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Notas de Aula Álgebra 3

Martino Garonzi

Universidade de Brası́lia

Segundo semestre 2018

1
2

As pessoas que as pessoas que as pessoas amam amam amam.


Conteúdo

Capı́tulo 1. Grupos 5
1. Ação de um grupo sobre um conjunto 5
2. Ação de conjugação 7
3. Representações permutacionais 10
4. Teorema de Sylow 13
5. O grupo simétrico de grau 4 17
6. O grupo simétrico de grau 5 20
7. Solubilidade 23
8. Resolução dos exercı́cios - Grupos 24
Capı́tulo 2. Teoria de Galois 43
1. Corpos de decomposição 43
2. O grupo de Galois 45
3. Correspondências de Galois 48
4. Extensões de Galois 52
5. Transitividade 56
6. Cúbicas 56
7. Subcorpos estáveis 58
8. Solubilidade 60
9. Extensões radicais 63
10. Quárticas 66
11. O teorema fundamental da álgebra 67
12. Construtibilidade com régua e compasso 68
13. O teorema de Abel 71
14. Resolução dos exercı́cios - Teoria de Galois 73

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CAPı́TULO 1

Grupos

1. Ação de um grupo sobre um conjunto


Seja G um grupo. Dizemos que G age a direita sobre o conjunto X se é
dada uma função X × G → X, (x, g) 7→ xg com as propriedades seguintes.
(1) x1 = x para todo x ∈ X;
(2) (xg)h = x(gh) para todo x ∈ X e para todo g, h ∈ G.
Dizemos que G age a esquerda sobre o conjunto X se é dada uma função
G × X → X, (g, x) 7→ gx com as propriedades seguintes.
(1) 1x = x para todo x ∈ X;
(2) h(gx) = (hg)x para todo x ∈ X e para todo g, h ∈ G.

Observe que se H ≤ G e G age sobre X então H também age sobre X, a ação


de H sendo definida pela mesma regra que define a ação de G.

Trabalharemos mais com ações a esquerda. Se não tiver especificações todas


as ações são ações a esquerda.

Exemplo fundamental: o grupo simétrico Sn age sobre {1, 2, . . . , n} da ma-


neira natural: (f, α) 7→ f (α). Logo, todo subgrupo de Sn age sobre {1, 2, . . . , n}
da maneira natural.
Ação trivial: sejam G um grupo, X um conjunto. A ação de G sobre X
definida por (g, α) 7→ α para todo α ∈ X, g ∈ G é chamada de ação trivial.
Ação regular: seja G um grupo e X = G. A ação de G sobre X dada por
(g, α) 7→ gα para todo α, g ∈ G é chamada de ação regular de G.

O grupo finito G aja sobre o conjunto X. Dado α ∈ X denotamos por Gα ou


também por StabG (α) o estabilizador de α, isto é o conjunto
{g ∈ G | gα = α}
(é um subgrupo de G), e denotamos por OG (α) a G-órbita de α, isto é o conjunto
{gα | g ∈ G}. Tal ação é dita transitiva se existe α ∈ X tal que OG (α) = X,
em outras palavras OG (α) = X para todo α ∈ X, em outras palavras existe uma
única órbita.
Proposição 1. O grupo G aja sobre o conjunto X. Então X é igual à união
disjunta das G-órbitas.
5
6 1. GRUPOS

DemonstraçSão. É claro que α = 1α ∈ OG (α) para todo α ∈ X, isso


mostra que X = α∈X OG (α). Para mostrar que a união é disjunta precisamos
mostrar que se x, y ∈ X são tais que Gx ∩ Gy 6= ∅ então Gx = Gy. Para isso
suponha Gx ∩ Gy 6= ∅. É suficiente mostrar que Gx ⊆ Gy, a outra inclusão
sendo analoga. Seja gx ∈ Gx, queremos mostrar que gx ∈ Gy. Por hipótese
existe z = hx = ky ∈ Gx ∩ Gy (com g, h ∈ G), daı́ x = h−1 ky. Obtemos
gx = gh−1 ky ∈ Gy. 
Proposição 2 (Princı́pio da contagem). Se G age sobre X e α ∈ X então
|G : Gα | = |OG (α)|.
Em particular se a ação for transitiva então |X| divide |G|.
Demonstração. Queremos construir uma bijeção entre o conjunto (G : Gα )
das classes laterais esquerdas de Gα em G e o conjunto OG (α). Defina f : (G :
Gα ) → OG (α) levando gGα para gα. f é bem definida: se gGα = hGα então
h−1 g ∈ Gα , em outras palavras h−1 gα = α e multiplicando os dois lados a
esquerda por h obtemos gα = hα ou seja f (gGα ) = f (hGα ). f é bijetiva: é
injetiva pois se gα = hα então h−1 g ∈ Gα ou seja g ∈ hGα ou seja gGα = hGα ;
é sobrejetiva pois se gα ∈ OG (α) então gα = f (gGα ). 
Por exemplo considere G = S4 agindo sobre X = {1, 2, 3, 4} e pense nos
elementos de X como os vertices de um quadrado:
1 2

4 3
O estabilizador Gα é isomorfo a S3 para todo α ∈ X (por exemplo os elementos do
estabilizador de 1 são 1, (23), (24), (34), (234), (243)). O subgrupo H = h(1234)i
age rotacionando os quatro elementos, os elementos de H são 1, (1234), (13)(24),
(1432) logo Hα = {1} para todo α ∈ X.

No caso da ação trivial de G sobre um conjunto X (ou seja gx = x para todo


g ∈ G, x ∈ X) temos Gx = {g ∈ G : gx = x} = G e Gx = {gx : g ∈ G} = {x}
logo a igualdade |Gx| = |G : Gx | é a igualdade 1 = |G : G|.
No caso da ação regular de G sobre G (ou seja gx é o produto em G entre
g e x) temos Gx = {g ∈ G : gx = x} = {g ∈ G : g = 1} = {1} (podendo
multiplicar por x−1 !) e Gx = {gx : g ∈ G} = G para todo x ∈ G, logo a
igualdade |Gx| = |G : Gx | neste caso é a igualdade |G| = |G : {1}|.

Exercı́cios.
(1) O grupo G aja a direita sobre o conjunto X levando (α, g) ∈ X × G para
αg. Mostre que a formula g ∗ α := αg −1 (onde g ∈ G e α ∈ X) define
uma ação a esquerda de G sobre X.
(2) O grupo simétrico G = S4 age de maneira natural sobre X = {1, 2, 3, 4}.
Calcule o indice |G : Gα | para todo α = 1, 2, 3, 4.
2. AÇÃO DE CONJUGAÇÃO 7

(3) Se G age sobre X e H ≤ G podemos considerar as órbitas da ação de


H sobre X (H-órbitas). Considere G = S4 agindo da maneira natural
sobre X = {1, 2, 3, 4} e H = Gα onde α ∈ X. Conte as H-órbitas.
(4) Seja G um grupo. Mostre que G age sobre G × G por meio da regra
G × (G × G) → G × G, (g, (α, β)) 7→ (gα, gβ).
Conte as órbitas dessa ação em termos de n = |G|.

2. Ação de conjugação
Ação sobre os conjugados de um elemento. Seja G um grupo e seja x um
elemento (fixado!) de G. Dado h ∈ G o elemento hxh−1 é dito o conjugado de x
por meio de h. Os elementos de G do tipo hxh−1 são chamados de conjugados
de x em G. Seja
X = {hxh−1 : h ∈ G}
o conjunto dos conjugados de x em G. O grupo G age transitivamente no conjunto
dos conjugados de x levando (g, hxh−1 ) para ghxh−1 g −1 = (gh)x(gh)−1 . Se trata
de uma ação a esquerda, e é transitiva sendo que X é igual à orbita de x. O
estabilizador de x é
StabG (x) = Gx = {g ∈ G | gxg −1 = x} = {g ∈ G | gx = xg},
dito o centralizador de x em G e indicado por CG (x). Analogamente o estabi-
lizador de hxh−1 é CG (hxh−1 ). È obvio que x ∈ CG (x) (pois x comuta com x).
O princı́pio da contagem diz exatamente que o número de conjugados de x em G
é igual ao indice do seu centralizador : |X| = |G : CG (x)|. Por exemplo se G é
abeliano então |X| = 1 e CG (x) = G.

O conjunto dos conjugados de um elemento x de um grupo G é chamado


de classe de conjugação de x em G. Uma classe de conjugação de G é uma
classe de conjugação de um elemento de G. Por exemplo no grupo simétrico Sn
a classe de conjugação de um elemento x consiste dos elementos de Sn com a
mesma estrutura cı́clica de x.

Podemos considerar a ação de G sobre X = G dada pela conjugação: G ×


G → G, (g, x) 7→ gxg −1 . As órbitas dessa ação são as classes de conjugação dos
elementos de G. Por exemplo a classe de conjugação de 1 é {1} (pois 1 comuta
com todo mundo).

Equação das órbitas. O grupo G aja no conjunto X e as órbitas dessa ação


sejam OG (x1 ), . . . , OG (xt ). Então sendo |OG (xi )| = |G : Gxi | para todo i e X a
união disjunta OG (x1 ) ∪ . . . ∪ OG (xt ) obtemos
t
X t
X
|X| = |OG (x1 ) ∪ . . . ∪ OG (xt )| = |OG (xi )| = |G : Gxi |.
i=1 i=1
8 1. GRUPOS

Equação das classes. Trata-se da equação das órbitas no caso particular


em que X = G e a ação é por conjugação: (g, x) 7→ gxg −1 . Obtemos que se
x1 , . . . , xk são representantes de classes de conjugação distintas então
k
X
|G| = |G : CG (xi )|.
i=1

Exemplo. Considere
G = S3 = {1, (12), (13), (23), (123), (132)}.
Os conjugados de (12) são (12), (13), (23) (os cı́clos de comprimento 2), os con-
jugados de (123) são (123) e (132) (os cı́clos de comprimento 3). As órbitas da
ação de conjugação (ou seja as classes de conjugação) são então
{1}, {(12), (13), (23)}, {(123), (132)}.
A órbita de (12) tem tamanho 3 e de fato |G : CG ((12))| = |G|/|CG ((12))| = 3
sendo CG ((12)) = {1, (12)}. A órbita de (123) tem tamanho 2 e de fato |G :
CG ((123))| = |G|/|CG ((123))| = 2 sendo CG ((123)) = {1, (123), (132)} (esses
centralizadores podem ser calculados a mão). A equação das classes neste caso
pode ser escrita 6 = 1 + 3 + 2, mais especificamente
|S3 | = |{1}| + |{(12), (13), (23)}| + |{(123), (132)}|.

|S3 | = |G : CG (1)| + |G : CG ((12))| + |G : CG ((123))|.

O centro de um grupo G é a interseção dos centralizadores dos elementos de


G:
\
Z(G) = CG (x) = {g ∈ G : gx = xg ∀x ∈ G}.
x∈G

Em outras palavras Z(G) contem os elementos que “comutam com todo mundo”.
Por exemplo G é abeliano se e somente se Z(G) = G. Pode se verificar a mão que
Z(S3 ) = {1}.

Seja p um número primo. Um grupo finito G é chamado de p-grupo se |G|


é uma potência de p: existe um inteiro não negativo n tal que |G| = pn . Por
exemplo S3 não é um p-grupo pois |S3 | = 6 = 2 · 3 não é uma potência de um
primo. Por exemplo S2 = {1, (12)} é um 2-grupo pois |S2 | = 2 = 21 . Um outro
exemplo de p-grupo é o grupo de Klein S2 × S2 , ele tem ordem 2 · 2 = 4 = 22 .
Teorema 1. Seja p um número primo. Seja G um p-grupo com G 6= {1}.
Então Z(G) 6= {1}.
Demonstração. Dado x ∈ G denotaremos por C(x) a classe de conjugação
de x. Escreva as classes de conjugação de G como C(x1 ), . . . , C(xm ). O número m
é o número de classes de conjugação de G (por exemplo se G = S3 então m = 3).
2. AÇÃO DE CONJUGAÇÃO 9

Observe que xi ∈ Z(G) se e somente se C(xi ) = {xi } (a ação de conjugação num


elemento do centro é trivial). Escrevemos a equação das classes como
m
X
|G| = |G : CG (xi )|.
i=1

A menos de trocar de lugar as parcelas dessa soma podemos supor que xi ∈ Z(G)
para todo i = 1, 2, . . . , k, assim k = |Z(G)| ≤ m. Obviamente |G : CG (xi )| = 1
para todo i = 1, 2, . . . , k assim temos
m
X m
X
|G| = 1 + 1 + . . . + 1 + |G : CG (xi )| = |Z(G)| + |G : CG (xi )|.
i=k+1 i=k+1

Observe que |C(xi )| > 1 para i > k. Por outro lado |G| = pn é uma potência de p e
|G : CG (xi )| = |C(xi )| é uma potência de p maior que 1 para todo i = k +1, . . . , m
(é uma potência de p pois divide |G| = pn , é maior que 1 pois xi 6∈ Z(G)).
Reduzindo a equação das classes módulo p obtemos então
0 ≡ |Z(G)| + 0 mod p
ou seja p divide |Z(G)|. Isso implica que Z(G) 6= {1} sendo que |{1}| = 1 não é
divisı́vel por p. 

Exercı́cios.

A ação de G sobre X é dita fiel se a interseção dos estabilizadores é trivial:


\
A ação é dita fiel se Gα = {1}.
α∈X

(1) (Exercı́cio da aula passada - corrigido) G aja de maneira fiel sobre X, e


seja H ≤ G. Suponha que a ação de H sobre X seja transitiva. Defina
K = CG (H) = {g ∈ G : gh = hg ∀h ∈ H} (o centralizador de H em
G). Mostre que Kα = {1} para todo α ∈ X.
(2) Seja G um grupo finito abeliano que age de maneira fiel e transitiva
sobre um conjunto X. Mostre que |G| = |X|.
(3) Seja G um grupo que age de maneira fiel e transitiva sobre X. Mostre
que |Z(G)| divide |X|.
(4) Seja G um grupo. Mostre que toda classe de conjugação de G tem
tamanho no máximo |G : Z(G)|.
(5) Conte as classes de conjugação de A4 e de S4 .
(6) Mostre que Z(Sn ) = {1} para todo n ≥ 3.
(7) Encontre um grupo G tal que {1} = 6 Z(G) 6= G.
(8) Seja k(G) o número de classes de conjugação do grupo finito G. Seja
C := {(x, y) ∈ G × G : xy = yx}.
Mostre que |C| = k(G)|G|. P
[Dica: comece mostrando que |C| = x∈G |CG (x)| e aplique a
equação das classes.]
10 1. GRUPOS

Ação sobre os conjugados de um subgrupo. Seja G um grupo e seja H um


subgrupo de G. Dado g ∈ G considere gHg −1 := {ghg −1 | h ∈ H} ⊆ G. Trata-
se de um subgrupo de G. Os subgrupos de G do tipo gHg −1 são chamados de
conjugados de H. Se trata de subgrupos de G isomorfos a H (um isomorfismo
é H → gHg −1 , h 7→ ghg −1 ). G age transitivamente no conjunto dos conjugados
de H levando (g, yHy −1 ) para gyHy −1 g −1 = (gy)H(gy)−1 . O estabilizador de H
por meio de tal ação é
{g ∈ G | gHg −1 = H},
é dito o normalizador de H em G e denotado por NG (H). Se trata de um
subgrupo de G contendo H. Dizemos que um elemento g ∈ G “normaliza H” se
gHg −1 = H, ou seja g ∈ NG (H), e se K ≤ NG (H) dizemos que K normaliza
H. Por exemplo é obvio que H sempre normaliza H. O princı́pio da contagem
diz exatamente que o número de conjugados de H em G é igual ao indice do seu
normalizador:
|{gHg −1 | g ∈ G}| = |G : NG (H)|.
Em particular H é normal em G se e somente se NG (H) = G (todo mundo
normaliza H). Observe que H ≤ NG (H) ≤ G logo |G : H| = |G : NG (H)| ·
|NG (H) : H|, em particular |G : NG (H)| ≤ |G : H|, logo H tem sempre no
máximo |G : H| conjugados em G.

3. Representações permutacionais
O grupo G aja agora nos dois conjuntos X e Y . As duas ações são chamadas
de equivalentes (ou isomorfas) se existir uma bijeção ϕ : X → Y tal que ϕ(gx) =
gϕ(x) para todo g ∈ G, x ∈ X(observe que gx é a ação de G sobre X, gϕ(x) é a
ação sobre Y ). Duas ações isomorfas são “a mesma ação”, no sentido que mexem
os mesmos elementos da mesma maneira.

Sejam G um grupo e H um subgrupo de G. O grupo G age transitivamente


no conjunto X das classes laterais esquerdas de H em G levando (g, yH) para
gyH. Ela é transitiva porque OG (H) = X. Além disso o estabilizador de H é
{g ∈ G : gH = H} = H. Toda ação transitiva é desse tipo, mais especificamente:
Proposição 3 (Caracterização das ações transitivas). Seja G × X → X uma
ação transitiva e sejam x ∈ X, H = Gx . A bijeção construida na demonstração
do princı́pio da contagem determina uma equivalência entre a ação de G sobre X
e a sua ação no conjunto das classes laterais esquerdas de H por multiplicação a
esquerda.
Demonstração. Seja Y = (G : H) = {yH : y ∈ G}. Já vimos que a função
ϕ : X → Y , ϕ(gx) = gH é bem definida e bijetiva. Precisamos mostrar que se
k ∈ G então ϕ(k(gx)) = kϕ(gx), mas isso é obvio pois ϕ(k(gx)) = ϕ((kg)x) =
kgH e kϕ(gx) = k(gH) = kgH. 
No próximo resultado vemos que dar uma ação de G sobre X é a mesma
coisa que dar um homomorfismo G → Sym(X). Mais especificamente, existe
uma bijeção canônica entre o conjunto das ações a esquerda de G sobre X e o
3. REPRESENTAÇÕES PERMUTACIONAIS 11

conjunto dos homomorfismos G → Sym(X). Um homomorfismo G → Sym(X)


é também chamado de representação permutacional (estamos representando
os elementos de G como permutações de X).
Proposição 4 (Representações permutacionais). Sejam G um grupo e X um
conjunto.
• Se A : G × X → X, (g, x) 7→ gx é uma ação de G sobre X o homomor-
fismo correspondente é γA : G → Sym(X), γA (g) : X → X, x 7→ gx.
• Se γ : G → Sym(X) é um homomorfismo, a ação correspondente é
Aγ : G × X → X, (g, x) 7→ γ(g)(x).
As construções acima são bem definidas e são uma a inversa da outra:
• AγA = A para toda ação A de G sobre X,
• γAγ = γ para todo homomorfismo γ : G → Sym(X).
Demonstração. Seja dada a ação A de G sobre X. A função γA (g) :
X → X é bijetiva, sendo γA (g −1 ) a sua inversa (de fato γA (g −1 )γA (g)(x) =
γA (g −1 )(gx) = g −1 gx = x e γA (g)γA (g −1 )(x) = γA (g)(g −1 x) = g(g −1 x) = x,
logo é um elemento de Sym(X), o grupo das funções bijetivas X → X. γA é
homomorfismo de grupos porque se x ∈ X, e g, h ∈ G,
γA (gh)(x) = ghx = g(hx) = γA (g)(γA (h)(x)) ⇒ γA (gh) = γA (g)γA (h).
Agora suponha de ter um homomorfismo γ : G → Sym(X), g 7→ γ(g). Então Aγ
define uma ação porque γ(g)γ(h)x = γ(gh)x sendo γ homomorfismo.
Precisamos mostrar que as construções acima são uma a inversa da outra. Seja
dada a ação A, então a ação AγA : G×X → X leva (g, x) para γA (g)(x) = gx, isso
mostra que AγA = A. Seja dado o homomorfismo γ, então γAγ : G → Sym(X)
leva g para γAγ (g) : x 7→ γ(g)(x), isso mostra que γAγ (g) = γ(g) para todo g ∈ G
logo γAγ = γ. 

O núcleo de uma ação de G sobre X é por definição igual ao núcleo do


homomorfismo G → Sym(X) correspondente, e uma ação é dita fiel se o seu
núcleo é {1}. Em particular as ações fieis de G sobre X correspondem aos ho-
momorfismos injetivos G → Sym(X), e as ações fieis sobre X correspondem (a
menos de equivalência) aos subgrupos de Sym(X). No caso da ação natural de
Sn sobre {1, 2, . . . , n} o homomorfismo correspondente é a identidade Sn → Sn .

Seja γ : G → Sym(X) o homomorfismo correspondente a uma ação de G


sobre X. O núcleo da ação é então
ker(γ) = {g ∈ G : γ(g) = idX } = {g ∈ G : γ(g)(x) = x ∀x ∈ X}
T
= {g ∈ G : gx = x ∀x ∈ X} = x∈X Gx .
Ou seja o núcleo de uma ação é igual à interseção dos estabilizadores.
Por exemplo o núcleo da ação de conjugação de G sobre G é a interseção dos
centralizadores dos elementos de G, ou seja o centro de G, Z(G).
12 1. GRUPOS

Pelo teorema de isomorfismo se G age sobre X com núcleo K então


G/K é isomorfo a um subgrupo de Sym(X).

O teorema de Cayley generalizado


Seja H um subgrupo de G, e G aja por multiplicação a esquerda sobre o
conjunto X := (G : H) das classes laterais esquerdas de H em G. Tal ação é
obviamente transitiva. Seja yH ∈ X. Mostraremos que o estabilizador de yH é
igual a yHy −1 . Temos

Stab(yH) = {g ∈ G | gyH = yH} = {g ∈ G | y −1 gy ∈ H} =


= {g ∈ G | g ∈ yHy −1 } = yHy −1 .

O núcleo dessa ação é então igual a g∈G gHg −1 . Trata-se de um subgrupo normal
T

de G (sendo o núcleo de um homomorfismo) contido em H. Denotaremos-o por


HG e chamaremos-o de coração normal de H em G. É fácil ver que todo
subgrupo normal de G contido em H é contido em HG , em outras palavras HG é
o maior subgrupo normal de G contido em H (em particular H E G se e somente
se H = HG ). Temos então um homomorfismo injetivo

G/HG → Sym({yH : y ∈ G}) ∼


= Sn

onde n = |X| = |G : H|.


Teorema de Cayley generalizado: o quociente G/HG é isomorfo a um
subgrupo de Sn , onde n = |G : H|, em particular a ordem de G/HG divide n!.

Teorema de Cayley classico (“G é isomorfo a um subgrupo de Sym(G)”).


O caso H = {1} do teorema de Cayley generalizado corresponde à ação regular
de G (a ação de G sobre G dada pela multiplicação a esquerda). Observe que
neste caso HG = {1} logo obtemos um homomorfismo injetivo G → Sn onde
n = |G : H| = |G|. Em outras palavras a ação regular do grupo G é dada pela
multiplicação a esquerda de G sobre o próprio G (as classes laterais de {1} são
simplesmente os elementos de G). Os estabilizadores dessa ação são triviais logo
o núcleo também é trivial e a ação é fiel.

Um grupo G é dito simples se os únicos subgrupos normais de G são {1}


e G. Deduzimos que se um grupo simples G possui um subgrupo H de indice
n > 1 então |G| divide n!. De fato HG ≤ H ≤ G logo HG 6= G logo HG = {1} e
G∼= G/HG é isomorfo a um subgrupo de Sn , que tem ordem n!.

Exercı́cios.
(1) Sejam A e B subgrupos do grupo finito G e defina AB = {ab : a ∈
A, b ∈ B}. Mostre que |AB| = |A||B|/|A ∩ B|. Mostre que se B E G
então AB ≤ G.
(2) Seja H um subgrupo de G de indice 2. Mostre que H é normal em G
(ou seja H = HG ).
4. TEOREMA DE SYLOW 13

(3) Seja M um subgrupo maximal de G (ou seja os únicos subgrupos H de


G com M ≤ H ≤ G são M e G). Mostre que o número de conjugados
de M em G não é igual a 2.
(4) Seja p um número primo e seja G um p-grupo finito. Seja M um sub-
grupo maximal de G (definido no exercı́cio acima). Mostre que M E G
e que |G : M | = p.
[Dica: por indução sobre n, onde |G| = pn . Seja y ∈ Z(G) − {1},
uma sua oportuna potência x tem ordem p; considere G/hxi.]
(5) O grupo G aja de maneira fiel sobre o conjunto X. Mostre que se X é
finito então G é finito também.
(6) Uma ação de G sobre X com todos os estabilizadores triviais (ou seja
Gx = {1} para todo x ∈ X) é dita semiregular. Mostre que a ação de
G sobre X é equivalente à ação regular de G (que é a ação de G sobre
G dada pela multiplicação a esquerda) se e somente se é semiregular e
transitiva.
(7) Considere o grupo S6 agindo da maneira natural sobre {1, 2, 3, 4, 5, 6}.
Mostre que S6 contem um subgrupo isomorfo a S4 cuja ação sobre
{1, 2, 3, 4, 5, 6} é transitiva.
[Dica: considere a ação natural de S4 sobre o conjunto dos subcon-
juntos de {1, 2, 3, 4} de cardinalidade 2.]
(8) Seja G um grupo de ordem 21 e H um subgrupo de G com |H| = 7.
Mostre que H E G (ou seja H = HG ).
(9) Seja G um grupo simples. Mostre que se G contem um subgrupo de
indice 3 então |G| = 3.
(10) Seja G um grupo e sejam x, y elementos de G. Mostre que xy e yx são
conjugados em G.
(11) Mostre que se G/Z(G) é cı́clico então G = Z(G), ou seja G é abeliano.
[Dica: chamado Z = Z(G), o quociente G/Z é gerado por um ele-
mento xZ, logo todo elemento de G tem a forma xn z com n um inteiro
e z ∈ Z. Considere dois elementos a = xn z, b = xm w de G (onde
z, w ∈ Z) e mostre que ab = ba.]

4. Teorema de Sylow
Teorema 2 (Cauchy). Seja G um grupo finito cuja ordem é divisı́vel pelo
primo p. Então existe x ∈ G de ordem p.
Demonstração. Considere Gp = G×· · ·×G (p vezes) e X = {(g1 , . . . , gp ) ∈
G : g1 · · · gp = 1}. Obviamente |X| = |G|p−1 . O grupo C = Cp = hσi age sobre
p

o conjunto X da seguinte forma: σ leva (g1 , . . . , gp ) para (g2 , . . . , gp , g1 ). Isso


define uma ação de C por meio da posição σ i (x) := σ i−1 (σ(x)). Se trata de uma
ação bem definida porque se (g1 , . . . , gp ) ∈ X então (g2 , . . . , gp , g1 ) ∈ X, de fato
g2 · · · gp g1 = g1−1 g1 · · · gp g1 = g1−1 g1 = 1.
O elemento σ fixa (g1 , . . . , gp ) se e somente se g1 = . . . = gp = g e neste caso g p =
1. A órbita de um elemento x = (g1 , . . . , gp ) não fixado por σ tem cardinalidade
14 1. GRUPOS

|C : Cx |, e sendo p primo devemos ter |C : Cx | = p, logo aplicando a equação


das órbitas obtemos que p divide a cardinalidade de Y = {(g1 , . . . , gp ) ∈ X :
g1 = . . . = gp }. De fato definido m como sendo o número de órbitas com p
elementos temos |X| = |Y | + mp e reduzindo módulo p obtemos que p divide |Y |.
Em particular |Y | > 1, logo (1, 1, . . . , 1) não é o único elemento de Y , em outras
palavras existe um elemento (g1 , . . . , gp ) ∈ X com g1 = . . . = gp = g 6= 1, daı́
g p = 1 logo g tem ordem p. 
Seja G um grupo finito e sejam H ≤ G, N E G. Seja π : G → G/N a
projeção canônica. Temos π(H) = HN/N e pelo teorema de isomorfismo sendo
ker(π|H ) = H ∩ N temos H/H ∩ N ∼ = HN/N . Deduzimos |H/H ∩ N | = |HN/N |
que pode ser escrito como |HN | = |H||N |/|H ∩ N |.

Seja G um grupo finito, e seja p um número primo que divide |G|. Um p-


subgrupo de Sylow (ou p-Sylow) de G é um subgrupo H de G tal que |H| é uma
potência de p e p não divide |G : H|. Em outras palavras escrevendo |G| = pt m
com m não divisı́vel por p, um p-subgrupo de Sylow de G é um subgrupo de G
de ordem pt .
Teorema 3 (Sylow). Sejam G um grupo finito, p um divisor primo de |G|,
e pt a maior potência de p que divide |G|. Escrevemos |G| = mpt .
(1) Para todo inteiro k tal que pk divide |G|, existe um subgrupo de G de
ordem pk . Em particular existe um p-subgrupo de Sylow de G.
(2) Dois quaisquer p-subgrupos de Sylow de G são conjugados em G, e o
número np = np (G) de p-subgrupos de Sylow divide m e é congruente a
1 módulo p.
(3) Todo p-subgrupo de G está contido em um p-subgrupo de Sylow de G.
Precisamos do lema seguinte.
Lema 1. Seja p um número primo. Se um p-subgrupo H de G normaliza um
p-subgrupo de Sylow P de G (ou seja H ≤ NG (P )) então H ≤ P .
Demonstração. Considere o normalizador NG (P ). Temos P E NG (P ) e
por hipótese H ⊆ NG (P ). Temos que HP é um subgrupo de NG (P ) sendo
que P é normal em NG (P ), e HP/P ∼ = H/H ∩ P é um p-grupo porque a sua
ordem divide a ordem de H. Segue que HP é um p-grupo (de fato |HP | =
|H||P |/|H ∩ P |) contendo P , logo |HP | = |P | por maximalidade de P (que é
um p-Sylow). Obtemos |P | = |HP | = |HP/P ||P | logo HP/P = {1}, ou seja
H ⊆ P. 
Agora mostraremos o teorema 3.
Demonstração. Item 1. Por indução sobre |G|. Podemos supor que p
divida os indices dos centralizadores dos elementos não centrais, porque se não
poderiamos aplicar a hipótese de indução a um centralizador oportuno. Pela
equação das classes X
|G| = |Z(G)| + |G : CG (xi )|,
i
4. TEOREMA DE SYLOW 15

onde os xi são representantes de classes de conjugação não contidas no centro,


deduzimos que p divide |Z(G)|. Seja x um elemento de Z(G) de ordem p (existe
pelo teorema de Cauchy). Sendo x ∈ Z(G), o subgrupo hxi é normal em G
e o quociente G/hxi tem ordem |G|/p = mpt−1 . Se k = 0 o subgrupo {1}
tem ordem 1 = p0 , agora suponha k > 0. Por hipótese de indução, sendo 0 ≤
k − 1 ≤ t − 1, o quociente G/hxi contem um subgrupo H/hxi de ordem pk−1 , daı́
|H| = |H/hxi||hxi| = pk−1 p = pk .

Item 2. Seja Π o conjunto dos p-Sylow de G, e considere a ação de conjugação


de G sobre Π: (g, P ) 7→ gP g −1 . Seja P ∈ Π. Seja Σ uma órbita de Π para a
ação de conjugação de G, e particionamos Σ em P -órbitas. A cardinalidade de
tais órbitas é uma potência de p porque P é um p-grupo. Se P ∈ Σ então {P }
é uma P -órbita (porque P normaliza P ), e é a única P -órbita com um único
elemento porque se {Q} é uma P -órbita então P normaliza Q logo pelo Lema 1
temos P ⊆ Q e segue P = Q sendo |P | = |Q|. Da equação das órbitas segue então
que |Σ| ≡ 1 mod (p). Por outro lado se P 6∈ Σ então pelo Lema 1 não existem
P -órbitas de Σ com um único elemento, logo pela equação das órbitas p divide
|Σ|. Segue que:
• se P ∈ Σ então |Σ| ≡ 1 mod (p).
• se P 6∈ Σ então p divide |Σ|.
Segue que o segundo caso não pode acontecer (ou seja não existe P 6∈ Σ), em
outras palavras Σ = Π, ou seja a ação de G sobre Π é transitiva, e isso mostra
a primeira parte do segundo item. Vimos que np (G) = |Π| = |Σ| ≡ 1 mod (p).
Para mostrar que np (G) = |Π| divide m = |G|/pt basta observar que se P ∈ Π
então |Π| = |G : NG (P )| divide |G : P | = m sendo que P ⊆ NG (P ) (mais
especificamente |G : P | = |G : NG (P )||NG (P ) : P |).

Item 3. Seja agora H um p-subgrupo de G. Particionamos Π em H-órbitas.


Como cada H-órbita tem um número de elementos que é uma potência de p, e
a cardinalidade de Π é congruente a 1 módulo p, deve existir uma H-órbita que
contem um único elemento, P . Segue que H normaliza P , ou seja H ⊆ P pelo
lema 1.

Isso termina a demonstração do teorema 3. 

Dado um primo p e um grupo G indicaremos com np (G) ou simplesmente com


np o número de p-subgrupos de Sylow de G. Observe que np = 1 se e somente se
o p-subgrupo de Sylow de G é normal em G.

Por exemplo suponha que |G| = mp com p primo e m < p. Então G não é um
grupo simples. De fato, os p-subgrupos de Sylow têm ordem p e indicado com np
o número de p-subgrupos de Sylow, np divide m e np ≡ 1 mod p. Como m < p
deduzimos np = 1 logo existe um único p-subgrupo de Sylow, logo é normal.
16 1. GRUPOS

O problema geral: dado um grupo G conseguimos entender se G é simples


apenas conhecendo a sua ordem |G|? Observe que G é simples abeliano se e
somente se |G| é um número primo p e neste caso G ∼
= Cp .

Por exemplo se G tem ordem 21 não é simples pois contem um 7-Sylow, que
tem indice 3, logo é normal (pelo teorema de Sylow). Por exemplo se G tem
ordem 40 = 23 · 5 então G não é simples pois n5 = 1.

Um exemplo mais interessante é: se |G| = 30 mostraremos que G não é


simples. Temos |G| = 30 = 2 · 3 · 5 daı́ n5 = 1 ou n5 = 6. Se n5 = 1 acabou, agora
suponha n5 = 6. Daı́ G contem 4 · 6 = 24 elementos de ordem 5 logo G contem
exatamente 6 elementos de ordem diferente de 5, mas se n2 > 1 e n3 > 1 então
tem a identidade, pelo menos dois elementos de ordem 2 e pelo menos quatro
elementos de ordem 3, uma contradição.

Exercı́cios.

(1) Seja G um grupo finito e seja p um número primo. Mostre que |G| é
uma potência de p se e somente se todo elemento de G tem ordem uma
potência de p.
(2) Mostre que se G é um grupo tal que |G| ∈ {6, 12, 18, 24} então G não é
um grupo simples.
(3) Seja G um grupo finito com um subgrupo H de indice 4. Mostre que G
não é simples. [Dica: G/HG é isomorfo a um subgrupo de S4 ...]
(4) Seja G um grupo não abeliano com |G| < 60. Mostre que G não é
simples.
(5) Seja G um grupo não abeliano com 60 < |G| < 168. Mostre que G não é
simples. [Cuidado: algumas ordens são difı́ceis, falaremos delas em sala
de aula. Mas é bom tentar.]
(6) Seja p um primo. Calcule np (G) nos casos seguintes.
(a) G = GL(2, p) (“general linear group”), o grupo das matrices 2 × 2
inversı́veis com coeficientes no corpo Z/pZ, ou seja
  
a b
G = GL(2, p) = : a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad − bc 6= 0 .
c d
[Dica: comece calculando |GL(2, p)|: tem p2 − 1 escolhas para a
primeira coluna e p2 − p escolhas para a segunda.]
(b) G = SL(2, p) (“special linear group”), o grupo das matrices 2 × 2
com coeficientes no corpo Z/pZ e determinante 1, ou seja
  
a b
G = SL(2, p) = : a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad − bc = 1 .
c d
[Dica: sendo o determinante det : GL(2, p) → Z/pZ − {0} um ho-
momorfismo sobrejetivo com núcleo SL(2, p) obtemos pelo teorema
de isomorfismo (p − 1)|SL(2, p)| = |GL(2, p)|.
5. O GRUPO SIMÉTRICO DE GRAU 4 17

(c) O grupo seguinte:


  
a b
G= : a, b, c ∈ Z/pZ, ac 6= 0 ≤ GL(2, p).
0 c
(7) Seja P um subgrupo de Sylow de G. Mostre que NG (NG (P )) = NG (P ).

5. O grupo simétrico de grau 4


Considere o grupo G = S4 , grupo simétrico de grau 4, agindo sobre X =
{1, 2, 3, 4} da maneira natural. Se trata de um grupo de ordem 4! = 24 = 23 · 3.

5.1. Os subgrupos de Sylow. Imagine os elementos de X como vertices


de um quadrado:
1 2

4 3
Pense no √ comprimento do lado como unitário, assim as diagonais têm compri-
mento 2. O conjunto dos elementos que preservam a distância é um subgrupo
D, chamado de grupo diedral de grau 4. Os seus elementos são também chamados
de “isometrias” do quadrado. Por exemplo a rotação horária de noventa graus
é dada pelo 4-cı́clo (1234) ∈ D. As reflexões também são isometrias e nenhum
3-cı́clo é uma isometria. É fácil entender que
D = {1, (1234), (1432), (13)(24), (12)(34), (14)(23), (13), (24)}.
Em particular D é um 2-Sylow de S4 . Observe que D não é abeliano porque
(13)(1234) = (12)(34) e (1234)(13) = (14)(23). Como existem elementos de
ordem 2 fora de D (por exemplo (14)) e todo 2-subgrupo está contido em um
2-subgrupo de Sylow, deduzimos que n2 (G) 6= 1. Como n2 (G) divide |G : D| =
3 obtemos que n2 (G) = 3. Os conjugados de D correspondem aos grupos de
isometria correspondentes às varias maneiras de enumerar os vertices do quadrado.
Analogamente n3 (G) ∈ {1, 4} e n3 (G) 6= 1 porque nem todos os conjugados de
(123) pertencem a h(123)i (por exemplo considere (234)). Logo n3 (G) = 4.

5.2. Os subgrupos normais. Considere K := DG , o coração normal de D


em G. Sabemos que G/K é isomorfo a um subgrupo de S3 , e |G : K| = |G : D||D :
DG | = 3|D : DG |, segue que |D : DG | ∈ {1, 2}. Por outro lado |D : DG | = 6 1
porque se não seria D = DG ou seja D EG, e isso é falso porque n2 (G) = 3. Segue
que G/K ∼ = S3 e |D/K| = 2 daı́ |K| = |D|/2 = 4. O subgrupo K é chamado de
grupo de Klein. É um subgrupo normal de G de ordem 4 e G/K ∼ = S3 . Temos

K = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)} = C2 × C2 . Grupo de Klein.
Observe que o grupo alternado A = A4 é normal em G de indice 2 e contem K,
daı́ temos uma sequência de subgrupos normais (as setas sendo inclusões)

{1}
4 /K 3 /A 2 /G
18 1. GRUPOS

Mostraremos que eles são os únicos subgrupos normais de G. Para isso


lembre-se que os únicos subgrupos normais de S3 são os dois triviais e o grupo
alternado de grau 3. Seja N um subgrupo normal de G com N 6= {1}, K, A, G
por contradição. Se K ≤ N então N é um entre K, A e G (pelo teorema de
correspondência) logo podemos supor K 6≤ N , daı́ N ∩ K tem ordem 1 ou 2.
Mas se fosse |N ∩ K| = 2 então escrevendo N ∩ K = hxi = {1, x}, o elemento x
pertenceria ao centro de G (sendo N ∩ K normal em G) e Z(G) = {1}. Segue
que N ∩ K = {1}. Deduzimos que N K é um subgrupo normal de G de ordem
4|N |, logo |N | ∈ {1, 2, 3, 6}. Já sabemos que não pode ser |N | ∈ {1, 3} (lembre-se
que n3 (G) = 4) e |N | 6= 2 porque se não seria N ≤ Z(G), logo |N | = 6. Se P é
um 3-Sylow de N então tendo ordem 3 é um 3-Sylow de G. Como N é normal
em G, os conjugados de P em G estão contidos em N , mas então são iguais a P
porque n3 (N ) = 1 pelo teorema de Sylow. Isso implica (pelo teorema de Sylow)
que todos os 3-Sylow de G estão contidos em N , logo G tem um único 3-Sylow,
o que contradiz n3 (G) = 4.

5.3. Os quocientes. Segue como corolário que os quocientes de S4 são


S4 /{1} ∼
= S4 , S4 /K ∼
= S3 (K é o núcleo da ação de conjugação de S4 no conjunto
dos seus 2-subgrupos de Sylow), S4 /A ∼ = C2 e S4 /S4 ∼ = {1}.

5.4. Os subgrupos maximais. Um subgrupo maximal de G é um subgrupo


M tal que os únicos H com M ≤ H ≤ G são M e G. Sendo |G : M | = |G :
H||H : M | quando M ≤ H ≤ G, é claro que se M é um subgrupo de indice
primo então é maximal. O grupo alternado A tem indice 2 em G logo é maximal.
O grupo diedral D tem indice 3 em G logo é maximal, assim como os seus três
conjugados. Considere os estabilizadores Gx com x ∈ X, sabemos que Gx ∼ = S3 .
Eles são maximais. De fato se Gx < H < G então |G : H| = 2 logo H é normal,
mas vimos acima que o único subgrupo normal de indice 2 é A, logo H = A, e
isso é uma contradição porque A não contem nenhum estabilizador Gx (todos os
estabilizadores contêm 2-cı́clos, e os 2-cı́clos não pertencem a A).
Os conjugados de D, os Gx com x ∈ X e A são os únicos subgrupos
maximais de G. Para mostrar isso seja M um subgrupo maximal de G. Se
|G : M | = 2 então M E G logo M = A. Se |G : M | = 3 então M é um 2-Sylow
logo é conjugado a D. Se |G : M | = 4 então |M | = 6 logo M não é transitivo
(4 = |X| não divide |M |), por outro lado M contem um 3-cı́clo logo as órbitas
de M têm tamanho 1 e 3 e deduzimos que M = Gx para algum x ∈ X. Se
|G : M | = 6 então |M | = 4 logo M não é maximal porque está contido em um
2-Sylow, que tem ordem 8 (todo 2-subgrupo de G está contido em um 2-Sylow
de G). Se |G : M | = 8 então |M | = 3 logo M é um 3-Sylow logo não é maximal
porque está contido em um oportuno Gx , que tem ordem 6. Se |G : M | = 12
então |M | = 2 logo M está contido em um 2-Sylow logo não é maximal.

5.5. Os subgrupos transitivos. Os subgrupos transitivos são G, A,


K, os conjugados de D e os subgrupos cı́clicos de ordem 4 (os gerados
pelos 4-cı́clos). Para ver isso seja H um subgrupo transitivo de G. Observe que
|X| = 4 divide |H| e |H| divide |G| = 24, logo |H| ∈ {4, 8, 12, 24}. Se |H| = 8
5. O GRUPO SIMÉTRICO DE GRAU 4 19

então H é um 2-Sylow (ou seja é conjugado a D), se |H| = 12 então H tem indice
2 em G, logo é normal em G, logo H = A (já temos a lista de todos os subgrupos
normais!), e se |H| = 24 então H = G. Precisamos estudar agora o caso |H| = 4.
Neste caso a ação é regular e tem duas possibilidades: H é cı́clico ou não é cı́clico.
No primeiro caso H é gerado por um 4-cı́clo. No segundo caso os elementos não
triviais de H têm ordem 2. Mostraremos que neste caso H = K é o grupo de
Klein. Sendo |H| = 4, H é abeliano (veja as listas). A menos de conjugar H com
um elemento oportuno podemos supor H ≤ D. Se H contem (13) então como
os únicos elementos de D de ordem 2 que comutam com ele são (24) e (13)(24)
obtemos H = {1, (13), (24), (13)(24)}, mas esse subgrupo não é transitivo, uma
contradição. Analogamente H não pode conter (24). Mas então os elementos de
H são 1, (12)(34), (13)(24) e (14)(23), ou seja H = K.

Exercı́cios.

(1) Sejam A e B subgrupos normais de um grupo G tais que A ∩ B = {1}.


Mostre que ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. [DICA: dados a ∈ A e
b ∈ B mostre que aba−1 b−1 ∈ A ∩ B.]
(2) Seja G um grupo finito com dois subgrupos normais A, B tais que AB =
G e A ∩ B = {1}. Mostre que G ∼ = A × B.
(3) Seja G um grupo de ordem 6. Mostre que se G é abeliano então é cı́clico,
e que se G não é abeliano então G ∼
= S3 .
(4) Seja G um grupo de ordem 15. Mostre que G é cı́clico.
(5) Seja G um grupo não abeliano de ordem 231 = 3 · 7 · 11. Mostre que
|Z(G)| = 11. [DICA: considere a ação de conjugação de G sobre o
conjunto dos elementos de ordem 11.]
(6) Seja G um grupo de ordem 12. Mostre que G ∼ = A4 se e somente se G
não contem subgrupos de indice 2. [DICA: se G de ordem 12 contem
um subgrupo N de indice 2 então olhando ao 3-Sylow de N mostre que
n3 (G) = 1.]
(7) Seja P um p-subgrupo de Sylow do grupo finito G e seja N E G. Mostre
que P ∩N é um p-subgrupo de Sylow de N e que P N/N é um p-subgrupo
de Sylow de G/N . [DICA: precisa mostrar que p não divide |N : P ∩ N |
e que p não divide |G/N : P N/N |.]
(8) Seja p um número primo. Mostre que todo grupo de ordem p2 é abeliano.
[DICA: lembre-se do exercı́cio que falava que se G/Z(G) é cı́clico então
G é abeliano.]
(9) Seja G um grupo de ordem p2 q onde p, q são dois primos distintos.
Mostre que G não é simples. [DICA: pelo exercı́cio anterior os p-Sylow
de G são abelianos. Sejam P1 , P2 dois p-Sylow, então P1 ∩ P2 E P1 e
P1 ∩ P2 E P2 sendo P1 , P2 abelianos. Considere NG (P1 ∩ P2 ).]
(10) Seja G um grupo agindo sobre o conjunto X e seja x ∈ X. Mostre que
gGx g −1 = Ggx .
20 1. GRUPOS

6. O grupo simétrico de grau 5


Observe que o grupo simétrico Sn é abeliano se e somente se n ≤ 2. De fato
se n ≥ 3 então (12) e (123) não comutam. Analogamente An é abeliano se e
somente se n ≤ 3. De fato se n ≥ 4 então (123) e (12)(34) não comutam.
No que segue usaremos muito o princı́pio da contagem: se x ∈ G então x tem
|G : CG (x)| conjugados em G.

Lema 2. Seja σ = (12 . . . n) ∈ Sn . Então CSn (σ) = hσi. Se n é impar


CAn (σ) = hσi e An contem duas classes de conjugação de n-cı́clos.

Demonstração. Os conjugados de σ em Sn são os cı́clos de comprimento


n, logo σ tem exatamente (n − 1)! conjugados em Sn (um n-cı́clos tem a forma
(1a2 . . . an ) e temos (n − 1)! escolhas para a2 , . . . , an ). Segue do princı́pio da
contagem que |Sn : CSn (σ)| = (n − 1)! ou seja |CSn (σ)| = n. Como σ ∈ CSn (σ)
obtemos hσi ≤ CSn (σ), mas daı́ hσi e CSn (σ) são subgrupos da mesma ordem,
um contido no outro, e obtemos a igualdade. Se n é impar então σ ∈ An , logo
hσi ≤ An e CAn (σ) = CSn (σ) ∩ An = hσi ∩ An = hσi. Segue que o número de
conjugados de σ em An é |An : CAn (σ)| = (n!/2)/n = (n − 1)!/2. Isso vale para
qualquer n-cı́clo, logo como An contem (n − 1)! n-cı́clos obtemos que em An tem
exatamente duas classes de tais cı́clos. 

Lema 3. Seja H um subgrupo de Sn . Então H ≤ An ou |H : H ∩ An | = 2.

Demonstração. Suponha H não contido em An . Então sendo An E Sn


temos que An ≤ HAn ≤ Sn . Como |Sn : An | = 2 deduzimos que HAn é igual
a An ou a Sn . Mas HAn 6= An porque por hipótese H 6≤ An , logo HAn = Sn .
Obtemos
∼ HAn /An = Sn /An ∼
H/H ∩ An = = C2 ,
logo |H : H ∩ An | = |H/H ∩ An | = 2. 

6.1. Equação das classes de S5 . Considere o grupo G = S5 , grupo simétrico


de grau 5, agindo sobre X = {1, 2, 3, 4, 5} da maneira natural. Como em S5 dois
elementos são conjugados se e somente se têm a mesma estrutura cı́clica, os re-
presentantes das classes de conjugação de S5 são 1, (12), (123), (1234), (12345),
(12)(34), (12)(345). Obviamente 1 tem apenas um conjugado. O número de
conjugados de (12) é o número de 2-cı́clos, é dado por 52 = 10. O número de


conjugados de (123) é o número de 3-cı́clos, é dado por 53 2 = 20 (temos que




escolher os três elementos do cı́clo e com eles podemos construir (3 − 1)! = dois
3-cı́clos). Analogamente (1234) tem 5 · 3! = 30 conjugados e (12345) tem 4! = 24
conjugados. (12)(34) tem 5 · 3 conjugados (5 escolhas para o elemento fixado e
podemos construir  exatamente três conjugados de (12)(34) usando 4 elementos).
(12)(345) tem 53 2 = 20 conjugados (a escolha do 3-cı́clo determina o elemento).
A equação das classes de S5 é então

1 + 10 + 20 + 30 + 24 + 15 + 20 = 120.
6. O GRUPO SIMÉTRICO DE GRAU 5 21

6.2. Equação das classes de A5 . A5 é um subgrupo de S5 de indice 2.


Sendo |S5 | = 5! = 120 temos |A5 | = 5!/2 = 60.

Observe que t = (23) leva (por conjugação) a = (12345) para b = (13245),


ou seja tat−1 = b. Se s ∈ S5 é tal que sas−1 = b então tat−1 = sas−1 ou seja
s−1 ta = as−1 t, logo s−1 t ∈ CS5 (a) = hai ≤ A5 , e como t 6∈ A5 segue que s 6∈ A5
(se fosse s ∈ A5 então sendo t 6∈ A5 o elemento s−1 t seria uma permutação ı́mpar).
Isso mostra que a e b não são conjugados em A5 . Ou seja (veja o lema) as classes
de 5-cı́cos contidas em A5 são a classe de a e a classe de b. Elas têm tamanho
4!/2 = 12.

S5 contem 20 cı́clos de comprimento 3. Seja τ um deles. Temos então


|CS5 (τ )| = 120/20 = 6. Mas cada um deles comuta com o 2-cı́clo disjunto τ ∗
e hτ, τ ∗ i tem ordem 6 (é cı́clico gerado por τ τ ∗ ). Segue que CS5 (τ ) = hτ, τ ∗ i e
por consequência CA5 (τ ) = hτ i. Segue que τ tem 60/3 = 20 conjugados em A5
ou seja A5 contem uma única classe de 3-cı́clos.

S5 contem 15 elementos de estrutura cı́clica (2, 2). Seja τ = (12)(34) e C =


CS5 (τ ). Temos então |C| = 120/15 = 8 logo C 6≤ A5 (porque 8 não divide
|A5 | = 60) e deduzimos pelo lema que |C : C ∩ A5 | = 2 ou seja |CA5 (τ )| =
|C ∩ A5 | = |C|/2 = 8/2 = 4. Segue τ tem 60/4 = 15 conjugados em A5 , em
outras palavras A5 contem uma única classe de elementos de estrutura cı́clica
(2, 2).

Os elementos de estrutura cı́clica (2), (4) e (3, 2) não pertencem a A5 (são


ı́mpares).

Resumindo, representantes das classes de conjugação de A5 são 1, (12345),


(13245), (123), (12)(34) e a equação das classes de A5 é
1 + 12 + 12 + 20 + 15 = 60.
6.3. Subgrupos normais.
Teorema 4. A5 é um grupo simples. Em outras palavras os únicos subgrupos
normais de A5 são {1} e A5 .
Demonstração. Seja N um subgrupo normal de A5 . Então N tem as
seguintes propriedades: N é união (disjunta!) de classes de conjugação de A5
(sendo um subgrupo normal de A5 ), |N | divide |A5 | = 60 (sendo N ≤ A5 ) e
1 ∈ N . Segue que a soma dos tamanhos das classes contidas em N , incluindo
1, é igual a |N |, em particular divide 60. Mas supondo N 6= {1} e N 6= A5 , as
somas possı́veis são 1 + 12 = 13, 1 + 20 = 21, 1 + 15 = 16, 1 + 12 + 12 = 25,
1 + 12 + 20 = 33, 1 + 12 + 15 = 28, 1 + 20 + 15 = 36, 1 + 12 + 12 + 20 = 45,
1 + 12 + 12 + 15 = 40, 1 + 12 + 20 + 15 = 48. Nenhum desses números divide 60.
Contradição. 
Corolário 1. Os únicos subgrupos normais de S5 são {1}, A5 e S5 .
22 1. GRUPOS

Demonstração. Seja N um subgrupo normal de S5 . Se N ≤ A5 então


N E A5 logo N = {1} ou N = A5 (sendo A5 simples). Agora suponha N 6≤ A5 . A
interseção N ∩A5 é um subgrupo normal de S5 (sendo uma interseção de subgrupos
normais) contido em A5 , logo N ∩A5 EA5 e sendo A5 simples temos N ∩A5 = {1}
ou N ∩ A5 = A5 . No segundo caso A5 ≤ N e isso é falso porque estamos supondo
N 6≤ A5 , logo N ∩ A5 = {1}. Mas pelo lema 2 = |N : N ∩ A5 | = |N | logo N é um
subgrupo normal de S5 de ordem 2 e sabemos que isso implica N ≤ Z(S5 ) = {1},
uma contradição. 

6.4. Subgrupos de Sylow. |S5 | = 5! = 120 = 23 · 3 · 5,


|A5 | = 5!/2 = 60 = 22 · 3 · 5.

S5 e A5 agem sobre X = {1, 2, 3, 4, 5} de maneira transitiva. Os estabiliza-


dores da ação de S5 são isomorfos a S4 e os estabilizadores da ação de A5 são
isomorfos a A4 . Os subgrupos de Sylow de S5 são: cı́clico de ordem 3, cı́clico
de ordem 5 e diedral de ordem 8 (o diedral de ordem 8 estando contido em um
estabilizador!). Os subgrupos de Sylow de A5 são: cı́clico de ordem 3, cı́clico de
ordem 5 e abeliano Klein do tipo C2 × C2 (os Klein estando contidos nos esta-
bilizadores!). Os únicos subgrupos de Sylow transitivos (de S5 e de A5 ) são os
5-Sylow (observe que se H ≤ S5 é transitivo então 5 divide |H|).

Sendo 3 primo a interseção de cada dois 3-Sylow é {1} logo n3 (S5 ) = n3 (A5 ) =
20/2 = 10 (número de 3-cı́clos dividido pelo número de 3-cı́clos em cada 3-Sylow)
e analogamente n5 (S5 ) = n5 (A5 ) = 24/4 = 6.

Para calcular n2 (A5 ) observe que podemos identificar A4 com o subgrupo


de A5 que consiste das permutações pares de {1, 2, 3, 4, 5} que fixam 5. Seja
H tal subgrupo, temos H ∼ = A4 . Seja K o subgrupo de Klein de H, ou seja
K = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)}, sabemos que K E H logo H ≤ NS5 (K).
Além disso K é um 2-Sylow de A5 logo n2 (A5 ) = |A5 : NA5 (K)|. Por outro lado
5 = |A5 : H| = |A5 : NA5 (K)| · |NA5 (K) : H| = n5 (A5 ) · |NA5 (K) : H|
mostra que n5 (A5 ) divide 5 logo n5 (A5 ) = 5 (não pode ser n5 (A5 ) = 1 sendo A5
simples).

Para calcular n2 (S5 ) observe que cada 2-Sylow P está contido em um esta-
bilizador (porque um estabilizador tem ordem divisı́vel por 8 e os estabilizadores
são conjugados) e já vimos que os 2-Sylow de S4 são transitivos, isso mostra que
P tem exatamente duas órbitas em {1, 2, 3, 4, 5} (uma de tamanho 4, a outra de
tamanho 1). Segue que existe um único estabilizador que contem P . Mas tem
5 estabilizadores e cada um contem três 2-Sylow, logo n2 (S5 ) = 5 · 3 = 15. Em
outras palavras NS5 (P ) = P .

Exercı́cios.
7. SOLUBILIDADE 23

(1) Seja σ ∈ Sn um cı́clo de comprimento n − 1. Mostre que CSn (σ) = hσi.


(2) Seja G um grupo simples de ordem 60. Mostre que G ∼ = A5 . [DICA:
basta encontrar um subgrupo de indice 5 (por quê?); no caso n2 = 15
sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, então P ∩ Q é normal em P e em Q
(por quê?), calcule o indice |G : NG (P ∩ Q)|.]
(3) Mostre que S6 contem um subgrupo H cuja ação natural sobre X =
{1, 2, 3, 4, 5, 6} é transitiva e com a propriedade que H ∼
= S5 . [Dica: S5
contem seis 5-subgrupos de Sylow.]
(4) Escreva a equação das classes de S6 e de A6 .
(5) Seja p ≥ 2 um inteiro. Mostre que p é primo se e somente se p divide
(p − 1)! + 1. [DICA: se p é primo, conte os p-subgrupos de Sylow do
grupo simétrico Sp .]
(6) Seja p um primo. Conte os p-subgrupos de Sylow de G = GL(3, p) (o
grupo das matrizes 3 × 3 inversı́veis com coeficientes em Z/pZ). [|G| =
(p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2 )]. Dica: considere
  
 1 x y 
P :=  0 1 z  : x, y, z ∈ Z/pZ .
0 0 1
 

Curiosidade: GL(3, 2) é um grupo simples de ordem 168.


(7) Dado um grupo G, o grupo dos automorfismos Aut(G) de G é o grupo
dos isomorfismos G → G com a operação de composição. Seja α : G →
Aut(G) dado por α(g)(x) = gxg −1 . Se trata de um homomorfismo de
grupos e ker(α) = Z(G). Mostre que Aut(S4 ) ∼ = S4 . [DICA: Seja X
o conjunto dos subgrupos de S4 de indice 4. Aut(S4 ) age sobre X de
maneira natural. Mostre que tal ação é fiel.]
(8) Mostre que se Aut(G) é cı́clico então G é abeliano.

7. Solubilidade
Um grupo G é dito solúvel se existe uma sequência (ou “série”) de subgrupos
H0 , H1 , . . . , Hn de G com as propriedades seguintes:
• H0 = {1},
• Hn = G,
• Hi é um subgrupo normal de Hi+1 para todo i = 0, 1, . . . , n − 1,
• Hi+1 /Hi é um grupo abeliano para todo i = 0, 1, . . . , n − 1.
Por exemplo todo grupo abeliano G é solúvel: basta escolher n = 1, H0 = {1},
H1 = G. Um exemplo de grupo solúvel não abeliano é S3 , considerando a série
{1} < A3 < S3 : os quocientes são A3 /{1}, cı́clico de ordem 3, e S3 /A3 , cı́clico de
ordem 2.
Proposição 5. Se G é solúvel e H ≤ G, N EG então H e G/N são solúveis.
Demonstração. Sejam H1 , . . . , Hn como na definição de grupo solúvel.
Seja Ki := Hi ∩ H para todo i = 0, 1, . . . , n. Observe que K0 = {1}, Kn = H,
e Ki é um subgrupo normal de Ki+1 (de fato se g ∈ Ki+1 então gKi g −1 está
contido em H sendo Ki ≤ H e g ∈ H, e está contido em Hi sendo g ∈ Hi+1 e Hi
24 1. GRUPOS

normal em Hi+1 ). Além disso Ki+1 /Ki = Ki+1 /Ki+1 ∩ Hi ∼ = Ki+1 Hi /Hi é um
subgrupo de Hi+1 /Hi , que é abeliano, logo Ki+1 /Ki é abeliano.
Agora observe que
Hi+1 N/N ∼ Hi+1 N Hi+1 Hi N ∼ Hi+1
= = =
Hi N/N Hi N Hi N Hi+1 ∩ Hi N
é um quociente de Hi+1 /Hi porque Hi ≤ Hi+1 ∩ Hi N . Como Hi+1 /Hi é abeliano
segue que HHi+1 N/N
i N/N
é abeliano. Isso implica que a serie
N/N ≤ H1 N/N ≤ H2 N/N ≤ . . . ≤ Hn N/N = G/N
tem fatores abelianos, logo G/N é solúvel. 

Corolário 2. O grupo simétrico Sn é solúvel se e somente se n ≤ 4.


Demonstração. Observe que podemos identificar cada grupo simétrico Sn
com o subgrupo de Sn+1 das permutações de {1, 2, . . . , n+1} que fixam o elemento
n + 1. Segue da proposição que para mostrar que Sn é solúvel se e somente se
n ≤ 4 basta mostrar que S4 é solúvel e S5 não é solúvel. S4 é solúvel porque
temos a sequência
{1} < K < A4 < S4
∼ C2 , A4 /K =
onde K é o grupo de Klein, e S4 /A4 = ∼ C3 , K/{1} = ∼K= ∼ C2 ×C2 são
abelianos. O grupo alternado A5 é simples não abeliano logo a única sequência
de subgrupos, cada um normal no seguinte, é {1} < A5 , e A5 /{1} não é abeliano.
Segue que A5 não é solúvel logo sendo A5 um subgrupo de S5 segue que S5 não
é solúvel. 

Observe que se G é um grupo com um subgrupo normal N tal que N e


G/N são solúveis então G é solúvel: dadas as sequências H0 , . . . , Hn de N e
K0 /N, . . . , Km /N para N e G/N como na definição de grupo solúvel, com H0 =
{1}, Hn = N = K0 e Km = G, considere a sequência H0 , H1 , . . . , Hn−1 , Hn =
K0 , K1 , . . . , Km .
Proposição 6. Seja p um primo. Todo p-grupo finito é solúvel.
Demonstração. Por indução sobre n onde |G| = pn . Se n = 1 então

G = Cp é abeliano, em particular é solúvel. Suponha o resultado verdadeiro para
os grupos de ordem pm com m < n e seja G um grupo de ordem pn . Sabemos
que Z(G) 6= {1}. Se Z(G) = G então G é abeliano, em particular solúvel. Se
Z(G) 6= G então G/Z(G) é solúvel por hipótese de indução. Mas então Z(G) é
solúvel (porque abeliano) e G/Z(G) é solúvel, logo G é solúvel. 

8. Resolução dos exercı́cios - Grupos


(1) O grupo G aja a direita sobre o conjunto X levando (α, g) ∈ X × G para
αg. Mostre que a formula g ∗ α := αg −1 (onde g ∈ G e α ∈ X) define
uma ação a esquerda de G sobre X.
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 25

Temos 1 ∗ α = α1−1 = α1 = 1 e se g, h ∈ G então g ∗ (h ∗ α) =


g ∗ (αh−1 ) = (αh−1 )g −1 = α(h−1 g −1 ) = α((gh)−1 ) = (gh) ∗ α.

(2) O grupo simétrico G = S4 age de maneira natural sobre X = {1, 2, 3, 4}.


Calcule o indice |G : Gα | para todo α = 1, 2, 3, 4.

Como a ação de G sobre X é transitiva, sendo OG (1) = X (e por


consequência OG (α) = X para todo α ∈ X), obtemos que |G : Gα | =
|X| = 4 para todo α ∈ X. O fato que OG (1) = X pode ser visto usando
o cı́clo σ = (1234), de fato 1, σ(1) = 2, σ 2 (1) = 3, σ 3 (1) = 4 pertencem a
OG (1).

(3) Se G age sobre X e H ≤ G podemos considerar as órbitas da ação de


H sobre X (H-órbitas). Considere G = S4 agindo da maneira natural
sobre X = {1, 2, 3, 4} e H = Gα onde α ∈ X. Conte as H-órbitas.

A menos de trocar os nomes dos elementos podemos supor α = 4.


Temos H = StabG (4) ∼ = S3 , os elementos de H são 1, (12), (13), (23),
(123), (132). Segue que as H-órbitas são {1, 2, 3} e {4}. Mais em geral
as Gα -órbitas são X − {α} e {α}. Logo tem exatamente duas H-órbitas.

(4) Seja G um grupo. Mostre que G age sobre G × G por meio da regra

G × (G × G) → G × G, (g, (α, β)) 7→ (gα, gβ).

Conte as órbitas dessa ação em termos de n = |G|.

A órbita de (α, β) é {(gα, gβ) : g ∈ G}, ela tem tamanho n = |G|.


Segue que todas as órbitas têm tamanho n logo sendo que |G × G| = n2
o número de órbitas é n.

(5) G aja de maneira fiel sobre X, e seja H ≤ G. Suponha que a ação de


H sobre X seja transitiva. Defina K = CG (H) = {g ∈ G : gh =
hg ∀h ∈ H} (o centralizador de H em G). Mostre que Kα = {1} para
todo α ∈ X.

Seja g ∈ Kα . Temos gα = α. Se β ∈ X então existe h ∈ H com


hα = β (porque a ação de H é transitiva) daı́ gβ = ghα = hgα = hα =
β,Tsegue que g ∈ Kβ . Mas isso valeT para todo β ∈ X, logo g pertence
a β∈X Kβ , que está contido em β∈X Gβ = {1} (sendo a ação de G
sobre X fiel). Segue que g = 1.

(6) Seja G um grupo finito abeliano que age de maneira fiel e transitiva
sobre um conjunto X. Mostre que |G| = |X|.
26 1. GRUPOS

Como G é abeliano temos que CG (G) = G logo aplicando o exercı́cio


anterior obtemos Gα = {1} para todo α ∈ X. Sendo a ação transitiva,
para um qualquer α ∈ X temos |X| = |G : Gα | = |G|.

(7) Seja G um grupo que age de maneira fiel e transitiva sobre X. Mostre
que |Z(G)| divide |X|.

O grupo Z(G) age sobre X e tal ação é fiel. Seja O ⊆ X uma


Z(G)-órbita. Sendo Z(G) um grupo abeliano que age de maneira fiel e
transitiva sobre O, pelo exercı́cio anterior obtemos |O| = |Z(G)|. Isso
vale para todas as Z(G)-órbitas logo pela equação das órbitas |Z(G)|
divide |X|.

(8) Seja G um grupo. Mostre que toda classe de conjugação de G tem


tamanho no máximo |G : Z(G)|.

A classe de conjugação de x ∈ G tem tamanho |G : CG (x)| e como


Z(G) ≤ CG (x) temos |G : Z(G)| = |G : CG (x)| · |CG (x) : Z(G)| daı́
|G : CG (x)| ≤ |G : Z(G)|.

(9) Conte as classes de conjugação de A4 e de S4 .

S4 é mais fácil: duas permutações são conjugadas se e somente se


elas têm a mesma estrutura cı́clica. Segue que representantes de classes
de conjugação são 1, (12), (123), (1234) e (12)(34), logo S4 tem 5 classes
de conjugação e a equação das classes é 1 + 6 + 8 + 6 + 3 = 24. No caso
de
A = A4 = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23), (123), (132), (124),

(142), (234), (243), (134), (143)}.


Vamos calcular os centralizadores. Para fazer isso lembre-se que, nos
grupo simétricos, sendo gxg −1 (g(i)) = g(x(i)) temos que o conjugado
de um cı́clo é
g(i1 · · · ik )g −1 = (g(i1 ) · · · g(ik )).
Por exemplo (1234)(123)(45)(1234)−1 = (234)(15). Além disso se c1 ,
. . ., cn são cı́clos então
gc1 c2 · · · cn g −1 = gc1 g −1 gc2 g −1 · · · gcn g −1
e isso permite de calcular facilmente os conjugados de uma permutação
qualquer (escrita como produto de cı́clos disjuntos).
Um elemento y pertence a CA (x) se e somente se yxy −1 = x. Lem-
brando isso vamos calcular os centralizadores dos elementos de A. Ob-
viamente CA (1) = A e
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 27

• CA ((12)(34)) = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)}, e é também igual


ao centralizador de (13)(24) e de (14)(23).
• CA ((123)) = CA ((132)) = {1, (123), (132)}.
• CA ((124)) = CA ((142)) = {1, (124), (142)}.
• CA ((234)) = CA ((243)) = {1, (234), (243)}.
• CA ((134)) = CA ((143)) = {1, (134), (143)}.
Segue que (12)(34) tem 3 conjugados, que obviamente são (12)(34),
(13)(24) e (14)(23), e a classe de (12)(34) é a única com 3 elementos.
Como cada 3-cı́clo tem 4 conjugados, existem exatamente duas classes
com 4 elementos sendo 1 + 3 + 4 + 4 = 12 = |A| (equação das classes).
Segue que A contem quatro classes de conjugação.
Curiosidade: conjugando com os 3-cı́clos obtemos que
• a classe de (123) é {(123), (243), (134), (142)},
• a classe de (132) é {(132), (234), (143), (124)}.
O grupo K = {1, (12)(34), (13)(24), (14)(23)} (grupo de Klein) é um
subgrupo normal de A, de ordem 4, e age (por conjugação) sobre as A-
órbitas de tamanho 4, e tais ações são regulares (fieis, transitivas, com
estabilizadores triviais).

(10) Mostre que Z(Sn ) = {1} para todo n ≥ 3.

Seja g um elemento do centro Z(Sn ). Suponha por contradição que


g 6= 1 e seja i ∈ {1, . . . , n} tal que g(i) = j 6= i. Sendo n ≥ 3 existe
k ∈ {1, . . . , n} com k 6= i e k 6= j. Por hipótese o 3-cı́clo x = (ijk)
comuta com g. Logo g(ijk) = (ijk)g. Aplicando a i obtemos g(j) = k.
Por outro lado g(ij) = (ij)g também, e aplicando a i obtemos g(j) = i.
Contradição.

(11) Encontre um grupo G tal que {1} =


6 Z(G) 6= G.

G = S3 × C2 . O centro é {1} × C2 .

(12) Seja k(G) o número de classes de conjugação do grupo finito G. Seja

C := {(x, y) ∈ G × G : xy = yx}.

Mostre que |C| = k(G)|G|. P


[Dica: comece mostrando que |C| = x∈G |CG (x)| e aplique a
equação das classes.]

Seja cx o número de conjugados de x emP G, temos cx = |G : CG (x)|


logo |CG (x)| = |G|/cx , segue que |C| = |G| x∈G 1/cx . Podemos jun-
tar todos os elementos que estão em uma mesma classe: chamando de
C1 , . . . , Ck as classes de conjugação de G, onde k = k(G), se x ∈ Ci
28 1. GRUPOS

então cx = |Ci | logo


k X k X k
X 1 X 1 X
|C| = |G| = |G| = |G| 1 = |G|k.
i=1
cx i=1
|Ci | i=1
x∈Ci x∈Ci

(13) Sejam A e B subgrupos do grupo finito G e defina AB = {ab : a ∈


A, b ∈ B}. Mostre que |AB| = |A||B|/|A ∩ B|. Mostre que se B E G
então AB ≤ G.

Considere a função f : A × B → AB dada por (a, b) 7→ ab. Seja


x = rs ∈ AB com r ∈ A e s ∈ B. Se f (a, b) = x = rs então ab = rs,
segue r−1 a = sb−1 = t ∈ A ∩ B, por outro lado escolhido t ∈ A ∩ B como
igual a r−1 a, a escolha para a e b é única: a = rt, b = t−1 s. Segue que
f −1 (rs) = {(rt, t−1 s) : t ∈ A ∩ B}
tem tamanho |A ∩ B|, logo escrevendo A × B como união disjunta dos
f −1 (x) obtemos que |A × B| é soma de |AB| parcelas iguais a |A ∩ B|,
ou seja |A||B| = |A × B| = |AB||A ∩ B|, segue o resultado.

(14) Seja H um subgrupo de G de indice 2. Mostre que H é normal em G


(ou seja H = HG ).

Precisamos mostrar que H = HG . Sabemos que G/HG é isomorfo


a um subgrupo de S2 , logo tem duas possibilidades: |G/HG | = 2 ou
|G/HG | = 1. Mas a segunda não pode acontecer porque HG ≤ H < G,
logo |G/HG | = 2. Mas sendo 2 = |G : HG | = |G : H||H : HG | = 2|H :
HG | deduzimos |H : HG | = 1 ou seja H = HG .

(15) Seja M um subgrupo maximal de G (ou seja os únicos subgrupos H de


G com M ≤ H ≤ G são M e G). Mostre que o número de conjugados
de M em G não é igual a 2.

Suponha por contradição que M tenha dois conjugados em G. Sabe-


mos então que |G : NG (M )| = 2. Por outro lado M ≤ NG (M ) ≤ G logo
NG (M ) = M ou NG (M ) = G (sendo M maximal). Mas se NG (M ) = M
então 2 = |G : NG (M )| = |G : M | logo M tem indice 2 em G, logo M EG
(pelo exercı́cio anterior) mas isso significa que NG (M ) = G, uma con-
tradição. Se por outro lado NG (M ) = G então M E G logo M tem
apenas um conjugado em G, uma contradição.

(16) Seja p um número primo e seja G um p-grupo finito. Seja M um sub-


grupo maximal de G (definido no exercı́cio acima). Mostre que M E G
e que |G : M | = p.
[Dica: por indução sobre n, onde |G| = pn . Seja y ∈ Z(G) − {1},
uma sua oportuna potência x tem ordem p; considere G/hxi.]
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 29

Por indução sobre n, onde |G| = pn . Segunido a dica considere


x ∈ Z(G) de ordem p e seja N = hxi. O grupo G/N tem ordem pn−1
logo podemos aplicar indução. Se N ≤ M então M/N é normal de
indice p em G/N logo M é normal de indice p em G. Agora suponha
N 6≤ M . Sendo M maximal obtemos N M = G. Por outro lado sendo
|N | = p primo temos N ∩ M = {1} logo pn−1 = |G/N | = |M N/N | =
|M/M ∩ N | = |M | e deduzimos |G : M | = p. Além disso M ≤ NG (M )
(obviamente) e N ≤ NG (M ) sendo N ≤ Z(G). Segue que G = N M ≤
NG (M ) daı́ M E G.

(17) O grupo G aja de maneira fiel sobre o conjunto X. Mostre que se X é


finito então G é finito também.

G é isomorfo a um subgrupo de Sym(X), e chamado de n = |X|


temos que |Sym(X)| = n! logo |G| é finito e mais especificamente |G|
divide n!.

(18) Uma ação de G sobre X com todos os estabilizadores triviais (ou seja
Gx = {1} para todo x ∈ X) é dita semiregular. Mostre que a ação de
G sobre X é equivalente à ação regular de G (que é a ação de G sobre
G dada pela multiplicação a esquerda) se e somente se é semiregular e
transitiva.

A ação regular é semiregular e transitiva. Agora suponha de ter


uma ação A de G sobre X que é semiregular e transitiva. Seja x ∈ X
e defina f : G → X, f (g) = gx. É sobrejetiva sendo A transitiva e é
injetiva pois se gx = hx então h−1 gx = x logo h−1 g = 1 ou seja g = h
sendo A semiregular. Além disso f (ag) = agx = af (g) logo f é uma
equivalência e deduzimos que A é equivalente à ação regular de G sobre
G.

(19) Considere o grupo S6 agindo da maneira natural sobre {1, 2, 3, 4, 5, 6}.


Mostre que S6 contem um subgrupo isomorfo a S4 cuja ação sobre
{1, 2, 3, 4, 5, 6} é transitiva.
[Dica: considere a ação natural de S4 sobre o conjunto dos subcon-
juntos de {1, 2, 3, 4} de cardinalidade 2.]

A ação indicada na dica é transitiva e fiel. Logo S4 é isomorfo a um


subgrupo transitivo de S6 .

(20) Seja G um grupo de ordem 21 e H um subgrupo de G com |H| = 7.


Mostre que H E G (ou seja H = HG ).
30 1. GRUPOS

Sendo |G| = 3 · 7 tem duas possibilidades para HG : é igual a {1}


ou a H. Por outro lado se HG = {1} então G ∼ = G/HG é isomorfo a
um subgrupo de S3 , contradição porque |G| = 21 e |S3 | = 6. Segue que
H = HG ou seja H E G.

(21) Seja G um grupo simples. Mostre que se G contem um subgrupo de


indice 3 então |G| = 3.

Seja H um subgrupo de G com |G : H| = 3. Em particular H < G


logo sendo o coração normal HG um subgrupo normal de G contido em
H, como G é simples HG = {1}. Sabemos que G ∼ = G/HG é isomorfo a
um subgrupo de S3 . Os subgrupos de S3 são dos tipos seguintes: {1},
C2 , C3 , S3 . Os únicos entre eles que contêm subgrupos de indice 3 são
C3 e S3 . Por outro lado S3 não é simples porque contem um subgrupo
normal de ordem 3 (o grupo alternado de grau 3), logo G ∼ = C3 e |G| = 3,
além disso H = {1}.

(22) Seja G um grupo e sejam x, y elementos de G. Mostre que xy e yx são


conjugados em G.

xy = x(yx)x−1 .

(23) Mostre que se G/Z(G) é cı́clico então G = Z(G), ou seja G é abeliano.


[Dica: chamado Z = Z(G), o quociente G/Z é gerado por um ele-
mento xZ, logo todo elemento de G tem a forma xn z com n um inteiro
e z ∈ Z. Considere dois elementos a = xn z, b = xm w de G (onde
z, w ∈ Z) e mostre que ab = ba.]

Como z, w ∈ Z(G) e as potências de x comutam entre elas, ab =


xn zxm w = xm wxn z = ba.

(24) Seja G um grupo finito e seja p um número primo. Mostre que |G| é
uma potência de p se e somente se todo elemento de G tem ordem uma
potência de p.

A implicação ⇒ segue do teorema de Lagrange. Para a implicação


contrária, se |G| não é uma potência de p existe um primo q 6= p que
divide |G| logo pelo teorema de Cauchy existe g ∈ G de ordem q. Isso
mostra que nem todo elemento de G tem ordem uma potência de p.

(25) Mostre que se G é um grupo tal que |G| ∈ {6, 12, 18, 24} então G não é
um grupo simples.

Se |G| = 6 temos n3 = 1. Se |G| = 12 = 22 · 3 então podemos


supor n3 = 4, daı́ temos 4 · 2 = 8 elementos de ordem 3, e sobra espaço
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 31

para apenas 4 elementos de ordem diferente de 3. Como os 2-Sylow têm


ordem 4 deduzimos que n2 = 1. Se |G| = 18 = 2 · 32 então n3 = 1. Se
|G| = 24 = 23 · 3 então seja P um 2-Sylow, ele tem indice 3 logo G/PG
é isomorfo a um subgrupo de S3 e isso mostra que PG não pode ser {1}
(porque 24 não divide 6).

(26) Seja G um grupo finito com um subgrupo H de indice 4. Mostre que G


não é simples. [Dica: G/HG é isomorfo a um subgrupo de S4 ...]

Sendo HG ≤ H < G se G é simples (por contradição) temos HG =


{1} logo G ∼ = G/HG é isomorfo a um subgrupo de S4 . Segue que |G|
divide 24 e 4 divide |G| daı́ |G| é um entre 4, 8, 12, 24. Mas 12 e 24
foram tratados no exercı́cio anterior, e se |G| é um entre 4 e 8, que são
potências de 2, então sabemos que Z(G) 6= {1} logo existe x ∈ Z(G) de
ordem 2 (pelo teorema de Cauchy) e hxi é um subgrupo normal diferente
de {1} e de G, contradição.

(27) Seja G um grupo não abeliano com |G| < 60. Mostre que G não é
simples.

Se |G| é um primo é abeliano, se é uma potência de um primo pn


com n ≥ 2 então sabemos que Z(G) 6= {1}, logo se G não é abeliano
então a existência do subgrupo normal Z(G) mostra que G não é simples.
Além disso se G contem um subgrupo de indice 4 então não é simples
pelo exercı́cio acima, e já vimos que o único grupo simples que contem
um subgrupo de indice 3 é C3 . Se |G| = 6 então n3 = 1, se |G| = 10
então n5 = 1, se |G| = 12 então veja o exercı́cio acima, se |G| = 14
então n7 = 1, se |G| = 15 então n5 = 1, se |G| = 18 então n3 = 1, se
|G| = 20 então n5 = 1, se |G| = 21 então n7 = 1, se |G| = 22 então
n11 = 1, se |G| = 24 então veja o exercı́cio acima, se |G| = 26 então
n13 = 1, se |G| = 28 então n7 = 1, se |G| = 30 então veja acima, se
|G| = 33 então n11 = 1, se |G| = 34 então n17 = 1, se |G| = 35 então
n7 = 1, se |G| = 36 = 22 · 32 então os 3-Sylow têm indice 4, se |G| = 38
então n19 = 1, se |G| = 39 então n13 = 1, se |G| = 40 então n5 = 1, se
|G| = 42 então n7 = 1, se |G| = 44 então n11 = 1, se |G| = 45 então
n3 = 1, se |G| = 46 então n23 = 1, se |G| = 48 = 24 · 3 então os 2-Sylow
têm indice 3, se |G| = 50 então n5 = 1, se |G| = 52 então n13 = 1, se
|G| = 54 então n3 = 1, se |G| = 55 então n11 = 1, se |G| = 56 = 23 · 7
então podemos supor n7 = 8, daı́ temos 6 · 8 = 48 elementos de ordem
7, daı́ tem espaço para apenas um 2-Sylow (porque 56 − 48 = 8) ou seja
n2 = 1, se |G| = 57 então n19 = 1, se |G| = 58 então n29 = 1.

(28) Seja G um grupo não abeliano com 60 < |G| < 168. Mostre que G não é
simples. [Cuidado: algumas ordens são difı́ceis, falaremos delas em sala
de aula. Mas é bom tentar.]
32 1. GRUPOS

Excluindo as potências de primos e os casos em que existe um sub-


grupo de Sylow de indice 2, 3 ou 4 os únicos números faltando são
65 = 5 · 13, 66 = 2 · 3 · 11, 70 = 2 · 5 · 7, 72 = 23 · 32 , 78 = 2 · 3 · 13,
80 = 24 ·5, 84 = 22 ·3·7, 85 = 5·17, 88 = 23 ·11, 90 = 2·32 ·5, 91 = 7·13,
95 = 5 · 19, 99 = 32 · 11, 102 = 2 · 3 · 17, 104 = 23 · 13, 105 = 3 · 5 · 7,
110 = 2 · 5 · 11, 112 = 24 · 7, 114 = 2 · 3 · 19, 115 = 5 · 23, 117 = 32 · 13,
119 = 7 · 17, 120 = 23 · 3 · 5, 126 = 2 · 32 · 7, 130 = 2 · 5 · 13, 132 = 22 · 3 · 11,
133 = 7 · 19, 135 = 33 · 5, 136 = 23 · 17, 138 = 2 · 3 · 23, 140 = 22 · 5 · 7,
143 = 11 · 13, 144 = 24 · 32 , 145 = 5 · 29, 150 = 23 · 52 , 152 = 23 · 19,
153 = 32 · 17, 154 = 2 · 7 · 11, 155 = 5 · 31, 156 = 22 · 3 · 13, 160 = 25 · 5,
161 = 7 · 23, 165 = 3 · 5 · 11.
Observe que muitos deles têm a forma mp com p primo e m < p,
neste caso np = 1 pelo teorema de Sylow. Excluindo tais números os
que faltam são 70 = 2 · 5 · 7, 72 = 23 · 32 , 80 = 24 · 5, 84 = 22 · 3 · 7,
90 = 2 · 32 · 5, 105 = 3 · 5 · 7, 112 = 24 · 7, 120 = 23 · 3 · 5, 126 = 2 · 32 · 7,
132 = 22 · 3 · 11, 135 = 33 · 5, 140 = 22 · 5 · 7, 144 = 24 · 32 , 150 = 23 · 52 ,
154 = 2 · 7 · 11, 160 = 25 · 5, 165 = 3 · 5 · 11.
Se |G| ∈ {70, 84, 140} então n7 = 1, se |G| = 150 então n5 = 1, se
|G| ∈ {154, 165} então n11 = 1. Se |G| tiver a forma 5 · pm com p primo
diferente de 5 então os p-Sylow têm indice 5 logo G é isomorfo a um
subgrupo de S5 , daı́ |G| divide 5! e deduzimos que pm = 3 ou pm divide
8. Isso resolve os números 80, 135, 160. Os que faltam são 72 = 23 · 32 ,
90 = 2 · 32 · 5, 105 = 3 · 5 · 7, 112 = 24 · 7, 120 = 23 · 3 · 5, 126 = 2 · 32 · 7,
132 = 22 · 3 · 11, 144 = 24 · 32 .

Se |G| = 105 = 3 · 5 · 7 então podemos supor n7 = 15, n5 = 21, daı́


temos 15 · 6 = 90 elementos de ordem 7 e 21 · 4 = 84 elementos de ordem
5, uma contradição sendo 90 + 84 > 105 = |G|.

Se |G| = 112 = 24 · 7 então podemos identificar G com o correspon-


dente subgrupo de S7 . Seja A = A7 , então A tem indice 2 em S7 e G ∩ A
é normal em G, logo se G não está contido em A então G ∩ A = {1},
mas isso implica GA = S7 e |G||A| = 7! ou seja |G| = 2, absurdo. Segue
que G ≤ A, em particular |G| = 24 · 7 divide |A| = 7!/2 = 23 · 32 · 5 · 7,
uma contradição.

Se |G| = 132 = 22 · 3 · 11 então podemos supor n11 = 12, daı́


tem 10 · 12 = 120 elementos de ordem 11, por outro lado podemos supor
n3 6= 4 (se não o normalizador de um 3-Sylow teria indice 4) logo n3 = 22
pelo teorema de Sylow e deduzimos que G contem 22 · 2 = 44 elementos
de ordem 3, uma contradição porque 120 + 44 > 132 = |G|.

Se |G| ∈ {90, 126} então |G| tem a forma 2m com m impar. Neste
caso a representação regular mostra que podemos identificar G com um
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 33

subgrupo de S = S2m e chamado de A = A2m < S o grupo alternado,


temos que G ∩ A E G logo G ∩ A = G ou seja G ≤ A (não pode ser
G ∩ A = {1} porque teriamos S = GA logo |S| = |GA| = |G||A| o que
implica |G| = 2, absurdo). Por outro lado chamado de x um gerador de
um 2-Sylow de G, o elemento x corresponde (na representação regular)
a um produto de m cı́clos de comprimento 2, e tal elemento não pertence
a A (sendo m impar), absurdo.

Faltaram os números 72 = 23 · 32 , 120 = 23 · 3 · 5, 144 = 24 · 32 . Eles


são mais difı́ceis.

• Se |G| = 72 = 23 · 32 então sejam P e Q dois 3-Sylow distintos de


G. Se P ∩ Q 6= {1} então |P ∩ Q| = 3 e P, Q ≤ NG (P ∩ Q), segue
que |G : NG (P ∩ Q)| ∈ {1, 2, 4} e isso implica que P ∩ Q E G ou G
contem um subgrupo de indice 2 ou 4; como |G| = 72 não divide
4! = 24 deduzimos que G não é simples. Segue que P ∩Q = {1} para
todos os 3-Sylow distintos P, Q. Além disso n3 = 8 (não existem
subgrupos de indice 2 ou 4) logo o número de elementos de ordem
3 em G é 8 · 8 = 64. Sobram 8 elementos, logo tem espaço para um
único 2-Sylow que então é normal.

• Se |G| = 120 = 23 · 3 · 5 e G é simples observe primeiramente que


n2 = 15. De fato se n2 = 3 ou n2 = 5 então G é isomorfo a
um subgrupo de S5 logo G ∼ = S5 (sendo |G| = 120), mas S5 não é
simples pois contem o subgrupo normal A5 (grupo alternado de grau
5). Sejam P , Q dois 2-Sylow distintos. Observe que NP (Q) ≤ P ∩Q
logo as P -órbitas do conjunto dos 2-Sylow têm tamanho 1, 2, 4
ou 8. Existe pelo menos uma tal órbita de tamanho 2, de fato
n2 = 15 6≡ 1 mod 4. Seja então {Q, Q0 } uma P -órbita de tamanho
2. Segue que |P : NP (Q)| = 2 logo |NP (Q)| = 4 logo |P ∩ Q| = 4.
Segue que P ∩ Q é normal em P e em Q logo P, Q ≤ NG (P ∩ Q),
logo |G : NG (P ∩ Q)| ∈ {1, 3, 5}. Mas isso implica que P ∩ Q E G
ou então G é isomorfo a um subgrupo de S5 , e já vimos que isso
não pode acontecer.

• Se |G| = 144 = 24 · 32 então observe primeiramente que n3 = 16,


sendo 8 6≡ 1 mod 3 e sabemos que não existem subgrupos de indice
2 ou 4. Seja P um 3-Sylow, então NG (P ) = P . Sendo |P | = 9 e
n3 = 16 6≡ 1 mod 9 deve existir uma P -órbita de tamanho 3 (tem
uma única órbita de tamanho 1 e as outras não podem todas ter
tamanho 9), logo existe um 3-Sylow Q tal que |P : NP (Q)| = 3,
daı́ |NP (Q)| = 3 e sendo NP (Q) ≤ P ∩ Q (pelo teorema de Sylow,
porque NP (Q) é um 3-subgrupo de G que normaliza o 3-Sylow Q)
obtemos |P ∩ Q| = 3. Mas P e Q têm ordem 9, logo são abelianos,
logo P ∩ Q é normal em P e em Q, logo P, Q ≤ NG (P ∩ Q) logo
34 1. GRUPOS

|G : NG (P ∩ Q)| ∈ {1, 2, 4, 8} e não pode ser G = NG (P ∩ Q) sendo


P ∩ Q 6= {1} (sendo |P ∩ Q| = 3). Tal indice não pode ser 2 nem
4 sendo G simples. Deduzimos |G : NG (P ∩ Q)| = 8 mas então
|NG (P ∩ Q)| = 9 · 2 e isso implica que P tem indice 2 em NG (P ∩ Q)
logo é normal nele, daı́ NG (P ∩ Q) ≤ NG (P ) = P , absurdo.

(29) Seja p um primo. Calcule np (G) nos casos seguintes.


(a) G = GL(2, p) (“general linear group”), o grupo das matrices 2 × 2
inversı́veis com coeficientes no corpo Z/pZ, ou seja
  
a b
G = GL(2, p) = : a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad − bc 6= 0 .
c d
[Dica: comece calculando |GL(2, p)|: tem p2 − 1 escolhas para a
primeira coluna e p2 − p escolhas para a segunda.]

Temos p2 − 1 escolhas para a primeira coluna (uma qualquer coluna


não nula) e p2 − p escolhas para a segunda coluna (uma qualquer
coluna que não seja múltipla da primeira). Obtemos
|G| = (p2 − 1)(p2 − p) = p(p − 1)2 (p + 1),
 
1 1
daı́ os p-subgrupos de Sylow têm ordem p. Seja x = . É
0 1
claro que
  
1 t
P = hxi = : t ∈ Z/pZ
0 1
é um p-subgrupo de Sylow, e pelo teorema de Sylow todos os sub-
grupos de Sylow são conjugados a P . Em particular pelo princı́pio
da contagem np (G) = |G : NG (P )| = |G|/|N  G (P )|, logo é sufi-
a b
ciente calcular |NG (P )|. Um elemento g = ∈ G per-
c d
−1
tence a NG (P) se e somente
 se gxg é uma potência de x. Temos
d −b
g −1 = ad−bc
1
, logo
−c a
     
a b 1 1 d −b
gxg −1 = ad−bc
1
· ·
c d 0 1 −c a
2
 
1 ad − ac − bc a
= ad−bc .
−c2 ac − bc + ad
Logo se gxg −1 ∈ P devemos ter c = 0 e substituindo obtemos
ad a2
   
−1 1 1 a/d
gxg = = ∈ P.
ad 0 ad 0 1
Segue que a igualdade c = 0 define o normalizador e |NG (P )| =
p(p − 1)2 . Segue que np (G) = |G : NG (P )| = p + 1 que é coerente
com o teorema de Sylow pois p + 1 ≡ 1 mod p.
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 35

(b) G = SL(2, p) (“special linear group”), o grupo das matrices 2 × 2


com coeficientes no corpo Z/pZ e determinante 1, ou seja
  
a b
G = SL(2, p) = : a, b, c, d ∈ Z/pZ, ad − bc = 1 .
c d
[Dica: sendo o determinante det : GL(2, p) → Z/pZ − {0} um ho-
momorfismo sobrejetivo com núcleo SL(2, p) obtemos pelo teorema
de isomorfismo (p − 1)|SL(2, p)| = |GL(2, p)|.

Seguindo a dica obtemos


 |G|
 = p(p − 1)(p + 1) e como no caso
1 1
anterior seja x = ∈ G. O subgrupo P = hxi é um
0 1
p-subgrupo de Sylowe como no caso anterior precisamos calcular
a b
|NG (P )|. Seja g = . A conta é a mesma do exercı́cio
c d
anterior lembrando que ad − bc = 1 daı́
a2
 
1 − ac
gxg −1 = .
−c2 ac + 1
Segue que se g ∈ NG (P ) então c = 0 e substituindo obtemos
gxg −1 ∈ P daı́ a igualdade c = 0 define o normalizador. Segue
que os elementos diagonais são a e a−1 logo |NG (P )| = p(p − 1) e
np (G) = |G : NG (P )| = p + 1.

(c) O grupo seguinte:


  
a b
G= : a, b, c ∈ Z/pZ, ac 6= 0 ≤ GL(2, p).
0 c

Vimos acima que G é o normalizador de um p-Sylow de GL(2, p)


logo neste caso np (G) = 1.

(30) Seja P um subgrupo de Sylow de G. Mostre que NG (NG (P )) = NG (P ).

A inclusão NG (P ) ≤ NG (NG (P )) é obvia, mostraremos a inclusão


contrária. Se g ∈ NG (NG (P )) então gNG (P )g −1 = NG (P ), em particu-
lar sendo P ≤ NG (P ) temos gP g −1 ≤ NG (P ). Sendo |gP g −1 | = |P |, o
subgrupo gP g −1 é um p-subgrupo de Sylow de NG (P ). Pelo teorema de
Sylow existe t ∈ NG (P ) tal que tP t−1 = gP g −1 , por outro lado como
t ∈ NG (P ) temos obviamente tP t−1 = P logo P = tP t−1 = gP g −1 .
Segue que g ∈ NG (P ).

(31) Sejam A e B subgrupos normais de um grupo G tais que A ∩ B = {1}.


Mostre que ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. [DICA: dados a ∈ A e
b ∈ B mostre que aba−1 b−1 ∈ A ∩ B.]
36 1. GRUPOS

Seguindo a dica sendo aba−1 ∈ B e ba−1 b−1 ∈ A (sendo A e B


normais) obtemos que aba−1 b−1 ∈ A ∩ B = {1} logo aba−1 b−1 = 1 ou
seja ab = ba.

(32) Seja G um grupo finito com dois subgrupos normais A, B tais que AB =
G e A ∩ B = {1}. Mostre que G ∼ = A × B.

Pelo exercı́cio anterior ab = ba para todo a ∈ A, b ∈ B. Seja


f : A × B → G definida por f (a, b) := ab. Então f é sobrejetiva porque
AB = G e é um homomorfismo de grupos porque f (1, 1) = 1 · 1 = 1 e
f ((a, b)(c, d)) = f ((ac, bd)) = acbd = abcd = f (a, b)f (c, d). Segue que é
f é injetiva porque se f (a, b) = 1 então ab = 1 daı́ b = a−1 ∈ A∩B = {1}
logo b = 1 logo 1 = ab = a e segue que ker(f ) = {(1, 1)}. Logo f é
isomorfismo de grupos.

(33) Seja G um grupo de ordem 6. Mostre que se G é abeliano então é cı́clico,


e que se G não é abeliano então G ∼
= S3 .

Sejam x um elemento de G de ordem 3 e y um elemento de G de


ordem 2. Se G é abeliano então xy = yx logo (xy)2 = x2 y 2 = x2 ,
(xy)3 = x3 y 3 = y, (xy)4 = x4 y 4 = x, (xy)5 = x5 y 5 = x2 y, (xy)6 =
x6 y 6 = 1. Segue que xy é um elemento de ordem 6, logo hxyi é um
subgrupo de ordem 6 logo hxyi = G e G é cı́clico. Agora suponha G
não cı́clico. Pelo teorema de Sylow n3 = 1 e n2 ∈ {1, 3}. Se fosse
n2 = 1 então G conteria um 3-Sylow normal A e um 2-Sylow normal B
Logo pelo exercı́cio anterior G ∼
= A × B seria abeliano (sendo |A| = 3
e |B| = 2). Isso mostra que n2 = 3. Seja P um 2-Sylow de G. Temos
então PG 6= P logo PG = {1} (sendo |P | = 2 primo e PG < P ), daı́
como P tem indice 3 em G, G ∼ = G/PG é isomorfo a um subgrupo de
S3 . Como |G| = 6 segue que G ∼ = S3 .

(34) Seja G um grupo de ordem 15. Mostre que G é cı́clico.

Sejam x um elemento de ordem 5 e y um elemento de ordem 3,


A = hxi e B = hyi. Então A é um 5-Sylow e B é um 3-Sylow. Pelo
teorema de Sylow n5 = 1 e n3 = 1, logo A e B são subgrupos normais
de G. Como |A| e |B| são coprimos, A ∩ B = {1}. Segue que |AB| =
|A||B|/|A ∩ B| = |A||B| = 15 = |G| logo AB = G. Pelo exercı́cio acima
deduzimos G ∼= A×B ∼ = C3 × C5 ∼
= C15 (teorema chinês dos restos). Se
podia também mostrar que xy tem ordem 15 usando o fato que xy = yx.

(35) Seja G um grupo não abeliano de ordem 231 = 3 · 7 · 11. Mostre que
|Z(G)| = 11. [DICA: considere a ação de conjugação de G sobre o
conjunto dos elementos de ordem 11.]
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 37

Pelo teorema de Sylow n11 = 1, logo G contem exatamente 10 ele-


mentos de ordem 11. Seja X o conjunto dos 10 elementos de ordem 11
em G. O grupo G age por conjugação sobre X, assim como todos os
subgrupos de G. Sejam P um 3-Sylow, Q um 7-Sylow. As P -órbitas
têm tamanho 1 ou 3, logo existe uma P -órbita {x} de tamanho 1 pois
3 não divide 10. Segue que os elementos de P comutam com x. Mas x
tem ordem 11, logo ele gera o 11-Sylow, isso mostra que os elementos de
P comutam com todos os elementos de ordem 11. Analogamente como
7 não divide 10 os elementos de Q comutam com todos os elementos de
ordem 11. Isso mostra que o núcleo da ação contem o 11-Sylow, um
3-Sylow e um 7-Sylow, logo a ordem do núcleo é divisı́vel por 11, por 3
e por 7, logo o núcleo é igual a G, ou seja a ação é trivial. Isso significa
que o 11-Sylow está contido em Z(G), daı́ 11 divide |Z(G)|. Por outro
lado |G : Z(G)| não é um número primo porque se G/Z(G) é cı́clico
então G é abeliano. Isso implica que |Z(G)| = 11.

(36) Seja G um grupo de ordem 12. Mostre que G ∼ = A4 se e somente se G


não contem subgrupos de indice 2. [DICA: se G de ordem 12 contem
um subgrupo N de indice 2 então olhando ao 3-Sylow de N mostre que
n3 (G) = 1.]

Seja G um grupo de ordem 12 contendo um subgrupo N de indice 2.


Então N é normal em G (tem indice 2), seja P um 3-Sylow de N . Então
|P | = 3 logo P é um 3-Sylow de G. Além disso os conjugados de P em G
estão contidos em N (porque N é normal e contem P ) logo são iguais a P
(porque n3 (N ) = 1 pelo teorema de Sylow), ou seja n3 (G) = 1. Agora
seja G = A4 , para mostrar que G não contem subgrupos de indice 2
basta então mostrar que n3 (G) 6= 1. Mas isso é claro porque G contem
mais que dois elementos de ordem 3 (mais precisamente G contem oito
elementos de ordem 3). Reciprocamente suponha que |G| = 12 e que G
não contem subgrupos de indice 2. Seja P um 3-Sylow de G, então P
tem indice 4 e P não é normal em G porque se fosse P E G então G/P
teria ordem 4 então pelo teorema de Sylow existiria H/P de ordem 2
logo H teria indice 2 em G. Segue que PG 6= P logo sendo |P | = 3 primo
obtemos PG = {1}. Segue que G ∼ = G/PG é isomorfo a um subgrupo de
S4 . Identificando G com o subgrupo correspondente de S4 obtemos que
G é um subgrupo de S4 de indice 2 e vimos que isso implica G = A4 .

(37) Seja P um p-subgrupo de Sylow do grupo finito G e seja N E G. Mostre


que P ∩N é um p-subgrupo de Sylow de N e que P N/N é um p-subgrupo
de Sylow de G/N . [DICA: precisa mostrar que p não divide |N : P ∩ N |
e que p não divide |G/N : P N/N |.]
38 1. GRUPOS

Primeira parte. Temos |N P | = |N ||P |/|N ∩ P | logo |N : N ∩ P | =


|N P |/|P | divide |G|/|P | = |G : P | logo não é divisı́vel por p (porque
p não divide |G : P |). Por outro lado P ∩ N é um p-grupo logo é um
p-subgrupo de Sylow de N .
Segunda parte. Temos |G/N : P N/N | = |G : P N | = |G|/|P N | =
|G||P ∩ N |/|P ||N | = |G|/|P ||N : P ∩ N | não é divisı́vel por p (porque
p não divide |G : P |). Por outro lado P N/N ∼ = P/P ∩ N é um p-grupo
logo é um p-subgrupo de Sylow de G/N .

(38) Seja p um número primo. Mostre que todo grupo de ordem p2 é abeliano.
[DICA: lembre-se do exercı́cio que falava que se G/Z(G) é cı́clico então
G é abeliano.]

Seja G um grupo de ordem p2 . Como G é p-grupo Z(G) 6= {1}. Se


Z(G) = G então G é abeliano, logo falta discutir o caso |Z(G)| = p.
Neste caso G/Z(G) tem ordem p, logo é cı́clico, mas sabemos que isso
implica G abeliano, ou seja G = Z(G), uma contradição.

(39) Seja G um grupo de ordem p2 q onde p, q são dois primos distintos.


Mostre que G não é simples. [DICA: pelo exercı́cio anterior os p-Sylow
de G são abelianos. Sejam P1 , P2 dois p-Sylow, então P1 ∩ P2 E P1 e
P1 ∩ P2 E P2 sendo P1 , P2 abelianos. Considere NG (P1 ∩ P2 ).]

NG (P1 ∩ P2 ) contem P1 e P2 logo contem P1 propriamente, mas


P1 tem indice q, primo, logo NG (P1 ∩ P2 ) = G. Se G é simples (por
contradição) então deduzimos P1 ∩ P2 = {1}. Como isso vale para todos
os p-Sylow distintos P1 , P2 , e como np = q (pelo teorema de Sylow,
sendo G simples), deduzimos que o número de elementos não triviais de
ordem uma potência de p é (p2 − 1)q = |G| − q, logo em G tem espaço
para apenas um q-subgrupo de Sylow, que então é normal (pelo teorema
de Sylow).

(40) Seja G um grupo agindo sobre o conjunto X e seja x ∈ X. Mostre que


gGx g −1 = Ggx .

Primeira inclusão: se a ∈ Gx então gag −1 · gx = gax = gx logo


gag ∈ Ggx . Segunda inclusão: se b ∈ Ggx então definido a = g −1 bg
−1

temos ax = g −1 bgx = g −1 gx = x logo a ∈ Gx daı́ b = gag −1 ∈ gGx g −1 .

(41) Seja σ ∈ Sn um cı́clo de comprimento n − 1. Mostre que CSn (σ) = hσi.

Sn contem n(n − 2)! (n − 1)-cı́clos (escolhemos o ponto fixado em n


maneiras e com os restantes n − 1 elementos formamos (n − 2)! cı́clos),
logo |Sn : CSn (σ)| = n(n − 2)! e isso implica |CSn (σ)| = n − 1. Por outro
lado hσi ≤ CSn (σ) e |hσi| = n − 1 logo CSn (σ) = hσi.
8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 39

(42) Seja G um grupo simples de ordem 60. Mostre que G ∼ = A5 . [DICA:


basta encontrar um subgrupo de indice 5 (por quê?); no caso n2 = 15
sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, então P ∩ Q é normal em P e em Q
(por quê?), calcule o indice |G : NG (P ∩ Q)|.]

Se H ≤ G tem indice 5 em G então temos a representação permu-


tacional G → S5 com núcleo HG = {1} (sendo G simples) logo G é
isomorfo a um subgrupo de S5 . Podemos identificar G com o correspon-
dente subgrupo de S5 . Observe que |G| = 60 implica |S5 : G| = 2 logo
G E S5 . Mas os únicos subgrupos normais de S5 são {1}, A5 e S5 , logo
G = A5 . Isso mostra que basta encontrar um subgrupo de G de indice
5. Obviamente n2 6= 1 n2 6= 3 (porque um grupo simples não abeliano
não contem subgrupos próprios não triviais de indice menor ou igual a
4) e se n2 = 5 então o normalizador de um 2-Sylow tem indice 5. Pode-
mos então supor n2 = 15. Sejam P e Q dois 2-Sylow distintos, eles têm
ordem 4 logo são abelianos e P ∩ Q é normal em P e em Q. Deduzimos
que P, Q ≤ NG (P ∩ Q) = H. Segue que P ≤ H e P 6= H (sendo Q 6≤ P )
logo o indice de H divide propriamente |G : P | = 15. Sabemos que
|G : H| =
6 3 e se |G : H| = 5 então encontramos um subgrupo de indice
5, podemos então supor |G : H| = 1 ou seja G = H, ou seja P ∩ Q E G.
Mas sendo G simples isso implica P ∩ Q = {1}. Contando os elementos
obtemos então que G contem 15 · 3 = 45 elementos de ordem 2 ou 4.
Por outro lado n5 6= 1 logo n5 ≥ 6, isso implica que G contem pelo
menos 4 · 6 = 24 elementos de ordem 5, isso é uma contradição porque
45 + 24 > 60.

(43) Mostre que S6 contem um subgrupo H cuja ação natural sobre X =


{1, 2, 3, 4, 5, 6} é transitiva e com a propriedade que H ∼
= S5 . [Dica: S5
contem seis 5-subgrupos de Sylow.]

Seja X o conjunto dos seis 5-subgrupos de Sylow de S5 . Então a


ação de conjugação de S5 sobre X fornece um homomorfismo f : S5 →
Sym(X) ∼ = S6 cuja imagem é um subgrupo transitivo de S6 . Falta
mostrar que f é injetivo. Mas o núcleo de f é um subgrupo normal de
S5 , os subgrupos normais de S5 são {1}, A5 e S5 e é claro que ker(f )
não contem A5 : por exemplo (123) não normaliza h(12345)i. Segue que
ker(f ) = {1}.

(44) Escreva a equação das classes de S6 e de A6 .

Temos 5! = 120 6-cı́clos, 6 · 4! = 144 5-cı́clos, 64 6 = 90 4-cı́clos,



6 6
= 15 2-cı́clos, 62 3 = 45 elementos (2, 2), 5·3 = 15
  
3 2 = 40 3-cı́clos, 2 
elementos (2, 2, 2), 6 2 2 = 120 elementos (2, 3), 52 2 · 2 = 40 elementos
5

40 1. GRUPOS

6

(3, 3), 2 6 = 90 elementos (4, 2). A equação das classes é

1 + 120 + 144 + 90 + 40 + 15 + 45 + 15 + 120 + 40 + 90 = 6! = 720.

As classes de A6 :
• 5-cı́clos. O centralizador em S6 tem ordem 5 logo é cı́clico e A6
contem duas classes de 5-cı́clos, cada uma de tamanho 72.
• 3-cı́clos. O centralizador em S6 tem ordem 18 e não está contido
em A6 porque (123) comuta com (45) ∈ S6 − A6 , logo os 3-cı́clos
são todos conjugados em A6 .
• (2, 2). O centralizador em S6 tem ordem 16 e não está contido em
A6 porque (12)(34) comuta com (56) ∈ S6 − A6 , logo os (2, 2) são
todos conjugados em A6 .
• (3, 3). O centralizador em S6 tem ordem 18 e não está contido em
A6 porque (123)(456) comuta com (14)(25)(36) ∈ S6 − A6 , logo os
(3, 3) são todos conjugados em A6 .
• (4, 2). O centralizador em S6 tem ordem 8 e não está contido em
A6 porque (1234)(56) comuta com (56) ∈ S6 − A6 logo os (4, 2) são
todos conjugados em A6 .
Segue que a equação das classes de A6 é

1 + 72 + 72 + 40 + 45 + 40 + 90 = 6!/2 = 360.

(45) Seja p ≥ 2 um inteiro. Mostre que p é primo se e somente se p divide


(p − 1)! + 1. [DICA: se p é primo, conte os p-subgrupos de Sylow do
grupo simétrico Sp .]

Se p divide (p − 1)! + 1 então p é primo porque se não fosse primo


existiria um divisor primo q de p com q < p logo q dividiria p e (p − 1)! e
isso contradiz o fato que p divide (p−1)!+1. Reciprocamente suponha p
primo. O grupo simétrico Sp tem (p−1)! cı́clos de comprimento p e cada
p-Sylow tem ordem p logo contem p − 1 p-cı́clos, daı́ np (Sp ) = (p − 2)!.
Pelo teorema de Sylow (p − 2)! ≡ 1 mod p. Multiplicando por p − 1
obtemos (p − 1)! ≡ −1 mod p, ou seja p divide (p − 1)! + 1.

(46) Seja p um primo. Conte os p-subgrupos de Sylow de G = GL(3, p) (o


grupo das matrizes 3 × 3 inversı́veis com coeficientes em Z/pZ). [|G| =
(p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2 )]. Dica: considere
  
 1 x y 
P :=  0 1 z  : x, y, z ∈ Z/pZ .
0 0 1
 

Curiosidade: GL(3, 2) é um grupo simples de ordem 168.


8. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - GRUPOS 41

P é um subgrupo de G pois 1 ∈ P e
    
1 x y 1 a b 1 a+x b + xc + y
 0 1 z  0 1 c = 0 1 c+z .
0 0 1 0 0 1 0 0 1
A ordem de P é p3 porque temos p escolhas para cada um de x, y e z.
Por outro lado podemos calcular facilmente a ordem de G: tem p3 − 1
escolhas para a primeira coluna, p3 − p para a segunda e p3 − p2 para a
terceira, segue que
|G| = (p3 − 1)(p3 − p)(p3 − p2 ) = p3 (p3 − 1)(p2 − 1)(p − 1)
logo P é um p-Sylow de G. Para calcular np (G) = |G : NG (P )| calcula-
remos a ordem do normalizador NG (P ). Seja
 
a b c
k =  d e f  ∈ NG (P ).
g h i
Segue que para todo m ∈ P existe h ∈ P com kmk −1 = h ou seja
km = hk. Ou seja para todo x, y, z ∈ Fp existem r, s, t ∈ Fp tais que
     
a b c 1 x y 1 r s a b c
 d e f  0 1 z  =  0 1 t  d e f .
g h i 0 0 1 0 0 1 g h i
Fazendo os produtos obtemos
   
a ax + b ay + bz + c a + rd + sg b + re + sh c + rf + si
 d dx + e dy + ez + f  =  d + tg e + th f + ti .
g gx + h gy + hz + i g h i
Em particular tg = gx = 0. Mas escolhendo x = 1 obtemos g = 0.
Segue que hz = 0. Mas escolhendo z = 1 obtemos h = 0. Segue que
dx = 0. Mas escolhendo x = 1 obtemos d = 0. Segue que m é uma
matriz triangular superior e a 6= 0, e 6= 0 e i 6= 0. Por outro lado as
condições g = h = d = 0, a 6= 0, e 6= 0, i 6= 0 garantem a existência de
r, s, t como acima para toda escolha de x, y, z. Isso significa que
  
 a b c 
NG (P ) =  0 e f  : a, b, c, e, f, i ∈ Fp , a 6= 0, e 6= 0, i 6= 0
0 0 i
 

tem ordem p3 (p − 1)3 . Segue que


|G| p3 (p3 − 1)(p2 − 1)(p − 1)
np (G) = = = (p + 1)(p2 + p + 1).
|NG (P )| p3 (p − 1)3
Observe que este número é congruente a 1 módulo p, coerentemente com
o teorema de Sylow.
42 1. GRUPOS

(47) Dado um grupo G, o grupo dos automorfismos Aut(G) de G é o grupo


dos isomorfismos G → G com a operação de composição. Seja α : G →
Aut(G) dado por α(g)(x) = gxg −1 . Se trata de um homomorfismo de
grupos e ker(α) = Z(G). Mostre que Aut(S4 ) ∼ = S4 . [DICA: Seja X
o conjunto dos subgrupos de S4 de indice 4. Aut(S4 ) age sobre X de
maneira natural. Mostre que tal ação é fiel.]

A ação obvia de Aut(S4 ) sobre X é dada por ϕ(H) = {ϕ(a) : H ∈


X}. Se ϕ ∈ Aut(S4 ) é tal que ϕ(H) = H para todo H ∈ X então em
particular ϕ(StabS4 (a)) = StabS4 (a) para todo a ∈ {1, 2, 3, 4} (porque
os estabilizadores têm indice 4) logo ϕ fixa todos os 2-cı́clos: por exemplo
ϕ((12)) pertence a StabS4 (3) ∩ StabS4 (4) = h(12)i logo ϕ((12)) = (12),
e o mesmo argumento se aplica aos outros 2-cı́clos. Mas todo elemento
de S4 é produto de 2-cı́clos (transposições) logo ϕ = 1. Segue que
temos uma representação permutacional Aut(S4 ) → S4 injetiva, logo
| Aut(S4 )| ≤ 24. Por outro lado Z(S4 ) = {1} logo a função α indicada
no texto mostra que |S4 | ≤ | Aut(S4 )|. Em conclusão Aut(S4 ) ∼ = S4 .

(48) Mostre que se Aut(G) é cı́clico então G é abeliano.

Pelo exercı́cio anterior G/Z(G) é isomorfo a um subgrupo de Aut(G).


Se Aut(G) é cı́clico então G/Z(G) é cı́clico também e isso implica que
G é abeliano.
CAPı́TULO 2

Teoria de Galois

1. Corpos de decomposição
Seja K um corpo de caracterı́stica zero. Em outras palavras K contem Q
como subcorpo. Se quiser pode pensar que Q ≤ K ≤ C. Sejam K ≤ L corpos,
em outras palavras seja “L/K” uma extensão de corpos. O grau de L sobre K é
|L : K| = dimK (L), a dimensão de L sobre K como espaço vetorial. Observe que
|L : K| = 1 se e somente se L = K. Se K ≤ L ≤ M temos a formula do grau
|M : K| = |M : L| · |L : K|.
Se a ∈ L é algébrico (ou seja admite um polinômio minimal) sobre K então K(a)
(o corpo gerado por K e por a) é isomorfo a K[X]/(f (X)) onde f (X) ∈ K[X] é
o polinomio minimal de f sobre K e (f (X)) é o ideal principal de K[X] gerado
= K[X]/(f (X)) ∼
por f (X). Se a, b são duas raı́zes K(a) ∼ = K(b) (isomorfismos de
aneis) mas em geral K(a) 6= K(b) (pense em X 3 − 2: veja abaixo).

Lembre-se que todo polinômio de K[X] (o anel dos polinômios com coefici-
entes em K) pode ser escrito de maneira essencialmente única como produto de
polinômios irredutı́veis, ou seja K[X] é um domı́nio de fatoração única.
Proposição 7. Se f (X) ∈ K[X] é irredutı́vel então não tem raı́zes múltiplas
(ou seja é “separável”).
Demonstração. Suponha que seja f (X) = (X − a)2 g(X) onde a é uma raiz
de f (X) em uma extensão M de K e g(X) ∈ M [X]. A derivada de f (X) é
f 0 (X) = 2(X − a)g(X) + (X − a)2 g 0 (X) = (X − a)h(X)
onde h(X) = Pn2g(X) + (X − a)g 0 (X) ∈PM [X]. É claro que f 0 (X) ∈ K[X], pois
0 n
se f (X) = i=0 ai X então f (X) = i=0 iai X i−1 e iai ∈ K sendo ai ∈ K e
i

i = 1 + 1 + . . . + 1 ∈ K. Observe que como K tem caracteristica zero (!!) temos


que f 0 (X) tem grau n − 1, onde n é o grau de f (X) (atenção! Isso seria falso em
caracteristica p prima, de fato por exemplo em caracterı́stica p a derivada de X p é
o polinômio nulo: pX p−1 = 0). Por outro lado K[X] é um domı́nio euclidiano, logo
aplicando o algoritmo de Euclides a f (X) e f 0 (X) (que são elementos coprimos de
K[X], sendo f (X) irredutı́vel!!) obtemos polinômios a(X), b(X) em K[X] com
a(X)f (X) + b(X)f 0 (X) = 1.
Mas o lado esquerdo dessa equação é divisı́vel por X − a, logo substituindo X = a
obteriamos 0 = 1, uma contradição. 
43
44 2. TEORIA DE GALOIS

Definição 1 (Corpo de decomposição). Seja f (X) ∈ K[X], de grau positivo.


M ≥ K é chamado de corpo de decomposição de f (X) sobre K se os seguintes
fatos valem:
(1) M = K(u1 , ..., ur ) onde f (ui ) = 0 ∀i = 1, ..., r.
(2) f (X) é produto de fatores lineares (ou seja de grau 1) em M [X].
Equivalentemente, M é um corpo minimal com respeito a
(1) M ≥ K.
(2) Se P (X) ∈ M [X] é um fator irredutı́vel de f (X) em M [X] então P (X)
tem grau 1.
Exemplo. √ f (X) = X 3 − 2 ∈ Q[X] √ (irredutı́vel pelo critério de Eisenstein).
Sejam α = 2, t = e2πi/3 = −1/2 + i 3/2 uma raiz cúbica de 1 em C. As
3

raı́zes de f (X) são α, tα, t2 α. Segue que um corpo de decomposição de f (X)


sobre Q é M = Q(α, tα, t2 α) (obtido adicionando a Q todas as raı́zes de f (X)).
Observe que então M = Q(α, t). Observe que M contem o subcorpo Q(α) e
M = Q(α)(t), ou seja M é obtido adicionando t a Q(α). Segue que |M :√Q| é
igual ao grau do polinômio minimal de t sobre Q(α). Mas t = −1/2 + i 3/2
logo (t + 1/2)2 = −3/4, segue que t é raiz de (X + 1/2)2 + 3/4 logo |M : Q(α)|
vale 1 ou 2. Mas se vale 1 então M = Q(α), em particular t ∈ Q(α), e isso
é um absurdo porque Q(α) ⊆ R mas t 6∈ R. Segue da formula do grau que
|M : Q| = |M : Q(α)| · |Q(α) : Q| = 2 · 3 = 6. Sejam a = α, b = tα. Observe
que Q(a) e Q(b) são corpos isomorfos (sendo isomorfos a Q[X]/(X 3 − 2)) mas
Q(a) 6= Q(b): de fato b 6∈ Q(a) sendo Q(a) ⊆ R mas b 6∈ R.

Exemplo. f (X) = X 4 − 5X 2 + 5 ∈ Q[X] (irredutı́vel pelo critério de Eisens-


tein). As raı́zes de f (X) são a, b, −a, −b onde
s √ s √
5+ 5 5− 5
a= , b= .
2 2
√ √
Observe que 2a2 − 5 = 5 e ab = 5 logo 2a2 − 5 = ab, e deduzimos que
b = (2a2 − 5)/a ∈ Q(a). Segue que neste caso o corpo de decomposição de f (X)
sobre Q é Q(a, −a, b, −b) = Q(a), ele tem grau 4 sobre Q.

Se M/K é extensão de corpos, um K-automorfismo de M é um isomorfismo


de aneis σ : M → M com a propriedade que σ(x) = x para todo x ∈ K. O
conjunto dos K-automorfismos de M é um grupo com a composição, indicado
por AutK (M ) ou G(M/K) e chamado de grupo de Galois da extensão M/K.

Se M é corpo de decomposição para f (X)P∈ K[X] sobre K e G é o grupo


n
de Galois de M/K podemos escrever f (X) = i=0 ai X i com ai ∈ K para todo
i = 0, . . . , n logo se r ∈ M é uma raiz de f (X) e g ∈ G então, sendo g(ai ) = ai
para todo i = 0, . . . , n,
n n n
!
X X X
i i i
f (g(r)) = ai g(r) = g(ai r ) = g ai r = g(f (r)) = g(0) = 0,
i=0 i=0 i=0
2. O GRUPO DE GALOIS 45

logo g(r) é também uma raiz de f (X). Segue que a ação natural (de automorfismo)
de G sobre M induz uma ação de G sobre o conjunto das n raı́zes de f (X) que
pertencem ao corpo M (observe que f (X) admite exatamente n raı́zes em M ,
sendo elas todas distintas!). Na próxima aula mostraremos que |G| = |M : K|.
Como M é gerado pelas raı́zes de f sobre K, tal ação de G é fiel, logo G é isomorfo
a um subgrupo de Sn , e isso implica que |M : K| = |G| divide n!.

Exemplo. Q(i) é corpo de decomposição sobre Q de X 2 + 1, e os Q-


automorfismos de Q(i) são |Q(i) : Q| = 2, são a + ib 7→ a + ib e a + ib 7→ a − ib.
G = G(M/K) é isomorfo a S2 . De fato se g ∈ G = G(Q(i)/Q) então g(i) é uma
raiz de X 2 + 1, logo g(i) ∈ {i, −i}, e sendo g(x) = x para todo x ∈ Q, isso
determina os dois automorfismos descritos.

Exemplo. Seja M o corpo de decomposição de X 3 − 2 sobre Q e seja G o


grupo de Galois de M/Q. Vimos acima que |G| = |M : Q| = 6. Sendo G isomorfo
a um subgrupo de S3 deduzimos G ∼= S3 .

Exercı́cios.

(1) Calcule o grau do corpo de decomposição M (contido em C) sobre Q


dos polinômios seguintes.
(a) X 2 , X 2 − 1, X 2 − 2, X 2 − 3, X 2 − 4,
(b) X 3 − 1, X 3 − 4, X 3 − 8,
(c) X 3 + 1, X 3 + 8,
(d) X 4 − 2, X 4 − 16,
(e) X 4 + 1, X 4 + 16,
(f) X 4 − 6X 2 + 6,
(g) (X 2 − 2)(X 2 − 3),
(h) X 4 − 6X 2 − 3 (dica: observe que M 6⊆ R),
(i) X 3 − 3X + 1 (dica: se u é raiz, u2 − 2 é raiz?).
(2) Faça a lista dos elementos do grupo de Galois de um corpo de decom-
posição de X 3 − 2 sobre Q. A ação do grupo de Galois no conjunto das
raı́zes é transitiva?
(3) Seja M uma extensão de Q e seja g um isomorfismo de aneis M → M .
Mostre que g(x) √ = x para todo x ∈ Q.
(4) Determine G(Q( 3 2)/Q).

2. O grupo de Galois
Lembre-se que se f (X) ∈ K[X] existe sempre um corpo de decomposição
para f (X) sobre K (obtido adicionando a K todas as raı́zes de f (X)). Observe
que se A e T são aneis comutativos e σ : A → T é homomorfismo, e c ∈ T , então
existe um único homomorfismo σ : A[X] → T tal que σ|A = σ e σ(X) = c.

A notação f (X) ∈irr K[X] significa que f (X) é um polinômio irredutı́vel.


46 2. TEORIA DE GALOIS

Teorema 5. Sejam K e F corpos, σ : K → F isomorfismo. Então σ pode


ser extendido de uma única maneira a um isomorfismo K[X] → F [X] tal que
X 7→ X. Seja f (X) ∈irr K[X] e seja g(X) a sua imagem em F [X]. Sejam u uma
raiz de f (X) e v uma raiz de g(X). Existe um único isomorfismo K(u) → F (v)
que extende σ e leva u para v.
Demonstração. Observe que sendo f (X) irredutı́vel em K[X], g(X) é irre-
dutı́vel em F [X]. A unicidade é imediata (para definir K(u) → F (v) basta dizer
quais são as imagens dos elementos de K e de u). Para a existência observe que
K(u) ∼ = K[X]/(f (X)) ∼= F [X]/(g(X)) ∼ = F (v) (sendo f (X) o polinômio minimal
de u sobre K e sendo g(X) o polinômio minimal de v sobre F ). O isomorfismo
entre os aneis quociênte é obtido do teorema de isomorfismo observando que a
composição entre K[X] → F [X] e F [X] → F [X]/(g(X)) é sobrejetiva e tem
núcleo (f (X)). 
Teorema 6. Seja σ : K → F isomorfismo de corpos, e σ b : K[X] → F [X]
a sua extensão; seja f (X) ∈ K[X] e f (X) := σ b(f (X)); sejam M e M cor-
pos de decomposição de f (X) e de f (X) respectivamente, sobre K e F , onde
deg(f (X)) > 0. Então σ pode ser extendido a um isomorfismo M → M . O
número de isomorfismos M → M que extendem σ é exatamente igual a |M : K|.
Demonstração. Mostraremos o teorema por indução sobre n := |M : K|.
Se n = 1, M = K logo f (X) é fatorável completamente em K[X]. Segue que f (X)
é fatorável completamente em F [X], logo M = F e o único isomorfismo possı́vel
M → M extendendo σ é o próprio σ. Segue que existe exatamente 1 = |M : K|
tal isomorfismo.

Seja agora n ≥ 2. Seja h(X) ∈irr K[X] de grau maior que 1 e suponha
f (X) = h(X)t(X) em K[X]. Isso é possı́vel porque K[X] é um domı́nio de
fatoração única e se todos os polinômios irredutı́veis de K[X] que dividem f (X)
tivessem grau 1 então K seria igual a M . Como M é corpo de decomposição
para f (X) sobre K, e h(X) é um fator de f (X) em K[X], existe u ∈ M tal
que h(u) = 0, e pela mesma razão existe v ∈ M tal que h(v) = 0. Temos
h(X) ∈irr F [X], h(X) divide f (X) e M e M são corpos de decomposição de f (X)
e f (X) sobre K(u) e F (v) respectivamente (são tais sobre K e F respectivamente).
Pela formula dos graus |M : K(u)| < |M : K|, logo por hipótese de indução σ pode
ser extendido a um isomorfismo M → M de exatamente |M : K(u)| maneiras.

Seja u raiz de h(X), e sejam u1 , u2 , ..., ur as raı́zes distintas de h(X) em M .


Seja
σi : K(u) → F (ui )
o isomorfismo que extende σ e leva u para ui (é único). Como K tem caracteristica
zero,
r = deg(h(X)) = |K(u) : K|
Sendo |M : K(u)| < |M : K|, pela hipótese de indução σi pode ser extendido a
M de exatamente |M : K(u)| maneiras, e como tem r possibilidades para σi , o
2. O GRUPO DE GALOIS 47

número total de tais isomorfismos é


r · |M : K(u)| = |K(u) : K| · |M : K(u)| = |M : K|.
Para terminar basta então mostrar que todo isomorfismo φ : M → M que extende
σ é obtido extendendo algum σi : se u é raiz de h(X), φ(u) é raiz de h(X). De
fato se h(X) = an X n + ...a1 X + a0 então h(X) = σ(an )X n + ... + σ(a1 )X + σ(a0 )
e φ(ai ) = σ(ai ) para i = 0, . . . , n sendo que φ extende σ por hipótese, logo
n n n
!
X X X
i i i
h(φ(u)) = σ(ai )φ(u) = φ(ai )φ(u) = φ ai u = φ(h(u)) = φ(0) = 0.
i=0 i=0 i=0

Segue que φ(u) = ui para algum i ∈ {1, ..., r}, ou seja φ|K(u) = σi . 

Corolário 3. Seja M um corpo de decomposição para f (X) ∈ K[X] sobre K


e seja G = G(M/K) o grupo de Galois da extensão M/K. Então |G| = |M : K|.
Demonstração. É só escolher F = K, M = M , σ = idK no teorema. 

Corolário 4. Se L/K é uma estensão de corpos de grau finito e f (X) ∈


K[X] então L contem no máximo um corpo de decomposição para f (X) sobre K.
Demonstração. Se L contem dois corpos de decomposição M1 , M2 para
f (X) ∈ K[X] sobre K então hM1 , M2 i é um corpo de decomposição para f (X)
sobre K, sendo gerado por raı́zes de f (X), e pelo teorema anterior aplicado ao
caso K = F , σ = idK , temos K-isomorfismos M1 ∼ =K hM1 , M2 i ∼ =K M2 . Mas
um K-isomorfismo é em particular uma função K-linear (se f : A → B é um K-
isomorfismo e a ∈ A, λ ∈ K então f (λa) = f (λ)f (a) = λf (a)), logo dimK (M1 ) =
dimK (hM1 , M2 i) = dimK (M2 ) e sendo tal dimensão finita deduzimos M1 = M2 .


Exemplo. Seja f√(X) = X 3 − 1 ∈ Q[X]. Sendo f (X) = (X − 1)(X 2


√ + X + 1),
definido u = −1/2 + i 3/2, as raı́zes de f (X) são 1, u e v = −1/2 − i 3/2. Sendo
v = −1 − u, o corpo de decomposição para f (X) sobre Q é M = Q(u, v) = Q(u),
tem grau 2 sobre Q (o polinômio minimal de u sobre Q é X 2 + X + 1). Segue que
o grupo de Galois G de M/K tem ordem 2, logo G = hσi, e σ age no conjunto
{1, u, v} das trêz raı́zes de f (X) fixando 1 e trocando u com v (é um 2-cı́clo!).
Em particular a ação do grupo de Galois no conjunto das raı́zes não é transitiva
(... e as órbitas correspondem canonicamente aos fatores irredutı́veis de f (X)).

Exercı́cios.

(1) Seja f (X) = X 3 − 3X + 1 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Sabemos pela lista anterior
que M = Q(u) onde u é uma raiz de f (X), e que u2 − 2 é uma outra
raiz de f (X). Pelo teorema de hoje existe σ ∈ G que leva u para u2 − 2.
Mostre que G = hσi (grupo cı́clico de ordem 3).
48 2. TEORIA DE GALOIS

(2) Seja f (X) = X 4 − 5X 2 + 5 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Sejam
s √ s √
5+ 5 5− 5
a= , b= .
2 2
Vimos na aula anterior que as raı́zes de f (X) são a, −a, b, −b. Pelo
teorema de hoje existe um σ ∈ G que leva a para
√ b. Mostre que G √= hσi
(grupo cı́clico de ordem 4). [Dica:
√ calcule σ( 5) lembrando que 5 =
2a2 − 5 e lembre-se que ab = 5. Deduza que σ(b) = −a.]

(3) Seja f (X) = X 4 − 6X 2 − 3 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Mostre que G é isomorfo a
um 2-Sylow de S4 (veja a lista anterior).

(4) Seja f (X) = X 4 − 3X 2 + 4 ∈ Q[X]. É irredutı́vel (não precisa mostrar


isso). Seja G o grupo de Galois de um corpo de decomposição M de
f (X) sobre Q.
• Mostre que se a ∈ M é raiz de f (X) então as raı́zes de f (X) são a,
−a, 2/a, −2/a e deduza que M = Q(a).
• Seja σ ∈ G que leva a para b = 2/a (existe pelo teorema de hoje).
Mostre que σ(b) = a (dica: calcule σ(b)2 e deduza que σ(b) = ±a,
agora no caso σ(b) = −a calcule σ(ab)).
• Mostre que G é isomorfo ao grupo de Klein (o 2-Sylow de A4 ).

(5) Seja f (X) = (X 2 − 2)(X 2 − 3) ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de


um corpo de√decomposição M de f (X) sobre Q. Seja√ A o grupo de
Galois de Q( 2)/Q e seja B o grupo de Galois de Q( 3)/Q. Mostre
que G ∼= A × B.

3. Correspondências de Galois
Seja M/K uma extensão de corpos de grau finito.
Definição 2 (O grupo de Galois). O grupo de Galois da extensão M/K é
por definição
G(M/K) := AutK (M ) = {g ∈ Aut(M ) | g|K = idK }
ou seja o grupo dos automorfismos de M (isomorfismos de aneis M → M ) que
restritos a K são a identidade de K, ou seja o grupo dos K-automorfismos de M .
Chamado de G o grupo de Galois de M/K, seja [M/K] o reticulado dos
corpos intermediários de M/K (ou seja o conjunto parcialmente ordenado dos
corpos L tais que K ≤ L ≤ M , é um reticulado), e indicaremos com L (G) o
reticulado dos subgrupos de G (ou seja o conjunto parcialmente ordenado dos
subgrupos de G, que é um reticulado). A ordem parcial dos reticulados [M/K] e
L (G) é a inclusão.
3. CORRESPONDÊNCIAS DE GALOIS 49

Definição 3 (As correspondências de Galois). Considere as aplicações se-


guintes (correspondências de Galois):
i : [M/K] → L (G), L 7→ i(L) = L0 j : L (G) → [M/K], H 7→ j(H) = H 0
i(L) = {g ∈ G | g(`) = ` ∀` ∈ L} j(H) = {m ∈ M | h(m) = m ∀h ∈ H}
São boas definições. Dados L ∈ [M/K], H ∈ L (G), L00 = j(i(L)) ∈ [M/K] e
H 00 = i(j(H)) ∈ L (G) são chamados de “fechos” de L e de H respectivamente.
Se L e H coincidem com os seus fechos são chamados de fechados.
Observe que:
• As correspondências de Galois invertem as inclusões: se L1 ≤ L2 então
i(L1 ) ≥ i(L2 ); se H1 ≤ H2 então j(H1 ) ≥ j(H2 ).
De fato se L1 ≤ L2 e g ∈ i(L2 ) então g(`) = ` para todo ` ∈ L2 ,
e como L1 ⊆ L2 obtemos g(`) = ` para todo ` ∈ L1 logo g ∈ i(L1 ).
Analogamente se H1 ≤ H2 e m ∈ j(H2 ) então g(m) = m para todo
g ∈ H2 , e como H1 ≤ H2 obtemos g(m) = m para todo g ∈ H1 logo
m ∈ j(H1 ).
• Se L ∈ [M/K] e H ∈ L (G) então L00 ≥ L e H 00 ≥ H.
De fato se ` ∈ L então g(`) = ` para todo g ∈ L0 logo ` ∈ L00 , e
analogamente se h ∈ H então h(m) = m para todo m ∈ H 0 logo h ∈ H 00 .
• K 0 = G. Isso é porque todo elemento de G fixa todo elemento de K.
• G é fechado, ou seja G00 = G. Isso é porque com certeza todo elemento
de G fixa os elementos de M fixados por todos os elementos de G.
• K 000 = G, de fato K 000 = G00 = G.
• M é fechado. De fato M 0 = {1} logo M 00 = {1}0 = M .
• {1} é fechado. De fato {1}0 = M logo {1}00 = M 0 = {1}.
• L ∈ [M/K] é fechado se e somente se existe H ∈ L (G) tal que L =
H 0 . Em outras palavras a imagem de i é igual ao conjunto dos
subgrupos fechados.
De fato se L é fechado então L00 = L logo basta escolher H = L0 , e
reciprocamente se existe H ∈ L (G) tal que H 0 = L então L0 = H 00 ≥ H
logo (lembrando que j inverte as inclusões) L ≤ L00 ≤ H 0 = L que
implica L00 = L.
• H ∈ L (G) é fechado se e somente se existe L ∈ [M/K] tal que H =
L0 . Em outras palavras a imagem de j é igual ao conjunto dos
subcorpos fechados.
De fato se H é fechado então H 00 = H logo basta escolher L = H 0 , e
reciprocamente se existe L ∈ [M/K] tal que L0 = H então H 0 = L00 ≥ L
logo (lembrando que i inverte as inclusões) H ≤ H 00 ≤ L0 = H que
implica H 00 = H.
• i ◦ j restrita ao conjunto dos subgrupos fechados de G é a identidade;
j ◦ i restrita ao conjunto dos corpos intermediários fechados de M/K é
a identidade. Segue que i e j induzem bijeções, uma a inversa da outra,
entre o conjunto dos subgrupos fechados de G e o conjunto dos corpos
intermediários fechados de M/K.
50 2. TEORIA DE GALOIS


K em geral não é fechado. Por exemplo se M = Q( 3 2) e K = Q então
vimos que G = {1} logo K 0 = G = {1} e G0 = {1}0 = M . Temos então que
K 00 = M 6= K logo K não é fechado. O único subcorpo fechado é M . Observe
que neste caso [M/K] = {K, M } e L (G) = {G} sendo G = {1}. Definiremos
“extensão de Galois” uma extensão M/K em que K é fechado.

Teorema 7. Seja M/K extensão de corpos. Sejam L1 , L2 ∈ [M/K] com


L1 ≤ L2 e |L2 : L1 | = n. Então |L01 : L02 | ≤ n.

Demonstração. Indução sobre n. Se n = 1 temos L1 = L2 , logo L01 = L02 ,


logo |L02 : L01 | = 1 ≤ 1. Seja agora n ≥ 2. Temos dois casos:
Primeiro caso: existe L0 ∈ |M : K| tal que L1 < L0 < L2 . Sejam |L0 : L1 | =
n1 < n, |L2 : L0 | = n2 < n. Pela formula dos graus n = n1 n2 . Por hipótese de
indução |L01 : L00 | ≤ n1 , |L00 : L02 | ≤ n2 . Segue que |L01 : L02 | = |L01 : L00 | · |L00 :
L02 | ≤ n1 n2 = n.
Segundo caso: não existem corpos intermediarios entre L1 e L2 . Neste caso
dado u ∈ L2 \ L1 temos L2 = L1 (u), logo u é algébrico sobre L1 porque L2 /L1
é extensão finita (tem grau n). O polinômio minimal de u sobre L1 , f (X), tem
grau n. Indicado com G o grupo de Galois da extensão M/K,

L02 = L1 (u)0 = {g ∈ G | g(u) = u, g(`) = ` ∀` ∈ L1 } = {g ∈ L01 : g(u) = u}.

Seja r := |L01 : L02 |. Se σ, τ ∈ L01 são tais que σ(u) = τ (u) então u = σ −1 (τ (u))
logo σ −1 τ ∈ L02 , ou seja σ e τ são congruentes módulo L02 : eles têm a mesma
classe lateral módulo L02 , ou seja σL02 = τ L02 . Escrevendo L01 = τ1 L02 ∪ . . . ∪ τr L02
como união disjunta das r = |L01 : L02 | classes laterais de L02 em L01 , temos então
que τ1 (u), . . . , τr (u) são dois a dois distintos. Sendo L2 = L1 (u) e |L2 : L1 | = n, o
polinômio minimal f (X) de u sobre L1 tem grau n, e sendo f (X) irredutı́vel sobre
um corpo de caracterı́stica zero, as n raı́zes de f (X) são distintas. Os τi restritos
a L1 são a identidade de L1 , logo pelo argumento usual f (τi (u)) = τi (f (u)) =
τi (0) = 0 para todo i = 1, ..., r. Isso nos dá r raı́zes distintas de f (X), logo
r ≤ n. 
√ √
Exemplo. Seja f (X) = X 3 − 2, α = 3 2, t = e2πi/3 = −1/2 + i 3/2. Sejam
K = Q, M = Q(α, t) o corpo de decomposição de f (X) sobre Q e G = G(M/K).
Se g ∈ G temos que g(α) é uma raiz de f (X) logo as possibilidades são
• g(α) = α. Neste caso se g(αt) = αt então αt = g(αt) = g(α)g(t) = αg(t)
logo g(t) = t e g é a identidade. Se g(αt) = αt2 então αt2 = g(αt) =
g(α)g(t) = αg(t) logo g(t) = t2 .
• g(α) = αt. Neste caso se g(αt) = α então α = g(αt) = g(α)g(t) = αtg(t)
logo g(t) = t2 . Se g(αt) = αt2 então αt2 = g(αt) = g(α)g(t) = αtg(t)
logo g(t) = t.
• g(α) = αt2 . Neste caso se g(αt2 ) = α então α = g(αt2 ) = g(α)g(t)2 =
αt2 g(t)2 logo g(t) = t2 . Se g(αt2 ) = αt então αt = g(αt2 ) = g(α)g(t)2 =
αt2 g(t)2 logo g(t) = t.
3. CORRESPONDÊNCIAS DE GALOIS 51

Segue que os elementos de G são (determinados pela ação nas três raı́zes e)
dados por
Elemento Imagem de α Imagem de t Estrutura
g1 α t Identidade
g2 α t2 2-cı́clo (αt, αt2 )
g3 αt t 3-cı́clo (α, αt, αt2 )
2
g4 αt t 2-cı́clo (α, αt)
g5 αt2 t 3-cı́clo (α, αt2 , αt)
g6 αt2 t2 2-cı́clo (α, αt2 )
Como G ∼
= S3 , cada possibilidade ocorre. Observe que g1 = 1. Deduzimos que
• Q0 = G
• Q(α)0 = {g1 , g2 } = hg2 i,
• Q(αt)0 = {g1 , g6 } = hg6 i,
• Q(αt2 )0 = {g1 , g4 } = hg4 i,
• Q(t)0 = {g1 , g3 , g5 } = hg3 i.
• M 0 = {1}.
Como veremos nas próximas aulas, neste caso especı́fico (sendo M um corpo
de decomposição) i e j são bijetivas, uma a inversa da outra (assim todos os
subcorpos e todos os subgrupos são fechados), e os reticulados [M/K], L (G) são
os seguintes. As setas são inclusões e os números a esquerda indicam os graus, a
direita indicam os indices. Observe que g3 g5 = 1.

; MO dJiTJTTTT {1} QQ
DD QQQ
vv JJ TTTT z DD 2 QQQ3
2 vvv JJ z
vv 2 J TTTTTTT
2 JJ 3 z
z
z2
z
2 DD QQQ
DD QQQ
vv TTTT }zz  ! QQ(
2
Q(α) Q(αt) Q(αt ) j5 Q(t) hg2 i hg6 i hg4 i l hg3 i
cGG
GG
O
uuu:
j jjjjjj EE
EE3 yy lllll
GG 3 u j yy lll
uu jjj
3 2
GG EE
ujujjjjj EE  yyyll3lll 2
3
3 GG u l
uj " |yvll
Qj G

Exercı́cios.

(1) Seja K = Q. Dado o polinômio f (X) ∈ K[X] seja M o corpo de


decomposição de f (X) sobre K contido em C e seja G = G(M/K) (o
grupo de Galois de f (X)). Calcule i : [M/K] → L (G) e j : L (G) →
[M/K] (as correspondências de Galois) nos casos seguintes (cf. as listas
anteriores):
• X 2 + 1,
• X 3 − 1,
• (X 2 − 2)(X 2 − 3),
• X 4 + 1,
• X 3 − 3X + 1,
• X 4 − 5X 2 + 5.
52 2. TEORIA DE GALOIS

• X 4 − 3X 2 + 4.
(2) Seja M/K uma extensão de grau 2 e seja G = G(M/K). Mostre que
K é fechado, ou seja G0 = K. [Dica: seja u ∈ M − K, mostre que
M = K(u), deduza que M é um corpo de decomposição do polinômio
minimal de √u sobre K, deduza que |G| = 2.]
(3) Sejam α = 3 2, t = e2πi/3 , K = Q, M = Q(α, t) (corpo de decomposição
de X 3 − 2 sobre Q). Seja G = G(M/K). Quais são os subcorpos L de
M tais que g(`) ∈ L para todo ` ∈ L e para todo g ∈ G?

4. Extensões de Galois
Lema 4. Sejam H ≤ G grupos, n = |G : H|, e seja {τ1 , ..., τn } um transversal
esquerdo de H em G, ou seja τ1 H ∪. . .∪τn H = G. Para todo σ ∈ G, {στ1 , ..., στn }
é também um transversal esquerdo de H em G.

Demonstração. É só multiplicar por σ a esquerda na igualdade G = τ1 H ∪


. . . ∪ τn H. 

Teorema 8. Seja M/K uma extensão finita de corpos, com grupo de Galois
G, e sejam H1 , H2 ∈ L(G) com H1 ≤ H2 . Definido n := |H2 : H1 | temos
|H10 : H20 | ≤ n.

Demonstração. Seja {τ1 , ..., τn } transversal esquerdo de H1 em H2 . Se


σ ∈ H2 então pelo lema 4 {στ1 , ..., στn } é um transversal esquerdo de H1 em H2 .
Os elementos de uma mesma classe lateral esquerda de H1 operam da mesma
forma nos elementos de H10 : sejam γ, β ∈ H2 congruentes módulo H1 , ou seja
tais que β −1 γ = µ ∈ H1 ; se u ∈ H10 então γ(u) = β(µ(u)) = β(u). Logo se σ ∈ H2
e i ∈ {1, ..., n} existe j ∈ {1, ..., n} tal que τi (u) = σ(τj (u)) para todo u ∈ H10 .

Suponha por contradição que |H10 : H20 | > n. Sejam ui ∈ H10 para i =
1, ..., n + 1, linearmente independentes sobre H20 . Considere o sistema linear
 Pn+1
 i=1 τ1 (ui )xi = 0
...
 Pn+1
i=1 n (ui )xi = 0
τ
Se trata de um sistema de n equações lineares e n + 1 incognitas x1 , . . . , xn+1 ,
logo admite pelo menos uma solução não nula em M . Seja (a1 , ..., ar , 0, ..., 0)
uma solução não nula (obtida a menos de reordenação) com o número máximo de
zeros, e com ai 6= 0 para todo i = 1, ..., r. A menos de multiplicar tal solução por
a−1
1 (obtendo uma outra solução) podemos supor que a1 = 1. A nossa solução é
então (1, a2 , ..., ar , 0, ..., 0). Existe um único i ∈ {1, ..., n} tal que τi ∈ H1 . Sem
perda de generalidade podemos supor i = 1. Para todo i = 1, ..., n + 1 temos
τ1 (ui ) = ui . Existe pelo menos um j ∈ {2, ..., r} tal que aj 6∈ H20 , porque se
a2 , ..., ar ∈ H20 então pela primeira equação u1 + a2 u2 + ... + ar ur = 0, o que
contradiz a independência linear dos ui sobre H20 . Sem perda de generalidade seja
4. EXTENSÕES DE GALOIS 53

j = 2. Seja então σ ∈ H2 tal que σ(a2 ) 6= a2 . Aplicando σ ao sistema obtemos


 Pn+1
 i=1 (στ1 )(ui )σ(ai ) = 0
...
 Pn+1
i=1 (στn )(u i )σ(ai ) = 0

Mas pelo que foi dito no começo dessa demonstração os τi agem exatamente como
os στi sobre os ui , muda apenas a ordem. Segue que
(σ(1), σ(a2 ), ..., σ(ar ), σ(0), ..., σ(0)) = (1, σ(a2 ), ..., σ(ar ), 0, ..., 0)
é uma outra solução do sistema (é só permutar as linhas do sistema). Subtraindo
a solução (1, a2 , ..., ar , 0, ..., 0) obtemos uma terceira solução, ela é
(0, σ(a2 ) − a2 , ..., σ(ar ) − ar , 0, ..., 0)
Essa solução não é nula porque σ(a2 ) − a2 6= 0, e tem um zero amais da solução
(1, a2 , ..., ar , 0, ..., 0). Isso contradiz a maximalidade do número de zeros. 
Segue que se M/K é uma extensão de corpos com grupo de Galois G, e
L1 , L2 ∈ [M/K], H1 , H2 ∈ L(G), então:

Se L1 ≤ L2 ≤ M e L1 é fechado então L2 é fechado e |L01 : L02 | = |L2 : L1 |.


Demonstração. Temos
|L2 : L1 | ≥ |L01 : L02 | ≥ |L002 : L001 | = |L002 : L1 | = |L002 : L2 | · |L2 : L1 |,
logo L002 = L2 e |L01 : L02 | = |L2 : L1 |. 

Se H1 ≤ H2 ≤ G e H1 é fechado então H2 é fechado e |H10 : H20 | = |H2 : H1 |.


Demonstração. Temos
|H2 : H1 | ≥ |H10 : H20 | ≥ |H200 : H100 | = |H200 : H1 | = |H200 : H2 | · |H2 : H1 |,
logo H200 = H2 e |H10 : H20 | = |H2 : H1 |. 
Em particular, como {1} é fechado, todo subgrupo de G é fechado.
Definição 4 (Extensões de Galois). Seja M/K uma extensão de corpos com
grupo de Galois G. M/K é dita extensão de Galois se uma das seguintes
condições equivalentes é satisfeita:
• K é fechado, ou seja K 00 = K, ou seja G0 = K.
• Todo u ∈ M − K não é fixado por algum σ ∈ G.
K 00 = K é equivalente a G0 = K porque em geral K 0 = G.
Proposição 8. Se M/K é extensão de Galois finita com grupo de Galois G
então os corpos intermediários de M/K e os subgrupos de G são fechados.
Demonstração. Seja L ∈ [M/K]. L é fechado sendo K fechado. Seja
H ∈ L(G). Temos {1} ≤ H e {1} é fechado, logo H é fechado. 
54 2. TEORIA DE GALOIS

Proposição 9. Se M/K é extensão de Galois finita e L ∈ [M/K] então


M/L é extensão de Galois.
Demonstração. Sabemos que L é fechado, ou seja que o conjunto dos ele-
mentos de M fixados por L0 é L. Além disso o grupo de Galois de M/L é L0 .
Segue que L é fechado em M/L também, e M/L é extensão de Galois. 
Proposição 10. Uma extensão finita M/K com grupo de Galois G é ex-
tensão de Galois se e somente se |M : K| = |G|. Em particular todo corpo de
decomposição sobre K é extensão de Galois.
Demonstração. Se M/K é de Galois então K é fechado e isso implica
|M : K| = |K 0 : M 0 | = |G : {1}| = |G|. Reciprocamente se |M : K| = |G| então
|G| = |M : K| = |M : K 00 | · |K 00 : K| ≥ |K 000 : M 0 | · |K 00 : K| = |G| · |K 00 : K|
e deduzimos K 00 = K ou seja K é fechado. 
Obtemos como corolário o teorema fundamental.
Teorema 9 (Teorema fundamental da teoria de Galois). Seja M/K extensão
de Galois finita com grupo de Galois G. Então todos os corpos intermediários de
M/K são fechados e todos os subgrupos de G são fechados. As correspondências
de Galois induzem uma correspondência bijetiva entre os corpos intermediários
de M/K e os subgrupos de G que inverte as inclusões. O ı́ndice de dois sub-
grupos é igual ao grau dos correspondentes corpos intermediários, e o grau de
dois subcorpos é igual ao ı́ndice dos correspondentes subgrupos. Em particular
|G| = |M : K|.
Teorema 10. Seja M/K extensão de Galois finita com grupo de Galois G.
Se f (X) ∈irr K[X] tem uma raiz em M então f (X) pode ser decomposto em
fatores lineares em M [X]. Em particular chamada de {v1 , . . . , vn } uma K-base
de M , e chamado de fi (X) o polinômio minimal de vi sobre K, M é corpo de
decomposição para f1 (X) · · · fn (X) sobre K.
Demonstração. Suponha sem perda de generalidade que f (X) seja mônico.
Sejam u1 , ..., ur as raı́zes distintas de f (X) em M . Chamado de n o grau de f (X)
temos r ≤ n. Seja g(X) := (X − u1 )...(X − ur ). Dado σ ∈ G, sabemos que se u
é raiz de f (X) em M então σ(u) é também raiz de f (X). Segue que
{u1 , ..., ur } = {σ(u1 ), ..., σ(ur )}.
Ou seja σ permuta as raı́zes de f (X) contidas em M . Em particular chamado
de σ
b o único automorfismo de M [X] que
Pr extende σ e leva X para X, temos que
b(g(X)) = g(X). Escrevendo g(X) = i=0 bi X i , se σ ∈ G temos então
σ
r
X r
X
bi X i = g(X) = σ
b(g(X)) = σ(bi )X i
i=0 i=0
Segue que σ(bi ) = bi para todo σ ∈ G e para todo i = 0, . . . , r. Segue que
bi ∈ G0 para todo i = 0, . . . , r. Mas G0 = K sendo M/K extensão de Galois, logo
g(X) ∈ K[X]. Além disso g(X) divide f (X) em M [X] pois todas as raı́zes de
4. EXTENSÕES DE GALOIS 55

g(X) são raı́zes de f (X), todas de multiplicidade 1. Sendo f (X), g(X) ∈ K[X]
segue que g(X) divide f (X) em K[X]. Como f (X) é irredutı́vel em K[X] isso
implica que g(X) = f (X). Logo f (X) pode ser decomposto em fatores lineares
em M [X]. 

Corolário 5. Seja M/K extensão finita de corpos. Então M/K é de Galois


se e somente se M é corpo de decomposição sobre K para um polinômio de K[X].

Exercı́cios. Descreva as correspondências de Galois para a extensão M/K


onde K = Q e M é o corpo de decomposição de f (X) contido em C nos casos
seguintes.
(1) f (X) = X 4 − X 3 − 2X + 2.
(2) f (X) = X 4 + 5X 2 + 5.
(3) f (X) = X 4 − X 2 + 1. [Dica: escreva a fatoração de X 12 − 1 e mostre
que se u ∈ C é um elemento de ordem multiplicativa igual a 12 então
f (u) = 0 e as raı́zes de f (X) são potências de u.]

(4) f (X) = X 4 − 2, que tem grupo de Galois D8 (o grupo diedral de ordem


8). G = D8 = ha, bi onde a = (13) e b = (12)(34). Observe que
ab = (1234) tem ordem 4. Os subgrupos normais de G são {1}, hababi =
Z(G), ha, babi, habi, hb, abai, G. O quociente G/Z(G) é isomorfo a C2 ×
C2 . As classes de conjugação de G são {1}, {abab}, {ab, ba}, {a, bab},
{aba, b}. Os subgrupos de G são os seguintes.

ll G RRRRR
ll lll RRR 2
lll RRR
l l 2 RRR
lll 2 R
ha, babi ∼ C
= 2 × C habi ∼
= 4C hb, abai ∼
= C2 × C2
pp QQQ 2 mm NNN
pp QQQQ2 mm m NNN2
pp p QQ mm m NNN
p
p 2
2 QQQQ 2 m
mm 2
2
NNN
ppp mm
hai WWWWW hbabi Q hababi habai gg hbi
WWWWW Q
WWWWW 2 QQQQQ2 m mmm g gg gggggg
WWWWW Q 2 mmm 2ggggg
WWW2WWQQQQQ 2
WWWWWQQ mmmmgmgggggggg
2
m g
W gmmgggg
{1}

(Curiosidade) Como visto X 3 − 2 tem grupo de Galois S3 e X 3 − 3X + 1


tem grupo de Galois A3 . Usando um programa (por exemplo WolframAlpha,
disponı́vel na internet) compare as fatorações de X 3 − 2 módulo os primos p ≤ 50
com as fatorações de X 3 − 3X + 1 módulo os primos p ≤ 50. Você perceberá que
existe um tipo de fatoração (módulo os primos) muito frequente para X 3 − 2 que
não ocorre para X 3 − 3X + 1. Usar WolframAlpha é muito fácil, por exemplo
para fatorar X 3 − 2 módulo 5 basta escrever
factorize x^3-2 modulo 5
56 2. TEORIA DE GALOIS

5. Transitividade
Teorema 11. Seja f (X) ∈ K[X] um polinômio com raı́zes distintas e seja
M um seu corpo de decomposição sobre K. Então a ação de G = G (M/K) no
conjunto das raı́zes de f (X) é transitiva se e somente se f (X) é irredutiv́el em
K[X].
Demonstração. Se f (X) é irredutı́vel e α, β são duas raı́zes de f (X) em
M então sabemos que a composição K(α) ∼ = K[X]/(f (X)) ∼ = K(β) é um K-
isomorfismo que leva α para β, e se extende a um isomorfismo M → M , ou seja
um elemento de G que leva α para β.
Agora suponha que a ação de G seja transitiva. Se f (X) = h(X)k(X) então
se r é raiz de h(X) e s é raiz de k(X) existe g ∈ G tal que g(r) = s, e por um lado
h(g(r)) = g(h(r)) = 0, ou seja g(r) = s é raiz de h(X), por outro lado g(r) = s
é raiz de k(X) logo isso daria uma raiz de f (X) com multiplicidade maior que 1,
uma contradição. 

6. Cúbicas
Seja K um corpo de caracterı́stica zero. Seja f (X) ∈ K[X] de grau n, raı́zes
distintas, com corpo de decomposição M sobre K e grupo de Galois G. Sabemos
que G pode ser visto como um subgrupo de Sn (representação permutacional
induzida pela ação de G no conjunto das n raı́zes de f (X)) Sejam v1 , . . . , vn as
raı́zes do polinômio f (X) (todas distintas). Seja
Y
∆ := (v1 − v2 )(v1 − v3 )...(vn−1 − vn ) = (vi − vj )
1≤i<j≤n
2
D := ∆ é chamado de discriminante de f (X). Como todo g ∈ G induz uma
permutação dos vi , temos g(∆) ∈ {∆, −∆}. Mais especificamente se g é par
g(∆) = ∆, se g é ı́mpar g(∆) = −∆. Segue que para todo g ∈ G, g(D) =
g(∆2 ) = g(∆)2 = (±∆)2 = D, logo D ∈ K sendo M/K Galois. Além disso, como
g ∈ G fixa ∆ se e somente se g ∈ An , segue que o subgrupo correspondente a
K(∆) (nas correspondências de Galois) é K(∆)0 = G ∩ An . Observe que isso é
coerente com as correspondências de Galois pois |G : G ∩ An | vale 1 ou 2, assim
como |K(∆) : K|, e |G : G ∩ An | = 2 se e somente se |K(∆) : K| = 2.

Seja f (X) = X 3 + bX 2 + cX + d. Então calculando f (X − b/3) obtemos um


polinômio da forma g(X) = X 3 + pX + q com o mesmo discriminante de f (X).
Proposição 11. D = −4p3 − 27q 2 .
Demonstração. Seja M um corpo de decomposição de g(X). Escreva
g(X) = (X − v1 )(X − v2 )(X − v3 ) onde os vi são as raı́zes de g(X) em M =
Q(v1 , v2 , v3 ). Como g(X) = X 3 + pX + q segue
X 3 + pX + q = X 3 − (v1 + v2 + v3 )X 2 + (v1 v2 + v1 v3 + v2 v3 )X − v1 v2 v3 .
Segue que
v1 + v2 + v3 = 0, v1 v2 + v1 v3 + v2 v3 = p, v1 v2 v3 = −q.
6. CÚBICAS 57

Calculando v1 , v2 , v3 pela equação v1 + v2 + v3 = 0 e substituindo na expressão


de p obtemos
p = v1 (−v1 − v3 ) + v1 v3 + v2 v3 = −v12 + v2 v3 ,

p = (−v2 − v3 )v2 + v1 v3 + v2 v3 = −v22 + v1 v3 ,


p = v1 v2 + v1 v3 + (−v1 − v3 )v3 = −v32 + v1 v2 .
Suponha primeiro que q = −v1 v2 v3 6= 0.
D = ∆2 = (v1 − v2 )2 (v2 − v3 )2 (v1 − v3 )2
= ((v1 + v2 )2 − 4v1 v2 )((v2 + v3 )2 − 4v2 v3 )((v1 + v3 )2 − 4v1 v3 )
   
q q q
= v32 + 4 v12 + 4 v22 + 4
v3 v1 v2
1
= (v 3 + 4q)(v13 + 4q)(v23 + 4q)
v1 v 2 v3 3
= (−1/q)(−pv3 + 3q)(−pv1 + 3q)(−pv2 + 3q)
= (−1/q)(p2 v1 v3 + 3pqv2 + 9q 2 )(−pv2 + 3q)
= (−1/q)(p3 q + 3p2 qv1 v3 − 3p2 qv22 + 9pq 2 v2 − 9pq 2 v2 + 27q 3 )
= (−1/q)(p3 q + 3p3 q + 27q 3 ) = −p3 − 3p3 − 27q 2 = −4p3 − 27q 2 .
Suponha agora que um dos vi é zero, por exemplo v3 = 0 (sem perda de generali-
dade). Então q = 0, p = −v22 e v2 = −v1 logo D = (v1 − v2 )2 v24 = 4v26 = −4p3 =
−4p3 − 27q 2 . 

Suponha agora f (X) irredutı́vel. Lembre-se que


∆ = (v1 − v2 )(v1 − v3 )(v2 − v3 ).
Sabemos que o grupo de Galois de f (X) é um subgrupo transitivo de S3 , logo
é S3 ou A3 (os subgrupos transitivos de S3 são A3 e S3 ). Mas observe que se
G = S3 então existe s ∈ G que fixa v3 e troca v1 com v2 , logo s(∆) = −∆ e
por consequência ∆ 6∈ K, ou seja D não é um quadrado em K. Por outro lado
se G = A3 , digamos gerado por s, e s(v1 ) = v2 , s(v2 ) = v3 e s(v3 ) = v1 então
s(∆) = ∆ logo ∆ ∈ G0 = K (sendo G gerado por s) ou seja D é um quadrado
em K. Segue que G = A3 se D é um quadrado em K, e G = S3 se D não é um
quadrado em K.

Exemplo. f (X) = X 3 − 2 tem grupo S3 sobre Q. De fato p = 0, q = −2


logo o discriminante é −27 · 22 , que não é um quadrado em Q.

Exemplo. f (X) = X 3 − 3X + 1 tem grupo A3 sobre Q. De fato é irredutı́vel


e p = −3, q = 1 logo o discriminante é −4(−3)3 − 27 = 92 . Chamada de a uma
raiz de f (X), o corpo de decomposição é Q(a) e os seus únicos subcorpos são os
dois triviais.
58 2. TEORIA DE GALOIS

Exemplo. f (X) = X 3 + 3X 2 + 1 tem grupo S3 sobre Q. De fato é irredutı́vel


e f (X − 1) = X 3 − 3X + 3 logo p = −3, q = 3, segue que D = −4(−3)3 − 27 · 32 =
−27(−4 − 9) = 33 · 13 não é um quadrado em Q logo G = S3 .

7. Subcorpos estáveis

Seja M/K extensão de corpos com grupo de Galois G. L ∈ [M/K] é dito


estável se para todo σ ∈ G, u ∈ L temos σ(u) ∈ L. L é estável se e somente se
σ(L) = L para todo σ ∈ G. A inclusão L ≤ σ(L) segue do fato que se ` ∈ L então
` = σ(σ −1 (`)) e σ −1 (`) ∈ L se L é estável. Em outras palavras, a ação natural
de G sobre M induz uma ação de G sobre [M/K] dada por L 7→ σ(L) = {σ(`) :
` ∈ L} (é fácil ver que se σ ∈ G e L é subcorpo de M contendo K então σ(L)
é subcorpo de M contendo K) e os subcorpos estáveis são os pontos fixos dessa
ação.
Observe que se H ≤ G então M/H 0 é extensão de Galois com grupo de Galois
igual a H 00 = H (para mostrar isso é só escrever a definição de grupo de Galois).
Teorema 12 (Teorema fundamental - parte 2). Seja M/K extensão de Galois
finita com grupo de Galois G. Então L ∈ [M/K] é estável se e somente se
L0 é normal em G, se e somente se L/K é de Galois. Se L é estável então
G(L/K) ∼ = G/L0 .
Demonstração. Seja L ∈ [M/K] corpo intermediário estável. Para todo
σ ∈ G, γ ∈ L0 , u ∈ L temos σ −1 (γ(σ(u))) = σ −1 (σ(u)) = u porque σ(u) ∈ L
sendo L estável e sendo γ ∈ L0 . Logo σ −1 γσ ∈ L0 . Isso mostra que L0 E G.
Seja HEG. Para todo γ ∈ H, σ ∈ G e para todo u ∈ H 0 temos σ −1 (γ(σ(u))) =
u, ou seja γ(σ(u)) = σ(u). Valendo isso para todo γ ∈ H, temos σ(u) ∈ H 0 (sendo
M/H 0 extensão de Galois com grupo de Galois H 00 = H), e isso vale para todo
u ∈ H 0 e para todo σ ∈ G. Segue que H 0 é estável.
Se L ∈ [M/K] é estável então L/K é de Galois. De fato dado u ∈ L − K
basta mostrar que existe um γ ∈ G (L/K) tal que γ(u) 6= u. Sendo M/K de
Galois, existe σ ∈ G (M/K) tal que σ(u) 6= u. Além disso σ|L ∈ G (L/K) sendo L
estável. Basta então tomar γ := σ|L .
Se L ∈ [M/K] e L/K é de Galois então L é estável. De fato seja σ ∈ G(M/K)
e seja u ∈ L. Precisamos mostrar que σ(u) ∈ L. Sendo L/K algébrica, u é
algébrico sobre K. Considere f (X) ∈ K[X], o polinômio minimal de u sobre K.
Sendo u ∈ L e L/K Galois, f (X) é produto de fatores lineares em L[X]. Sabemos
que σ(u) é também raiz de f (X) em M ≥ L. Logo σ(u) ∈ L.
Seja L ∈ [M/K] estável. Considere α : G = G (M/K) → G (L/K) definido por
α(σ) := σ|L (faz sentido sendo L estável). Sendo M um corpo de decomposição
sobre K, todo K-automorfismo de L pode ser extendido a M , logo α é sobrejetiva.
O núcleo de α consiste dos K-automorfismos de M que são a identidade sobre L,
ou seja ker(α) = L0 . Segue que G (L/K) ∼ = G/L0 . 
Observe que se M é corpo de decomposição de f (X) ∈ K[X] sobre K então
M é corpo de decomposição de f (X) sobre L também, sendo K ≤ L. Ou seja se
7. SUBCORPOS ESTÁVEIS 59

M/K é Galois e K ≤ L ≤ M então M/L é Galois. Do ponto de vista do grupo


de Galois, se L ∈ [M/K] com certeza {1} E L0 , ou seja M/L é Galois.√ Em geral
L0 não é normal em G, ou seja L/K não é Galois: por exemplo Q( 3 2)/Q não é
Galois e está contido no corpo de decomposição de X 3 − 2 sobre Q.

Seja M/K extensão de Galois, G = G (M/K), L ∈ [M/K], H = L0 ≤ G.


Sabemos que o coração normal HG de H em G é o maior subgrupo normal de G
0
contido em H. Segue que HG é o menor subcorpo estável de M contendo L = H 0 ,
ou seja a menor extensão de Galois de K contendo L. Tal extensão é chamada
de fecho de Galois (Galois closure) de L sobre K. É obtido adicionando a K as
raı́zes dos polinômios minimais sobre K dos elementos de L (na verdade basta
considerar geradores de L sobre K).

Raı́zes n-esimas

Seja Q ≤ K ≤ C um corpo e seja n um inteiro positivo. Na proposição


seguinte ϕ é a função de Euler.

Proposição 12. O grupo de Galois de X n − 1 sobre K é abeliano, isomorfo


a um subgrupo de U (Z/nZ), em particular a sua ordem divide ϕ(n).

Demonstração. f (X) = X n − 1 não tem raı́zes múltiplas porque é coprimo


com a sua derivada nX n−1 . Seja A o conjunto das raı́zes de f (X) em C. Observe
que A é um grupo cı́clico de ordem n gerado por u = ei2π/n , e M = K(u). Seja
G = G (M/K). O homomorfismo ϕ : G → Aut(A) que leva g para g|A é injetivo
(porque se g fixa os elementos de A então fixa todas as raı́zes, logo é a identidade),
logo G é isomorfo a um subgrupo de Aut(A). Mas γ ∈ Aut(A) é determinado
por γ(u) (sendo γ(uk ) = γ(u)k para todo inteiro k, sendo γ homomorfismo), logo
podemos considerar ψ : Aut(A) → U (Z/nZ) que leva γ para m onde γ(u) = um
(aqui U (Z/nZ) é o grupo multiplicativo de Z/nZ, ou seja o grupo multiplicativo
das classes módulo n coprimas com n). γ é bem definido porque se a, b são inteiros
ua = ub se e somente se a ≡ b mod n, e se γ ∈ Aut(A) e γ(u) = um (os elementos
de A são potências de u) então m é coprimo com n porque um precisa ser um
gerador do grupo cı́clico A ∼
= Cn . O núcleo de ψ é trivial porque se γ ∈ Aut(A) e
ψ(γ) = 1 então γ(u) = u1 = u logo γ é a identidade, de fato γ(uk ) = γ(u)k = uk
para todo inteiro k. Segue que ψ é um homomorfismo injetivo de grupos logo G
isomorfo a um subgrupo de U (Z/nZ), que é um grupo abeliano (a multiplicação
módulo n é comutativa), logo G é abeliano. 

Curiosidade: pode se mostrar que se K = Q então o grupo de Galois de


X n − 1 é isomorfo a U (Z/nZ), em particular é abeliano de ordem ϕ(n) (onde ϕ
é a função de Euler). Para aprofundar sobre isso veja: polinômios ciclotômicos.

Proposição 13. Se K contem todas as raı́zes de X n − 1 e t é raiz de X n − a


onde a ∈ C então K(t) é um corpo de decomposição para X n − a sobre K e
G = G (K(t)/K) é cı́clico de ordem um divisor de n.
60 2. TEORIA DE GALOIS

Demonstração. As raı́zes de X n − a são os elementos da forma tu onde u


é uma raiz de X n − 1, e como todos tais u pertencem a K isso mostra que K(t) é
o corpo de decomposição de X n − a sobre K. Se g ∈ G = G (K(t)/K) então g(t)
é uma raiz de X n − a logo existe uma única raiz n-esima ug de 1, que depende de
g, tal que g(t) = tug . Se g, h ∈ G temos ugh = ug uh , de fato g(uh ) = uh (sendo
uh ∈ K) logo
ugh t = gh(t) = g(uh t) = g(uh )g(t) = uh ug t
e cancelando t obtemos ugh = ug uh . Além disso se ug = 1 então g fixa t logo
é a identidade K(t) → K(t) (porque fixa K e t). Segue que g 7→ ug é um
homomorfismo injetivo G → A onde A é o grupo cı́clico das raı́zes complexas de
X n − 1. Segue que G é isomorfo a um subgrupo de A ∼ = Cn , logo G é cı́clico de
ordem um divisor de n. 

Exercı́cios.
(1) Descreva as correspondências de Galois sobre Q para os polinômios
X 4 − 1, X 5 − 1, X 6 − 1, X 7 − 1, X 8 − 1.
Pode usar o fato que o grupo de Galois de X n − 1 sobre Q é isomorfo
a U (Z/nZ). Dada uma raiz n-esima u de 1 de ordem multiplicativa n,
cada elemento g ∈ G é identificado pela classe m módulo n, coprima
com n, tal que g(u) = um .

Verifique que todos os subcorpos são estáveis.

Para ajudar:
• U (Z/4Z) = {1, 3} é cı́clico gerado por 3;
• U (Z/5Z) = {1, 2, 3, 4} é cı́clico gerado por 2;
• U (Z/6Z) = {1, 5} é cı́clico gerado por 5;
• U (Z/7Z) = {1, 2, 3, 4, 5, 6} é cı́clico gerado por 3
• U (Z/8Z) = {1, 3, 5, 7} não é cı́clico, é isomorfo ao grupo de Klein.

8. Solubilidade
Proposição 14. Seja M um corpo de decomposição sobre K. Seja U o
conjunto das raı́zes n-esimas de 1 em C. Então G (M/K) é solúvel se e somente
se G (M (U )/K(U )) é solúvel.
Demonstração. A extensão M/K é Galois por hipótese, logo M é o corpo
de decomposição sobre K para um polinômio f (X) ∈ K[X]. A extensão K(U )/K
é Galois sendo um corpo de decomposição de X n − 1 e M (U )/K é Galois sendo
um corpo de decomposição de f (X)(X n − 1). Sejam T = G (M (U )/K(U )),
R = G (M (U )/K), G = G (M/K). Precisamos mostrar que T é solúvel se e
somente se G é solúvel. Trabalharemos na extensão M (U )/K. Sabemos que
T = K(U )0 , e sendo K(U ) um corpo de decomposição, é Galois logo é estável e
R/T ∼ = G (K(U )/K) é abeliano. Sendo M um corpo de decomposição, é Galois
logo é estável em M (U )/K e M 0 E R, R/M 0 ∼
= G (M/K) = G. Isso mostra que
8. SOLUBILIDADE 61

se T é solúvel então R é solúvel (sendo R/T abeliano) logo G ∼= R/M 0 é solúvel.


0
Pertencer a T significa fixar U , e pertencer a M significa fixar M , logo pertencer
a T ∩ M 0 significa fixar M (U ), ou seja T ∩ M 0 = K(U )0 ∩ M 0 = M (U )0 = {1}.
Segue que T ∼ = T /T ∩ M 0 ∼ = T M 0 /M 0 ≤ R/M 0 ∼ = G, ou seja T é isomorfo a um
subgrupo de G, logo T é solúvel se G é solúvel. 

Corolário 6. Seja K um corpo, Q ≤ K ≤ C, e seja a ∈ K. O grupo de


Galois de X n − a sobre K é solúvel.
Demonstração. Dado um corpo de decomposição M de X n − a sobre K
vimos que G (M (U )/K(U )) é cı́clico, em particular é solúvel, logo G (M/K) é
solúvel pela proposição anterior. 

Proposição 15. Sejam σ1 , . . . , σr automorfismos distintos de um corpo K.


Então σ1 , . . . , σr são linearmente independentes sobre K.
Demonstração. Por contradição existam σ1 , . . . , σr automorfismos de K
linearmente dependentes sobre K, daı́Ppodemos escolher r minimal com essa pro-
r
priedade. Sejam a1 , . . . , ar ∈ K com i=1 ai σi = 0. A minimalidade de r implica
que ai 6= 0 para todo i = 1, . . . , r. Como a função nula não é automorfismo, r ≥ 2.
Seja b ∈ K com σ1 (b) 6= σ2 (b). Temos
a1 σ1 (b)σ1 (c) + . . . + ar σr (b)σr (c) = a1 σ1 (bc) + . . . + ar σr (bc) = 0.
Subtraindo σ1 (b)(a1 σ1 (c) + . . . + ar σr (c)) = 0 obtemos
a2 (σ2 (b) − σ1 (b))σ2 (c) + . . . + ar (σr (b) − σ1 (b))σr (c) = 0.
Isso vale para todo c ∈ K logo é uma combinação linear nula dos σi com menos
de r coeficientes não nulos. Os coeficientes não são todos nulos porque a2 (σ2 (b) −
σ1 (b)) 6= 0. Isso contradiz a minimalidade de r. 

Dada uma extensão de Galois M/K de grau n com grupo de Galois G, a


norma de m ∈ M é
Y
NM/K (m) = N (m) = g(m).
g∈G

Por exemplo na extensão de Galois Q(i)/Q, corpo de decomposição de X 2 +1 com


grupo de Galois G = {1, σ} onde σ(i) = −i, a norma de a + ib é (a + ib)σ(a + ib) =
(a + ib)(a − ib) = a2 + b2 . Observe que
• Se x ∈ K então N (x) = xn .
Q De fato sendoQ x ∈ K ntemos g(x) = x para todo g ∈ G logo N (x) =
g∈G g(x) = g∈G x = x sendo |G| = |M : K| = n.
• Se x, y ∈ M então N (xy) = N (x)N (y) e N (x−1 ) = N (x)−1 .
De fato sendo os elementos de G homomorfismos de corpos, e sendo
a multiplicação em M comutativa,
Y Y Y Y
N (xy) = g(xy) = g(x)g(y) = g(x) g(y) = N (x)N (y),
g∈G g∈G g∈G g∈G
62 2. TEORIA DE GALOIS

 −1
Y Y Y
N (x−1 ) = g(x−1 ) = g(x)−1 =  g(x) = N (x)−1 .
g∈G g∈G g∈G

• Se x ∈ M e σ ∈ G entãoQN (x) = N (σ(x)).


Q
De fato N (σ(x)) = g∈G gσ(x) = h∈G h(x) = N (x) sendo {gσ :
g ∈ G} = G.
• Se x ∈ M então N (x) ∈ K. Q Q
De fato se σ ∈ G então σ(N (x)) = g∈G σg(x) = h∈G h(x) =
N (x) sendo {σg : g ∈ G} = G, isso vale para todo σ ∈ G logo
N (x) ∈ G0 = K.
Teorema 13 (Teorema 90 de Hilbert). Seja M/K extensão de Galois finita
com grupo de Galois G = hσi cı́clico. Um elemento a ∈ M tem norma 1 se e
somente se existe b ∈ M tal que a = bσ(b)−1 .
Demonstração. Seja n = |G|. Temos G = hσi = {1, σ, . . . , σ n−1 }. Seja
a ∈ M . Observe que
Y
N (a) = g(a) = aσ(a)σ 2 (a) · · · σ n−1 (a).
g∈G

Se existe b ∈ M com a = bσ(b)−1 então


N (a) = N (bσ(b)−1 ) = N (b)N (σ(b)−1 ) = N (b)N (σ(b))−1 = N (b)N (b)−1 = 1.
Agora suponha N (a) = 1. Seja ϕ o homomorfismo M → M definido por (lembre
que σ 0 = 1)
n−1
X
ϕ(c) = aσ(a) · · · σ i (a)σ i (c).
i=0
Sendo 1, σ, . . . , σ n−1 distintos, eles são linearmente independentes, logo ϕ não é o
homomorfismo nulo. Existe então c ∈ M tal que ϕ(c) 6= 0. Seja b := ϕ(c). Sendo
aσ(a)σ 2 (a) · · · σ n−1 (a) = N (a) = 1 e σ n = 1 temos
n−1
X n−1
X
σ(b) = σ(a)σ 2 (a) · · · σ i+1 (a)σ i+1 (c) = a−1 aσ(a) · · · σ i+1 (a)σ i+1 (c)
i=0 i=0
n−2
!
X
= a−1 aσ(a) · · · σ i+1 (a)σ i+1 (c) + aσ(a)σ 2 (a) · · · σ n (a)σ n (c)
i=0
n−1
! n−1
X X
−1
=a i i
aσ(a) · · · σ (a)σ (c) + ac = a−1 aσ(a) · · · σ i (a)σ i (c) = a−1 b
i=1 i=0
−1
ou seja σ(b) = a b. Sendo b 6= 0, obviamente σ(b) 6= 0 e podemos reformular a
igualdade σ(b) = a−1 b como a = bσ(b)−1 . 
Proposição 16. Seja M/K extensão de Galois finita de grau n com K
contendo todas as raı́zes n-esimas de 1 e G = G (M/K) = hσi cı́clico. Então
M = K(t) com t raiz de X n − a, para algum a ∈ K, e X n − a é irredutı́vel em
K[X].
9. EXTENSÕES RADICAIS 63

Demonstração. Seja ε = ei2π/n . Sendo ε ∈ K temos N (ε) = εn = 1 logo


N (ε ) = 1 também e existe t ∈ M tal que ε−1 = tσ(t)−1 . Segue que σ(t) = tε
−1

logo σ(tn ) = (tε)n = tn logo a := tn ∈ K. Segue que t é raiz de X n − a. Sendo


K(t) ⊆ M e |M : K| = n, para mostrar que M = K(t) é suficiente mostrar
que X n − a é irredutı́vel em K[X], porque daı́ segue |K(t) : K| = n = |M : K|
logo M = K(t). Seja f (X) o polinômio minimal de t sobre K, então σ i (t) = tεi
é raiz de f (X) para todo i = 0, 1, . . . , n − 1, e σ i (t) = tεi 6= tεj = σ j (t) se
Qn−1
i, j ∈ {0, 1, . . . , n − 1} e i 6= j, segue que f (X) = i=0 (X − σ i (t)), logo f (X)
divide X n − a e tem grau n, isso implica f (X) = X n − a. 
Exercı́cios.
(1) Seja f (X) = X 6 −2. Calcule a ordem do seu grupo de Galois G sobre Q.
Encontre um subgrupo normal abeliano N de G tal que G/N é abeliano.
(2) Seja M/K extensãoP de Galois com grupo de Galois G e seja m ∈ M .
Defina T r(m) = g∈G g(m), o traço de m. Mostre que T r(m) ∈ K.
(3) Seja M um corpo√de decomposição de X 3 − 2 sobre Q. Calcule a norma
e o traço de α = 3 2, de u = e2πi/3 e de α + u.
(4) Seja M um corpo de decomposição de f (X) = X 3 − 3X + 1 sobre Q,
seja α ∈ M uma raiz de f (X) e na extensão M/Q calcule a norma e o
traço de α.
(5) (BONUS - Facultativo - Pesquise na internet em inglês) Seja M/K ex-
tensão de Galois de grau n. Todo α ∈ M determina a função K-linear
fα : M → M dada por fα (x) := αx. Após escolha de uma base de M
sobre K a função fα pode ser vista como matriz n × n com coeficientes
em K. Mostre que det(fα ) = N (α) e T r(fα ) = T r(α) (onde o traço de
uma matriz é a soma dos elementos diagonais).

9. Extensões radicais
Resolver uma equação polinomial f (X) = 0 sobre K para nós significa ex-
pressar as soluções de f (X) = 0 a partir dos elementos de K usando operações de
corpo e raı́zes n-esimas. Por exemplo a formula para resolver X 3 + pX + q = 0,
onde p, q ∈ Q, é (Cardano)
s r s r
3 q q 2 p3 q q2 p3
k 2k 3
xk = ξ − + + +ξ − − + , k = 0, 1, 2
2 4 27 2 4 27

onde ξ = ei2π/3 = − 12 +i 23 e se q 2 /4+p3 /27 < 0 as duas raı́zes cúbicas na formula
são tomadas complexas conjugadas e se q 2 /4 + p3 /27 ≥ 0 as duas raı́zes cúbicas
na formula são reais. Observe que se existirem raı́zes complexas conjugadas de
uma cúbica irredutı́vel então o grupo de Galois dela é S3 porque a conjugação
complexa tem ordem 2. O exemplo das cúbicas justifica a definição seguinte.

Seja F/K uma extensão de corpos. Ela é dita radical se existe uma torre
de raı́zes que vai de K até F , ou seja uma sequência de subcorpos
K = K0 ≤ K1 ≤ . . . ≤ Kr = F
64 2. TEORIA DE GALOIS

tal que para todo i = 0, . . . , r − 1, Ki+1 = Ki (ti ) onde tni i ∈ Ki para algum inteiro
positivo ni , ou seja ti é uma raiz ni -esima de um elemento de Ki , ou seja ti é raiz
de um polinômio X ni − ai ∈ Ki [X].

Se f (X) ∈ K[X], a equação f (X) = 0 é dita solúvel por radicais se existem


uma extensão radical F/K e um corpo de decomposição M/K de f (X) sobre K
tal que M ≤ F .

Por exemplo a torre de raı́zes correspondente à cúbica acima é


√ √ √ √ √ 3 q √
 r 
Q ⊂ Q(i 3) ⊂ Q(i 3, δ) ⊂ Q i 3, δ, − + δ
2
√ √ q √ q √
 r r 
⊂ Q i 3, δ, 3 − + δ, 3 − − δ
2 2
q2 p3
onde δ = 4 + 27 .

O fecho de Galois de uma extensão L/K é a extensão M/K obtida adicio-


nando a L todas as raı́zes dos polinômios minimais dos elementos de L sobre K.
Se trata da menor extensão de Galois de K contendo L.
• Se F/K é radical e F ≥ L ≥ K então F/L é radical.
• Se F1 , F2 são radicais sobre K então hF1 , F2 i/K é radical.
• Se F/K é radical e N/K é o fecho de Galois de F sobre K então N/K
é radical.
A terceira observação segue do fato que N é gerado sobre K pelos σ(F ) onde
σ ∈ G (N/K) (veja os exercı́cios) logo pela segunda observação basta mostrar que
σ(F )/K é radical, mas isso é obvio.
Teorema 14. Sejam f (X) ∈ K[X], M um corpo de decomposição de f (X)
sobre K e G = G (M/K). A equação f (X) = 0 é solúvel por radicais se e somente
se G é solúvel.
Demonstração. Seja M/K um corpo de decomposição de f (X) sobre K e
seja G = G (M/K).
Suponha que f (X) é solúvel por radicais. Existe então uma extensão radical
F/K com F ≥ M . O fecho de Galois E de F é radical, e como G (M/K) ∼ =
G (E/K)/G (E/M ) é suficiente mostrar que G (E/K) é solúvel, e sendo E um
corpo de decomposição podemos supor E = M , ou seja podemos supor M radical.
Temos uma sequência de subcorpos
K = K0 ≤ K1 ≤ . . . ≤ Kr = M
tal que para todo i = 0, . . . , r − 1, Ki+1 = Ki (ti ) onde tni i ∈ Ki para algum inteiro
positivo ni . Seja m = n0 · · · nr−1 e seja U o grupo das raı́zes de X m − 1 em C.
Como G (M/K) é solúvel se e somente se G (M (U )/K(U )) é solúvel, podemos
supor que U ⊆ K. Vamos mostrar que G é solúvel por indução sobre r. Se r = 1
então M = K1 = K(t0 ) e G (K(t0 )/K) é solúvel, sendo corpo de decomposição
9. EXTENSÕES RADICAIS 65

para X n0 − tn0 0 . Agora suponha r ≥ 2. Por hipótese de indução N = K(t0 )0 =


G (M/K(t0 )) é solúvel, e sendo K(t0 )/K Galois (porque K ⊇ U ), N é normal em
G e G/N ∼ = G (K(t0 )/K) é cı́clico. Segue que G é solúvel.

Suponha agora G solúvel. Seja U o grupo das raı́zes de X |G| − 1 em C (são


todas distintas) e suponha que U ⊆ K. Sendo G solúvel existe uma série
G = G1 B G2 B . . . B Gr = {1}
com Gi /Gi+1 cı́clico para todo i = 1, . . . , r − 1 (veja os exercı́cios), e tomando os
subcorpos correspondentes Ki = G0i obtemos
K = K1 < K2 < . . . < Kr = M.
Temos ni = |Ki+1 /Ki | = |Gi : Gi+1 | para todo i = 0, 1, . . . , r − 1 e o grupo de
Galois de M/Ki é Ki0 = Gi . Sendo Gi+1 normal em Gi , Ki+1 é estável em M/Ki ,
e o subgrupo correspondente a Ki+1 é Gi+1 , logo Ki+1 /Ki é extensão de Galois
com grupo de Galois Gi /Gi+1 , cı́clico. Como K contem U , segue (pelo teorema
que vimos) que Ki+1 é obtido de Ki adicionando uma raiz de um polinômio da
forma X ni − ai com ai ∈ Ki+1 , logo a série de subcorpos acima é uma torre de
raı́zes.

Agora suponha que K não contem U . Sendo U um grupo cı́clico, K(U ) é


extensão radical de K (é obtida adicionando uma oportuna raiz de X |G| − 1),
logo sendo M ⊆ M (U ), para mostrar que f (X) = 0 é solúvel por raidicais basta
mostrar que M (U ) é extensão radical de K, e para isso é suficiente mostrar que
M (U ) é extensão radical de K(U ). Sabemos que M (U )/K(U ) é Galois, sendo
M (U ) corpo de decomposição de f (X) sobre K(U ). Trabalharemos na extensão
M (U )/K, que é Galois sendo M (U ) corpo de decomposição de f (X)(X |G| −
1) sobre K. O homomorfismo de restrição G (M (U )/K(U )) → G = G (M/K),
σ 7→ σ|M é bem definido (sendo M/K Galois, logo M é estável) e injetivo logo
G (M (U )/K(U )) é solúvel de ordem que divide |G|. Segue que U contem as raı́zes
de X m − 1 onde m = |G (M (U )/K(U ))|. Pelo paragrafo anterior M (U )/K(U ) é
radical. 

Exercı́cios.
(1) Seja F/K uma extensão de corpos e seja M o fecho de Galois de F
sobre K, G = G (M/K). Mostre que M é gerado pelos corpos σ(F )
onde σ ∈ G.
(2) Seja G um grupo solúvel finito. Mostre que G é policı́clico, ou seja existe
uma série {1} = G0 C G1 C . . . C Gn = G tal que Gi /Gi−1 é cı́clico para
todo i = 1, . . . , n. Isso permanece verdadeiro se G for infinito?
(3) Seja f (X) = X 5 −4X+2 (irredutı́vel em Q[X] pelo criterio de Eisenstein)
e seja M um corpo de decomposição de f (X) sobre Q com grupo de
Galois G, pensado como subgrupo de S5 agindo nas 5 raı́zes de f (X).
(a) Mostre que f (X) tem três raı́zes reais e duas raı́zes complexas con-
jugadas (estudando o grafico de f ).
66 2. TEORIA DE GALOIS

(b) Considere a conjugação complexa a + ib 7→ a − ib para mostrar que


G contem um 2-cı́clo.
(c) Mostre que 5 divide |G| (pense na transitividade) e deduza que G
contem um 5-cı́clo.
(d) Usando o fato que S5 é gerado por um qualquer 5-cı́clo junto com
um qualquer 2-cı́clo (não precisa mostrar isso) deduza que a equação
f (X) = 0 não é solúvel por radicais.

10. Quárticas
Seja f (X) = X 4 + bX 3 + cX 2 + dX + e irredutı́vel e separável em F [X] e
sejam v1 , v2 , v3 , v4 as suas raı́zes, todas distintas. Seja M = F (v1 , v2 , v3 , v4 ) e
G = G (M/F ), isomorfo a um subgrupo de S4 . Sejam
α := v1 v2 + v3 v4 , β := v1 v3 + v2 v4 , γ := v1 v4 + v2 v3
Como os vi são distintos segue que α, β e γ são distintos. De fato
α − β = v1 v2 + v3 v4 − v1 v3 − v2 v4 = (v1 − v4 )(v2 − v3 ) 6= 0,
α − γ = v1 v2 + v3 v4 − v1 v4 − v2 v3 = (v1 − v3 )(v2 − v4 ) 6= 0,
β − γ = v1 v3 + v2 v4 − v1 v4 − v2 v3 = (v1 − v2 )(v3 − v4 ) 6= 0.
Além disso é fácil se convencer que a ação natural de G sobre as raı́zes induz
uma ação de G sobre {α, β, γ}. Seja K < S4 o grupo de Klein. É claro que se
σ ∈ G ∩ K então σ fixa α, β e γ. Reciprocamente se σ 6∈ G ∩ K então σ não fixa
pelo menos um entre α, β, γ. Para se convencer disso, se σ 6∈ G então σ é de um
dos tipos seguintes:
• 2-cı́clos. Por exemplo se σ = (12) então β 7→ γ 7→ β.
• 3-cı́clos. Por exemplo se σ = (123) então α 7→ γ 7→ β 7→ α.
• 4-cı́clos. Por exemplo se σ = (1234) então γ 7→ α 7→ γ.
Segue que F (α, β, γ)0 = G ∩ K, e (G ∩ K)0 = F (α, β, γ) sendo M/F Galois. Logo
sendo F (α, β, γ) estável em M/F ,
G/G ∩ K ∼ = G(F (α, β, γ)/F )
O polinômio
R(X) = (X − α)(X − β)(X − γ) ∈ F (α, β, γ)[X]
é chamado de resolvente cúbica de f (X). Como a ação natural de G induz uma
ação permutacional em {α, β, γ} temos R(X) ∈ F [X]. Uma conta demonstra que
a resolvente cúbica de f (X) = X 4 + bX 3 + cX 2 + dX + e é
X 3 − cX 2 + (bd − 4e)X − b2 e + 4ce − d2 ∈ F [X].
O grupo de Galois de R é isomorfo a G/G ∩ K. G é um subgrupo transitivo
de S4 (sendo f (X) irredutı́vel), e sabemos quais são os subgrupos transitivos de
S4 : o grupo de Klein, os subgrupos cı́clicos de ordem 4, os subgrupos diedrais de
ordem 8, o grupo alternado A4 e o grupo simétrico S4 . É então imediato deduzir
as coisas seguintes. Se G/G ∩ K ∼ = S3 então G = S4 . Se G/G ∩ K ∼ = A3 então
11. O TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA 67

G = A4 . Se G = G ∩ K então G = K. Suponha |G/G ∩ K| = 2. Se K ≤ G então


G = D8 , e se |G ∩ K| = 2 então G = C4 .

Exemplo. f (X) = X 4 − 2 tem grupo de Galois D8 . De fato a resolvente


cúbica é X 3 + 8X = X(X 2 + 8) que tem grupo
√ de Galois de ordem 2, logo G é D8
ou C4 , por outro lado não é C4 porque Q( 4 2) não é um corpo de decomposição
para f (X). Segue que G = D8 .

Exemplo. f (X) = X 4 −3X 2 +4 tem grupo de Galois K. De fato a resolvente


cúbica é R(X) = X 3 + 3X 2 − 16X − 48 = (X + 3)(X − 4)(X + 4). Segue que
G = G ∩ K logo G = K.

Exemplo. f (X) = X 4 + 8X + 12 tem grupo de Galois A4 . De fato a


resolvente cúbica é R(X) = X 3 − 48X − 64, que é irredutı́vel. O discriminante
de R é 4 · 483 − 27 · 642 = 212 · 34 = 5762 . Segue que R tem grupo de Galois de
ordem 3 logo G = A4 .

Exemplo. f (X) = X 4 − X − 1 tem grupo de Galois S4 . De fato a resolvente


cúbica é R(X) = X 3 + 4X − 1, que é irredutı́vel. O discriminante de R é −283
logo R tem grupo de Galois S3 e G = S4 .

O problema seguinte é um classico problema em aberto.

Problema inverso de Galois (Inverse Galois Problem): dado um grupo finito G


encontre um polinômio f (X) ∈ Q[X] cujo grupo de Galois sobre Q é isomorfo a G.
Equivalentemente, encontre uma extensão de Galois M/Q tal que G (M/Q) ∼ = G.

11. O teorema fundamental da álgebra

Um corpo K é dito algebricamente fechado se todo polinômio não constante de


K[X] admite pelo menos uma raiz em K. Pela fatoração única, isso é equivalente
a dizer que os únicos polinômios irredutı́veis em K[X] são os polinômios de grau
1, e isso é equivalente a dizer que a única extensão finita de K é o próprio K, ou
seja não existe nenhuma extensão finita M/K de grau maior que 1.

O teorema fundamental da álgebra diz que o corpo


C = {a + ib : a, b ∈ R}
dos números complexos é algebricamente fechado. Observe que a teoria de Galois
desenvolvida até agora não depende de C ser algebricamente fechado, depende
apenas da existência dos corpos de decomposição de um polinômio (e do fato che
os subgrupos finitos do grupo multiplicativo de um corpo são cı́clicos - exercı́cio
para quem quiser).
68 2. TEORIA DE GALOIS

Teorema 15 (Teorema fundamental da álgebra). O corpo C dos números


complexos é algebricamente fechado.

Demonstração. Seja M/C uma extensão finita, mostraremos que M = C.


A extensão M/R é finita de grau maior ou igual a |C : R| = 2. Seja F o fecho
normal de M sobre R, então F/R é uma extensão finita de Galois de grau maior
ou igual a 2, logo podemos supor M = F , ou seja M/R é Galois.

Seja G = G (M/R), seja H um 2-subgrupo de Sylow de G e seja L = H 0 o


subcorpo R ≤ L ≤ M correspondente a H. Então L/R é uma extensão de grau
ı́mpar. Isso implica que L = R. De fato se α ∈ L então |R(α) : R| é ı́mpar (pois
divide |L : R| pela formula do grau) logo o polinômio minimal f (X) de α sobre
R tem grau ı́mpar. Mas um simples esboço de grafico mostra que todo polinômio
de grau ı́mpar admite pelo menos uma raiz real, logo é redutı́vel em R[X] se tiver
grau maior que 1. Isso implica que |R(α) : R| = 1 ou seja α ∈ R. Segue que
G = |M : R| é uma potência de 2, ou seja G é um 2-grupo.

Segue que P = G (M/C) = C0 ≤ G é também um 2-grupo (sendo um subgrupo


de um 2-grupo). Suponha P 6= {1}, e seja Q um subgrupo maximal de G (M/C).
Temos visto que Q tem ı́ndice 2 em P (todo subgrupo maximal de um p-grupo não
trivial tem ı́ndice p), logo o subcorpo correspondente Q0 na extensão de Galois
M/C tem grau 2 sobre C, ou seja Q0 = C(β) com β de grau 2.

Queremos mostrar que β ∈ C, o que leva a uma contradição terminando o


argumento. Pela formula de Bhaskara para mostrar que as raı́zes do polinômio
minimal de β sobre C pertencem a C basta mostrar que para cada d = r + is ∈ C
2 2 2
existe c = x + iy ∈ C tal que
√ c = d (aqui r, s, x, y ∈ R), ou seja x − y = r e
2 2
2xy = s. Para isso seja ρ = r + s e seja α um número real tal que cos(α) = r/ρ

e sin(α) = s/ρ (α existe porque (r/ρ)2 + (s/ρ)2 = 1). Sejam x = ρ cos(α/2) e

y = ρ sin(α/2). Temos x2 − y 2 = ρ cos(α) = r e 2xy = ρ sin(α) = s. 

12. Construtibilidade com régua e compasso


Um número complexo é dito construtı́vel com régua e compasso se pode
ser costruı́do a partir de um segmento de comprimento 1 usando apenas régua e
compasso, ou seja podendo construir segmentos entre dois pontos, cı́rculos com
dado centro passantes por um dado ponto, e podendo interceptar as linhas cons-
truidas de tais formas. Lembre-se que é sempre possı́vel construir a reta perpen-
dicular a uma reta dada e passante por um dado ponto, o ponto mêdio de um
segmento, e é possı́vel transladar e rotacionar segmentos.
12. CONSTRUTIBILIDADE COM RÉGUA E COMPASSO 69

Teorema 16. Os √números complexos construtı́veis formam um corpo F tal


que se α ∈ F então α ∈ F , ou seja os polinômios de grau 2 de F [X] são
redutı́veis. Em outras palavras F não admite extensões de grau 2.
Demonstração. Precisamos √ mostrar que dados α e β construtı́veis, α + β,
α − β, 1/α (quando α 6= 0), αβ e α são construtı́veis. Usando o fato que todo
número complexo tem a forma a + ib com a, b reais é fácil se reduzir ao caso em
que α e β são reais. Faremos o produto e a raı́z quadrada, os outros são deixados
por exercı́cio. 
Teorema 17. α ∈ F se e somente se existe uma “torre radical”, ou seja uma
sequência de corpos
Q = K0 < K1 < K2 < . . . < Km
tal que |Ki : Ki−1 | = 2 para todo i = 1, . . . , m, com a propriedade que α ∈ Km .
Em particular, sendo |Km : Q| = 2m , todo número complexo construtı́vel é
algébrico de grau sobre Q igual a uma potência de 2.
Demonstração. Observe que se existe uma tal série então cada Ki é obtido
adicionando a Ki−1 uma raı́z quadrada de um elemento de Ki−1 . Como a raı́z
70 2. TEORIA DE GALOIS

quadrada de um número construtı́vel é um número construtı́vel, deduzimos que


α é construtı́vel.
Reciprocamente suponha que α seja construtı́vel. Isso significa que α é o
comprimento de um segmento que pode ser obtido a partir de um ponto inicial
O (que pode ser a origem de uma referência cartesiana) fazendo interseções de
retas com retas, retas com circulos ou circulos com circulos. Como as retas são
graficos de equações polinomiais de grau 1 e os cı́rculos são graficos de equações
polinomiais de grau 2, deduzimos que todos os pontos obtidos nesse processo
tem como coordenadas soluções de equações polinomiais de grau 1 ou 2, logo
pertencem a um oportuno subcorpo de C em uma série como no enunciado. 
Teorema 18. α ∈ C é construtı́vel se e somente se o fecho de Galois M de
Q(α) sobre Q tem grau |M : Q| igual a uma potência de 2. Em outras palavras α
é construtı́vel se e somente se o grupo de Galois do polinômio minimal de α sobre
Q é um 2-grupo.
Demonstração. Seja M o fecho de Galois de Q(α), ou seja o corpo de
decomposição do polinômio minimal f (X) de α sobre Q, e seja G = G (M/Q).
Observe que M é gerado sobre Q pelos g(α) onde g ∈ G (as raı́zes de f (X)),
logo se α é construtı́vel então g(α) é construtı́vel para todo g ∈ G (basta aplicar
g a uma torre radical), logo existem torres radicais alcançando todos os corpos
Q(g(α)) com g ∈ G, e por consequência existe uma torre radical alcançando M .

Se G é um 2-grupo então usando que o centro de G não é trivial, por indução


conseguimos construir uma série
{1} = G0 < G1 < G2 < . . . < Gm = G
com Gi normal em G para todo i e Gi /Gi−1 de ordem 2 (contido no centro de
G/Gi−1 ). Tomando os subcorpos correspondentes obtemos uma torre radical cujo
último termo é M , logo contem α. 
Teorema 19. O n-agono regular é construtı́vel se e somente se ϕ(n) é uma
potência de 2.
Demonstração. Seja u um elemento de C de ordem multiplicativa igual a n.
É claro que o n-agono regular é construtı́vel se e somente se u é construtı́vel. Q(u)
é corpo de decomposição de X n − 1 sobre Q e vimos que G (Q(u)/Q) ∼ = U (Z/nZ)
tem ordem ϕ(n). O resultado segue. 
Por exemplo o 7-agono regular não é construtı́vel (sendo ϕ(7) = 6) mas o
17-agono regular é construtı́vel (sendo ϕ(17) = 16).
Teorema 20. Não é possı́vel quadrar o cı́rculo, duplicar o cubo e nem trisecar
o ângulo.
Demonstração. Quadrar um cı́rculo de lado 1 significa encontrar
um
√ quadrado de área igual à área do cı́rculo,√ou seja π, ou seja de lado
π. Tal quadrado não pode ser construı́do porque π não é algébrico (se fosse
13. O TEOREMA DE ABEL 71

algébrico seria raı́z de um polinômio não nulo f (X) logo π seria raı́z de f (X 2 ),
mas π é transcendente).
Duplicar um cubo de lado 1 significa construir um cubo de volume
o dobro do volume do cubo √ dado, ou seja 2. Isso não é possı́vel. De fato um
cubo de volume 2 tem lado 3 2 que não é construtı́vel porque tem grau 3 sobre
Q, e 3 não é uma potência de 2.
Trisecar um ângulo α significa, dado um ângul de amplitude α,
construir um ângulo de amplitude α/3. Isso em geral não é possı́vel. Para ver
isso observe primeiramente que construir um ângulo de amplitude α é equivalente
a construir cos(α) e sin(α) (interceptando com o cı́rculo unitário). A partir do
cı́rculo de centro a origem e raio unitário
√ pode se construir o ángulo de 60 graus
sendo cos(π/3) = 1/2 e sin(π/3) = 3/2, mas não é possı́vel construir o ángulo
de
√ 20 graus 3porque2 definido x = cos(π/9) e y = sin(π/9) temos (x + iy)3 = 1/2 +
i 3/2 daı́ x −3xy = 1/2 e usando y = 1−x2 obtemos x3 −3x(1−x2 )−1/2 = 0.
2

Segue que x é raı́z de 8X 3 − 6X − 1 que é irredutı́vel logo cos(π/9) tem grau 3


logo não é construtı́vel. 

Existem elementos de grau uma potência de 2 que não são construtı́veis, por
exemplo considere f (X) com grupo de Galois S4 e α uma raı́z de f (X). Sejam G o
grupo de Galois de f (X), L = Q(α) e H = L0 o subgrupo correspondente. Temos
que |G : H| = |L : Q| = 4 logo H é o estabilizador de um ponto e não existem
subgrupos entre H e G diferentes de H e G. Segue que os únicos subcorpos de
Q(α) são Q e Q(α), logo α não é construtı́vel.
Um exemplo especı́fico: considere f (X) = X 4 −4X+2, irredutı́vel pelo critério
de Eisenstein, e seja α uma raı́z de f (X). Mostraremos que α não é construtı́vel
exibindo um elemento de grau 3 no corpo de decomposição do polinômio minimal
de α sobre Q. Existem a, b, c, d reais tais que
f (X) = (X 2 + aX + b)(X 2 + cX + d).
Seja t = b+d. As contas mostram que t(t2 −8) = 16 logo t é raı́z de X 3 −8X −16,
irredutı́vel em Q[X]. Se α fosse construtı́vel então t seria construtı́vel, mas t tem
grau 3.

13. O teorema de Abel


Considere E = K(X1 , . . . , Xn ), o corpo das frações de D = K[X1 , . . . , Xn ]. Se
σ ∈ Sn existe um único homomorfismo σ : E → E que fixa os elementos de K e tal
que Xi 7→ Xσ(i) para todo i = 1, . . . , n. Considere G = {σ : σ ∈ Sn } ≤ Aut(E),
temos G ∼ = Sn . Seja S = {e ∈ E : σ(e) = e ∀σ ∈ G} o subcorpo de E
correspondente a G. S é dito o corpo das funções racionais simétricas em
X1 , . . . , Xn .

As funções simétricas elementares nas variáveis X1 , . . . , Xn são


m
!
X Y
s0 = 1, sm := Xik ∀1 ≤ m ≤ n.
1≤i1 <...<im ≤n k=1
72 2. TEORIA DE GALOIS

Por exemplo
n
X X
s1 = Xi , s2 = Xi Xj , ..., sn = X1 X2 · · · Xn .
i=1 i<j

É claro que K(s1 , . . . , sn ) está contido em S. Observe que E é corpo de decom-


posição para (veja: formulas de Viète)
n
X
g(Y ) = (−1)i si Y n−i = (Y − X1 )(Y − X2 ) · · · (Y − Xn )
i=0

sobre K(s1 , . . . , sn ) e G é o subgrupo correspondente a S. Segue que a extensão


E/S é de Galois com grupo de Galois G ∼ = Sn logo |E : S| = n! e sendo
|E : K(s1 , . . . , sn )| ≤ n! (o grupo de Galois de E/K(s1 , . . . , sn ) é isomorfo a
um subgrupo de Sn ) deduzimos K(s1 , . . . , sn ) = S. Se H é um qualquer grupo
finito então H ≤ Sn para algum n e usando a construção acima segue que E/H 0
é extensão de Galois com grupo de Galois H. Resumindo:
Teorema 21. K(s1 , . . . , sn ) = S. Ou seja toda função racional simétrica é
função racional das funções simétricas elementares.
Teorema 22. Todo grupo finito é grupo de Galois de uma extensão de Galois.
Por exemplo se n = 3 temos
s1 = X1 + X2 + X3 , s2 = X1 X2 + X1 X3 + X2 X3 , s3 = X1 X2 X3 ,

g(Y ) = (Y − X1 )(Y − X2 )(Y − X3 ) = Y 3 − s1 Y 2 + s2 Y − s3 .

Sejam K corpo e t1 , . . . , tn indeterminadas simultaneas sobre K (algebrica-


mente independentes). A equação geral de grau n é
n
X
f (X) = (−1)i ti X n−i = 0.
i=1

Tal equação é solúvel por radicais sobre K(t1 , . . . , tn )?


Teorema 23 (Abel). A equação geral de grau n sobre K(t1 , . . . , tn ) tem grupo
de Galois Sn , em particular é solúvel por radicais se e somente se n ≤ 4.
Demonstração. Vimos acima que definido
n
Y n
X
g(Y ) = (Y − Xi ) = (−1)i si X n−i
i=1 i=0

onde s0 = 1, K(X1 , . . . , Xn ) é corpo de decomposição de g(Y ) sobre K(s1 , . . . , sn )


com grupo de Galois Sn . Seja E um corpo de decomposição de f (X) sobre
K(t1 , . . . , tn ) e escrevemos f (X) = (X − r1 ) · · · (X − rn ).
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 73

Considere σ : K[t1 , . . . , tn ] → K[s1 , . . . , sn ] que fixa K e leva ti para si para


todo i = 1, . . . , n. Defina τ : K[X1 , . . . , Xn ] → K[r1 , . . . , rn ] que fixa K e leva Xi
para ri para todo i = 1, . . . , n. Pelas formulas de Viète temos, para m = 1, . . . , n,
X
tm = ri1 · · · rim .
1≤i1 <...<im ≤n

O homomorfismo τ ◦ σ fixa K[t1 , . . . , tn ].


Observe que σ é isomorfismo K[t1 , . . . , tn ] → K[s1 , . . . , sn ] (injetividade: se
h ∈ K[t1 , . . . , tn ] com σ(h) = 0 então h = τ (σ(h)) = 0), logo σ se extende a
um isomorfismo dos corpos de frações e este se extende a um isomorfismo σ 0 :
K(t1 , . . . , tn )[X] → K(s1 , . . . , sn )[X] que leva X para X. Como σ 0 leva f (X)
para g(X) temos um isomorfismo dos corpos de decomposição de f (X) e g(X)
que então têm o mesmo grupo de Galois, Sn . 

14. Resolução dos exercı́cios - Teoria de Galois


(1) Calcule o grau do corpo de decomposição M (contido em C) sobre Q
dos polinômios seguintes.

(a) X 2 , X 2 − 1, X 2 − 2, X 2 − 3, X 2 − 4.

Observe que se f (X) tem todas as raı́zes em Q então o corpo de


decomposição dele é Q, é o caso de X 2 , X 2 − 1√= (X√
− 1)(X +√1) e
X 2 −4 = (X−2)(X+2). Um c.d. de X 2 −2 é Q( 2, − 2) = Q( 2),
tem grau 2 sobre Q sendo X 2 − 2 irredutı́vel √ sobre√ Q (pelo
√ critério
de Eisenstein), e um c.d. de X 2 − 3 é Q( 3, − 3) = Q( 3), tem
grau 2 sobre Q sendo X 2 − 3 irredutı́vel sobre Q (pelo critério de
Eisenstein).

(b) X 3 − 1, X 3 − 4, X 3 − 8.

X 3 −1 = (X−1)(X 2 +X+1), um c.d. é Q(u) onde u = −1/2+i 3/2
é uma raiz de X 2 +X+1 (irredutı́vel porque não tem raı́zes inteiras).
Analogamente X√3 − 8 = (X − 2)(X 2 + 2X + 4), um c.d. é Q(u)
onde u = −1 + i 3 é uma raiz de X 2 + 2X + 4 (irredutı́vel porque
não tem raı́zes inteiras).

(c) X 3 + 1, X 3 + 8.

X 3 + 1 = (X + 1)(X 2 − X + 1), um c.d. é Q(u) onde u é uma raiz


de X 2 − X + 1, e X 3 + 8 = (X + 2)(X 2 − 2X + 4), um c.d. é Q(v)
onde v é uma raiz de X 2 − 2X + 4. O grau é 2 nos dois casos.

(d) X 4 − 2, X 4 − 16.
74 2. TEORIA DE GALOIS


Uma raiz de X 4 − 2 é α = 4 2, e as outras são iα, −α, −iα. Segue
que um corpo de decomposição é Q(α, i). Como |Q(α) : Q| = 4
(sendo X 4 − 2 irredutı́vel pelo critério de Eisenstein) e Q(α) ⊆ R,
e i 6∈ R, segue que |Q(α, i) : Q| = |Q(α, i) : Q(α)| · |Q(α) : Q| =
2 · 4 = 8.
X 4 − 16 = (X 2 − 4)(X 2 + 4) = (X − 2)(X + 2)(X 2 + 4), logo um
corpo de decomposição é Q(2i, −2i) = Q(i), tem grau 2 sobre Q.

(e) X 4 + 1, X 4 + 16.

4

As raı́zes de X √ 2, logo um corpo de decomposição
√ +1 são (±1±i)/
é M = Q(i, 2), e sendo Q( 2) real e i √ 6∈ R deduzimos que |M :
Q| = 4. As raı́zes de X 4 + 16 são (±1 ± i) 2 logo ele tem o mesmo
corpo de decomposição de X 4 + 1.

(f) X 4 − 6X 2 + 6.

Farei esse exercı́cio mais tarde no curso.

(g) (X 2 − 2)(X 2 − 3).

Os dois fatores X 2 − 2,√X 2 − 3 √são irredutı́veis pelo critério de


Eisenstein. Sejam a = 2, b = 3. O corpo de decomposição é
M = Q(a, b). Observe que b 6∈ Q(a), de fato se fosse b = ar + s
com r, s ∈ Q então 3 = b2 = 2r2 + s2 + 2ars que implica a =
(3 − 2r2 − s2 )/2rs ∈ Q, uma contradição. Segue que |M : Q(a)| = 2
logo |M : Q| = |M : Q(a)| · |Q(a) : Q| = 2 · 2 = 4.

(h) X 4 − 6X 2 − 3 (dica: observe que M 6⊆ R).

Seja f (X) = X 4 − 6X 2 − 3 (irredutı́vel pelo√critério de Eisenstein).



Resolvendo f (X) = p0 obtemos X 2 = 3 ± 12 = 3 ± 2 3. Sejam
p √ √
a = 3 + 2 3, b = 3 − 2 3. As raı́zes de f (X) são a, −a, b, −b,
logo um corpo de decomposição para f (X) sobre Q é M = Q(a, b).
Temos Q(a) ⊆ R mas b 6∈ R, logo b 6∈ Q(a). Sendo b raiz de
X 2 − b2 ∈ Q(a)[X], temos |M : Q(a)| ∈ {1, 2}, mas tal grau não é
1 sendo b 6∈ Q(a). Sendo |Q(a) : Q| = 4 obtemos |M : Q| = |M :
Q(a)| · |Q(a) : Q| = 2 · 4 = 8.

(i) X 3 − 3X + 1 (dica: se u é raiz, u2 − 2 é raiz?).


14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 75

Seja f (X) = X 3 − 3X + 1. Se f (u) = 0 então u3 = 3u − 1. Usando


essa relação calculamos
f (u2 − 2) = (u2 − 2)3 − 3(u2 − 2) + 1
= u6 − 6u4 + 12u2 − 8 − 3u2 + 6 + 1
= (3u − 1)2 − 6u(3u − 1) + 9u2 − 1
= 9u2 − 6u + 1 − 18u2 + 6u + 9u2 − 1 = 0.
Segue que u2 − 2 é raiz, logo (u2 − 2)2 − 2 = u4 − 4u2 + 2 =
u(3u − 1) − 4u2 + 2 = −u2 − u + 2 também é raiz. Segue que u,
u2 −2 e −u2 −u+2 são raı́zes distintas de f (X) (uma igualdade entre
duas delas daria uma equação polinomial para u de grau menor que
3, absurdo) logo Q(u) é um corpo de decomposição para f (X) sobre
Q, ele tem grau 3.

(2) Faça a lista dos elementos do grupo de Galois de um corpo de decom-


posição de X 3 − 2 sobre Q. A ação do grupo de Galois no conjunto das
raı́zes é transitiva?

Seja G o grupo de Galois de um corpo


√ de decomposição M = Q(α, t)
3
de f (X) = X − 2 sobre Q, onde α = 2, t = e2πi/3 . As raı́zes de f (X)
3

são α, tα, t2 α. Se g ∈ G temos que g(α) é uma raiz de f (X), logo temos
três possibilidades.
• g(α) = α. Neste caso g(tα) pode ser tα ou t2 α. No primeiro caso
tα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)α logo g(t) = t e g = 1. No segundo
caso t2 α = g(tα = g(t)g(α) = g(t)α logo g(t) = t2 .
• g(α) = tα. Neste caso g(tα) pode ser α ou t2 α. No primeiro caso
α = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)tα logo g(t) = t2 . No segundo caso
t2 α = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)tα logo g(t) = t.
• g(α) = t2 α. Neste caso g(tα) pode ser α ou tα. No primeiro caso
α = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)t2 α logo g(t) = t. No segundo caso
tα = g(tα) = g(t)g(α) = g(t)t2 α logo g(t) = t2 .
Isso nos dá 6 possibilidades. Como |G| = |M : Q| = 6, cada uma
dessas possibilidades determina um elemento de G.

(3) Seja M uma extensão de Q e seja g um isomorfismo de aneis M → M .


Mostre que g(x) = x para todo x ∈ Q.

Seja m um inteiro positivo. Observe que m = 1 + 1 + . . . + 1 e


g(1) = 1 (sendo g homomorfismo) logo g(m) = g(1 + 1 + . . . + 1) =
g(1) + g(1) + . . . + g(1) = mg(1) = m, e g(−m) = −g(m) = −m, e como
isso vale para qualquer inteiro positivo m, obtemos que g fixa todos os
inteiros. Escrevendo x ∈ Q como x = a/b com a e b números inteiros
obtemos então xb = a logo a = g(a) = g(xb) = g(x)g(b) = g(x)b e segue
que g(x) = a/b = x.
76 2. TEORIA DE GALOIS


(4) Determine G(Q( 3 2)/Q).

Seja α = 3 2 e seja G = G(Q(α)/Q). Seja f (X) = X 3 − 2. Observe
que se g ∈ G então g(α) ∈ Q(α) (sendo g um isomorfismo Q(α) → Q(α)),
e f (g(α)) = g(α)3 − 2 = g(α)3 − g(2) = g(α3 − 2) = g(0) = 0, logo
2
g(α) é raiz de
√ f (X). Mas as raı́zes de f (X) são α, αt e αt , onde
t = −1/2 + i 3/2 ∈ C − R. Sendo g(α) ∈ Q(α) ⊆ R obtemos g(α) = α.
Mas então g : Q(α) → Q(α) é um isomorfismo de aneis que fixa α e fixa
todos os racionais, logo g = 1. Isso mostra que G = {1}.

(5) Seja f (X) = X 3 − 3X + 1 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Sabemos pela lista anterior
que M = Q(u) onde u é uma raiz de f (X), e que u2 − 2 é uma outra
raiz de f (X). Pelo teorema de hoje existe σ ∈ G que leva u para u2 − 2.
Mostre que G = hui (grupo cı́clico de ordem 3).

Seja v = u2 − 2, como visto é uma raiz de f (X). Sendo u raiz de


f (X) temos f (u) = 0 ou seja u3 − 3u + 1 = 0, que pode ser escrito
u3 = 3u − 1. Usando essa relação calcularemos σ(v) e σ(σ(v)). Temos
σ(v) = σ(u2 − 2) = σ(u)2 − 2 = (u2 − 2)2 − 2 = u4 − 4u2 + 2
= u(3u − 1) − 4u2 + 2 = 3u2 − u − 4u2 + 2 = −u2 − u + 2,

σ(σ(v)) = σ(−u2 − u + 2) = −σ(u)2 − σ(u) + 2 = −(u2 − 2)2 − (u2 − 2) + 2


= −u4 + 4u2 − 4 − u2 + 4 = −u(3u − 1) + 3u2 = u.
Segue que σ como permutação das raı́zes u, v = u2 − 2 e w =
2
−u − u + 2 é o 3-cı́clo (uvw). Como σ é completamente determinado
pela sua ação no conjunto das raı́zes, obtemos que σ tem ordem 3. Como
o grupo de Galois G do corpo de decomposição Q(u) sobre Q tem ordem
|Q(u) : Q| = 3 deduzimos que G = hσi.

(6) Seja f (X) = X 4 − 5X 2 + 5 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Sejam
s √ s √
5+ 5 5− 5
a= , b= .
2 2
Vimos na aula anterior que as raı́zes de f (X) são a, −a, b, −b. Pelo
teorema de hoje existe um σ ∈ G que leva a para
√ b. Mostre que G √= hσi
(grupo cı́clico de ordem 4). [Dica:
√ calcule σ( 5) lembrando que 5=
2a2 − 5 e lembre-se que ab = 5. Deduza que σ(b) = −a.]
√ 2

Temos σ(
√ 5) = σ(2a = 2σ(a)2 − 5 = 2b2 − 5 = − 5, e
√ − 5) √
sendo ab = 5 temos − 5 = σ( 5) = σ(ab) = σ(a)σ(b) = bσ(b) ou
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 77


seja σ(b) = − 5/b = −a. Segue que σ(σ(b)) = σ(−a) = −σ(a) = −b
e σ(σ(σ(b))) = σ(−b) = −σ(b) = −(−a) = a. Ou seja σ é o 4-cı́clo
(a, b, −a, −b) e tem ordem 4. Mas sabemos que Q(a) é c.d. para f (X)
sobre Q, logo pelo teorema |G| = |Q(a) : Q| = 4 logo G = hσi.

(7) Seja f (X) = X 4 − 6X 2 − 3 ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de um


corpo de decomposição M de f (X) sobre Q. Mostre que G é isomorfo a
um 2-Sylow de S4 (veja a lista anterior).

Como visto na lista anterior |M : Q| = 8, mas sabemos que |G| =


|M : Q| e G age de maneira fiel no conjunto das 4 raı́zes de f (X), logo
G é isomorfo a um subgrupo de S4 de ordem 8, ou seja um 2-Sylow de
S4 (é um grupo diedral de ordem 8).

(8) Seja f (X) = X 4 − 3X 2 + 4 ∈ Q[X]. É irredutı́vel (não precisa mostrar


isso). Seja G o grupo de Galois de um corpo de decomposição M de
f (X) sobre Q.

• Mostre que se a ∈ M é raiz de f (X) então as raı́zes de f (X) são a,


−a, 2/a, −2/a e deduza que M = Q(a).

f (−a) = (−a)4 − 3(−a)2 + 4 = a4 − 3a3 + 4 = f (a) = 0 e


f (2/a) = 16/a4 − 3(4/a2 ) + 4 = (16 − 12a2 + 4a4 )/a4 = (16 − 12a2 +
4(3a2 −4))/a4 = 0. Segue que as raı́zes de f (X) são a, −a, 2/a, −2/a
(observe que duas quaisquer dessas raı́zes são distintas, por exemplo
se fosse 2/a = −a então teriamos a2 = −2, absurdo pois o polino-
mio minimal de a sobre Q tem grau 4). Segue que M = Q(a).

• Seja σ ∈ G que leva a para b = 2/a (existe pelo teorema de hoje).


Mostre que σ(b) = a (dica: calcule σ(b)2 e deduza que σ(b) = ±a,
agora no caso σ(b) = −a calcule σ(ab)).

σ(b)2 = σ(b2 ) = σ(4/a2 ) = 4/σ(a)2 = 4/b2 = a2 logo σ(b) = ±a.


Se fosse σ(b) = −a então sendo ab = 2 teriamos
2 = σ(2) = σ(ab) = σ(a)σ(b) = b(−a) = −ab = −2,
isso contradiz o fato que σ é um Q-automorfismo (fixa os elementos
de Q). Logo σ(b) = a.

• Mostre que G é isomorfo ao grupo de Klein (o 2-Sylow de A4 ).

Seja a ∈ M uma raiz qualquer de f (X). Como observado, as raı́zes


de f (X) são a, −a, 2/a, −2/a. Segue que se σ ∈ G fixa a então
σ = 1. Se σ(a) = −a então σ(−a) = −(−a) = a e σ(2/a) = −2/a,
σ(−2/a) = 2/a, segue que σ é (12)(34) (onde a corresponde a 1, −a
78 2. TEORIA DE GALOIS

a 2, 2/a a 3 e −2/a a 4). Se σ(a) = 2/a então como observado acima


σ(2/a) = a, σ(−a) = −σ(a) = −2/a e σ(−2/a) = −σ(2/a) =
−a, segue que σ é (13)(24). Se σ(a) = −2/a então σ(−2/a) =
−2/σ(a) = −2/(−2/a) = a, σ(2/a) = 2/σ(a) = 2/(−2/a) = −a,
σ(−a) = −σ(a) = 2/a, segue que σ é (14)(23). Segue que os
elementos de G correspondem, em S4 , exatamente aos elementos 1,
(12)(34), (13)(24), (14)(23), logo G é isomorfo ao grupo de Klein.

(9) Seja f (X) = (X 2 − 2)(X 2 − 3) ∈ Q[X]. Seja G o grupo de Galois de


um corpo de√decomposição M de f (X) sobre Q. Seja√ A o grupo de
Galois de Q( 2)/Q e seja B o grupo de Galois de Q( 3)/Q. Mostre
que G ∼= A × B.
√ √
Sejam a = 2, b = 3. Sejam A = {g ∈ G : g(b) = b}, B =
{g ∈ G : g(a) = a}. Observe que A ∩ B = {1}. Além disso |G| =
|Q(a, b) : Q| = 4 logo G é abeliano (todo grupo de
à ordem 4Î abeliano)
logo A E G, B E G. O elemento√g ∈ G que√troca 2 com − 2 pertence
a B, e o elemento que troca 3 com − 3 pertence a A. Segue que
|A| ≥ 2, |B| ≥ 2 logo |AB| ≥ 4, segue√que AB = G, |A| = |B| = 2 e A é
√ de Galois de G(Q( 2)/Q), B é isomorfo ao grupo de
isomorfo ao grupo
Galois de G(Q( 3)/Q). Deduzimos que G ∼ = A × B.

(10) Seja K = Q. Dado o polinômio f (X) ∈ K[X] seja M o corpo de


decomposição de f (X) sobre K contido em C e seja G = G(M/K) (o
grupo de Galois de f (X)). Calcule i : [M/K] → L (G) e j : L (G) →
[M/K] (as correspondências de Galois) nos casos seguintes (cf. as listas
anteriores):

• X 2 + 1. O corpo de decomposição é M = Q(i), tem grau 2 sobre


Q, logo |G| = 2 e escrevendo G = {1, σ} temos σ(i) = −i (porque
raı́zes de X 2 + 1 são levadas em raı́zes de X 2 + 1). Segue que
[M/K] = {Q, Q(i)} e L (G) = {{1}, G}. Temos Q0 = G, G0 = Q,
Q(i)0 = {1} (isso é pelas propriedades gerais) e G0 = {a + ib ∈
Q(i) : σ(a + ib) = a + ib} = Q. De fato σ(a + ib) = a + ib significa
a + ib = a − ib ou seja b = 0. A equação σ(a + ib) = a + ib é
equivalente a −ib = ib ou seja b = 0 logo G0 = Q. Os reticulados
[M/K] e L (G) são os seguintes, onde as setas são inclusões e os
números indicam os graus a esquerda, os indices a direita.

MO {1}
2 2

Q G
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 79

• X 3 − 1. A fatoração é√X 3 − 1 = (X − 1)(X 2 + X + 1). Seja


u = e2πi/3 = −1/2 + i 3/2. u é raiz de X 2 + X + 1, a outra
raiz é −1 − u. Segue que M = Q(u) é um corpo de decomposição
para X 3 − 1, tem grau 2 sobre Q. Temos [M/K] = {M, K} e
|G| = 2, escrevendo G = {1, σ} temos σ(u) = −1 − u (porque raı́zes
de X 2 + X + 1 são levadas em raı́zes de X 2 + X + 1). Sabemos
que Q0 = G, Q(u)0 = {1} e {1}0 = Q(u). Temos G0 = {a + bu ∈
Q(u) : σ(a + bu) = a + bu} = Q pois σ(a + bu) = a + bu significa
b(−1 − u) = bu ou seja b = 0. Os reticulados [M/K] e L (G) são
os seguintes, onde as setas são inclusões e os números indicam os
graus a esquerda, os indices a direita.

MO {1}
2 2

Q G
√ √
• (X 2 − 2)(X 2 − 3). Um corpo de decomposição
√ é M =√ Q( 2, 3),
tem grau 4√sobre Q logo |G| = 4. Sejam u = 2, v = 3, e observe
que uv = 6 tem grau 2 também. Se g ∈ G não é a identidade
então g(u) 6= u ou g(v) 6= v. No primeiro caso g(u) = −u (sendo
g(u) uma raiz de X 2 − 2) e temos duas possibilidades: g(v) = v
ou g(v) = −v. No segundo caso g(v) = −v (sendo g(v) uma raiz
de X 2 − 3) e temos duas possibilidades: g(u) = u ou g(u) = −u.
Isso nos dá quatro possibilidades, e cada uma delas ocorre sendo
|G| = 4. Podemos resumir tudo na tabela seguinte.
Elemento Imagem de u Imagem de v Estrutura
g1 u v Identidade
g2 u −v 2-cı́clo (v, −v)
g3 −u v 2-cı́clo (u, −u)
g4 −u −v (u, −u)(v, −v)
Observe que g1 = 1 e g2 g3 = g4 . Escrevendo então G = {1, g2 , g3 , g4 }
os subgrupos de G são {1}, G, hg2 i, hg3 i, hg4 i. Temos {1}0 = M ,
M 0 = {1}, Q0 = G como sempre. Um elemento de M tem a
forma m = a + bu + cv + duv. Segue que g2 (m) = m significa
a + bu − cv − duv = a + bu + cv + duv ou seja −cv − duv = cv + duv
ou seja cv + duv = 0 ou seja c + du = 0 ou seja c = d = 0 e obtemos
hg2 i0 = {a+bu : a, b ∈ Q} = Q(u). Analogamente hg3 i0 = Q(v). A
igualdade g4 (m) = m significa a + bu + cv + duv = a − bu − cv + duv
ou seja bu + cv = 0 ou seja b = c = 0 logo hg4 i0 = {a + duv : a, d ∈
Q} = Q(uv). Observe que G visto como grupo de permutação no
conjunto das raı́zes {u, v, −u, −v} não é transitivo, as órbitas são
{u, −u} e {v, −v}. Os reticulados [M/K] e L (G) são os seguin-
tes, onde as setas são inclusões e os números indicam os graus a
80 2. TEORIA DE GALOIS

esquerda, os indices a direita.

; MO dHH {1}
ww HH DD
2 www HH z zz DD 2
w H z DD
www 2
2 HH zzz 2 2
DD
z}  !
Q(u)
cFF
Q(v)
O
Q(uv) hg2 i hg3 i hg4 i
FF vv; EE
EE2 yy
FF 2 2 vv y
vv EE y
2 FF EE  yyy 2
2
F vvv " |y
Q G

• X 4 +1. Se trata
√ de um polinômio irredutı́vel. Sejam r = (1+i)/ 2,
s = (1 − i)/ 2. As raı́zes de f (X) = X 4 + 1 são r, s, −r, −s logo
um corpo de decomposição é M = Q(r, s). Observe que rs = 1,
logo s = 1/r e M = Q(r) tem grau 4 sobre Q. Segue pela teoria
que |G| = 4. Se g ∈ G então g(r) ∈ {r, s, −r, −s} (porque raı́zes
são levadas em raı́zes) e o valor de g(r) determina o valor de g(s) =
g(1/r) = 1/g(r). Sendo |G| = 4 cada possibilidade ocorre, logo
temos G = {g1 , g2 , g3 , g4 } onde
Elemento Imagem de r Imagem de s Estrutura
g1 r s Identidade
g2 s r (r, s)(−r, −s)
g3 −r −s (r, −r)(s, −s)
g4 −s −r (r, −s)(s, −r)
Observe que g1 = 1 e g2 g3 = g4 . Escrevendo então G = {1, g2 , g3 , g4 }
os subgrupos de G são {1}, G, hg2 i, hg3 i, hg4 i. Temos {1}0 = M ,
M 0 = {1}, Q0 = G como sempre. Um elemento de M tem a forma
m = a+br+cr2 +dr3 com a, b, c, d ∈ Q. A igualdade g2 (m) = m sig-
nifica, lembrando que r4 = −1, que br + cr2 + dr3 = −br3 − cr2 − d4
ou seja c = 0 e b + d = 0. Segue que hg2 i0 = {a + b(r − r3 ) : a, b ∈
Q} = Q(r − r3 ). Analogamente hg3 i0 = Q(r2 ) e hg4 i0 = Q(r + √ r3 ).
3 2 3 2 3
Note que (r − r ) √ = 2 e (r − r ) = −2, logo Q(r − r ) = Q( 2)
e Q(r + r3 ) = Q(i 2). Sendo r2 = i, temos Q(r2 ) = Q(i). Ob-
serve que G visto como grupo de permutação no conjunto das raı́zes
{r, s, −r, −s} é transitivo. Os reticulados [M/K] e L (G) são os se-
guintes, onde as setas são inclusões e os números indicam os graus
a esquerda, os indices a direita.

; MO dHH {1}
vv HH z DD
2 vvv HH z DD 2
v H zzz DD
vv 2 HH z DD
2 2
√ v √ }zz 2
 !
Q( 2) Q(i) Q(i 2) hg2 i hg3 i hg4 i
cGG O ;v EE y
GG 2 vvv EE2 y
GG 2
GG v EE yy
v EE  yyy 2
2
2 GG vv
vv " |y
Q G
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 81

• X 3 − 3X + 1. Sabemos que chamada de u uma raiz de f (X) =


X 3 −3X +1, o corpo de decomposição de f (X) é M = Q(u) as raı́zes
de f (X) sendo u, v = u2 −2 e w = −u2 −u+2. Pela teoria sabemos
que |G| = 3, e escrevendo G = {1, σ, σ 2 } podemos supor σ(u) = v,
daı́ σ 2 (u) = w e σ corresponde ao 3-cı́clo (u, v, w). Como |M : K| =
|G| = 3, neste caso [M/K] = {M, K}, L (G) = {{1}, G}. Observe
que a igualdade σ(a + bu + cu2 ) = a + bu + cu2 (onde a, b, c ∈ Q)
significa bv + cv 2 = bu + cu2 ou seja b(u2 − 2) + c(u2 − 2)2 = bu + cu2
ou seja bu2 −2b−cu2 −cu+4c = bu+cu2 e isso implica −2b+4c = 0,
b − c = c, −c = b daı́ b = c = 0 e G0 = Q. Os reticulados [M/K]
e L (G) são os seguintes, onde as setas são inclusões e os números
indicam os graus a esquerda, os indices a direita.
MO {1}
3 3

Q G

• X 4 − 5X 2 + 5. Sejam
s √ s √
5+ 5 5− 5
r= , s= .
2 2
Vimos que M = Q(r) é o c.d. de f (X) = X 4 − 5X 2 + 5 e G = hσi é
cı́clico de ordem 4, σ corresponde ao 4-cı́clo (r, s, −r, −s). Uma base
de M sobre Q é {1, r, s, rs} e σ 2 (a+br +cs+drs) = a+br +cs+drs
é equivalente a −br − cs √ + drs = br + cs + drs ou seja b = c = 0,
logo hσ 2 i = Q(rs) = Q( 5). Os reticulados [M/K] e L (G) são
os seguintes, onde as setas são inclusões e os números indicam os
graus a esquerda, os indices a direita.
MO {1}
2 2
√ 
Q( 5)
O hσ 2 i
2 2

Q G
q √ q √
• f (X) = X 4 − 3X 2 + 4. Sejam α = 3+ 2 −7 , β = 3− 2 −7 . αβ = 2
logo β = 2/α e M = Q(α, β) = Q(α) é o corpo de decomposição
de f (X) sobre Q. Segue que |G| = |M : Q| = 4. Existe g ∈ G
que leva α para β. Temos g(β) = 2/β = α e g = (α, β)(−α, −β).
Existe k ∈ G que leva α para −β. Temos k(−β) = 2β = α e
k = (α, −β)(−α, β). Existe h ∈ G que leva α para −α. Temos
82 2. TEORIA DE GALOIS

k(β) = −2/α = −β e k = (α, −α)(β, −β). Uma conta mostra que


α−1 = − 14 (α3 − 3α), α−2 = 14 (3 − α2 ), α−3 = 16
1
α(−3α2 + 5).
Observe que (α − α) = −4 e (α − 5α) =√28. Segue que hgi0 =
3 2 3 2

Q(α√3
− 5α) = Q(i), hki0 = Q(α3 − α) = Q( 7) e hhi0 = Q(α2 ) =
Q(i 7).

G Q LL
{{= O aCCC r rr LLL
2 {{ CC rr r LL2L
{{ 2 C rr LLL
2 CC rr 2
2
{{ r
y  &
√ √
hgi hki hhi Q( 7) Q(i 7)
`BB O |= LLL
Q(i)
r
BB |
BB 2 2 || LLL2
r rrr
2 BB || LLL r
L%  xrrrr 2
2
||
{1} M = Q(α)

(11) Seja M/K uma extensão de grau 2 e seja G = G(M/K). Mostre que
K é fechado, ou seja G0 = K. [Dica: seja u ∈ M − K, mostre que
M = K(u), deduza que M é um corpo de decomposição do polinômio
minimal de u sobre K, deduza que |G| = 2.]

Como u 6∈ K temos |K(u) : K| > 1 e sendo |M : K| = 2 temos


2 = |M : K| = |M : K(u)| · |K(u) : K| logo M = K(u) (sendo K(u) 6=
K). Seja f (X) = X 2 + bX + c o polinômio minimal de u sobre K. A
soma das raı́zes de f (X) é −b logo a outra raiz de f (X) é −b − u e
f (X) = (X − u)(X + b + u). Segue que um corpo de decomposição é
K(u, −b − u) = K(u) = M e pela teoria sabemos então que |G| = |M :
K| = 2. Podemos escrever G = {1, σ}. Segue que σ(u) = −b−u (porque
raı́zes são levadas em raı́zes). Um elemento generico de M é do tipo ru+s
onde r, s ∈ Q logo K 00 = G0 = {ru + s ∈ M : σ(ru + s) = ru + s} = K,
de fato σ(ru + s) = ru + s significa ru = r(−b − u) ou seja r = 0 (sendo
b e u linearmente independentes sobre Q). Deduzimos que K 00 = K ou
seja K é fechado.

(12) Sejam α = 3 2, t = e2πi/3 , K = Q, M = Q(α, t) (corpo de decomposição
de X 3 − 2 sobre Q). Seja G = G(M/K). Quais são os subcorpos L de
M tais que g(`) ∈ L para todo ` ∈ L e para todo g ∈ G?

Usaremos a notação na tabela do arquivo da aula teórica. Temos


G = {1, g2 , g3 , g4 , g5 , g6 }. Os subcorpos de M são Q = G0 , Q(α) = hg2 i0 ,
Q(αt) = hg6 i0 , Q(αt2 ) = hg4 i0 , Q(t) = hg3 i0 , M = {1}0 . Dado um
subcorpo L de M , seja (∗) a propriedade “g(`) ∈ L para todo ` ∈ L
e para todo g ∈ G”. Obviamente os subcorpos M e Q verificam (∗).
Q(α) não verifica (∗) sendo g3 (α) = αt 6∈ Q(α). Q(αt) não verifica (∗)
sendo g3 (αt) = αt2 6∈ Q(αt). Q(αt2 ) não verifica (∗) sendo g3 (αt2 ) =
α 6∈ Q(αt2 ). Por outro lado Q(t) verifica (∗) porque gi (t) ∈ {t, t2 }, logo
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 83

gi (t) ∈ Q(t), para todo i = 1, . . . , 6. Resumindo, os únicos subcorpos


de M que verificam (∗) são Q, Q(t) e M (observe que os subgrupos
correspondentes são exatamente os subgrupos normais de G).

(13) Descreva as correspondências de Galois para a extensão M/Q onde M


é o corpo de decomposição de f (X) = X 4 − X 3 − 2X + 2 contido em C.

Observe que f (X) = (X − 1)(X 3 − 2). Logo a correspondência é a


mesma de X 3 − 2 (onde é subentendido que cada elemento do grupo de
Galois fixa a raiz racional 1).

(14) Descreva as correspondências de Galois para a extensão M/Q onde M


é o corpo de decomposição de f (X) = X 4 + 5X 2 + 5 contido em C.
q √ q √
−5+ 5 −5− 5
Sejam α = 2 , β = 2 . As raı́zes de f (X) são α,

−α, β, −β. Temos αβ = 5 = 2α2 + 5 logo β = (2α2 + 5)/α ∈
Q(α) logo M = Q(α) é um corpo de decomposição
√ para f (X) sobre
√ Q.
Existe g ∈√G que leva α para β. Temos g( 5) = 2β 2 + 5 = − 5 logo
g(β) = − 5/β = −α e g(−α) = −β, g(−β) = α. Segue que g é o
β, −α, −β) e sendo |G| = 4 obtemos G = hgi. É claro que
4-cı́clo (α,√
hg 2 i0 = Q( 5).

G = hgi Q
O
2 2


hg 2 i Q( 5)
O
2 2

{1} M = Q(α)

(15) Descreva as correspondências de Galois para a extensão M/Q onde M


é o corpo de decomposição de f (X) = X 4 − X 2 + 1 contido em C.

Seja u = ei2π/12 , as raı́zes de f (X) são u, u5 , u7 , u11 logo M =


Q(u) é um corpo de decomposição para f (X) sobre Q. Existe g ∈ G
que leva u para u5 , segue que g 2 (u) = u25 = u e g(u7 ) = u35 = u11 ,
g = (u, u5 )(u7 , u11 ). Existe k ∈ G que leva u para u7 , segue que k 2 (u) =
u49 = u e k(u5 ) = u35 = u11 logo k = (u, u7 )(u5 , u11 ). Existe h ∈ G
que leva u para u11 , segue que h(u5 ) = u55 = u7 e h = (u, u11 )(u5 , u7 ).
Como |G| = |M : Q| = 4 obtemos G = {1, g, k, h}. Vamos calcular hgi0 .
Um elemento de M tem a forma t = a + bu + cu2 + du3 , e g(t) = t
significa a + bu5 + cu10 + du3 = a + bu(u2 − 1) − c(u2 − 1) + du3 =
a + c − bu − cu2 + (b + d)u3 logo b = c = 0. Segue que t = a + du3 logo
84 2. TEORIA DE GALOIS

hgi0 = Q(u3 ).

G Q OO
{{= O aCCC rrr OOO
2 {{ CC r rr OOO2
{{ 2 C rr OOO
2 CC r OO'
2
{{ yrr 2

hgi
`BB
hki
O
hhi 3
Q(u ) Q(u )2
Q(u + u−1 )
BB ||= KKK pp
BB 2 2 || KKK2
pppp
2 BB || KKK 2 pp
|| K%  wppp 2
{1} M = Q(u)

(16) Descreva as correspondências de Galois para a extensão M/Q onde M


é o corpo de decomposição de f (X) = X 4 − 2 contido em C. f (X) tem
grupo de Galois D8 (o grupo diedral de ordem 8). G = D8 = ha, bi onde
a = (13) e b = (12)(34). Observe que ab = (1234) tem ordem 4. Os
subgrupos normais de G são {1}, hababi = Z(G), ha, babi, habi, hb, abai,
G. O quociente G/Z(G) é isomorfo a C2 × C2 . As classes de conjugação
de G são {1}, {abab}, {ab, ba}, {a, bab}, {aba, b}. Os subgrupos de G
são os seguintes.

ll6 GO hRRRRR
2llll
lll RRR
l RRR
ll 2 RRR
lll 2 R

ha, babi = C2 × C2 ∼
habi = C4 hb, abai ∼ = C2N× C2
p pp7 O hQQQ
Q
O
mmm6 O g NN
NNN
2 pp QQ Q 2 mm m
ppp 2 QQQ 2 m mm 2 NNN
p Q QQ m NNN
ppp mmm
2 2

hai kWWWWW hbabi hQ hababi


mm6
habai ggg3 hbi
WWWWW
WWWWW
QQQ
QQQ
O
m mm gg gg ggggg
WWWWW Q
WWW2WWQQQQQ 2 m2 mm g2gggg
2 WWWWWQQ mmmmgmgggggggg
W gmmgggg
{1}

Observe que se g ∈ G então g(α) ∈ {α, iα, −α, −iα} e g(i) ∈ {i, −i}.
Como g(α) e g(i) determinam unicamente g, e |G| = 8, cada possibi-
lidade ocorre. Vamos identificar α com 1, iα com 2, −α com 3 e −iα
com 4. Então G é gerado por a = (13) e b = (12)(34). Como exemplo
vamos calcular habai0 = {t ∈ Q(α, i) : aba(t) = t}. Podemos escrever
t ∈ Q(α, i) como
c1 + c2 α + c3 α2 + c4 α3 + c5 i + c6 αi + c7 α2 i + c8 α3 i
Sendo aba = (14)(23) = (α, −iα)(iα, −α), aba(i) = aba(αiα−1 ) =
−iαα−1 = −i, segue que aba(t) é igual a
c1 − c2 iα − c3 α2 + c4 (−iα3 ) + c5 (−i) + c6 (−α) + c7 α2 i + c8 (−α3 )
logo c2 = −c6 , c3 = 0, c4 = −c8 , c5 = 0. Segue que t = c1 + c2 α + c4 α3 −
c2 αi + c7 α2 i − c4 α3 i ou seja t = c1 + c2 (α − αi) + c4 (α3 − α3 i) + c7 α2 i.
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 85

Segue que habai0 = Q(α(1 − i), α3 (1 − i), α2 i) = Q(α(1 − i)). Da mesma


forma é possı́vel calcular todos os subcorpos a partir dos subgrupos.

t Q NNNN
ttt NNN 2
ttt NNN
t 2
NN&
ytt 2 
2
Q(α ) Q(i) Q(iα2 )
v II qq OOO
vv III2 qq OOO2
v I q OOO
vvv2 2 II
I
2
q qq2 2
OO'
{vv  $  xq q 
2
Q(iα) TT Q(α) Q(α , i) Q((1 − i)α) Q((1 + i)α)
TTTT J qq gggg
TTTT2 JJJJ2 qq ggg
TTTT JJ qq gggg
TTTTJJ$  xqqqqqg2ggggggg 2
2
) sggg
Q(α, i)

(17) (Curiosidade) Como visto X 3 − 2 tem grupo de Galois S3 e X 3 − 3X + 1


tem grupo de Galois A3 . Usando um programa (por exemplo Wolfra-
mAlpha, disponı́vel na internet) compare as fatorações de X 3 −2 módulo
os primos p ≤ 50 com as fatorações de X 3 − 3X + 1 módulo os primos
p ≤ 50. Você perceberá que existe um tipo de fatoração (módulo os pri-
mos) muito frequente para X 3 −2 que não ocorre para X 3 −3X +1. Usar
WolframAlpha é muito fácil, por exemplo para fatorar X 3 − 2 módulo 5
basta escrever
factorize x^3-2 modulo 5

p X3 − 2 X 3 − 3X + 1
2 X3 X3 + X + 1
3 (X + 1)3 (X + 1)3
5 (X + 2)(X 2 + 3X + 4) 3
X + 2X + 1
7 X3 + 5 X 3 + 4X + 1
11 (X + 4)(X 2 + 7X + 5) X 3 + 8X + 1
13 X 3 + 11 X 3 + 10X + 1
17 (X + 9)(X 2 + 8X + 13) (X + 3)(X + 4)(X + 10)
19 X 3 + 17 (X + 10)(X + 12)(X + 16)
23 (X + 7)(X 2 + 16X + 3) X 3 + 20X + 1
29 (X + 3)(X 2 + 26X + 9) X 3 + 26X + 1
31 (X + 11)(X + 24)(X + 27) X 3 + 28X + 1
37 X 3 + 35 (X + 14)(X + 28)(X + 32)
41 (X + 36)(X 2 + 5X + 25) X 3 + 38X + 1
43 (X + 9)(X + 11)(X + 23) X 3 + 40X + 1
47 (X + 26)(X 2 + 21X + 18) X 3 + 44X + 1
(18) Descreva as correspondências de Galois sobre Q para os polinômios
X 4 − 1, X 5 − 1, X 6 − 1, X 7 − 1, X 8 − 1.
86 2. TEORIA DE GALOIS

Pode usar o fato que o grupo de Galois de X n − 1 sobre Q é isomorfo


a U (Z/nZ). Dada uma raı́z n-esima u de 1 de ordem multiplicativa n,
cada elemento g ∈ G é identificado pela classe m módulo n, coprima com
n, tal que g(u) = um . Verifique que todos os subcorpos são estáveis.

• Seja f (X) = X 4 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.


G ∼= U (Z/4Z) = {1, 3} é cı́clico gerado por 3. Sendo as raı́zes
1, −1, i, −i, um c.d. sobre Q é M = Q(i), que tem grau 2 sobre Q,
e os subcorpos são Q e M . M 0 = {1} e Q0 = G.

• Seja f (X) = X 5 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.


G ∼= U (Z/5Z) = {1, 2, 3, 4} é cı́clico gerado por 2. A fatoração
de f (X) = X 5 − 1 é (X − 1)(X 4 + X 3 + X 2 + X + 1). Seja
u = ei2π/5 , as raı́zes de f (X) são 1, u, u2 , u3 , u4 logo um c.d. sobre
Q é M = Q(u), tem grau 4 sobre Q. Como G é cı́clico tem três
subcorpos, o único não trivial corresponde a h4i ≤ G. Seja L = h4i0 ,
vamos descrever L. Seja g ∈ G tal que g(u) = u4 , então hgi0
consiste dos m = a + bu + cu2 + du3 tais que g(m) = m, ou seja
a + b(−u3 − u2 − u − 1) + cu3 + du2 = a + bu + cu2 + du3 . Segue
a − b = a, c − b = d, d − b = c, −b = b ou seja b = 0 e c = d, segue
que m = a + c(u2 + u3 ) e L = hgi0 = Q(u2 + u3 ). Seja α = u2 + u3 ,
sabemos que α tem grau 2 (porque o subgrupo correspondente hgi
tem ı́ndice 2), e α2 = u4 + u6 + 2 = −1 − u − u2 −√ u3 + u + 2 = 1 − α
2
logo α + α − 1√= 0 e deduzimos α = (−1 ± 5)/2, segue que
L = Q(α) = Q( 5). Para mostrar que L é estável basta calcular
h(u2 + u3 ) onde h(u) = u2 e mostrar que h(u2 + u3 ) ∈ L. Temos
h(u2 ) = u4 = −u3 − u2 − u − 1 e h(u3 ) = u6 = u logo h(u2 + u3 ) =
−u3 − u2 − 1 ∈ L.

• Seja f (X) = X 6 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.


G ∼ = U (Z/6Z) = {1, 5} é cı́clico gerado por 5. A fatoração de
f (X) = X 6 − 1 é (X − 1)(X + 1)(X 2 + X + 1)(X 2 − X + 1) e
u = ei2π/6 é raı́z de X 2 − X + 1. Sendo |G| = 2 os únicos subcorpos
são M e Q e M 0 = {1}, Q0 = G.

• Seja f (X) = X 7 − 1 = (X − 1)(X 6 + X 5 + X 4 + X 3 + X 2 + X + 1) e


seja G o seu grupo de Galois sobre Q. Seja u = ei2π/7 e M = Q(u)
o corpo de decomposição de f (X) sobre Q. Sabemos que G ∼ =
U (Z/7Z) = {1, 2, 3, 4, 5, 6} é cı́clico gerado por 3, em particular
|Q(u) : Q| = |M : Q| = |G| = 6, logo o polinômio minimal de u
sobre Q tem grau 6. Sendo u raiz de X 6 + X 5 + X 4 + X 3 + X 2 +
X + 1, tal polinômio é o polinômio minimal de u sobre Q. Temos
4 subcorpos porque os subgrupos de G são {1}, h2i, h6i e G. Seja
m = a + bu + cu2 + du3 + eu4 + lu5 , e sejam g, h determinados
por serem tais que g(u) = u2 e h(u) = u6 . Para encontrar hgi0 e
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 87

hhi0 precisamos resolver as equações g(m) = m e h(m) = m (veja a


definição de H 0 quando H é um subgrupo).

Temos u7 = 1 logo g(m) = a + bg(u) + cg(u)2 + dg(u)3 + eg(u)4 +


lg(u)5 = a + bu2 + cu4 + du6 + eu + lu3 e sendo u6 = −1 − u − u2 −
u3 − u4 − u5 temos
g(m) = a − d + (b − d)u2 + (c − d)u4 − du5 + (e − d)u + (l − d)u3 .
Segue que g(m) = m se e somente se a − d = a, b − d = c, c − d = e,
−d = l, e − d = b, l − d = d, ou seja d = 0, b = c = e, l = 0 e
m = a + b(u + u2 + u4 ), segue hgi0 = Q(u + u2 + u4 )

Temos h(m) = a + bh(u) + ch(u)2 + dh(u)3 + eh(u)4 + lh(u)5 =


a+bu6 +cu5 +du4 +eu3 +lu2 e sendo u6 = −1−u−u2 −u3 −u4 −u5
temos
h(m) = a − b − bu + (c − b)u5 + (d − b)u4 + (e − b)u3 + (l − b)u2 .
Segue que h(m) = m se e somente se a − b = a, b = −b, c − b = l,
d − b = e, e − b = d, l − b = c ou seja b = 0, c = l, d = e, segue que
m = a + c(u2 + u5 ) + d(u3 + u4 ) logo hhi0 = Q(u2 + u5 , u3 + u4 ) =
Q(u2 + u5 ) (sendo (u2 + u5 )2 = u4 + u3 + 2).

Segue que os subcorpos de Q(u) são Q, Q(u + u2 + u4 ), Q(u2 + u5 ) e


Q(u). Para mostrar que são estáveis basta mostrar que definido k ∈
G o elemento tal que k(u) = u3 temos k(u+u2 +u4 ) ∈ Q(u+u2 +u4 )
e k(u2 + u5 ) ∈ Q(u2 + u5 ) (por definição de subcorpo estável, sendo
k um gerador do grupo cı́clico G).

k(u + u2 + u4 ) = u3 + u6 + u12
= u3 − 1 − u − u2 − u3 − u4 − u5 + u5
= −1 − u − u2 − u4 ∈ Q(u + u2 + u4 ),

k(u2 + u5 ) = u6 + u15 = −1 − u − u2 − u3 − u4 − u5 + u
= −1 − u2 − u3 − u4 − u5 ∈ Q(u2 + u5 )
sendo u3 + u4 = (u2 + u5 )2 − 2.

Observe que α = u+u2 +u4 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupo


correspondente a Q(α) é hgi, tem ı́ndice 2), vamos procurar uma
expressão mais simples para α. Temos α2 = u2 + u4 + u + √ 2u3 +
5 6 2
2u + 2u = α − 2 − 2α logo α +√α + 2 = 0, segue α = (−1 ± i 7)/2
e por consequência Q(α) = Q(i 7).
Observe que β = u2 + u5 tem grau 3 sobre Q (porque o subgrupo
correspondente a Q(β) é hhi, tem ı́ndice 3), vamos procurar uma
88 2. TEORIA DE GALOIS

expressão mais simples para β. Usando u7 = 1 e u6 = −1 − u −


u2 − u3 − u4 − u5 obtemos
β 3 = (u2 + u5 )3 = u6 + 3u9 + 3u12 + u15
= −1 − u − u2 − u3 − u4 − u5 + 3u2 + 3u5 + u
= −1 + 2u2 − u3 − u4 + 2u5
= −1 + 2β − (β 2 − 2) = −β 2 + 2β + 1
logo β 3 + β 2 − 2β − 1 = 0. A partir dessa equação não é possı́vel
deduzir uma expressão mais simples para β.

O diagrama dos subcorpos de M e dos subgrupos de G é o seguinte.


M {1}
zz< bDDD | BB
3 zz DD || BB 2
zz D |
|3 BB
2 DD | BB
zz ~|| !
Q(α)
aDD
Q(β) hgi hhi
DD zz= CC
CC2 {
D 3 z
z CC {{
2 DDD zz CC {{{3
zz ! {} {
Q G

• Seja f (X) = X 8 − 1 e seja G o seu grupo de Galois sobre Q.


G ∼= U (Z/8Z) = {1, 3, 5, 7} não é cı́clico, é isomorfo ao grupo de
Klein.

A fatoração de f (X) é (X − 1)(X + 1)(X 2 + 1)(X 4 + 1), e dada


uma raı́z u de X 4 + 1, as raı́zes de X 2 + 1 são u2 e −u2 , as outras
raı́zes são 1 = u8 e −1 = u4 logo o corpo de decomposição de
f (X) é Q(u), igual ao corpo de decomposição de X 4 + 1, e as
raı́zes de X 8 − 1 são exatamente as potências de u. Sabemos que
G∼ = U (Z/8Z) = {1, 3, 5, 7}. Sejam 1, g, h, k os quatro elementos de
G. Eles são determinados pelas igualdades g(u) = u3 , h(u) = u5 ,
k(u) = u7 . Obviamente G0 = Q e {1}0 = M , agora precisamos
calcular os subcorpos correspondentes a hgi, hhi, hki. Seja m ∈ M .
Como uma base de M sobre Q é {1, u, u2 , u3 } (u tem grau 4 sendo
raı́z do polinômio irredutı́vel X 4 + 1) temos m = a + bu + cu2 + du3
com a, b, c, d ∈ Q.

Para encontrar hgi0 precisamos resolver a equação g(m) = m (veja


a definição de H 0 quando H ≤ G). Lembrando que g(u) = u3 e
u4 = −1 temos
g(m) = a + bg(u) + cg(u)2 + dg(u)3 = a + bu3 + cu6 + du9 = a + bu3 − cu2 + du.
Segue que g(m) = m se e somente se b = d e c = 0, ou seja
m = a + b(u + u3 ), logo hgi0 = Q(u + u3 ). Observe que α =
14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 89

u + u3 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupo√ hgi tem ı́ndice


2) e α2 = u2 + 6 4
√u + 2u = −2 ou seja α = ±i 2 e concluimos
0
que hgi = Q(i 2). Sendo G gerado por g e por h, para mostrar
que hgi0 é estável é suficiente mostrar que h(α) ∈ Q(α). Temos
h(α) = h(u) + h(u)3 = u5 + u15 = u5 + u7 = −u − u3 = −α ∈ Q(α).

Para encontrar hhi0 precisamos resolver a equação h(m) = m. Lem-


brando que h(u) = u5 e u4 = −1 temos
h(m) = a + bh(u) + ch(u)2 + dh(u)3 = a + bu5 + cu10 + du15 = a − bu + cu2 − du3 .
Segue que h(m) = m se e somente se b = 0 e d = 0, ou seja
m = a + cu2 , logo hhi0 = Q(u2 ). Observe que β = u2 tem grau
2 sobre Q (porque o subgrupo hhi tem ı́ndice 2) e β 2 = −1 ou
seja β = ±i e concluimos que hhi0 = Q(i). Sendo G gerado por g
e por h, para mostrar que hhi0 é estável é suficiente mostrar que
g(β) ∈ Q(β). Temos g(β) = g(u2 ) = u6 = −u2 = −β ∈ Q(β).

Para encontrar hki0 precisamos resolver a equação k(m) = m. Lem-


brando que k(u) = u7 e u4 = −1 temos
k(m) = a + bk(u) + ck(u)2 + dk(u)3 = a + bu7 + cu14 + du21 = a − bu3 − cu2 − du.
Segue que k(m) = m se e somente se b = −d e c = 0, ou seja
m = a + b(u − u3 ), logo hki0 = Q(u − u3 ). Observe que γ =
u − u3 tem grau 2 sobre Q (porque o subgrupo √ hki tem ı́ndice
2) e γ 2 = u2 √ + u6 − 2u4 = 2 ou seja γ = ± 2 e concluimos
que hki0 = Q( 2). Sendo G gerado por g e por k, para mostrar
que hki0 é estável é suficiente mostrar que g(γ) ∈ Q(γ). Temos
g(γ) = g(u − u3 ) = u3 − u9 = u3 − u = −γ ∈ Q(γ).

O diagrama dos subcorpos foi visto em uma lista anterior.

Observação: toda extensão de grau 2 é Galois. Isso pode


ser visto da maneira seguinte: seja M/K uma extensão de grau 2 e
seja E ≥ M o fecho de Galois de M , G = G (E/K), então M 0 é um
subgrupo de G de ı́ndice |G : M 0 | = |M : G0 | = |M : Q| = 2 logo é
normal, logo M 00 = M é estável em E/K, ou seja M/K é Galois. Em
outras palavras a frase “toda extensão de grau 2 é Galois” traduzida no
contexto dos grupos é “todo subgrupo de ı́ndice 2 é normal”. O mesmo
argumento (usando o teorema de Cayley generalizado) mostra que o
fecho de Galois E/K de uma extensão L/K de grau n tem grau
|E : K| menor ou igual a n! (tradução: o coração normal de um
subgrupo H de ı́ndice n de um grupo G tem ı́ndice menor ou
igual a n!: pense no homomorfismo de Cayley generalizado G → Sn
com núcleo HG ).
90 2. TEORIA DE GALOIS

Uma maneira menos teorica de mostrar que toda extensão de grau 2


é Galois é a seguinte: se M/K tem grau 2 então seja u ∈ M − K, temos
K 6= K(u) logo K(u) = M (pela formula do grau, sendo |M : K| = 2
primo), seja f (X) = X 2 + bX + c o polinômio minimal de u sobre K.
Mostraremos que M é corpo de decomposição de f (X) sobre K, ou seja
que a raı́z v de f (X) distinta de u pertence a M . Temos (X −u)(X −v) =
f (X) = X 2 + bX + c ou seja X 2 − (u + v)X + uv = X 2 + bX + c, segue
que uv = c logo v = c/u ∈ K(u) = M sendo c ∈ K.

(19) Seja f (X) = X 6 −2. Calcule a ordem do seu grupo de Galois G sobre Q.
Encontre um subgrupo normal abeliano N de G tal que G/N é abeliano.

Sejam α = 6 2, u = ei2π/6 . As raı́zes de f (X) são α, αu, αu2 , αu3 ,
αu4 , αu5 logo M = Q(α, u) é um c.d. de f (X) sobre Q. Como α é
real e u não é real e tem grau 2 temos |M : Q| = 6 · 2 = 12. Observe
que Q(u) é estável (ou seja, é extensão de Galois de Q) sendo c.d. para
X 6 − 1 sobre Q logo o subgrupo N = Q(u)0 é normal em G de ı́ndice
|G : N | = |Q(u) : Q| = 2 logo é normal de ordem 6 e G/N ∼ = C2 .
Observe que (veja as aulas teoricas) N = G (M/Q(u)) é cı́clico porque
Q(u) contem todas as raı́zes de X 6 − 1 (as potências de u). Segue que
N e G/N são cı́clicos. Curiosidade: G é isomorfo ao grupo diedral de
ordem 12.

P de Galois com grupo de Galois G e seja m ∈ M .


(20) Seja M/K extensão
Defina T r(m) = g∈G g(m), o traço de m. Mostre que T r(m) ∈ K.
P
Como no caso da norma, se σ ∈ G temos σ(T r(m)) = g∈G σg(m) =
0
P
h∈G h(m) = T r(m) logo T r(m) ∈ G = K.

(21) Seja M um corpo√de decomposição de X 3 − 2 sobre Q. Calcule a norma


e o traço de α = 3 2, de t = e2πi/3 e de α + t.

Elemento Imagem de α Imagem de t Estrutura


g1 α t Identidade
g2 α t2 2-cı́clo (αt, αt2 )
g3 αt t 3-cı́clo (α, αt, αt2 )
2
g4 αt t 2-cı́clo (α, αt)
g5 αt2 t 3-cı́clo (α, αt2 , αt)
g6 αt2 t2 2-cı́clo (α, αt2 )
Q6 P6
Temos N (m) = i=1 gi (m) e T r(m) = i=1 gi (m) logo

N (α) = α2 (αt)2 (αt2 )2 = α6 t6 = 4,

T r(α) = 2α + 2αt + 2αt2 = 2α(1 + t + t2 ) = 0,


14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 91

lembrando que t3 = 1 e que t2 + t + 1 = 0 temos


N (α + t) = (α + t)(α + t2 )(αt + t)(αt + t2 )(αt2 + t)(αt2 + t2 )
= [(α + t)(αt + t)(αt2 + t)] · [(α + t2 )(αt + t2 )(αt2 + t2 )]
= [(α2 t − α + t2 )(αt + 1)] · [(α2 t − αt + t)(α + 1)]
= [2t2 + α2 t − α2 t − α + α + t2 ] · [2t + α2 t − α2 t − αt + αt + t] = 9.
É imediato pela definição de traço que T r(a + b) = T r(a) + T r(b) para
todo a, b ∈ M logo T r(α + t) = T r(α) + T r(t) = T r(t) e
6
X
T r(t) = gi (t) = t + t2 + t + t2 + t + t2 = −3.
i=1

(22) Seja M um corpo de decomposição de f (X) = X 3 − 3X + 1 sobre Q,


seja α ∈ M uma raı́z de f (X) e na extensão M/Q calcule a norma e o
traço de α.

Lembre-se que as raı́zes de f (X) são α, α2 − 2 e −α2 − α + 2 e o


grupo de Galois é G = hgi onde g(α) = α2 − 2. Segue que a norma de
α é
N (α) = αg(α)g 2 (α) = α(α2 − 2)(−α2 − α + 2)
= (α3 − 2α)(−α2 − α + 2) = (α − 1)(−α2 − α + 2)
= −(3α − 1) − α2 + 2α + α2 + α − 2 = −1,

T r(α) = α + g(α) + g 2 (α) = α + α2 − 2 − α2 − α + 2 = 0.

(23) Seja F/K uma extensão de corpos e seja M o fecho de Galois de F


sobre K, G = G (M/K). Mostre que M é gerado pelos corpos σ(F )
onde σ ∈ G.

Escrevendo F = K(a1 , . . . , an ) temos M = K(A1 , . . . , An ) onde Ai


é o conjunto das raı́zes do polinômio minimal de ai sobre K. Se v ∈ Ai
existe σ ∈ G tal que σ(ai ) = v logo para todo i o conjunto Ai está
contido no corpo gerado sobre K pelos σ(F ) onde σ ∈ G.

(24) Seja G um grupo solúvel finito. Mostre que G é policı́clico, ou seja existe
uma série {1} = G0 C G1 C . . . C Gn = G tal que Gi /Gi−1 é cı́clico para
todo i = 1, . . . , n. Isso permanece verdadeiro se G for infinito?

Pela definição de grupo solúvel é suficiente mostrar o enunciado


quando G é abeliano. Mostraremos o resultado por indução sobre |G|.
Seja x ∈ G não trivial e N = hxiEG, então N é cı́clico e G/N é abeliano
de ordem menor que |G| logo G/N é policı́clico por hipótese de indução,
seja N/N = G0 /N E G1 /N E . . . E Gn /N = G/N uma série com todos
92 2. TEORIA DE GALOIS

os fatores cı́clicos. Então a série {1} E N E G1 E . . . E Gn = G tem todos


os fatores cı́clicos, logo G é policı́clico.
Um grupo solúvel infinito não precisa ser policı́clico. De fato observe
que todo grupo policı́clico é finitamente gerado: se tivermos uma série
{1} = G0 C G1 C . . . C Gn = G tal que Gi /Gi−1 é cı́clico para todo
i = 1, . . . , n, digamos Gi /Gi−1 = hgi Gi−1 i, então hg1 , . . . , gn i = G. Por
outro lado todo grupo finitamente gerado é finito ou enumerável, logo
por exemplo o grupo aditivo R dos números reais não é policı́clico.

(25) Seja f (X) = X 5 −4X+2 (irredutı́vel em Q[X] pelo criterio de Eisenstein)


e seja M um corpo de decomposição de f (X) sobre Q com grupo de
Galois G, pensado como subgrupo de S5 agindo nas 5 raı́zes de f (X).

(a) Mostre que f (X) tem três raı́zes reais e duas raı́zes complexas con-
jugadas (estudando o grafico de f ).
p
A derivada
p de f é f 0 (X) = 5X 4 −4 que é positiva para X ≤ − 4 4/5
e X ≥ 4 4/5, e sendo f (0) = 2 e f (1) = −1 deduzimos pelo grafico
que f tem exatamente três raı́zes reais. As outras duas são então
complexas conjugadas.

(b) Considere a conjugação complexa a + ib 7→ a − ib para mostrar que


G contem um 2-cı́clo.

A conjugação complexa fixa as três raı́zes reais e troca entre elas


as duas raı́zes complexas conjugadas, logo corresponde a um 2-cı́clo
no grupo de Galois.

(c) Mostre que 5 divide |G| (pense na transitividade) e deduza que G


contem um 5-cı́clo.

Sendo f (X) irredutı́vel, G age de maneira transitiva no conjunto


das 5 raı́zes logo 5 divide |G| pelo princı́pio da contagem.

(d) Usando o fato que S5 é gerado por um qualquer 5-cı́clo junto com
um qualquer 2-cı́clo (não precisa mostrar isso) deduza que a equação
f (X) = 0 não é solúvel por radicais.

Pelos itens anteriores G contem um 2-cı́clo e um 5-cı́clo logo G ∼ = S5


não é solúvel (como visto) logo f (X) = 0 não é solúvel por radicais.

(26) Encontre o grau do corpo de decomposição de X 4 − 6X 2 + 6 sobre Q.


14. RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS - TEORIA DE GALOIS 93

(X) = X 4 − 6X
fp 2
p +√ 6 = (X − α)(X + α)(X − β)(X + β) onde

α = 3 + 3 e β = 3 − 3. Seja G = G (M/Q) onde M = Q(α, β) é o
corpo de decomposição de f (X) sobre Q. Se g ∈ G então g(−α) = −g(α)
e g(−β) = −g(β). Segue que g é um dos elementos seguintes.
g1 = 1, g2 = (α, −α), g3 = (β, −β), g4 = (α, −α)(β, −β),
g5 = (α, β)(−α, −β), g6 = (α, −β)(−α, β),
g7 = (α, β, −α, −β), g8 = (α, −β, −α, β)
Observe que H = {g1 , . . . , g8 } é um grupo que contem o grupo de Galois
G de f (X), e sendo G transitivo, se G 6= H tem apenas duas possibili-
dades:
• G = {g1 , g4√
, g5 , g6 }. Neste caso todos os elementos de G fixam αβ
mas αβ = 6 6∈ Q, contradição.
• G = hg7 i = {g1 , g7 , g√ 4 , g8 }.√Neste√caso todos os elementos de G
fixam αβ(α2 − β 2 ) = 6 · 2 3 = 6 2 6∈ Q, contradição.
Segue que G = H e |M : Q| = |G| = 8.

(27) (BONUS - Facultativo - Pesquise na internet em inglês) Seja M/K ex-


tensão de Galois de grau n. Todo α ∈ M determina a função K-linear
fα : M → M dada por fα (x) := αx. Após escolha de uma base de M
sobre K a função fα pode ser vista como matriz n × n com coeficientes
em K. Mostre que det(fα ) = N (α) e T r(fα ) = T r(α) (onde o traço de
uma matriz é a soma dos elementos diagonais).

Solução: deixo para depois.

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