuada sobre el VIH, son poco conscientes de los
riesgos a los que se exponen durante una relación sexual, se dejan llevar por la representación
de ‘salud’ a partir de la apariencia física, además de contar con pocas posibilidades para
negociar el sexo seguro. Principalmente si el tiempo de la relación fue largo (…) Tales
actitudes son construidas socialmente y tienen como base el compromiso emocional, tiempo
de convivencia y la confianza en el comportamiento del compañero (…) Hace falta
comunicación respecto al tema y no existe un método preventivo controlado por las mujeres,
accesible y de bajo costo, lo que dificulta su protección” (Nantua, 2007: 76).

e) “Resbalones”: sexo ocasional. A decir de quienes participaron en los estudios revisados, la


mayor parte de las veces que ocurrió alguna práctica de sexo no protegido, ésta fue de manera
accidental, producto de “un desliz” o “resbalón”, “no fue planeado ni intencional”. La forma
como “se dice que ocurrieron estas experiencias es lo que las diferencia de la práctica “consciente”
de sexo no protegido (referido previamente como bareback). Sólo que a quienes participan de
ambas conductas se les tiende a estigmatizar como precoces. Para ejemplificar este factor recurrí
a los metreros. Individuos que se dedican a recorrer la Ciudad de México a bordo del Sistema de

 
146
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Transporte Colectivo Metro (STCM), mientras entablan una relación instantánea con un
extraño, ya sea de amistad, un “faje” rápido o un encuentro sexual.

“En las metreadas se llevan a cabo felaciones o se logran relaciones sexuales en los andenes y
pasillos de los vagones, todo bajo una mezcla de clandestinidad y fantasía. Al aventurarse en
los encuentros con otros hombres, los metreros sólo van con la idea de encontrar algún
“galán” para convertirlo en su pareja sexual o amorosa, pero muchos de ellos no se imaginan
que detrás de todo ese escenario de romances entre existen peligros” (Sampedro: 2009: 07).

En un reportaje para la agencia especializada de noticias NotieSe, Guillermo Montalvo Fuentes


recurre a testimonios de pasajeros que “hacen de cada viaje una oportunidad para conocer a otros
hombres, ligar, tener sexo, incluso enamorarse. Al menos hasta que le próxima estación se los
permita”. Al presentar el testimonio de Mike, éste dice abordar el tren en la estación Indios
Verdes con el objetivo de encontrar nuevas aventuras sexuales.

“Según él. Cualquiera puede tener éxito en el último vagón. Los tímidos sólo ven pero no
hacen nada; algunos te proponen con la mirada que salgas con ellos del vagón; los más
atrevidos son los que se la sacan y te la enseñan, generalmente eso lo hacen más los señores”.
Por su parte, Armando hombre de 40 años declara que comenzó con sus viajes a bordo del
último vagón del subterráneo desde los 14 años, “define al ‘metreo’ como el ‘arte’ de ligar en
las instalaciones del Metro; un pasatiempo generalmente de los hombres que tienen sexo con
otros hombres, independientemente de si son homosexuales o curiosos heteroflexibles”
(Fuentes , 2013: 1 y 3) .

Se percibe aquí, una relación con la sensación de adrenalina, mencionada cuando se abordó “la
erotización del riesgo” como un factor detonante de las relaciones sexuales sin protección. Pero…
¿qué sucede con los hombres que han crecido heterosexualmente, y descubren que también
desean sexualmente a un hombre pero no quieren ser etiquetados como homosexuales? El tabú
y la poca aceptación del deseo intragénerico devela poca aceptación de la bisexualidad.

“Puede que esta condición resulte doblemente discriminada, tanto por los hetero, como por
los homosexuales. Primero, según la (hetero) normalidad sexual, el bisexual se asocia, en el
discurso público con el imaginario del polimorfo sexual, no tanto por ser concebido como
un ser altamente sexuado, sino por cometer una ‘traición’ de género. Mientras que la
discriminación homosexual sería que son considerados como personas que no han asumido
su condición real, como homosexual, y por eso se les reprocha” (Da Silva, 2006: 6).

Homosexuales o no, bisexuales o no, lo único cierto es que los encuentros sexuales efímeros y
clandestinos entre los hombres son una realidad.

f) Vulnerabilidad social: Este factor es quizá el más cercano a cuestiones de tipo estructural. A
manera de esbozo, podemos mencionar a migrantes indocumentados expuestos a situaciones que
acentúan su vulnerabilidad al “riesgo sexual”.

“Estudiar la masculinidad entraña, por tanto, investigar también las normas prácticas y
comportamientos que llevan al acceso diferencial a los recursos físicos, laborales, políticos,
económicos, simbólicos (y los beneficios asociados a ellos) que tiene cada grupo de hombres
con respecto a las mujeres y con respecto a otros grupos de hombres” (Jociles, 2001: 9).

 
147
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Son estas condiciones de tipo “estructural” las que permitirían explicar la ruralización-
feminización del VIH en el sureste de México, pues de acuerdo con el Registro Nacional de Casos
realizado por el CENSIDA, desde 2013 el estado de Chiapas ocupa el quinto lugar a nivel
nacional en el número de población con el virus al llegar a 7 mil 567 casos (5 mil 534 hombre y
2 mil 33 mujeres), es decir, una mujer por cada cuatro hombres. A decir de María Eugenia
Martínez, responsable del Programa de VIH del Centro de Investigaciones en Salud de Comitán:

“Los hombres al tener el rol de proveedores económicos, imponen sus deseos, hemos
encontrado que hombres migrantes de larga temporada, al regresar a sus casas exigen otras
prácticas sexuales a sus esposas, por ejemplo sexo oral o anal, donde por supuesto no está
presente el condón” (Reyes: 2013).

Las relaciones sexuales forzosas y la aceptación social de la violación en muchas comunidades


rurales, así como la iniciación sexual prematura en el caso de las mujeres, son aspectos que
acentúan el riesgo de contraer el VIH. En el caso de jóvenes migrantes, sobresale la compleja
situación a la que se enfrentan muchas jóvenes, quienes a pesar de tener todo lo anterior en
contra, buscan estrategias para protegerse de las ITS y el VIH. La promoción del condón
femenino sólo es una de ellas.

De acuerdo con un estudio de la organización civil Balance Promoción para el Desarrollo y


Juventud, en el que fueron entrevistadas 337 mujeres que viven con VIH:

“El 50 por ciento de ellas dijo no recibir atención integral en salud reproductiva, ya que se
les niegan el acceso a métodos anticonceptivos, sufren discriminación, e incluso son forzadas
a la esterilización por parte de los servicios de salud (…) Según el estudio, el 63 por ciento de
las mujeres entrevistadas dijeron no haber recibido información sobre anticonceptivos
diferentes o adicionales al condón, y que el 38 por ciento no recibieron suficiente
información para tener un embarazo de forma segura, además de que no se les asesoró para
evitar la transmisión del virus por vía perinatal” (Ortiz: 2013; López: 2014, página?).

Esto permite visibilizar la difícil situación que enfrentan las mujeres que viven con VIH y la
discriminación sistemática a la que son sujetas cuando recurren a los servicios de salud. Además
hay que tener en cuenta la automedicación en la que incurren las mujeres transgénero por lo
altos niveles de transfobia que prevalecen en el sector salud, así como la falta de acciones concretas
para la prevención del Virus del Papiloma Humano (VPH), la detección del cáncer cérvico
uterino; ambos con una alta prevalencia entre las mujeres, por ello, las campañas de prevención
con información sobre la relación VIH-violencia de género, acceso a antiretrovirales y la atención
adecuada a víctimas de violencia sexual, resultan más que prioritarias, urgentes. En el caso de la
población migrante, la violación sexual aparece como un tema tabú, particularmente en el caso
de los hombres. A continuación se consigna el testimonio de Ender Martínez, migrante
salvadoreño y activista de la comunidad LGBT en su país, quien estuvo encerrado por siete meses
en “Las Agujas”, estación migratoria del Instituto Nacional de Migración (INM), en la delegación
Iztapalapa de la Ciudad de México , y quien fue detenido cuando se dirigía a pedir asilo a la
Comisión Mexicana de Ayuda al Refugiado en Tapachula, Chiapas (Ureste, 2014):

 
148
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

“Ahí adentro hay acoso sexual por parte de custodios, de los agentes de migración y también
de extranjeros que están alojados (…) El INM disfraza su homofobia diciendo que todo es
por tu seguridad. Pero todo ese hostigamiento es para que renuncies a tu solicitud de refugio
(…) Otra forma de acoso es el de obtener favores sexuales a cambio de una mejor dieta
alimenticia” (Referencia?)

Conclusiones

 Los esfuerzos en materia de prevención tienen que dirigirse a la población entre 14 y 24 años,
debido a que cada año, el 31 por ciento de las alrededor de 6 mil nuevas infecciones en
México se diagnostican en menores de 25 años (CENSIDA).
 La modificación de tendencias entre los jóvenes, y la mayor incidencia de concentración en
las zonas urbanas, posiblemente se deba al inicio temprano de la vida sexual de las y los
jóvenes, así como al hecho de que el contacto sexual sin protección se mantiene como la
principal causa de transmisión. Se considera que esto es así, porque independientemente de
la orientación sexual que asuman, estos sujetos no dejan de ser hombres, y en ese sentido,
no están exentos de replicar un modelo de socialización caracterizado por el riesgo. De tal
suerte que antes que por ser homosexual, macho, homofóbico y/o un sujeto desinformado,
el VIH se transmite por ser hombres, y ese, insisto, es el “núcleo duro” que los programas de
prevención tienen que empezar a considerar.
 Ante tal panorama, resulta indispensable pensar en políticas públicas integrales en materia
de VIH, con perspectiva de género, en el sentido más relacional del término. De lo contrario,
seguir utilizando categorías epidemiológicas como “Hombres que tienen Sexo con Hombres”
(HSH), incluso expresiones como “varones homosexuales”, más que abonar, impiden
visibilizar la complejidad que encierra este fenómeno social. De tal suerte que lo que habría
que atacar es eso, los procesos de socialización masculinos que replican al riesgo como
elemento característico de la sexualidad.
 El fundamento de la prevención debe basarse en disminuir la brecha existente entre las
prácticas sexuales de riesgo y las reflexiones teórico-prácticas de los abordajes preventivos.
Todavía existen vacíos en el conocimiento, se necesitan esfuerzos en la educación para la
prevención. Estas prácticas deben darse a partir de contextos de intersubjetividad, con
actitudes emancipadoras y centralizadas en las relaciones socialmente establecidas.
 Erradicar la violencia masculina implica erradicar la inequidad y los privilegios de los
hombres y también transformar la masculinidad, transformar las relaciones de hombres con
otros hombres y las vidas de los hombres como proveedores. Significa que debemos ir más
allá de un discurso sobre igualdad de género y comenzar a hablar de una transformación
social y sobre todo, personal, en la erradicación del patriarcado y el desmantelamiento y la
deconstrucción de nuestras ideas y prácticas en lo relacionado con el género. Después de
todo, y como diría Michael Kaufman, “nuestras definiciones hegemónicas de masculinidad
son imposibles de alcanzar para cualquier hombre que desee vivir de acuerdo con ellas”.
 De modo que para ser hombres, primero hay que dejar de ser machos, de lo contrario
prevalecerá la misma situación: los hombres como víctimas de su propio machismo. Llegados
hasta aquí, resulta obligada una autorreflexión, por parte de los hombre, que permita tomar
conciencia de las consecuencias que implica una masculinidad caracterizada por ideas

 
149
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

misóginas, machistas y homofóbicas. Lo expresado aquí pretende ser un paso más en dicha
dirección. Concluyo pronunciándome por la urgente necesidad en deconstruir la manera
como los hombres aprenden y socializan su ser hombres. Se trata de apostar por otros
modelos de socialización que no estén caracterizados por el riesgo, ni impregnados de
machismo, homofobia o misoginia. Ojalá que así sea.

Referencias Bibliográficas:
Agencia de Noticias de Diversidad Sexual (Anodis). (2008). “Bareback: Un juego macabro II.
Droga, sida y soledad”. En La ballena de Jonás, boletín mensual del Fondo Cultural de Albergues
de México (IAP.), número 143, noviembre..
Agencia de Noticias de Diversidad Sexual (ANODIS). (2012). “Advierten incremento de contagios de
VIH-SIDA entre jóvenes del DF”, disponible en línea http://anodis.com/imprimir.asp?id=19971
Publicado el 17 de abril.
BASTIDA Leonardo, (2011). “El VIH en la ruta del migrante”, en Suplemento Letra S, número
177, 7, abril.
BASTIDA, Leonardo, (2011). “Hombres cabales en tojolabal”, en Suplemento Letra S, número
180, p. 9, julio.
BONFIL, Carlos, (2007). “Decisiones inteligentes sobre la propia seguridad sexual”, suplemento
Letra S, número 126, p.8, enero.
BUTLER, Judith. (2006). Deshacer el género. Barcelona: Paidós Ibérica .
COLINA, Carlos. (2012). “La homofobia: heterosexismo, masculinidad hegemónica y eclosión
de la diversidad sexual”. 5 de octubre de 2012, de Revista Razón y Palabra Sitio web:
www.razonypalabra.org.mx/N/n67/varia/ccolina.html
CONELL, RW. (2003). “Los cuerpos de los hombres” en Masculinidades. México: PUEG,
UNAM.
DA SILVA Concha, Devanir. (2006). “Deseos públicos e identidades privadas. Internet, género
e identidad sexual masculina en Chile. El caso de los avisos personales del diario La Nación”,
agosto de 2014, de Gazeta de Antropología, número 22, artículo 36 Sitio web:
http://hdl.handle.net/10481/7112
DE KEIJZER, Benno, (2003). “Hasta donde el cuerpo aguante: género, cuerpo y salud
masculina”,. agosto 2014, de Foro Internacional de Ciencias Sociales y Salud Sitio web:
https://es.scribd.com/doc/89098970/Keijzer-B-Hasta-donde-el-cuerpo-aguante-Genero-cuerpo-
y-salud-masculina-2003
ELIAS, Norbert. (1994). Teoría del símbolo. España: Ediciones Península.
HERNÁNDEZ Mirtha, (2011). “Infecta VIH a 6 por día”. Reforma, sección Ciudad p. 4, viernes
2 de diciembre.

 
150
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

JOCILES, Rubio María José. (2001). “El estudio sobre las masculinidades. Panorámica general”.
agosto de 2014, de Gazeta de Antropología, número 17, artículo 27, Sitio web:
http://hdl.handle.net/10481/74837
LANZAGORTA García, José Ignacio. (2014). “La Casita de Insurgentes”. agosto de 2014, de
Revista Nexos 1ero de mayo de 2014 Sitio web: www.nexos.com.mx
LÓPEZ Patricia, (2011). “Sexo sin protección: causa principal del contagio del VIH”, Gaceta
UNAM, p. 9, cinco de diciembre.
LÓPEZ Uribe, Eugenia. (2014.). “Garantizar derechos reproductivos de mujeres con VIH: agenda
pendiente”. agosto de 2014, de Comunicación e Información de la Mujer A.C Sitio web:
www.cimacnoticias.com.mx, 26 de febrero.
MONTALVO, Fuentes Guillermo. (2013). “El último vagón: historias íntimas de un espacio
público”, agosto de 2014, de Agencia NotiESE Sitio web:
http://www.notiese.org/notiese.php?ctn_id=6264
NANTUA Evangelista, et al. (2007). “Percepción del riesgo de la infección VIH entre hombres y
mujeres con Infecciones de Transmisión Sexual” Ciencia y Enfermería, Brasil, p. 70-80.
ORTEGA, Daniel, (2008). “Bareback: suicidio sexual”, revista Círculo Universitario, Año 4,
número 1, febrero-junio, p. 11.
REYES, Mario Alberto. (2012). “La salvaguarda de la hombría: el machismo dentro del ejército”,
Suplemento Letra “S”, número 186, 5 de enero.
SÁNCHEZ Rocío. (1ero. de diciembre de 2011). “Vulnerabilidades diversas frente al SIDA” en
Suplemento Letra S, no. 185 , p. 4.
ORTIZ Acevedo, Lizbeth.. (2013). “Mitad de mujeres con VIH denuncia mala atención en salud”.
agosto de 2014, de Comunicación en información de la Mujer A.C. Sitio web:
www.cimacnoticias.com.mx, 13 de noviembre.
SANPEDRO, Ortega Fernand. (2009). “La cajita feliz: escenario de los metreros”, . Círculo
Universitario, Agencia Universitaria de Noticias (AUNAM), Facultad de Ciencias Políticas y
Sociales (UNAM), año 6, número uno, septiembre-diciembre, p. 7-9.
URESTE, Manu. (2014). “Así es el calvario de una persona homosexual en una estación
migratoria". agosto de 2014, de Animal Político Sitio web:
http://www.animalpolitico.com/2014/05/asi-es-el-calvario-de-una-persona-homosexual-en-una-
estacion-migratoria/
VEGA Margarita, (2012). “Lideran cinco estados muertes por SIDA”, Reforma, 2 de diciembre,
p. 2.

 
151
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

MASCULINIDADES E AUTOCUIDADO: PRODUÇÃO DE


SENTIDOS COM HOMENS DA MICRORREGIÃO DE SUAPE –
NORDESTE DO BRASIL
Anna de Cássia Pessôa de Lima; Benedito Medrado; Túlio Romério Lopes Quirino
Núcleo Feminista de Pesquisas em Gênero e Masculinidades
Universidade Federal de Pernambuco
annadecassia@hotmail.com; beneditomedrado@gmail.com; trlquirino@gmail.com

Resumo. A microrregião de Suape, em Pernambuco, nordeste do Brasil, sofreu uma grande


expansão industrial nos últimos anos que ocasionaram mudanças no cenário econômico e
estrutural. Graças a esse processo, uma grande quantidade de trabalhadores, em sua maioria
homens, migrou para a região, resultando em uma urbanização acelerada e desestruturada nos
municípios circunvizinhos, que acabaram por gerar problemas estruturais em diferentes setores,
a saúde foi um deles. Este trabalho teve como objetivo realizar uma leitura psicossocial das
informações produzidas pela pesquisa “Homens e práticas de saúde na microrregião de Suape,
em Pernambuco”, com foco na prevenção e cuidados com a saúde dos homens. Foram realizadas
entrevistas estruturadas com homens trabalhadores da região. O processo de análise seguiu uma
orientação construcionista social, alinhando-se aos princípios epistemológicos das práticas
discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Além disso, marca-se o conceito feminista de
gênero como orientação teórico-metodológica. Dentre os resultados obtidos, destacam-se: a
existência de uma grande procura pelos serviços de saúde por estes homens, em contraste com o
que tem sido relatado na literatura sobre o tema; os serviços de atenção básica apareceram como
importantes lugares buscados por estes homens quando necessitam de alguma assistência à saúde;
apesar disso, os serviços de saúde de rede privada são buscados com maior frequência. Além disso,
os homens relatam a não preparação desses serviços para atender suas questões de saúde. Isso
aponta uma série de problemas estruturais no sistema de saúde, evidenciando a importância de
repensá-lo sob o enfoque de gênero.

Introdução

Localizada no litoral de Pernambuco, a microrregião de Suape abrange os municípios de Ipojuca


e Cabo de Santo Agostinho, e foi sujeita a grandes mudanças no cenário estrutural e econômico

 
152
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

após a expansão industrial que houve em decorrência dos investimentos do governo federal
através do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Como um desses investimentos, a
implantação da Refinaria Abreu e Lima e do Estaleiro Atlântico Sul na região acabou por gerar
milhares de ofertas de emprego em vários setores da economia local, resultando em uma grande
migração de trabalhadores para essas cidades, sendo homens a sua maioria. Como mão-de-obra
temporária para construir a infraestrutura planejada para estes empreendimentos, fez-se
necessário o advento de mais de 50 mil homens, oriundos de diferentes lugares do país. É
importante também destacar que, antes disso, a população total da região consistia em cerca de
180 mil habitantes, representando um aumento de, pelo menos, 25% neste contingente
populacional.

Em consequência desse fenomêno, os dois municípios sofreram um processo de urbanização


muito acelerado, ocasionando uma série de problemas estruturais, dentre eles, a sobrecarga dos
serviços de saúde. Partindo do pressuposto de que o crescimento econômico precisa também
garantir o desenvolvimento social da população, se faz importante haver um serviço eficaz em
promoção da saúde. Outro aspecto que também merece uma atenção especial diz respeito à
equidade de gênero. Considerando que o aumento populacional da região se deu principalmente
no sexo masculino, uma série de ajustes também seriam necessários, tanto nos serviços quanto
nas equipes especializadas, para assim garantir um melhor atendimento para as demandas
recorrentes desses homens e suas realidades.

Essa discussão nos remete a reflexões sobre a complexa dinâmica das relações de gênero existente
na microrregião, baseada no machismo – ainda muito forte no nordeste brasileiro – e que pode
ser bem observada nas diversas formas de violência relatadas pelos homens durante a pesquisa.
Dentre as principais causas de mortalidade dos homens de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho,
principalmente entre os jovens, não se encontram os adoecimentos, mas sim as “causas externas”,
que segundo o Ministério da Saúde é uma categoria que engloba os acidentes (de trânsito ou
não), episódios de violência, uso abusivo de álcool e outras drogas, dentre outros. Também a
violência contra a mulher apresenta altos índices na região.

A partir disso, é possível refletir que as questões relativas à saúde do homem, como seu
adoecimento e morte, estão relacionadas diretamente aos seus modos de vida, orientados por
construções sociais que associam as masculinidades a marcadores tradicionais de gênero, baseados
em posicionamentos sexistas. Do ponto de vista cultural, esses homens aprendem que a violência
e o não-cuidado de si são práticas naturais e vinculadas ao sexo masculino. Para mudar esta
realidade é necessário construir estratégias de comunicação eficazes que possam promover uma
crítica à visão machista e levar os homens a buscar mais pela prevenção e promoção de saúde.

Fundamentação teórica

Este trabalho, de orientação Construcionista Social, se alinha aos princípios epistemológicos que
orientam as pesquisas sobre práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano, em
Psicologia Social, de acordo com Mary Jane Spink e Benedito Medrado (1999) e adota o conceito
de gênero como orientação teórico-metodológica.

 
153
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Joan Scott (1990) diz que a palavra gênero começou a ser usada pelas feministas para se referir à
organização social da relação entre os sexos. Todavia, o termo faz referência ao processo histórico
e de construção social de um indivíduo enquanto sujeito feminino ou masculino. “Gênero é,
segundo essa definição, uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado” (SCOTT, 1990,
p. 75). Teresita de Barbieri (1993) relaciona que o sexo é anatômico e fisiológico, enquanto o
gênero é social, e completa dizendo que “el género es el sexo socialmente construído” (p. 149).

En otras palabras: los sistemas de género/sexo son los conjuntos de prácticas, símbolos,
representaciones, normas y valores sociales que las sociedades elaboran a partir de la
diferencia sexual anátomo-fisiológica y que dan sentido a la satisfacción de los impulsos
sexuales, a la reproducción de la especie humana y en general al relacionamiento entre las
personas (BARBIERI, 1993, p. 149).

Gayle Rubin (1986) também definiu gênero como um constructo social do sexo humano, e
explica o “sistema sexo/gênero” como uma série de arranjos feitos a partir da intervenção humana
e social na matéria-prima biológica do sexo humano, moldando-o, delineando-o e regulando-o.
Isso acaba por gerar os papeis sociais específicos de homens e mulheres que, segundo Scott (1990),
atuam como um vetor de opressão. “Assim, gênero não é algo que alguém é, mas algo que se faz
em ato, ou, mais precisamente, em uma sequência de atos, um ‘fazer’ que produz um ‘ser’”, como
bem disseram Helen Santos e Henrique Nardi (2014).

Este trabalho é inspirado na perspectiva psicossocial de gênero orientada pelo feminismo, que foi
defendida por Benedito Medrado e Jorge Lyra (2008) em seu artigo “Por uma matriz feminista de
gênero para os estudos sobre homens e masculinidades”. Segundo eles, existem quatro principais
eixos do marco conceitual que auxiliam na formulação de uma matriz feminista para estudos
sobre homens e masculinidades; são eles: “1) o sistema sexo/gênero; 2) a dimensão relacional; 3)
as relações de poder; e 4) a ruptura da tradução do modelo binário do gênero nas esferas da
política, das instituições e das organizações sociais”.

Através da reflexão do texto percebe-se a importância de romper esses modelos binários e começar
a fazer uma leitura de gênero a partir de uma perspectiva relacional. Essa leitura relacional
possibilita a desconstrução da ideia recorrente de vitimização da mulher e culpabilidade do
homem pela desigualdade de gênero, chamando a atenção para a importância de, ao invés de
procurar culpados, tentar identificar como são institucionalizadas essas relações de gênero e como
elas se atualizam.

É preciso, portanto, submeter o conceito de “gênero” a uma leitura feminista. Ou seja, deve-
se adotar a perspectiva de gênero, buscando compreender como diferenças se constituem em
desigualdades, indo além dos sexos como determinantes biológicos e da ‘di-visão’ sexual do
mundo (MEDRADO e LYRA, 2008, p. 810).

Juan Guillermo Figueroa-Perea, citado em Medrado e Lyra (2008, p. 826), traz alguns
questionamentos importantes sobre estudos de homens e masculinidades no campo da saúde e
dos direitos reprodutivos. O primeiro deles é referente aos temas que têm sido objeto de pesquisa,
sendo a resposta mais frequente a sexualidade, a saúde e a violência, devido as discussões sobre
reprodução. Isso é um reflexo do pensamento corrente de que os cuidados com a saúde do
homem só são necessários para evitar problemas de reprodução, o que pode ser bem caracterizado

 
154
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

diariamente nas comunidades, onde é visto que a preocupação com a saúde masculina é quase
que exclusivamente voltada para próstata e pênis, esquecendo-se ou negligenciando-se todo o
resto.

Outra questão importante é saber que concepções de homem/masculinidades orientam o estudo:


a masculinidade é interpretada como uma condição, uma essência, uma característica ou um
privilégio? Figueroa-Perea chama a atenção ainda para outras questões importantes: “como se
investigam os diferentes temas?”, “qual é o ponto de vista que se adota na formulação do
conhecimento?”, “que novos discursos, novas palavras estão sendo inventadas pelo campo?”, “que
categorias analíticas são usadas?”, dentre outros. Conclui-se, então, que:

É preciso romper com modelos explicativos que, via de regra, reafirmam a diferença e que
nos permitem somente explicar como ou porque as coisas assim são, mas que não apontam
contradições, fissuras, rupturas, brechas, frestas... que nos permitam visualizar caminhos de
transformação progressiva e efetiva. Apostamos na necessidade de abrirmos espaço para
novas construções teóricas que resgatem o caráter plural, polissêmico e crítico das leituras
feministas” (MEDRADO e LYRA, 2008, p. 833).

Objetivo

Este trabalho tem como objetivo realizar uma leitura psicossocial das informações referentes à
prevenção e cuidado com a saúde de homens trabalhadores do Complexo Petroquímico de
Suape, gerados pelo projeto “Homens e práticas em saúde na microrregião de Suape, em
Pernambuco”.

Metodologia

As informações da pesquisa foram produzidas por meio de entrevistas estruturadas, realizada no


contexto do projeto mais amplo “Homens e práticas em saúde na microrregião de Suape, em
Pernambuco” (MEDRADO et al., 2015), composta por 85 questões, em sua maioria fechadas, e
que estavam organizadas em blocos, sendo um bloco geral com informações sociodemográficas
dos participantes, e outros seis blocos temáticos: 1) práticas de saúde e autocuidado; 2) álcool e
outras drogas; 3) paternidade: acompanhante; 4) paternidade: licença; 5) violência; 6) vida sexual
e reprodutiva. Para esta comunicação, foram consideradas as questões relativas ao primeiro bloco
da entrevista, que está vinculado à prevenção e cuidado com a saúde.

Quanto aos procedimentos de análise, foi realizado um tratamento quantitativo das informações,
com posterior leitura analítica orientada pelos princípios teóricos orientadores das práticas
discursivas e produção de sentidos. A intenção não foi realizar uma leitura generalizante, nem
abarcar a totalidade de informações e possibilidades geradas nos resultados. Considerando que
os números são um importante dispositivo de intervenção em políticas públicas, acreditamos que
os indicadores produzidos nesta pesquisa “constituem subsídios para discussões e potenciais
mudanças no contexto da produção de conhecimento e elaboração/avaliação de políticas
públicas”, concordando, assim, com Benedito Medrado et al. (2011).

 
155
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Por fim, cabe ressaltar que os procedimentos desta pesquisa seguiram as Diretrizes e Normas
Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde
(Resolução 196/96), tendo sido aprovado por comitê de ética especializado.

Resultados e discussão

Caracterização dos Entrevistados

Os trabalhadores entrevistados tinham uma média de 33 anos, sendo 18 a idade mínima


encontrada (4 homens), 66 a idade máxima (1 homem), e 28 anos a moda (idade mais frequente).
Dos 421 homens, 46,6% tinha entre 20 e 30 anos, o que caracteriza essa como a faixa etária mais
frequente. No tocante ao estado conjugal, a maior parte referiu ser/estar casado (45,1%); 20,4%
indicou viver com um/a companheiro/a, enquanto 29% relatou nunca ter sido casado. 51,3%
deles concluiu o ensino médio, e apenas 29,7% havia realizado um curso técnico.

Quanto à cidade de origem desses trabalhadores, 39% são da Região Metropolitana do Recife/PE
(RMR), onde podemos encontrar naturais dos municípios de Cabo de Santo Agostinho (13%),
Ipojuca (3%), e outras cidades da RMR (23%). Foi registrado também que 25% dos entrevistados
vieram de outros estados nordestinos, e 10% de outras regiões do país. Sobre o local de moradia,
50% indicou residir na região de Suape (sendo 38% em Cabo e 12% em Ipojuca). A outra metade
dos entrevistados afirmou morar em outras cidades da RMR como Jaboatão dos Guararapes,
Recife e Escada. 44% disse morar em residência própria, e 28% em residência alugada.

Relativo às questões de cor/raça, a mais referida foi a opção “parda” (37,8%), seguida pela
“branca” (27,1%), “preta” (18,1%), amarela/oriental (2,1%), “indígena” (1,4%), e “não sabe/não
respondeu” (2,3%). 11,2% dos entrevistados marcou a opção “outra”, onde surgiram as
nomeações “moreno”, “moreno claro”, “moreno escuro” etc. De acordo com as orientações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE, a soma das categorias “parda” e “preta”
resultam na categoria “negra”. Portanto, temos um percentual de 55,9% de homens negros
entrevistados.

A maioria dos entrevistados se enquadrou, quanto à ocupação profissional, na opção “operário”,


cuja renda mensal é em média R$ 2.094,95. A renda mais frequente nas respostas foi de R$
1.200, que em geral era dividida para três ou quatro pessoas. Faz-se importante destacar que
82,4% dos trabalhadores entrevistados mencionou ser o principal provedor da família. No que
diz respeito à religião, 30,4% afirmou professar alguma fé – dos quais 56,1% se disseram
vinculados à igreja católica e 39,5% a igrejas evangélicas (principalmente a Assembleia de Deus).

Sobre as Práticas de Cuidado à Saúde

A grande maioria dos homens entrevistados (74,8%) afirmou ter procurado, no último ano,
algum tipo de ajuda para cuidar da saúde. Consideramos essa informação relevante, pois
contradiz o que se pensa e fala amplamente sobre os padrões de autocuidado masculinos. Indica

 
156
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

que os homens se preocupam sim, em alguma medida, com suas questões de saúde e por isso
buscam ajuda, seja em serviços de saúde ou em outros espaços de cuidado. Esse dado é bastante
significativo pois nos ajuda a identificar demandas e necessidades em saúde que não só existem
como também são reconhecidas e apresentadas por esses homens.

Foram também identificados quais são os grupos de suporte e apoio psicossocial aos quais esses
homens recorrem com mais frequência quando estão tristes ou frustrados: os/as amigos/as
(27,8%), a companheira (20,4%) e alguns parentes (22,3%). A partir dessas informações podemos
perceber a importância da rede informal de cuidados quando esses homens passam por situações
conflituosas, que podem vir a ser parceiros significativos na intervenção integral à saúde dos
homens – principalmente levando em consideração que os profissionais de saúde foram citados
por apenas 0,2% dos entrevistados.

Referente ao eixo do questionário nomeado de “Práticas de saúde, prevenção e autocuidado”,


perguntamos aos homens trabalhadores acerca dos serviços de saúde acessados em algum
momento da vida para a prevenção e/ou recuperação dos agravos à saúde. Como pode ser visto
na tabela 1, 49,4% deles respondeu que procura médicos particulares, 19% utiliza o serviço de
saúde da sua empresa, e apenas 17,8% recorre ao posto de saúde. Apesar do quantitativo pequeno
de homens que afirma utilizar a rede pública de saúde, essa informação é um importante
indicador, principalmente quando pensamos que esses homens têm acesso a planos de saúde
fornecidos pelas empresas contratantes e mesmo assim procuram os serviços do Sistema Único
de Saúde (SUS). Considerando, então, seus princípios de universalidade, integralidade e
equidade do SUS, a rede precisa estar preparada para receber esses homens e suas demandas.

Essa problemática se torna ainda mais relevante quando é contrastada com a menção de serviços
de urgência e emergência no questionário, que aparecem em apenas 8,3% das respostas. Essa
informação vem contrariar os achados da literatura que apontam que os homens, em geral,
acessam prioritariamente os serviços de média complexidade do Sistema Único de Saúde
(hospitais, ambulatórios, urgências e emergências), por acreditarem que tais lugares podem ter
respostas mais objetivas às suas situações de adoecimento, com atendimentos mais ágeis e
realização de procedimentos imediatos (FIGUEIREDO, 2008). É, também, a lógica de que
homem não realiza cuidados preventivos, busca os serviços de saúde apenas quando o processo
de adoecimento já está avançado, sendo questionada pelos números da pesquisa que mostram
que estes homens procuram muito mais os serviços de atenção básica à saúde que os de média e
alta complexidade.

 
157
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Tabela 1 - Respostas dos entrevistados à pergunta: “Quando você tem um problema de saúde a
quem você recorre?”
Resposta Percentual (%) (*)
Médico particular 49,4
Serviço de saúde da empresa 19,0
Posto de Saúde 17,8
Família 10,7
Serviço de emergência 8,3
Ninguém 1,7
Farmácia 1,2
Outro 1,2

(*) Múltiplas opções de resposta

No tocante aos motivos para a busca desses serviços, houve uma diversidade nas respostas citadas.
17,6% citou “realização de exames”; 15,7% falou em “dores e/ou sintomas de adoecimento”;
“acidentes” foi citado por 3,1% dos entrevistados, enquanto 4% alegou procurar para a
“realização de cirurgias”. O fato de a maior parte dos homens se referir à realização de exames
pode ser explicado pela frequente exigência das empresas na realização desses exames no processo
admissional, bem como para revisão anual para manutenção de seus postos de trabalho. Isso nos
fala de uma lógica de disciplinarização do corpo produtivo, onde aparentemente os homens vão
cuidar da saúde apenas para poder produzir mais no trabalho.

Surgiram também algumas questões específicas para a temática da saúde sexual, que forneceram
importantes informações sobre as atitudes e práticas adotadas pelos homens entrevistados.
Referente às estratégias e recursos utilizados para prevenir infecções sexualmente transmissíveis
(IST), mais especificamente quanto à realização do teste de HIV, 23,8% afirmou ter realizado o
teste ao menos uma vez no último ano, e 10,2% disse ter realizado o teste uma vez nos últimos
dois anos. Apesar de todas as campanhas para o combate ao HIV, a maioria desses homens
(57,7%) disse que nunca realizou a testagem. Esse é um dado muito importante para subsidiar e
justificar estratégias de prevenção em HIV/Aids, bem como avaliar a eficácia e abrangência das
ações tomadas até agora.

Tal preocupação é muito significativa para a região de Suape, uma vez que, segundo as
informações disponibilizadas pelo Ministério da Saúde nos Boletins Epidemiológicos (BRASIL,
2012), os municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca se encontram nos primeiros lugares
do “ranking” da taxa de incidência de casos de AIDS entre municípios com mais de 50 mil
habitantes por região de residência, e aparecem também como os municípios com maior
notificação de casos de AIDS nos últimos dois anos em toda a região nordeste, perdendo apenas
para a cidade de São Luiz, no Maranhão. Outra preocupação é que, no tocante à distribuição por
sexo, os homens continuam a ser os mais infectados. Em 2012 o número de infecção por HIV
foi de 11.162 homens e 6.648 mulheres, ou seja, quase o dobro de homens soropositivos.

Continuando o debate sobre as estratégias e recursos utilizados para prevenir infecções


sexualmente transmissíveis (IST), ao serem questionados acerca do uso de preservativos em suas

 
158
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

relações sexuais, 36,1% dos entrevistados afirmaram sempre usar a camisinha em todas as suas
relações, 18,1% disse que usa “às vezes”, e 33,7% afirmou que nunca usa. Consideramos que essa
frequência do não uso do preservativo é bastante alta e preocupante, principalmente quando
cruzamos com a informação de que 57,7% desses entrevistados não tem conhecimento de sua
condição sorológica. Esses números combinados com a posição dos municípios de Suape no
“ranking” dos Boletins Epidemiológicos alertam para a necessidade de definição de estratégias de
intervenção e educação em saúde urgentes, que sejam sensíveis às questões de gênero que
perpassam essa problemática, e que possibilitem a esses homens o reconhecimento da
importância do cuidado e da proteção, para que venham a inserir no cotidiano de suas práticas
sexuais a adoção de preservativo.

Ainda sobre esse aspecto, os entrevistados foram perguntados acerca da função do preservativo.
65,3% afirmou que a camisinha serve para prevenir as IST, e 29% disse que serve para prevenir
IST e gravidez indesejada, servindo também como método contraceptivo. Com isso percebemos
que é alto o quantitativo de homens que compreendem a funcionalidade do preservativo, mas
por algum motivo isso não se traduz em suas práticas do cotidiano. Consideramos que também
o acesso ao preservativo é uma questão que pode nos dar informações relevantes para pensar esses
debates, e também ajudar a analisar a aproximação dos homens com os serviços de saúde, bem
como suas percepções destes serviços. O local mais mencionado para obtenção do preservativo
foi a farmácia (48,2%), seguido pelas unidades básicas de saúde (18,1%). Ou seja, mesmo havendo
a possibilidade de conseguir o preservativo gratuitamente, por algum motivo muitos desses
homens preferem pagar por ele. Isso nos leva a pensar no reconhecimento dos serviços pelos
homens, bem como na preparação das equipes para acolher esses homens nesse ambiente de
cuidado que é mais frequentemente ocupado por mulheres.

Tangenciando todas as questões, investigamos, por fim, a percepção dos homens trabalhadores
acerca dos serviços voltados para a saúde do homem, onde 53,4% respondeu que, na maioria das
vezes, os serviços de saúde não estão bem preparados para atender os homens. Essa informação é
muito valiosa para refletirmos como esses serviços vêm sendo estruturados, na medida em que os
homens utilizam com frequência esses serviços de saúde, mas sentem que esses não estão
preparados para atendê-los. Em complemento, ao serem questionados sobre a necessidade de
existirem serviços especializados para a saúde do homem, 91,7% respondeu afirmativamente. Isso
indica que os homens reconhecem, sim, suas próprias necessidades e demandas de saúde, e
compreendem que possuem questões específicas que precisam ser contempladas pelos serviços
públicos. Partindo da perspectiva relacional de gênero, nos atentamos para o fato de que existem
homens que questionam os padrões normativos sexistas, pois como disse Joan Scott (1990), nem
sempre reproduzimos literalmente os padrões culturais para os quais fomos educados. Portanto,
é possível pensar que homens também se cuidam.

Mas, infelizmente, de acordo com Schraiber e colaboradores (2010, apud REIS, 2014), esses
atributos frequentemente relacionados ao masculino (como o autocuidado, impaciência, baixa
adesão às práticas de saúde, etc.) são reforçados diariamente nos serviços de saúde, tanto pelos
profissionais quanto pelos usuários. Dessa forma, os serviços de saúde são transformados em
espaços “generificados” e, por consequência, acabam afastando ainda mais os homens.

 
159
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Considerações finais

Essa pesquisa nos levou a questionar algumas “verdades” trazidas pela literatura acerca do
discurso de “não-cuidado” pelos homens. Encontramos em Suape, homens que se cuidam, que
buscam os serviços de saúde, não só em setores de urgência e emergência, mas principalmente na
atenção básica, e nos serviços privados. Encontramos, também, homens que identificam suas
necessidades singulares e reconhecem que os serviços não estão preparados para abarcar essa
demanda.

Esses homens denunciam a falta de preparo das equipes para atendê-los, demonstram o quanto
se sentem desconfortáveis nesses ambientes de cuidado, por serem em geral ambientes ocupados
por corpos femininos. Reafirmamos, então, a necessidade de se pensar esses serviços de saúde a
partir do marcador de gênero, considerando o seu caráter relacional, bem como a dimensão
simbólica das masculinidades e a forma como ela perpassa pelas questões de saúde dos homens,
para que assim haja um melhor preparo em receber esses homens, de forma a incitar uma maior
procura destes serviços.

Referências

Barbieri, Teresita de. (1993). “Sobre la categoría género: una introducción teórico-
metodológica”. Debates en Sociología (18).

Brasil, Ministério da Saúde. (2012). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas


regulamentadoras sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução Nº 466, de 12 de dezembro de
2012. Brasília: CNS.

Figueiredo, Wagner S. (2008). “Masculinidades e Cuidado: diversidade e necessidades de saúde


dos homens na atenção primária”. Tese (Doutorado), Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo.

Medrado, Benedito, e Jorge Lyra. (2008). “Por uma matriz feminista de gênero para os estudos
sobre homens e masculinidades”. Revista Estudos Feministas (16).

Medrado, Benedito, Jorge Lyra, Mariana Azevedo, Maria Toneli, Zeidi Trindade, Túlio Quirino, Dara
Felipe, Celestino Galvão Neto, Márcia Valente, Michael Machado, Ludmilla Oliveira, Luíza Dantas, Maria
Camila Silva e Simone Gondim. (2011). “Dialogando sobre família, gravidez e paternidade com mães
adolescentes em Recife/PE, Florianópolis/SC e Vitória/ES: números como dispositivos de intervenção
em políticas públicas”. Em O pai está esperando?: Políticas públicas de saúde para a gravidez na adolescência.
Organizado por Maria Juracy Figueiras Toneli, Benedito Medrado, Zeidi Araújo Trindade e Jorge Lyra, 55-
91. Florianópolis: Ed. Mulheres.

Medrado, Benedito, Jorge Lyra, Túlio Quirino, Ana Luísa Cataldo, Andréa Paula da Silva,
Claudemir Silva Filho, Felipe Alves e Anna de Cássia Lima. (2015). “Dialogando com homens
trabalhadores de Suape: demandas, necessidades, atitudes e práticas em saúde”. Em: Contextos,
desafios e possibilidades da pesquisa-intervenção-pesquisa em direitos sexuais e reprodutivos. Organizado

 
160
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

por Tacinara Nogueira de Queiroz, Maria Betânia Lins, Cinthia Oliveira e Luís Felipe Rios, 43-
66. Recife: Editora UFPE.

Reis, Andreia Resende dos. (2014). “A saúde de homens presos: promoção da saúde, relações de
poder e produção de autonomia”. Dissertação (Mestrado), Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais.

Rubin, Gayle. (1986). “El tráfico de mujeres: notas sobre la economía política del sexo”. Nueva
Antropología (7).

Santos, Helen Barbosa dos, e Henrique Caetano Nardi. (2014). “Masculinidades entre matar e
morrer: o que a saúde tem a ver com isso?”. Physis (24).

Scott, Joan. (1990). “Gênero: uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade (6).

Spink, Mary Jane, e Benedito Medrado. (2013). “Produção de sentido no cotidiano: uma
abordagem teórico-metodológica para análise das práticas discursivas”. Em Práticas discursivas e
produção de sentidos no cotidiano: aproximações teóricas e metodológicas. Organizado por Mary Jane
Spink, 22-31. Rio de Janeiro: Centro Edelstein.

 
161
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

PADRÕES IDENTITÁRIOS MASCULINOS: ARMADILHAS


PARA O HOMEM JOVEM
Elaine Ferreira do Nascimento; Marcondes de Lima Oliveira; Breno de Oliveira
Ferreira e Liana Maria Ibiapina do Monte

Resumo

Introdução: O presente estudo abordou a discussão acerca da sexualidade, juventude e


masculinidade num cenário de epidemia de AIDS. O objetivo foi compreender como os homens
jovens universitários se comportam sexualmente em tempos de AIDS; analisar se as informações
sobre a forma de contágio das Infecções Sexualmente Transmissíveis–IST’s são fatores protetivos
em relação à contaminação pelo vírus HIV. Metodologia: Pesquisa de abordagem qualitativa
entrevistou 10 homens jovens universitários que residiam ou estudavam na cidade de Caxias-MA,
o material foi trabalhado a luz da análise de conteúdo, modalidade temática. O referencial
teórico se debruçou sobre cinco eixos temáticos sexualidades, masculinidades, juventude,
prevenção, HIV/AIDS, baseada nos seguintes autores: Nascimento, Gomes (2008); Gomes,
Rebello, Nascimento (2010); Fontanella, Gomes (2015); Leal Et Al (2015) dentre outros.
Resultado e Discussão este trabalho foi construído a partir das seguintes categorias: Identidade
masculina sexual juvenil: armadilhas produzidas; Masculinidades e ausência do cuidado de si.
Um dos grandes desafios a serem superados é a ruptura com o modelo heteronormativo, em que
as características do ser homem conflitam com a existência de múltiplas formas de ser e viver dos
homens jovens em nossa sociedade. Quando os homens jovens não conseguem atingir esse ideal
de provedor, dominador e heterossexual isso pode acarretar sofrimento. Conclusão os homens
jovens ainda apresentam comportamentos de risco no que diz respeito às práticas sexuais
desprotegidas, onde o tempo de namoro e a confiança se apresentam de acordo com os
depoimentos como fatores impeditivos para práticas sexuais mais seguras e cuidado de si.

 
162
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Introdução

A sexualidade masculina juvenil sempre foi permeada por vários fatores impostos pela cultura ao
longo da história do Brasil, que por sua vez vem influenciando e ditando o modo como os homens
devem se comportar sexualmente. Entretanto, estas imposições vêm afetando diretamente a vida
destes homens no que diz respeito a uma vida sexualmente saudável, pois os homens são
considerados sujeitos de risco e em risco, por adotarem comportamentos desprotegidos em suas
relações sexuais (GOMES; REBELLO; NASCIMENTO, 2010; FONTENELLA; GOMES, 2015).

Esta temática, sexualidade masculina juvenil, nos remete a vários pensamentos, sendo necessário
refletir e aprofundar ainda mais as produções que a envolve. Nesse sentido, se faz pertinente
iniciar com a discussão atravessada por aspectos socioantropológicos, uma vez que a temática se
debruça sobre três elementos articulados no campo cultural, são eles: sexualidades,
masculinidades e juventudes, todas percebidas pluralmente, pois ser homem jovem não será igual
em todas as sociedades e nem na mesma sociedade, uma vez que existem marcadores estruturantes
que possibilitam diversas construções distintas de ser homem e jovem num contexto sóciosexual.
Estamos chamando atenção para as influências culturais na vida dos sujeitos, ou seja, ser homem
jovem negro pode ser diferente de ser homem jovem branco, de homem jovem indígena. Ser
homem jovem heterossexual pode ser diferente de ser homem jovem homossexual. Ser homem
jovem pai pode ser diferente de ser homem jovem e sem filhos.

Com isso, a dimensão cultural é fundamental nesse processo, pois ela associada a outros fatores
cria as condições de sociabilidade e pertencimento dos homens jovens, aqui sujeitos de nossa
reflexão. Desta forma, as culturas são geradoras de comportamentos que pode influenciar a vida
dos sujeitos expondo-os a riscos. Scott (1995) em seus estudos propõe o conceito de gênero como
uma categoria analítica para entender como, ao longo da história, se produziram e legitimaram
as construções de saber e poder que envolvem as sexualidades. Então posiciona o gênero como
um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos,
como uma forma primeira de significar as relações de poder, e é dessa forma que o patriarcado é
destacado não somente como um sistema de dominação, fixado pela ideologia machista, mas do
que isto, ele é um sistema de exploração e que produz dores e sofrimentos também para os
homens.

Atualmente, na sociedade engendrada de marcadores de exploração-dominação, reproduzidas


pelo machismo, patriarcalismo e pela heteronormatividade, os homens são educados de maneira
cruel, tanto em relação a outros sujeitos, sejam mulheres e outros homens, como em relação a si
mesmo. Pode-se considerar esse processo, como uma verdadeira “espada de dois gumes”, pois por
um lado eles têm a ideia de que são privilegiados por essa cultura (criadora de modelos de
masculinidade que são constituídos por diversas características), porém por outro lado, são
desfavorecidos pela mesma, pois esses modelos são difíceis de ser atingidos e, no momento que
um determinado sujeito não dispõe de determinadas características que os colocam como
“masculinos de verdade”, eles podem entrar num estado de sofrimento.

 
163
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Nesse sentido, é importante considerar a sociedade que esses homens pertencem marcados por
uma cultura patriarcal heterossexista, onde o homem é colocado como figura central que exerce
controle tanto sobre a mulher como também sobre todos os sujeitos os quais são considerados
subalternos. Com isso, homens e mulheres crescem e são ao longo de suas vidas ensinados a
representar papéis que devem seguir por toda vida, onde acabam sendo treinados como devem
ou não se comportar de acordo com o sexo, são treinados também como devem agir e se vestir,
são ensinados em relação às cores que devem ou não gostar, dentre outras coisas que devem ou
não fazer para possam se manter como homens “puros”, com sua masculinidade intacta.

Essas imposições começam antes do nascimento, pois no momento que os pais sabem o sexo do
bebê já se inicia um processo de adestramento dessas crianças, onde todos os familiares já têm
identidades pré-estabelecidas e pré-concebidas as quais serão impostas de forma influenciar no
modo como essas crianças vão se comportar desse momento em diante, ou seja, os homens e as
mulheres mirins são moldados. A partir disso, começa uma divisão de papéis, onde homens e
mulheres passam a ter lugares cativos os quais devem ocupar na sociedade, isso ocorre desde a
infância, local que há uma divisão dos brinquedos que podem ou não brincar, onde também há
a imposição das tarefas domésticas como função feminina que ao longo dos anos vinha sendo
naturalizada como papel a ser desempenhado unicamente pela mulher, podemos chamar isso de
divisão sexual da educação de meninos e meninas, condicionando os sujeitos para a divisão sexual
do trabalho.

Desse modo, percebe-se que os homens no decorrer da história vêm sendo educados de maneira
diferente em relação às mulheres e isso tem afetado sua saúde justamente por conta das
influências da masculinidade hegemônica que por vezes impõe características que não
contemplam um hábito/tradição/rotina por parte dos homens em procurar os serviços de saúde
como também em adotarem práticas de sexo mais protegidas. Porém, o que acontece é
exatamente o contrário, pois dentro de uma sociedade como a brasileira, atravessada por uma
cultura latino americana, ao invés de criar ou recriar uma cultura que promova uma relação dos
homens com a sua saúde e a saúde dos outros numa perspectiva preventiva, o que acontece é um
verdadeiro estímulo a comportamentos de risco, os quais se encontram ancorados em marcas
identitárias masculinas que envolvem elementos como ser forte, viril, dominador, invencível,
provedor e agressivo e, nesse processo os homens nem cuidam de si e nem pedem ajuda quando
se veem com a saúde fragilizada, o que acaba criando uma falsa ideia de que os homens são seres
passíveis de contrair ou até em disseminar doenças como a AIDS, onde eles são vistos como seres
que não devem dispensar nenhuma possível relação sexual mesmo sabendo da possibilidade de
contrair alguma doença por se tratar de práticas sexuais desprotegidas, uma vez que esses sujeitos
tem seu comportamento pautado na ideia de que é natural correr riscos, pois se associa ao homem
a crença dele ser invencível (NASCIMENTO; GOMES, 2008).

 
164
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Desenho metodológico

A presente pesquisa é produto de uma investigação que se voltou para compreensão de como se
constrói a sexualidade e as experiências sexuais masculinas juvenis em tempo de AIDS para
homens jovens universitários que estudam e/ou residam no município de Caxias-MA, tendo
como eixo central a discussão sobre como esses jovens universitários se comportam sexualmente
em tempos de AIDS. O estudo seguiu os princípios da pesquisa qualitativa, entendida aqui como
práticas interpretativas que busca investigar os sentidos que os sujeitos atribuem aos fenômenos
e ao conjunto de relações em que eles se inserem. Essa abordagem esteve baseada nos princípios
da hermenêutica-dialética, onde se buscou compreender e contextualizar os sentidos subjacentes
das falas dos sujeitos de pesquisa (DESLANDES et al, 2004).

O trabalho de campo ocorreu com entrevistas que foram aplicadas a 10 homens jovens
universitários. Nessa pesquisa, foram problematizados os depoimentos dos homens jovens acerca
de seus comportamentos sexuais frente à epidemia de AIDS.

A partir disso, buscou-se uma compreensão e contextualização dos sentidos atribuídos ao ser
homem, onde os sujeitos participantes das entrevistas passaram por uma seleção a qual foi
baseada nos seguintes princípios: (i) escolha dos sujeitos que disponham dos atributos que se
pretendia estudar (no caso desta pesquisa trata-se de homens jovens, que residiam ou que
estudavam na cidade de Caxias-MA); (ii) considerar estes sujeitos em um número suficiente para
que se possa ter reincidência das informações (no caso 10 sujeitos); (iii) considerar a possibilidade
de inclusões sucessivas de sujeitos até que seja possível uma discussão densa das questões da
pesquisa. Assim, esta pesquisa não buscou uma amostra visando uma representatividade
numérica, mas sim um aprofundamento da temática.

Neste estudo, foram focalizados 10 homens jovens universitários, o qual se buscou problematizar
as possíveis influências do grau de instrução no comportamento sexual de risco desses homens
jovens, uma vez que os mesmos são universitários e possivelmente dispõem de informações sobre
a forma de contágio da AIDS.

Os entrevistados fazem parte da faixa etária entre 21 e 25 anos, onde três dos 10 integrantes se
autodeclararam preto, e os demais num total de sete se autodeclararam pardos, todos de nível
superior. Dentre eles, cinco estavam namorando e os demais afirmaram estar solteiros, e apenas
um deles trabalha. Com isso, a coleta dos dados se deu através de entrevistas semi-estruturadas,
realizadas em horários e locais escolhidos pelos entrevistados. Os dados foram colhidos através
de uma conversa/entrevista semiestruturada com os entrevistados a respeito do assunto da
pesquisa, sendo abordados os seguintes temas: sexualidade, quantidade de parceiras (os), a
periodicidade das relações sexuais, as práticas sexuais, representação de proteção nas relações
sexuais, o que se considerava prevenção e medidas de prevenção (tempo de namoro e fidelidade)
e conhecimento sobre forma de prevenção ao contágio por HIV.

Nesse sentido, as entrevistas foram analisadas seguindo o método de interpretação de sentidos


(GOMES, 2012), a qual se baseou nos seguintes passos: (i) leitura exaustiva de modo a
compreender o assunto e apreender as particularidades dos dados coletados na pesquisa; (ii)
identificação e recorte das falas dos entrevistados acerca das seguintes questões: ser homem e

 
165
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

comportamentos de risco por parte dos homens jovens; (iii) identificação e problematização das
ideias explícitas e implícitas no texto; (iv) busca de sentidos mais amplos (socioculturais) que se
relacionam com as explicações dos sujeitos da pesquisa; (v) diálogo entre as ideias
problematizadas, informações provenientes de outros estudos sobre o assunto e o referencial
teórico do estudo; e (vi) elaboração de síntese interpretativa, procurando articular o objetivo do
estudo, base teórica adotada e dados empíricos.

O estudo foi submetido às normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres humanos, da
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) do Conselho Nacional de Saúde do
Ministério da Saúde. Foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
Faculdade de Ciência e Tecnologia do Maranhão-Facema, tendo sido aprovado sob o número de
CAAE: 59115616.4.0000.8007. Para garantir o caráter sigiloso das informações, os depoimentos
dos entrevistados foram codificados com nomes fictícios.

Identidade masculina sexual juvenil: armadilhas produzidas

A sociedade estabelece modelos tanto de masculinidade quanto de feminilidade, cabendo ao


homem ser um sujeito heterossexual, recatado emocionalmente, que não demonstra seus
sentimentos tidos como algo que pode fragilizá-los ou ser considerado como negativos à sua
masculinidade, como chorar, por exemplo, que domina, que é o provedor da família e cuidador.
Nesse sentido, Nascimento e Gomes (2008), em uma pesquisa desenvolvida no Rio de Janeiro
com homens jovens, identificou nas falas dos participantes da pesquisa resquícios das seguintes
marcas identitárias do ser masculino: provedor, dominador, heterossexual e cuidador.

Tal modelo é formado por marcas identitárias, as quais são construídas ao longo da história e
normatizadas pela sociedade que cria e impõe papeis tanto para os homens como para mulheres.
Diante disso, essas marcas identitárias masculinas influenciam diretamente no comportamento
dos homens jovens de forma que os expõe mais a diversos riscos, sendo que toda essa exposição,
de certa forma culmina em uma forma de reconhecimento e reafirmação de sua masculinidade
(NASCIMENTO; GOMES, 2008).

Essas marcas identitárias são moldadas ao longo do tempo e espaço, tendo início nas primeiras
relações sociais dos sujeitos no seio familiar. Dentro desse contexto, homens e mulheres são
submetidos a modelos estabelecidos pela sociedade, onde são reforçados durante o convívio com
seus pais que costumeiramente dizem que “homem que é homem não pode brincar com boneca”,
pois se assim for ele deixará de ser homem (NASCIMENTO; GOMES, 2008).

Sendo a masculinidade entendida como um espaço simbólico que serve para estruturar a
identidade de ser homem, modelando atitudes, comportamentos e emoções a serem adotados,
estabelecendo assim marcas identitárias e características as quais os homens, de um modo geral,
devem possuir para que possam ser reconhecidos como tal.

 
166
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Essas marcas são provenientes de construções socioculturais que se diferenciam de acordo com o
tempo e o espaço, levando os sujeitos a adotarem comportamentos legitimados pela sociedade a
qual pertencem.

Em seus depoimentos alguns entrevistados dão destaque para essas características, com ênfase nas
relações afetivos sexuais, são elas:

ser uma relação que tem bastante tempo já, entendeu? Bem longa!

com as namoradas não [...] com o tempo a frequência diminui... (Chico)

com o tempo sim, porque no decorrer que a pessoa vai conhecendo elas [parceiras] vai
estabelecendo um certa forma de confiança entre os dois (José)

Ainda nessa direção, em um estudo das autoras Leal, Knauth e Couto (2015), elas afirmam que
as formas que os homens têm de vivenciar e de demonstrar sua masculinidade, de um modo
geral, se apresentam como situações difíceis de serem suportadas, pois os homens para atingir
esse ideal precisam sofrer a dor, ser forte, ter um comportamento dominante e até agressivo, não
demonstrar medo, nem maior preocupação com sua própria segurança e saúde. Acerca do medo,
os autores Gomes, Rebello e Nascimento (2010) abordam que este pode se manifestar na
dificuldade dos homens em reconhecerem que podem ter de forma concomitante características
tidas como masculinas e femininas, sem com isso terem sua virilidade masculina questionadas.
Ou seja, os medos masculinos se voltam para o campo da sexualidade e o que podem pensar sobre
ela, será que a performance masculina pode ser traída por ele não possuir todas as características
tradicionais? Esse processo é comum a todos os homens e da mesma forma?

Nesse sentido, o modelo hegemônico de masculinidade pode se constituir em armadilhas para


os homens e em particular aos homens jovens, uma vez que estes são sujeitos em formação,
portanto considerados em situação de vulnerabilidade. Diante disso, esses sujeitos podem estar
expostos à diferentes problemas e condições relativas à sua saúde, pois as características
tradicionais da masculinidade influenciam no processo do cuidar de si, que se expressa no campo
da sexualidade, onde as relações desprotegidas são bem recorrentes entre esses jovens podendo
ser uma marca que revela a predominância da hegemonia masculina.

Se descuidar em relação ao contágio do HIV/AIDS ao ter um comportamento que ao ser


ancorado na heterossexualidade encare esta como um fator de proteção natural a contaminação
pelo HIV/AIDS. Dessa forma, é interessante registrar que a orientação sexual não protege e nem
expõe ninguém as IST ou ao HIV. Portanto, fica evidente que a sexualidade masculina quando
permeada por marcas indenitárias como as que foram citadas, oferecem sérios riscos a vida dos
homens e em especial aos homens jovens, pois essas marcas identitárias apresentam fatores que
impedem esses sujeitos de cuidar de sua saúde, onde acaba se constituindo como verdadeiras
armadilhas para eles mesmos.

O estudo desenvolvido por Villela (1997) mostrou que as relações de gênero associadas aos
comportamentos machistas da própria masculinidade, em que os homens se consideram
imunizados ao adoecimento, têm colocado a Aids em segundo plano no cuidado com a saúde.

 
167
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Existe uma crença de que os riscos da vida são superados por homens “fortes e viris”, e por isso
muitos deles deixam de utilizar preservativos nas relações sexuais, seja então pelo próprio medo
de não se perpetrar de forma viril, ou pelo medo de não conseguir permanecer de pênis ereto na
relação. Essa discussão também pode ser identificada em estudos realizados por Riscado,
Nascimento e Gomes (2014) em que sujeitos de sua pesquisa destacam que o tempo de
conhecimento numa relação afetivo sexual pode gerar um grau de confiabilidade no outro,
fazendo com que seja abolido o uso do preservativo nas relações sexuais, portanto essas práticas
consideradas machistas podem ser elementos vulnerabilizantes para os homens, tornando-os
expostos ao contágio de IST’s e HIV/AIDS.

Fontanella e Gomes (2015), também constataram que há continuidades persistentes ao longo de duas
gerações diferentes, de possíveis semelhanças hegemônicas dos habitus masculino, como por
exemplo: as dificuldades que os homens têm em terem seus corpos examinados e o contrário,
tendo convicções conscientes de que o corpo feminino é aquele natural à observação e a
manipulação. Desta forma, a cultura é onde se realiza e se produz as condições em que os homens
incorporam marcadores indenitários que acabam colocando-os em desvantagens quando
comparados às mulheres em relação ao cuidado de si, pois pesquisas afirmam que as mulheres
são mais cuidadosas quando se fala em saúde, são elas as que mais procuram os serviços de saúde
(GOMES, NASCIMENTO; ARAÚJO, 2007).

Em pesquisa realizada pelos autores Gomes, Granja, Honorato e Riscado (2014) que buscaram
referenciar a discussão de masculinidades no interior do campo da saúde, constataram que existe
uma associação direta em relação há uma ideia de que o corpo masculino quando sofre
influências de modelos tradicionais de masculinidade, podem expor-se mais a riscos de doenças
contribuindo para altos índices de mortalidade. Contudo, esse corpo passa a ser visto como
perigoso e em perigo e, em decorrência disso, passa a ser objeto da medicalização, através da
interpelação do Estado, temos como exemplo a massificação de estudos e ações na e para a
intervenção dos corpos masculinos em relação à epidemia de HIV nos anos de 1980.

Nessa perspectiva, cabe ressaltar que as concepções de masculinidade ao longo da história, foram
construídas em discordância ao que era natural e socialmente posto ao campo feminino, e com
isso, essas construções têm se oposto ao modelo de cuidado de si. Desde a infância e ao longo de
toda vida, os homens têm sua masculinidade moldada a qual passam a seguir imposições pré-
estabelecidas pela sociedade, tendo que corresponder a características que o tornam pertencente
ao ser homem, ou seja, a heterossexualidade, agressividade, dominação, provedor da família,
virilidade, ser forte e invencível.

Autores em seus estudos como Gomes, Nascimento e Araújo (2007) e Campos (2013), afirmam
a necessidade de desconstrução desse modelo de masculinidade hegemônica, uma vez que esta
tende a inviabilizar o processo de cuidado de si e dos outros também, com destaque para o que
permeia o imaginário social que é, se cuidar pode aproximar o homem de características
femininas. Esse processo se dá de tal forma que a procura pelos serviços de saúde se dará quando
uma doença grave já estiver estabelecida ou se ele estiver com tanta dor que o impeça de trabalhar,
lembrando que ser provedor é uma marca identitária masculina muito forte.

 
168
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Desta forma, as armadilhas que são produzidas no campo das masculinidades se constroem a
partir da compreensão de que os homens adultos serão modelos culturais a serem seguidos pelos
homens jovens, portanto na busca de aproximação desse ideal, os homens jovens aprenderão que
para se tornarem homens dentro do padrão hegemônico terão que se manter longe de qualquer
processo de cuidado.

Masculinidades e ausência do cuidado de si

As masculinidades incluem um conjunto de características que moldam o que é ser homem em


nossa cultura, assim ser homem implica em incorporar elementos que envolvem ser forte, viril,
dominador, invencível, promovedor e agressivo (NASCIMENTO; GOMES, 2008), nesse
processo os homens nem cuidam de si e nem pedem ajuda quando se veem com a saúde
debilitada. Nessa perspectiva, é importante ressaltar que determinadas marcas identitárias da
masculinidade podem gerar efeitos negativos à saúde dos homens jovens, a exemplo disso,
destaca-se a característica dominador, por se tratar de uma marca culturalmente enraizada se
apresenta através do estímulo da dominação e da subjugação de outros ao homem, sejam as
mulheres e homens considerados mais fracos ou submissos, isso acaba por expor esses homens a
riscos (NASCIMENTO; GOMES, 2008).

Nesse sentido, há uma outra marca identitária que também pode contribuir para o agravo da
saúde dos homens, é a característica de provedor, uma vez que ainda se faz presente na cultura
em nossa sociedade em que o homem tenha que proteger sua família em termos de segurança e
econômica podendo fazer com que esses sujeitos descuidem de sua saúde por conta do trabalho.
No entanto, é fundamentar destacar que as mulheres cada vez mais aparecem como chefes de
família, principalmente as mulheres vinculadas as camadas populares da sociedade e as que
compõe as famílias monoparentais. Tal discussão é problematizada nos estudos de Sorj, Fontes e
Machado apud Verja, Sarttle Strey (2015) que afirmam serem as famílias monoparentais o
segundo maior grupo familiar no Brasil, ou seja, as mulheres acabam representando na
contemporaneidade as principais provedoras de suas famílias e de seus lares.

Gomes, Nascimento e Araújo (2007) buscaram compreender porque os homens procuram menos
os serviços de saúde do que as mulheres e apontaram uma diversidade de situações culturais e da
ótica da organização dos serviços de saúde que minimamente respondem a esse questionamento.
A procura pelos serviços de saúde por parte dos homens ainda é barreira cultural, esta se ancora
ao modelo hegemônico de masculinidade, em que o homem é considerado invulnerável; o
cuidado em saúde é tido como algo do universo feminino, esse corpo sempre foi medicado e
manipulado é algo que historicamente ocorreu com as mulheres; a precarização dos serviços
públicos de saúde por um lado e a oferta de horário de atendimento por outro lado aumentam
as barreiras e resistências para o homem acessar os serviços, uma vez que se encontra no trabalho
e não há uma cultura que o estimule e nem que permita que ele busque a saúde preventiva
durante o seu horário de labor.

As falas dos entrevistados evidenciam exatamente essa não procura dos serviços de saúde por
parte dos homens jovens.

 
169
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

não, serviço de saúde não, as vezes a gente ler a respeito na internet, ver na televisão, mas
procurar serviços de saúde mesmo nunca procurei (Antônio).

nunca procurei não [Médico], mas sempre fica aquele dizer que você quer ir atrás pra saber
como é que se estar (Francisco).

não! Até porque o serviço de saúde da cidade é meio defasado e não tem um acompanhamento
total de tais coisas na cidade para que a gente possa procurar e realmente possa ter um
aconselhamento adequado sobre tal assunto (Marcio).

Não! Infelizmente não (Mário).

Outra explicação para essa pouca procura dos serviços de saúde por parte dos homens, se expressa
também pelo medo do homem em descobrir uma doença, como dizem Gomes, Nascimento e
Araújo (2007), “quem procura acha”. Dentro das explicações porque os homens procuram menos
os serviços de saúde do que as mulheres há ainda a vergonha que os homens sentem em expor
seus corpos a outro homem ou a uma mulher, pois para eles suas partes íntimas não são
destinadas a exposição a outrem, por isso há essa resistência. Esses fatores acabam também
influenciando para essa pouca procura dos homens a esses serviços, pois antes da necessidade de
cuidar de sua saúde eles devem se preocupar primeiramente com seu trabalho.

Assim, tanto a cultura machista brasileira que também traz sofrimento para os homens, os serviços
de saúde não estão organizados na oferta e na captação da clientela masculina, principalmente na
Atenção Primária. Perde-se em conseguir atraí-los ou mantê-los numa perspectiva preventiva.
Gomes et al (2011), em pesquisa sobre a ótica dos homens na busca por serviços de saúde em três
unidades de saúde no Rio de Janeiro-Brasil, identificou que os homens procuram os serviços de
forma exclusiva para tratamento de doenças já instaladas, em nenhuma situação verificou-se a
procura das unidades para uma abordagem preventiva.

Conseguir atraí-los ou mantê-los tanto na Atenção Primaria como também nos serviços de saúde
de um modo geral, na busca de uma prevenção tem sido um grande desafio para promoção da
saúde dos homens, isso porque esses serviços estão sendo ofertados de forma precária aos
usuários, havendo uma verdadeira necessidade de um atendimento mais humanizado, um
atendimento mais atencioso, respeitoso, um atendimento ancorado na comunicação, onde os
usuários possam relatar tudo que ele necessita, sendo portanto, um atendimento ágil, sem que se
precise passar horas na fila esperando para ser atendido. Tudo isso pode ser considerado como
formas de atrair e manter esses sujeitos nos serviços de saúde (GOMES et al., 2011).

Nessa lógica, o modelo de masculinidade hegemônica atua como fator de impedimento da


promoção do cuidado de si, se faz necessário considerar as particularidades desses sujeitos no que
diz respeito a sua saúde, pois essas particularidades têm influenciado diretamente seus
comportamentos de tal forma que os fazem acreditar que não precisam procurar os serviços de
saúde. Tendo seus comportamentos moldados por uma cultura que ao longo dos anos vem
fazendo com que acreditem que são privilegiados em todos os aspectos de sua vida, porém não é
o que acontece, já que estão vivendo de maneira perigosa, onde os índices de Infecções
Sexualmente Transmissíveis – IST estão cada vez maiores entre eles por terem comportamentos

 
170
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

de riscos que os colocam em uma verdadeira desvantagem em relação às mulheres no que se refere
não só à natalidade, mas também às taxas de mortalidade.

As características do ser homem que se encontram alicerçadas no modelo hegemônico de


masculinidade, quando voltadas para o campo da política de saúde com recorte a prevenção e a
disseminação do HIV/AIDS, tem figurado como um obstáculo no que diz respeito à promoção
da saúde dos homens, pois estes se encontram em uma situação de risco tanto em adquirir essa
doença como também em disseminá-la. Discussão apresentada por Greig (2008) destaca que a
masculinidade heteronormativa se relaciona a diversos percalços para que os homens possam
vivenciar a autonomia e a segurança de suas vidas sexuais. Tais percalços coloca a masculinidade
ligada a atitudes de risco, ou seja, pode influenciar no comportamento sexual dos homens de
modo a comprometer sua saúde. Essa ideia pode ser associada a pressão que os homens sofrem
ao longo de suas vidas para poderem afirmar sua masculinidade através do sexo.

Portanto, entende-se que esse modelo padrão coloca os homens em uma condição desfavorável
para sua saúde, isso se dá por conta do risco que esses sujeitos estão expostos, uma vez que a
forma com que estes homens têm se relacionado está ancorado em uma característica tida como
inerente ao ser homem ancorado na masculinidade hegemônica, que faz os homens acreditarem
que não devem recusar nenhuma relação sexual, o que acaba obstaculizando a discussão sobre a
saúde dos homens, pois estes quando influenciados por tal modelo deixam de se proteger por
conta da coragem em correr riscos. Desta forma, percebe-se que esses fatores citados têm
impossibilitado dos homens se reconhecerem como pessoas que podem tanto adquirir como
também disseminar o HIV/AIDS (MARQUES JÚNIOR; GOMES; NASCIMENTO, 2012).

Este modo com que os homens jovens vêm se comportando em tempos de AIDS está gerando
problemas para a sua vida como também para à saúde pública de um modo geral, pois seus
comportamentos de riscos estão influenciando na disseminação de Doenças Sexualmente
Transmissíveis - IST e no cuidado de sua saúde assim como de suas parceiras (os). Portanto, é
perceptível que a não efetivação do direito dos homens a saúde têm agravado por um lado há
uma grande resistência dos homens jovens em procurar os serviços de saúde e, por outro há uma
deficiência nos serviços, no que diz respeito à cultura do acolhimento desse sujeito nos serviços.

Considerações Finais

A sociedade brasileira ao longo de sua história tem se constituído por uma cultura machista e
heterossexista, a qual tem se revelada cruel para os homens, uma vez que esta os têm obrigado a
seguir o modelo de masculinidade, que tem se apresentado de forma a comprometer a saúde dos
homens. A busca por corresponder a esse padrão, ou seja, o processo de incorporação dessas
marcas identitárias os afasta da procura pelos serviços de saúde que por sua vez encontram-se
deficientes em relação ao acolhimento e ao cuidado desses usuários de modo a atraí-los e mantê-
los nos serviços de saúde numa perspectiva preventiva.

Desse modo, essa cultura cria modelos que divide papeis para o homem como também para as
mulheres e que desde o início de suas vidas vem sofrendo com tais imposições, onde a

 
171
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

masculinidade e a feminilidade são moldadas desde muito cedo, o que acaba sendo incorporadas
às marcas que darão identidades aos sujeitos, marcas estas que podem por um lado ser
consideradas privilégios e por outro pode levar ao adoecimento e ao sofrimento por se
desenvolver em situações limites relacionadas à comportamentos de risco.

E nesse contexto, a reverberação desses modelos e padrões normatizadores tem colocado a saúde
do homem jovem em apenas uma única via de compreensão do ser masculino: provedor,
dominador e heterossexual. No entanto, os esforços precisam se direcionar para o
reconhecimento dos jovens masculinos em suas diferentes idiossincrasias no campo da saúde.

Dentre as estratégias comportamentais e ambientais de inclusão desses sujeitos enquanto usuários


de direitos pode-se destacar a qualidade dos atendimentos prestados na assistência por equipes
de saúde, bem como a sua qualificação para tal; a problematização midiática com fins de
desmistificar essa cultura heterossexista; a implementação de projetos e atividades de educação
popular em saúde que incluam o protagonismo masculino juvenil; e o incentivo ao
fortalecimento dos vínculos entre saúde-escola-família.

Com isso, o reconhecimento da subjetividade implicada ao cuidado à saúde do homem jovem


perpassa um atravessamento plural, político e ético, comprometido com integralidade e
especialmente a equidade em saúde, e isso só é possível após uma escuta qualificada do que é ser
jovem e suas principais vicissitudes. Só assim será possível propor mudanças de práticas e
(re)conhecimentos na atenção à saúde do homem para além do olhar biomédico, proposto por
meio de uma discussão inscrita nas ciências sociais em conexão com as políticas de saúde.

Referência

CAMPOS, Maria de Lourdes Pedrosa. Algumas Reflexões sobre a saúde do homem: a resistência aos
cuidados de saúde primaria associada à ausência de atenção integral. São Luis – MA, 2013.

FONTANELLA, Bruno José Barcellos; GOMES, Romeu. Cuidados à saúde sexual de duas gerações de
homens: permanências e volatividades de roteiros e habitus. Ciências & Saúde Coletiva, 20(1): 259-272.
2015.

GOMES, Romeu; GRANJA, Edna Mirtes dos Santos; HONORATO, Eduardo Jorge Sant’ Ana;
RISCADO, Jorge Luís de Souza. Corpos masculinos no campo da saúde: ancoragens na literatura.
Ciências & Saúde Coletiva, 19(1): 165-177. 2014.

GOMES, Romeu; REBELLO, Lúcia Emília Figueiredo de Sousa; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do;
DESLANDES, Suely Ferreira; MOREIRA, Martha Cristina Nunes. A atenção básica à saúde do homem
sob a ótica do usuário: um estudo qualitativo em três serviços do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde
Coletiva, 16(11):4513-4521, 2011.

GOMES, Romeu; REBELLO, Lúcia Emília Figueiredo de Sousa; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do.
Medos sexuais masculinos e política de saúde do homem: lacunas e desafios. In: HOMENS E
MASCULINIDADES: práticas de intimidade e políticas públicas. Instituto PAPAI; Promundo;
Gema/UFPE e Margens/UFSC. Recife, 2010.

 
172
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

GOMES, Romeu, NASCIMENTO, Elaine Ferreira do, ARAÚJO, Fábio Carvalho de. Por que os homens
buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa
escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública[online]. 2007, vol.23, n.3, pp.565-574.

GOMES Romeu, NASCIMENTO, Elaine Ferreira do. A produção do conhecimento da saúde pública
sobre a relação homem-saúde: uma revisão bibliográfica. Cad. Saúde. Publica. 2006; 22(5):901-911.

GREIG, Alan. Sexo e os direitos do homem. In: Cornowell A, Jolly S, organizadores. Questões de
sexualidade: ensaios transculturais. Rio de Janeiro: Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA);
2008. p. 167-174.

JUNIOR, Joilson Santana Marques; GOMES, Romeu; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do.
Masculinidade hegemônica, vulnerabilidade e prevenção ao HIV/AIDS. Ciência & Saúde
Coletiva, 17(2):511-520, 2012

LEAL, Andréa Fachel; KNAUTH, Daniela Riva; COUTO, Márcia Thereza. A invisibilidade da
heterossexualidade na prevenção do HIVQAIDS entre homens. Revista Brasileira. SET: 18 SUPPAL 1:
143-155. 2015.

NASCIMENTO, Elaine Ferreira; GOMES, Romeu. Marcas identitárias masculinas e a saúde de homens
jovens. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro. 24(7): 1556-1564. Jul. 2008.

RISCADO, Jorge Luis de Souza; NASCIMENTO, Elaine Ferreira do; GOMES, Romeu. A configuração
da epidemia da AIDS na juventude masculina. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 19 -
Nº 193 - Junio de 2014.

SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Revista Educação & Realidade.
Porto. Alegre, n. 20, v.2, p. 71-100, jul./dez. 1995.

VERZA, Fabiana; SATTLER, Marli Kath; STREY, Marlene Neves. Mãe, Mulher e Chefe de
Família: Perspectivas de Gênero na Terapia Familiar. Pensando Famílias, 19(1), jun. 2015, (46-
60).

VILLELA, W. Homens que fazem sexo com mulheres: prevenindo a transmissão sexual do
HIV, propostas e pistas para o trabalho. São Paulo: NEPAIDS, 1997. 52 p.

Agradecimentos

Ao Programa de Bolsas de Iniciação Científica da Faculdade de Ciência e Tecnologia do


Maranhão-Facema que proporcionou o desenvolvimento da pesquisa intitulada Sexualidade
Masculina Juvenil no Contexto da Prevenção de HIV/AIDS, que gerou este artigo

 
173
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

TRANSMASCULINIDADES, SAÚDE E ESPERA - O TEMPO DOS


SUJEITOS, OS TEMPOS INSTITUCIONAIS E O ACESSO À
SAÚDE PARA HOMENS TRANS
Camilo Braz
Professor Adjunto IV, Faculdade de Ciências Sociais, Universidade Federal de Goiás (UFG). Bolsista
Produtividade Nível 2 (CNPq).
E-mail: camilobraz@gmail.com.

Introdução

As categorias tempo e espera me parecem fundamentais para interpretar antropologicamente


narrativas sobre a experiência da transexualidade, no Brasil contemporâneo. A construção de um
olhar antropológico sobre o tema implica, assim, levar em consideração que há uma tensão entre
o tempo dos sujeitos e o tempo protocolar, entre o tempo de cada um (SAMPAIO e COELHO, 2013:
p. 17) e o tempo institucional, importante para se interpretar tanto as narrativas com relação à
transição de gênero e às expectativas relacionadas às transformações no e do corpo, quanto
aquelas relativas à espera pelo acesso ao atendimento em saúde transespecífico.

As tensões entre o tempos insticionais, ou oficiais, e os tempos subjetivos vêm sendo estudadas pela
Antropologia já há algum tempo, em âmbitos muito variados. Tomo de empréstimo, aqui, a
perspectiva de Izabela Tamaso (2007), para quem há um conflito constitutivo das políticas de
patrimonialização, exemplificado pelo hiato entre o tempo monumental e o tempo social – no
limite, entre os discursos oficiais e o plano do vivido. Tal perspectiva, centrada nas maneiras como
as pessoas elaboram subjetivamente e cotidianamente narrativas temporais oficiais, é corroborada
por Manuel Ferreira Lima Filho (2007), ao indagar criticamente acerca dos riscos dos processos
de tombamento, que muitas vezes instituem memórias musealizadas, que invizibilizam outras
formas temporais e sociais.

Este artigo se debruça sobre tais questões. Ele é um resultado preliminar de uma pesquisa em
andamento, intitulada “Antropologia, transformações corporais e masculinidades:
transmasculinidades no Brasil contemporâneo”, que passei a coordenar em 2014, vinculada ao
Ser-Tão, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gênero e Sexualidade, e aos Programas de Pós-
Graduação em Antropologia Social (PPGAS) e em Sociologia (PPGS) da Universidade Federal

 
174
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

de Goiás (UFG) e que, a partir de 2016, passou a contar com apoio do CNPq39. É resultado,
também, de atividades realizadas no âmbito do projeto de extensão Trans UFG, uma parceria
entre o Ser-Tão e o Coletivo TransAção (formado, sobretudo, por estudantes transexuais,
familiares e apoiadores/as das causas relacionadas à transexualidade), que constitui um programa
de extensão sobre transexualidades e travestilidades em variados espaços da universidade e fora
dela.

Marcos conceituais e temporais

A fim de interpretar antropologicamente a transexualidade, tenho me inspirado por perspectivas


como as de Guilherme Almeida (2012) e de Berenice Bento (2006), para quem devemos pensá-
la, sobretudo, como uma experiência identitária em torno das normas de gênero presentes em
nossa sociedade. Além disso, há que reconhecer sua pluralidade, não sendo possível reduzi-la a
uma concepção centrada, apenas, em discursos biomédicos, como ensinam, por exemplo, Márcia
Áran (2010) e Flávia Teixeira (2012). A produção sobre a temática na área de ciências sociais tem,
assim, problematizado a associação direta entre a chamada “condição transexual” e a “condição
de cirurgiado/a”, mostrando como nem sempre sujeitos que se afirmam enquanto transexuais
elaboram suas narrativas centrados/as na perspectiva do “transexual verdadeiro” preconizado
pelos saberes biomédicos e universalistas.

No que diz respeito ao uso da categoria homem trans no presente trabalho, deve-se a duas razões.
Primeiro, a uma sugestão de Guilherme Almeida, que afirma que para evitar o uso de múltiplas
expressões ou categorias êmicas possíveis (por exemplo, homem transexual, transhomem,
transman, FTM (do inglês, female to male) ou transexual masculino), é possível utilizar a expressão
“homem trans” analiticamente, “no esforço de condensar a experiência da 'transexualidade
masculina'” (ALMEIDA, 2012: 513). Ainda que provisoriamente, tenho utilizado essa expressão
na pesquisa, como referência a sujeitos que, seguindo o autor (2012: 516),

fazem e/ou desejam modificações corporais através da hormonização por testosterona e de


uma ou mais intervenções cirúrgicas, além de se valerem em larga medida de outros recursos
sociais (roupas e calçados masculinos, faixas torácicas - a fim de dissimular o volume dos seios
- e próteses penianas de uso público). Buscam também frequentemente o reconhecimento
jurídico do sexo e do nome masculinos e têm se tornado mais visíveis na cena pública
brasileira, em função do Processo Transexualizador no Sistema Único de Saúde (SUS), que
favorece o acesso a modificações corporais de alta complexidade. Tais indivíduos já se
expressavam de forma diferenciada antes da existência do Processo Transexualizador,
distinguindo-se de maneira mais ou menos sutil da identidade lésbica.

Em segundo lugar, o uso da expressão homens trans na pesquisa deve-se ao fato de que essa é a
categoria que que vem sendo utilizada para a nomeação de tais sujeitos políticos no ativismo em
torno das transmasculinidades no Brasil. Tanto que, em 2015, foi realizado o Iº Encontro

39
 Por meio da obtenção de Bolsa de Produtividade em Pesquisa, Nível 2. 

 
175
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Nacional de Homens Trans em São Paulo, na USP, promovido pelo Instituto Brasileiro de
Transmasculinidades (IBRAT) (BRAZ e SOUZA, 2016; CARVALHO, 2016).

A institucionalização do atendimento médico transespecífico no Brasil tem sua própria


temporalidade. Logo após a autorização do CFM para a realização de cirurgias de redesignação
sexual, em 1997, pessoas transexuais passaram a procurar hospitais universitários em busca de
atendimento. Isso ocorreu no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Goiás
(UFG). Após um período de formação da equipe multidisciplinar que tornaria possível sua
existência, em maio de 1999 foi criado, no HC, o então denominado “Projeto Transexualismo”,
conhecido como “Projeto TX” e que, em 2016, teve seu nome alterado para “Projeto
Transexualidade”. Ele foi criado e permanece até hoje sob coordenação da prof.ª. Drª. Mariluza
Terra, sendo conhecido nacionalmente, já tendo realizado mais de 70 cirurgias de redesignação
sexual tanto em homens quanto em mulheres transexuais.

Foi somente em 2008 que o Ministério da Saúde instituiu o Processo Transexualizador no âmbito
do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da publicação da Portaria nº 1.707. Como recorda
Simone Ávila (2014), naquele momento foram incluídos os procedimentos da chamada
“redesignação sexual” apenas para as mulheres transexuais. Já os homens transexuais foram
incluídos no Processo Transexualizador mais recentemente, em 2013, quando o Ministério da
Saúde, por meio da portaria 2.813, redefiniu e ampliou suas diretrizes. Mudanças introduzidas
pela nova portaria levaram à necessidade de recadastramento dos centros onde o Processo
Transexualizador já vinha sendo realizado (Goiânia, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre).

Em Goiânia, o Projeto Transexualidade enfrenta atualmente enormes obstáculos para sua


continuidade, especialmente no que tange ao recebimento de novos/as pacientes. Sobretudo,
pela dificuldade em manter uma equipe exclusivamente voltada para ele.40 Após quase 3 anos
fechado para novos atendimentos, o projeto foi reaberto no início de 2016. O processo de
reabertura envolveu a mobilização de grupos ativistas locais, que juntamente com a coordenadora
do projeto têm buscado alternativas para que ele permaneça em funcionamento.

Tais elementos, aliados ao convívio, às conversas informais e entrevistas com homens trans, à
participação em eventos acadêmicos e encontros ativistas, bem como às leituras, discussões e
atividades realizadas no âmbito do projeto de extensão Trans UFG, levaram a um refinamento
dos objetivos da minha pesquisa, que passaram a focar, além dos significados em torno do corpo
e da transmasculinidade (que eram meus objetivos iniciais), também e cada vez mais os desafios
em termos de políticas públicas para homens trans a partir de suas próprias narrativas e
experiências, com foco especial em questões relacionadas ao campo da saúde. Foram realizadas,
até aqui, além das observações e conversas informais, 14 entrevistas semiestruturadas – duas com
profissionais de saúde que atuam no Projeto Transexualidade e 12 com homens trans que
aceitaram colaborar com a pesquisa.

40
  Para  mais  informações,  ver  https://www.ufg.br/n/82681‐oferta‐de‐disciplina‐de‐sexualidade‐humana‐nos‐cursos‐de‐saude‐em‐debate. 
Acesso em 19 jan. 2017. 

 
176
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Itinerários terapêuticos entre homens trans

Fátima Lima afirma que a transexualidade pode ser considerada como um dos fenômenos mais
expressivos na biopolítica contemporânea (LIMA, 2014: p. 10). Seguindo a autora,

isso implica considerar a tensão entre assujeitamentos (incitação, controle) e resistências


(práticas de si, formas éticas, estéticas e políticas de estar em mundos) e a indagar acerca
de como pensar resistências no âmbito do próprio dispositivo da transexualidade (BRAZ
e SOUZA, 2016: 12).

De acordo com Márcia Arán e Daniela Murta, não há como dissociar a discussão a respeito da
transexualidade do desenvolvimento de tecnologias médicas, num cenário sócio-cultural de
problematização do caráter imutável do sexo. Assim, para elas é num “contexto de revolução
tecnológica da biomedicina e de uma maior liberdade sexual que se dá o reconhecimento da
possibilidade de mudança de sexo” (ARÁN e MURTA, 2009: p. 25). Assim, é possível afirmar
que

boa parte da bibliografia a respeito das transexualidades no âmbito das ciências sociais
ressalta, de alguma forma, a importância dos discursos biomédicos para a construção de
repertórios simbólicos em torno de tais experiências (BRAZ e SOUZA, 2016: 12).

Tais discursos envolvem, dentre outros elementos, temporalidades específicas no que tange à
transição de gênero – narrativas que instituem, ao nomear, protocolos que implicam em uma
gestão controlada dos corpos e do tempo.

A fim de elaborar uma perspectiva antropológica sobre as narrativas em torno das


transmasculinidades, incluindo a questão do tempo e da espera, tenho buscado um diálogo com
o campo da chamada Antropologia da Saúde (CARRARA, 1994; MINAYO, 1998; CANESQUI,
2003; SARTI, 2010). Tal aproximação tem se mostrado interessante para interpretar as narrativas
de homens trans no que tange à busca por atendimento e acompanhamento médico
transespecífico, evidenciando as relações e possíveis tensões “entre os saberes biopolíticos
dominantes e uma multiplicidade de saberes locais e minoritários” (ARÁN e MURTA, 2009: p.
16).

Nesse sentido, arrisco que uma opção analítica interessante possa ser a noção de itinerários
terapêuticos. Em que pese sua larga utilização no campo da saúde coletiva, ela vem sendo trazida
pela literatura antropológica sobre saúde a fim de interpretar os processos de escolha, avaliação
ou adesão a determinadas formas de tratamento de saúde por parte dos sujeitos no plano do
cotidiano e do vivido (ALVES e SOUZA, 1999).

Logo no início da pesquisa, tive a oportunidade de conhecer e conversar com Rodolfo41 um


sujeito de 46 anos, morador de uma capital do Nordeste, que havia conseguido, após muitas

41
 Todos os nomes aqui utilizados são fictícios, a fim de preservar o anonimato dos sujeitos entrevistados. 

 
177
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

batalhas, uma autorização judicial para vir a Goiânia a fim de passar pela metoidioplastia, que é
a técnica cirúrgica de transgenitalização em homens transexuais realizada no Projeto
Transexualidade, do HC da UFG.

Meu ativismo foi a minha própria história, porque eu lutei muito para poder conseguir essas
cirurgias assim, inteiras. (...) Se dissesse assim que tive médicos que me disseram: “Não, a
cirurgia, a gente faz”. Isso aí... Eu tive que ficar batendo várias vezes de cada porta pra poder
conseguir a cirurgia. Então esse é o meu ativismo. Consegui cavar as... Meu caminho e as
minhas clareiras, que eram as cirurgias, sabe? [RODOLFO, 46 anos].

Em seu relato, a espera é um tema constante. Assim como a persistência. Em mais de 2 horas de
conversa, ele narrou o longo processo, de mais de 12 anos, que o trouxe até Goiânia, tendo
incluído a passagem por diversos serviços de saúde, em várias partes do Brasil.

No Brasil, os setores de Estado em saúde são o único lugar legalizado e normatizado para assistir
medicamente o “diagnóstico” e o “tratamento” da “disforia de gênero”. Contudo, há um
descontrole por parte do Ministério da Saúde e do Conselho Federal de Medicina em regular o
atendimento a pessoas transexuais por parte de médicos e psicólogos no setor privado. Algo que
acontece em franco crescimento e movimenta recursos financeiros vultuosos para aqueles que
podem pagar. O que é uma alternativa para a demora das filas para consultas e procedimentos
efetivos no setor público. Este cenário do parco atendimento aliado a rigidez do diagnóstico faz
com que um grande contingente de mulheres e homens transexuais tentem acumular um saber
médico e técnico que os dê possibilidade de usar testosterona ou estrogênio sozinhos (REGO e
PORTO, 2016: 7).

Essas questões aparecem nitidamente nos relatos de outros dois sujeitos da pesquisa, ambos
jovens universitários e moradores de Goiânia, a respeito dos seus itinerários em torno da
hormonização.

Na realidade, sempre foi escondido. Minha mãe sabe que eu uso, mas não que alguém tenha
me receitado e tal. Eu não estou no projeto. Não sou nem assistido pelo projeto. Tentei
entrar tem mais de um ano. Acho que tem 1 ano e 6 meses mais ou menos que eu pedi o
encaminhamento prá lá (...) Mas eu pesquisei, né? Eu saí pesquisando, quais eram os
hormônios e tal...fui perguntando prá amigo, Facebook...aí eu achei um...na academia eu
conheci um carinha que vendia anabolizante.

[Mas você não tem nenhum tipo de acompanhamento, então...]

Não, eu fazia...eu me acompanhava, sabe? Eu ia lá e eu pegava uma lista de exames e falava


pro médico “olha, eu quero esses exames e tal”, aí ele fazia o check-in, eu ia lá, pegava os
exames e fazia...às vezes nem mostrava prá ele não.

[Você continua tendo que comprar dessa forma? Vamos dizer...]

Clandestina (...) As 8 primeiras ampolas que eu usei eram originais. As outras, é...vinham do
Paraguai (...) Então essa, a gente não tem garantia de procedência, não tem garantia de
funcionalidade (...) É contrabando. É contrabando. Aí eu comecei a usar dela e eu não tava
vendo resultado [André, 21 anos]

 
178
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Eu comecei a usar hormônio há 1 mês. Tem um mercado negro aí, né? (risos) Mas...eu tenho
um amigo, que ele faz ciclo. De academia. E aí ele já tinha um contato, e aí eu falei prá ele
que eu queria e tal...e aí eu comprei, eu passei o dinheiro prá ele, aí ele comprou e eu peguei
com ele...e foi assim. Porque na farmácia não vende, sem receita. Acompanhamento médico,
eu cheguei...porque eu tenho plano de saúde, aí eu fui em alguns...mas por exemplo o
psiquiatra que eu fui falou que não poderia me atender, porque não...ele só poderia receitar
remédio, ele perguntou se eu tinha depressão e tal e ele falou que não poderia fazer clínica
comigo, que era o que eu queria prá conseguir o laudo, né? Prás cirurgias. Aí, ele falou que
não fazia esse tipo de coisa. Endocrinologista, falou que não poderia me atender, porque não
conhecia do assunto...Aí eu falei “ah, vou fazer por conta”. Aí foi. Por conta. (...) Não se
consegue atender os trans porque não tem médico. Nenhum médico quer atender (...)
Porque é muito perigoso se tomar por conta. Mas eu desisti de médico particular. E é muito
complicado [LAURO, 19 anos].

Tem sido bastante recorrente ouvir relatos de homens trans acerca da enorme dificuldade de
encontrar atendimento e acolhimento médico. Além do mais, voltando ao tema da
temporalidade, figura nos relatos a contraposição entre um sentimento de urgência para dar
início à “transição” de gênero, versus a demora em se conseguir atendimento médico, que fica
evidenciada nas narrativas acerca dos itinerários envolvidos no processo de hormonização.

Eu vejo necessidade de acompanhamento, porque eu tô com problema de saúde e eu não


tenho nem coragem de saber o que é (…) e... eu não pretendo parar de tomar o hormônio...
Eu prefiro morrer desse jeito [PEDRO, 20 anos].

Essa frase é de um jovem homem trans, estudante universitário e morador da cidade de Goiânia.
À época da entrevista, ele completava cerca de seis meses de tratamento hormonal, mas sem
nenhum tipo de acompanhamento médico. Os hormônios masculinos vinham sendo comprados
“com caras de farmácia, caras de academia, caras que vendem remédio pra bicho...” e por aí vai.
Durante a entrevista, ele se dizia preocupado com uma dor difusa que vinha sentindo na região
abdominal, não sabendo informar se teria ou não relação com a ingestão de hormônios sem
acompanhamento.

O trecho abaixo fala da visita a um psiquiatra no ambulatório municipal de Goiânia, quando se


buscava um laudo que embasasse o pedido de retificação de registro civil:

Aí, ele falou “não, mas você gostava de jogar bola e que não sei o que?”...eu quase falei prá
ele “não, mas...o que que isso tem a ver? Se eu brincasse de boneca, eu poderia me sentir
homem da mesma forma”...eu quase falei, mas...como é que...o cara não sabe nem o que é
transexualidade, eu vou explicar para ele o que que é gênero?!

[Isso foi no SUS?]

No SUS. Aí depois ele me transferiu prá um outro psiquiatra, porque ele falou prá mim que
ele não podia dar laudo. Porque eu falei prá ele que eu queria um laudo. Aí, ele me transferiu
prá um outro, super bacana, me atendeu super bem. Aí, ele...assim, inexperiente, né? Eu tive
que explicar prá ele também, mas ele foi super atencioso, e aí ele faz acompanhamento
comigo, até hoje.

 
179
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

[E aí você conseguiu o laudo?

Consegui, com ele.

[E o pedido na Justiça, você já fez?]

Eu só não fiz ainda por falta de dinheiro, porque tem algumas certidões que eu tenho que
pagar no cartório. Certidão de protesto, uns negócios lá. Eu já vou conseguir de graça o
processo, que vou fazer pela Defensoria Pública. É só essas certidões que vou ter de pagar.

[E quanto que se gasta?]

Ela falou prá mim que eu iria gastar no máximo 300 reais [ANDRÉ, 21 anos].

Considerações finais

De acordo com Judith Butler (2009), há um paradoxo quando se pensa na questão da autonomia
de transexuais nos Estados Unidos, que podemos talvez ampliar para pensamos as
transexualidades no chamado mundo ocidental: a “liberdade” para intervir no próprio corpo
aparece quase sempre atrelada a um diagnóstico, a um processo de subjetivação que passa pela
ideia de doença, de patologia, de desvio. Nesse sentido, é importante frisar que há ao menos uma
característica que singulariza a transexualidade no rol das muitas formas possíveis de intervenções
no corpo, no Brasil contemporâneo: trata-se da associação entre “patologia” e “terapêutica” para
se ter acesso gratuito às modificações corporais desejadas (ALMEIDA; MURTA 2013).
Atualmente, parte dos debates em torno das transexualidades dizem respeito também às lutas em
torno de sua despatologização (JESÚS, 2012). Em dezembro de 2012, a Associação Psiquiátrica
Americana (APA), por exemplo, deixou de classificar a transexualidade como “transtorno de
identidade de gênero”, substituindo o termo por “disforia de gênero”. Para muitos/as, trata-se de
uma solução intermediária em um movimento que tem talvez como maior expressão a campanha
stop trans pathologization. E no Brasil não há consenso entre ativistas trans a respeito da
despatologização, em virtude do receio de se perder o acesso aos procedimentos que compõem o
Processo Transexualizador no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). Uma das possibilidades
seria a ampliação da noção de saúde para além do binarismo saúde/doença, rumo a uma
perspectiva de integralidade em saúde – que, contudo, constitui ainda um grande desafio no
âmbito do SUS, sobretudo no que tange à população trans. De acordo com Guilherme Almeida
e Daniela Murta (2013), a busca pela despatologização da transexualidade é importante e deve
continuar, mas o paradoxo é que ela não pode implicar em perdas.

Uma das principais demandas que tem sido colocada pelo movimento transexual brasileiro é a
aprovação do Projeto Lei de Identidade de Gênero, conhecido como Lei João Nery como
referência ao escritor do livro Viagem Solitária – primeira biografia de um homem transexual
publicada no Brasil. A proposta é a de permitir às pessoas trans a alteração do sexo, do prenome
e da imagem em seus registros civis, a despeito de desejarem ou não passar por intervenções

 
180
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

cirúrgicas ou por tratamento hormonal. Tal projeto foi inspirado naquele que foi recentemente
aprovado na Argentina.

Tendo por base uma pesquisa ampla, coordenada pelo prof. Mario Pecheny, a respeito da questão
da espera e da vulnerabilidade em serviços de saúde (PECHENY, 2013), pesquisadores/as da
Universidade de Buenos Aires (UBA) vêm realizando uma investigação acerca do acesso à saúde
para pessoas transexuais na Argentina, a partir do Sistema Público de Saúde da cidade autônoma
de Buenos Aires (ORTEGA et al, 2015).

A Lei de Identidade de Gênero foi aprovada na Argentina em 2012, sendo fruto de processos de
luta e de organização do ativismo transexual que, no país, data do período da reinstauração
democrática, no início dos anos 1980, e ganha força a partir da década seguinte (BERKINS,
2003). A regulamentação da lei por parte do Ministério da Saúde ocorreu três anos depois, em
2015. Um aspecto bastante ressaltado desta lei diz respeito ao modo como deixa de lado a
patologização da transexualidade como um pré-requisito para o reconhecimento do acesso de
pessoas transexuais tanto à mudança de registro civil, quanto aos serviços gratuitos de saúde
transespecífica – que incluem as terapias hormonais e cirurgias de redesignação sexual (FARJI
NEER, 2014).

Como afirmam os/as autores/as, “esto supondría, además de la despatologización, una


agilización de los trámites y una reducción de los tiempos de espera para acceder a los
tratamientos y cirugías” (ORTEGA et al, 2015: 3). Considerando, contudo, os complexos
trâmites entre a implementação da lei e a transformação da realidade social, tais pesquisadores/as
elegeram como objeto de investigação as condições de acesso aos serviços de saúde, especialmente
no que diz respeito à hormonização, a partir das experiências e narrativas de pessoas trans na
cidade de Buenos Aires.

A partir de tais discussões, bem como dos elementos de campo aqui trazidos, meu argumento é
que tempo e espera são categorias antropológicas fundamentais para interpretar as narrativas de
homens trans com quem tenho convivido. A tensão entre os tempos oficiais/institicionais e o
tempo vivido/subjetivo é, assim, uma chave interpretativa central para analisar as
transmasculinidades. Tal contraposição aparece,por exemplo, nas falas sobre as expectativas com
relação à exigência de 2 anos de atendimento psicológico para a possível obtenção de um laudo
que garantirá o acesso a cirurgias dentro do Processo Transexualizador no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS); na espera pelo julgamento de pedidos de retificação de registro civil; na
expectativa quanto aos efeitos da hormonioterapia no que tange às transformações corporais; na
espera e na fila para se conseguir entrar no Processo Transexualizador, quando os poucos serviços
públicos de atendimento à saúde transespecífica existentes no Brasil encontram-se sob ameaça
constante de fecharem as portas. Uma questão que parece até mesmo borrar fronteiras de classe
social: se, à primeira vista, possuir recursos para atendimento particular ou acesso a um plano de
saúde privado poderia indicar que a dificuldade para obter acompanhamento médico estaria
sanada, isso não ocorre quando se lida com um universo de profissionais de saúde que, com raras
exceções (como é o caso daqueles/as poucos/as que atuam, a despeito de todas as dificuldades,
no Processo Transexualizador), parecem estar, seguindo as narrativas de meus interlocutores,
bastante despreparados/as para lidar com temáticas relacionadas a gênero e sexualidade e,
portanto, para o atendimento adequado à população transexual.

 
181
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Referências bibliográficas

ALMEIDA, Guilherme S. 2012. ‘Homens trans’: novos matizes na aquarela das masculinidades?
Estudos Feministas, Florianópolis, 20(2), p. 513-523.

ALMEIDA, Guilherme; MURTA, Daniela. 2013. Reflexões sobre a possibilidade de


despatologização da transexualidade e a necessidade da assistência integral à saúde de transexuais
no Brasil. In: Sexualidad, Salud & Sociedad, n. 14, volume 2. Rio de Janeiro: UERJ.

ALVES, Paulo C. e SOUZA, Iara M. 1999. Escolha e avaliação de tratamento para problemas de
saúde: considerações sobre o itinerário terapêutico. In: RABELO, MCM., ALVES, PCB., and
SOUZA, IMA. Experiência de doença e narrativa [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ.

ARÁN, Márcia. 2010. A saúde como prática de si: do diagnóstico de transtorno de identidade de
gênero às redescrições da experiência da transexualidade. In: ARILHA, Margareth Et. al. (orgs.)
Transexualidade, travestilidade e direito à saúde. São Paulo: Oficina Editorial.

ARÁN, Márcia; MURTA, Daniela. 2009. Do diagnóstico de transtorno de identidade de gênero


às redescrições da experiência da transexualidade: uma reflexão sobre gênero, tecnologia e saúde.
In: Physis – Revista de Saúde Coletiva 19 (1). Rio de Janeiro.

AVILA, Simone. 2014. FTM, transhomem, homem trans, trans, homem: A emergência de
transmasculinidades no Brasil contemporâneo. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação
Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.

BENTO, Berenice. 2006. A reinvenção corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual.


Rio de Janeiro: Garamond.

BERKINS, L. 2003. Un itinerario político del travestismo. In: Maffía, D., Sexualidades migrantes.
Género y transgénero. Buenos Aires: Scarlett Press.

BRAZ, Camilo; SOUZA, Érica. 2016. A emergência de homens trans como sujeitos de direito
no Brasil contemporâneo – demandas, avanços e retrocessos. Encontro Anual da ANPOCS.
Caxambu: ANPOCS.

CANESQUI, Ana Maria. 2003. Os estudos de antropologia da saúde/doença no Brasil na década


de 1990. Ciência e Saúde Coletiva, 8 (1):109-124, pp.109-124.

CARVALHO, Mario. 2016. “Travesti”, “mulher transexual”, “homem trans” e “não binário”:
interseccionalidades de classe e geração na produção de identidades políticas. Encontro Anual da
ANPOCS. Caxambu: ANPOCS.

CARRARA, Sérgio. 1994. “Entre cientistas e Bruxos: Ensaio sobre os dilemas e perspectivas da
análise antropológica da doença”. In: ALVES, Paulo Cesar; MINAYO, Maria Cecília de Souza
(Ogs.). Saúde e doença: Um olhar Antropológico. Rio de janeiro: FIOCRUZ, pp.33-45.

BUTLER, Judith. 2009. Desdiagnosticando o gênero. Physis, 19 (1), p. 95-126.

 
182
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

FARJI NEER, Anahí. 2014. Las tecnologías del cuerpo en el debate público. Análisis del debate
parlamentario de la ley de Identidad de Género argentina. Sexualidad, salud y sociedad, 16, 50-
72. Rio de Janeiro.

JESÚS, Bento Manoel de. 2012. Campanha pela despatologização da transexualidade no brasil:
seus discursos e suas dinâmicas. Dissertação de Mestrado em Sociologia. Faculdade de Ciências
Sociais, Programa de Pós-Graduação em Sociologia. UFG: Goiânia.

LIMA, Fátima. 2014. Corpos, Gêneros, Sexualidades: políticas de subjetivação (2 ed.). Porto
Alegre: Reunida.

LIMA FILHO, Manuel Ferreira. 2007. Entre Formas e Tempos: Goiânia na Perspectiva do
Patrimônio. In: Lima Filho; Beltrão; Eckert (Org.). Antropologia e Patrimônio Cultural: diálogo
e desafios contemporâneos. Florianópolis: Nova Letra Editora, p. 221-236.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. 1998. Construção da Identidade da antropologia na área da


saúde: o caso brasileiro. In: ALVES, Paulo Cesar; RABELO, Miriam Cristina (Orgs.)
Antropologia da Saúde: Traçando Identidade e explorando Fronteiras. Rio de Janeiro: Relume
Dumará. pp.29-46.

ORGETA, Julián; TISEYRA, María V.; GÁLVEZ, Marine; MORCILLO, Santiago. 2015. Salud
en espera: la accesibilidad en tratamientos de hormonización y cirugías para personas trans en el
sistema público de salud de la Ciudad Autónoma de Buenos Aires. XI Reunión de Antropología
del Mercosur. Montevideo: RAM.

PECHENY, Mario. 2013. Desigualdades estructurales, salud de jóvenes LGBT y lagunas de


conocimiento: ¿qué sabemos y qué preguntamos?. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 21, n. 3, p.
961-972, dez..

REGO, Francisco Cleito; PORTO, Rozeli. 2016. Fazer emergir o masculino: noções de “terapia” na
hormonização de homens trans. Trabalho apresentado na 30ª. Reunião Brasileira de Antropologia. João
Pessoa: ABA.

SAMPAIO, Liliana L. P.; COELHO, Maria Thereza A. D. 2014. As transexualidades na


atualidade: aspectos conceituais e de contexto. In: COELHO, M.; SAMPAIO, L.
Transexualidades – um olhar multidisciplinar. Salvador: EDUFBA.

SARTI, Cynthia. 2010. Corpo e Doença no trânsito de saberes. In: Revista Brasileira de Ciências
Sociais. Vol.25, nº 74, Outubro, pp.77-90.

TAMASO, Izabela. 2017. Relíquias e patrimônios que o Rio Vermelho levou... In: Lima Filho;
Beltrão; Eckert (Org.). Antropologia e Patrimônio Cultural: diálogo e desafios contemporâneos.
Florianópolis: Nova Letra Editora, p. 199-220.

TEIXEIRA, Flávia. 2012. Histórias que não têm Era Uma Vez: As (in)certezas da transexualidade.
In: Estudos Feministas. Florianópolis, 20 (2), p. 501-512.

 
183
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A MARCHA NICO LOPES E A CONSTRUÇÃO DAS


MASCULINIDADES EM UM CARNAVAL FORA DE ÉPOCA.
Jairo Barduni Filho
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
E-mail: rfbarduni@yahoo.com.br

Uma das tradições estudantis mais emblemáticas e originais surgidas na Escola Superior de
Agricultura e Veterinária (ESAV) hoje Universidade Federal de Viçosa (UFV), é a Marcha Nico
Lopes, uma história cotidiana transformada em data comemorativa muito festejada e aguardada
pelos estudantes até os dias de hoje. Especificamente para este artigo, trago a Marcha em seu ano
de 1951 com imagens (fotografias) adquiridas com um ex-estudante da época, Sr. Juarez e matérias
publicadas no jornal estudantil O Bonde, um pasquim masculino criado em 1945 até 1963.

A Marcha liga-se com a discussão das masculinidades na ESAV, apresentando traquinagens de


uma tradição estudantil, transgredindo a barreira do gênero dentro de um cotidiano carnavalesco.
O leitor poderá perceber as facetas cômicas existentes na Marcha ao longo deste artigo.

A Marcha Nico Lopes trás o conceito de liberdade enquanto algo pelo qual se tem de lutar, se
conquistar, é uma condição advinda de confrontos, de relações de poder, um acontecimento que
favorece discussões, reflexões, brincadeiras e embates pela conquista da liberdade.

Para compreender a origem da Marcha Nico Lopes, é preciso saber quem foi Nico Lopes. Recorro
assim à informação presente no jornal estudantil O Bonde de número 19 de 1946. Nele, o
estudante de pseudônimo A. Dias Lopes, regressa ao tempo relembrando os primórdios da escola
e a presença de um senhor chamado de Nico Lopes pelos alunos. Segue a matéria.

 
184
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

MARCHA NICO LOPES A.Dias Lopes

Amigos, companheiros, visitantes da Escola, Nome à marcha de confraternização entre


leitor que calouros e veteranos.

Por ventura eu tenha, querem me acompanhar E agora, leitor, olhe à frente que não demorará o
por instantes? Então fechem os ouvidos aos desfile dos calouros. Uma grande tabuleta chama-
chamados e voltemos a alguns anos atrás na vida lhe atenção: Marcha Nico Lopes. E atrás o que
da Escola, onde encontraremos a origem do título virá? Críticas, blocos, dísticos, carros alegóricos,
que encima esta crônica. decorações, atualidades, enfim, uma porção de
causas que o leitor dirá: o que é isso? E com
Em todas as cidades, sempre encontramos esses serenidade, orgulho e altivez, nós, veteranos, lhe
tipos característicos de rua, homens entregues ao diremos: é a maior das nossas tradições. Se não
convívio público, de uma pronunciada que os obedece a um plano pré-estabelecido, se não
transforma rapidamente em um elemento representa a sequência de fatos capazes de
conhecido de todos. esclarecer, a priori, ao visitante a sua finalidade, é
porque a sua característica é esta. E é justamente
Nico Lopes era assim. Logo que a Escola começou na disparidade das apresentações, nos contrates
a funcionar, Nico Lopes, ora improvisando berrantes dos blocos, nas pilherias e brincadeiras
anedotas, ora remontando pilherias de sua vida do nosso meio, que reside a importância dessa
boêmia, prendeu a atenção dos primeiros alunos, marcha. Porque dela parece estarmos ouvindo
que não se cansavam em tê-lo em seus passeios e ainda, faz poucos dias, o esaviano antigo, pessoal
distrações. Quando se via uma rodinha em volta ou coletivamente, ensinando ao calouro as nossas
de um poste ou de um banco do jardim, podia se canções, as nossas saudações, o nosso hino, enfim,
contar como certo que era Nico Lopes distraindo familiarizando-o com tudo que é nosso e que
principalmente os alunos. Mas não demorou ele também é dele.
se foi para o derradeiro sono, deixando um

 
185
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

enternecimento, em todos os corações.


Principalmente dos alunos acostumados a ouvi-lo E quando, leitor, desaparece o último calouro do
horas a fio, a se divertirem com suas galhofatices. desfile, atente bem para a sua vista porque com ele
Foi-se e quando todos pensavam que Nico Lopes se poderá identificar a imagem do Velho Nico
tinha desaparecido com a sua consequente morte, Lopes sempre alegre e aparentando jovialidade...
deu-se justamente o contrário. Os alunos viram
naquele velho de fisionomia denegrida pelo E o compromisso do calouro com o veterano de
tempo, uma imagem que não podia desaparecer zelar pelas nossas tradições, e pelos nossos ideais,
do nosso meio justamente quando a Escola dentro da camaradagem, união e entendimento
começava a surgir. Tratava-se de quem primeiro mútuo, porque só do entendimento mútuo da
havia compreendido a alma moça da Escola. E, união e da camaradagem é que poderemos ter
então movidos por um desejo geral, resolveram ordem e progresso em nossa Escola.
imortalizá-lo em nossas tradições, dando o seu

Fonte: jornal O Bonde (Ano - 1946 número: 19).

De acordo com a matéria acima, a Marcha Nico Lopes foi idealizada por um dos estudantes da
época: Antonio Secundino de São José. A marcha leva o nome de Antonio Lopes Sobrinho vulgo
Nico Lopes, tornando-se assim o iniciador deste ritual estudantil. A origem também pode ser
verificada com Borges (1968) ao dizer que:

A passeata da Escola à cidade, denominada “Marcha Nico Lopes”, muito simples e puxada a
sanfona naquela época, ainda hoje comemora o fim do “trote” dos calouros. A marcha “Nico
Lopes” era a sátira, crítica de fatos pitorescos, pois todas as brincadeiras eram atribuídas ao
Nico Lopes, espírito Folgazão, responsabilizado pelas coisas erradas ou más que aconteciam.
Um dos atuais ex-alunos, o Dr. Antonio Secundino de São José, reunia os calouros,
arregaçava-lhes uma das pernas da calça e fazia com que corressem em volta do jardim ao som
de uma sanfona de 8 baixos e fole rasgado. Daí o nome da brincadeira (p.13).

Deste modo, o evento se tornou o que é hoje uma atração para muitos jovens da UFV, bem como
para os moradores de Viçosa que participam assistindo pelas janelas e sacadas dos prédios,
jogando seus baldes de água nos estudantes para refrescar o calor dos primeiros meses do ano e
se incorporando aos estudantes no final da marcha, geralmente, um encontro entre nativos e os
estudantes na Praça da cidade Silviano Brandão. A Marcha finaliza o período de trote e, é
importante frisar que, se trata de uma tradição masculina, pois, o trote socialmente nada mais é
do que uma invenção masculina de socialização, reconhecimento entre homens. Uma invenção
que envolvia a chegada dos calouros no campus da escola e reconhecimento dos veteranos por
estes primeiros, enfim, uma pratica de condução de costumes e rituais em uma instituição
masculina.

Problematizar alguns pensamentos a respeito da Marcha Nico Lopes e, consequentemente, como


esta era apresentada pelo jornal O Bonde, é capturar os lugares de fronteiras, resistências,
afrontamentos e metáforas, existentes em uma instituição de meados do século XX, bem como
evidenciar os modos como o poder era concebido e exercido. O poder é algo que relaciona os
sujeitos em práticas de liberdade e resistência, é possível observar a Marcha neste prisma de
relações. Era o momento em que a liberdade em tons de humor jogava em prol de um brincar
com os gêneros, com as sexualidades e com as masculinidades. Assim, é possível evidenciar nas

 
186
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

imagens um cotidiano como espaço de lazer e também de um reforço da masculinidade


dominante ao produzirem a zombaria de uma masculinidade subalterna como poderá ser vista
mais a frente em uma das imagens de fotografia.

A Marcha Nico Lopes no O Bonde.

A Marcha Nico Lopes traz uma proposta de liberdade, uma liberdade que precisa ser relacionada
ao poder que como apontou Foucault (2010) “O poder, como puro limite traçado à liberdade,
pelo menos em nossa sociedade, é a forma geral de sua aceitabilidade” (p.97). Logo, o poder
também era algo desejável pelos estudantes, havia uma parte existente no poder que o tornava
aceitável, o próprio modo inventivo de produzi-lo. Ao marchar e protestar sem ser censurado pela
escola os estudantes conjugavam o verbo liberdade, liberdade para denunciar, para ser visto e
ouvido. Liberdade para cobrar dos superiores melhores condições de estudo e cobrar dos colegas
melhores comportamentos e condutas, liberdade para zombar sem ser retaliado.

O conceito de liberdade compreendido pelos estudantes foi descrito na matéria do jornal O


Bonde intitulada “Liberdade”. Tal matéria entoa a democracia ensejada pelos garotos da escola.
Uma liberdade ecoada e buscada pelo mundo no período pós-guerra de 45, e os bondistas, não
indiferentes ao contexto global, também reforçam o discurso “democrático” com o trecho a
seguir:

Eis pois, uma fórmula certa que se coaduna bem com os atuais anseios da humanidade:
liberdade para criticar, liberdade para julgar... mas sempre liberdade!

Fonte: jornal O Bonde (Ano - 1946 número: 31).

O destaque aqui é para a expressão: “liberdade para julgar” que aparece no discurso do jornal, a
liberdade seria uma filosofia dos estudantes, pois, o desejo por este sentimento já apareceu desde
a apresentação do jornal quando eles reivindicavam o direito do estudante de ter voz. A “liberdade
para julgar” está relacionada à democracia política que, nesta frase, possui uma das características
deste tipo de democracia destacada por Guiddens (1993): “o envolvimento dos indivíduos na
determinação das condições de sua associação. Neste caso, supõe-se que os indivíduos aceitem o
caráter autêntico e lógico do julgamento dos outros.” (p.202). E mais, o fato de a Marcha existir
dentro de uma instituição de ordem constitucional, de autoridades acadêmicas também
corrobora com aspectos da democracia moderna, como a autonomia de vozes, na qual segundo
Guiddens (1993)

A autoridade só se justifica até o ponto em que reconhece o princípio da autonomia; em


outras palavras, até o ponto em que possam ser apresentadas razões defensáveis quanto aos

 
187
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

motivos por que a condescendência aumenta a autonomia, seja agora ou no futuro. A


autoridade constitucional pode ser compreendida como um contrato implícito que tem a
mesma forma que as condições de associação explicitamente negociadas entre iguais. (p.213).

Neste sentido, a democracia e autonomia estão intrinsecamente relacionadas no que tange a


instituições que se dizem democráticas e, claro, com a possibilidade de propiciarem o sentimento
de liberdade. A Marcha me parece ser um acontecimento anual no qual os estudantes podiam
praticar o sentimento de liberdade de modo mais explícito. Uma liberdade de poder reivindicar,
protestar e por que não, o de poder libertar o estudante. Contudo, também era uma liberdade
em que trazia a outra face da moeda, o da liberdade de visibilizar as distinções, os não pertencentes
da sociedade como a homossexualidade e enfatizar os binarismos de gênero.

É possível também perceber que a liberdade é um fio condutor de tensão, algo que pode ser
conquistada por meio pacífico ou até pelo uso da força. No cotidiano, ela vira uma arma
discursiva e ameaçadora contra “os vizinhos perturbadores”, que talvez, utilizassem o mesmo
discurso de liberdade individual e coletiva do quarto para poder legitimar a prática da
“desordem”. Se por um lado à liberdade ganha conotações de negatividade na possibilidade de
poder produzir “desordens”, ela pode funcionar como sendo um importante escudo a favor da
democracia e combate contra a opressão, em relação a faceta negativa de reconhecimento das
obrigações do dia a dia, diante de leis e regras, esta é assim comentada por Larrosa (2009):

A liberdade como autonomia funda obrigações, mas obrigações próprias. É, portanto, uma
forma de autogoverno cuja não-arbitrariedade está garantida pela razão, isso é, que não
emana da arbitrariedade de um sujeito singular, ou de uma vontade contingente, mas da
vontade de um sujeito racional e, portanto, ao menos na fábula kantiana, universal. (p.74).

Pensando na Marcha, esta me parece seguir pelos dois vieses de liberdade apresentados até o
momento, o de liberdade negativa, pois ela significa luta por direitos, por cidadania e, ao mesmo
tempo, possui uma faceta kantiana de liberdade já que me parece ser um espaço de “liberdade
autorizada”. Isto devido a ser um momento de autorização tanto acadêmica quanto pelos próprios
estudantes de que as brincadeiras, subversões e chacotas estivessem liberdades (sinal verde para
marchar, protestar e transgredir, inclusive performaticamente a própria identidade de gênero).

E, creio que, o aspecto de autorização dessa liberdade é ainda controlado pelos próprios bondistas
que, a partir do momento que o sinal verde era dado, estes não se furtavam em fiscalizar os
comportamentos exagerados que eram capturados e transformados em manchetes cômicas para
jornal. E o estudante que extrapolava a liberdade concedida, se tornava conhecido publicamente
como um dos desordeiros e corruptores da Marcha na semana seguinte.

Exemplificando este caráter de liberdade controlada e autorizada é que trago a matéria “Trote e
Marcha” apresentada enquanto uma indignação por parte dos escritores do jornal, na denuncia
pelo excesso de álcool que teria ocorrido na Marcha que comemorava o final da adaptação
calourifica de 1957. Segue um trecho da matéria.

 
188
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Veio a Marcha Nico Lopes. Era a alegria da completa integração, era a última etapa adaptativa
na ESA. A família esaviana havia aumentado, a festa seria alegre porque representaria o
congraçamento de muitas amizades.

Mas você, calouro esaviano, teve vergonha de tudo isto. Procurou no álcool aquilo que você
não encontrava dentro de si mesmo: compreensão e verdadeiro espírito universitário.
Manchou seu nome de estudante, o de seus colegas que não beberam, da classe que
representava. E a ESAV sentiu o amargor da decepção com seus novos filhos, amargor bem
mais profundo que o espetáculo, calouro esaviano!

Mas, olhe agora para frente. Não faça do erro um estigma e sim um estimulo para acertar. As
vezes um mau passo dá melhores resultados que a indiferença.

Ergue a cabeça, calouro esaviano! Olhe a ESAV que lhe sorri. Lute por ela para que ela, forte,
possa lutar por você!

Ene Araujo

Fonte: jornal O Bonde. (Ano -1957 número: 187).

Já em finais da década de 50 com o trecho: “Procurou no álcool aquilo que você não encontrava dentro
de si mesmo”, é apresento o indício de um elemento muito ligado ao cotidiano da masculinidade
dominante tanto no meio rural quanto urbano: o álcool. Neste contexto, o álcool aparece como
vilão e vício que ajuda no enfraquecimento da tradição, um elemento que colabora para a
desarmonia dos estudantes que cada vez mais crescem em números dentro da instituição. Um
inimigo a se combater, uma desgraça que desonra um homem perante seus amigos, seus
superiores e as namoradas!

Obviamente que o senso de controle fica mais fácil quando o número de alunos é menor. À
medida que a instituição vai crescendo, a malha de controle arquitetônico tenta a se expandir,
mas, começa a ficar inviável o controle sobre sua população. Neste caso, o papel do jornal O
Bonde era essencial, pois, poderia alcançar o maior numero de leitores estudantes a respeito de
um mal a ser combatido, uma “anomalia” que se apresentava contra a tradição e ordem na

 
189
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

instituição. Exatamente por isso, a relação estudantil se torna algo cada vez mais pulsante de
“lidar”, e o jornal é testemunha chave desses conflitos.

Neste sentido, penso em Foucault (2006) ao afirmar que: “Portanto, para que se exerça uma
relação de poder, é preciso que haja sempre, dos dois lados, pelo menos certa forma de liberdade”
(p.277). Ou seja, isto a meu ver, justifica tanto a existência da Marcha, quanto a existência de um
jornal denunciador de estudantes entre os próprios estudantes. O clamor por liberdade se mescla
a um poder vigiar o outro para que o controle e os limites não fossem desrespeitados, pois, todos
seriam prejudicados por uma má atitude individual.

Invenções, brincadeiras de gênero e de masculinidades marchando na Nico Lopes.

A UFV possui uma Reta que conecta o campus acadêmico até a cidade de Viçosa, especificamente
a Avenida PH Holfs. A reta é o percurso inicial da Marcha Nico Lopes. Um trajeto longo que,
além da Marcha, durante o ano letivo cabem os assuntos de aulas dos estudantes, os flertes, as
fofocas e risadas, a busca pela sombra das árvores no verão e pelas caronas de carro das quatro
pilastras até departamentos mais distantes como os da Veterinária e Zootecnia.

A Reta nem sempre teve este nome, ela era chamada de Avenida pelos estudantes da época do
jornal O Bonde, e só com o passar do tempo é que ela passou a ser conhecida como Reta. Imagino
que essa dominação conhecida atualmente se originou pela sua extensão retilínea, como duas
paralelas expostas, duas paralelas longas que caminham em harmonia ao lado da linha férrea
dentro do campus, passarela de desfile dos muitos estudantes todos os dias, transformadas em
quase sambódromo na Marcha.

De fato os estudantes desde a época do jornal se vestiam com adereços e fantasias na Marcha,
uma das características deste ritual tradicional. A Marcha constituiu-se como espaço autorizado
para brincadeiras dos colegas, sobretudo os que se destacavam pela sua inventividade na fantasia
usada ou pelo comportamento excêntrico, exagerado, palco de diversão e possível esculacho do
jornal na semana seguinte. A Avenida se tornava um palco visível de transgressões do
estabelecido, evidenciando sujeitos praticantes de uma trama cotidiana estudantil. Tramas de
caráter sociabilizante de cunho político e sentimento simbólico.

A Marcha se tornou um dos principais momentos institucionalizados da sociabilidade estudantil


para cultivo do espírito de brincadeira e fanfarrão. Momento em que se permitia a troca de papéis
de gênero no qual o masculino se transvestia de feminino, uma suspensão que permitia essa
mudança provisória de identidade. O espírito carnavalesco de subjetivação temporária (DaMatta,
1997) bailava ao ritmo de brincadeiras e de um ensaio por luta e reivindicação. Logo, práticas
como a Marcha Nico Lopes que sucede o trote, significou desde sua origem o ritual de selar a
convicção de que eles, os calouros, eram esavianos e cabia aos veteranos como uma função social
importante a condução dos recém-chegados garotos ao caminho institucional através deste findar
batismal lúdico.

 
190
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A cultura da escola diz de um coletivo, um nós que se perpetua pela tradição. É um modo de
subjetivação e, ao mesmo tempo, uma prática com e para o outro. Sabemos que, para a afirmação
de uma determinada identidade é necessária à negação da identidade oposta, ou seja, nada
melhor que exorcizar o matuto e ingênuo calouro dentro de um ritual tradicional, que congrega
e internaliza valores estudantis, valor de uma família masculina unida pelo espírito da liberdade
de luta, brincadeiras e responsabilidades.

Como acontece no nosso famoso carnaval, a Marcha é um ambiente de se esbaldar com a “farra”
das trocas de papéis de gênero, uma farra de adereços diversos que eram usados pelos garotos.
Com esta prática, ocorre um jogo favorável para uma transgressão de papéis de gênero, uma
subversão autorizada. DaMatta (1997) chama esse fenômeno de inversão, teatralização, permitido
somente naquele momento sem dono diante de um ano inteiro de rígidos códigos de controle. No
carnaval, tais fenômenos são perfeitamente permitidos enquanto um desfile polissêmico. Na
Marcha, o ato de vestir-se de mulher não ameaçaria a virilidade frente aos amigos permitindo
assim o contato físico, o afeto e as brincadeiras entre os estudantes. Zoando com o sexo oposto
eles se sociabilizavam entre si, se tornavam populares pela criatividade da personalidade escolhida
e colocavam a feminilidade para fora de um corpo domesticado pela virilidade.

A Marcha se tornou o acontecimento de fuga que todos tinham enquanto oportunidade uma vez
ao ano, um modo de liberdade em habitar o campus em clima de festejo, um momento de sair
do internato estudantil42, das salas de aulas, dos laboratórios, das aulas práticas, enfim, lugares de
maior controle e normalidade e regras de posturas sóbrias, concentração e obediência para viver
a transgressão. Segundo DaMatta (1986):

No Brasil, como em muitas outras sociedades, o rotineiro é sempre equacionado ao trabalho


ou a tudo aquilo que remete a obrigações e castigos... a tudo que se é obrigado a realizar; ao
passo que o extra-ordinário, como o próprio nome indica, evoca tudo que é fora do comum
e, exatamente por isso, pode ser inventado e criado por meio de artifícios e mecanismos.
Cada um desses lados permite “esquecer” o outro, como as duas faces de uma mesma moeda
(p.68).

Se DaMatta (1986), afirma que o carnaval é no fundo uma oportunidade de viver tudo ao
contrário (p.73), podemos pensar que a Marcha Nico Lopes se transformou em um inverter da
lógica racional pedagógica. No Brasil, o carnaval é o momento possível de vivenciar uma
transgressão de identidade, um tipo de liberdade sexual através de alguns dias de Fevereiro. Para
muitos, é o feriado mais aguardado do ano. Para exemplificar esta proximidade entre o Carnaval
e a Marcha, apresento as imagens fotográficas da Marcha de 1951, adquiridas com o ex-estudante
do curso de capataz da ESAV o Sr Juarez.

42
 A ESAV foi a primeira instituição de Ensino Superior a acolher um sistema de internato para seus estudantes. O primeiro alojamento, 
conhecido  comumente  como  Velho,  foi  inaugurado  em  1928  e  no  internato  os  residentes,  além  de  quartos  e  de  um  banheiro  coletivo, 
usufruíam também de um refeitório. 

 
191
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A Marcha Nico Lopes de 1951


(Fotografias: 1, 2, 3, 4) Os garotos e os figurinos de mulher.
(Fotografia 5) Sr Juarez com seus colegas.
(Fotografias: 6) Garotos fantasiados de índio, de presidiário 24 entre outras fantasias.
(Fotografias: 7 e 8) Garoto fantasiado da atriz e artista da época Luz Del Fuego.
(Fotografia: 09) Garoto com a placa e os dizeres: “Único sobrevivente do jogo Atlético x ESAV”.
(Fotografia: 10) Garoto com o cartaz: (Baitolas da Martinica) em alusão a música Chiquita Bacana
- Marcha - 1951.
Fonte: fotos do arquivo pessoal disponibilizado pelo entrevistado Sr Juarez.

 
192
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

É possível através das fotografias, perceber algumas manifestações, performances fronteiriças,


“desviantes” se destacando na festa de 1951. Tais transgressões movimentavam as brincadeiras e
as sociabilidades desses garotos. Através da observação das imagens, podemos perceber que as
brincadeiras se mesclam as fantasias libertando a meninice que existe em todos os homens
independente da idade, bem como a feminilidade. A meninice, muitas vezes ingênua aparece em
brincadeiras com o gênero feminino e também com a homossexualidade.

Como já foi dito anteriormente, são universos que a masculinidade hegemônica busca afastar-se.
Por isso, as feminilidades são alvos em potenciais das chacotas. Além disso, as fotografias revelam
a meu ver, afetividades masculinas num clima “pra lá” de amistoso. Afetividades masculinas
ancoradas na coletividade, proteção, união. O ato de satirização com fantasias e alegorias poderia
ocorrer sem que este garoto fosse interpretado enquanto uma ameaça ao coletivo, assim, o vestir-
se de mulher abria num mundo até então inexplorado. Como aponta DaMatta (1986):

A fantasia liberta, desconstrói, abre caminho e promove a passagem para outros lugares e
espaços sociais. Ela permite a ajuda o livre trânsito das pessoas por dentro de um espaço
social que o mundo cotidiano torna proibitivo com as repressões da hierarquia e dos
preconceitos estabelecidos. (p.75).

De acordo com as imagens, é possível afirmar que a ESAV com sua Marcha, era um espaço de
invenção do cotidiano, de dessubjetivação e subjetivação da identidade masculina e
consequentemente envolvendo a experimentação. Experimentação de outro gênero, ou seja, um
descompasso permitido da ordem heteronormativa no embalo da alegria de poder praticá-lo.

Os estudantes caricaturavam-se assim, em personagens plurais masculinos e femininos diversos


como: índio, mendigo, presidiários, senhoritas, mas também em personagens de sucesso da
época, como por exemplo, Luz del Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua, famosa bailarina
capixaba, que era também uma naturista e feminista na época. Além disso, a brincadeira com a
masculinidade homossexual ganhou destaque com faixa escrita: “baitolas da martinica”, como
pode ser lido parodiando a música Chiquita Bacana de Emilinha Borba, cantora brasileira de
grande sucesso na época.

Com tais fotos, é possível pensar no conceito de Fronteira de Louro (2008), como lugar de
encontro, transgressões e subversões. Um conceito que se encontra com a prática cotidiana da
Marcha Nico Lopes na qual os alunos se utilizam do recurso da paródia, principalmente na
imitação de artistas e outros personagens. Como aponta Propp (1992): “A paródia é cômica
somente quando revela a fragilidade interior do que é parodiado” (p.87). Em um desses casos,
penso que a fragilidade, aos olhos da sociedade de época, da condição extemporânea da artista
Luz del Fuego (fotografias, 7 e 8), se destacava como o de uma mulher que era alvo de comentários
por sua transgressão dos preceitos socialmente impostos ao gênero feminino. Preceitos como
submissa, recatada, doce, romântica, discreta etc.

A Marcha de 51 parece ter sofrido influência de Luz Del Fuego, figura conhecida na década de
1950 por suas polêmicas em aventuras amorosas e até por seu internamento em um hospital
psiquiátrico na cidade de Belo Horizonte. Luz ou Dora Vivacqua como o leitor preferir, subverteu

 
193
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

o modelo de mulher da época com suas performances eróticas e seu modo de se transvestir como
uma artista de circo.

Luz foi uma extemporânea, uma revolucionária sem dúvidas! Uma, podemos dizer
“homenageada” nesse carnaval da Marcha Nico Lopes, afinal, segundo DaMatta (1997) “O
mundo dos personagens do carnaval é, pois o mundo da periferia, do passado e das fronteiras da
sociedade brasileira” (p.63). Luz se visibiliza por essa fronteira de periferia exótica e esta mulher
é exaltada pelo olhar de desdém ou da cobiça do machismo, como uma mulher para o consumo,
um objeto louco e fascinante e ao mesmo tempo cômico a ser reproduzido na Marcha.

A reprodução neste contexto de Marcha/carnaval do erotismo de Luz Del Fuego, ganhou uma
versão cômica no então corpulento estudante da foto, aliás, me parece que o vestir-se de mulher
assim como ocorre nos carnavais do Brasil afora, torna-se o típico momento cômico. No carnaval
da Marcha de 51 é possível pelas fotografias perceber que muitos estudantes se vestiram de mulher
e não apenas como Luz Del Fuego, mas como aparecem nas (fotografias: 1, 2, 3, 4, 5 e 6), os
garotos aderiam ao uso da saia e desfilavam seus personagens pela reta e na praça da cidade de
Viçosa.

A liberdade também é lutar por aquilo que se acredita ser uma ameaça, neste sentido, a Marcha
Nico Lopes de 1951 se posiciona rechaçando os delicados como aparece no cartaz (foto, 10) com
a frase: “Baitolas da Martinica”. Também me chamou a atenção a (foto 6), em que um estudante
que está vestido com uma roupa longa, uma espécie de vestido listrado com o número 24 no
peito (presidiário 24?). Ora, é de conhecimento comum que na cultura popular, o animal veado
é aquele portador/símbolo do número 24 no jogo do bicho43, associa-se a este animal a
masculinidade homossexual, é possível haver um indício de que a fantasia do estudante não fosse
uma coincidência aleatória e sim, uma chacota, talvez, tratando-se de uma alusão a um presidiário
gay. Ao falar dos territórios Louro (2008) aponta que: “Quem subverte e desafia a fronteira apela,
por vezes, para o exagero e para a ironia, a fim de tornar evidentemente a arbitrariedade das
divisões, dos limites e das separações” (p.20).

No conjunto de imagens, a (foto 9) me faz pensar a relação da masculinidade dominante e o


futebol, da importância desse esporte na vida dos esavianos. Isso inclusive reforça a razão de haver
no jornal O Bonde, uma seção permanente intitulada “Esporte”, na qual, a grande maioria das
matérias publicadas era de conteúdos provenientes da prática do futebol esaviano. Nela, eram
divulgados os resultados dos embates locais e regionais envolvendo os estudantes da escola.

Os dizeres “Único sobrevivente do jogo Atlético x ESAV”, estabelece uma aproximação entre esporte
e guerra, o futebol como uma contenda entre rapazes, um embate entre duas tribos na qual alguns
saem estropiados. É como se a frase contivesse a afirmação de que: “Futebol é uma prática
violenta, que machuca, fere, mas nem por isso deixa de ser uma moeda valorosa no mundo
masculino. A faixa pode ser lida pelo fato do garoto se sentir orgulhoso de ter sobrevivido” ao

43
 Por que o 24 é o número do gay, texto disponível em: http://regatamotos.blogspot.com.es/2014/04/por‐que‐24‐e‐o‐numero‐do‐gay.html 
acesso em: 25 de jan de 2016. 

 
194
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

embate, ou seja, a prática deste esporte ajuda a distinguir uma masculinidade fraca das demais,
afinal, nele não há lugar para um homem frágil, feminino, desengoçado, perdedor ou vencedor.

As feridas simuladas na foto sugerem uma feroz batalha campal na qual o estudante seria o único
a sair vivo, único a suportar com valentia a sua passagem por este espaço viril. O corpo masculino
machucado é um troféu a ser exibido com orgulho e ao mesmo tempo, avisa que ali é uma escola
de estudantes machos, dominantes, brutos, viris, competitivos e unidos moralmente pela defesa
de um território estudantil de renome ao qual eles devem honrar no gramado contra as tribos de
fora.

A prática teatral anual de transgressão do espaço normativo continua até os dias de hoje na UFV.
Atualmente, o caráter da Marcha vem acompanhando as mudanças sociais e políticas, locais,
nacionais e internacionais, ou seja, são novas condições de emergência utilizando aqui uma
expressão foucaultiana no sentido de dizer que se trata de outro momento histórico com novas
possibilidades discursivas ou novas reconfigurações de antigos discursos encampadas pelos
ufevianos. Já participei de dois anos da Marcha, sendo possível ver blocos marchando em defesa
de melhorias nos alojamentos, segurança no campus e outras políticas sociais estudantis. A pauta
por melhorias na política estudantil vem desde o jornal e provavelmente continuará a ser uma
reivindicação duradoura da Marcha. Além disso, trata-se de uma juventude universitária que
mesmo debaixo de um intenso calor, se põe a marchar pela reta seguindo o carro de som,
festejando a liberdade de poder reivindicar e celebrar este momento seja debaixo de chuva ou sol
ou os dois juntos que caracterizam o período de final do verão para o outono ou pela chuva
artificial das varandas quando os viçosenses jogam água na multidão refrescando a carnavalia
ufeviana.

Algumas Considerações

A Marcha é um rito de passagem em que os calouros deixam de ser calouros. É neste clima de
descontração e ingenuidade é que se abre a possibilidade de brincar com a troca de identidade
de gênero e de reforço de uma masculinidade dominante, aquela do futebol e do distanciamento
da homossexualidade. Não podemos esquecer também que a homossexualidade naquela época
era considerada uma patologia pelas ciências médicas, apenas nos anos 70 é que a sexualidade
pelo mesmo sexo saiu do rol das doenças e perversões.

Observar e ler sobre a Marcha nos permite pensar nas condições históricas da constituição de um
cotidiano estudantil masculino de época, momento em que se buscava o desenvolvimento da
agricultura brasileira e de homens que pudessem “dar cabo” da missão do desenvolvimentismo.
O panorama brasileiro além de demandar de uma boa formação técnica, também demandava de
homens de moral que preservassem as tradições. A Marcha virou um acontecimento de resistência
e ao mesmo tempo, de reforço da tradição, nela as fronteiras se aguçavam pela ironia, pelo
deboche, pelo exagero, pela paródia que confunde regras e distorce a linguagem do tradicional.
A Marcha poderia ser interpretada como subversiva, mas não foi ela foi um momento de mixagem
e de liberdade autorizada.

 
195
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Referências Bibliográficas

ARAUJO, Ene. Trote e Marcha. Jornal O Bonde. Viçosa, p. 6, número 18, UREMG,
7/09/1957.

A.V.G. Liberdade. Jornal O Bonde. Viçosa, p.2, número 31, ESAV, 14/09/1946.

BORGES. José Marcondes. Escola Superior de Agricultura: Origem - Desenvolvimento -


Atualidade. Revisão linguística: Bartolomeu da Costa Ribeiro. Imprensa Universitária da NRE
MG 1968.

DAMATTA, Roberto. Carnavais, malandros e heróis: Para uma sociologia do dilema brasileiro.
6º Ed – Rio de Janeiro: Rocco, 1997. p.47 - 84.

__________, Roberto. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1986.

FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Trad. Maria Tereza da


Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 20 ed. São Paulo - SP: Graal, 2010.

__________, Michel. Ditos e Escritos V – Ética, sexualidade, política; organização e seleção de


textos Manoel de Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro, Inês Autran Dourado Barbosa. 2º
Ed. - Rio de Janeiro: Forense, 2006.

GUIDDENS, Anthony. A transformação da Intimidade: sexualidade, amor & erotismo nas


sociedades modernas. Trad. Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista,
1993 - (Biblioteca Básica).

LARROSA, Jorge Bondía. Nietzsche & a Educação. Tradução: Samíramis Gorini Veiga. - 3 ed.
– Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

LOPES. A. Dias. Marcha “Nico Lopes”. Jornal O Bonde, Viçosa, p.1 número 19, ESAV,
27/04/1946.

LOURO, Guacira Lopes. Um corpo estranho - ensaios sobre sexualidade e teoria queer. 1o ed.,
1o reimp. - Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

 
196
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

UMA "VISÃO PARCIAL" SOBRE SER HOMEM NO SERVIÇO


SOCIAL44
Vivian Matias dos Santos; Laudicena Maria Pereira Barreto; Valeria Nepomuceno Teles
de Mendonça; Henrique da Costa Silva; Maria Angélica Pedrosa de Lima Silva
1) Hypatia/UFPE - vivianmsa@yahoo.com.br
2) Hypatia/UFPE - laudicena.barreto@gmail.com
3) GECRIA/UFPE - valeriantm@gmail.com
4) Hypatia/UFPE - henriquesilva2114@hotmail.com
5) Hypatia/UFPE - pedrosa.angelica@gmail.com

Como se dá o processo de inserção de homens em formações “feminilizadas”, especificamente


no Serviço Social de uma universidade nordestina? Para esta pesquisa consideram-se os cursos de
Serviço Social não somente como espaços de formação profissional, mas como campo produtor
de conhecimento científico.

Partimos do pressuposto de que todo conhecimento deve ser compreendido como construção
social, sendo permeado pelas relações de poder mais amplas que reiteram e são reiteradas pelas
“normas regulatórias do sexo” (BUTLER, 2010). Alicerçada nas epistemologias feministas, esta
investigação aposta na vantagem epistemológica da abordagem “parcial” (HARAWAY, 2001) dos
conhecimentos científicos por meio da reflexão sobre “onde, quando, quem e como” se dá a sua
construção. Isso nos permite perceber que as ciências são constituídas por uma “multiplicidade
de visões”, por conflitos e contradições.

Assim, neste estudo tomamos como referência os cursos de graduação e pós-graduação em Serviço
Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e, como sujeitos, homens graduandos e
pós-graduandos nestes cursos. Situando: tendo como referência desta investigação o cotidiano de
homens em formação, nos anos 2014 e 2015, num curso “tradicionalmente feminino” (e, por
consequência, subalternizado) de uma universidade nordestina, torna-se relevante considerar que
ser homem e nordestino carrega, em si, peculiaridades.

44
  Artigo  derivado  da  pesquisa  O  “MASCULINO”  MARGINALIZADO?  UMA  “VISÃO  PARCIAL”  SOBRE  SER  HOMEM  E  NORDESTINO  EM 
FORMAÇÃO NO SERVIÇO SOCIAL financiada mediante aprovação no Edital MCTI/CNPq/MEC/CAPES Nº 43/2013. 

 
197
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

No entanto, não há aqui a intenção de capturar uma “essência masculino-nordestina”, tendo em


vista que não se toma o gênero como categoria ontológica. As masculinidades nordestinas são
tomadas aqui como plurais, polifônicas, “performáticas” e em disputa.

Neste sentido, por meio da pesquisa bibliográfica e documental e da abordagem de campo de


inspiração etnográfica, percebemos que os homens, mesmo sendo minoria quantitativa, tendem
a construir uma inserção privilegiada no Serviço Social: eles têm destaque no movimento
estudantil e nas entidades representativas da profissão em âmbito local e nacional; participam
ativamente de grupos de pesquisa, de projetos de extensão e possuem visibilidade nos debates em
salas de aula e em eventos acadêmicos da área; ainda, fazem-se presentes de forma mais incisiva
nos níveis mais elevados da formação: na pós-graduação.

Todavia, não são quaisquer homens que possuem inserção privilegiada. Há uma masculinidade
(re)legitimada como hegemônica: os sujeitos que constroem performances político acadêmicas de
destaque são brancos, heterossexuais e cisgêneros.

1. Ser homem e pertencer a um campo científico tradicionalmente construído como feminino

O presente estudo por nós desenvolvido debruça-se sobre um cenário de formação específico do
campo científico, historicamente feminilizado, representado empiricamente pelos cursos de
graduação e pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco.
Compreendendo, segundo Bourdieu (2004), que todo e qualquer campo científico possui uma
autonomia apenas relativa no seu funcionamento em relação a outros campos, reconhecemos
que o Serviço Social, como campo científico, é afetado por “normas” externas – incluindo-se,
aqui, as normas regulatórias do sexo (BUTLER, 2010).

Portanto, as relações – por vezes discriminatórias - observadas no cotidiano específico do Serviço


Social da UFPE, embora situadas e particulares, devem ser compreendidas como reflexos de um
ethos sexista, homo-lesbo-transfóbico e racista que historicamente alicerçou e alicerça a “Ciência
Moderna Ocidental” (HARDING, 1996) e as diversas sociabilidades modernas - ocidentalizantes
e eurocêntricas (SANTOS, 2007) - das quais o Serviço Social é herdeiro.

O que aqui se pretende chamar atenção é para o fato de que a produção científica e o campo das
formações universitárias não estão herméticas para as relações sociais tecidas no seio da sociedade
na qual se inserem. Como é suscitada pelas ideias de Donna Haraway (1995), a ciência é
construída socialmente, e por isso carrega em si marcas do tempo e espaço onde foi construída,
assim como dos sujeitos que a constrói, suas múltiplas visões de mundo, seus preceitos e possíveis
preconceitos.

 
198
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Homens no Serviço Social da UFPE: uma minoria não marginalizada?

Na intenção de construirmos esta abordagem situada e parcial da participação de homens em


áreas do conhecimento científico tradicionalmente construídas como feminilizadas, além da
pesquisa documental e da aplicação de questionários com cerca de 70% do universo de homens
estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação da UFPE, realizamos entrevistas com alguns
sujeitos selecionados estrategicamente: buscamos, na composição do grupo de sujeitos a serem
entrevistados, contemplar a diversidade étnico-racial, de gênero e sexualidade e geracional.

Neste sentido, foram entrevistados na graduação 4 alunos, sendo: 1 homem cisgênero, negro,
homossexual45, com faixa etária entre 20 e 24 anos; 1 homem cisgênero, branco, heterossexual,
na faixa etária de 40 ou mais anos; 1 homem cisgênero, homossexual, pardo, com faixa etária de
20 a 24 anos; e 1 homem transexual, branco, na faixa etária de 20 a 24 anos. Já na pós-graduação
entrevistamos 2 estudantes: 1 homem, cisgênero, heterossexual, branco, na faixa de 30 a 34 anos;
e 1 homem cisgênero, pardo, homossexual, 30 a 34 anos.

A entrevista foi a técnica utilizada para a coleta de relatos orais autobiográficos, o que nos
permitiu a construção de nossas reflexões por meio da interpretação das trajetórias de vida e de
formação acadêmico-científica destes sujeitos, ou melhor, nossas análises são sínteses
proporcionadas por uma abordagem biográfica (MATIAS DOS SANTOS, 2016) que nos
permitiu ter uma compreensão mais profunda das relações que permeiam a inserção e
permanência destes homens no Serviço Social da UFPE.

As observações diretas de inspiração etnográficas realizadas no cotidiano dos cursos de graduação


e pós-graduação nos permitiram um mergulho para além das narrativas dos sujeitos entrevistados
– pudemos observar práticas e discursos nos quais estão ancoradas as experiências destes sujeitos
específicos.

Sendo minoria, os homens sentem-se discriminados?

Antes de adentrarmos nas narrativas obtidas por meio de entrevistas e nas observações diretas, é
interessante a exposição de alguns dados obtidos por meio da aplicação de questionários com os
estudantes. Por meio destes, percebemos que, no que se refere ao processo de inserção destes
homens no Serviço Social, para a maioria este curso não foi a sua primeira opção: entre os
graduandos 56% e entre os pós-graduandos 62,5% tentaram vestibular para outros cursos.

Dentre aqueles que tiveram o Serviço Social como primeira opção no vestibular – 44% entre
graduandos e 37,5% entre pós-graduandos - o fizeram por ter acesso anterior a informações,
mesmo que superficiais, sobre a grade curricular do curso e atribuições profissionais,
aparentemente ultrapassando a visão sexista que percebe o Serviço Social como uma formação de
e para mulheres.

45
 Tais categorizações basearam‐se na autodeclaração dos entrevistados. 

 
199
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Um fato curioso: observamos que os estudantes de graduação tendem a se sentir mais


discriminados pelo fato de serem homens e fazerem parte de um corpo discente
predominantemente feminino – 66% dos graduandos afirmaram se sentir discriminados por
serem homens e cursarem Serviço Social. Entre os pós-graduandos, aparentemente, o estigma de
ser uma formação feminina é menos incidente – 75% afirmam nunca terem se sentido
discriminados por serem homens cursando mestrado e/ou doutorado em Serviço Social.

Ao serem indagados com a questão “Você considera que o fato de ser homem, inserido num
campo constituído hegemonicamente como feminino, lhe impõe ou impôs algum desafio e/ou
dificuldade no âmbito de sua formação?”, a grande maioria afirmou não perceber desafios ou
dificuldades decorrentes de serem homens no Serviço Social - no âmbito da graduação 81% e na
pós-graduação 87,5%.

Entretanto, por meio das entrevistas, percebemos que mesmo entre aqueles que afirmam não
haver desafios ou dificuldades por serem homens neste espaço feminilizado de formação, há
tensionamentos, tais como pudemos perceber nos relatos do entrevistado a seguir:

Eu estou dentro de uma sala de aula que começou com 64 estudantes dos quais 5 eram
homens -e hoje somos 3 homens-, então de certa forma “as meninas”, como eu chamo,
sentem-se completamente à vontade [...] como elas estão num universo bem feminino, de
maioria extremamente feminina, ficam extremante à vontade. A dificuldade que eu tenho é
de me policiar, eu vou usar esse termo mesmo, me policiar, me cuidar, para não trazer aqueles
resquícios do machismo. Para que eu não dirija para nenhuma das meninas um olhar que
possa constrangê-las ou que possa externar um sentimento de desejo, ou coisa parecida. [...]
Eu procurei sempre me distanciar de qualquer relação mais objetiva de aproximação - abraço,
beijo - e isso foi construído. No início eu me policiava mais, hoje não, hoje já estou mais
íntimo das meninas, elas já me conheceram e sentiram mais confiança nesse sentido,
entendeu? Então elas já relaxaram, eu percebi isso. No começo as meninas ficavam bem... Eu
vou lhe dar um exemplo: eu estou sentado em uma fileira da sala de aula, tem uma garota
que está à frente às vezes outras meninas chamavam a atenção dessas meninas, porque às
vezes a calça descia, ficava ali aparecendo alguma coisa, mas as meninas chegavam e falavam:
“Fulana, tá aparecendo o cofrinho!” (Estudante de graduação, homem cisgênero, branco,
heterossexual, na faixa etária de 40 ou mais anos).

Neste aspecto, este estudante de graduação afirma que a sua dificuldade no curso de graduação
em Serviço Social se deve “muito mais pelo fato de ser heterossexual”, já que considera que o
“perfil dos homens do curso seja predominantemente homossexual”, em suas palavras.
Entretanto, vale explicitar que neste espaço o percentual de homens que se autodeclaram não
heterossexuais é de 50%, ou seja, metade do corpo discente, mas que é percebida como “grande
maioria” por este entrevistado.

Já para outro estudante entrevistado, autodeclarando-se homossexual percebe que o desafio neste
espaço diz respeito ao enfrentamento do “machismo”, mesmo estando em um espaço de
predominância feminina, sentindo-se, inclusive, acolhido pelas colegas. Segundo ele:

Estar no Serviço Social impõe-me como desafio eu estar tentando desconstruir o machismo
que foi construído, que me foi atribuído e que eu me construí nas minhas relações familiares

 
200
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

e de outras instituições. Mas, particularmente, eu prefiro estar no meio de mulheres do que


com os homens, por que eu me sinto - não sei se é alguma coisa subjetiva minha - mas eu me
sinto mais protegido e me sinto mais no meu lugar. Eu prefiro mais estar no meio de
mulheres trabalhando, inclusive, do que com homens LGBTs como eu (Estudante de
graduação, homem cisgênero, negro, homossexual , com faixa etária entre 20 e 24 anos).

Para aprofundarmos questões como estas, explicitadas nas falas acima, durante as incursões em
campo entrevistamos também mulheres estudantes do curso de graduação em Serviço Social. Para
as alunas, o fato de os homens serem minoria não implica na discriminação destes sujeitos. Ao
contrário, como afirmou uma das mulheres estudantes entrevistadas:

Mesmo as mulheres sendo maioria no curso, eu ainda acho que para nós, mulheres, ainda é
mais difícil. Porque mesmo eles sendo minoria no nosso curso, não somos nós que estamos
na posição de privilegiadas na sociedade, são eles! Muitas de nós saímos do curso, quando
chegamos em casa, por exemplo, às vezes temos uma série de afazeres que “aquele carinha”
ali não vai ter. Então, ele vai ter possibilidade de se desenvolver muito mais rápido, muito
melhor, com menos obstáculos, numa pesquisa ou estudando para uma prova, do que as
garotas. Não é o fato de sermos a maioria no curso que faz com que a gente tenha visibilidade
e que a situação deles seja mais dificultosa do que a nossa. Eles são minoria no curso não por
que é dificultoso para um homem fazer um curso de Serviço Social, eles são minoria por que
a sociedade convencionou caracterizar o Serviço Social como um curso para mulheres.

Esta percepção é também trazida pelo único homem transexual, naquele momento, presente no
curso de graduação46:

Pelo que eu vi muitas mulheres que tiveram filhos e filhas desistiram do curso. Na minha
sala mesmo uma se afastou, ela tentou voltar, mas não conseguiu conciliar. O filho dela tem
pouco mais de um ano. O que eu observo mais são as mulheres desistindo por precisarem
trabalhar com filhos em casa, ou por não aguentarem mesmo essa múltipla jornada,
enquanto que com os homens não observei isso. Só um na minha sala se afastou por que
não tinha identificação com o curso, mas o que eu observo mesmo são as mulheres desistindo
mais (Estudante de graduação, homem transexual, branco, na faixa etária de 20 a 24 anos).

Foram recorrentes nas falas dos e das entrevistadas a percepção de que os homens, mesmo sendo
minoria no Serviço Social, conseguem posições de destaque tanto na formação acadêmica, quanto
no campo da prática profissional. De acordo com um entrevistado pós-graduando:

Eu percebo que os homens acabam se destacando nos espaços. Quando a gente se encontra
como minoria, é um espaço predominantemente feminino, a gente tem que se posicionar
para que a gente não fique distante no mercado de trabalho. Eu percebo que, por exemplo,
a gente já organizou alguns eventos e tinha uma predominância muito grande de palestrantes
homens para falar sobre o trabalho. Então assim, a gente vê que, apesar de serem poucos

46
 Vale explicitar que nos anos 2014 e 2015 havia, apenas, 1 homem transexual no curso de graduação em Serviço Social. Já na pós‐graduação 
pessoas transgêneros eram ausentes. 

 
201
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

homens, estes homens acabam se destacando na atuação profissional (Estudante de pós-


graduação, homem cisgênero, pardo, homossexual, 30 a 34 anos).

Por meio destas narrativas percebemos que não é o fato de as mulheres serem maioria quantitativa
no Serviço Social que garante na sua atuação um cotidiano livre de discriminação de gênero. O
Serviço Social não emerge no cotidiano dos cursos de graduação e pós-graduação da UFPE como
uma “ilha” isolada do sexismo presente na sociedade e alicerçante nas ciências ocidentais. A
predominância estatística feminina não garante às mulheres uma inserção não discriminatória
no campo científico.

Mesmo sem perceber que a condição de ser homem acarrete discriminação de gênero, para os
homens heterossexuais entrevistados, um desconforto recorrente em suas falas diz respeito a
“terem suas masculinidades questionadas” pelo fato de serem formandos em um curso “de
mulheres”. Para alguns homens, serem lidos como “gays” por cursarem Serviço Social é algo
ofensivo e depreciativo.

Performances político-acadêmicas de destaque, mas não para quaisquer homens

Como e em que condições os homens, estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação em


Serviço Social da UFPE, constroem uma trajetória acadêmica de destaque? Esta questão é
fundamental para esta abordagem parcial (HARAWAY, 1995) e feminista (HARDING, 1996)
sobre a inserção de homens neste espaço feminilizado de formação e produção de conhecimentos
científicos.

Analisando a entrada desses homens no curso de Serviço Social da UFPE percebemos que desde
a entrada, através do ingresso pela via do vestibular, estes sujeitos ganham destaque por sua
posição no ingresso. Por meio das listagens de aprovados/as no vestibular para o curso de
graduação em Serviço Social da UFPE, pudemos verificar e refletir sobre a maneira em que se dá
a inserção desses homens: constatamos que entre os anos de 2007 e 2014 não são raras as vezes
em que homens destacam-se no vestibular para o acesso a uma graduação ainda “feminilizada”.

Nesse período de tempo, por quatro vezes quase consecutivas (anos de 2007, 2009, 2010, 2011)
os homens aparecem sendo portadores do maior argumento de classificação. Isso significaria um
atestado de incapacidade feminina? Não, isso deve ser compreendido como um reflexo de uma
sociabilidade em que muitas mulheres ainda têm menos tempo para se dedicarem ao estudo, ao
trabalho fora de casa. Quais são os vários marcadores sociais que influenciam em um processo
objetivo de seleção? Nesses processos são consideradas as diferentes atribuições designadas para
homens e mulheres ao longo da vida?

Deste modo, conscientes das limitações quanto à compreensão do contexto de inserção de cada
um desses homens e mulheres, podemos afirmar que não é privilégio exclusivo da graduação ter
homens como destaque em processos seletivos, por exemplo, nos cursos de mestrado e
doutorado.

 
202
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Realizado em 2015, o processo seletivo 2016 de estudantes para o Programa de Pós-graduação em


Serviço Social revelou-se surpreendente. Os percentuais de homens aprovados é sempre superior
aos seus percentuais nas inscrições: na seleção para o Mestrado, mesmo as mulheres
representando 82% de inscrições homologadas e os homens 18%, as primeiras são apenas 33%
entre aprovados, enquanto os segundos, 67%; no Doutorado, os homens são apenas 19% dos
inscritos, mas representam 40% das aprovações., conforme discutido em capítulo anterior.

Se analisada de maneira superficial não existe nenhuma problemática nessas informações, mas
não podemos desconsiderar que não pudemos lançar mão de uma compreensão mais profunda
sobre as trajetórias e as condições objetivas e subjetivas de cada um destes homens ao serem
aprovados em posição de destaque nas seleções para ingresso nos cursos de graduação e pós-
graduação em Serviço Social. Não negligenciamos que “as trajetórias de vidas dos indivíduos é
um objeto bastante interessante a ser considerado, pois ela é determinada pela frequência dos
acontecimentos, pela duração e localização dessas existências ao longo de uma vida” (BORN,
2001).

Homens no Serviço Social: maior acúmulo de capital científico-político

De acordo com Bourdieu (2004) é importante partir da compreensão de que existem duas
espécies de capitais que permeiam o campo científico e, portanto, no contexto acadêmico
universitário: o capital científico “puro”, aquele que se dá por meio do reconhecimento e do
“prestígio” pessoal; e o capital científico institucionalizado, que repousa sobre aquele poder
temporal - ou político -, institucional e institucionalizado.

Temos que saber que a acumulação de capital institucional por determinados agentes pode
redefinir e redirecionar a estrutura do campo científico, visto que estes têm o poder de intervir
de maneira mais consistente nos conflitos, ou nas lutas específicas existentes no interior do
campo. Por exemplo, os embates pela visibilidade, valorização e reconhecimento das mulheres
nas ciências podem ser algumas destas lutas. E, particularmente no Serviço Social, os homens
podem se colocar de forma a acumular capital científico–político, dando um desenho a este
espaço que não os ponha em condição de inferioridade e, algumas vezes, chegando a contribuir
para uma lógica que não rompe com a discriminação sexista contra mulheres, mesmo estas sendo
maioria47.

O fato é que os homens destacam-se e, frequentemente, protagonizam construções cotidianas e


lutas acadêmico-políticas no Serviço Social da UFPE. Isso ocorre por incompetência ou
inabilidade das mulheres? Para refletirmos mais profundamente sobre esta questão, segue:

Pesquisas estatísticas sobre a produtividade masculina e feminina revelam que elas têm
menores índices de publicações [...]. Com isso, comumente, a posição de desvantagem na
qual se localizam as mulheres nas ciências foi justificada e legitimada sob o discurso defensor
de que elas não conseguiam igual prestígio ao dos homens devido ao seu baixo índice de
produção. Esta afirmação, porém, torna-se superficial na medida em que não leva em

47
 O que não significa afirma que as mulheres também, de forma consciente ou inconsciente, não possam contribuir para a reiteração de 
relações discriminatórias. 

 
203
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

consideração que, para as mulheres alcançarem uma produtividade simétrica à dos homens
[como, por exemplo, no momento dos estudos para a preparação no vestibular] necessitaria
uma transformação da estrutura do campo científico, cuja lógica move-se em torno de um
discurso androcêntrico, sexista [...]. Deste modo, “os resultados fracos das mulheres
resultavam de diferenças significativas nas extremidades alta e baixa de produtividade:
homens em instituições de prestígio produziam bem mais do que todos os outros, homens e
mulheres (...)” (SCHIENBINGER, 2001, p.99). Por conseguinte, sabendo da difícil
acumulação de capital político feminino e sua decorrente dificuldade em ocupar cargos
institucionais que catalisam a ascensão profissional, a hipótese da improdutividade e
desqualificação feminina deve ser amplamente contestada (MATIAS DOS SANTOS, 2012,
p. 242).

Por meio de nossas incursões em campo percebemos serem recorrentes episódios em que os
homens conseguem ter uma maior visibilidade se comparados às suas colegas.

Durante a pesquisa documental, verificando a ata de presença de uma reunião, organizada pela
coordenação do curso de graduação com intuito de dialogar com os/as representantes de turmas,
7 dos/as 14 estudantes presentes eram homens, ou seja, 50 % do total de representantes da
graduação eram homens no ano 2014, valendo ressaltar que a representação de homens na
graduação não ultrapassava o percentual de 10%.

Para além deste dado quantitativo, cabe considerar a seguinte reflexão obtida por meio de
observação direta nas ocasiões de reuniões com representantes das turmas de graduação: havendo
uma paridade de gênero entre representantes, ou seja, para cada homem estar presente uma
mulher, eram os homens que mais obtinham o tempo de fala e as tomadas de decisões.

No que diz respeito a este fato, não o percebemos como aleatório ou isolado, mas o situamos no
seio de um processo de socialização, no qual repercute o tipo de educação que essas mulheres
vivenciaram/vivenciam. Assim, faz-se possível problematizar se essa educação é voltada para a
tomada de posições ou para reforçar nestas mulheres a postura “passiva” que, hegemonicamente,
a sociedade na qual estamos inseridas/os atualmente espera (LOURO, 2000).

Partindo para reflexões mais especificamente vinculadas à inserção política, tomando como
referência as Cartas Programas lançadas pelas duas chapas que concorreram à eleição do Diretório
Acadêmico de Serviço Social, em 2015, pode-se constatar a presença de 9 homens como
concorrentes, no total de 24 inscritas/os, somando uma participação de aproximadamente 30%
no universo das/os concorrentes, o que de certo modo é uma vantagem se compararmos à
quantidade total de estudantes do sexo masculino no curso. Não obstante, por meio da
observação direta das assembleias das/os estudantes, ocorrida durante o processo eleitoral,
pudemos constatar que era, com muita frequência (ousaríamos afirmar que isso ocorria quase
sempre), um homem heterossexual e branco que conduzia os debates.

Relações semelhantes – em que os homens têm maior tempo de fala e uma forte articulação
política - foram percebidas nas salas de aula, nos corredores do Centro de Ciências Sociais
Aplicadas (onde está situado o Departamento de Serviço Social), nos eventos científicos e de
estudantes de Serviço Social. Para ilustrar seguem trechos de diários de campo:

 
204
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A articulação e organização do ônibus para levar estudantes de Serviço Social de faculdades


privadas e universidades públicas foi, e está sendo, toda feita por três homens. Durante a
viagem estes já se articulavam politicamente, já que no evento haverá eleição para a
Coordenação Regional da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social - Enesso-R2.
Eles são persuasivos e bem articulados, conseguindo transitar entre estudantes de distintas
instituições. Destaco que os três são homens cisgêneros, heterossexuais e com faixa etária
maior que a média de estudantes – acima de 30 anos de idade (Trecho de diário de campo
construído durante viagem a Mossoró-RN para o Encontro Regional de Estudantes de
Serviço Social – 2015)48.
No fim da aula a aluna que estava com um braço imobilizado pediu para falar, disse: “Mesmo
dentro do Serviço Social que é uma profissão majoritariamente de mulheres, os homens têm
muito mais visibilidade, basta vermos os autores, existem muitos homens autores
reconhecidos no Serviço Social, mesmo estes sendo minoria”. (Trecho de diário de campo
construído no dia 16 de junho de 2015, sala de aula do curso de Mestrado em Serviço Social).
O segundo grupo tem apenas uma menina e um rapaz. Apenas o menino apresentou o
trabalho. A menina apenas segurou o cartaz. Em seguida, após a apresentação, as perguntas
feitas pela professora também só foram respondidas pelo aluno. (Trecho de diário de campo
construído no dia 19 de junho de 2015, sala de aula do curso de graduação em Serviço
Social).
A aula inaugural organizada tem programação distribuídas em dois turnos: manhã e tarde.
Ao final, pude perceber que o desenho foi: 1º) Três professoras/pesquisadoras mulheres,
dividiram o turno da manhã, debatendo temáticas relativas às questões de gênero, raça e
sexualidade (feminismo, movimento negro e movimento LGBT). Eram professoras da casa e
ambas tiveram, em média, 30 minutos para fala. O debate teve um tempo reduzido, no
máximo 20 minutos. 2º) Toda a tarde foi destinada à fala de um único professor homem que
falou sobre a crise do capital. Por meio disso me indago: o privilégio de tempo para fala é
decorrente do fato de o professor abordar uma temática cara ao Serviço Social e por meio de
uma abordagem hegemônica no Serviço Social – marxista? Assim, me veio à mente que os
autores homens consagrados no Serviço Social, todos que eu lembre neste momento,
comungam desta vertente teórica hegemônica. (Trecho de diário de campo construído no
dia 17 de setembro de 2015, Aula Inaugural do Departamento de Serviço Social).

Muitas abordagens feministas das ciências (SCHIENBINGER, 2001; HARDING, 1996;


MATIAS DOS SANTOS, 2012) revelam que ainda se fazem presentes nos espaços de construção
das ciências, tais como as universidades, mecanismos discriminatórios de gênero (sutis ou
explícitos) que impõem às mulheres maiores obstáculos se comparados aos seus pares homens.
Tais obstáculos são intensificados se as mulheres buscam construir suas carreiras científicas em
espaços de predominância masculina. Mesmo havendo disputas epistemológicas, no âmbito dos
estudos feministas e de gênero esta discussão já está consolidada. Entretanto, ainda são
incipientes as abordagens sobre a inserção de homens em áreas de conhecimento construídas
como feminilizadas.

Nesta seara, encontrar num espaço acadêmico-científico ocupado por uma maioria de mulheres
um ambiente profícuo para o desempenho acadêmico-científico de homens, nos fez imaginar:

48
  Esta  observação  foi  realizada  pelo  estudante  de  graduação  em  Serviço  Social  William  de  Lima  Santana.  Nossos  agradecimentos  pela 
colaboração com a pesquisa. 

 
205
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Todo e qualquer homem consegue projetar-se na formação em Serviço Social na UFPE? Haveria
um “padrão” entre aqueles que conseguem se destacar? Quem são estes homens de destaque?
Podemos responder. Eles são cisgênero, heterossexuais e brancos.

Referências

BORN, Claudia. Gênero, trajetória de vida e biografia: desafios metodológicos e resultados


empíricos. Sociologias. N. 5, ano 3, Porto Alegre, jan./jun. 2001. (240-265p.)

BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. Tradução
de Denice Barbaba Catani. São Paulo: Editora UNESP, 2004.

BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do ―sexo‖. IN: LOURO,
Guacira Lopes. (Org.) O corpo educado – pedagogias da sexualidade. 3 ed. Tradução de Tomaz
Tadeu da Silva. Belo Horizonte-MG: Autêntica editora, 2010. (151-172p.)

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da


perspectiva parcial. Cadernos Pagu (5) 1995. (p. 07-41).

HARAWAY, Donna. Situated Knowledge: the science question in feminism and the privilege of partial
perspective. In: LEDERMAN, Muriel e BARTSCH, Ingrid. The gender and science reader. London/New
York, Routledge, 2001.

HARDING, Sandra. Ciencia y feminismo. Traducción de Pablo Manzano. Madrid: Ediciones


Morata, 1996. (Colección Psicología Manuales)

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós estruturalista. 13
ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 2000.

MATIAS DOS SANTOS, Vívian. A abordagem biográfica na crítica feminista às ciencias. IN:
CORDEIRO, Rosineide; KIND, Luciana. Narrativas, gênero e política. 1. Ed. Curitiba, PR: CRV,
2016. (101-120p.)

MATIAS DOS SANTOS, Vivian. Sobre mulheres, laboratórios e fazeres científicos na Terra da Luz.
(Tese). Programa de Pós-graduação em Sociologia, Doutorado em Sociologia. Fortaleza: UFC,
2012.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal – Das linhas globais a uma
ecologia dos saberes. Novos estudos – CEBRAP, n. 79, São Paulo, Nov. 2007. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/nec/n79/04.pdf>. Acesso em: 10 maio 2010.

SCHIENBINGER, Londa. O feminismo mudou a ciência? Tradução de Raul Fiker. Bauru: EDUSC,
2001. (Coleção Mulher)

 
206
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

SUJEITOS MASCULINOS EM ESPAÇOS FEMININOS: O QUE


DIZEM OS ESTUDANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA DA
UFPE/CAA
Marciano Antonio da Silva49; Allene de Carvalho Lage50
Universidade Federal de Pernambuco- UFPE/CAA
marcianoufpe@gmail.com
allenelage@yahoo.com.br

Resumo: Este artigo se propõe a discutir as principais implicações que decorrem da presença de
estudantes homens no do curso de pedagogia. Desse modo, objetivamos a partir de uma discussão
teórica tratar das experiências, desafios e percepções sinalizadas por esses sujeitos. Buscando
discorrer acerca dessas indagações, trazemos como questão norteadora do nosso trabalho “Quais
as implicações decorrentes da presença de estudantes homens no curso de pedagogia da
UFPE/CAA?” Entendemos que tecer considerações acerca da referida temática perfaz um longo
caminho e requer um conjunto de procedimentos teóricos/metodológicos para que venhamos
alcançar nossos propósitos. Para tanto, é preciso compreender que as relações de gênero presentes
na contemporaneidade compreendem um conjunto práticas e representações que foram
direcionadas para homens e mulheres, estando essas atravessadas por uma série de desigualdades
e fundamentadas numa construção sociocultural. Sob este viés, os espaços de atuação docente
nas séries iniciais, assim como os cursos de formação docente, mas especificamente o curso de
pedagogia, vem sendo direcionado para um público específico, por compreenderem situações
naturalizadas no imaginário social enquanto lugares femininos. Considerando tais acepções,
partimos das experiências vivenciadas por estudantes homens do curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico do Agreste, onde aplicamos um
questionário com os estudantes, buscando destacar as vivências desses sujeitos a partir de sua
presença nesse espaço que sofreu um processo de feminização ao longo da história.
Desenvolvemos uma discussão teórica à luz de autores(as) como Connell (1995); (1997), Connell
e Messerschmidt (2013), Carvalho Filho (1998), Medrado e Lyra (2008), Louro (2008) e Rabelo

49
 Licenciando em Pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco/ Campus Acadêmico do Agreste. E‐mail: marcianoufpe@gmail.com  
50
  Professora  Doutora  Associada  no  Curso  de  Pedagogia  da  Universidade  Federal  de  Pernambuco  –  Campus 
Acadêmico  do  Agreste  –  Núcleo  de  Formação  Docente  (UFPE/CAA/NFD),  do  Programa  de  Pós‐graduação  em  Educação  Contemporânea 
UFPE/CAA e do Programa de Pós‐graduação em Direitos Humanos UFPE/CAC. E‐mail: allenelage@yahoo.com.br 

 
207
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

(2010), os quais nos possibilitaram extrair novas compreensões acerca das temáticas trabalhadas.
O percurso metodológico adotado no desenvolvimento do estudo parte da pesquisa qualitativa
discutida por Deslandes (1994), onde realizamos um estudo de caráter explicativo Gil (2009).
Utilizamos também o Método do Caso Alargado, desenvolvido por Boaventura de Sousa Santos
(1983) que nos possibilitou tratar dos dados a partir de uma análise minuciosa. Nossas
considerações sinalizam que o curso de pedagogia se constituiu enquanto um território feminino
no imaginário social, sendo materializado a partir de um conjunto de práticas que reiteram
estereótipos, estranhamentos com a presença de homens nesse espaço.

Introdução

Tecer um olhar para as relações de gênero presentes na contemporaneidade, constitui um


importante exercício para que possamos compreender como as estruturas moldadas no contexto
social e cultural são determinantes na ação de seus sujeitos e os efeitos ocasionados pelas mesmas.
Tal concepção pode ser constatada a partir da análise das diferentes estruturas das sociedades
presentes nos registros históricos, as quais foram organizadas a partir de um conjunto de modelos,
práticas e normas determinadas pelo/no contexto sociocultural, espaço geográfico e tempo.

Decorrente desse processo, diversos significados e sentidos foram sendo construídos em torno
dos gêneros e corpos dos sujeitos, passando a legitimar uma série de práticas enviesadas num
modelo postulado no/pelo imaginário social, assim como subordinar aquelas que não se
enquadravam nesse modelo imposto. Desse modo, potencializar uma discussão em torno desse
campo teórico-prático consiste num importante instrumento para que possamos desmistificar tais
construções arcaicas e romper com as desigualdades que decorrem desse processo, tendo em vista
que essas situações atendem aos interesses de determinados grupos hegemônicos que se utilizam
dessa ambivalência para favorecer a sobreposição dos seus interesses acerca dos demais.

Sob este viés, fica evidente que tais relações se encontram ancoradas num projeto de sociedade
moldado para atender uma lógica hegemônica, branca, cristã, masculina e burguesa, que
naturalizou no processo histórico verdades intocáveis. Vale salientar, que tais categorias se
encontram marcadas por uma série de desigualdades, intolerâncias e violências que cooperam
diretamente para manutenção de uma sociedade estruturada sob padrões hierárquicos.
Desconstruir essas situações legitimadoras de desigualdades perfaz um enorme desafio, pois,
diferentes espaços e instituições reforçam e reafirmam essas construções.

Seguindo essa linha de discussão epistemológica, os estudos desenvolvidos no campo das


temáticas de gênero e sexualidades tem potencializado uma problematização em torno dessas
questões. Perseguindo este objetivo, os enfoques nas discussões sobre masculinidades vêm
ganhando ênfase nas últimas décadas, tendo em vista que diversas práticas e representações
masculinas estão imbuídas por estruturas hegemônicas que cristalizaram modelos de ser homem.
Tal categoria, emerge principalmente a partir dos estudos desenvolvidos através do movimento
feminista que denuncia e coloca em cena determinadas práticas sociais como sendo legitimadoras
de desigualdades para as mulheres, na medida em que corroboram diretamente num processo de
subordinação para as mesmas, como aponta Medrado e Lyra (2008, p.824).

 
208
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Logo, ser homem numa sociedade patriarcal e machista, pressupõe um conjunto de normas,
expectativas e espaços para esses sujeitos. Para tanto, distanciar-se do padrão de macho viril, forte
e dominante imposto pelo patriarcado provoca um processo de estranhamento aos olhos da
sociedade, colocando a masculinidade desse sujeito em questão e atribuindo um conjunto de
sentidos estereotipantes com o intuito subalternizar o mesmo. Tratar dessas relações, evidencia o
quanto as questões de gênero e sexualidades precisam ser discutidas nos espaços sociais para que
assim possamos desmistificar essas teias hierárquicas.

Mediante esse processo, trazemos à cena os espaços de formação docente, mais especificamente
o Curso de Pedagogia, o qual vêm se constituindo historicamente no imaginário social enquanto
um espaço pertencente apenas ao público feminino. Vale salientar, que no Brasil o processo de
feminização do magistério decorre do início da produção industrial que possibilita aos homens
um novo mercado de trabalho, sendo este economicamente mais vantajoso, possibilitando as
mulheres ocuparem esses espaços como afirma Rabelo e Martins como uma extensão da educação
dos filhos.

Imersos nessas mudanças sociais, os cursos de licenciatura em pedagogia passam a serem


ocupados majoritariamente por mulheres, sendo reforçados pela ideia de que o público feminino
possui certa “vocação” para desempenhar um trabalho com as crianças. Influenciados nessa
concepção, a presença de mulheres é (re)afirmada segundo uma lógica na qual as mesmas
detinham de cuidados maternos, sendo esses considerados fundamentais nas atividades
desenvolvidas com crianças. Desse modo, um perfil de pedagogo(a) é condicionado nesse
processo e juntamente a eles são construídas um conjunto de características, expectativas e
sujeitos para ocuparem esse cargo.

Adentrando as seguintes questões, partimos dessas considerações para desenvolvimento do nosso


estudo, onde discorremos a partir dos registros presentes num questionário aplicado a 5
estudantes do sexo masculino do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de
Pernambuco/Centro Acadêmico do Agreste, Pernambuco, Brasil. Trazemos como questão
norteadora deste estudo “Quais as implicações decorrentes da presença de estudantes homens no
curso de pedagogia da UFPE/CAA?”

Tomamos como objetivo geral: Compreender as implicações que decorrem da presença de


homens no Curso de Pedagogia da UFPE/CAA. Os objetivos específicos: (i) Apontar as relações
de gênero presentes no curso pedagogia sinalizadas na fala dos sujeitos; (ii) Identificar as
principais experiências vivenciadas pelos estudantes.

Tecendo o perfil dos estudantes de Pedagogia da UFPE/CAA

Evidenciando o desenvolvimento do nosso trabalho que tem como objeto de estudo os estudantes
do sexo masculino do curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco/Centro
Acadêmico do Agreste, consideramos fundamental antes de adentrar nosso objetivo principal,
sinalizarmos a proposta curricular que fundamenta as diretrizes do curso para que tenhamos uma

 
209
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

clareza acerca de sua estrutura, compreendendo que a mesma influenciará diretamente no


processo de formação e perfil de seus sujeitos.

O projeto pedagógico do referido curso encontra-se fundamentado nas Diretrizes Nacionais para
o Curso de Pedagogia (Parecer CNE/CP5/2005), considerando as metas do Projeto de
Interiorização da Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico Agreste, Julho de
2005. Sua proposta curricular, focaliza principalmente a formação de gestores educacionais e de
educadores comprometidos com a cultura popular regional e com os movimentos sociais,
conforme destaca o referido projeto pedagógico do curso.

A Licenciatura em Pedagogia se propõe a desenvolver uma práxis educativa, tendo em vista


que o profissional da educação adquira uma visão ampla do fazer docente ao relacioná-lo
com as tensões históricas em que está inserido e que domine saberes e competências
relacionadas às especificidades da sala de aula. Nesse sentido, o curso oferecerá uma cultura
geral e profissional; conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos, aí incluídas
as especificidades dos alunos com necessidades educacionais especiais; conhecimento sobre
a dimensão cultural, social, política e econômica da educação; conteúdos das áreas de
conhecimento que serão objeto de ensino; conhecimento pedagógico; conhecimento
advindo da experiência; aproximação reflexiva e propositiva entre a instituição formadora e
os espaços de atuação profissional escolar e não-escolar; pesquisa sobre a relação escola e
sociedade, as práticas organizativas do trabalho escolar/não-escolar e do processo de ensino-
aprendizagem (Projeto Pedagógico, 2005, p.15)

Esclarecidas algumas peculiaridades do Curso de Pedagogia da UFPE/CAA, iremos deter nosso


foco nos seus sujeitos, para que assim venhamos atender os objetivos traçados. Entendemos que
aprofundar uma análise em torno do perfil dos estudantes torna-se fundamental para
compreendermos como o processo formativo vem operando para identidade profissional desses
sujeitos, atentando para as experiências, percepções, aspirações, desafios e obstáculos destacados
pelos mesmos.

No processo de escolha dos nossos sujeitos, optamos por desenvolver um trabalho com os
estudantes que compõem os anos finais do curso, por compreendermos que esses sujeitos já
vivenciaram uma série de experiências que nos possibilitarão tecer uma análise mais ampla acerca
do nosso estudo. Visando facilitar o processo de interpretação de dados, traçamos um quadro de
análise com algumas informações que consideramos fundamentais sobre os estudantes. Os
sujeitos serão identificados aqui por E1, E2, E3, E4 e E5 (Estudante), objetivando preservar a
identidade dos mesmos. 51

51
 Caracterização dos estudantes homens do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco/Centro Acadêmico do Agreste. 

 
210
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

EXERCE/EU
ESTADO ORIENTAÇÃO
SUJEITOS IDADE PERÍODO A
CIVIL SEXUAL
PROFISSÃO
E1 28 Solteiro 10 Homossexual Sim
E2 30 Solteiro 10 Homossexual Sim
E4 33 Solteiro 9 Heterossexual Não
E5 23 Solteiro 8 Heterossexual Sim
E6 26 Solteiro 7 Homossexual Sim

O processo de escolha pela graduação em pedagogia na UFPE/CAA é destacado por 4


estudantes como sendo decorrentes de vários fatores, entre eles a disponibilidade de cursos na
região, ser uma instituição a nível federal e pela amplitude que o campo das ciências humanas
possibilita, no entanto, os mesmos afirmam que não foi sua primeira opção de curso. Assim,
apenas um sujeito teve a graduação em pedagogia como primeira opção, o mesmo destaca que
optou pelo curso por ter realizado o ensino médio na modalidade normal médio (antigo
magistério) e já ter uma clareza sobre a proposta do mesmo. Essas narrativas apresentadas pelos
sujeitos apontam que a adesão do curso de pedagogia por homens na sua grande maioria não se
dá livremente, mas decorre de uma série de fatores que induzem os sujeitos para o mesmo.

Homens e Masculinidades: Considerações em torno das experiências vivenciadas pelos


estudantes

Os estudos desenvolvidos em torno das masculinidades traduzem um campo de discussão teórica


recente no mundo cientifico, tendo em vista, que as discussões acerca das temáticas de gênero e
sexualidade(s) inicialmente estiveram voltadas para os estudos sobre mulheres, feminismos ou
feminilidades, como aponta Rabelo (2010, p.163). Desse modo, tecer considerações em torno
desse campo teórico requer que tenhamos metodologias claras e uma análise detalhada acerca do
mesmo. Connell (1997) sinaliza que “Los enfoques semióticos abandonam el nível de la personalidade y
definen la masculinidade mediante un sistema de diferencia simbólica en que se contrastan los lugares
masculino y feminino. Masculinidad es, em efecto, definida como no-femineidad (CONNELL, 1997, p.5).

Partindo da concepção apresentada por Connell (1997), destacamos que os lugares ocupados
pelos homens estão marcados por um simbolismo que determina quais práticas e espaços são
aceitáveis para seus sujeitos. Assim, na medida em que esse processo hierarquiza determinadas
práticas, o mesmo também nega tantos outras, por compreender que as relações entre o gênero
masculino e feminino estão atravessadas pela sobreposição de uma sob a outra. Neste sentido, as
ações determinadas por um modelo de masculinidade hegemônica são credíveis e consideradas
legitimas, enquanto aquelas que não se enquadram nesse modelo são associadas ao feminino ou
a homossexualidade e rotuladas enquanto algo negativo. Para Carvalho Filho (2008)

 
211
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

As práticas corporal-reflexivas formam e são cultivadas por estruturas que têm um peso e uma
solidez histórica, constituindo um mundo titular de uma dimensão corporal, biologicamente
condicionada, já que os corpos não são meios neutros de prática social. Sua materialidade
importa: eles farão certas coisas e outras não. Desempenham papel substantivo no
agenciamento social, gerando e talando trajetórias de conduta no trabalho, no sexo e no
esporte (CARVALHO FILHO, 2008, p.3)

Logo, fugir dessa via de regra e não ocupar os lugares marcados por essa convenção social que é
posta para homens e mulheres na sociedade, gera um processo de estranhamento, na medida em
que os interesses da classe dominante não são atendidos e nem se enquadram num modelo de
masculinidade considerado como legitimo e credível. Contudo, os sujeitos masculinos em
espaços femininos sofrem um processo de deslegitimação, sendo estes estigmatizados,
descredenciados e rotulados no intuito de suprimi-los por não se enquadrarem num modelo de
masculinidade hegemônica, o qual Connell e Messerschmidt (2013) destacam que

A masculinidade hegemônica se distinguiu de outras masculinidades, especificamente das


masculinidades subordinadas. A masculinidade hegemônica não se assumiu normal num
sentido estatístico; apenas uma maioria dos homens talvez a adote. Mas certamente ela é
normativa. Ela incorpora a forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os
outros homens se posicionem em relação a ela e legitima ideologicamente a subordinação
global das mulheres aos homens (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013, p.245)

Os homens que fogem da regra imposta sofrem um processo de estigmaização e preconceito, onde
sua orientação sexual por sua vez é contestada e sua figura associada ao homossexual, pois, sob
uma lógica patriarcal o mesmo é visto enquanto um ser inferior, logo, menosprezado pelos seus
parceiros. Podemos constatar essa situação nos relatos destacados pelos estudantes de pedagogia
que sofrem esse processo de rotulação devido se encontrarem num espaço composto em sua
maioria por mulheres.

[...] um determinado dia quando estava voltando da aula quando já estava dentro do ônibus
ouvi a conversa de alguns estudantes da licenciatura de Física se não me engano, onde os
mesmos conversaram a respeito do “público” de cada curso (generalizando mesmo) em um
dado momento da conversa ouvi um deles falar no curso de pedagogia em um tom irônico e
de deboche disse mais ou menos assim: ‘Em Pedagogia mesmo só tem veado’ [...]. (Relato do
E1, jul. 2016)

[...] algumas pessoas “do meu convívio social” diziam que a graduação em pedagogia era coisa
de homossexual. Mas com o passar dos tempos eles foram deixando esses conceitos. (Relato
do E3, set. 2016)

Seguindo o pensamento de Carvalho Filho (2008) e os relatos destacados, percebemos que o


Curso de Pedagogia constitui um espaço demarcado por estruturas de poder que detém as
relações de gênero presentes. Para efeito, diversos estereótipos (re)produzidos reforçam a lógica
que a pedagogia é o lugar da mulher, para além, torna-se também o local do “veado” termo
pejorativo52 para se referir ao homossexual, ambos visto sob uma ótica de inferioridade. Contudo,

52
 O termo gay não é mais considerado pejorativo. 

 
212
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

esses lugares para além de sofrerem esse processo de rotulação, são naturalizados pelas instituições
e espaços que corroboram para sua manutenção.

As experiências sinalizadas nos questionários (re)afirmam que essas concepções estão arraigadas
nesses estereótipos, reiterando tais construções culturais legitimadoras dessas desigualdades. Ao
questionar os colaboradores do estudo se houve alguma reação negativa por parte dos sujeitos
presentes no seu convívio social a partir de seu ingresso no curso de pedagogia, os mesmos
destacam

Sim, não apenas por ser um curso que predominantemente é composto por mulheres, mas
também pelo fato de se trabalhar com crianças no sentido do cuidar pelo cuidar. (Relato do
E3, jul. 2016)

Sim. Principalmente por parte das instituições escolares, pois mesmo com uma grande
quantidade de homens se tornando pedagogos e querendo trabalhar na educação infantil e
fundamental, ainda existe receios e preconceitos sobre deixar homens ocuparem esses cargos,
dando preferência a mulheres para as vagas (mesmo com qualificação e experiências menores
que a nossa). (Relato do E5, ago. 2016)

Por parte de minha família, não. Porém, por parte de alguns dos meus amigos e pessoas
próximas a mim, sim. Me perguntavam o por que de eu querer cursar algo que era voltado
para o público feminino e se eu queria mesmo ser professor de crianças pelo resto da vida,
por ser uma “profissão de mulher”. (visão arcaica/tradicional de uma sociedade machista em
que atualmente vivemos). Obs.: encontro esse tipo de pré-conceito ainda hoje, já na fase de
conclusão do curso. (Relato do E2, jul.2016)

Com efeito, as relações de gênero que perpassam o Curso de Pedagogia se encontram


condicionadas numa ordem social demarcada por hierarquias, as quais reiteram desigualdades
para aqueles que não atendem o sistema patriarcal. Nessa perspectiva, também evidencia que os
arranjos sociais se reconfiguram em diversos espaços e ocasionam uma série de mudanças no seu
funcionamento, como afirma Louro (2008) “A construção dos gêneros e das sexualidades dá-se
através de inúmeras aprendizagens e práticas, insinua-se nas mais distintas situações, é
empreendida de modo explícito ou dissimulado por um conjunto inesgotável de instâncias sociais
e culturais. É um processo minucioso, sutil, sempre inacabado” (LOURO, 2008, p.18). Connell
(1995) nos possibilita ampliar esse olhar ao destacar que

O gênero é, nos mais amplos termos, a forma pela qual as capacidades reprodutivas e as
diferenças sexuais dos corpos humanos são trazidas para a prática social e tornadas partes do
processo histórico. No gênero, a prática social se dirige aos corpos. Através dessa lógica, as
masculinidades são corporificadas, sem deixar de ser sociais. Nós vivenciamos as
masculinidades (em parte) como certas tensões musculares, posturas, habilidades físicas,
formas de nos movimentar, e assim por diante (CONNELL, 1995, p. 189)

Reduzir a ação do/a pedagogo/a enquanto uma atividade exclusivamente feminina parte do
princípio de corporificação dos sujeitos baseado numa prática social como apresenta o autor. Essa
ideia reforça o estereotipo de que a função do pedagogo se resume as atividades de cuidadora,

 
213
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

reiterando o imaginário de uma mãe, dócil, delicada, habilidosa com o trabalho com crianças e
criativa, enquanto o homem passa a ser é rude, grosso para tais ações.

Connell e Messerschmidt (2013, p.250) destacam a existência de diversas masculinidades,


entendendo as mesmas enquanto “[...] configurações de práticas que são realizadas na ação social
e, dessa forma, podem se diferenciar de acordo com as relações de gênero em um cenário social
particular”. Pensarmos a inserção dos homens no Curso de Pedagogia, pontua para um modelo
de masculinidade suprimida por um padrão hegemônico, entendendo que esses sujeitos
enfrentam diversas barreiras desde a realização do estágio obrigatório à tentativa de adentrar no
mercado de trabalho, pois, não correspondem a um modelo que foi cristalizado no imaginário
social e é cogitado pelas instituições.

O processo de resistência é destacado pelos sujeitos que compõem estes espaços, onde os mesmos
evidenciam as principais dificuldades que são encontradas, principalmente quando se trata da
modalidade de educação infantil. Desse modo, ao perguntar se houve alguma resistência,
estranhamentos com sua chegada nas instituições de ensino, os mesmos destacam que,

Sim, principalmente no estágio na educação infantil. Em relação principalmente aos pais e


responsáveis pelos alunos. Era notório a cara de espanto da maioria ao ver um homem
comandando uma sala com crianças de 3 a 6 anos. Alguns chegaram a questionar a gestora
da escola o motivo de estarmos ali”. (Relato do E5, ago. 2016)

Eu diria que houve uma resistência silenciada na medida em que de início fui aceito no
espaço no qual pude desenvolver todas as atividades relacionadas a disciplina. Entretanto, os
olhares, os gestos e determinadas atribuições determinavam o que o estagiário (homem)
poderia ou não fazer em determinado ano do ensino fundamental o que descarta qualquer
possibilidade do profissional pedagogo atuar na educação infantil. (Relato do E1, jul. 2016)

(...) não senti estranhamento por parte da professora a qual divido sala, nem por parte das
demais professoras. Mas percebe-se no inicio um estranhamento por parte dos pais e de
outros que chegam a escola. (Relato do E4, ago. 2016)

Os relatos comprovam que a profissão do/a pedagogo/a constitui um espaço demarcado por
estruturas do patriarcado, sendo evidenciadas a partir de construções em torno dos sujeitos e seus
corpos.

Ressignificando os espaços: A presença/resistência de homens no curso de Pedagogia

É inegável que o Curso de Pedagogia tem se constituído enquanto um espaço feminino,


reafirmando através de suas ações um conjunto de práticas que condicionam os sujeitos para
operar através dessas estruturas. Assim, a presença do homem nesse contexto representa
primeiramente um processo de resistência, pois, o mesmo se nega a corresponder às expectativas,
normas, que são impostas sobre o seu corpo e se encontram dentro do modelo “aceitável”
imposto pelo patriarcado. Posteriormente, corrobora para um processo de (des)construção, pois,

 
214
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

ressignifica o espaço e rompe com as estruturas arcaicas que vem operando em todos os espaços
sociais. O E4 ao se referir a sua escolha pelo Curso de Pedagogia destaca que

[...] minha presença também é um ato político, isto é, é a forma que encontro de reivindicar
um espaço negado a mim e a outros colegas. Sei também que a presença do ser masculino
nos anos iniciais de ensino, contribui para o processo de profissionalização docente. Isso
porque o pensador Hypolito vai nos dizer que a massiva presença feminina nesse nível de
ensino contribui para a desprofissionalização docente através de baixos salários. Não estou
querendo dizer que minha presença vai mudar o quadro, mas certamente irá abrir portas
para outros e outros homens. (Relato do E4, ago. 2016)

Como destacado pelo E4, sua representatividade enquanto homem num curso majoritariamente
feminino constitui um importante ato político, pois, se contrapõe com aquilo que é imposto
socialmente. No entanto, salientamos que outros esforços são necessários para romper com os
estereótipos e estigmas que se encontram presentes nesse espaço, objetivando avançar numa
proposta que modifique esse quadro. Principalmente ressignificar os sentidos atribuídos aos
homossexuais por essa sociedade LGBTfobica, misógina e machista em que nos encontramos
inseridos, pois, os mesmos cooperam para o quadro de violência sofridos por esses sujeitos.
Diante dessa categoria, Rabelo (2010) pontua que os estudos desenvolvidos no campo das
discussões sobre gênero e sexualidades contribuem para

[...] a análise dos homens em actividades sociais socialmente consideradas como femininas.
Deste modo, o seu trabalho ou tarefa entra em conflitualidade com as expectativas e pode
mostrar excepções aos padrões de género ou tentativas de reafirmação. Enfim, os estudos de
género entendidos de uma forma ampla ajudam a compreender os conflitos, resistências,
reafirmações, satisfações e sucesso destes homens (e vice-versa) (RABELO, 2010, p.164)

Emergindo dessa categoria de discussão epistemológica, destacamos que o Curso de Pedagogia


da UFPE/CAA oferta o componente curricular eletivo Gênero e Sexualidade, o qual tem
possibilitado tratar dessas questões em meio ao processo formativo de seus sujeitos. Para tanto,
os componentes curriculares obrigatórios como Movimentos Sociais e Educação, Fundamentos
Psicológicos da Educação I e II tem avançado nessa proposta e proporcionado significativas
mudanças, de modo a reeducar o pensamento de seus sujeitos e prepara-los para romper com
essas desigualdades na sua prática enquanto pedagogo e cidadão defensor dos direitos humanos.
A ação desses componentes constitui uma proposta inovadora e avança para alcançarmos uma
sociedade mais justa na aquisição de direitos, principalmente para as minorias sociais que
historicamente estiveram à margem da sociedade e das políticas públicas.

Esses arranjos sociais evidenciam que configurações de uma masculinidade hegemônica


cristalizaram um padrão de homem-branco-heterossexual-cristão-burguês para ser tomado como
referência. Contrapor-se a esse modelo perfaz um caminho árduo, mas fundamental para que
venhamos denunciar e romper com as hierarquias que são postas sob o gênero e corpos dos
sujeitos. Connell (1997) explica que

La prática social es creadora e inventiva, pero no autónoma. Responde a situaciones


particulares y se genera dentro de estructuras definidas de relaciones sociales. Las relaciones
de género, las relaciones entre personas y grupos organizados en el escenario reproductivo,

 
215
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

forman una de las estructuras principales de todas las sociedades documentadas (CONNELL,
1997, p.6)

Sendo assim, reformular as representações moldadas pelos grupos sociais se configura enquanto
uma estratégia para avançar numa proposta que ressignifique esses sujeitos, suas relações e os
espaços onde os mesmos se encontram presentes.

Percurso Metodológico

No desenvolvimento do nosso estudo, o percurso metodológico adotado foi fundamental para


que pudéssemos avançar numa proposta que respondesse os objetivos suscitados no decorrer do
trabalho. Para tanto, discorrer a partir dos estudos desenvolvidos no campo das masculinidades
constituiu-se um grande desafio, tendo em vista que trata-se de uma abordagem recente nas
discussões de gênero e sexualidades. Interpretar os relatos dos sujeitos exigiu uma metodologia
que potencializasse extrair dos questionários os sentidos contidos nos relatos dos mesmos. Assim,
tomamos como ponto de partida as considerações postas por Lage (2013), onde a mesma destaca
que

O caminho epistemológico para a (re)elaboração do conhecimento tem coerência e


desdobramentos que articulam todos os passos de uma pesquisa. Trata-se pois, de um
caminho seguro que é marcado em primeiro lugar pela Problematização, seguido pela
definição do Problema e do Objetivo Geral (LAGE, 2013, p.51).

Seguindo este caminho epistemológico apontado por Lage (2013), nosso estudo se encontra
ancorado dentro de uma abordagem qualitativa, pois permitiu adentrar os estudos sobre
masculinidades e posteriormente extrair um conjunto de sentidos acerca do mesmo. Deslandes
et. al. (1994, p.21) destaca que a pesquisa qualitativa “[...] trabalha com o universo dos
significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”, portanto,
permite ao pesquisador deter uma análise minuciosa em torno do seu objeto de estudos.

Para tratar dos relatos presentes nos questionários, nos utilizamos do Método do Caso Alargado
desenvolvido por Boaventura de Sousa Santos (1983), o qual nos possibilitou tecer nossas
considerações sem perder nosso objetivo principal. Contudo, permitiu tratar das questões
detalhadamente e apontar as variáveis presentes no fenômeno estudado, tomando como foco os
estudos desenvolvidos acerca das masculinidades. Santos (1983) destaca que o Método do Caso
Alargado

Em vez de reduzir os casos às variáveis eu os normalizam e tornam mecanicamente


semelhantes, procura analisar, com o máximo de detalhe descritivo, a complexidade do caso,
com vista a captar o que há nele de diferente ou único. A riqueza do caso não está no que
ele é generalizável, mas na amplitude das incidências estruturais que nele se denunciam pela
multiplicidade e profundidade das interacções que o constituem (SANTOS, 1983, p.11).

Nesta perspectiva, nos utilizamos também dos procedimentos da pesquisa explicativa, a qual nos
permitiu “[...] identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos

 
216
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque
explica a razão, o porque das coisas” (GIL, 2008, p.28). Desse modo, permitiu responder nossas
indagações e explicar a ordem dos fatores.

Considerações Finais

Nosso estudo teve como objetivo principal adentar as principais experiências vivenciadas pelos
estudos do curso de pedagogia da UFPE/CAA, entendendo as implicações que decorrem desse
processo de formativo, pois, no imaginário social a pedagogia constitui-se enquanto um espaço
exclusivo de/para as mulheres. Inicialmente, destacamos algumas informações desses sujeitos,
objetivando ter uma clareza acerca do perfil dos mesmos. Posteriormente, adentramos os estudos
sobre gênero e sexualidade, com enfoque nas discussões sobre masculinidades para que assim
pudéssemos compreender tais relações. Logo, apontamos algumas experiências e expectativas
destacadas por esses sujeitos, entendendo o conjunto de situações que sua presença no curso de
pedagogia implicava.

No que se refere ao perfil dos estudantes, constatamos que detemos um público diverso, o qual,
embora apresente algumas características semelhantes, suas vivencias e percepções trilham
diferentes caminhos na sua prática enquanto futuro pedagogo. Acreditamos que as experiências
destacadas pelos estudantes cooperam diretamente na sua formação, pois, potencializam
(re)significar um espaço que encontra-se imbuído por preconceito e construções arcaicas.

Quanto a presença desses sujeitos no curso de pedagogia, constatamos que sua permanência
evidência um significativo processo de resistência, pois, (re)configura um quadro que se encontra
demarcado por um sistema patriarcal. Contudo, na medida em que (re)significa o espaço,
possibilita desconstruir uma série de estereótipos e estigmas que fortalecem essas construções
sociais. Assim, a pedagogia deixa de ser um espaço exclusivo de mulheres e passar a compreender
um espaço igualitário para todos/as, apesar da pouca presença de homens como estudantes.

Sob outro olhar, as experiências relatadas no estágio e ao exercer atividades profissionais,


apontam o quanto é difícil para os homens se inserir nesses espaços e como os estereótipos se
encontram enraizados nos mesmos. Vale destacar que esse processo torna-se mais dificultoso
quando tratamos do contexto da educação infantil, por essa atividade demandar o tocar, o limpar
a criança. Assim, (re)pensar, (re)significar essas práticas corresponde uma tarefa urgente para que
possamos romper com essas estruturas.

Por fim, nossas considerações apontam que o Curso de Pedagogia mais que delimitado para
determinados sujeitos, o mesmo também se encontra arraigado por um conjunto de fatores que
moldam seus sujeitos numa lógica hegemônica e patriarcal.

 
217
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Referências Bibliográficas

BRASIL. “Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia”. Caruaru (2008)


https://www.ufpe.br/pedagogiacaa/images/documentos/projetopedagociopedagcaa.pdf

CONNELL, Robert W. “Políticas da Masculinidade”, Educação & Realidade (1995):185-206.

CONNELL, Robert W. “La Organización Social de la Masculinidad”. Biblioteca Virtual de


Ciencias Sociales (1997),

http://higualitaris.grunyi.net/wordpress/wp-content/uploads/organizacion-social-
masculinidad-connell.pdf

CONNELL, Robert W.; MESSERSCHMIDT, James W. “Masculinidade hegemônica:


repensando o conceito”, Estudos Feministas, (2013): 241-282.

DESLANDES, Suely Ferreira. et. al. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis:
Vozes, 1994.

CARVALHO FILHO, Silvio Almeida. “A masculinidade em Connell: os mecanismos de


pensamento articuladores de sua abordagem teórica”. XIII Encontro de História da Anpuh
(2008)
http://encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1212953291_ARQUIVO_Comu
nicacaoSilviodeAlemeidaCarvalhoFilho.pdf

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Ed. Atlas, 2008.

LAGE, Allene. Educação e Movimentos Sociais: Caminhos para uma pedagogia de luta. Recife:
Ed. Universitária da UFPE, (2013).

LOURO, Guacira Lopes. “Gênero e sexualidade: pedagogias contemporâneas”. Pro-Posições,


(2008): 17-23.

MEDRADO, Benedito; LYRA, Jorge. “Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre
homens e masculinidades”. Estudos Feministas (2008)
https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2008000300005

RABELO, Amanda Oliveira. “Contribuições dos estudos de género às investigações que enfocam
a masculinidade”. Ex æquo (2010)
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-55602010000100012

 
218
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

SER HOMEM É SER MACHISTA... É PEGAR MULHER? O QUE


DIZEM JOVENS ARACAJUANOS
Francis Fonseca Oliveira; Claudiene Santos
Universidade Federal de Sergipe, Programa de Pós – Graduação em Psicologia Social
Grupo de Pesquisa Gênero, Sexualidade e Estudos Culturais/GESEC/CNPq/UFS
E-mail: francis_fonseca@hotmail.com; claudienesan@gmail.com

Introdução

Neste trabalho, colocamos a construção das masculinidades juvenis sob análise, sob a ótica dos
estudos de gênero e dos estudos culturais em sua vertente pós- estruturalista. A configuração deste
estudo é um recorte da pesquisa monográfica, apresentada na Universidade Federal de Sergipe,
intitulada “Estou indo embora, porque homem não chora”: (des)empoderamento dos homens e
as masculinidades contemporâneas de jovens aracajuanos.

A partir da crescente produção de conhecimentos não disciplinares, na segunda metade do século


passado, nasceram sob contextos de pós guerra, movimentos sociais, étnicos, raciais, sexuais, entre
outros, estudos preocupados com a problematização, delineamento e implicações da cultura nas
diversas estruturas sociais (WORTMANN; VEIGA-NETO, 2001; COSTA; SILVEIRA;
SOMMER, 2003). É esse cenário que foi se tornando palco de discussões voltadas a compreender
e abarcar as diversas maneiras de ser e estar sujeito, visando compreender fenômenos,
problematizar e ressignificar questões hegemônicas que hierarquizam e põem as identidades num
sistema relacional e assimétrico de relações de poder.

A perspectiva dos Estudos culturais na ciência rompe com a dualidade daquilo que é interno ou
externo à Ciência e à investigação científica, nos moldes contemporâneos e, passa a dar atenção a
questões como diferença, significados contestados e identidades (WORTMANN, VEIGA-NETO,
2001). Dentre as múltiplas identidades, destacamos aquelas relacionadas às de gênero e
masculinidades juvenis para compor o objeto de análise deste trabalho.

Por meio de múltiplos processos (sociais e culturais) diversas práticas discursivas nascem, ganham
legitimidade, são tomadas por verdades e passam a ser apropriadas e reiteradas pelos/as jovens.
Tais práticas interagem com processos de tomada de decisão que incluem e excluem modos de
ser e estar homem e mulher, pontuando e limitando lugares que cada um/a pode ocupar, tipos

 
219
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

específicos de corpos e comportamentos (LOURO, 2000). Em meio a diversos enunciados, por


meio das hierarquias discursivas, jovens vão construindo suas identidades, moldando as próprias
maneiras de ser e estar sujeitos, que se apresentam em estruturas de discursos (FOUCAULT,
1996). Neste contexto, as representações de gênero e sexualidade também são construídas e
problematizadas.

Para abranger a concepção dos aspectos socialmente e discursivamente construídos do processo


de identidade sexual, além do conceito de sexo (que por muito tempo foi utilizado como
sinônimo), o termo “gênero” foi criado a partir das lutas feministas anglo-saxãs (LOURO, 1997).

Pretendendo trazer o debate ao campo social, os movimentos feministas, os movimentos Gays e


Lésbicos e, mais recentemente, os movimentos masculinistas, movimentos de matriz feminista
no estudo de homens e masculinidades (MEDRADO, LYRA, 2008), problematizam e
questionam as identidades hegemônicas atribuídas a homens e mulheres.

Para Joan Scott (1995), o gênero é uma categoria analítica construída a partir da percepção sobre
as diferenças sexuais, a partir de significados culturais, atribuídos pelas relações sociais, além de
dar significado às relações de poder. Tais relações estão na ordem do dia e encontram-se
difundidas em relações institucionais, econômicas, amorosas, interações verbais e não verbais,
midiáticas, entre outras. São relações muito diversificadas e que se encontram em diferentes
situações e contextos, sob diferentes e (mais ou menos) complexas formas (MEDRADO; LYRA
2008).

Sob essa ótica apresentamos algumas questões relacionadas à constituição de masculinidades


juvenis. Assim, não só as mulheres são problematizadas nesse processo, mas também e,
principalmente, os homens, que encontram-se no outro polo desta dualidade (CONNELL,
MESSERSCHMIDT, 2013; WELZER-LANG, 2001).

Nolasco aponta que o masculino “enquanto verdade e modelo, vem sofrendo sucessivas
relativizações, chegando a ser um recurso de linguagem utilizado no cotidiano para sinalizar algum
tipo de jogo estabelecido entre indivíduos” (NOLASCO, 1995, p.27). Essas relações que vêm
sofrendo relativizações, vêm sendo problematizadas, mas, a hegemonia ainda é pano de fundo
para a construção subjetiva das masculinidades.

Referindo-se aos processos de subjetivação, Rosângela Soares (2000, p.152) aponta que a
subjetividade “não é um eu coerente e unificado, mas construída por uma série de identificações
(conscientes e inconscientes), que envolve adesão, como também resistências e contestações que
impedem um perfeito ajuste entre o pretendido e sua realização”. Adesões e resistências que
são percebidas de acordo com a vivência do sujeito no mundo e as relações com diversos
artefatos culturais.53 Permeados pela religião, família, mídia, entre outros, os jovens homens
interagem com as s práticas discursivas de maneira subjetiva e se apropriam de múltiplos modos
de ser e estar homens. O que possibilita, para alguns, uma visão crítica sobre aquilo que

53
Consideramos artefatos culturais os múltiplos discursos (da medicina, família, educação, igreja, dentre outros),
a mídia e as novas tecnologias (PARAISO, 2004).

 
220
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

culturalmente é imposto e, para outros, a reprodução desses conceitos culturais e mantém o


conforto de suas identidades hegemônicas, e, por isso (re)produzem também a hegemonia.

O masculino hegemônico é aqui considerado como um conjunto de atitudes, práticas e


expectativas que definem a masculinidade socialmente legitimada. Essa apropriação é fruto da
legitimação do patriarcado e da sociedade falocêntrica. Quanto ao termo “hegemonia”, não está
relacionado ao caráter de maioria, ou seja, não quer dizer que a maioria dos homens pertençam
a ela, mas que os consensos discursivos que se encontram em diversas identidades masculinas
efetivam e legitimam o plano de fundo hegemônico das identidades masculinas (CONNELL,
1995).

Problematizar esta hegemonia é uma tendência dos movimentos masculinistas, que reiteram a
concepção de re/des/construção de uma masculinidade hegemônica que "nega as diversidades
próprias dos homens, que têm classes sociais, raças/etnias, orientações sexuais, graus de
escolaridade diferentes. Fazendo as masculinidades alternativas, subordinadas e, assim
“desempoderando-as” (MEDRADO et al., 2004, p.49).

Mas de que modo ocorre esse desempoderamento? As relações baseadas no sistema falocêntrico
e patriarcal pressupõem que as masculinidades que gozam da hegemonia (branco, heterossexual,
classe média-alta, jovem, saudável) sejam legitimados no polo superior do poder, gerando sanções
positivas de relação. Aqueles que se distinguem dos padrões esperados, estão então no polo
inferior da relação de poder, e suas masculinidades são denominadas de subordinadas. A norma
hegemônica acaba por normatizar os corpos e as práticas masculinas, uma vez que “ela incorpora
a forma mais honrada de ser um homem, ela exige que todos os outros homens se posicionem
em relação a ela e, legitima ideologicamente a subordinação das mulheres aos homens”
(CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013, p.245) e entre homens (WELZER-LANG, 2001).

Assume-se nessa lógica que os homens precisam gozar de características hegemônicas para
socialmente usufruírem de sanções positivas nas relações. Dentre as diversas características
hegemônicas destacamos a de tema central nos estudos de gênero: a heteronormatividade. Sobre
ela, Louro define:

Supõe-se, segundo essa lógica, que todas as pessoas sejam (ou devam ser) heterossexuais – daí
que os sistemas de saúde ou de educação, o jurídico ou o midiático sejam construídos à
imagem e à semelhança desses sujeitos. São eles que estão plenamente qualificados para
usufruir desses sistemas ou de seus serviços e para receber os benefícios do Estado. Os outros,
que fogem à norma, poderão na melhor das hipóteses ser reeducados, reformados (se for
adotada uma ótica de tolerância e complacência); ou serão relegados a um segundo plano
(tendo de se contentar com recursos alternativos, restritivos, inferiores); quando não forem
simplesmente excluídos, ignorados ou mesmo punidos. (Louro, 2009, p.90)

A heternormatividade é difundida nos ambientes sociais por intermédio de diversos discursos


que hierarquizam as relações, perpassando estratégias de poder que impõem aos sujeitos e aos
corpos ocuparem posições de poder arbitrárias. É nesse viés que são reiteradas práticas que levam
à subjugação das masculinidades não hegemônicas. Entre as diversas práticas de poder estão,

 
221
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

principalmente, ações e discursos machistas, misóginos, lesbofóbicos, homofóbicos, transfóbicos


e bifóbicos.

Fundamentados nas perspectivas dos estudos culturais e de gênero buscamos compreender os


processos de subjetivação que levam à construção de masculinidades para uma parcela de jovens
aracajuanos. O objetivo principal deste trabalho foi questionar como as construções discursivas
vão acontecendo em diferentes contextos, permeadas por artefatos culturais que ditam e definem
maneiras e modos de ser homem. Buscamos investigar os discursos de jovens como estratégias de
poder, que agenciam os sujeitos a ocupar posições hierárquicas e visamos compreender as
percepções de jovens sobre as masculinidades e como as vivenciam.

Trajetória Metodológica

Neste trabalho, utilizamo-nos análise de conversação como abordagem de pesquisa qualitativa. A


escolha da metodologia qualitativa, para acessar as vivências juvenis de masculinidades, foco desse
trabalho, é apropriada, uma vez que ela:

Detêm o mérito de ter ampliado o marco compreensivo a partir do próprio sujeito e de seus
ambientes próximos e distantes, o que tem levado a uma tomada de posição diferente e que
permite maior aprofundamento analítico das cotidianidades adolescentes e juvenis, para, a
partir daí, promover a interlocução e interpelação aos contextos e estruturas sociais, como
também às instituições sociais. Semelhantemente, também podemos v i s u a l i z a r u m a
readequação ou modificação nos tipos de leitura ou eixos compreensivos das questões
constitutivas da condição adolescente e juvenil, onde ganhou uma importante relevância a
abordagem destas condições a partir de uma leitura sociocultural, mais desenvolvida
atualmente do que as leituras socioeconômicas e as sociopolíticas. Exemplo disto são os
estudos socioculturais e o âmbito das culturas juvenis (LEÓN, 2005, p.10).

A técnica de pesquisa através da entrevista mostra-se bastante eficaz no que diz respeito a alcançar
os objetivos deste trabalho, pois permite mapear práticas, crenças, valores e sistemas
classificatórios de universos sociais específicos, mais ou menos bem delimitados, em que os
conflitos e contradições não estão claramente explicitados. A realização de uma boa entrevista
exige que o/a pesquisador/a tenha seus objetivos bem definidos, bem como que tenha certo
conhecimento sobre o contexto em que pretende realizar sua investigação (DUARTE, 2004).

Foi utilizada a entrevista semiestruturada (TRIVIÑOS, 2009), com questões disparadoras do


diálogo, que versaram sobre os significados que jovens estudantes atribuem aos ser-homem,
aos relacionamentos afetivos-sexuais, relacionamento familiar, trabalho e perspectivas de vida no
cenário contemporâneo.

A entrevista semiestruturada “valoriza a presença do entrevistador, oferece todas as perspectivas


possíveis para que o informante alcance a liberdade e espontaneidade necessárias, enriquecendo
a investigação” (ROSA; AROLDI, 2008, p.146), além de ser flexível e propiciar aprofundamento
dos temas abordados (TRIVIÑOS, 2009).

 
222
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

As entrevistas foram realizadas em locais reservados, apenas com o entrevistador e entrevistado,


gravada em formato MP3 pelo computador e celular.

Os entrevistados

Esta pesquisa teve como sujeitos 10 jovens dos 1º anos do ensino médio, regularmente
matriculados num Colégio Estadual de Ensino Médio da capital sergipana.

Após autorização da escola, do coordenador e direção, foram convidados estudantes de 4 salas


com cerca de 40 alunos cada, entregues os termos de consentimento para posterior assinatura dos
pais e, apenas 10 estudantes cumpriram as datas estipuladas e se dispuseram a participar da
entrevista.

Os entrevistados possuem idade entre 14 e 16 anos, estudantes do 1º ano do ensino médio, 08 se


referem a si mesmos como heterossexuais e dois, bissexuais. Dos entrevistados, 08 entregaram o
termo de consentimento assinado pelos responsáveis e 02 deles assinaram o termo pois possuíam
a idade mínima de 16 anos, uma vez que nessa idade e, com a devida ciência e aprovação da
escola, os estudantes podem assinar por si (termo de assentimento).

A fim de manter o anonimato dos jovens entrevistados (res. 466/2012/CNS) foi utilizado um
nome fictício e todas as informações que permitissem identificá-los foram omitidas.

Procedimentos de análise

A análise da entrevista na perspectiva pós-estruturalista busca captar através da prática discursiva


o alcance do sentido nas narrativas dos sujeitos da pesquisa. Ela permite a apreensão do aspecto
argumentativo e interativo da situação nos depoimentos dos participantes (PINHEIRO, 2013).
O sentido é considerado uma construção social, que é des/re/construído na interação entre as
pessoas por intermédio das relações que são permeadas pelos artefatos histórico-culturais. Essas
relações entre as pessoas delimitam “termos a partir dos quais compreendem e lidam com as
situações e fenômenos a sua volta” (SPINK; MEDRADO, 2013. p. 22).

Das narrativas dos jovens homens aracajuanos, buscamos compreender por meio da análise das
práticas discursivas a produção de sentidos sobre as masculinidades. Para tal, foi utilizada a análise
de conversação, que objetiva:

entender as estruturas normativas do raciocínio que estão imbricadas na compreensão e


produção de formas de interação inteligíveis. A análise visa a descrever os procedimentos
usados para sustentar e negociar as relações sociais, tendo como foco a sequência de
interações (turn of talk) na conversação, sobretudo as interações que ocorrem,
preferencialmente, sem a intervenção do pesquisador (SPINK; FREZZA, 2013. p. 18)

 
223
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

A partir da análise dos relatos dos jovens, apresentamos nesse texto o sentido fortemente
encontrado de ser homem nos enunciados dos colaboradores. Retiramos a frase que intitula este
trabalho dos discursos de jovens aracajuanos que reforçam e legitimam uma masculinidade
hegemônica. Aqui, procuramos problematizar essas falas sob o recorte dos estudos culturais e de
gênero desvelando sob quais enunciados estão surgindo discursos sobre as masculinidades.

Ser homem é ser machista... É pegar mulher?

As discussões aqui apresentadas estão relacionadas às análises das concepções dos entrevistados
quanto à questão da masculinidade perpassadas pela transgeracionalidade, isto é, ao que é
transmitido de geração a geração. Esses sentidos emergiram nas falas de nove entrevistados, que
ao serem indagados sobre o que é ser homem ao longo do tempo, afirmam que perceberam uma
mudança substancial nessas concepções, remetendo suas percepções às relações intrafamiliares e
transgeracionais.

Sobre mudanças nos modos de ser homem, Samuel, Frederico, Roberto, Artur e

Marcos assinalam:

Samuel C02. Eu acredito que mudou com o tempo. Até na minha família mesmo já dá pra perceber a
diferença. Meu avô é muito másculo, não se depila, ele acha que a pessoa que se depila é gay, é essas
coisas assim, ele diz que tem aquelas coisas de padrão de vestir, essas coisas assim. Já meu pai é diferente,
ele acha que pessoas que utilizam camisa regata é mais másculo do que aquele que utiliza camisa justa.
E eu mesmo, não me importo, assim, tipo, de vista você não vai julgar uma pessoa por causa do jeito
que ela tá vestida.

Frederico C04. Mudou. O homem de antes, era tipo assim, mais cavalheiro, não namorava desde cedo.
Só queria um relacionamento sério. Não existia esse negócio de ficando com uma e com outra. E o
homem de hoje é difícil de ter um relacionamento, qualquer coisa é ficar com uma e com outra, a
traição é constante.

Roberto C07. Mudou. Antigamente na minha família era mais machista, meus tios, meus pais ainda
são muito machistas. Ele não gosta que eu fique com muita amizade com meninos. Quer mais com
mulher, entendeu? (piscada com o olho). E eu já mudo a personalidade, eu estando com homens e com
mulheres.

Marcos C05. Sim, antigamente o homem pegava muita mulher, trabalhar, arranjar uma mulher logo
para sustentar. Formar uma família, e hoje mudou um pouco as atitudes, tem a questão mais dos
estudos, não tá querendo tanto arranjar uma mulher para casar, só quer ficar.

Instaura-se aqui a perspectiva da identidade geracional, identidade que é representativa de uma


geração. Para Angelina Peralva (1997, p.20),

A consciência da identidade geracional deriva de uma tensão entre duas ordens de significados
expressos por gerações diferentes e é tanto mais forte quanto mais forte a própria tensão. Se
a tensão se dissolve, ou por mudança excessivamente lenta, ou por mudança

 
224
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

excessivamente rápida, já não há também possibilidade de cristalização de identidades


geracionais diferenciadas.

O que a autora discorre, representa que quanto maior a diferença (tensão) das concepções de
masculinidade entre gerações, maior a consciência geracional sobre o masculino, uma vez que
as diferenças demarcam melhor as concepções do masculino. Processos histórico-culturais
influenciam no grau de tensão entre as gerações, inferindo no desenvolvimento da consciência
de identidade geracional. Por isso, as construções históricas, culturais, sociais, entre uma geração
e outra, modelam percepções, que podem convergir ou divergir, na concepção de ser jovem,
homem e sujeito.

Os relatos dos entrevistados pontuam que a perspectiva ao masculino mudou


transgeracionalmente. Todavia, a heterossexualidade é ponto comum, do “homem de antes” e
do “homem de hoje”. A partir da análise, observamos que a hegemonia heterossexista é
(re)produzida em diversas instâncias sociais, em especial na família, empoderando (Roberto C07)
aqueles que nela se enquadram e, reprimindo os que dela se afastam.

A prática sexual de “pegar” e “ficar”542 com várias mulheres também é característica comum. Ao
ser reproduzida por diversas vozes, a heterossexualidade assume um posicionamento para a
concepção da masculinidade que perpassa gerações e reitera uma visão única da masculinidade.
Reconhecer tal opressão é perceber que as amarras socioculturais convocam os sujeitos a enfrentar
situações de preconceitos e discriminação e garantir oportunidades concretas de participação de
todos/as nos diversos ambientes sociais.

Também se pode inferir das falas, características relacionadas às vestimentas (Samuel) e ao


comportamento (Artur, Marcos) que atribuem ao corpo masculino um caráter que perpassa as
gerações, a matriz heteronormativa. Tal matriz é considerada por Butler (2008), como norma de
inteligibilidade cultural, que constrói no cenário histórico, social e cultural, marcas de ser sujeito
inteligível (aqueles que obedecem à ordem hegemônica).

Nesse cenário, a heteronormatividade, homofobia e misoginia são ensinados nos discursos


religiosos, familiares e midiáticos inseridos nos processos de socialização dos jovens (ANDRÊO,
2016). Essas instâncias criam e ratificam padrões de corpos masculinos, obrigando os jovens
homens a expor virilidade e força, enquanto escondem os sentimentos.

As falas de alguns colaboradores enunciam um padrão de homem “Bambambam”, o homem


hegemônico (homem-masculino-heterossexual), contestado e menosprezado por outros

54
Em uma pesquisa feita com jovens sobre as representações dos termos “ficar” e “pegar” os/as pesquisadores/as
encontraram as seguintes definições pegar é “um ato espontâneo, não repetível, sem compromisso e no qual o
interessa físico predomina, quer pela beleza ou pela sensualidade. [...] O ficar, por sua vez, é descrito como um
relacionamento em que os atores sociais possuem uma intimidade e uma proximidade maiores, se vêem em uma
frequência que pode adquirir uma regularidade e até desembocar em um namoro” (OLIVEIRA et al.. 2007, p.
500). Acreditamos que o mesmo sentido e atribuído nesta pesquisa pelos jovens entrevistados.

 
225
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

entrevistados. Artur, por exemplo, possui uma visão do masculino, que modificou-se de
acordo com o tempo, contestando o padrão que ele mesmo caracterizou como “Bambambam”.

Artur C08. Mudou bastante. É porque também eu tenho uma mente muito fantasiosa, pra mim
homem era aquele tipo de pessoa tipo desenho animado, que é o “tal”, o “bambambam”, se achava.
E hoje, depois de um tempo pra cá, eu percebi que não é bem isso. Eu percebi que é algo bem diferente
da realidade. O homem real é batalhador, sabe seus objetivos, quer muito bem. Não
demonstra seus sentimentos, tenta ser forte o bastante. (Grifos nossos)

Frederico ao ser questionado sobre qual figura masculina que desmerece, afirma:

Frederico C04. Tipo o homem que fica com a menina e sai dizendo a todo mundo. Tipo aquele dito
popular “Comeu! Ficou calado? Come de novo!”

Contrapondo o modelo de alguns entrevistados, o colaborador reflete sobre uma figura masculina
que existe mas que possui práticas que fazem, no olhar de Frederico, ser merecedores de
desempoderamento. Ao assinalar sobre o sigilo das relações, Frederico problematiza algumas
práticas do ambiente masculino que são de ordem depreciativa do feminino e que geram
vantagem e poder nos espaços monosexuados masculinos. Ao divulgar as práticas sexuais, a
quantidade de relações heterossexuais, o homem afirma seu “eu” heterossexual perante os
“outros”, num processo que Sócrates Nolasco (1993), denomina de socialização dos meninos.
Nesses processos sociais, os meninos crescem estimulados pelas transmissões de conhecimentos
a contar vantagens e méritos. A transmissão de conhecimentos, valores, regras e normas a esses
meninos de uma geração pra outra é denominada transgeracionalidade (RAMOS; OLIVEIRA,
2008). O termo utilizado por Ramos e Oliveira (2008) refere-se ao processo educacional
transgeracional, que ocorre no decorrer das práticas sociais internas familiares, seja pelo diálogo,
pela violência, pelo exemplo e até pelo silenciamento. Sobre os aprendizados transgeracionais
sobre masculinidades, Roberto e Marcos comentam:

Roberto C07. Homem de verdade é ser machista. Honrar sua família. Não quebrar seu testamento
e evitar certos tipos de... exemplo se sua família vem tentando carregar um testamento você tem que
levar pra frente. (Regras e normas, grifos nossos) E
honrar as amizades.

Marcos C05. Minha vó fala que pra ser homem tem que pegar mulher, mesmo. Senão vai pensar que
é homossexual.

O poder gerado nas instâncias sociais familiares aparenta-se de cunho tão genuíno e profundo que
a reprodução de conceitos e práticas dos jovens homens entrevistados, muitas vezes, não são
analisados criticamente e instauram uma “verdade” indubitável. O entrevistado Roberto, afirma
que permanecerá com os valores machistas da família, aos quais ele chama de testamento, visão
que se mostra problemática, uma vez que, ao machismo “se atribuem valores negativos, como
dominação, agressividade, narcisismo e sexualidade incontrolada” (NOLASCO, 1993, p.91). Sob
níveis mais avançados, a prática machista reproduz a misoginia e a homofobia, evidenciadas, por
exemplo, na representação masculina da avó de Marcos. Esse legado transgeracional perpetua

 
226
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

modos de ser homem, que embora estejam sendo timidamente revistos, ainda são reiterados no
imaginário e nas práticas sociais atuais.

Reproduzidos no palco familiar, os conceitos e práticas criam uma pedagogia dos corpos
(LOURO, 2000) constituindo uma identidade geracional que negocia maneiras e modos de ser
homem/mulher, jovem, pai/mãe, entre outros. Segundo León (2005, p.14), ao falar de
geracionalidade e diversidade juvenil:

A identidade refere-se obrigatoriamente ao entorno, o ambiente. Os


conteúdos que originam a identidade geracional implicam modos de
vida, particularmente práticas sociais juvenis e comportamentos
coletivos. Também encerram valores e visões de mundo que guiam
estes comportamentos.

O processo contínuo de construção e encerramento apontados por León resgatam as conquistas


históricas que as políticas de identidades (HALL, 1997) problematizam nos ambientes sociais.
Nesse processo de identidade geracional, as conquistas do feminismo (LOURO, 1997) não
trouxeram apenas uma nova perspectiva para as mulheres, mas também para os homens e às
configurações de família. Ian e João perceberam essa mudança no interior de suas famílias e na
discussão sobre o que assimilavam das gerações passadas.

Ian C01. Mudou. Antigamente as famílias eram mais rígidas em relação ao relacionamento, hoje
muitos pais já têm isso na cabeça que não precisa ser aquilo. Hoje em dia, já pode ter essas outras opções
(identidades), tem muitas pessoas que não aceitam, mas tem muitas que tem mente aberta e já aceita
numa boa. Alguns anos atrás, não, hoje já mudou. Cara, eu acho que menino tinha que jogar bola,
menino não podia brincar com outras meninas. O homem era o “manda-chuva” da casa, tinha que
ajudar o pai em tudo, não poderia ajudar a mãe em serviços domésticos nem nada. Hoje, relativamente
pode tudo, não tem mais isso.

João C03. O homem de antigamente era um homem muito preconceituoso, tipo homem tem que fazer
coisa de homem e mulher coisa de mulher [...] Tipo, antigamente, mulher não trabalhava, só homem
que trabalhava dentro de casa, meu pai mesmo já dizia que minha vó ela ficava só cuidando dos filhos.
Hoje não, hoje é aquela coisa mais aberta, minha mãe trabalha, meu pai trabalha, não fica tipo
dependendo um do outro. Isso é uma coisa que eu percebi muito que mudou.

As falas dos entrevistados pontuam percepções de papéis sexuais atribuídos a homens e mulheres
de acordo com o passar do tempo (LOURO, 1997). As mudanças apontadas pelos entrevistados,
que identificaram uma mudança comportamental positiva, não excluem a necessidade de investir
nos processos de equidade de direito entre homens e mulheres. A desigualdade de gênero é ainda
uma realidade vivida pelos brasileiros, exemplificada no piso salarial médio das mulheres que
recebem cerca de 30% a menos que os homens em mesmo cargo e nível de competência (IDB,
2009).

Os depoimentos apontam, ainda que sutilmente, para uma "política de identidades", que já
reconhece a diversidade e questiona a subordinação dos grupos não hegemônicos à normatização
e hegemonia. Ainda que as enunciações apontem para algumas dessas mudanças, observamos a

 
227
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

(re)produção e a potência dos discursos que reiteram a norma masculina hegemônica, a exemplo
do que diz Marcos sobre a honra e o legado que a família lhe deixa sobre ser homem.

Diante do exposto, podemos afirmar que “a paisagem social dos homens mudou” (WELZER-
LANG, 2001 p. 470). As análises das falas dos colaboradores apontam para a percepção de
transformações, rupturas para as mobilidades masculinas, enunciando também as permanências
dos discursos sobre as masculinidades juvenis.

Reflexões finais

Diante a temática e os problemas levantados nessa pesquisa, a análise alicerçada nos Estudos
Culturais e de Gênero se deu, pois tais estudos se preocupam com a problematização através das
teias de representações sobre o que é imposto como verdade. O que foi percebido é que em um
recorte de jovens aracajuanos as construções discursivas vão acontecendo e sendo permeadas por
diversos artefatos culturais e mediações simbólicas. Destacamos o caráter transgeracional na
construção e vivência das masculinidades de jovens da capital sergipana. A circulação destes
discursos na família, dita e define maneiras e modos de ser homem em geral num plano de fundo
heterossexista, machista e misógino, ainda que as transformações sejam apreendidas e enunciadas
de modo mais sutil.

A dicotomia presente nos discursos desvela que há estruturas que circundam múltiplos discursos
que ensinam e interferem na configuração de um imaginário sobre o que seria ser homem. Entre
as falas dos entrevistados a presença da heteronormatividade, do machismo e da
transgeracionalidade foram as características que mais sustentaram o discurso dos colaboradores
sobre a construção das subjetividades masculinas.

As discussões que problematizamos nessa pesquisa alcançam lacunas epistemológicas nos estudos
de masculinidades em Sergipe, uma vez que o viés dos estudos masculinistas ainda estão em
crescimento. Além disso, podem ser socialmente relevantes no desenvolvimento de culturas
pedagógicas que abarquem as múltiplas expressões do ser masculino juvenil, ampliando os
horizontes para ações públicas e sensibilização crítica aos artefatos que permeiam essa construção
das juventudes masculinas.

Referências Bibliográficas

ANDRÊO, C.; PERES, W. S.; TOKUDA, A. M. P; SOUZA, L. L. (2016). Homofobia na


construção das masculinidades hegemônicas: queerizando as hierarquias entre gêneros. Estudos
e Pesquisas em Psicologia. Rio de Janeiro v. 16 n. 1 p. 46-67.

BUTLER, J. (2008). Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Trad.

 
228
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

CONNELL, R. W. & MESSERSCHMIDT, J. W. (2013); Masculinidade hegemônica:


repensando o conceito. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n.1, pp. 241- 282, jan./
abr.

CONNELL, R. W. (1995); Políticas da masculinidade. Educação e Realidade, Porto Alegre,


v. 20, n.2, pp. 185-206, jul./ dez.

COSTA, M. V.; SILVEIRA, R. H.; SOMMER, L.H. (2003). Estudos Culturais, educação e
pedagogia. Revista Brasileira de Educação, n. 23, p. 23-61.

FOUCAULT, M. (1996). A ordem do discurso. 5ª Ed. São Paulo: Loyola.

HALL, S (1997). Identidades culturais na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A. LEÓN, O.


D.; Adolescência e juventude: das noções às abordagens (2005). In: FREITAS,

M. V.; Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação educativa.
2005. Cap 1, p.9-18. Disponível em: <http://library.fes.de/pdf- files/bueros/brasilien/05623.pdf
> Acesso em: 20 ago. 2016.

LOURO, G. L. (1997) Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós- estruturalista. 2ª.
ed. Petrópolis, RJ: Vozes.

LOURO, G. L. (2000). (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2ª. ed. Belo
Horizonte: Autêntica.

LOURO. G. L. (2009) Heteronormatividade e Homofobia. Junqueira. R. D. Diversidade Sexual


na Educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação,
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, pp. 85-94.

MEDRADO, B. & LYRA, J. (2008). Por uma matriz feminista de gênero para os estudos sobre
homens e masculinidades. Rev. Estud. Fem. vol.16, n.3, pp. 809-840.

MEDRADO, B., FRANCH, M., LYRA, J., & BRITO, M. (2004). Homens, tempos, práticas e
vozes. Recife: Fages/Papai/Nepo-Unicamp.

NOLASCO, S. (1993) O mito da masculinidade. 2a Ed. Rio de Janeiro: Editora Rocco.

___________. (1995). A desconstrução do masculino. 1a Ed. Rio de Janeiro: Editora Rocco.

OLIVEIRA, D. C.; GOMES, A. M. T.; MARQUES, S. C.; THIENGO, M. A. (2007). "Pegar",


"ficar" e "namorar": representações sociais de relacionamentos entre adolescentes. Rev. bras.
enferm. [online]. 2007, vol.60, n.5, pp.497-502.

PARAÍSO, M. A. (2004); Contribuições dos estudos culturais para a educação.


PresençaPedagógica, Belo Horizonte, v. 10, n.55, p. 53-61.

 
229
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

PERALVA, A. T. O jovem como modelo cultural (1997). Rev. Bras. Educ. [online], n.05-06,
p. 15-24. Disponível em: <http://educa.fcc.org.br/pdf/rbedu/n05-06/n05-b 06a03.pdf>. Acesso
em: 15 jun. 2015.

PINHEIRO, O. G. (2013) Entrevista: uma Prática Discursiva. In: Spink, M. J. P. (Org.).

Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Cortez, pp. 156- 187.

RAMOS, M. E. C.; OLIVEIRA, K. D (2008). Transgeracionalidade percebida nos casos maus-


tratos. In: Penso, M. A. & Costa, L. F. (Org.). A transmissão geracional em diferentes contextos:
da pesquisa à intervenção. São Paulo: Summus.

ROSA, M. V. F. P. C.; ARNOLDI, M. A. G. C. (2008). A entrevista na pesquisa qualitativa:


mecanismos para a validação dos resultados. Belo Horizonte: Autêntica Editora.

SCOTT, J. W. (1995). Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade.
Porto Alegre, vol. 20, nº 2, jul./dez, pp. 71-99.

SEED – SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO. (2015). Escolas da Rede Estadual.


Disponível em: < http://www.seed.se.gov.br/redeestadual/escolas-rede.asp>. Acesso em: 30 ago.
2016.

SOARES, R. (2000). Adolescência: monstruosidade cultural? Educação e Realidade. Porto


Alegre, v. 25, n. 2, pp. 151-162, jul./dez.

SPINK, M. J, & FREZZA, R. M. (2013) Práticas Discursivas e Produção de Sentido. In: Spink,
M. J. P. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Cortez,
pp. 1- 21.

SPINK, M. J.; MEDRADO, B. (2013) Produção de sentido no cotidiano. In: Spink, M. J. P. (Org.).
Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Rio de Janeiro: Cortez, pp. 22- 43.

TRIVIÑOS, A. N. S (2009). Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em


educação. São Paulo: Atlas.

WELZER-LANG, D. (2001). A construção do masculino: dominação das mulheres e


homofobia. Revista Estudos Feministas. Ano 9, v.2, pp. 460- 482.

WORTMANN, M. L. C.; VEIGA-NETO, A. (2001). Estudos Culturais da Ciência & Educação.


Belo Horizonte: Autêntica.

 
230
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Coloquios anteriores | Colóquios anteriores

La Red Internacional de Estudios A Rede Internacional de Estudos sobre


Masculinidades (REMASC) trabaja desde hace Masculinidades (REMASC) trabalha há mais de
más de una década sobre los modos de ser uma década sobre a reflexão, o estudo e as análises
hombre y las producciones culturales sobre la relativas aos modos de ser homem e as produções
masculinidad, en la sociedad contemporánea, culturais sobre masculinidade na sociedade
y particularmente en el continente contemporânea, e particularmente no contexto
latinoamericano. latino-americano.

2004 | El primer coloquio internacional de 2004 | O primeiro coloquio internacional de


estudios sobre varones y masculinidades fue estudios sobre varones y masculinidades foi
realizado en la ciudad de Puebla, México, realizado na cidade de Puebla, México, organizado
organizado por la Benemérita Universidad pela Benemérita Universidad Autónoma de
Autónoma de Puebla, en el cual se discutió Puebla, no qual discutiu-se sobre as bases
sobre las bases epistemológicas de los estudios epistemológicas dos estudos sobre homens e
sobre hombres y masculinidades, y sobre las masculinidades e sobre as possíveis interfaces e
posibles interfaces y articulaciones entre articulações entre estudos e a gestão de Política
estudios y la gestión de política pública. pública.

2006 | El 2º Coloquio fue realizado en la 2006 | O II Coloquio foi realizado na cidade de


ciudad de Guadalajara (México) en junio de Guadalajara (México) no mês de Junho de 2006, e
2006, y tuvo como foco uno de los pilares que teve como foco um dos pilares que embasa as
fundamenta las sociedades patriarcales: la sociedades patriarcais: a violência (em suas
violencia (en sus distintas formas). distintas vertentes).

2008 | El 3º Coloquio fue realizado en la 2008 |O II Coloquio foi realizado na cidade de


ciudad de Medellín (Colombia), en diciembre Medellín (Colombia), em dezembro de 2008, no
de 2008, en el cual se seleccionó como foco las qual tomou-se como foco as reflexões sobre
reflexiones sobre intersecciones entre género y intersecções entre gênero e sexualidade, etnicidade,
sexualidad, etnicidad, raza y clase, para el raça e classe, para o desenvolvimento de uma
desarrollo de una política anti-sexista. En este política anti-sexista. Neste evento, buscou-se
evento, se buscó promover una crítica teórica y promover uma crítica teórica e prática das
práctica de las masculinidades, definiéndose masculinidades, definido-se como eixo articulador o
como eje articulador el cuestionamiento sobre questionamento sobre os efeitos do reconocimiento
los efectos del reconocimiento de la diversidad da diversidade cultural na construção da justiça

 
231
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

cultural en la construcción de la justicia social social e de gênero. O tema geral do encontro foi:
y de género. El tema general del encuentro fue: “Masculinidades y multiculturalismo, perspectivas
“Masculinidades y multiculturalismo, críticas. ¿La diversidad construye la equidad?”.
perspectivas críticas. ¿La diversidad construye
la equidad?”.

2011 | O IV Coloquio aconteceu em Montevideo


(Uruguay), entre 19 e 21 de maio de 2011, foi
2011 | El IV Coloquio aconteció en organizado pelaUniversidad de la República,
Montevideo (Uruguay), entre el 19 y 21 de Mujer y Salud y EspacioSalud. O tema deste
mayo de 2011, siendo organizado por encontro foi “Políticas Públicas y Acciones
laUniversidad de la República, Mujer y Salud Transformadoras”.
y Espacio Salud. El tema de este encuentro fue
“Políticas Públicas y Acciones
Transformadoras”.
2015 | O V Coloquio foi realizado em Santiago
(Chile), entre 14 e 16 de Janeiro, tendo como tema
“Patriarcado en el siglo XXI: Cambios y
2015 | El V Coloquio fue realizado en Resistencias”. A partir deste tema geral, buscou-se
Santiago (Chile), entre el 14 y 16 de enero, con explorar as condições de produção do patriarcado,
el tema “Patriarcado en el siglo XXI: Cambios compreendido como sistema de domínio que tem
y Resistencias”. A partir de este tema general, adquirido novas formas de expressão, gerando
se buscó explorar las condiciones de outras condições de privilégios para homens
producción del patriarcado, comprendido particulares. Neste encontro, buscou-se debater
como sistema de dominio que ha adquirido sobre quais as transformações que têm facilitado a
nuevas formas de expresión, generando otras manutenção deste sistema e as consequentes
condiciones de privilegios para hombres resistências, discutindo-se sobretudo sobre que
particulares. En este encuentro, se buscó condições poderiam ser geradas para avançar em
debatir sobre cuáles son las transformaciones direção à equidade de gênero. Mais informações:
que han facilitado la mantención de este www.coloquiomasculinidades.cl
sistema y las consecuentes resistencias,
discutiéndose especialmente sobre qué
condiciones podrían ser generadas para
avanzar en dirección a la equidad de género.
Más informaciones:
www.coloquiomasculinidades.cl

 
232
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

SUMÁRIO COMPLETO

VOLUME 01
LA CO-PRODUCCIÓN DE NARRATIVAS CON MUJERES FEMINISTAS COMO MÉTODO-
PROCESO PARA EL DESPRENDIMIENTO ANDROCÉNTRICO ANTI-MASCULINISTA | Luciano
Fabbri

DA SELEÇÃO EXAUSTIVA DE PERFIS AO MESSENGER: A PERFORMANCE-PAQUERA ENTRE


HOMENS NO FACEBOOK | Fabrício de Sousa Sampaio

LINGUÍSTICA QUEER | Djalma Wanderley Albuquerque de Hollanda, Iran Ferreira de Melo e


Natanael Duarte de Azevedo

PERFORMANCES DE MASCULINIDADES NA PRÁTICA CLÍNICA: A SOCIOLINGUÍSTICA


INTERACIONAL E ANÁLISE DA CONVERSA COMO LÓCUS DE INVESTIGAÇÃO | Alexandre
José Cadilhe

QUE HOMEM É ESSE?! Uma análise junguiana sobre os homens, a afetividade e a conjugalidade em
transformação | Patrícia Cristina de Conti e Durval Luiz de Faria

PARA LIMPAR É PRECISO CRIAR A SUJEIRA?: ENSAIO CRÍTICO À TEORIA DO DIREITO |


Gabriel Cerqueira Leite Martire

VEJEZ MASCULINA Y CALIDAD DE VIDA | Rosa María Flores Martínez e Sagrario | Garay Villegas

ANÁLISIS DE LAS ACCIONES DE LA MESA DE TRABAJO SOBRE MASCULINIDADES Y


GÉNERO, EN EL MARCO DEL TERCER PLAN DE IGUALDAD DE GÉNERO DE LA
INTENDENCIA DE MONTEVIDEO, URUGUAY 2014-2017. | Noelia Belén

INCLUSIÓN DE VARONES EN POLÍTICAS PÚBLICAS DE GÉNERO. ANÁLISIS DEL


PROYECTO “PATRIARCADO, MASCULINIDADES HEGEMÓNICAS Y VIOLENCIAS”, DEL
MUSEO CASA DE LA MEMORIA DE MEDELLÍN–COLOMBIA (2014-2015) | Daniel Arias Osorio

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REFLEXÃO SOBRE A MASCULINIDADE | Vanessa


Silveira de Brito

VARONES Y COMPORTAMIENTOS SEXUALES DE RIESGO. | David Amorín Fontes.

DE MACHOS, MUXES Y MAYATES: UN ACERCAMIENTO A LA MASCULINIDAD EN MÉXICO


DESDE EL VIH | Guillermo Rivera Escamilla

 
233
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

MASCULINIDADES E AUTOCUIDADO: PRODUÇÃO DE SENTIDOS COM HOMENS DA


MICRORREGIÃO DE SUAPE – NORDESTE DO BRASIL | Anna de Cássia Pessôa de Lima; Benedito
Medrado; Túlio Romério Lopes Quirino

PADRÕES IDENTITÁRIOS MASCULINOS: ARMADILHAS PARA O HOMEM JOVEM | Elaine


Ferreira do Nascimento; Marcondes de Lima Oliveira; Breno de Oliveira Ferreira e Liana Maria Ibiapina
do Monte

TRANSMASCULINIDADES, SAÚDE E ESPERA - O TEMPO DOS SUJEITOS, OS TEMPOS


INSTITUCIONAIS E O ACESSO À SAÚDE PARA HOMENS TRANS | Camilo Braz

A MARCHA NICO LOPES E A CONSTRUÇÃO DAS MASCULINIDADES EM UM CARNAVAL


FORA DE ÉPOCA. | Jairo Barduni Filho

UMA "VISÃO PARCIAL" SOBRE SER HOMEM NO SERVIÇO SOCIAL | Vivian Matias dos Santos;
Laudicena Maria Pereira Barreto; Valeria Nepomuceno Teles de Mendonça; Henrique da Costa Silva;
Maria Angélica Pedrosa de Lima Silva

SUJEITOS MASCULINOS EM ESPAÇOS FEMININOS: O QUE DIZEM OS ESTUDANTES DO


CURSO DE PEDAGOGIA DA UFPE/CAA | Marciano Antonio da Silva

SER HOMEM É SER MACHISTA... É PEGAR MULHER? O QUE DIZEM JOVENS ARACAJUANOS
| Francis Fonseca Oliveira; Claudiene Santos

VOLUME 02
SERÁ QUE ELE É? O JOGO DE IDENTIDADES HÉTERO E HOMOSSEXUAIS MASCULINAS NO
AMBIENTE DE TRABALHO | Adriana Marques Rabelo; Luiz Antônio Mattos do Carmo; Simone
Costa Nunes

COISAS DE GAROTOS! CURRÍCULOS, MASCULINIDADES E REGULAÇÕES COTIDIANAS


NAS ESCOLAS | Marcio Caetano; Paulo Melgaço da Silva Jr; Treyce Ellen Silva Goulart

MASCULINIDADES DISCENTES NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA DE


TERESINA – PI, BRASIL | Jânio Jorge Vieira de Abreu

LAS REPRESENTACIONES MASCULINAS A TRAVÉS DE LAS IMÁGENES EN UN LIBRO DE


TEXTO PARA ESCUELA SECUNDARIA. | Angélica María Iniesta Malváez

MASCULINIDAD, FILOSOFÍA Y EDUCACIÓN. DEL MODELO HEGEMÓNICO AL DISCURSO


DE LA DIVERSIDAD. | Javier Antúnez.

EXPERIENCIA DE SENSIBILIZACIÓN-ENSEÑANZA-APRENDIZAJE SOBRE MASCULINIDADES


EN LA UNIVERSIDAD DE LA REPUBLICA - URUGUAY | Fernando Rodríguez Añón; Fiorella Nesta

 
234
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

CONSTRUCCIÓN DE SUBJETIVIDADES MASCULINAS EN EL EJÉRCITO ARGENTINO Y LA


PREFECTURA NAVAL ARGENTINA (PNA) | Graciela Infesta Domínguez

Las Masculinidades indígenas en la Educación Intercultural Bilingüe. Ejes de reflexión desde el feminismo
decolonial. | Fernanda Rodríguez

PATERNIDADE SOBRE O OLHAR DE FILHXS DE HOMENS NÃO HÉTEROS: REFLEXÕES


SOBRE O CUIDADO E A EDUCAÇÃO EM FAMÍLIAS | Danielle Maria de S. Sátiro

FAMÍLIAS MONOPARENTAIS FEMININAS, RELAÇÕES DE GÊNERO E PATERNIDADE |


Dayane Rocha S. de Oliveira; Carla C. Lima de Almeida

IMPACTO DE LAS RESISTENCIAS A LA HETERONORMATIVIDAD EN EL CUIDADO DE


INFANTES: EL CASO DE LOS PADRES GAY EN LA CIUDAD DE MÉXICO | Óscar Emilio Laguna
Maqueda

LA HOMOPARENTALIDAD COMO TERRITORIO DE DISPUTA Y TRANSFORMACIÓN DE LOS


SIGNIFICADOS DE LA PATERNIDAD: APORTES CONCEPTUALES PARA UNA REFLEXIÓN
CRÍTICA DE LA FAMILIA EN EL CRUCE DEL GÉNERO Y LAS SEXUALIDADES | Marcelo
Robaldo Salinas

REPRODUCCIÓN DE HOMBRES O PRODUCCIÓN DE PADRES CORRESPONSABLES |


Rosalinda Cazañas Palacios

PATERNIDADES ADOLESCENTES, APEGO Y DESARROLLO DE COMPETENCIAS


PARENTALES: NUEVAS MIRADAS SOBRE LA CRIANZA | Yanina Cortés Campillay; Camila
Ferrada Zegers; Francisca Martínez Poblete; Mónica Zurita Vergara; Paula Solervicens Silva

TRABAJO CON POLICÍAS VARONES EN POLÍTICAS DE SEGURIDAD CON ENFOQUE DE


GÉNERO Y MASCULINIDADES EN LA PRÁCTICA POLICIAL. EL CASO DE URUGUAY. | Darío
Ibarra y Patricia Píriz

MASCULINIDADES: UNA DESCRIPCIÓN DE LA FIGURA DE “LA LOCA” EN DOS


TELENOVELAS COLOMBIANAS | Miguel Ángel Bohorquez García

CUERPOS EN LUCHA: REPRESENTACIONES DE HOMBRES GAY EN LA LITERATURA


SALVADOREÑA | Amaral Palevi Gómez Arévalo

TRANSTEXTUALIDAD Y CONSTRUCCIÓN DEL CUERPO EN PUBLICIDADES GRÁFICAS DEL


PERÍODO 1990- 2016 | Silvana Inés Camerlo

ABOUT “CHICOS”: LENDO MASCULINIDADES ATRAVÉS DE IMAGENS | Wesley Carvalho


Sasso; Marinês Ribeiro dos Santos

SEXUALIDADE DEFICIENTE? REFLETINDO OS DIREITOS SEXUAIS DOS HOMENS COM


DEFICIÊNCIA | Kalline Flávia S. Lira; José Roniero Diodato

 
235
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

VOLUME 03
DA TRADIÇÃO À RUPTURA: REPRESENTAÇÕES DO MASCULINO NA LITERATURA
BRASILEIRA | Cláudia Maria Ceneviva Nigro; Juliane Camila Chatagnier

MASCULINIDADES EM QUERO FICAR COM POLLY | Daniel Cisneiros

LA LUCHA CONTRA LA VIOLENCIA HACIA LA MUJER. EL TRABAJO CON VARONES PARA


REDUCIR ESTE TIPO DE VIOLENCIA, CON ESPECIAL ATENCIÓN AL CASO DE PERÚ | María
José Barajas de la Vega

GENEALOGÍA DE LA AGRESIÓN: CONDICIONES DE VIDA Y CONSTRUCCIÓN DE LA


VIOLENCIA | Néstor Artiñano

PREVENCIÓN DE LA VIOLENCIA SEXUAL CON VARONES ADOLESCENTES Y JÓVENES EN


URUGUAY | Patricia Píriz y Darío Ibarra

A MOBILIZAÇÃO DE HOMENS PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES: LIMITES


E POSSIBILIDADES | Maria Beatriz Nader; João José Barbosa Sana

(AN)ESTESIA E GUERRA EM AFTER EARTH: MASCULINIDADE, AUTONOMIA E TEORIA


ESTÉTICA | Pablo Petit Passos Sérvio

CONSTITUCIÓN DE LOS ESTEREOTIPOS SEXUALES SOBRE LA MASCULINIDAD


AFROURUGUAYA Y SUS CUIDADOS EN LA SALUD | Oscar Zumbi Rorra

OS CAÇAS-GRINGA (O)S E OS “OUTROS”: GÊNERO, RAÇA E ETNICIDADE NOS JOGOS DE


PRAZERES | Mikelly Gomes da Silva; Mikarla Gomes da Silva; Marcos Mariano Viana da Silva; Tarcísio
Dunga Pinheiro

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS, CAPOEIRA ANGOLA E DESLOCAMENTOS


IDENTITÁRIOS: DESAFIOS E PERSPECTIVAS | Francineide Marques da Conceição Santos;
Rosangela Costa Araújo (Mestra Janja)

O QUE (NÃO) ESPERAM DE MIM? A ESCOLA, O RACISMO E A CONSTRUÇÃO DE


MASCULINIDADES NEGRAS SOB A ÓTICA DE JOVENS E HOMENS NEGROS | Sandra Regina
de Souza Marcelino

KING KONG (O REI DO CONGO): REPRESENTAÇÕES E ESTEREÓTIPOS SOBRE OS HOMENS


NEGROS | Henrique Restier da Costa Souza

REPERTÓRIOS LINGUÍSTICOS SOBRE MASCULINIDADES NA LITERATURA CIENTÍFICA


SOBRE VIOLÊNCIA POR ORIENTAÇÃO SEXUAL E/OU IDENTIDADE DE GÊNERO | Diego
Paz; Bruno Carvalho e Benedito Medrado

CUANDO EL EMBARAZO OCURRE EN LA ADOLESCENCIA – UNA VISIÓN DESDE LOS


ADOLESCENTES VARONES | Ana Laura Cafaro Mango

 
236
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS EM HOMENS DE


20 A 59 ANOS EM CÁCERES-MT | Verônica Lourenceto Silva; Raquel Borges Silva; Ariane Caroline
Mota Souza Silva

SECA OU À VAPOR: MEMÓRIAS E PRÁTICAS EM UMA SAUNA MASCULINA | Rafael Chaves


Vasconcelos Barreto

VIVÊNCIAS DE PATERNIDADE NA GESTAÇÃO E PARTURIÇÃO: UMA REVISÃO


INTEGRATIVA | Aline de Carvalho Martins; Geiza Martins Barros; Géssica Martins Mororó

O DISCURSO DA MASCULINIDADE HEGEMÔNICA E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE OS


CUIDADOS COM A SAÚDE DO HOMEM | Fernanda de Azevedo Lima; Maria Cristina Lopes de
Almeida Amazonas

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES COMO UMA QUESTÃO PÚBLICA: UMA ABORDAGEM


PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PROBLEMA, A GERAÇÃO DE MARCO LEGAL PERSPECTIVA
E INTERVENÇÃO COM HOMENS VIOLENTOS NO MÉXICO | Felipe Eduardo Reyes Pérez Silva

VOLUME 04
MASCULINIDADES, HOMENS E VIOLÊNCIAS: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA
TENSIONAR E DESNATURALIZAR ESTA RELAÇÃO | Ana Luíza Casasanta Garcia; Adriano Beiras

A NOIVA: “MITO, COR E IDENTIDADE” | George André Pereira de Souza; Lorrayne Bárbara Ferreira
do Nascimento; Antônio Carlos Ribeiro Vieira

É POSSÍVEL FALAR EM VIOLÊNCIA VERBAL NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL? | Gustavo Andrada


Bandeira; Fernando Seffner

OS MODOS DE SER HOMEM ENTRE JOVENS CONTEMPORÂNEOS | Bruna Manara Costa

PATRIARCADO E VIOLÊNCIA: MEMÓRIAS DE MULHERES AGREDIDAS NO INTERIOR DE


MINAS GERAIS | Érika Oliveira Amori; Maria Beatriz Nader

PERFIL E SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DO HOMEM AUTOR DE VIOLÊNCIA CUMPRIDOR DE


PENAS ALTERNATIVAS NO GRUPO REFLEXIVO MASCULINO DA CEAPA DE SANTA CRUZ
DE CAPIBARIBE 2013-2014 | José Remon Tavares da Silva

MASCULINIDADE SATURADA: POSSIBILIDADES EPISTEMOLÓGICAS DO


CONSTRUCIONISMO SOCIAL | David Tiago Cardoso; Adriano Beiras

REFLEXÕES SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DO HOMEM


E O SOFRIMENTO PSÍQUICO | Vanina Barbosa Lopes; Ana Paula Antero Lobo; Ana Fátima Braga
Rocha; Laurineide de Fátima Diniz Cavalcante; Carlos Antônio Bruno da Silva

 
237
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

“DISCRETOS E ALARMOSOS”, APENAS OS INVÍSIVEIS SERÃO ACEITOS? VIOLÊNCIAS


RELACIONADAS AO GÊNERO E A SEXUALIDADE NA ESCOLA | Ana Luiza Profírio

FUGAS E MEDOS GAYS: PRAIA DO FUTURO E O CINEMA TRANSNACIONAL DAS


SENSAÇÕES GEOGRÁFICO-AFETIVAS | Wendell Marcel Alves da Costa

PROFESSORES HOMENS NOS ANOS INICIAIS: MASCULINIDADES FORA DO LUGAR? |


Antonio Jeferson Barreto Xavier; Fernando Seffner

A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA MASCULINIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES NA SAÚDE DO


HOMEM | Paula Fernanda da Silva; Ana Lole

EDUCAÇÃO, MASCULINIDADE E CULTURA DO ESTUPRO: A EXPERIÊNCIA DO DEBATE DE


GÊNERO E VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER COM OS ESTUDANTES DAS ESCOLAS DE
QUEIMADAS, NA PARAÍBA | Domícia Pessoa; Müller Alves Alencar

CUIDADO COM FILHAS E FILHOS... TERRITÓRIO [TAMBÉM] MASCULINO | Priscilla Viégas


Barreto de Oliveira; Jorge Lyra; Vera Lúcia Dutra Facundes; Ivo de Andrade Lima Filho; Ricardo José de
Souza Castro; Daniela Tavares Gontijo

METAMORFOSES MASCULINAS: SOBRE VIOLÊNCIAS, RECONHECIMENTO E BUSCA POR


EMANCIPAÇÃO | Kevin Samuel Alves Batista; Aluísio Ferreira de Lima

ABUSO SEXUAL COMETIDO CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES – O AUTOR EM FOCO:


um estudo de caso na Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal | Juliano Mattos Rodrigues

DISCURSO E HEGEMONIA: A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO PL 867/15 | Victor Guimarães


de Medeiros; Valéria Damasceno Coelho; Anna Christina Freire Barbosa

O PAPEL DO JUDICIÁRIO NA APLICAÇÃO DA NOVA LEI DA GUARDA COMPARTILHADA:


DESAFIOS E PERSPECTIVAS À PATERNIDADE | Müller Alves Alencar; Domícia Cláudia de França
Pessoa

 
238
Anales (textos completos) del VI Coloquio Internacional de Estudios sobre Varones y Masculinidades. Vol. 01
Recife: UFPE; IFF/Fiocruz; Instituto PAPAI, 2019 
ISSN 2178‐4787 

Vous aimerez peut-être aussi