Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
A gestação do conflito
1795-1824
E D IÇ Ã O
Copyright © 2012 Márcia Maria Menendes Motta
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990,
que entrou em vigor no Brasil em 2009.
CiP-BRASü-. CATALOGAÇAO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M875d
2.ed
Moua, Márcia
DIREITO ÀTERRA N(í BRASIL! A GESTAÇÃO DO CONFLITO! 1795-1824
Márcia Maria M enendes Moita.
São Paulo! Alameda, 2012.
2.ed.
290p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7939-133-0
CDD! 333.3181
CDU! 332.2.021,8(81)
É verdade que as O rdenações Filipinas são um a atualização das M anuelinas. "Em vez de
se refundir o antigo e o novo, acontece que os compiladores, m ecanicam ente, juntaram ,
adicionaram , leis m anuelinas e preceitos posteriores o que torna, m uitas vezes, m uito
difícil o seu entendim ento". Nuno Espinosa da Silva. História do Direito Português. Fontes
de Direito. 3“ ed. Lisboa: Fundação Calouste G ulbenkian, 2000, p. 314.
A ntonio Vasconcellos de Saldanha. As Capitanias. O regime Senhorial na Expansão Ultrama
rina Portuguesa. Funchal: Centro de Estudos de História do Atlântico, 1992.
Jdem, p. 190.
129
130 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 131
A o d is c o r d a r d o s a u to r e s q u e te n d e ra m a c o n s id e ra r s u p e rf ic ia lm e n 0 c e r to é q u e s u a p e r m a n ê n c ia n o te m p o n ã o s ig n ific o u u m a lin e a r id a
te o s is te m a u ltr a m a r in o d e s e s m a ria s , " a p re s e n ta d o - o c o m o u m m e r o e d e n a s u a f o rm a d e c o n c e s s ã o . A o lo n g o d o s s é c u lo s , p o r c a m in h o s m u ita s
n a t u r a l p r o l o n g a m e n t o d a t r a d i ç ã o s e s m a r i a l m e t r o p o l i t a n a " , “' S a l d a n h a v e z e s to r t u o s o s , e la fo i s e a d a p ta n d o à c o m p l e x id a d e d o te c id o s o c ia l, b u s
p r o c u r o u r e c u p e r a r "a s in g u la rid a d e d a s m o tiv a ç õ e s e a d iv e rs id a d e d o s c a n d o s e a d e q u a r à e x ig ê n c ia d e u m a s o c ie d a d e a in d a e m f o rm a ç ã o .
c a m p o s d e a p l i c a ç õ e s " .* O s d o c u m e n to s d e s e s m a ria s c o r r e s p o n d e m à s m ú ltip la s fa c e s d o A n tig o
P a r a t a n t o , o a u to r p o r tu g u ê s a p o io u - s e n o s e s c rito s d e C o s ta P o r to , R e g im e , m a s o r e q u e r im e n to e a s v á ria s in s tâ n c ia s p a r a a d e c is ã o f in a l ré g ia ,
ju r is ta b r a s ile iro q u e e s c r e v e u u m d o s p o u c o s tra b a lh o s s o b re o te m a . S e s i m b o l i z a m m a i s q u e u m m e r o e x e m p l o d o v o c a b u l á r i o d a q u e l e r e g i m e . E le s
g u n d o P o r t o , e n t r e a s s e s m a r i a s p o r t u g u e s a s e a s d o B r a s il ; a n u n c ia m a te n ta tiv a d a C o ro a e m s u b m e te r à d o a ç ã o d e te r r a s a s u a d e te r m i
n a ç ã o , c o m o p r o v e d o r a d a ju s tiç a , in s tâ n c ia ú ltim a d e d e c is ã o p a r a a c o n c re ti
[ ...] só h a v ia m e sm o um p o n to e m com um ra e x istê n c ia d e z a ç ã o d a h a r m o n i a e n tr e o s s e u s s ú b d ito s .
so lo sem cultura, sem ap ro v eita m en to , in e x p lo r a d o . Tudo E la s - a s s e s m a r ia s - d e v e m , p o r ta n to , s e r e n te n d id a s in s e r in d o - a s
o m ais d iv e rso . D iversas, em p rim eiro lugar, as causas; n o
n u m a c o n j u n t u r a q u e d ê a lg u m s e n ti d o à s p a la v r a s a ii e x p r e s s a s . A d e s p e i
R ein o , a in cu ltu ra resu ltan te d o d e sc a n so d o s se n h o r e s q u e ,
to d e c e rta u n ifo r m id a d e d a m a n e ira c o m o s ã o c o n c e d id o s , o s d o c u m e n to s
in d o le n te s, n e m o trabalhavam , n e m d eix a v a m o u tr o s o c u l
tiv a sse m , d o n d e o rem ed o drástico do c o n fisc o para red istri-
s o fre m a lg u m a s a lte ra ç õ e s a o lo n g o d o p e r ío d o e s ã o m a is d o q u e m e ro s
b u içã o e n tr e o s q u e não tin h am terras, e n q u a n to n o B rasil,
d e ta lh e s s e m im p o rtâ n c ia , p o is r e v e la m o s e n s a io s d e a d e q u a ç ã o d o in s titu
decorria da carência de braços, da falta da p o p u la ç ã o , p o is a to ju ríd ic o à c o n ju n tu r a d o p e río d o .
C on q u ista se apresentava n u m d eserto h u m an o.* É n o c r u z a m e n to d a s f o n te s , le is e p r o c e s s o s q u e n o s a p r o x im a m o s
d a q u e le d o c u m e n to , c o n fe r in d o - lh e a lg u m a c o e rê n c ia d e te r m o s e p a la v ra s
P a r a S a ld a n h a , n o e n ta n to , se a s v á ria s c a rta s d e d o a ç ã o q u e a d q u ir e m u m n o v o s ig n ific a d o e in te r p r e ta ç ã o . A s s im , p o r e x e m p lo ,
q u a n d o d e s u a p ro m u lg a ç ã o , o te r m o s e s m e iro e x p re s s a v a a q u e le q u e d o a
[...] rem e tem para o dispositivo das O rd en ações em d e tr im e n v a a t e r r a , o o f i c i a l d a C o r o a q u e t i n h a , p o r t a n t o , t a l e n c a r g o . P o r a q u e l a le i
to de q u a lq u er solu ção por inteiro original, é p orqu e - m a l o r i g i n a l , p a r a fisc a liz a r o c u m p r i m e n t o d a p o l í t i c a d e d i s t r i b u i ç ã o d o s o l o , o
grado a diversidade da realidade m etrop olitan a e a s e q u e n r e i m a n d a v a q u e " f o s s e m e s c o lh id t? s , c a d a v ila , c id a d e o u c o m a r c a d o is
te in op erân cia de certos d isp ositivos fern a n d in o s e m terras h o m e n s b o n s d o s m e l h o r e s q u e a li h a v e r " , * i n c u m b i d c i s d e i n v e s t i g a r q u a i s
virgens e n u n ca possuídas - algu n s traços do o rd e n a m e n to e ra m a s te r r a s in c u lta s , o b rig a n d o a o s p ro p rie tá rio s a s e x p lo r a re m e m c e rto
v ig e n te m a n tin h a m a sua razão de ser n os n o v o s h o r izo n tes
te m p o o u a s a rre n d a re m .
q u e se abriam à colonização dos P ortu gueses, avu lta n d o s o
A o s p o u c o s , n a s c o lô n ia s d o I m p é r io p o r tu g u ê s , o te r m o fo i s e n d o e m
bre tod os o d esiderato de obstar à terra in c u lta .’
p r e g a d o p a r a d e s ig n a r a q u e le q u e r e c e b e a s e s m a ria . S e g u n d o C o s ta P o rto ,
a m o d ific a ç ã o n a a c e p ç ã o d o te r m o te r ia o c o rr id o n a c o lô n ia e in tr o d u z id a
n o s d o c u m e n t o s o f ic ia is , p r o v a v e l m e n t e a p a r t i r d e 1 6 1 2 , n a c a r ta d e 2 8 d e
s e te m b r o s o b re a c o n c e s s ã o d e t e r r a s n o R io G r a n d e d o N o r te .’
4 Ibidem.
5 Ibidem.
6 A pud Saldanha, op. cil, p. 191, 8 Costa Porto. Estudo sobre o sistema sesmarial. Recife: Imprensa Universitária, 1965, p. 34.
7 Ibidem, p. 191. 9 Idem. p. 41.
132 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 133
0 te r m o d e v o lu to é, e m s u a a c e p ç ã o p r im o r d ia l r e la tiv o à te r r a d e v o l u m la d o , o s o c u p a n te s o r iu n d o s d a d in â m ic a d e e x p a n s ã o d a f ro n te ir a ; d e
v id a , n ã o c u ltiv a d a , q u e r e to r n a à s m ã o s d o re i p a r a s e r d a d a n o v a m e n te e m o u tr o " o s s e s m e iro s , q u a s e s e m p r e p o te n ta d o s d e O lin d a e S a lv a d o r, p e
s e s m a r i a . C o n t u d o , e l e t o r n a r - s e - á u m a r e f e r ê n c i a a t e r r a s l iv r e s , c o e r e n t e d ia m a te r r a , le g a liz a v a m o d o m ín io e p a s s a v a m a g a n h a r d i n h e i r o à s c u s ta s
c o m a e x p a n s ã o e m á re a s a in d a n ã o o c u p a d a s . P o r c o n s e g u in te , a p a la v ra d o s e r t a n i s t a a n ô n i m o " . ''' O c o n f l i t o n ã o t a r d o u a s e r r e v e l a d o , c h e g a n d o
d e v o lu ta p a s s a a e x p re s s a r te r r a s n ã o a p ro v e ita d a s , n ã o p o v o a d a s , s e m c o a o C o n s e lh o U ltra m a r in o q u e , p o r s u a fe ita , r e c o m e n d o u a o g o v e r n a d o r d e
n h e c im e n to d e s e u d o n o , s e m v e s tíg io d e q u e f o ra a lg u m te m p o o c u p a d a o u P e rn am b u c o q u e
o n d e n ã o s e t e m n o t í c i a d a p e s s o a a q u e m p e r t e n ç a . ’”
O m e s m o p o d e -s e se d iz e r q u a n d o c ru z a m o s o d o c u m e n to c o m o s d e procurasse harm onizar os in teressad os, fa zen d o 'm u itos p olos
c re to s e a lv a r á s q u e p r o c u r a r a m r e g u la r iz a r a f o r m a d e c o n c e s s ã o . N o in íc io com por, de m aneira q u e n ã o c h e g u e m a q u ele r o m p im en to de
m e a d o s d o s é c u lo X V II s ig n if ic o u a s o b r e p o s iç ã o d e in te r e s s e s d iv e r s o s . P o r 15 Ibidem p. 87 e 88.
16 Ibidem. Ainda segundo Costa Porto, 'Demorando a Metrópole em solucionar os inciden
10 Ibidem, p, 179. tes, a Câmara da Vila da Môcha, hoje Oieras, se dirige, em 1745, a D. João V, reclamando
contra 'os extraordinários danos espirituais e temporais que te havido e atualmente se
11 Ibidem, p. 83.
experimentam nesta capitania, originados da sem razão e injustiça com que os governa
12 Ibidem.
dores de Pernambuco... deram por sesmaria e indevidamente grande quantidade de ter
13 Ibidem, p. 84. ras a três ou quatro pessoas particulares, moradores na cidade da Bahia, que, cultivando
134 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 135
O c o n f lito n ã o te r m in a a q u i. A in d a s e g u n d o C o s ta P o rto , e m 1 7 5 3 , p e la B a h ia , S e rg ip e , A la g o a s , P e r n a m b u c o , P a r a íb a , C e a r á e P ia u í. O e s fo r ç o d e
P ro v is ã o d e 2 0 d e o u tu b ro , a q u e re la e n tr e s e s m e iro s e o c u p a n te s d o te r r i d is c ip lin a r a o c u p a ç ã o , p r e s e n te n o e s ta b e le c im e n to d e u m lim ite m á x im o
tó r io d o P ia u í g a n h a u m n o v o e n s a io d e s o lu ç ã o , c a lc a d o e m d u a s n o r m a s d e c o n c e s s ã o re v e la o re c o n h e c im e n to d e u m a h is tó ria p r e té rita d e o c u p a
p r in c ip a is . F o r a m r e v a lid a d a s a s d a ta s d o s s e s m e ir o s q u e a s h o u v e s s e m c u l ç ã o " s e m lim ite s " , j á q u e a im e n s id ã o d o s d o m ín io s e a q u e ix a s e r e c la m a
tiv a n d o , e x c lu íd a s a s te r r a s e m a r r e n d a m e n to o u a f o r a m e n to . O s s e s m e iro s ç õ e s re s u lta n te s d a s o b re p o s iç ã o d e in ú m e ra s s e s m a ria s n a re g iã o já e ra m
p o d ia m s o lic ita r n o v a s d a ta s , d e te r r a s in c u lta s e d e s p o v o a d a s , d e s d e q u e d e c o n h e c im e n to d a s a u to r id a d e s c o lo n ia is , c o m o d e m o n s tr o u  n g e lo P e s
n ã o e x c e d e s s e m t r ê s l é g u a s d e c o m p r i d o e u m a d e l a r g o . ’’ P o r c o n s e g u i n t e , s o a , e m s e u e s t u d o s o b r e a C a s a d a T o r r e d e G a r c i a D 'Á v i l a . ”
a P r o v is ã o r e in a u g u r a o s p r in c íp io s d a le i d e s e s m a ria s , a o r e c o n h e c e r o O C o n s e lh o U ltr a m a r in o tin h a c iê n c ia d e q u e a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s
d o m í n i o d o s s e s m e i r o s a p e n a s s o b r e a s á r e a s e fe tiv a m e n te c u l t i v a d a s , e n ã o e ra a c o m p a n h a d a d e e v e n tu a is q u e re la s e d e in te r p re ta ç õ e s c o n flita n te s s o
a q u e la s tr a b a lh a d a s p o r te r c e ir o s . A lé m d is s o , im p õ e u m lim ite m á x im o b re a h is tó ria d e o c u p a ç ã o d o lu g a r. T a m b é m é c o e re n te in fe r ir q u e o s c o n
p a r a a c o n c e s s ã o d e te rra s . s e lh e iro s d e tin h a m a in f o r m a ç ã o d e q u e o a d e n s a m e n to d o s c o n flito s e s ta v a
A p r o v is ã o d e 1 7 5 3 r e p r e s e n to u m a is u m a d a s in ú m e r a s in te r v e n ç õ e s r e la c io n a d o à im p r e c is ã o d e b a liz a s e à a u s ê n c ia d e r e g u la m e n ta ç ã o q u a n to
d o g o v e r n o P o m b a l e m r e la ç ã o a u m a p o lític a m a is s u b s ta n tiv a p a r a a c o a o lim ite m á x im o d e te r r a a s e r c o n c e d id a p e lo s is te m a . H a v ia in te n to s n e s
l ô n ia . N e s s e s e n tid o , e la d e v e s e r c o m p r e e n d id a c o m o u m a d a s p r im e ir a s s a d ire ç ã o , m a s a in d a m u ito p o u c o e fic a z e s . J á e m 1 6 9 5 , p e la c a rta ré g ia d e
p r o p o s ta s r e f o r m is ta s d e S e b a s tiã o J o s é d e C a r v a lh o e M e lo , a n te s m e s m o 2 7 d e d e z e m b r o , o r d e n a v a - s e q u e n ã o s e p o d e r ia m c o n c e d e r m a is d e c in c o
d a s m e d id a s d e d in a m iz a ç ã o d a s a tiv id a d e s e c o n ô m ic a s d a re g iã o n o r te e lé g u a s d e te r r a s . D o is a n o s d e p o is , p e la C a rta d e 7 d e d e z e m b r o , a e x te n s ã o
n o r d e s te , c o m o a c ria ç ã o , e m 1 7 5 5 e 1 7 5 9 , d a C o m p a n h ia G e ra l d e C o m á x im a e râ re d u z id a p a ra trê s lé g u a s . N o e n ta n to , a in d a q u e o s e sfo rç o s
m é rc io d o G rã o P a rá e M a ra n h ã o e d a C o m p a n h ia G e ra l d e C o m é rc io d e t e n h a m s id o d ir e c io n a d o s p a r a c o n s a g r a r u m lim ite , n a p r á tic a e ra p o s s ív e l
P e r n a m b u c o e P a r a í b a . ’® A p r o v i s ã o r e p r e s e n t a , e m s u m a , u m a t e n t a t i v a q u e d e te r m in a d o s e s m e ir o s o lic ita s s e e o b tiv e s s e te r r a s b e m m a io r e s q u e o
d e i n te r v ir e c o n tr o la r o p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o te r r ito r ia l e ta lv e z t e n h a s id o m a rc o im p o s to p o r a q u e la s n o rm a s , d a í o r e to r n o d o te m a q u a n d o d a P ro
p r o m u lg a d a p a ra s o lu c io n a r o s c o n flito s o r iu n d o s d a d in â m ic a d e f o rm a ç ã o v is ã o d e 1 7 5 3 e s u a r e a tu a liz a ç ã o n a s le g is la ç õ e s p o s te r io r e s .
d o p a tr im ô n io d a C a s a d a T o rre , c u ja s s e s m a ria s s e e s te n d ia m e m á r e a s d a E n te n d e - s e a s s im c o m o e p o r q u e a o b r ig a to rie d a d e d e m e d ir e d e
m a r c a r p ô d e s e r u m a d e n d o d e s o m e n o s im p o r tâ n c ia n o s p rim e iro s s é -
-c u io s d e c o lo n iz a ç ã o , c o m o p ô d e - j á e m f in s d o s é c u lo X V III - t o r n a r - s e
algumas delas,<)eixaram a maior parte devoluta, sem consentirem que pessoa alguma as
c o n d iç ã o p o r d e m a is e s s e n c ia l p a r a im p e d ir o s c o n flito s e d e m a n d a s p o r
povoasse, salvo quem à sua custa e com risco de suas vidas as descobrisse e defendesse
contra o gentiobárbaro. constrangendo-lhes depois a lhes pagarem dez mil reis de renda
te rra s , p r in c ip a lm e n te e m á re a s já d e n s a m e n te o c u p a d a s e p a rtic u la rm e ii-
por cada sitio’, rogando. Finalmente, fosse S. M. servido mandar 'que os ditos intrusos te ric a s c o m o a s c a p ita n ia s d e M in a s G e ra is e R io d e J a n e ir o . N e s s e s e n ti
sesmeiros não possam usar dos ditos arrendamentos, nem pedir renda aos moradores d o , c o m p r e e n d e - s e ta m b é m p o r q u e a s c rític a s f o r m u la d a s p o r F ra n c is c o
desta capitania dos sítios que [...] descobriram [...] mas antes se sirva ordenar que cada
M a u r id o d e S o u s a C o u tin h o , q u a n d o d a p ro m u lg a ç ã o d o A lv a rá d e 1 7 9 5 ,
uma das ditasíazendas contribua em cada um ano com algum limitado foro [...] a m e
tade para o aumento da real fazenda e a outra metade para rendimento do Conselho da
n ã o e r a m e x te m p o r â n e a s e n e m e x p r e s s a v a m a v is ã o d e u m h o m e m a lé m
Câmara'". Üiâm. p. 88-89. d o s e u te m p o . E la s e r a m o r e s u lta d o , n ã o s o m e n te d a p e r c e p ç ã o a c u r a d a
17 Ibidem, p. 90.
18 Para uma anáSsesobrea atuação política e biografia da personagem, vide: Kenneth 19 Ângelo Emilio da Silva Pessoa. As ruínas da tradição: a casa da torre de Garcia D ’Avila. Famí
M axwell. Ittoyuêt de Pombal: Paradoxo do iluminismo. 2 “ ed. Rio de Janeiro: Paz e lia e propriedade no Nordeste colonial. Tese de doutorado em História Social. São Paulo,
Terra, 1997. Universidade de São Paulo, 2003.
136 MXrcia M aria M enendes M oita D ireito à terra no Brasil 137
c ita d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , n ã o c a ír a m d e to d o n u m v a z io . S e s u a s m a r c a s 14 l é g u a e m q u a d r a 108 7 5 ,5 2 %
m a is d e c is iv a s r e to r n a v a m , c o m a e x ig ê n c ia d o c u ltiv o , o e s ta b e le c im e n 1 lé g u a e m q u a d ra 8 5 ,5 9 %
to d o s lim ite s e a o b r ig a to rie d a d e d a m e d iç ã o é p o r q u e - a d e s p e ito d o s 2 lé g u a s e m q u a d ra 3 2 ,0 9 %
in te r e s s e s d o s s e s m e iro s - n ã o e ra p o s s ív e l fa z e r tá b u la ra s a e m re la ç ã o 3 lé g u a s e m q u a d ra 4 2 ,7 9 %
a o s a lic e rc e s d o s is te m a s e s m a ria l o u m e s m o d a f re q u ê n c ia d o s c o n fli 3 lé g u a s d e te rra s 20 20, 7%
to s g e s ta d o s p e lo p r ó p r io s is te m a . Q u e r e n d o o u n ã o , o s s e s m e iro s e ra m
AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramarino. Capi
c o n s tr a n g id o s a c u m p r ir a le i o u a o m e n o s le m b r a d o s d a s s u a s b a s e s tania de Minas Gerais. 1795/1798 - Códice 164. 1798/1801 - Códice 165. 1801/1804 - Có
c o n s titu tiv a s . A s s im , p o r e x e m p lo , d e z a n o s a n te s d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , dice 166. 1805 1 8 0 7 -C ódice 167. 1807/1823 - CÓDICE 168.
o u tro A lv a rá , o d e 5 d e ja n e ir o d e 1 7 8 5 , " d e te r m in a v a q u e "a s d a d a s o u
d a ta s d e s e s m a ria s s e m p r e f o ra m c o n c e d id a s c o m a c o n d iç ã o e s s e n c ia lís - É d ig n o d e n o ta ta m b é m q u e q u a n d o o s la v r a d o re s s o lic ita m trê s
s im a d e se c u ltiv a s s e m s u a s te r r a s " .^ “ lé g u a s , e le s s ã o c io s o s e m i n f o r m a r q u e e la s e s tã o " f o r a d o s r e g is tr o s
A lé m d is s o , v á ria s d a s C a rta s R é g ia s e A lv a rá s p r o m u lg a d o s a n te s e p a r a g e n s " , o u " p o r s e r e m d e s e r tã o " ,^ ’ p r o c u r a n d o , a o m e n o s e m
d e s s a d a ta s e to r n a r ia m p a r te s c o n s titu tiv a s d e in ú m e r a s s o lic ita ç õ e s , r e te s e , r e s p e ita r a p ro v is ã o d e 2 0 d e o u tu b r o d e 1 7 5 3 , q u e lim ito u e m trê s
v e la n d o to d o e n s a io p a ra c o n s a g r a r u m in s tr u m e n to ju ríd ic o a d e q u a d o lé g u a s d e c o m p rid o e u m a d e la rg o o ta m a n h o d a s s e s m a ria s a s e re m
à v á ria s r e a lid a d e s d a s c o lô n ia s p o r tu g u e s a s , u m d is p o s itiv o m a is a n c o c o n c e d i d a s .^ '* N o e n t a n t o , a o m e n o s p a r a M i n a s G e r a i s n o p e r í o d o e m
r a d o à s in ú m e r a s s itu a ç õ e s u ltr a m a r in a s . U m e x e m p lo d is s o é a P ro v is ã o te la , q u a tr o s e s m e ir o s ig n o r a r a m ta l d e te r m in a ç ã o , p o is s o lic ita r a m tr ê s
d o C o n s e lh o U ltra m a rin o d e 15 d e m a rç o d e 1 7 3 1 , e m ra z ã o d o d e s c o lé g u a s e m q u a d ra .
b r im e n to d a s m in a s . P o r e s s a p r o v is ã o , e s ta b e le c e u - s e o lim ite m á x im o D e q u a lq u e r fo rm a , te n ta v a - s e c u m p r ir o e s ta b e le c id o e m le i. M a n o e l
d e m e ia lé g u a e m q u a d ro p a ra a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s é m te rra s o n d e J o a q u im d e S o u z a X a v ie r, p o r e x e m p lo , s o lic ito u , e m 1 7 8 2 , t e r r a s d e v o lu
h o u v e s s e m in a s o u q u e se e n c o n tr a s s e m n o c a m in h o d e la s .^ ‘ A d e s p e ito ta s n o R io d e S ã o P e d r o a c im a , d is tr ito d e M a c a é , R io d e J a n e i r o .
d o r e la tiv o fra c a s so d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , o fa to in c o n te s tá v e l é q u e a q u e la
e x ig ê n c ia p a s s o u a e s ta r e x p líc ita n o s p e d id o s d e s e s m a ria s a o lo n g o d o OProcurador da Coroa qual lhe conveio em que lhe devia con
p e r ío d o m a r ia n o , c o m o m o s tr a m o s d a d o s o r iu n d o s d a s m é d ia s d e s o lic i ceder tão somente meia légua de testada, com uma de senão,
ta ç õ e s d e s e s m a r ia s p a r a a c a p ita n ia d e M in a s G e ra is , e n tr e 1 7 9 3 a 1 8 0 7 . o que não deve subsistir, por ser contra o disposto nas Reais
D a s 1 4 3 c o n fir m a d a s n o p e río d o , s ã o s o lic ita d a s a s s e g u in te s e x te n s õ e s :
22 AHU. Carta de sesmarias de Clara Leite Vieira. Ano de 1799, códice 16 5, folhas,
196/197V.
23 AHU. Carta de Sesmarias de Anselmo Lopes Vilas Boas. Ano de 1799, códice 165, folhas
187 a 188v.
20 Ordenações Filipinas, livro IV, título XLIII Das Sesmarias, p. «23, nota 4.
24 Costa Porto, op. cit., p. 73; Varela, op. cit., p. 99. Segundo estes especialistas, a provisão de
21 Laura Beck Varela. Das sesmarias à propriedade moderna: inn csiiido ile liisiória do direito 1753 e o alvará de 1795 são os dois principais marcos na legislação de sesmarias para as
brasileiro. Rio de Janeiro; Renovar, 2005, p. 95. colônias do ultramar.
138 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 139
A s e s m a ria d e M a n o e l J o a q u im fo i c o n firm a d a e m 8 d e ja n e ir o d e v e n h a a n o t íc i a d e t o d o s o s m o r a d o r e s , q u e a q u e le s q u e s e a c h a
1 7 9 7 , c o m o s l i m i t e s d e e x p a n s ã o im p o s to s .^ * ^ r e m d e p o s s e d e a lg u m a s t e r r a s s e m t ítu lo s , l h a s p e ç a m d e s e s
O m e s m o o c o r r e r a c o m A n t o n i o d a S ilv a B a s t o s e T o m a s d e A q u i n o m a r i a , p a r a s e l h e d a r e m n a f o r m a d a s O r d e n s R e a is , q u e f o r a m
D u a r t e d e S o u z a , e m 1 7 9 9 . E l e s s o l i c i t a r a m u m a s e s m a r i a d e 16 l é g u a d e n o t e r m o d e u m a n o c o m a c o m i n a ç ã o , d e q u e p a s s a n d o e le ,
t e s t a d a e u m a d e f u n d o s n o S e r tã o d o R io Im b é , C a m p o s d o s G o ita c a s e s , n i n g u é m s e p o d e r á v a l e r d a p o s s e , q u e t iv e r s e m t ít u lo d e s e s
m a r i a ; e s e d a r ã o a s t e r r a s a s s im p o s s u íd a s a q u e m a s p e d ir .’“
R io d e J a n e ir o . O c o n d e d e R e s e n d e a p ro v o u a c o n c e s s ã o , m a s a fir m o u ;
25 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Joaquim de Souza Xavier, Códice 29 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Bento da Silva Ferreira, ano de 1799.
165, folhas 99 a 100. Códice 165, folhas 92 e 93.
26 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Manoel Joaquim de Souza Xavier, Códice 30 Apud Ângeio Alves Garrara. Contribuição para a hhtória agrária de Minas Gerais: Séculos
165, folhas 99 a 100. XVIll-XIX. Universidade Federal de Ouro Preto, Departamento de História, Núcleo de
História Econômica e Demográfica, Série Estudos 1, 1999, p. 19.
27 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio da Silva Bastos e Tomas de A(|uino
Duarte de Souza, Códice 166, folhas 12 v a 13 v. 31 Ibidem.
28 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio da Silva Bastos e Tomas de Aquino 32 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. M anoel Bento da Silva Ferreira, ano de 1799.
Duarte de Souza, Códice 166, folhas 12 v a 13 v. Códice 165, folhas 92 e 93.
140 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 141
Eu, El-Rey vos envio muito saudar. Viu-se a vossa Carta de oito a n te r io r . A e x ig ê n c ia d e d e m a r c a ç ã o p r e s e n te n a c a r ta in te g r a d a a o liv r o
de março deste ano em que representas os inconvenientes que d e r e g is tr o im p u n h a u m a a ç ã o q u e e m te s e já d e v e r ia te r s id o c u m p r id a
se vos oferecem para se medirem por corda as datas das terras q u a n d o d o e n c a m in h a m e n to d o r e q u e r im e n to . A s s im , e m m u ito s c a so s e ra
de sesmaria dessa Capitania pelas margens dos Rios assim pela o q u e h a v ia s id o fe ito , a in d a q u e , c o m o s a b e m o s , s e m a in d ic a ç ã o d e té c
dificuldade que há para se pôr em prática como pelos grandes
n ic o s p a r a a d e lim ita ç ã o p r e c is a d o lo c a l d a s e s m a ria s o lic ita d a . E m m u ito s
gastos que as partes são de fazer nesta forma de medir por se
o u tro s , n o e n ta n to , a o p e d id o d e c o n firm a ç ã o n ã o v in h a a n e x a d o q u a lq u e r
rem partes aonde só os índios naturais podem andar descalços
e muitas vezes com a água pela cintura.’® d o c u m e n to q u e a te s ta s s e a m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o .
E m 1 7 9 8 , p o r e x e m p lo , Q u ité r ia M a ria d e J e s u s s o lic ito u u m a lé g u a e m
q u a d r a e m C a c h o e ir a d e M a c a c u , R io d e J a n e ir o . S e g u n d o a s d is p o s iç õ e s
E n te n d e - s e a s s im c o m o e r a p o s s ív e l r e f e r e n d a r - n o lim ite - u m d ir e ito
ré g ia s , " e a n te s d e to m a s p o s s e d e la s a s f a r á m e d ir e d e m a r c a r ju d ic ia lm e ii-
s e m a te n ta r p a ra a s d ife re n ç a s e n tr e o p e d id o in id a l d a c o n c e s s ã o e o d e c i
te , s e n d o p a ra e s s e e fe ito n o tif ic a d a s a p e s s o a s c o m o q u e m c o n f r o n ta r " .’ '
d id o p e la C h a n c e la ria . E m 1 8 d e n o v e m b r o d e 1 7 9 0 , p o r e x e m p lo . D o m in
O s p a re c e re s m u ita s v e z e s p r e s e n te s q u a n d o d o e n c a r a in h a m e n io d o
g o s d e S o u z a M a ia s o lic ito u u m a s e s m a ria e m te r r a s d e v o lu ta s e m P a r a íb a
p e d id o d e c o n c e s s ã o i n f o r m a v a m q u e a te r r a h a v ia s id o m e d id a e d e m .ii
N o v a , d a p a r te d o N o rte d o R io G a v iã o . S u a c a r ta d e c o n fir m a ç ã o d e s e s m a
c a d a . A s s im , p o r e x e m p lo , A n a F e lic ia n a d e P a iv a r e q u e r e u , c m I8 (H , a
ria lh e fo i c o n c e d ia e m 1 4 d e d e z e m b r o d e 1 7 9 5 .’' N o a n o s e g u in te , e m 1 3
c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ria s d e te r r a s q u e h a v ia m s id o c o n c e d id a s p e lo g o
d e a g o s t o d e 1 7 9 6 , e l e r e c e b e u a c h a n c e l a r e a l , c o n c e d e n d o - l h e u m a lé g u a
v e r n a d o r d e M in a s , s ita s n o te r m o d e S a b a rá . S e u r e q u e r im e n to fo i a io m
e m eia d e te sta d a e d u a s d e f u n d o s , q u a n d o e l e h a v i a s o l i c i t a d o u m a lég u a de
p a n h a d o p e lo p a re c e r e m itid o p e lo ju iz d e m e d iç õ e s d e s e sm a ria s . T o m a s
testada c o m o s m e s m o s f u n d o s . ” O q u e e s t a v a e m c a u s a e r a q u e D o m i n g o s
C o e lh o B a c e lla r, " f o r m a d o p e la U n iv e r s id a d e d e C o im b r a " , q u e in f o r m o u
M a ia h a v ia c u m p r id o o p r o c e d im e n to b u r o c r á tic o , a c e ite p o r u m a v ia d e
q u e , e m 2 5 d e s e t e m b r o d e 1 8 0 1 f o i a f a z e n d a d o L e i t ã o d o C u r v e l o , .liilg .i
m ú ltip la s m ã o s ; o g o v e rn a d o r g e ra l, o p r o c u r a d o r d a C o ro a , a C â m a ra d a
d o P a p a g a i o e a l i " m e d i u , d e m a r c o u e e m p o s s o u A n a F e l i c i a n a n a s u t i . is
C id a d e e o C o n s e lh o U ltra m a r in o . A s d ife r e n ç a s e n tr e a e x te n s ã o s o lic ita d a
c o n c e d i d a s e m s e s m a r i a s " . ’''
n o p e d id o e a q u e la r e f e r e n d a d a p e la C h a n c e la r ia n ã o m e r e c e r a m n e n h u m
E m 1 7 9 9 , A n to n io G o n ç a lv e s d e F ig u e ire d o d e m a n d o u u m a s e sm a
c o m e n tá rio q u a n d o d a c o n c e ssã o .
r i a d e m e i a l é g u a e m q u a d r a n a p a r a g e m P a c i ê n c i a , n o t e r m o d a v i la d e
H a v ia , n o e n ta n to , d e te r m in a ç õ e s m u it o v is ív e is n a s c a rta s d e c o n c e s
S ã o J o s é , c o m a r c a d o R io d a s M o r te s . J u n to a o s e u r e q u e r im e n to , h á u m
s õ e s. A p r im e ir a é o b v ia m e n te a e x ig ê n c ia d e s e p r o c e d e r a m e d iç ã o e d e
d o c u m e n t o d o t a b e l i ã o p ú b l i c o e j u d i c i a l c e r t i f i c a n d o q u e a q u e l a s l e r r .i s
m a r c a ç ã o d a á r e a s o li c it a d a , r e i t e r a n d o a l g o j á p r e s e n t e e m l e g i s l a ç õ e s a n
h a v ia m s id o m e d id a s j u d ic ia lm e n te e m 2 6 d e a g o s to d e 1 7 9 3 .” E n tr e la n
te r io r e s e o a r g u m e n to c e n tr a l d o A lv a rá d e 1 7 9 5 , c o m o v im o s n o c a p ítu lo
lo s p e d id o s , e ra r e c o r r e n te a a p r e s e n ta ç ã o d e a lg u m tip o d e a te s ta d o q u e
poder: Conflito e direito à terra no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro; Arquivo Público
do Estado do Rio de Janeiro/Vício de Leitura, 1998.
50 IHGB. Carta régia aos Offidaes da Camara do Pará sobre os inconvenientes que propoem 53 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Quitéria Maria de Jesus. Códice 165, fullM'.
para se medirem por corda as datas de terras de sesmaria daquella Capitania os quaes se 131/132.
lhe não admitem. Lisboa, 28/10/1705 {Arq. 1,2.25 - Tomo VI, p. 87], 54 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Requerimento de Ana Feliciana dos Santos. CI > 04 9
51 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Domingos de Souza Maia. Códice 164, folhas 151 0441.
115 V a 116. 55 AHU. Projeto Resgate. Minas Gerais. Requerimento de Antonio Gonçalves de Figueircdii
52 ANTT. Chancelaria D. Maria L Livro 50, p 226 V a 227 V. CD 044 0524.
148 MAr c u M aria M enendes M otta
D ireito à terra n o Brasil 149
cará ao tempo da posse por uma corda e braças, craveiras como É p o s s ív e l q u e o le ito r c o n c lu a q u e a o c o rr ê n c ia c o n s ta n te d e e x ig ê n
é estilo e S. Majestade manda c ia s le g a is p r e s e n t e s n a s s o lic ita ç õ e s a p ó s 1 7 9 5 c o n f i r m e o c a r á t e r m o n ó
to n o d a s c a rta s d e s e s m a ria s . N o e n ta n to , p a ra a lé m d e s u a a p a re n te in s i
B o n ifá c io d e O liv e ira Q u in ta n ilh a ta m b é m re c e b e u a in fo rm a ç ã o d e p id e z , e la s n o s r e v e la m a s p e c to s b a s ta n te e lu c id a tiv o s p a r a e n te n d e r m o s
q u e d e v e r ia r e s e r v a r p a r te d e s u a s te r r a s p a r a o s c a m in h o s p ú b lic o s . E m a s " le itu r a s " p o s s ív e is d a le i. É o q u e v e r e m o s a s e g u ir .
1 7 9 9 , e le s o lic ito u Vi lé g u a e m q u a d ra n o s ítio d o R io G r a n d e , f re g u e s ia d e P a ra e n te n d e r m o s e s te p o n to , é p re c is o e s q u a d r in h a r a s c o n c e s s õ e s d o
S a n to A n to n io d e S á , R io d e J a n e ir o . A n te s d e to m a r p o s s e d e la , n ã o s o p e río d o m a r ia n o . P a ra ta n to , s e rá n e c e s s á rio r a s c u n h a r e m p rim e iro lu g a r
m e n t e d e v e ria m e d ir e d e m a r c a r ju d ic ia lm e n te , c o m o d e v e ria n o tif ic a r a s d if e r e n ç a s r e g io n a is e m r e la ç ã o à s s o lic ita ç õ e s e e x p lic a r o e n c a m in h a
m e n t o p a r a a s c o n c e s s õ e s . A p a r tir d a í, s e r á p o s s ív e l r e s s a lta r o s m ú ltip lo s
as pessoas com que confrontar, como deveria [preservarias ta- in te re s s e s p r e s e n te s n a s c a rta s .
pinhas e parobas deixando de as cortas para outro algum uso se
"que não seja da construção de naus [...] e cuidar das planta
ções [...] naqueles mesmos lugares em que já as houverem ou
forem mais próprios para a produção das mesmas".
E le p r e c is a v a ta m b é m
O u tr a d e te r m in a ç ã o r e c o r r e n te é a q u e se re fe ria à r iq u e z a d o s u b s o lo .
A d a ta d e s e s m a ria e x c lu ía d a c o n c e s s ã o o s v iv e iro s o u m in a s d e q u a lq u e r
g ê n e r o d e m e t a l q u e f o s s e m a li d e s c o b e r t o s . A s d i s p o s i ç õ e s e x p r e s s a s v i
n h a m a c o m p a n h a d a s d e in tim id a ç õ e s p o r c o n ta d o d e s c u m p r im e n to . A s
s im , c a s o a s t e r r a s n ã o f o s s e m c o n fir m a d a s n u m p e r ío d o q u e v a r io u d e d o is
a q u a t r o a n o s , s e r ia m ju lg a d a s d e v o lu ta s . A lé m d iss o , o d e s c u m p r im e n to
d e ta is e x ig ê n c ia s c o rr e s p o n d e ria à a m e a ç a d e tra n s fe rê n c ia d a q u e la s te r r a s
a o s q u e h a v ia m d e n u n c ia d o a irre g u la rid a d e .
o le v a n ta m e n to re a liz a d o ju n to a o s liv ro s d e c o n f ir m a ç ã o d e s e s
N m a ria s , e n c o n tra m o s o n ú m e ro a p ro x im a d o d e c o n c e s s õ e s p a ra o
p e r í o d o d e 1 7 9 5 a 1 8 2 2 , o u s e ja , d o p r im e ir o a o ú l t i m o liv r o d o p e r í o d
m a r ia n o .' N e s s e ín te r im , e n tr e a s c a p ita n ia s q u e tiv e r a m c o n f ir m a d a s o s
p e d id o s d e s e s m a ria s , d e s ta c a m -s e ;
E m p r im e ir o lu g a r, u m a le rta : a d is tr ib u iç ã o , p o r c a p ita n ia , fo i c o n s
tru íd a n a q u e la c o n ju n tu ra , e n ã o e m u m p ro c e s s o u lte r io r d e o r g a n iz a
ç ã o a rq u iv ís tic a . Q u a n d o d o p e d id o d e s e s m a ria s , o p le ite a n te in f o r m a v a
o lo c a l d e s u a te r r a d e fo rm a m u ito v a g a , p e r to d a f re g u e s ia X e /o u n o
s ítio Y, d a c o m a r c a H , e / o u n o te r m o X P T O . O p e d id o e r a e n c a m i n h a d o
a o c o n s e lh o p o r u m g o v e rn a d o r d e c a p ita n ia e e ra , p o r ta n to , e le q u e
c ir c u n s c r e v ia a s o lic ita ç ã o n o â m b ito d e s u a a u to r id a d e .
1 Discutirei o período de 1807 a 1823 no próximo capítulo, quando analisar a questão das
sesmarias no processo de transíerênda da Corte e Independência do Brasil.
153
154 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra n o Brasil 155
P e d id o s d e c o n fir m a ç ã o d e s e m a r ia s , p o r r e g is t r o . M in a s G e r a is
Fonte: AHU: Projeto Resgate/Mínas mapa estatístico sobre demografia, sesmarias dízimos,
direitos das entradas, 1768. Caixa 93, documento 58. Agradeço a Francisco Eduardo Pinto 12 Souza, Laura de Mello e Souza. O Sol e a sombra. Política e administração na América
pela localização do documento. Portuguesa do século XVIII. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 148.
13 Idem, p. 168.
À p r im e ir a v is ta , o s d a d o s a c im a c o n tr a ria m a s in fo rm a ç õ e s o r iu n d a s 14 AHU. Projeto Resgate/Minas Gerais. Consulta do Conselho Ultramarino. 1761. Cx. 79,
doc. 71.
d o s liv r o s d e c o n firm a ç ã o d e s e s m a ria s d o p e río d o m a r ia n o . P o r a q u e le s
15 AHU. Projeto Resgate/Minas Gerais. Carta de Matias Francisoc M elo de Albuquerque,
liv ro s , f o r a m p o u c a s a s s e s m a ria s c o n fir m a d a s e p r o v a v e lm e n te c h a n c e
1759. Cx. 74, doc. 65.
I<S0 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 161
E m s e u e s t u d o 'C o n t r i b u i ç ã o p a r a a H i s t ó r i a A g r á r i a d e M i n a s G e r a i s c o m é r c i o p o r t u g u ê s c o m a c o l ô n i a [e ] p e r m i t i r a m à m e t r ó p o l e r e s o l v e r o
- s é c u lo X V III e X IX " , G a r r a r a d e m o n s t r o u q u e a s c o n c e s s õ e s e m M in a s p r o b l e m a d o b a l a n ç o d e f i c i t á r i o c o m o r e s t o d a E u r o p a " . '*
d e v e m s e r c o n s id e r a d a s c o m o g a r a n tia s a p o s s e s já la n ç a d a s o u a te r r a s já D e to d o m o d o , é p o s s ív e l q u e a s o s d la ç õ e s d e d is tr ib u iç ã o d e s e s m a ria s
c o m p ra d a s . N e s s e s e n tid o , e m M in a s G e ra is t e n h a m s id o r e s u lta d o d o in te n s o p r o c e s s o d e m e r c a n ti-
l i z a ç ã o d a t e r r a n a r e g i ã o . L o g o , é f a c t ív e l c r e r q u e d e s d e c e d o s e f o r m o u
o objetivo da política adotada pelo governo da Capitania na n a r e g iã o " u m e x te n s o m e r c a d o d e te rra s , d a d a s a s c o n d iç õ e s p e c u lia re s d a
década de 1730 e 1740 (Ordem Régia de 14 de abril de 1738 c i r c u l a ç ã o m o n e t á r i a r e a l i z a d a p e l a m i n e r a ç ã o " . '^
e Bando de 13 de maio de 1738) tornando nulas todas as pos A i n d a s e g u n d o C a r r a r a , a s c o n c e s s õ e s d e s e s m a r i a s t i n h a m u m s ig n i f ic a d o
ses que se lançassem depois da publicação destas normas não d i f e r e n t e n o s n ú c l e o s m i n e r a d o r e s o r ig i n a is e o s c u r r a i s . N o p r i m e i r o c a s o ,
era outro senão o de legalizar as posses. Dever-se-ia atentar de
imediato para o fato de os peticionários alegarem indistinta
as sesmarias foram instrumentos secundários de legitimação
mente ora o título de p r im e ir o p o v o a d o r (o que traduzia em bom
da propriedade, visto que a velocidade com que as terras eram
português o j u s p r i m i o c c u p a n tis ), ora o ter comprado a terra
compradas e vendidas diminuíam a necessidade de recurso às
de um p r im e ir o p o v o a d o r . Em ambos os casos, o lançamento de
petições. O ritmo da mudança dos proprietários das terras ocu
posses estava na origem do acesso à propriedade.
padas se dava em grau máximo devido à máxima circulação de
moeda (ouro em pó) nessa região.^“
O in te n s o p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o d a q u e le te r r itó r io , i n ti m a m e n t e lig a d o
à d e s c o b e r ta d e o u r o , e x p lic a , a o m e n o s e m p a r te , p o r q u e e m M in a s , o d i N o s c u rra is , a c ir c u la ç ã o m o n e tá r ia e ra m e n o r , " d a í o lu g a r d ife r e n
r e ito d o p r im e ir o p o v o a d o r, d o a to d e to m a r p o s s e , fo i r e c o n h e c id o e m e s te o c u p a d o p e la s s e s m a r ia s n e s s a s re g iõ e s : e la s c o n s o lid a v a m u m d o m ín io
m o s e s o b re p ô s à c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s , d u r a n te u m p rim e iro m o m e n to , m a is d u r a d o u r o , n a fa lta d e o u tr o s in s tr u m e n to s le g a is , c o m o a s e s c r itu r a s
p a ra se to r n a r p ro ib itiv o m a is ta r d e . O s " c a m in h o s d a s d e s c o b e rta s " , d e d e c o m p r a e v e n d a " .^ '
A n to n io R o d rig u e s A rz ã o , e m 1 6 9 3 , d e B a r to lo m e u B u e n o d e S iq u e ira , e m T a lv e z is s o n o s a ju d e a e x p lic a r o e x p r e s s iv o a u m e n t o d e p e d id o d e
1 6 9 6 , e d e B o rb a G a to im p u ls io n a r a m u m p ro c e s s o im ig ra tó rio d e e n o rm e s c o n fir m a ç ã o d e s e s m a ria s p a ra a re g iã o d e M in a s n o s d e rra d e iro s a n o s d o
p r o p o rç õ e s . A in d a q u e n ã o s e s a ib a " a d a ta e o lo c a l e x a to s d a d e s c o b e r ta s é c u lo X V III e in íc io d o s e g u in te
d o p r i m e i r o f i l ã o a u r í f e r o , '^ o c e r t o é q u e a e x p e c t a t i v a d e e n r i q u e c i m e n t o E m o u tr a s p a la v r a s , a d e c is ã o d a C o ro a e m e x ig ir a c o n fir m a ç ã o ré g ia ,
le v a r a m u ltid õ e s d e p e s s o a s e m b u s c a d a c o n c re tiz a ç ã o d e u m s o n h o . A lé m v ia C o n s e lh o U ltra m a rin o , te ria o c a s io n a d o u m a m a io r p re o c u p a ç ã o d o s
d is s o , o a u m e n to d a p r o c u r a d e e s c r a v o s im p u ls io n o u e p e r m itiu a a b e r s e s m e ir o s m in e ir o s e m c u m p r ir a q u e la d e te r m in a ç ã o . A lé m d is s o , ta m b é m
t u r a d e n o v o s m e r c a d o s d e c a tiv o s . A d e m a is , é p r o v á v e l q u e a C o ro a n ã o d e v e m o s c o n s id e ra r q u e a s s e s m a ria s n ã o se e te r n iz a v a m n u m a m e s m a
t e n h a tid o in te r e s s e e m e s q u a d r in h a r e c o n tr o la r o p ro c e s s o d e o c u p a ç ã o f a m ília . O s p e d id o s s ã o m u ita s v e z e s s o lic ita d o s p a r a á re a s a n te r io r m e n te
n o p e río d o , já q u e a a tiv id a d e m in e r a d o r a , a s c o n s ta n te s re m e s sa s d e o u ro p e d id a s e n ã o o c u p a d a s . H á q u e se le v a r e m c o n ta a in d a a d in â m ic a d a
e d ia m a n te s p a ra P o rtu g a l p r o p o rc io n a r a m " o g r a n d e re flo re s c im e n to d o
18 Idem, p. 171.
19 Garrara, op. tit., p, 11.
16 Ângelo Alves Carrara, op. tit., p. 11 (grifos do autor).
20 Idem, p. 12.
17 Charles Boxer. 0 império marítimo português, 1415-1825. São raiilo; ( '.(mipanhla d.is l.m as,
2002, p. 168. 21 Ibidem.
162 M árcia M aria M enendes M o ha
D ireito à terra no Brasil 163
p r o d u ç ã o d e s u b s is tê n c ia d a re g iã o , u m c o m p le x o a b a s te c e d o r c o n s o lid a d o
G e ra is . E n t r e o s a n o s d e 1 8 0 5 e 1 8 0 7 a p e n a s 1 4 p e d id o s d e c o n f ir m a ç ã o s ã o
á v i d o p o r n o v a s t e r r a s e / o u s e g u r a n ç a e m s e u a c e s s o .^ ^
e n c a m in h a d o s p a ra o C o n s e lh o U ltra m a rin o .
H á q u e se c o n s id e ra r ta m b é m q u e n o s p e río d o s c o m p re e n d id o s e n tr e
D e u m a fo rm a o u d e o u tra , a c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s e ra u m a a tr ib u i
1 7 9 9 a 1 8 0 4 h o u v e u m e x p re s s iv o a u m e n to d e c o n c e s s õ e s p a r a M in a s G e
ç ã o d o g o v e r n a d o r . L o g o , e la ta m b é m e s ta v a lig a d a à p e r c e p ç ã o d e c a d a
ra is , a p o n ta n d o p a r a u m a d in â m ic a d e o c u p a ç ã o m u ito d e n s a , o b v ia m e n te
u m d o s g o v e r n a n te s a c e rc a d o s is te m a . E x p re s s a v a ta m b é m o s lim ite s e a s
r e s u lta d o d o p a p e l d a c a p ita n ia n o s q u a d ro s d a e c o n o m ia c o lo n ia l. A p e n a s
p o s s ib fiid a d e s c o n c r e ta s d e c o n tr o la r a c o n c e s s ã o , c o m o p o d e m o s c o n d tiii
n o s a n o s d e 1 8 0 0 e 1 8 0 1 fo ra m c o n c e d id a s 6 5 c o n firm a ç õ e s p a ra a c a p ita
a n a lis a n d o a d is tr ib u iç ã o e m á re a d e o c u p a ç ã o a n tig a , c o m o a c a p ita n ia d o
n i a d e M in a s G e ra is , a s s im d is tr ib u íd a s p o r re g iõ e s : R io d e J a n e ir o .
C o n f ir m a ç ã o d e s e s m a r ia s p o r re g iõ es . M in a s G ê r a is <1800/1801)
A velha capitania: o exemplo do Rio de Janeiro
São Joao d ei R ei 9
F re g u esia d a C om arca
Q u e lu z 1 O c a s o d a c a p ita n ia d o R io d e J a n e i r o é p a r tic u la r m e n te in te r e s s a iile .
d o R io d a s M o rte s A s 3 0 4 s o l i c i t a ç õ e s d o p e r í o d o m a r i a n o e s t ã o a s s i m d i s t r i b u í d a s , e t i i r e o -,
S ão José 17
anos de 1795 a 1823.
R io d a s P e d r a s 3
S a b a rá 2
F re g u esia d a s Zo nas C a p it a n ia d o R io d e J a n e ir o . E x t e n s ã o s o l ic it a d a
C ongonhas do C am po 2
M in e ra d o ra s Centrais
M a ria n a 6
N ú m e ro d e P ercen tu al
I ta t ia i a 1 E x te n sã o solicitad a
sesm arias d o total
F re g u esia d a Fronteira
T am anduá 5 'Æ l é gu a e m q u a d ra 150 4 9 ,3 4 %
O c id e n ta l e M e rid io n a l
1 lé g u a e m q u a d ra 44 1 4 ,4 7 %
N ã o Id e n tific a d o 19
1 lé g u a d e te s ta d a e 2 d e s e rtã o 1 ,9 7 %
Fome; FONTE;AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ul 1 lé g u a d e te s ta d a e % d e s e rtã o 0 ,6 5 %
tramarino. 1801/1804 - Códice 166. A distribuição por freguesia acompanha aqui o corte
1 lé g u a d e te s ta d a e 3 d e s e rtã o s 0 ,3 3 %
alinhavado por Carrara no estudo já citado.
2 lé g u a s d e te s ta d a e 3 d e s e rtã o 0 ,3 3 %
Vi l é g u a d e t e s t a d a e 1 d e f u n d o s 2 ,9 6 %
O p r o c e s s o d e o c u p a ç ã o a c o m p a n h a , o b v ia m e n te , a b u s c a p o r te r r a s
a té 1 0 0 0 b ra ç a s d e te s ta d a 21 6 ,9 0 %
liv r e s o u a r e c r ia ç ã o d e " te r r a s liv re s " e m á re a s a n te s o c u p a d a s p o r a n tig o s
S o b e jo s d e te rra s 1 ,3 1 %
s e s m e ir o s o u a n te r io r m e n te p e r te n c e n te s a o s ín d io s . O s r e s u lta d o s d is s o
Outros 66 2 1 ,7 1 %
s ã o t a m b é m c la r o s . H á u m a u m e n t o d o s c o n flito s p e la p o s s e d a te r r a e d is
TOTAL 304
p u ta s a c e r c a d a (i)le g a lid a d e d a o c u p a ç ã o . É d ig n o d e n o ta o d e c ré s c im o , n o
p e r ío d o im e d ia ta m e n te p o s te rio r, d e c o n c e s s õ e s p a r a a c a p ita n ia d e M in a s FONTE; AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultramail
no. Capitania do Rio de Janeiro. 1795/1798, Códice 164. 1798/1801, Códice 165. 1801/1804,
Códice 166. 1805 1807, Códice 167. 1807/1823, Códice 168.
22 J. Furtado. Homens de negócio. A interiorização da metrópole e do comércio nas Minas
setecentistas. São Paulo: Hucitec, 1999.
164 M árcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil i6S
C o n s e lh o U ltr a m a r in o . Ig n á c ia s u b m e tia - s e a s s im à s d e te r m in a ç õ e s d o A l
lu ta s n a s M a ta s d e P iq u e i [ ...] " .” E m 5 d e ju n h o d e 1 7 9 8 C a s te lo B r a n c o
v a r á q u e o b r ig a r a a m e d iç ã o e d e m a r c a ç ã o d a s te r r a s c o n c e d id a s e m te m
c o n s e g u iu s e u d e s íg n io , s e n d o c o n firm a d a s u a s e s m a ria .
p o s p re té rito s.
O m e s m o s e d e u c o m J o a q u im J o s é d e S o u z a M e ire le s , q u e e m 9 d e
E m o u tr o s ta n to s e x e m p lo s , d e s ta c a m - s e ta m b é m * s e s m e ir o s q u e b u s
m a io d e 1 7 9 7 , p le ite o u u m a lé g u a e m q u a d r a n o lo c a l d o R io P r e to , v ila d e
c a v a m a c o n firm a ç ã o d e s u a s e s m a ria a d q u irid a a n te r io r m e n te p o r c o m
M a g é , R io d e J a n e ir o . J o a q u im in fo r m a v a q u e s a b ia d a e x is tê n c ia d e te r r a s
p r a . C a e ta n o N u n e s P e r e ir a , p o r e x e m p lo , s o lic ito u , e m 1 7 9 8 , a le g a liz a ç ã o d e v o lu ta s n a q u e le lo c a l e q u e e le j á a s e s ta v a c u ltiv a n d o " [ ...] e m b e n e f íc io
d e u m a s e s m a r ia n a f a z e n d a R o ç a G r a n d e , e m M in a s G e ra is , p o is " [ ...] se p r ó p r i o e d e s u a m a je s ta d e " .“ D o is a n o s d e p o is , s e u p e d id o fo i a te n d i d o .
a c h a [v a] d e s fru ta n d o d e u m a fa z e n d a c o m E n g e n h o q u e fo i d o d e fu n to
N e s s e s e x e m p lo s , o e le m e n to d e c is iv o p a r a o p e d id o e r a a e x is t ê n c i a
o T e n e n te C o r o n e l F r a n c is c o d e B a r r o s e j u n t o a e la s d u a s c a p o e ir a s q u e
p o te n c ia l d e á re a s a in d a n ã o o c u p a d a s e o s e sfo rç o s d e la v r a d o re s e m a d
c o m p r o u d e M a n o e l C a rlo s " .
q u irir p o r s e s m a ria te rra s p re te n s a m e n te s e m d o n o s .
T a m b é m fo i e ssa a p r e o c u p a ç ã o d e F ra n c is c o d e A b re u G u im a rã e s ” e O u tr o s s e s m e ir o s e n c a m in h a v a m a s o lic ita ç ã o p a r a r e f e r e n d a r a e x
d o P a d r e V ic to rin o d a P a ix ã o . O ú ltim o s o lic ito u e m 1 6 d e m a r ç o d e 1 7 9 3 p a n s ã o d e s u a p ro p rie d a d e . É o c a so d e A n to n io J o s é d a C o s ta B a rb o s a , q u e
a c o n f i r m a ç ã o d e u m a s e s m a r i a n a P a r a g e m Á l v a r o C o e l h o , e m V ila d e S ã o s o lic ita u m a s e s m a ria n o f u n d o d a f a z e n d a d o g o v e r n o d o R io d e J a n e ir o ,
J o ã o d e i R e i, M in a s G e r a is , c u ja s t e r r a s " [ ...] s e a c h a v a a r r a n c h a n d o e m s u a s e m 1 3 d e m a io d e 1 7 9 9 . B a rb o s a a firm a q u e " [ ...] é s e n h o r e p o s s u id o r d a
t e r r a s d e c u l t u r a [ . . . ] e a " a r r e m a t o u o s u p l i c a n t e e m P r a ç a " . ’'' E m 1 7 d e a b r i l f a z e n d a d e n o m in a d a d o g o v e rn o n o c a m in h o d e M in a s G e ra is , e m d i s t â n
d e 1 7 9 9 , f o i c o n f i r m a d a s u a s e s m a r i a d e V2 l é g u a d e t e r r a e m q u a d r a . c ia d e m a is d e 2 0 lé g u a s o n d e tin h a u m e n g e n h o d e fa b r ic o d e a ç ú c a r [ ...] e
H a v ia o s q u e a le g a v a m e m s u a s p e tiç õ e s q u e a s te r r a s e r a m a in d a d e t in h a n o tíc ia q u e n o f u n d o d o s s e rtõ e s d a m e s m a f a z e n d a d o g o v e r n o [ ...]
v o lu ta s . N e s s e s c a s o s , o s o lic ita n te p r o c u r a v a p r e c is a r m e lh o r o lo c a l a l h a v ia s o b e jo s d e te r r a s " .”
m e ja d o , j á q u e s u p o s ta m e n t e e le n ã o h a v ia s id o o c u p a d o . A s s im s e n d o .
N e s s e e e m o u tr o s c a so s, u m a s e s m a ria a n te r io r m e n te a d q u ir id a a b ria
A n to n io P in to C a s te lo B ra n c o p e d iu e m 1 6 d e m a io d e 1 7 9 3 a lg u m a s te rra s .
a p o s s ib ilid a d e d e e x p a n s ã o d a á re a , c o m a a le g a ç ã o d e " s o b ra s " e " s o b e
P a r a ta n to , a le g o u q u e " [ ...] e le p o s s u i a lg u n s e s c r a v o s o s q u a is o c u p a n a
jo s " d e te r r a s lim ítro fe s . A im p re c is ã o d o s lim ite s é a q u i f la g r a n te e n ã o
a g ric u ltu r a e p o r n ã o te r te r r a s p r ó p ria s c u ltiv a n a s d e f o ra [ ...] " . S e g u n
h a v ia d is p o s iç ã o d a C o ro a e m re la ç ã o a e s te s " re s to s " d e te r r a . Q u a lq u e r
d o o s o lic ita n te , h a v ia " [ ...] n o tíc ia q u e n a r ib e ir a d o I ta ip u a s s u , c o r r e n d o s e s m e iro p o r ta n to tin h a m u ita s c h a n c e s d e c o n s e g u ir o s e u in te n to , p o is
rio a c im a d a p a r te d ir e ita e n tr e o c a m p o d e P e d r o M a r tin s e o d e F a u s tin o
re c o n h e c id o c o m o ta l, c o n s a g ra v a s u a c a rta c o m o a r g u m e n to d e a u to r i
C a n ta n lid a p e la p a rte d e O e s te c o m o m e s m o C a m p o , u m a s te r r a s d e v o -
d a d e p a r a le g itim a r s u a e x p a n s ã o .
H a v ia m u ito s p e d id o s re v e la d o re s d a b u s c a p o r a s c e n s ã o s o c ia l p r o p i
c ia d a p e la c o n c e s s ã o . N e s s e s c a so s, o s e s m e ir o n ã o in te n ta v a o b t e r a p e n a s
u m títu lo le g ítim o , m a s ta m b é m s e in s e r ir n a c a te g o r ia s o c ia l d e s e s m e i
ro , e m c o n tr a p o n to a o u n iv e rs o d e la v ra d o re s , s e m títu lo s d e p r o p r ie d a d e .
32 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Caetano Nunes Pereira Códice 165, folhas
65V a 66.
35 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Pinto Castelo Branco, Códice 165,
33 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Francisco de Ahi<'U Oiiimarães, Códice 165, folhas 28 a 29.
folhas 31V a 32V.
36 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Joaquim Jose de Souza Meireles, Códice 165,
34 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Padre Victoriiu) d.i I'. i í k ,'ío , ( :<')du<- 165, folhas folhas 80 V a 81 V.
150V/151V.
37 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Jose da Costa Barbosa, Códice 165.
170 M árcia M aria M enendes M o m D ireito à terra no Brasil 171
45 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Quitéria Maria de .lesiis. Códice 165, folhas 47 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Jose Pereira Maya Códice 165, folhas
131 e 132. 95 V a 96 V.
174 MArcia M aria M enendes M otia
D ireito à terra no Brasil 175
h o u v e p o r t ítu lo d e p e n h o r a e a r r e m a t a ç ã o [ ...] e c o m o l h e f a l t a
v a o p r im o r d ia l títu lo e ra p r o v in d o d o s e s m e ir o e h e r é o s d a q u e le
c a m p o q u e p o r a n tiq u ís s im o s e n ã o d e p o s s e e p o r e v ita r d ú v id a s e
c o n te n d a s p a r a o f u tu r o q u e r ia h a v e r p o r s e s m a r ia a s d ita s te r r a s "
[ ...] q u e p o d e r ia t e r 6 0 0 b ra ç a s m a is o u m e n o s d e te s ta d a c o m o s
f u n d o s q u e s e a c h a r e m a té a s e rra d e I ta o c a ."
48 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Matias Álvares de Brito. Códice 164, folhas 22
a 22 V.
49 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Capitão João Rodrigues de Carvalho. Códice
50 AHU. Carta de Confirmação de Semairas. Antonio José dos Santos, Códice 166, folhas
164, foihas 32 a 33 V
203 a 204 V.
A COROA INTERVÉM: AS CONCESSÕES EMBLEMÁTICAS
p e d id o d e p ro v is ã o p a ra o to m b a m e n to d a te r r a e r a in ic ia d o c o m
O a a p r e s e n ta ç ã o d o s o lic ita n te , n a q u a l e ra in f o r m a d a a e x te n s ã o d e
s u a s te r r a s , o lo c a l o n d e e la e s ta v a m lo c a liz a d a s e , n a m a i o r p a r t e d a s v e
z e s , a c a p ita n ia c o rr e s p o n d e n te . E m a lg u m a s o c a s iõ e s , a s o lic ita ç ã o in ic ia l
já v in h a a c o m p a n h a d a d a in d ic a ç ã o d e q u e se d e s e ja v a m e v ita r " d ú v id a s e
c o n te n d a s c o m h e r é o c o n f in a n te s " . A p a r tir d a í, d e te r m i n a v a :
O u s e ja , o p e d id o e r a a c e ito , r e c o n h e c e n d o - s e q u e a c a r t a d e s e s m a r ia
- q u a n d o e r a o c a s o - j á h a v i a s id o c o n f i r m a d a .
E m m u ito s d o s p e d id o s d e p r o v is ã o e s ta v a e x p líc ito o c o n f lito . E m j a
n e ir o d e 1 7 9 6 , p o r e x e m p lo . D o m in g o s J o s é d e O liv e ira , f a z e n d e ir o d a C o
m a r c a d e S e rg ip e D e l R e y , s o lic ito u o to m b o d e s u a s te r r a s , p o is e r a
O u tr o c a s o in te r e s s a n te é d o fa z e n d e iro A n to n io M o n is d e S o u z a B a r r e
t o A r a g ã o . E m s u a s o li c it a ç ã o d e p r o v i s ã o , e l e i n f o r m a v a q u e " e r a s e n h o r e
177
ivjLnjra/\ ivifiiNlilNiJlib iV lU TTA
D ireito à terra n o Brasil i79
p o s s u id o r d e u m a s o r te d e te r r a d e n o m in a d a A ra g ã o , s itu a d a n a c o m a r c a d a s ã o p a ra o to m b o d e s u a fa z e n d a .’ H a v ia ra z õ e s a in d a m a is p r o fu n d a s p a ra
B a h ia , q u e f o ra c o n c e d id a p o r D a ta e S e s m a ria a B a lth a s a r B a rb o s a P in h e i q u e n ã o se c o n s e g u is s e d e m a r c a r a s te r r a s d e A ra g ã o . O s jo g o s d e p o d e r e n
r o " . S e g u n d o B a r r e to A r a g ã o , e le " e x p e r im e n to u d o s c o n f in a n te s a lg u m a tr e s e s m e iro s , a s d ific u ld a d e s d e s e m e d ir te r r a s s e m a p r e s e n ç a d e té c n ic o s ,
in q u ie ta ç õ e s d e q u e p o d e r ã o e x e c u ta r c o n s id e rá v e is d e s o rd e n s p e la c o n f u s ã o n ã o p o d ia m s e r s o lu c io n a d o s p o r u m a C o ro a tã o d is ta n te .
d e lim ite s " . M a s o f a z e n d e ir o n ã o p e d ia a p e n a s o to m b o d e s u a s te r r a s : A d e s p e ito d a s d ific u ld a d e s , n ã o r e s ta d ú v id a d e q u e a lg u n s f a z e n d e iro s
e s p e r a v a m v e r re s o lv id a a q u e s tã o d a d e m a r c a ç ã o d e s u a s te rra s . E m 1 7 9 6 ,
pedia fosse servida conceder-lhe Provisão para um Ministro de [?] m u ito p r o v a v e lm e n te r e s u lta d o d o A lv a rá R é g io d e D . M a ria I d e 1 7 9 5 , u m
com exclusiva dos que referia por lhes serem suspeitos, proceder n ú m e r o s ig n if ic a tiv o d e f a z e n d e ir o s p e d iu p r o v is ã o d e t o m b o . C o m o s a b e m o s ,
o tombo e demarcação da dita sorte de terra comJurisdição Ordi e n tr e 1 7 9 5 e 1 7 9 8 - n u m e s p a ç o d e te m p o d e trê s a n o s - , fo ra m p e d id a s 2 1 4
nária para conhecer das causas do mesmo Tombo, sem suspensão s e s m a ria s . N e s s e m e s m o p e río d o , f o r a m s o lic ita d a s p r o v is õ e s p a r a 5 9 te rra s !
da Demarcação, que era menos prejudicial reformar-se de qual H a v ia , n o e n ta n to , d ife r e n ç a s e n tr e a s c a p ita n ia s . R e s u lta d o d e r itm o s
quer defeito, do que conservar-se a confusão de limites.’ d e o c u p a ç ã o d is tin to s , a s s o lic ita ç õ e s d e T o m b o p a r e c e m ta m b é m r e v e la r
a m a n e ira p e la q u a l o s fa z e n d e ir o s d e c a d a c a p ita n ia s e r e la c io n a v a m c o m
O f a z e n d e ir o s o lic ita v a u m ju iz q u e n ã o e s tiv e s s e e n v o lv id o n a s d is a C o ro a , d e s n u d a n d o e x p e c ta tiv a s d is tin ta s e m r e la ç ã o à p o s s ib ilid a d e d e
p u ta s d a lo c a lid a d e e a c e ita v a q u e a m e d iç ã o p u d e s s e re d u z ir a s u a á re a in te rv e n ç ã o d o P o d e r.
o r ig in a l, v is to q u e a c o n f u s ã o d e lim ite s e ra u m a s itu a ç ã o a in d a p io r. E m
r e s p o s ta a s u a s o lic ita ç ã o , o s p r o c u r a d o r e s d a F a z e n d a f o ra m o u v id o s e o S o lic ita çõ es d e t o m b o p o r a n o e p o r c a p it a n ia (1795/1806>
C o n s e lh o U ltr a m a r in o c o n s u lta d o . O p e d id o d o f a z e n d e iro fo i a c e ito .
Ano C a p ita n ia Tom bos
Hei por bem conceder ao Suplicante a Provisão que pede e ou 1795 M a ra n h ã o 4
tro sim ordenar, como por esta ordeno ao Governador e Capi M a ra n h ã o 25
tão Geral da Capitania da Bahia nomeie Ministro da sua maior P e rn am b u c o 2
confiança, um daqueles que há pouco foram despachados para S e rg ip e 3
a Relação da dita cidade, ao qual confiro Jurisdição Ordinária, S ã o P a u lo 1
1796
para que a vista dos títulos que se lhe representarem, ouvidas P a ra íb a 1
as partes, lhe defira R io d e J a n e ir o 1
S a n ta C a ta rin a 1
A s s im , c o n f o r m e a d e c is ã o , a C o ro a in te r v e io d ir e ta m e n te n o p o te n c ia l S /Id e n tific a ç ã o 2
c o n flito . O s e s fo rç o s d e B a r re to A ra g ã o e m m e d ir e d e m a r c a r s u a s te r r a s , M a ra n h ã o 5
P e rn am b u c o 1
n o e n t a n t o , c o n t i n u a r a m . E m 2 4 d e a b r i l d e 1 7 9 9 , o u s e ja , q u a s e t r ê s a n o s
1797 S e rg ip e 1
d e p o is d e s e u p r im e ir o p e d id o , o f a z e n d e ir o v o lta v a a s o lic ita r u m a p r o v i 1
B a h ia
S /Id e n tific a ç ã o 2
t AHU. Livro de Registro de Provisões. Antonio Monis de Souza Barreto Aragão. Códice
109, p. 148/149. 5 AHU. Livro de Registro de Provisões. Antonio Monis de Souza Barreto Aragão. Códice
4 Idem. 109, p. 152/152V.
180 M árcia M aria M enendes M otta
D ireito á terra no IIuami, 181
Ano C ap itan ia Tom bos A presença recorrente de pedidos de provisão para a capitania do M.i
Maranhão 3 ranhão (das 128 provisões, 59 correspondem àquela região) parece coii
Pernambuco 2 firmar a tendência dos sesmeiros de se remeterem diretamente à Coroa
1798 Bahia 2
na intenção de regularizar sua terra em consonância, inclusive, como a
Paraíba 1
tendência de se continuar a solicitar sesmarias diretamente ao Conselho, a
Para 1
partir de I808.‘
Bahia 5
Pernambuco 2 Interesses comuns entre sesmeiros e a Coroa poderiam denotar o "fe
1799 Maranhão 1 char os olhos" para flagrantes usurpações de terra. Interesses divergentes,
Paraíba 1 porém, poderiam significar discutir o direito à terra de um potentado. É o
Rio de Janeiro 1 que veremos a seguir, a partir de dois casos: Ignácio Correia Pamplona e
Piauí 4 Garcia Paes Leme.
Bahia 1
Maranhão 1
1800 A Coroa e seus vassalos: Ignácio Pamplona e
Paraíba 1
Pernambuco 1 Garcia Paes Leme
S/Identificação 2
Maranhão 6 Conhecido como um dos delatores da Inconfidência Mineira, Ignácio
1801
Bahia 4 Correia Pamplona foi senhor e possuidor de extensos territórios. Um dos
Maranhão 3 inconfidentes, Cláudio Manoel da Costa era juiz das demarcações de sesma
1802
Bahia 1 rias do termo da Vila Rica,^ mas foi o delator que conseguiu assegurar uma
Bahia 5 enorme área de terras.
Maranhão 4 Ignácio Correia Pamplona, português, nasceu em 1731 na ilha Terceira
1803 Pernambuco 3
e era filho de Manoel Correia de Melo e de Francisca Xavier de Pamplona.
Paraíba 1
Casou-se com Eugenia Luiza da Silva, que era mulata e filha de uma ne
S/Identificação 1
Maranhão 3 gra forra, de pai desconhecido. Com ela, Ignácio teve seis filhos: Simplícia,
Pernambuco 3 Rosa, Theodora, Inácia, Bernardina e Inácio Correia Pamplona Corte Real,
1804 que se tomou padre.®
Rio de Janeiro 1
S/Identificação 1
Maranhão 3
6 Discuto esta informação no capítulo seguinte.
1805 Pernambuco 1
7 Há uma extensa bibliografia sobre a Inconfidência Mineira que não me cabe aqui discu
Bahia 1
tir. O que importa é apenas destacar a proximidade das críticas que haviam sido feitas
Bahia 4 pelos inconfidentes à administração da Coroa, o fato de um dos inconfidentes ser juiz
1806 Pernambuco 3 de demarcação de sesmarias e de um dos delatores ter conseguido confirmar grandes
Maranhão 1 extensões de terra.
Fonte; AHU. Livro de Registro de Provisões. Códices lOV (lyos/IHOÁ) 1 Códice UO 8 A biografia de Ignácio foi retirada da tese de doutorado de Márcia Amantino. O Mundo
(1802/1807) das Feras. Os moradores do Sertão do Oeste de Minas Gerais. Rio de Janeiro, Universida-
182 MArcia M aria M enendes M otta
D ireito à terra no Brasil 183
S e g u n d o M á rc ia A m a n tin o , n o s s o p e rs o n a g e m fo ra c o m e r c ia n te n o R e s e n d e - u m c i r u r g i ã o e u m a c o m p a n h i a d e o i to m ú s ic o s , d o s
R io d e J a n e i r o , a b a s t e c e n d o V ila R ic a e S ã o J o ã o d e i R e i. S u a v id a f o i m a r q u a is u m s ó e r a b r a n c o e s e te e r a m e s c r a v o s n e g r o s d e p r o
c a d a p o r e x p e d iç õ e s d e c o m b a te a o s ín d io s e q u ilo m b o la s . J á e m 1 7 6 4 , e m p r i e d a d e d o m e s t r e - d e - c a m p o , c o n s t a n d o - s e a i n d a 'd o is p r e t o s
r a z ã o d o c o n v it e f e ito p e lo e n t ã o g o v e r n a d o r L u iz D io g o L o b o d a S ilv a , d e u t a m b o r e s '; c o m s u a s c a ix a s c o b e r t a s d e e n c e r a d o .'^
in íc io a u m a d a s d e z e n a s d e e x p e d iç õ e s p a ra o p o v o a m e n to d e M in a s G e
ra is . E m 1 7 6 5 , e m c o m p a n h ia d e v á rio s o u tro s , a d e n tr o u p e la s n a s c e n te s A p a la v r a s e r tã o e r a s e m p r e a s s o c ia d a à n o ç ã o d e v a z io , " a b a r b á
d o R io S ã o F ra n c is c o . P o r c o n ta d e s ta d ilig ê n c ia , o g o v e r n a d o r c o n c e d e u rie , e a s e lv a g e ria , g ra ç a s a o f a to d e s e r u m lu g a r h a b ita d o p o r ín d io s e
v á r ia s s e s m a r ia s a o s q u e p a r tic ip a r a m d a e x p e d iç ã o .’ " A c a u s a p r in c ip a l q u ilo m b o s " .* ’ C o m o u m lo c a l a s e r c o n q u is ta d o , o s e r tã o e r a o p a lc o p r iv ile
p a ra q u e o s r e q u e r e n te s p e d is s e m te r r a s e ra a q u e tin h a m p a rtic ip a d o d e g ia d o p a r a o s e x p lo r a d o r e s , c io s o s d e o u r o e r iq u e z a d a s te r r a s o c u p a d a s p o r
a lg u m a f o r m a n a c o n q u is ta d o s e r t ã o d e v o lu to d o R io S ã o F ra n c is c o , S e r r a a q u e le s n ã o r e c o n h e c id o s c o m o le g ítim o s o c u p a n te s . A s e x p e d iç õ e s tin h a m
d a M a r c e l a e Q u i l o m b o d o A m b r ó s i o ” .*“ S e g u n d o a a u t o r a , p a r t i c i p a r a m e n tã o o s e n tid o d a c o n q u is ta . I g n á c io P a m p lo n a , u m d o s m a is d e s ta c a d o s
d e s s a e x p e d iç ã o ; J o s é A lv e s D in iz , A fo n s o L a m o u n ie r, J o s é F e r n a n d e s d e r e p r e s e n t a n t e s d e s t a v i s ã o , a f i r m a v a q u e o p o v o a m e n t o d e s s a s t e r r a s " c r.i
L im a , A n to n io J o s é B a s to s , I n á c io B e r n a rd e s d e S o u z a , S im ã o R o d r ig u e s u m a e m p r e s a d ifíc il e q u e j á h a v ia s id o t e n t a d o m u ita s o u t r a s v e z e s c s e m
d e S o u z a , P e d r o V ie ira d e F a r ia e T im ó te o P e r e ir a P a m p lo n a . N o e n t a n t o , s u c e s s o g r a ç a s à o p o s i ç ã o d o g e n t i o b r a v o e a d e n e g r o s q u e p o r t o d o s o s la
a lé m d e I g n á c io , a p e n a s A f o n s o L a m o u n ie r s o lic ito u a c o n fir m a ç ã o d e s u a d o s c e rc a v a m e s te c o n tin e n te " .” A lé m d is s o , Ig n á c io P a m p lo n a e x p re s s a v a
s e s m a ria s , e m 1 8 0 7 , re c e b e n d o , e n tã o , trê s lé g u a s d e te rra s d e s e rtã o , n o c o m c la r e z a a s a m e a ç a s r e p r e s e n ta d a s p e lo s q u ilo m b o s , q u a n d o , e m 1 7 7 0 ,
" s e g u n d o b r a ç o d o R io d e S ã o F r a n c is c o , p a ra d e n tr o o m e s m o rio . S e r ra d a e s c r e v e a o c o n d e d e V a la d a re s p a r a in f o r m a r " q u e o s q u ilo m b o la s c s ia v a in
M a rc e lla e Q u ilo m b o d o A m b r o z io " .“ d e s tr u in d o a s f a z e n d a s , d e s tr u in d o tu d o , p o n d o - o e m m is e rá v e l e s ta d o , u l
I g n á c io C o r r e ia P a m p lo n a é a in d a c o n h e c id o p o r s u a d e c is iv a p a r tim a m e n te le v a n d o s e u s e s c ra v o s e e s c ra v a s , se m u m só lh e d e ix a re m " .' '
tic ip a ç ã o n a e x p e d iç ã o d e 1 7 6 9 , p o r e le r e la ta d a c o m riq u e z a s d e d e ta M á rc ia A m a n tin o ta m b é m a fir m a q u e d u r a n te to d a a s u a v id a , Ig n á c io
lh e s . P a r a L a u r a d e M e llo e S o u z a : C o rre ia P a m p lo n a c o n s e g u iu v á ria s s e s m a ria s , " q u a s e to d a s c o m a e x te n s ã o
d e t r ê s l é g u a s e m q u a d r a . E l e t a m b é m p o s s u í a a F a z e n d a d o s P e r d i z e s , .i
O contraste entre barbárie e civilização marca todo o relato, d o M e n d a n h a , a d o C a p o te , e u m a o u tr a n a L a g o a D o u r a d a , fre g u e s ia d o s
sugerindo ser constitutivo das expedições desse gênero e mos P a d r o s , c o m a r c a d o R i o d a s M o r t e s " .'* ' E m r a z ã o d a c o n q u i s t a d o B a m n i ,
trando uma face insuspeitada do cotidiano dos caçadores e qui C a m p o G ra n d e , c o n s e g u iu a in d a o ito s e s m a ria s , u m a d e le e a s o u tra s e m
lombolas. Não eram apenas homens destemidos e sertanistas
semifacinorosos que entravam para o sertão na busca de novos
12 Laura de Mello e Souza. "Violência e práticas culturais no cotidiano de uma expedição
achados de ouro e mocambos de escravos fugidos, ou na es contra quilombolas. Minas Gerais, 1769". In: João José Reis & Flávio dos Santos Gomes.
perança das sesmarias obtidas como recompensa. A comitiva liberdade por um fio. História dos Quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
tinha também um capelão - no caso, o padre Gabriel da Costa 1996, p. 199.
I 3 Márcia Amanticio, op, cü.. p. 45.
14 Apud Márcia Amantino. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional Seção de Ma
de Federai do Rio de Janeiro, 2001.
nuscritos, 18, 2, 6, documento 7.
9 Idem, p. 192.
15 Idem, p. 147. Arquivo Conde de Valadares. Biblioteca Nacional Seção de Manuscritos, 18,
10 Ibidem.
2, 6 documento 65.
11 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Antonio Afonso Lamounier. Códice 167,
16 Idem. p. 193.
184 MArcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 185
17 Ibidem. 23 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Simplicia Correia Pamplona. Códice 166, fo
lhas 66 V a 67 v.
18 Ibidem.
19 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Ignácio Correia 1’aiiiplona. Códice 166, folhas 24 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Ignaãa Correia Pamplona. Códice 166, folhas
69 a 70. 72 a 73.
20 AHU. Carta de Confinnação de Sesmarias. Ignácio Correia I'.niiploii.i. ( lódicc 166, folhas 25 AHU. Carta de Confirmação de Sesmarias. Bemardina Correia Pamplona. Códice 166,
69 a 70. folhas 68 a 69.
186 MArcia M aria M enendes M oita D ireito à terra no Brasil 187
41 ibidem.
42 AHU. Rio de Janeiro, tx. 179, doc. 47. Consulta do Conselho Ultramarino ao príiu'l|)c
36 ANTT. Ministério do Reino. Consulta do Conselho Ultramarino. Maço 322.
regente D. João sobre o requerimento de Garcia Rodrigues Pais Leme.
37 Idem.
43 AHU. Rio de Janeiro, cx. 177, doc. 5. Ofício do chanceler da Relação do Rio de Janeiro,
38 Ibidem.
Luís Beltrão de Gouveia de Almeida.
39 Ibidem.
44 AHU. Rio de Janeiro, Requerimento do capitão Bernardo José Dantas, cx. 173, doc. 17,
40 Ibidem. cx. 180, doc. 36.
192 MAr o a M aria M enendes M o m D ireito à terra no Brasil 193
n e n h u m lu c ro p o d ia e s ta r e c e b e r d e u m a s te rra s in c u lta s e a b a n d o n a d a s
n a q u e le s s e rtõ e s " , v ira s e r ú til a o s u p lic a n te , c o n v e n ie n te a o P ú b lic o e i n D o alargam ento da concessão e territorialidade
te re s s a n te à R e a l F a z e n d a " ’* a m e n c io n a d a c o n c e ssã o . E m s u a s d is p u ta s p a ra s e r r e c o n h e c id o c o m o o le g a l o c u p a n te d a q u e la s
A q u e s tã o q u e s e c o lo c a v a a p a r tir d o r e q u e r im e n to e n v ia d o p e lo te r r a s , G a rc ia P a e s L e m e a ju d a v a a tr a z e r à lu z a fa c e m a is in te r e s s a n te d a
v ic e -re i e ra o fa to d e q u e n ã o se p o d ia a s s e g u ra r q u e a s te rra s re c e b id a s c o n c e s s ã o d e s e s m a r ia s e m f in s d o s é c u lo X V III. E la s p o d e r i a m s e r d a d a s a o s
p o r G a rc ia P a e s L e m e e r a m a s m e s m a s d a s q u e já " e s ta v a m n a p o s s e s s ã o " in d iv íd u o s q u e n ã o te m q u a lid a d e a lg u m a d e s e rv iç o s " , r e v e la n d o , p o r ta n
d e o u tr o s te r c e ir o s ta is q u a is s ã o a fa z e n d a r e a l e q u a lq u e r o u tro q u e e s tã o to , o r e c o n h e c im e n to d e u m a d in â m ic a d e o c u p a ç ã o m a r c a d a m e n te in te n s a
d e s f r u ta n d o c o m títu lo o u s e m e le P o r e s ta ra z ã o , o C o n s e lh o e m itia e a p r o p a g a ç ã o d e s s a c o n c e s s ã o . N e s s e s e n tid o , a f la g r a n te e ó b v ia d ife r e n ç a
o p a re c e r s e g u n d o o q u a l o v ic e -re i d e v e ria r e m e te r à S e c re ta ria a e n tr e o s c u ltiv a d o re s - a lg u n s s e n h o r e s e p o s s u id o r e s d e trê s lé g u a s , e n q u a n
to o u tro s , d o n o s d e a lg u m a s b r a ç a s - n ã o in ib ia o f a to in c o n te s tá v e l d e q u e
a Carta de Sesmaria que obteve o sobredito Garda Paes. E que o s s e s m e ir o s o u p o te n c ia is s e s m e ir o s d e s e ja v a m u m t ítu lo le g ítim o , u m p o r to
o mesmo Vice-Rei remeta sua cópia do Requerimento que se
s e g u ro , n u m m a r d e c o n flito s e d is p u ta s p e lo a c e s s o à te r r a . O s p e q u e n o s
processou neste conselho promovam e motivam aquela Mer
cê acompanhando-a outra igual cópia da Portaria quem manda la v ra d o re s p e rc e b ia m h a v e r c u m p rid o a s d e te rm in a ç õ e s e le m e n ta re s p a ra a
lavrar a dita carta, para que combinando um e outros papéis se c o n c e s s ã o d e s e s m a ria s . E le s e r a m c u ltiv a d o r e s d e p e q u e n a s p a rc e la s d e te r
possa ver no conhedmento se são as mesma terras, de que ele ra s , e p o d ia m a s s im fa z e r ju s a o títu lo d e s e ja d o . O s q u e tin h a m a s s e n h o r a d o
Vice-Rei tratou no dito seu Ofício, Autorizando a V.A.Rpara que e n o rm e s e x te n s õ e s d e te r r a s ta m b é m s e s e n tia m e m c ré d ito c o m a C o ro a .
ele sendo as mesmas no todo ou erh parte faça logo caçar e aver N ã o s o m e n t e e le s h a v ia m c u ltiv a d o a o m e n o s p a r t e d a q u e la s te r r a s , c o m o
bar todos os registros que ali se houverem feito da dita Carta.” s e rv ira m a C o ro a e, p o r ta n to , e s ta v a m a n s io s o s p o r r e c e b e r ta l m e rc ê .
S e le m b r a r m o s d a s ila ç õ e s d e D o m R o d r ig o ,” d is c u tid a s p á g in a s a tr á s ,
O c a s o d e G a r c ia P a e s L e m e a n u n c ia e d e n u n c ia a s p o s s ív e is i n t e r v e n p o d e m o s c o m p re e n d e r c o m o a s s e s m a ria s to rn a r a m - s e u m o b je to d e s e ja d o
ç õ e s e m q u e s t ã o d e t e r r a s . E m f i n s d o s é c u l o X V III, r e s u l t a d o d e u m i n t e n s o e p a s s ív e l d e s e r c o n s e g u id o p o r d is tin t o s e s tr a to s s o c ia is . M u ito s d e s s a s c o n
p ro c e s s o d e o c u p a ç ã o d e te rra s , a c o n c e ssã o se to rn a a o s p o u c o s m a rc a d a - c e ss õ e s e ra m , c o m o v im o s , u m a e s tr a té g ia d e s e s m e iro s p a ra e s te n d e r s u a
m e n te te r r ito ria l, a n te s d e p o lític a . N ã o à to a , c o m o v im o s , e n tr e o s a n o s d e o c u p a ç ã o p a ra a lé m d e h ip o té tic o s lim ite s o rig in a is . M a s h a v ia ta m b é m o s
1 7 9 5 a 1 8 0 6 f o r a m s o lic ita d a s 1 2 8 p ro v is õ e s r e la tiv a s à d e m a r c a ç ã o . A in d a q u e a p e d ia m p e lo q u e e la s e r a m d e f a to , o u s e ja , r e s to s d e te r r a , p e d a ç o s
q u e o n ú m e r o p a re ç a in s ig n ific a n te , n o c o n ju n to d e te rra s já in c o r p o r a d a s a in d a liv re s , f r o n te ir iç o s a o u t r a s c o n c e s s õ e s e f a z e n d a s . A s s im s e n d o , é p o s
(le m b re m o s a q u i q u e s ó n o p e río d o d e 1 7 9 5 a 1 8 2 3 fo ra m c o n c e d id a s 1 0 2 4 s ív e l a f i r m a r q u e j á n ã o h a v i a , e m f i n s d o s é c u l o X V I II , u m a r e l a ç ã o d i r e t a
s e s m a r ia s ) , e la s r e v e la m o e n s a io d e a lg u n s e m s o lu c io n a r o u e v ita r c o n flito s . e n t r e a m e r c ê - s e s m a r i a s - e o eth os n o b i l i á r q u i c o . O s d a d o s a b a i x o p a r e c e m
E m q u a s e to d a s e la s , o p e d id o d e d e m a r c a ç ã o v in h a a c o m p a n h a d o p o r in f o r c o n f ir m a r o ra c io c ín io . V e ja m o s c o m m a is d e ta lh e s e s ta ú ltim a in fo r m a ç ã o .
m a ç õ e s re la tiv a s à s q u e s tõ e s p e n d e n te s e n tr e o s c o n fro n ta n te s .
53 "Também aqui consta que muitas vezes se tem dado no Brasil sesmarias a pessoas que
51 Ibidem. não têm meios, nem indústria para tirar partido delas, e que depois perpetuam em si um
direito que nada lhes é vantajosos, e que vem ao contrário a prejudicar ou aos vizinhos das
52 Ibidem.
mesmas sesmarias, ou aos outros que têm cabedais e que as poderiam tomar".
M arcia M aria M enendes M otta D ireito à terra no Brasil 197
I n f o r m a ç õ e s so b r e o s t ít u l o s d o s se s m e ir o s q u a n d o A lé m d is s o , e m f in s d o s é c u lo X V III, o I m p é r io a d q u ir i a u m a t e r r i t o r i a l i
DA SOLICITAÇÃO DE SESMARIAS (1795/1823) d a d e m a r c a n te e ta l p ro c e s s o im p lic a v a o r e c o n h e c im e n to d a s in ú m e r a s
g r a d a ç õ e s d e c u ltiv a d o re s , d e p e rs p e c tiv a s d is tin ta s n a a ç ã o d e o c u p a r . A
T ítu los N ú m e ro P ercen tu al p a r tir d a c h a n c e la re a l, é p o s s ív e l q u e m u ito s p a s s a s s e m a a lm e ja r o u tr a s
Capitão 14
m e rc ê s , s e n tin d o -s e c o n c re ta m e n te p r iv ile g ia d o s e m r e la ç ã o a u m a m a io
Alferes 09
ria q u e a p e n a s s e a m p a r a v a n o a u to - r e c o n h e c im e n to d e s e r u m le g ítim o
Tenente 06
o c u p a n te , m a s q u e n ã o p o d ia u s u f r u ir d e u m títu lo d e d o m ín io e m e v e n
Padre 04
Tenente-Coronel 02
tu a is q u e re la s c o m s e u s c o n fro n ta n te s . H a v ia a in d a o s q u e , a d e s p e ito d a
Capitão-Mor 01
a u s ê n c ia d e u m d o c u m e n to s u f ic ie n te m e n te le g ítim o p a r a r e f e r e n d a r s u a
Sargento-Mor 01 o c u p a ç ã o , p a s sa s s e a v e r c o m o n ã o m e n o s le g ítim o o e m p r e g o d a v io lê n c ia
Guarda-Mor 01 n a c o n sa g ra ç ã o d e su a p o sse e m d e trim e n to d e o u tre m . E m s u m a , o q u e
Ajudante 01 d e s e jo a firm a r é q u e se in titu la r s e n h o r d e u m a te r r a , c h a n c e la d a c o m o
Coronel 01 m e rc ê , e ra u m a d is tin ç ã o q u e m a n tin h a n ã o a p e n a s s u a e fic á c ia s im b ó lic a ,
Sem Indicação 257 86,53% m a s - e n q u a n to h o n ra ria - p ro d u z ia a d ife re n ç a c o n c re ta e n tr e a q u e le q u e
Total 297 tin h a o títu lo e a q u e le q u e n ã o o tin h a .
FONTE:AHU. Livro de Registro de Cartas de Sesmarias confirmadas do Conselho Ultra
marino. Capitania do Rio de Janeiro. 1795/1798 - Códice 164. 1798/1801 - Códice 165.
1 8 0 1 /1 8 0 4 - Códice 166. 1805/1807 - Códice 167. 1807/1823 - Códice 168. Ministério da
Justiça. Arquivo Nacional. Relação de Algumas Cartas das sesmarias Concedidas eni Teiriló-
rio da Capitania do Rio de Janeiro. 1714/1800. Rio de Janeiro, 1968.
A in d a q u e o s d a d o s a c im a p o s s a m e s ta r s u b e s tim a d o s , é m a is q u e r a
z o á v e l s u p o r q u e o s s e r v iç o s m il it a r e s n ã o e r a m u m a " v ia d e c is iv a p a r a o
r e c e b i m e n t o d e s t a m e r c ê " , n o c a s o , a s s e s m a r i a s .^ " ' É c o e r e n t e a f i r m a r a i n
d a q u e n o s te r r itó r io s c o lo n ia is " in titu la r - s e s e n h o r d e u m a te r r a e r a u m a
d is tin ç ã o q u e c o n fe r ia u m a g r a d u a ç ã o n o b iliá rq u ic a , e v o c a tiv a d e o u tro s
te m p o s , e m a n t i n h a a s u a e fic á c ia s im b ó lic a e s o c ia l" ,” m a s - a o c o n tr á r io
d o q u e d e f e n d e N u n o M o n te ir o - ta l títu lo e s ta v a in tim a m e n te lig a d o a u m
e x e rc íc io p r á tic o , o u s e ja , e m p o d e r s e a u to - i n ti tu l a r s e n h o r e p o s s u id o r d e
te r r a s , t e n d o c o m o b a s e u m a m e r c ê q u e lh e c o n fe r ia u m títu lo le g ítim o .
54 Apoio-mc aqui nas considerações de Nuno Monteiro, in.is sigo oiiira direção de análise.
Nuno Gonçalo Monteiro "O Ethos Nobiliárquico no lin.il do Amigo Regime: poder sim
bólico, império e imaginário social". In: Almanack llrazUinisc, ii. 2, novembro de 2005, p.
4-12.
55 Idem, p. li.