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romanato

Domingo, 08 de janeiro de 2012

Música sacra nas Reduções


jesuíticas. Artigo de Gianpaolo
Romanato

A experiência
das Reduções impulsionou oParaguai como "nação musical". Desse país americano, vem uma lição que
também pode ensinar algo para a pobre e cansada música litúrgica das antigas igrejas daEuropa.

A análise é de Gianpaolo Romanato, professor de história da Igreja daUniversidade de Pádua e


membro doPontifício Comitê de Ciências Históricas, mas também autor de importantes estudos sobre
as Reduções. O artigo foi publicado no sítio Chiesa, 04-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Quando visitei pela primeira vez as ruínas das Reduções – as missões pensadas há quatro séculos pelos
jesuítas para as populações guarani no Paraguai, Argentina, Brasil e Bolívia, hoje declaradas
pela Unesco como patrimônio da humanidade –, fiquei estupefato com a grandiosidade dos edifícios, pela
imponência da estrutura urbana, do tratamento artístico das igrejas, ainda bem visíveis apesar das
destruições ocorridas no século XIX, depois da independência dos países sul-americanos.

Por que tanta atenção pelo efeito cenográfico, pelo impacto visual, em um ambiente semiprimitivo como
aquele em que os guarani viviam? "Porque – me explica Luis Szarán – esse era o instrumento para
conquistar os guarani, cujo universo cultural era muito redundante, com ritos semelhantes aos barrocos".

Szarán (foto) é hoje o músico mais conhecido do Paraguai, diretor da Orquestra Sinfônica da cidade
de Assunção. Com o projeto
dos Sonidos de la Tierra, ele leva a música aos mais remotos vilarejos paraguaios com o objetivo de
elevar a cultura e a sensibilidade dos jovens através da arte. Um projeto grandioso, que atualmente
envolve 150 vilarejos e 12 mil jovens.

Mas também é um estudioso apaixonado pelas Reduções. "Eu nasci emEncarnación – diz – onde surgia
aRedução de Itapuã, brinquei quando criança entre as ruínas de Trinidad, a Redução mais grandiosa e
impressionante. Esses vilarejos fazem parte da minha vida antes do que a minha profissão. Por outro
lado, o Paraguai é impensável sem as Reduções e a obra dos jesuítas. A língua guarani se salvou graças
a eles e hoje é língua oficial como o espanhol, embora os guarani não sejam mais do que 2% da
população do país. É um caso único em toda a América Latina".

É, portanto, uma homenagem às suas próprias origens a esplêndida trilha sonora que ele compôs para
acompanhar o espetáculo de sons e luzes preparado entre as ruínas de Trinidad depois da restauração
do complexo realizado pelo arquiteto genovês Ettore Piras e aberto ao público em 2009 na presença do
presidente da república. As músicas estão disponíveis em um CD publicado
pela Missionsprokur da Companhia de Jesus de Nuremberg.

Luis Szarán estudou na Itália, em Roma e em Siena, e volta para a Itália frequentemente. Encontro-o
em Bassano del Grappa, no suntuoso marco barroco da Pieve di Santa Maria in Colle, onde ele recém
encerrou um concerto.

"As Reduções unem muitas exigências. Os jesuítas – explica – tinham que controlar os guarani. Estes
tinham que viver de forma que não desnaturalizassem a sua cultura. Os vilarejos tinham que se
harmonizar com o ambiente e ser defensáveis, acessíveis, integrados, geríveis economicamente. A ideia
empregou um século e meio para se concretizar. Quando os jesuítas foram expulsos e iniciou a sua
decadência, na segunda metade do século XVIII, as Reduções tinham recém alcançado a forma
definitiva, tanto que Jesús, no Paraguai, a Redução mais bem conservada, ainda não havia sido
concluída e apresenta algumas características novas, confirmando que o projeto estava em contínua
evolução. O modelo se ampliou para o norte, na Bolívia, onde, entre os chiquitos, surgiram muitos
vilarejos similares, construídos em madeira e não em alvenaria. Estes se salvaram, protegidos pelo seu
isolamento. Ainda são habitados. As pessoas vivem ali quase como naquela época. É preciso ir a essa
região, hoje também declarada pelaUnesco como patrimônio da humanidade, para entender
verdadeiramente o que foi e o que ainda é a 'experiência sagrada'. Aqui, ainda soa a mesma música de
três séculos atrás, fabricam-se violinos com a técnica ensinada pelos jesuítas".

E é justamente na Bolívia, onde ritmos e modos de vida são semelhantes aos daquela época,
que Szarán encontrou a peça que faltava da história das Reduções: a música.

Era conhecida pelos historiadores a extraordinária habilidade musical alcançada pelos guarani. Bento
XIV escreveu sobre isso em uma encíclica de 1749. E era bem conhecido que, em cada uma
das Reduções, existia uma escola de música – um verdadeiro conservatório – cercado por um florido
artesanato que produzia todos os tipos de instrumentos, de violinos a órgãos, de harpas a trombetas. O
que se ignorava era o tipo de música os guarani tocavam sob a orientação dos jesuítas.
A ignorância durou até cerca de 40 anos atrás. Foi em 1972, de fato, que o arquiteto suíço Hans Roth,
responsável pela restauração das Reduções bolivianas na província de Chiquitos, encontrou por acaso
em um baú abandonado uma inumerável quantidade de partituras musicais. Eram as músicas compostas
para as Reduções pelos músicos jesuítas – especialmente Domenico Zipoli (Prato, 1688 – Córdoba,
1726) e Martin Schmid (Zurique, 1694 – Lucerna, 1772) – e por desconhecidos artistas guarani, levados
a um nível tal de refinamento que se tornaram ótimos compositores. Considerados como resíduos de
papel, as partituras jaziam na incúria mais total.

Esse achado, ao qual depois se acrescentaram outros, ocorridos em Chiquitanía e também no centro-
norte do país, na província de Moxos, foi o maior evento da musicologia latino-americanos. Milhares de
páginas de composições que nos restituíram a extraordinária experiência de multiculturalismo musical –
provavelmente única na história – ocorrida nestas terras há três séculos: a fusão do mais refinado barroco
europeu com as ressonâncias das tradições vocal e instrumental locais.

O Festival Internacional de Música Renascentista e Barroca Americana, hoje a principal manifestação


musical daBolívia, foi uma consequência da descoberta de Roth. A próxima edição será realizada entre
os dias 26 de abril a 6 maio de 2012 e irá envolver todas as seisReduções de Chiquitanía, começando
porSanta Cruz de la Sierra (foto).

Entre os musicólogos que se dedicaram à transcrição dessas partituras, uma obra difícil e complexa dado
o estado de degradação do papel, deve-se lembrar do polonês Piotr Nawrot, da Universidade de
Poznan e, precisamente, Luis Szarán.

Desde então, o maestro paraguaio pôde acrescentar essas músicas ao seu repertório. Músicas que ele
sabe interpretar com o vigor e a paixão que só um artista nascido na mesma terra dos guarani, que
conhece a sua alma e fala a sua língua, é capaz de oferecer.

Depois, o encontro com dois grupos musicais italianos – o coro Academia Ars Canendi, dirigido pela
sopranoManuela Meneghello, e o Grupo de Cordas Veneto, dirigido pela violinista Fiorella Foti, ambos
com sede em Treviso–, abriu a esse repertório as portas das igrejas e das salas de concerto europeias.
Os dois conjuntos puseram as músicas de Zipoli, Martin Schmid e dos autores guarani anônimos no
centro de interesse, fazendo delas o eixo da sua proposta de concerto.

Foi depois de um desses concertos que eu me encontrei com o maestro Szarán. "A música – explica –
entrou logo nasReduções, mas se tornou uma prática generalizada e institucionalizada com a chegada
de Anton Sepp, jesuíta do sul do Tirol, de Caldaro, que era um músico maduro e havia feito parte, antes
de ir para o Paraguai, no fim do século XVII, do coro da corte imperial de Viena. Foi Sepp que
especializou os índios na fabricação de todos os tipos de instrumentos musicais. A música se tornou o
cimento das Reduções, como demonstrou com grande eficácia o filme A Missão e como mostram os
extraordinários baixos-relevos esculpidos nas paredes da abside da igreja de Trinidad, representando
anjos com os traços dos guarani que tocam vários instrumentos: violinos, violoncelos, trombetas,
clavicórdios e um órgão".

Deve-se a Sepp a construção do primeiro órgão inteiramente fabricado na América Latina, destinado
à Redução de Yapeyú. Depois, Zipoli chegou à América do Sul, que aperfeiçoou essa música levando-
a ao nível da melhor arte europeia. As cartas e as crônicas dos jesuítas que atuaram nas Reduções
nunca deixam de falar da incrível perfeição alcançada pelos músicos guarani. Nas igrejas do Paraguai,
escreve um deles, José Cardiel, "ouve-se uma música melhor do que a que pode ser ouvida nas mais
célebres catedrais da Europa".

Com o fim das missões e a expulsão dos jesuítas em 1774, esse patrimônio foi disperso em grande parte.
AsReduções do Paraguai foram semidestruídas, junto com todos os móveis que a embelezavam,
enquanto sobreviveram, protegidas pelo seu isolamento, as da Bolívia, onde ocorreu a redescoberta das
partituras originais. A música se salvou em parte, tornando-se um todo com a cultura popular, tanto no
Paraguai, quanto na Bolívia. NasReduções de Chiquitanía, continua-se fabricando violinos e tocando
música barroca como se fazia naquela época.

Nos concertos que Szarán executa com o Coro Academia Ars Canendi e o Grupo de Cordas Veneto,
são propostos, dentre outros, dois exemplos, que não é um exagero definir como fulgurantes, da incrível
mistura de gêneros musicais ocorrida neste canto apartado da América do Sul, graças à paciente
pedagogia dos jesuítas das Reduções.

O primeiro é a Missa Guarayo. Os guarayo são uma população de linhagem guarani, que vive no sul
da Bolívia. Essa missa, de composição do século XIX, funde um plano harmônico europeu com cantos
populares locais em língua guarani e fundo de percussão. O efeito, também por causa da fragorosa
execução que os executores propõem, é de extraordinária eficácia.

O segundo é constituído por um motivo popular da Semana Santa, os cantos de los Estacioneros,
também estes na língua guarani, que remontam ao fim do século XVIII. São ladainhas lideradas por um
um "cantador" em cada estação de um percurso teoricamente infinito entre uma aldeia e outra. Uma peça
que alterna o coro de vozes solistas com efeitos de rara beleza.

O fim das Reduções não foi, em suma, o fim dessa "nação musical", que era e continua sendo
o Paraguai. Desse país americano, que comemora este ano o bicentenário da sua própria independência,
vem uma lição que também pode ensinar algo para a pobre e cansada música litúrgica das nossas
antigas igrejas da Europa.

PARA LER MAIS:

 08/01/2012 - Sons novos e antigos que vêm da selva do Paraguai


 08/01/2012 - O verdadeiro multiculturalismo na música das Reduções jesuíticas
 24/07/2011 - Três grandes maquetes completam a Exposição das Reduções Jesuítas do Paraguai
 29/10/2010 - A religião como poder espaço-temporal das reduções
 11/09/2010 - A história dos Guarani antes e durante as missões e reduções jesuíticas
 12/10/2010 - Índios guaranis paraguaios jogavam futebol nas Reduções
 28/10/2010 - O corpo e a sexualidade nas reduções jesuíticas
 28/10/2010 - Utopia ou heterotopia? As reduções jesuíticas no mundo
 24/10/2010 - As missões jesuítico-guarani. Entrevista especial com Bartomeu Melià
 29/05/2010 - Os Guarani. O contínuo caminhar de um povo. Entrevista especial com Roberto
Antonio Liebgott e Iara Tatiana Bonin

VEJA TAMBÉM:

 A experiência missioneira: território, cultura e identidade - Revista IHU On-Line nº. 348
 Os Guarani. Palavra e Caminho - Revista IHU On-Line nº. 331

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