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RESUMO
Na presente comunicação é feita uma apresentação sucinta da forma de utilização dos recursos hídricos
disponíveis na bacia do Douro para produção de energia eléctrica. Após uma breve referência à evolução
histórica da hidroelectricidade em Portugal e à parcela correspondente à capacidade de produção total
presentemente instalada na parte portuguesa da bacia, são evidenciados alguns aspectos gerais da concepção dos
aproveitamentos mais relevantes e indicadas as suas principais características técnicas, e feito um ponto de
situação quanto ao desenvolvimento e situação presente do sector minihídrico.
São ainda referenciadas as potencialidades remanescentes inventariadas, os novos projectos em curso e planeados
para eventual realização a curto e médio prazo, destacando-se alguns aspectos gerais da sua justificação e
concepção, a potência que se prevê instalar e a capacidade de produção esperada.
Até 1950, a evolução da potência hídrica instalada em Portugal (que totalizava 153 MW
nesse ano) verificou-se sobretudo à custa da instalação de um grande número de centrais de
pequena dimensão. De um total de 113 então existentes, destacavam-se apenas sete com mais
de 5 MW, com evidência para as do Lindoso (57 MW) e de Santa Luzia (21 MW).
1
A partir de 1950, em resultado das opções de política industrial e energética então
definidas, intensificou-se de forma decisiva a construção de novos centros produtores hídricos
de grande dimensão nos principais cursos de água portugueses. Foram então constituídas
entidades empresariais com o encargo de planearem e promoverem a construção dos centros
produtores, e de uma rede nacional de transporte de energia (RNT) às quais foram atribuídas
as correspondentes concessões – a Hidroeléctrica do Cávado (1946), a Hidroeléctrica do
Zêzere (1946), a Companhia Nacional de Electricidade (1947), e, mais tarde, a Hidroeléctrica
do Douro (1953).
Desta forma, estas e outras empresas de menor dimensão iniciaram a fase de maior
expansão da componente hídrica do sistema produtor nacional, que se prolongou por toda a
segunda metade do século XX, até à actualidade. A partir de 1975, com a nacionalização do
sector, a EDP - Electricidade de Portugal, deu sequência a esta actividade, inicialmente em
regime de exclusividade, e partilhando, a partir da década de 1980-90, a promoção de novos
empreendimentos com outros promotores.
Presentemente (no final de 2005), a potência hidroeléctrica instalada em Portugal
Continental é de 4910 MW (cerca de 39 % do total do sistema produtor), sendo 4580 MW em
35 aproveitamentos com potência superior a 10 MW (todos pertencentes à EDP, à excepção
de Alqueva) e os restantes 330 MW em 311 aproveitamentos com potência até 10 MW (sector
“minihídrico”), dos quais a EDP possui 24, detendo 20% da referida potência).
Será interessante verificar a forma como evoluiu até ao presente a potência total instalada
no sistema produtor, reflectindo a expansão ocorrida desde 1960, imposta pelo ritmo do
aumento de consumos, e revelando, em particular, a progressiva perda de importância relativa
da parcela hidroeléctrica em relação às restantes centrais (Fig.2).
14000
12000
POTÊNCIA(MW)
10000
8000
6000
4000
2000 42% 39%
59% 47%
81% 71%
0
1960
1970
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2
Seguiu-se um aproveitamento num afluente (Varosa), após o que se prosseguiu para a
construção de toda a cascata do curso principal do Douro Nacional, concluída em 1985, já
pela EDP. Nos afluentes principais, entrou depois em exploração a central do Torrão (1988), e
iniciou-se a construção de Foz Côa, interrompida em 1995, na sequência do aparecimento de
gravuras rupestres na zona.
Finalmente, foi lançado um programa de reforço de potência dos escalões situados no troço
internacional do rio Douro, com a construção de uma nova central em Miranda, à qual será
feita referência específica no ponto 4.2 da presente comunicação.
APROVEITAMENTOS HIDROELÉCTRICOS ( P > 10 MW ) SITUADOS NA BACIA DO RIO DOURO - CRONOGRAMA DE REALIZAÇÃO (1)
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
APROVEITAMENTO
PICOTE 195 MW
MIRANDA (I e II) 180 MW 189 MW
BEMPOSTA 240 MW
VILAR-TABUAÇO 58 MW
CARRAPATELO 201 MW
RÉGUA 180 MW
VALEIRA 240 MW
POCINHO 186 MW
CRESTUMA-LEVER 117 MW
TORRÃO 140 MW
FOZ CÔA (1) ---
OBS. - Não incluído o aproveitamento do Varosa (25 MW), entrado em exploração em 1934
(1) Construção suspensa em 1996
Nº médio de
Aproveitamento
efectivos
Miranda 1950
Picote 1700
Bemposta 2200
Pocinho 900
Valeira 1100
Régua 1250
Carrapatelo 2100
Crestuma-Lever 750
Fig.4 – Carrapatelo – Aspecto geral do estaleiro Fig.5 – Efectivos nas obras (valor médio)
3
No que respeita às centrais com menos de 10 MW, o seu número, que, em Portugal, era
superior a uma centena na década de 1940-50, foi-se reduzindo progressivamente, em
resultado do envelhecimento das centrais e da falta de condições adequadas à sua promoção.
No início da década de 1980-90, a sua produtibilidade total seria apenas da ordem de 180
GWh/ano, dos quais 120 GWh correspondiam às centrais que a EDP mantinha, e cuja
remodelação iniciava já nessa altura.
Esta situação alterou-se significativamente após a publicação de legislação específica
visando a promoção do sector, que incluiu incentivos económicos para a sua construção ou
remodelação, e a criação de um tarifário próprio, que passou a levar em conta o valor
atribuído à redução de emissões de CO2 proporcionada (1).
Deste modo, verificou-se uma considerável expansão deste tipo de centrais, principalmente
ao longo de toda a década iniciada em 1990, o que conduziu, na situação actual (final de
2005), a que estejam em exploração, e abrangidas pela referida legislação, 113
aproveitamentos, com um total de 330 MW instalados e podendo produzir 950 GWh/ano.
Destes, 36 localizam-se na bacia do rio Douro, correspondendo a sua potência a cerca de 40%
do total.
O quadro seguidamente apresentado (Fig.6) resume a situação actual acima descrita,
referente ao sector hidroeléctrico em Portugal Continental, discriminando-se as centrais pela
sua dimensão, e destacando-se as localizadas na bacia do rio Douro. Para cada grupo, indica-
se a respectiva potência total instalada e a produtibilidade média anual.
NA BACIA DO
TOTAL
RIO DOURO
CENTRAIS COM Número 11 34
POTÊNCIA SUPERIOR Potência total 1951 MW 4582 MW
A 10 MW Produtibilidade 5876 GWh/ano 10800 GWh/ano
(1) A legislação actualmente em vigor para os “PRE’s” (produtores hídricos em “regime especial”) beneficia também as
centrais hídricas com potência entre 10 MW e 30 MW, embora com um tarifário regressivo com a potência instalada.
4
GWh
50000
45000
40000
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
0
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
CENTRAIS HIDROELÉCTRICAS NA BACIA DO DOURO OUTRAS CENTRAIS
OUTRAS CENTRAIS HIDROELÉCTRICAS
Finalmente, refere-se, a título comparativo, que a potência total instalada na parte portuguesa
da bacia do rio Douro (2087 MW) é consideravelmente inferior à instalada na parte espanhola,
que ascende a 3760 MW. Deste valor total, 1629 MW (cerca de 43%) correspondem aos
aproveitamentos de Aldeadavila e Saucelle, no troço atribuído a Espanha pelos Convénios
Luso-Espanhóis, e 810 MW (22%) correspondem à potência da central de Vilariño, no rio
Tormes, junto à confluência com o rio Douro.
No que respeita à produção de energia, a obtida nos aproveitamentos espanhóis da bacia é
também superior à dos aproveitamentos portugueses, estimando-se que, em ano médio, o seu
valor seja próximo de 7 000 GWh.
2.1. – Localização
Na figura seguinte (Fig.8) assinala-se a localização geográfica dos 11 aproveitamentos de
grande dimensão (potência acima de 10 MW) situados na parte portuguesa da bacia do Douro.
Todos eles pertencem à EDP, sendo a sua exploração conduzida centralizadamente a partir do
Centro de Telecomando da Régua.
1 - Miranda
2 - Picote
1 3 - Bemposta
2 4 – Pocinho
3 5 - Valeira
7 5 4 6 - Vilar-Tabuaço
10 9
8 6 7 - Régua
11 8 - Varosa
9 - Carrapatelo
10 - Torrão
11 - Crestuma-Lever
Fig.8 – Localização dos aproveitamentos hidroeléctricos na bacia portuguesa do Douro com potência superior a 10 MW
5
2.2. – Capacidade de armazenamento e regime de exploração
As capacidades úteis disponíveis nestes aproveitamentos são em regra, de reduzido valor,
sendo apenas significativas no caso do Varosa (95 hm3) e do Torrão (58 hm3), totalizando o
volume nos restantes nove aproveitamentos apenas 127 hm3. Efectivamente, o seu objectivo
principal da sua construção foi tirar partido do enorme potencial hidroenergético do curso
principal do rio Douro, não existindo, nem no troço internacional, nem no troço português,
condições topográficas para criação de albufeiras de dimensão apreciável. Nessas condições, a
seu regime de exploração é praticamente a fio-de-água, sendo possível, quando muito, realizar
alguma concentração de turbinamentos ao nível diário.
Mesmo que ao volume útil total de todos eles (280 hm3) se acrescente a capacidade das
restantes albufeiras situadas na parte portuguesa da bacia e destinadas exclusivamente ao
abastecimento público e rega (da ordem de 200 hm3), o valor global, de cerca de 480 hm3,
representa apenas cerca de 6% do escoamento gerado em ano médio na parte portuguesa da
bacia, estimado em 7850 hm3. Estes valores contrastam de forma muito clara com os
correspondentes à parte espanhola - 7 700 hm3 de armazenamento total, ou seja, cerca de 83%
da afluência anual estimada para o respectivo território.
6
Fig.9 – Eclusas de navegação no rio Douro – utilização turística e transporte de mercadorias
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
Fig.10 – Número de eclusagens no rio Douro (Fonte – IPTM)
O carácter de fins múltiplos destes aproveitamentos vem ainda reforçado, entre outros, pela
utilização das albufeiras para abastecimento e água, sendo de relevar as captações feitas nas
albufeiras de Miranda, da Régua, do Torrão e de Crestuma-Lever, constituindo esta última a
principal origem de abastecimento de água à Área Metropolitana do Porto
1 – MIRANDA (I / II)
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1960 / 1995
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3/1
Caudal útil nominal 350 / 387 m3/s
Queda útil nominal 53,0 / 55,6 m
Potência líquida máxima 180 / 189 MW
Produtibilidade média anual 898 GWh
Capacidade útil da albufeira 13,8 hm3
Capacidade de descarga de cheias 11 000 m3/s
(Miranda II – central de reforço de potência)
Fig.11 - Miranda
7
2 - PICOTE
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1958
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 310 m3/s
Queda útil nominal 70,4 m
Potência líquida máxima 195 MW
Produtibilidade média anual 869 GWh
Capacidade útil da albufeira 13,4 hm3
Capacidade de descarga de cheias 11 000 m3/s
Fig.12 - Picote
3 - BEMPOSTA
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1964
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 456 m3/s
Queda útil nominal 66,0 m
Potência líquida máxima 240 MW
Produtibilidade média anual 924 GWh
Capacidade útil da albufeira 20,0 hm3
Capacidade de descarga de cheias 11 500 m3/s
Fig.13 - Bemposta
4 - POCINHO
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1983
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 1077 m3/s
Queda útil nominal 19,5 m
Potência líquida máxima 186 MW
Produtibilidade média anual 408 GWh
Capacidade útil da albufeira 12,2 hm3
Capacidade de descarga de cheias 15 000 m3/s
Fig.14 - Pocinho
5 - VALEIRA
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1976
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 1002 m3/s
Queda útil nominal 27,2 m
Potência líquida máxima 240 MW
Produtibilidade média anual 611 GWh
Capacidade útil da albufeira 13,0 hm3
Capacidade de descarga de cheias 18 400 m3/s
Fig.15 – Valeira
8
6- VILAR-TABUAÇO
Curso de água Távora
Entrada em serviço industrial 1965
Tipo Albufeira
Número de grupos 2
Caudal útil nominal 17,6 m3/s
Queda útil nominal 424 m
Potência líquida máxima 58 MW
Produtibilidade média anual 138 GWh
Capacidade útil da albufeira 95,5 hm3
Capacidade de descarga de cheias 540 m3/s
Fig.16 – Vilar-Tabuaço
7 – RÉGUA
8 - VAROSA
Curso de água Varosa
Entrada em serviço industrial 1934
Tipo Albufeira
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 15,8 m3/s
Queda estática máxima 200 m
Potência líquida máxima 25 MW
Produtibilidade média anual 60 GWh
Capacidade útil da albufeira 12,9 hm3
Capacidade de descarga de cheias 1 200m3/s
Fig.18 – Varosa
9 - CARRAPATELO
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1971
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 750 m3/s
Queda útil nominal 31,0 m
Potência líquida máxima 201 MW
Produtibilidade média anual 806 GWh
Capacidade útil da albufeira 13,8 hm3
Capacidade de descarga de cheias 22 000 m3/s
Fig.19 - Carrapatelo
9
10 - TORRÃO
Curso de água Tâmega
Entrada em serviço industrial 1988
Tipo Albufeira
Número de grupos 2
Caudal útil nominal 322 m3/s
Queda útil nominal 53,0 m
Potência líquida máxima 140 MW (1)
Produtibilidade média anual 222 GWh
Capacidade útil da albufeira 58,5 hm3
Capacidade de descarga de cheias 4500 m3/s
(1) Grupos geradores reversíveis
Fig.20 - Torrão
11 – CRESTUMA-LEVER
Curso de água Douro
Entrada em serviço industrial 1985
Tipo Fio-de-água
Número de grupos 3
Caudal útil nominal 1136 m3/s
Queda útil nominal 10,6 m
Potência líquida máxima 117 MW
Produtibilidade média anual 360 GWh
Capacidade útil da albufeira 22,3 hm3
Capacidade de descarga de cheias 26 000 m3/s
Fig.21 – Crestuma-Lever
Incluem-se também quadros com a classificação das quedas e das potências (Fig.24) por
intervalos, indicando-se o número de aproveitamentos em cada intervalo e a correspondente
potência total, o que ilustra a considerável diversidade das centrais minihídricas em
exploração quanto à sua dimensão.
10
P (MW) P(MW)
35 45 9
9
30 40
25 35
20 2 4 2 30
3
15 3 25 3
1 9 20
10
1 2 15 3 4
3 1
5 10 1 2
3 1
0 5 2
Tua
Paiva
Côa
Rib. Teja
Sousa
O utras
Corgo
Tâm ega
Cabrum
Varosa
0
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
Fig.22 – Centrais minihídricas - potência e nº por bacia Fig.23 – Centrais minihídricas – ligações entre 1992 e 2005
11
4.2. – Reforço de potência do Douro Internacional
A reduzida capacidade de armazenamento das albufeiras situadas no curso principal do rio
Douro, sobretudo nos escalões de Miranda, Picote e Bemposta, e a considerável diferença
entre o caudal inicialmente instalado nestes aproveitamentos e o turbinável no aproveitamento
espanhol de Castro, situado imediatamente a montante (1,6 vezes superior ao de Miranda),
conduziu a que fosse considerada a realização do reforço de potência dos escalões
portugueses, equilibrando os referidos caudais equipados, quer para reduzir os importantes
volumes descarregados em períodos de cheia, quer para permitir fazer face aos turbinamentos
de montante, quando concentrados em períodos de ponta.
Estas razões haviam já motivado o reforço de potência de Miranda, terminado em 1995,
concluindo-se haver interesse em prosseguir idêntica acção em Picote, cujo projecto se
encontra praticamente concluído, e em Bemposta, cujo projecto está em fase inicial. Os
estudos técnicos já realizados para estes reforços conduziram a soluções que, tal como no caso
de Miranda, consistem na construção, em cada um deles, de um novo circuito hidráulico e
central para instalação de um grupo adicional, dimensionado de forma a equilibrar os
respectivos caudais totais turbináveis.
Em Picote, optou-se por um
esquema compreendendo um
circuito hidráulico e central
totalmente subterrâneos (Fig.25),
sendo também deste tipo o
esquema de referência actualmente
em estudo para Bemposta.
Fig. 25 – Picote - Corte pelo eixo do grupo de reforço de potência
1000
MIRANDA PICOTE BEMPOSTA
800
Fig.26 – Centrais do Douro Internacional - Fig.27 – Douro Internacional – Centrais de reforço de potência -
Caudais equipados antes e depois do reforço Características e datas de entrada em exploração
4.3. – Criação de novas albufeiras nos afluentes do rio Douro – aproveitamento do Baixo
Sabor
A construção de aproveitamentos hidroeléctricos em alguns dos principais afluentes do
Douro, em particular nos seus troços de jusante, sempre foi vista com grande interesse, que
ultrapassa largamente o do sector eléctrico. A este propósito, refere-se o seguinte:
12
− É possível estabelecer, em diversos afluentes (Côa, Sabor, Tua, Paiva, Tâmega)
albufeiras com volumes úteis significativos e criar desníveis muito apreciáveis, dadas as
condições morfológicas e topográficas, o que torna disponíveis elevados potenciais
hidroenergéticos.
− É também viável conceber alguns dos aproveitamentos com reversibilidade, de modo a
tirar partido do efeito de bombagem, que, em diversos casos se pode fazer directamente
a partir do próprio curso principal do Douro. O interesse económico da bombagem tem
vindo a revelar-se cada vez maior, sendo presentemente potenciado pela regulação que
poderá induzir no sistema produtor, ao minimizar os efeitos da inevitável variabilidade
da crescente componente de produção eólica.
− Podem assim ser armazenados e regularizados importantes volumes de água, com
particular interesse estratégico para o sector eléctrico, dada a reserva de energia que
proporcionam. Para além disso, e sobretudo nos que confluem no troço mais a montante
do curso principal, subsiste a capacidade de garantir, por períodos de tempo muito
significativos, a alimentação de toda a potência instalada nos escalões do curso principal
situados a jusante, com grande importância para o sistema em situações de emergência,
quer em períodos de seca, quer em resultado de falhas imprevistas de outros centros
produtores.
− É possível tirar partido dessas mesmas reservas de água, ainda quase inexistentes na
parte portuguesa da bacia, para potenciar outros fins e utilizações, destacando-se as
relacionadas com o controlo ou disponibilização dos volumes retidos ou com a simples
presença das albufeiras – abastecimentos, controlo de cheias e secas, controlo da
poluição, navegação, etc.
O primeiro aproveitamento cuja realização foi decidida por reunir as condições acima
referidas foi o de Foz Côa, mas a sua construção acabou por ser suspensa em 1996, face ao
aparecimento de gravuras rupestres na zona. Na sequência desta decisão, retomou-se um
empreendimento há muito inventariado com a designação de “Quinta das Laranjeiras”,
renomeando-o para “Baixo Sabor”, cujo dimensionamento foi efectuado de modo a criar uma
reserva de água equivalente à de Foz Côa, para efeito das funções pretendidas no âmbito do
sistema eléctrico.
O respectivo Estudo Prévio e Estudo de Impacte Ambiental (EIA) foram realizados entre
1996 e 1999, tendo depois sido considerado pelo Ministério do Ambiente, na sequência do
respectivo processo de AIA (Avaliação do Impacte Ambiental), que seria necessário efectuar
a sua comparação com uma alternativa identificada pela Rede Eléctrica Nacional (REN) no
Plano de Expansão do Sistema Eléctrico Público, designada por Alto Côa, que previa o
estabelecimento de albufeiras na zona do rio Côa situada a montante da anteriormente prevista
albufeira de Foz Côa.
Foi então desenvolvido um Estudo Prévio para o Alto Côa, e realizado um EIA comparado
de ambos os empreendimentos (concluído em 2002). Finalmente, em 2004, na sequência de
novo processo da AIA, foi emitida uma Declaração de Impacte Ambiental condicionalmente
favorável à realização do aproveitamento do Baixo Sabor.
O respectivo Projecto encontra-se presentemente terminado, contemplando dois escalões
em cascata, ambos equipados com grupos reversíveis, com conclusão das obras planeada para
o final de 2011. O de montante, de maiores dimensões (antevisão na Fig.28), dispõe da
albufeira principal do conjunto, capaz de armazenar 630 hm3 (superior ao volume total de
todas as reservas de água da parte portuguesa da bacia do Douro) e utiliza o de jusante como
contra-embalse para a bombagem, turbinando este último sobre a albufeira da Valeira.
13
No seu conjunto, os dois escalões têm
uma potência instalada de 170 MW, e uma
produção média anual, líquida de
bombagem, de 230 GWh/ano. De acordo
com os estudos de simulação da
exploração do empreendimento, a
utilização da bombagem permitirá atenuar
de forma substancial as diferenças de
produção entre os anos húmidos e secos,
podendo elevar a produção média anual
para cerca de 440 GWh/ano.
Fig.28 – Baixo Sabor – Antevisão do escalão de montante
Refere-se finalmente, ter sido dada particular atenção à criação de condições para que este
aproveitamento contribua para o controlo de cheias a jusante, mediante o abaixamento da cota
de exploração no período de Inverno, de forma a reservar, em permanência, um volume de
encaixe 90 hm3 na faixa superior da albufeira, para amortecimento de cheias. Os estudos
realizados mostram que, efectivamente, tal medida permite atenuar de forma significativa as
pontas das cheias a jusante, e, consequentemente, os níveis máximos atingidos e as durações
dos períodos de inundação, com efeitos sensíveis nas cheias mais frequentes.
Releva-se ainda o facto de se tratar do primeiro escalão concebido no rio Douro que
contempla este objectivo de minorar os efeitos de cheias, para as quais a parte portuguesa da
bacia contribui maioritariamente (60 % da ponta de cheia junto à foz, de acordo com os
registos históricos disponíveis e com os estudos realizados), apesar de representar apenas
cerca de 20% em área.
14
Dadas as potencialidades ainda disponíveis no rio Douro, verifica-se que a quase totalidade
dos escalões hidroeléctricos que constam do cenário de referência para a possível expansão do
sistema produtor a médio prazo estão localizados nesta bacia, designadamente:
- Fridão, Vidago e Daivões, no rio Tâmega;
- Alvarenga, no rio Paiva;
- Linhares para bombagem pura, na ribeira de Linhares;
- Pero Martins e Senhora de Monforte, no rio Côa.
Com estes escalões, as reservas de água na bacia poderiam ser significativamente
aumentadas, admitindo-se, com base em esquemas técnicos de referência que, no seu
conjunto possam atingir a ordem de grandeza de 900 hm3, que adicionando-se aos cerca de
700 hm3 do conjunto constituído pelo Baixo Sabor e Foz Tua, poderiam, pelo menos, fazer
quadruplicar as reservas actuais.
Convirá ter presente, no entanto, que a efectiva concretização destes projectos não é,
naturalmente, um dado assumido, carecendo ainda, para além dos aspectos relacionados com
a iniciativa da sua promoção, do aprofundamento dos correspondentes estudos técnicos,
económicos e ambientais.
A planta e o quadro seguidamente incluídos (Fig.29) mostram a localização destes centros
produtores e a sua contribuição global em potência e energia líquida de bombagem,
sistematizando-se também os elementos relativos ao planeamento de realizações até 2014,
conforme referido nos pontos 4.2. e 4.3.
5. - CONCLUSÃO
Os aproveitamentos hidroeléctricos situados na parte portuguesa da bacia do rio Douro,
contribuem presentemente com cerca de 2100 MW de potência e 6300 GWh/ano de energia
eléctrica para o sistema produtor (42% e 54%, respectivamente, do total hidroeléctrico em
Portugal) tendo vindo a assegurar, há várias décadas, em termos médios anuais, uma parcela
muito apreciável da produção renovável do País, embora com peso relativo progressivamente
decrescente quando comparada com o consumo total de energia eléctrica.
Os 11 aproveitamentos de grande dimensão em exploração nessa mesma parte da bacia
(com potência superior a 10 MW), todos eles pertencentes à EDP, são hoje responsáveis, em
15
condições hidrológicas médias, por cerca de 93% da energia hídrica total na mesma área,
correspondendo os restantes 7% aos 36 aproveitamentos minihídricos também em exploração.
Apesar de terem sido construídos com a finalidade principal da produção de energia
eléctrica, o interesse destes aproveitamentos ultrapassa largamente o âmbito do sistema
eléctrico, conforme se comprova, apenas para exemplificar, pelo facto de terem criado
condições para o estabelecimento de uma via navegável ao longo de todo o curso principal do
rio situado em Portugal, com continuidade estabelecida através de eclusas, ou pela utilização
dos volumes armazenados, ainda que sem grande capacidade de regularização, para garantir
alimentação de água a importantes sistemas de abastecimento.
Mesmo com o curso principal do rio já completamente aproveitado, subsistem ainda
potencialidades não utilizadas com valor muito interessante. De facto, os empreendimentos
por realizar, já planeados ou em estudo, poderão conduzir à duplicação da potência
presentemente instalada, quer através do seu reforço em centrais existentes - como é o caso
dos escalões portugueses do Douro Internacional - quer pela construção de outros escalões.
De entre os possíveis novos aproveitamentos considerados tecnicamente viáveis, destacam-
se os que envolvem a construção de barragens nos troços de jusante dos principais afluentes,
e, em particular, os situados nos afluentes de montante da bacia portuguesa, como teria sido o
caso de Foz Côa, e como é o caso do Baixo Sabor.
Efectivamente, podem aí ser estabelecidas albufeiras com importantes capacidades de
armazenamento, ainda praticamente inexistentes na parte portuguesa da bacia, com inegável
interesse como reserva estratégica de energia e de água, que poderia chegar a quadruplicar as
actualmente existentes na parte portuguesa da bacia, podendo diversas centrais serem
facilmente potenciadas para tirar partido da utilização de bombagem.
Numa perspectiva de fins múltiplos, refere-se, pelo seu interesse, para além de outros, a
possibilidade de se criarem condições de gestão das albufeiras de modo a laminar as pontas de
cheias afluentes, com a consequente redução dos seus efeitos a jusante.
BIBLIOGRAFIA
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