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Universidade de São Paulo 1º semestre/2019

Maitê Maldonado de Albuquerque (9340055)


Prof.: Roberto Bolzani

Possibilidade do conhecimento a partir da concepção


de substância sensível como matéria, como forma e
como composto de matéria e forma

"Do que foi dito fica claro o que é a substância sensível e qual é seu modo de ser: ela é,
por um lado, matéria, por outro, forma e ato1, e, num terceiro sentido, o conjunto de
matéria e de forma".2

Para Aristóteles, "as substâncias que são admitidas por todos" 3 são as substâncias
sensíveis, os objetos sensíveis particulares, e é delas que o conhecimento (EPISTEME)
do filósofo, daquele que investiga o que significa ser para as coisas que são, deve partir.
No entanto, em sua concepção, não é possível haver conhecimento dos particulares, pois,
como diz, "nós só conhecemos todas as coisas na medida em que existe algo uno, idêntico
e universal " 4, e as substâncias sensíveis, o objeto de conhecimento da ciência do filósofo,
são particulares sujeitos à geração e à corrupção: são, em determinado sentido, compostos
de matéria e forma.

Tendo em vista isso, buscaremos compreender, a partir do texto da Metafísica,


sobretudo de partes dos livros Sétimo e Oitavo, de que maneira a formulação da noção de
substância sensível, que pode ser concebida em três sentidos diferentes, mas
intrinsecamente relacionados, a saber, enquanto matéria (HÝLE), forma
(MORPHÉ/EÎDOS) e como composto de matéria e forma (SÝNOLON), possibilita que
uma substância possa ser um particular compreendido em termos universais. Assim,
permitindo a Aristóteles conciliar uma concepção de conhecimento uno, idêntico e

1
Não abordaremos aqui as noções aristotélicas de ato e potência, essenciais para a compreensão da questão
aqui esboçada, mas que infelizmente ultrapassaria o espaço aqui disponível.
2
Metafísica, 1043a 26-29
3
Metafísica, 1042a 24
4
Metafísica, 999a 28-29
universal com a consideração de que o que existe na realidade são substâncias sensíveis
que são sempre particulares.

A ciência do filósofo é a "ciência do ser enquanto ser", é aquela que pergunta


sobre o que significa ser para o que é, cabendo a ela investigar o que é primeiro e
fundamental, o ser enquanto ser e suas propriedades. Sua questão concerne, então, a todas
as coisas, pois, se há algo em comum a todas elas, é o fato de que elas são. Se examinada
com mais atenção5, ela leva a constatação de que "o ser se diz em múltiplos significados"6,
isto é, que existem diversos modos de ser para as coisas que são, mas que, no entanto, se
referem sempre "a uma unidade e a uma realidade determinada"7: à substância (OUSÍA).
Há um modo de ser relativamente ao qual os múltiplos modos de ser se referem e que é o
que justamente possibilita que ser se diga de várias formas, um modo com estatuto de
princípio (ARKHÉ), do qual todos os outros dependem e a partir do qual todos os outros
podem ser ditos. De tal forma que, " o que desde os tempos antigos, assim como agora e
sempre, constitui o eterno objeto de pesquisa e o eterno problema: "que é o ser", equivale
a este: "que é a substância"8, e a substância é, portanto, o objeto da "ciência do ser
enquanto ser".

No Livro Quinto da Metafísica, ao expor os significados de substância, Aristóteles


diz que:

"a substância se entende segundo dois significados: (a) o que é substrato último, o qual
não é predicado de outra coisa, e (b) aquilo que, sendo algo determinado, pode também
ser separável, como a estrutura e a forma de cada coisa".9

Sem pretendermos explorar em profundidade esse ponto, mas ao qual recorreremos ao


longo do nosso texto na medida em que ele se faz necessário para entender os três sentidos
nos quais se pode dizer substância na chamada "Doutrina do Hilemorfismo" 10 e que
constitui o objeto que buscaremos esboçar, vemos aqui que a substância se define como
algo determinado (TÓDE TI), um isto, um indivíduo que subjaz, que serve de suporte a

5
Ver Metafísica, 1003a 30 - 1004a 1; 1026a 31-1026b 1
6
Metafísica, 1003a 34
7
Metafísica, 1003a 34
8
Metafísica, 1028b 2-5
9
Metafísica, 1017b 24-25
10
Trata-se de um neologismo dos comentadores, dado que o termo não aparece em Aristóteles, para se
referir à sua doutrina da substância como um composto de matéria e forma.
predicações, mas que não é predicado de nada, justamente por ser um ser separado, por
não precisar ser de algo ou em algo: é substrato (HYPOKEIMENON). Ao mesmo tempo
em que tem que ser aquilo que responde à pergunta "o que é", tem que ter determinações
que permitam dizer o que ela é, que digam da coisa o que ela é por si mesma: é essência
(TI ESTI/TÒ TI ÊN EÎNAI).

A substância é, portanto, algo particular - um ser determinado diferente de todos


os outros - e, simultaneamente, algo que possibilita fazer um discurso universal, dizer o
"o que é" do ser, sem ser ela mesma algo universal, já que é um algo particular. De tal
modo que, dado que a substância é o princípio da ciência do filósofo e que, para
Aristóteles, "se, ao contrário, os princípios não são universais, mas existem ao modo dos
indivíduos, não serão objeto de conhecimento. De fato, a ciência é sempre do
universal"11, parece não haver conhecimento possível do objeto dessa ciência tão
fundamental que abrange todos os seres, tudo o que é. Formulada essa, talvez aparente,
aporia, adentremos, então, na análise da substância entendida como matéria, como forma
e como composto de matéria e forma12, a fim de tentarmos traçar os contornos de uma
possível solução a isso. Tomando a citação abaixo como eixo, tentaremos desenvolver
alguns pontos aí presentes e expor a compreensão de certos elementos que auxiliem no
delineamento da saída apresentada por Aristóteles.

"Todas as substâncias sensíveis tem matéria. E substância é o substrato, o qual, em certo


sentido, significa a matéria (chamo matéria o que não é algo determinado em ato, mas
algo determinado só em potência), num segundo sentido, significa a essência e a forma
(a qual sendo algo determinado, pode ser separada pelo pensamento), e, num terceiro
sentido, significa o composto de matéria e forma (e só este está submetido a geração e a
corrupção e é separado em sentido próprio, enquanto das substâncias entendidas
segundo a forma algumas são separadas, outras não são)".13

A matéria é aquilo que é em si mesmo indeterminado, mas que pode vir a se tornar
algo, ela é o substrato em que as determinações da substância incorrem e é o que permite

11
Metafísica, 1003a 14-15
12
Já de início seria importante ressaltar que essa divisão em três modos de concepção das substâncias
sensíveis não se trata de uma divisão real, como se Aristóteles estivesse dizendo que algumas substâncias
são forma, outras são matéria, e outras são um composto de matéria e forma; trata-se, na verdade, de três
sentidos em que elas podem ser ditas.
13
Metafísica, 1042a 25-31
à substância ser subjacente às suas determinações. No entanto, não se depreende daí que
matéria seja substância e, no Livro Sétimo da Metafisica, Aristóteles expõe a
impossibilidade disso14. Segundo ele, procedendo-se de maneira abstrata, poder-se-ia
tentar extrair as determinações da matéria, buscando saber o que ela é. Mas, com isso, se
chegaria a um indeterminado, que nada é, e, no entanto, a substância tem de ser algo, e
tem de ser algo separável (KHORISTÓN) e ser algo determinado. De tal forma que todas
as substâncias sensíveis possuem matéria, como é explicitado no trecho central aqui
citado, mas não são pura e simplesmente matéria. É a matéria que possibilita que a
substância seja compreendida como substrato, garantindo a individualização do seres, já
que nela incorrem as determinações que os particularizam, mas algo mais tem de estar
presente para que a substância não seja algo indeterminado, dado que a matéria é a pura
indeterminação capaz de ser determinada, mas não de determinar-se por si mesma.

Em um segundo sentido, Aristóteles diz que a substância significa a essência e a


forma. Vemos aqui que a noção de forma está permitindo retomar a noção de essência,
que vimos no início. A forma é aquilo que determina o indeterminado que a matéria é, e
é, portanto, aquilo que explica por que as coisas são o que elas são, ou seja, é a essência.
É possível pensar a forma sem matéria, separar a matéria do composto de forma e matéria,
e conceber a forma abstraída do composto, como explicita Aristóteles, a respeito de uma
estátua de bronze, por exemplo:

“Assim a matéria é parte também da estátua, considerada como composto concreto de


bronze; mas não é parte da estátua considerada como pura forma".15

No entanto, a concepção dessa forma separada é uma formulação possível apenas no


discurso (LOGOS). Pode-se pensar a forma comum a uma multiplicidade, como a forma
"estátua" a respeito de um conjunto de estátuas, que são cada uma delas diferentes uma
da outra, são estátuas particulares, em função de serem também um algo particular, uma
matéria sendo determinada por uma forma. De tal maneira que toda forma que realmente
existe, que tem estatuto ontológico, é sempre uma forma que está em um certo composto,
determinando a matéria deste.

Em um terceiro sentido, a substância sensível é, então, um composto de matéria e


forma, uma matéria sendo determinada por uma forma, tornando-a, assim, um algo

14
Ver Metafisica, 1029a 10-28
15
Metafísica, 1035a 6
particular, mas cujas determinações essenciais são determinações universais, são aquilo
que permitem dizer o que o composto é. Isso é o que torna possível que o indivíduo seja,
que tenha existência separada, que seja "separado em sentido próprio" (HAPLOS)16,
diferentemente da substância tomada no sentido de forma, que pode ser separada apenas
no discurso.

Essas duas características, ser um particular e ser um particular que pode ser dito
por universais, só podem existir, portanto, no composto de matéria e forma, e ele é o que
realmente tem existência, é o que está sujeito à geração e à corrupção: "ninguém produz
ou gera a forma; o que é produzido é o indivíduo e o que é gerado é o conjunto de matéria
e forma".17 Há, como vemos, uma dependência recíproca entre matéria e forma, elas só
podem ser no sentido pleno se forem uma agindo sobre a outra, e, enquanto separadas,
tem que ser pensadas de modo relativo: matéria de algo e forma de algo.

A abstração da forma só é possível, então, porque a matéria é algo determinado


pela forma, é um indivíduo particular, um isto, ao mesmo tempo em que o isto só pode
ser um algo determinado porque a matéria, o indeterminado que ele também é, está sendo
determinada pela forma18. Onde não há matéria, há apenas forma pensada isoladamente,

16
Quanto à discussão dos comentadores a respeito do que tem anterioridade ontológica (tem estatuto
simples - HAPLÔS), a forma ou o composto, dado a divergência de concepção apresentada por Aristóteles
nos livros Sétimo e Oitavo da Metafísica, sendo conferida, no primeiro, maior anterioridade e ser à forma
do que à matéria, e, consequentemente, afirmando-se a anterioridade da forma em relação ao composto (ver
Metafísica, 1029a 29); e, no livro posterior, concebendo-se anterioridade ontológica ao composto (ver
Metafísica, 1042a 30); adotamos aqui, em função de uma concepção dos livros Sétimo, Oitavo e Nono
como uma espécie de unidade, sendo as questões discutidas no Livro Sétimo retomadas e esclarecidas no
Livro Oitavo, e, sobretudo, por um entendimento da noção de composto de matéria e forma como dotada
de um o relacionamento intrínseco e de uma interdependência entre matéria e forma, sendo o composto
aquilo que satisfaz as condições que possibilitam que seja ele o que efetivamente e plenamente existe,
adotamos aqui a interpretação de conferir o caráter de anterioridade ontológica ao composto de matéria e
forma.
17
Metafísica, 1043b 16-17
18
A distinção feita por Aristóteles no Tratado das Categorias (parte do Órganon, o conjunto de textos
lógicos de Aristóteles) entre substância primeira e substância segunda (ver Categorias, 2a1 11-20), e que,
de certa maneira, está operando na Metafísica, auxilia a compreender a relação entre a substância enquanto
forma e a essência, e a relação da forma com o composto. Em linhas gerais, Aristóteles chama substância
primeira "aquilo que não é nem dito de um sujeito nem em um sujeito", ou seja, aquilo que não é um
subjacente e que não está em um subjacente: "um homem", "um certo homem", "este homem", por exemplo;
e substância segunda, as espécies a que as substâncias ditas primeiras pertencem, isto é, no vocabulário
adotado aqui, as determinações da substância primeira que respondem à pergunta "o que [ela] é", no
exemplo considerado, "homem".
de tal maneira que esta não é passível de geração. A forma enquanto tal é um conjunto de
determinações que só serão algo determinado e existente em sua relação com a matéria.19

No entanto, se o composto de matéria e forma é um indivíduo determinado e é


aquilo que é gerado e corrompido, não é possível haver conhecimento dele. Se, para
Aristóteles, "a definição e a ciência referem-se sempre aos universais e não aos
particulares"20, e o conhecimento tem que ser algo eterno e imutável, não se pode
conhecer a substância sensível quando tomada no sentido de composto. Assim:

"das substâncias sensíveis e particulares não existe nem definição nem demonstração21,
enquanto tem matéria, cuja natureza implica a possibilidade de ser e de não-ser: por isso
todas essas substâncias sensíveis individuais são corruptíveis"22.

A matéria, aquilo que "por si é incognoscível"23, impossibilita que haja


conhecimento das substâncias sensíveis enquanto composto de matéria e forma, já que
ela recebe tanto as determinações essenciais da forma, que permitem dizer o que o
composto necessariamente é, mas também determinações acidentais, isto é, que podem
ser ou não-ser, que não são necessariamente 24.

Entretanto, se o conhecimento envolve exigências que não podem ser satisfeitas


pelas substâncias sensíveis que efetivamente existem, os compostos de matéria e forma,
ele só é possível partindo delas:

19
Fica claro, então, que Aristóteles não está dizendo que aquilo que no composto é matéria é o que faz com
que ele seja uma substância única, e, inversamente, aquilo que no composto é forma é o que garante que
ele seja universal. Isso não se dá assim porque a forma, como explicitado na nota anterior, é essência, o que
é comum a determinado conjunto de indivíduos, e, ao mesmo tempo, substância primeira, aquilo que é
próprio de cada indivíduo.
20
Metafísica, 1059b 26
21
Não discutiremos aqui a concepção aristotélica de conhecimento como definição (HORISMÓS) e
demonstração (APÓDEIXIS), como silogismo demonstrativo.
22
Metafísica, 1039b 29-30
23
Metafísica, 1036a 8
24
Não abordaremos aqui as noções aristotélicas de necessidade e acidente. No entanto, para auxiliar a
compreensão, cabe dizer que, para Aristóteles, segundo as definições do Livro Quinto da Metafisica,
"acidente significa o que pertence a uma coisa e pode ser afirmado com verdade da coisa, mas não sempre
nem habitualmente" (Metafísica, 1025a 15-16); e necessário é aquilo "que não pode ser diferente do que
é"(Metafísica, 1015a 35), em seu sentido primeiro e fundamental "é o simples, pois este não pode ser de
muitos modos e, consequentemente, não pode ser ora de um modo, ora de outro, pois nesse caso seria de
muitos modos." (Metafísica, 1025a 13-14).
"não existe definição do composto como, por exemplo, deste círculo ou de um círculo
particular (...). estes só são conhecidos mediante intuição ou percepção25; e quando não
estão mais atualmente presentes a nossa intuição ou percepção, não podemos saber se
existem ou não; todavia eles sempre podem ser constituídos e definidos em sua noção
universal".26

O conhecimento parte da percepção do que há na realidade, os compostos particulares,


no entanto, ele não se refere a eles, não são eles que constituem propriamente o objeto do
conhecimento, pelas razões que já explicitamos mais acima. Mas eles possuem
determinações que podem ser conhecidas, que podem ser formuladas no discurso, as
determinações da forma. A concepção abstrata da forma permite conceber abstratamente
os universais27, conceber aquilo que, na multiplicidade de um conjunto de particulares, é
comum a todos eles, por ser as determinações que eles necessariamente têm que ter para
poderem ser aquilo que eles necessariamente são, permitindo, assim, a produção de um
discurso universal sobre os particulares.

Esse conhecimento satisfaz as condições de ser algo uno, idêntico e universal. É


a apreensão da unidade que está presente como o mesmo em todos os indivíduos do
conjunto de uma multiplicidade, mas que é diferente de cada um dos casos determinados;
dessa essência que é imutável no sentido da necessidade das determinações presentes em
seu conteúdo, isto é, por ser aquilo que diz o que a coisa é, que ela não poderia não ser e
que ela eternamente será; e que é universal por ser aquilo que é comum a muitos. No
entanto, esse conhecimento universal não tem estatuto ontológico substancial, ele pode
ser apreendido a partir dos particulares, e não tem existência separada destes, encontra-se
sempre a eles associado28. De tal maneira que o conhecimento não produz algo que já não

25
Foge a nosso escopo discutir aqui as ideias de intuição (NÓESIS) e percepção.
26
Metafísica, 1036a 1-8
27
Não discutiremos aqui de forma detalhada os processos intelectuais que permitem essa operação de
extração, a partir dos diversos compostos, da forma, a saber: a indução (EPAGOGE) e a abstração.
28
Toda essa temática aqui desenvolvida e, de certa a forma, os conteúdos discutidos na Metafísica, perdem
muito de sua riqueza e da profundidade de sua elaboração quando não relacionados ao pano de fundo do
platonismo com o qual Aristóteles está em diálogo nessas elaborações, sobretudo a Doutrina das Ideias de
Platão e a noção platônica de participação. Obviamente foge a nosso escopo tecer possíveis aproximações
e distanciamentos, no entanto, nesse ponto a respeito do estatuto ontológico dos universais que são objeto
de conhecimento, é interessante ressaltar a diferença entre a concepção platônica de forma (ou Ideia), ao
menos segundo a interpretação de Aristóteles, como aquilo que tem existência separada e da qual as coisas
particulares devem participar para que sejam aquilo que são, e a concepção de Aristóteles, em que forma
esteja presente nos particulares, mas tampouco é algo que existe em sentido pleno nas
coisas: o que temos é algo de universalizável no particular, algo que pode ser concebido
como universal.

É, portanto, apenas a partir da noção de substância sensível apreendida nestes três


sentidos, como matéria, como forma, e como composto de matéria e forma, que é possível
conciliar essa concepção de conhecimento e o fato de que o que tem existência separada
são os compostos particulares. É enquanto composto de matéria e forma que a substância
pode ser efetivamente. Sem a matéria ou sem a forma não há como conhecer a substância
sensível, o objeto da ciência do ser enquanto ser.

O ponto central dessa articulação, pelo menos no recorte que fizemos aqui, e que
esperamos ter ao menos exposto um início de compreensão, é a duplicidade do significado
de substância enquanto composto e enquanto forma, já que é isso que permite a Aristóteles
satisfazer as duas exigências apresentadas, ainda que, e devemos insistentemente lembrar,
os três sentidos de concepção da substância estejam intrinsecamente relacionados e sejam
interdependentes entre si. O composto, enquanto união da matéria com a forma,
possibilita a individualização da substância, isto é, que ela seja uma certa matéria sendo
determinada por uma certa forma; e a concepção da substância no sentido da "forma
enquanto tal"29ou, se quisermos, forma em geral, permite a formulação de uma noção de
essência, ou seja, torna possível conhecer o "o que é" da substância enquanto composto,
já que apenas este tem existência no sentido pleno. Desse modo, é por essa forma
enquanto tal ser uma formulação do pensamento, e não estar, portanto, sujeita à geração
e à corrupção como o composto, que é possível um conhecimento universal e imutável
dos particulares.

REFERÊNCIAS

não é uma realidade substancial plena, e só pode ser pensada porque há particulares, estes sim,
ontologicamente plenos, que permitem que algo universal seja abstraído a partir deles.
29
Metafísica, 1039b 21
ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores,
Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Trad. Edson Bini. Bauru- SP:
Edipro, 2005.

______________. Metafísica, vol. II - ensaio introdutório, texto grego com tradução e


comentário de Giovanni Reale, trad. Marcelo Perine, 5. ed., São Paulo: Loyola, 2015.

ROSS, D. Aristóteles. Lisboa: Dom Quixote, 1987.

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