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GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, pp.

09 - 32, 2010

DA VALORIZAÇÃO DO ESPAÇO À FRAGMENTAÇÃO ARTICULADA DO TERRITÓRIO URBANO:


A CIDADE HISTÓRICA PARA ALÉM DOS LIMITES DO TOMBAMENTO – O CASO DE
DIAMANTINA (MG)1

Everaldo Batista da Costa*

RESUMO
No início do século XXI, Diamantina, um singular enclave territorial da mineração Setecentista, no
Brasil, localizada no sertão de Minas Gerais, vive a lógica impactante da expansão do capitalismo e
seletividade do capital, que a insere no turbilhão do turismo internacional após a conquista da
chancela da UNESCO2 (que a eleva a Patrimônio Cultural da Humanidade) e da implantação do
polêmico Programa Monumenta (BID3 / República Federativa / Município). Logo, este artigo, ao
apresentar, objetivamente, as reflexões desenvolvidas em pesquisa recente na área da Geografia
Urbana, que teve como caso analítico Diamantina, tem por objetivo apontar para a urgência de se
tratar as denominadas cidades históricas brasileiras, tanto em abordagens de pesquisas científicas
quanto na prática do planejamento territorial urbano, enquanto totalidades inseridas na totalidade
mundo. Há de se considerar a cidade histórica no amplo território urbano que a encerra, ou seja,
defende-se sua “sobrevivência” enquanto totalidade perpassada pela lógica capitalista do mercado
global e a “perpetuação” de seus habitantes, ante um mundo que vive o império da fragmentação
dos lugares pelas ações imediatistas das governanças urbanas. Assim, focar as cidades históricas
para além dos limites do tombamento – quer seja em pesquisas científicas, quer seja na prática de
seu planejamento – pode se constituir em potencial instrumento para a minimização dos impactos
da dialética da construção destrutiva que envolve as cidades históricas brasileiras na atual fase do
capitalismo, além de induzir à democratização (utopia?) dos bens culturais do mundo.
PALAVRAS-CHAVE: Patrimônio Mundial. Cidade Histórica. Valorização do Espaço. Planejamento
Territorial Urbano. Diamantina.

OF THE VALUATION OF THE SPACE TO THE ARTICULATED SPALLING OF THE URBAN


TERRITORY: THE HISTORICAL CITY STOPS BEYOND THE LIMITS OF THE FALLING - THE
DIAMANTINA (MG) CASE

ABSTRACT
At the beginning of century XXI, Diamantina, a singular territorial enclave of the 700th mining, in
Brazil, located in the hinterland of Minas Gerais, lives the amazing logic of the expansion of the
capitalism and selectivity of the capital, that after inserts it in the eddy of the international tourism
the conquest of the seal of UNESCO (that it raises it the Cultural Heritage of the Humanity) and of
the implantation of the controversial Monumenta Program (BID/Federative Republic/City). Then,
this article presents, objectively, the reflections developed in recent research in the area of the
Urban Geography, that had as in case that analytical Diamantina, and it has for objective pointing
with respect to the urgency of if treating the called Brazilian historical cities, as much in boardings
of scientific research how much in the practical one of the urban territorial planning, while inserted

*Professor da Universidade Federal de Ouro Preto (DETUR / UFOP). Doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
10 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, 2009 BATISTA DA COSTA,E

in the totality world. It’s necessary to consider the historical city in the ample urban territory locks
up that it, that is, defends its “survival” while totality filled by the capitalist logic of the global
market and the “perpetuation” of its inhabitants, in front of a world that lives the empire of the
spalling of the places for urban the actions that demands a quick thought of governments. So, to
focus the historical cities stops beyond the limits of the falling - either in scientific research, either
in the practical one of its planning - consist in potential instrument of minimizing the impacts of the
dialectic of the destructive construction that involves the Brazilian historical cities in the current
capitalism phase, and inducing to the democratization (utopia?) of the world cultural goods.
KEY WORDS: World Heritage. Historical City. Valuation of the Space. Urban Territorial Planning.
Diamantina.

Introdução – A cidade histórica enquanto imaginário da população residente, não apenas


totalidade urbana no centro histórico, mas na cidade histórica
como um todo. Uma análise focada e
Ao considerar a totalidade do desarticulada pode não dar conta da realidade
território urbano de Diamantina (MG), ou seja, multidimensional e em movimento da formação
a cidade enquanto totalidade inserida no de novas espacialidades acarretadas pelas
contexto global, evidenciam-se, sobremaneira, novas estratégias do planejamento dessas
as ações público-privadas marcadamente cidades do interior brasileiro, no âmbito da
concentradoras de capital, da estrutura urbana Geografia.
e de cuidados com o tecido urbano; essa Logo, analisamos a organização
concentração territorial do capital ganha relevo socioespacial de Diamantina (ampla porção do
a partir de sua consagração como Patrimônio território urbano) a partir do entendimento de
Mundial 4 , em 1999, e da implantação do que a sociedade e sua dimensão espacial podem
Programa Monumenta 5 , em 2001; “eventos” ser interpretadas através da espacialidade da
(SANTOS, 2002) que propiciam a revalorização política, da economia e da cultura, de maneira
desta cidade histórica do sertão de Minas correlacional e dialética. Uma abordagem da
Gerais. espacialidade da economia (sobretudo, quando
A análise geográfica da produção a cultura torna-se objeto de mercantilização, nas
socioespacial de uma cidade histórica, hoje, cidades) força-nos a discorrer sobre a
deve abranger uma visão totalizadora do “valorização do espaço”; a espacialidade da
território urbano e não focada nos limites do política, que remonta ao delineamento do poder,
núcleo tombado enquanto espacialidade tida dirige a análise para a questão da “dominação
por singular, excepcional e irreplicável, como se do espaço”; já a espacialidade da cultura, que
o mesmo explicasse por si só a realidade se estabelece enquanto espaço da consciência,
vigorante a partir de suas formas pretéritas, de exige uma abordagem sobre a “representação
seus antigos e novos conteúdos. Este artigo do espaço”. Dessa maneira, seja através da
aponta como problemática a análise sobre a valorização do espaço, da dominação do espaço
cidade histórica que não leve em consideração ou da representação do espaço, o que se
a organização socioespacial fora do núcleo pretende frisar é que esse contexto acaba por
tombado. Uma abordagem nesse sentido pode particularizar, exigindo um método de análise
não dar conta do entendimento das novas numa perspectiva histórica dialética que, no
dinâmicas e relações propiciadas pelas limite, redunda no reconhecimento da formação
“rugosidades” (SANTOS, 2002) presentes no do território urbano, com uma ênfase política
próprio centro, que favorecem novos fluxos que articula valorização e representação (há de
capazes de transformar a realidade e o se considerar as três análises conjuntamente,
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 11

pois representam uma simultaneidade territorial” alcançado pela “indústria cultural”


contraditória). Logo, o entendimento da por meio do turismo8.
organização socioespacial de Diamantina não Partindo da valorização do espaço
se restringe ao âmbito da política, da economia – que representa uma análise mais abstrata das
ou da cultura, mas na imbricação das três ações e relações capitalísticas inerentes ao
abordagens para o melhor entendimento das processo mercantil que envolve a
espacialidades sociais, de sua realidade no atual refuncionalização de patrimônio cultural 9 –
momento histórico.6 identifica-se a fragmentação do território urbano
Para Moraes (2000, p. 47), (enquanto particularidade) quando se têm os
enquanto a valorização do espaço aparece bairros de entorno ao centro com variados e
como o horizonte teórico genérico de indagações sérios problemas socioespaciais, que vão desde
da Geografia, a formação territorial desenha- infra-estrutura urbana, como iluminação pública,
se como o objeto empírico de uma pesquisa, o falta de água, esgoto, pavimentação,
ajuste de foco na ótica angular de captar o equipamentos de serviços diversos etc. até
movimento histórico próprio da geografia precárias moradias e elevado índice de
humana. Segundo o autor, é uma abordagem desemprego, além da transformação do
que busca apreender a valorização do espaço imaginário de seus residentes em relação ao
em manifestações únicas sincronicamente seu patrimônio, à sua cultura e à sua cidade.
analisadas, logo, em processos de formação de Deve ficar claro, também, que a
territórios singulares. “Transita-se, assim, da problemática que norteou a pesquisa cujo
vaguidade da categoria ‘espaço’ ao preciso e presente artigo sintetiza é a de que as ações
objetivo conceito de ‘território’. E nesse, ou voltadas ao centro histórico de Diamantina (em
melhor, em sua construção, às determinações especial, após sua inclusão na Lista do
mais especificamente econômicas se associam Patrimônio Mundial e da implantação do
às injunções do universo da política e da Programa Monumenta) constituem-se em
cultura”. “eventos” (SANTOS, 2002) que redundam em
Nesse contexto, vale-se, aqui, da uma política de patrimônio que desvia a atenção
ideia de que o processo de organização do pública e recursos de problemas mais amplos,
espaço é resultado exclusivo das ações e do sobretudo, fora do núcleo tombado, o que afeta
trabalho humano, que incorpora e cria valor, valor as condições de vida da população local,
no espaço e valor do espaço7, de acordo com ressignifica “valores” e produz um território
Moraes e Costa (1996) e Moraes (2000). Isso urbano fragmentado. Em pesquisas de campo,
nos leva a crer que a análise geográfica da foi identificada uma população que clama pela
organização socioespacial de Diamantina, hoje, atuação do poder público municipal na periferia,
remete-nos ao que Milton Santos denominou enquanto todas as ações estão voltadas para
para o espaço como uma “acumulação desigual o centro da cidade, na atual gestão do município,
do tempo”, onde a divisão territorial e a divisão o que demonstra limites e possibilidades do
social do trabalho são as forças capazes de criar planejamento urbano em Diamantina e a
novas formas e de dar novas funções a objetos confirmação da problemática da pesquisa.
que incorporam novos conteúdos. São forças Os gráficos elaborados (que serão
reestruturantes e reorganizadoras de uma apresentados) a partir da tabulação dos dados
cidade que, no passado, representou o território colhidos por ocasião das entrevistas (que
dos diamantes da metrópole portuguesa, que apresentam uma clara contradição entre a
adotou medidas drásticas de controle territorial retórica capitalística dos agentes públicos e o
(sem igual na história colonial) e que teve, ao clamor sublevado dos habitantes locais),
longo de sua história, a extração de diamantes somados à observação empírica, oferecem-nos
como principal atividade econômica. Atualmente, uma dimensão da realidade socioespacial de
a cidade é evidenciada como um novo “enclave Diamantina, no sertão mineiro, num momento
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em que a cidade é projetada mundialmente por segregação social cuja natureza é tanto
via do turismo cultural e recriada como uma econômica, fruto de um desenvolvimento
mercadoria singular e irreplicável.10 desigual e combinado, como de outras
Açambarcado pela cenarização diferentes ordens. Tal segregação espacial,
progressiva do patrimônio [sobre esse processo, como no caso de Diamantina, quase sempre é
ver Costa (2009) e Costa e Scarlato (2008)], o muito fácil de se verificar, trata-se de um
centro histórico de Diamantina vem sendo fenômeno visível a olhos nus. “A cidade é
destinado à troca, cada vez mais seus modos repartida – toda ela – por delimitações tanto
operantes de usos são subordinados ao físicas quanto simbólicas” (VALENÇA, 2006, p.
mercado, o patrimônio é condicionado à 185). Isso nos remete à questão de que a cidade
privatização e à lógica do neoliberalismo,11 o que torna-se cada vez mais importante para a
se reflete na totalidade do território urbano, que acumulação de capital em geral – produção e
configura uma cidade dual. consumo de mercadorias e reprodução da força
De acordo com Santos (2007, p. 79- de trabalho – como a produção do espaço
80), no mundo de hoje, cada vez mais as urbano é parte nada desprezível dessa
pessoas se reúnem em áreas mais reduzidas, acumulação, que se mostra desigual no
como se o habitat humano minguasse. Isso território. Logo, as ações dirigidas à cidade
permite experimentar, através do espaço, a seguem, cada vez mais, a lógica de sua
escassez. Para Milton, a ânsia de se utilizar, transformação em mercadoria.
mercadologicamente, um dado território, não As atuais ações sobre o patrimônio
apenas divide como separa os homens, ainda edificado no centro histórico de Diamantina
que eles apareçam como se estivessem juntos. esboçam uma política de preservação que visa
É essa fragmentação a identificada em ao desenvolvimento de um “sistema simbólico”
Diamantina, onde as oposições [centro que se adapta às estruturas do sistema
“valorizado” x periferia “precarizada”] e também capitalista, de acordo com a dinâmica de
[habitantes locais esperançosos por uma vida consolidação de práticas e valores de consumo
digna x turistas ávidos pelo consumo da a partir da apropriação dos bens culturais
paisagem] são agravadas pela correlação dos metamorfoseados em “capital simbólico”
pares dialéticos uso / troca, “preservação” / (HARVEY, 2005). Ao se considerar o Programa
mercantilização, e Estado / mercado; os últimos, Monumenta em Diamantina (Patrimônio Mundial
constituindo-se como influência da eficácia de e mercadoria global), fica patente a dialética da
vetores hegemônicos externos que promovem “preservação” patrimonial que se dá
políticas de organização do espaço urbano simultaneamente às ações relativas à nova
capazes de transformar a realidade e a economia urbana capitalista (gerida pelo Estado
representação do espaço para diferentes grupos e pelo mercado), que reproduz o centro da
sociais locais. cidade e rebate sobre o território urbano num
Deve-se considerar que a forma de contexto mais amplo. A cidade histórica não deve
rebatimento da desigualdade no espaço ser entendida ou contemplada apenas pelo
construído da cidade, logo, depende de como centro histórico ou o núcleo urbano tombado,
este pode favorecer a acumulação do capital e restrita a um perímetro de tombamento; essa
tem sua geografia própria estabelecida dentro deve ser a contribuição do olhar geográfico
do processo histórico. Para Valença (2006), a sobre as cidades antigas brasileiras.
cidade é, em diferentes formatos e
intensidades, desigual, abrigando seletivamente A dualidade da “valorização” do centro
ricos e pobres. Há de se considerar, ainda, que histórico frente à “precarização” da periferia:
essa seletividade – que se traduz em fator de transformação da realidade e do
segregação espacial, conforme Valença (2006) imaginário do diamantinense - uma questão
– também é a tradução no espaço de de produção socioespacial capitalística
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 13

Para se considerar a cidade histórica questionário aplicado junto à população


(Dimantina) enquanto totalidade urbana, parte- residente. A análise enfoca os bairros Palha, Rio
se da análise da organização socioespacial de Grande e Bela Vista (ver mapa a seguir), bairros
três bairros mais periféricos da cidade, a fim de periféricos dos mais carentes de Diamantina,
se identificar como o par dialético “preservação” com evidentes problemáticas socioespaciais, o
/ “mercantilização” favorece o ordenamento do que remete à dualidade da “valorização” do
espaço urbano de maneira mais abrangente, ou centro histórico frente à “precarização” da
seja, na tentativa de se compreender como as periferia como fator de transformação urbana e
atuais ações públicas transformam a realidade organização socioespacial capitalística. A foto
(condições materiais) e o imaginário (consciência 01, abaixo, indica o sítio original de Diamantina
do espaço) do habitante local. Busca-se superar e uma parte da mancha urbana que se
a enorme dificuldade encontrada na obtenção desenvolve a partir do mesmo, espraiando-se
de dados oficiais sobre a periferia de de norte a sul e de leste a oeste; o que esboça
Diamantina, por meio da pesquisa empírica, nas a necessidade de se pensar a preservação de
quais valemos de levantamentos de campo, com patrimônio em um contexto que incorpore o
destaque para as entrevistas semiestruturadas território urbano enquanto totalidade e não
realizadas com agentes públicos e o fragmentado ou particularizado na delimitação
da área tombada.

Foto 01: Panorâmica do centro histórico de Diamantina e seu arredor, a uma altitude de 1400 m, na Serra
do Espinhaço. Foto: PMMG.
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Antes de se lançar um olhar geográfico crítico urbano, quando poderia se constituir em um


sobre a periferia de Diamantina, há que retomar potencial instrumento de melhoria da qualidade
algumas propostas do Plano Diretor, elaborado de vida de toda população local.
em 1999, o que é relevante para a análise, pois Fica claro que o Plano Diretor de
oferecem uma dimensão da concepção que se Diamantina estabeleceu-se como um documento
tem de planejamento, na cidade, por parte da fundamental de orientação do poder público e
governança urbana. da iniciativa privada, em especial, como um
Os responsáveis pela elaboração instrumento primaz para a inclusão da cidade
do Plano Diretor de Diamantina, finalizado em na Lista do Patrimônio Mundial (o que é positivo
1999, assumem, em sua introdução, que o para Diamantina [apesar de permanecer no
documento representa a última etapa da plano teórico para a periferia], uma cidade de
campanha iniciada em 1997 pela elevação da mais de 40.000 habitantes que adentraria o
cidade a Patrimônio Cultural da Humanidade, e século XXI sem o mesmo). Consta como seus
que “sintetiza o conjunto de medidas e normas objetivos: 1) garantir as funções sociais da
que os poderes públicos e a comunidade, cidade e a propriedade imobiliária urbana; 2)
através de seus representantes na Câmara, melhorar a qualidade de vida dos habitantes,
comprometem-se a adotar para a preservação indicando áreas que devem receber especial
de nossas riquezas históricas, arquitetônicas e atenção do município, minimizando
naturais e para o planejamento de nosso desigualdades na distribuição dos equipamentos
desenvolvimento urbano futuro” (PREFEITURA e serviços urbanos12; 3) garantir a preservação
MUNICIPAL, 1999). Prossegue a introdução do do Patrimônio Arquitetônico e Urbanístico
documento: “Às vésperas de um novo século, através de restrições à construção dentro das
um novo milênio, é com orgulho que a cidade áreas oferecidas à UNESCO para Patrimônio
de Diamantina está a um passo de conquistar o Cultural da Humanidade e tombada pelo IPHAN,
seu reconhecimento internacional pela UNESCO. e da regulamentação de uso e ocupação fora
Este título, arduamente buscado nos últimos desta área 13; 4) conter a expansão da área
anos, abrirá certamente novas perspectivas ocupada de forma desordenada e imprópria,
para o desenvolvimento econômico, cultural e buscando alternativas para a ocupação
social não só de Diamantina, mas do Vale do indesejada.14
Jequitinhonha, de Minas Gerais e do Brasil. E O Plano prescreve a forma de
em nome do povo de nosso município, a Câmara ordenamento da ocupação e do uso do solo
dos Vereadores mostrou o seu compromisso com urbano, ações para a manutenção das funções
estes objetivos maiores aprovando o Plano sociais da propriedade, diretrizes para proteção
Diretor”. da memória e do patrimônio cultural, diretrizes
É perceptível, na introdução do do sistema viário e de transportes, diretrizes
documento, que a maior preocupação em sua relativas ao meio ambiente, diretrizes gerais da
elaboração estava na conquista da chancela da política de saneamento, diretrizes da política
UNESCO e menos no comprometimento com um habitacional e diretrizes para a localização de
planejamento que atingisse, de forma objetiva equipamentos de grande porte e interesse
e prática, a periferia da cidade (a cidade social.
histórica enquanto totalidade urbana), apesar Sobre o zoneamento, que trata da
de enfocar, teoricamente, a ampla porção do ocupação e do uso do solo urbano, ele
território da cidade. Mais uma vez, identifica-se estabelece oito áreas a saber:
o compromisso do Estado com as necessidades,
sobretudo, de uma classe; o planejamento, •Zona de Preservação Rigorosa – ZPR – que
historicamente, não chega à periferia, é feito corresponde ao Perímetro de Tombamento do
das elites para as elites, o que resulta em IPHAN, dentro do qual se insere perímetro
modelos segregacionistas de planejamento
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oferecido a UNESCO para inscrição na Lista do contemplar com o planejamento todo o território
Patrimônio Mundial; e toda a população local. Logo, a elaboração
•Zona de Preservação Complementar – PC – do Plano Diretor em 1999, em Diamantina,
que corresponde às áreas que não apresentam aponta-nos para uma ação pública que visa,
grandes contrastes e discrepâncias com relação inicialmente, a atender às necessidades de
à ZPR, integrando-se a imagem urbana do expansão do capitalismo e de reprodução do
Centro Histórico; capital, com a refuncionalização dos bens
•Zona de Proteção do Centro Histórico – ZPCH culturais.
– que é constituída pelas áreas urbanizadas que Para Castells (1975, p. 209), os
envolvem o Centro Histórico, à nordeste; problemas urbanos, isto é, os processos sociais
•Zona Residencial – ZR – que abrange as áreas de consumo coletivo, são, em muitos aspectos,
de tipologias residenciais consolidadas, dos problemas essenciais postos às sociedades
confrontantes com a ZPCH; industriais avançadas. Como, no fim das contas,
•Zona de Contenções das Ocupações – ZCO – o que está em jogo é a questão de se o sistema
que abrange as áreas de interferência visual social é ou não capaz de absorver o ritmo das
indesejável na paisagem, que deverão ter sua mudanças impostas, os problemas devem ser
expansão e adensamento contidos; tratados por instituições público-
•Zona de Urbanização Prioritária – ZUP – que administrativas, pelo Estado, e geridos em
abrange diversas áreas descontínuas de termos de previsão, com expectativas para um
urbanização precária, nas periferias do tecido longo prazo. “A problemática do urbano coincide
urbano. cada vez mais com a do planejamento urbano”
•Zona de Grandes Equipamentos – ZGE – que (CASTELLS, 1975, p. 209).
abrange uma faixa de 100 m de largura para A análise da organização espacial
cada lado, a partir do bordo da pista de de Diamantina remete-nos a um complexo
rolamento da rodovia BR 367, da Reserva do emaranhado de usos da terra justapostos entre
Pau de Fruta até o trevo de Biribiri; si. Áreas são definidas pelos seus usos, como o
•Faixa de Reserva – FR – que abrange ambos centro histórico, local de lazer para o turismo,
os lados do Rio Grande e Ribeirão da Palha, e de comércio, de serviços e de gestão,
dos córregos da Prata e Pururuca, e é destinada apresentando, ainda hoje, funções múltiplas
à implantação de tratamento sanitário e historicamente estabelecidas; o turismo e o
paisagístico da calha dos referidos cursos turista é que, gradativamente, “ganham
d’água e à implantação de novas vias de espaço”, em relação às outras atividades e
circulação. sujeitos sociais. O centro histórico de
Diamantina constitui-se, ainda, em um espaço
Note-se que o Plano, teoricamente, complexo de vivência referencial para o
abrange a totalidade do território urbano de diamantinense (isso revela a incipiência do
Diamantina (sobretudo as áreas de ocupação processo de mercantilização do patrimônio em
“indesejada”) dando significativa ênfase ao Diamantina, o que confirma a problemática da
centro histórico, de forma que a Zona de pesquisa de que a “valorização do espaço” na
Preservação Rigorosa, a Zona de Preservação cidade ganha relevo a partir de sua inclusão na
Complementar e a Zona de Proteção do Centro Lista do Patrimônio Mundial e da implantação
Histórico constituem, conjuntamente, áreas do Programa Monumenta, no início do século
cujas diretrizes visam aos cuidados com o núcleo XXI, quando cidades como Ouro Preto e
tombado. Na prática, a teoria é outra; decorridos Tiradentes já estavam profundamente
dez anos, realmente, espera-se o momento ideal refuncionalizadas pela atividade turística
para que ocorra “o planejamento (...) do (COSTA e OLIVEIRA, 2008)). A cidade também
desenvolvimento urbano futuro da cidade”; apresenta, de forma desconcentrada, pequenas
espera-se, ainda, o momento certo para se indústrias e áreas residenciais diversas em
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 17

termos de forma e conteúdo social (um olhar a uma movimentação cultural intensa, que a
partir da periferia), o que nos remete a um iniciativa parte da população e não somente pela
território urbano, dialeticamente, fragmentado prefeitura, o Monumenta foi assimilado por
e articulado. segmentos da prefeitura, pois a prefeitura não
Ao indagarmos o secretário podia onerar seu quadro com arquiteto,
de turismo de Diamantina, Walter Cardoso engenheiro, economista, exclusivos para o
França Júnior, sobre o risco de a cidade, nos Monumenta”.16
próximos anos, ver agravadas suas
Para Corrêa (2005, p. 07), o espaço
problemáticas socioespaciais, no que diz
urbano é simultaneamente fragmentado e
respeito à “cenarização” e segregação do
articulado, de forma que cada uma de suas
residente, do centro, como se identifica em
partes mantém relações espaciais com as
Tiradentes e Ouro Preto (COSTA e OLIVEIRA,
demais, ainda que de intensidades desiguais;
2008), o mesmo foi taxativo: “Acredito que sim,
no entanto, a fala dos agentes públicos de
o risco é natural, isso ainda não é muito
Diamantina remete-nos à desarticulação das
evidente, isso pode acontecer” 15 . Já o
ações de organização do espaço; as mesmas
coordenador do Programa Monumenta, Carlos
não contemplam as transformações urbanas
Emanuel considera que não é possível, devido
atuais de Diamantina, sobretudo, no que diz
ao grande fluxo diário de moradores para o
respeito à situação socioespacial da periferia da
centro da cidade. A postura contraditória de
cidade; as atenções estão voltadas para o
ambos agentes públicos revela-nos visões de
centro histórico, de forma objetiva e pontual.
mundo distintas e pontos de vista díspares
sobre o que vem ocorrendo em Diamantina, Nessa cidade histórica, a articulação
mesmo sendo ambos agentes públicos do território urbano, as relações socioespaciais,
diretamente envolvidos com a busca do podem ser identificadas, empiricamente, através
desenvolvimento do turismo na cidade. O do intenso fluxo de veículos no pequeno centro
primeiro, com uma visão de longo prazo, crê na histórico (o que se constitui em uma séria
possibilidade do centro histórico de Diamantina problemática), por meio do deslocamento
tornar-se um cenário banal, onde o residente cotidiano identificado nos bairros residenciais,
não tenha vínculo direto com território central da locomoção para os distintos locais de
da cidade, uma vez que já é evidente a saída trabalho, visitas a parentes e amigos, busca de
de moradores do centro; já o segundo, com uma locais para o lazer, etc
visão mais imediatista, não crê nessa O centro histórico aparece também,
possibilidade, dada a complexidade da atual conforme a função estabelecida por Corrêa
dinâmica que ronda o centro histórico. “Não é (2005) para um centro urbano, como núcleo de
possível, porque o cotidiano da população de articulação da cidade, o nó de uma pequena
Diamantina está ligado ao centro histórico, tanto rede, de forma que as relações espaciais
que ali você tem um banco, uma transportadora, integram, diferentemente, as diversas partes da
um forte comércio, você encontra com as cidade, unindo-as em um conjunto articulado.
pessoas nas ruas, caso diferente de Tiradentes, Logo, pode-se considerar, dialeticamente, o
onde baixou Rio de Janeiro e São Paulo. Sobre espaço urbano de Diamantina como
reassentamento de residentes ou retorno da fragmentado e articulado. Logo, confirma-se a
população para o centro histórico, no caso de problemática da pesquisa, de que as atuais
Diamantina, não tivemos nem desapropriação ações voltadas para o centro histórico de
nem o reassentamento, com o Monumenta. Eu Diamantina redundam em uma política de
sei que há intervenções que há necessidade de patrimônio que desvia a atenção pública e
retirar o pessoal, não é o caso de Diamantina. recursos de problemas mais amplos, sobretudo,
O comércio de Diamantina é antigo, não temos fora do núcleo tombado, o que vem afetando
um centro histórico vazio, tem vida própria, tem as condições de vida da população local,
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ressignificando “valores” e produzindo uma cidade, à cidadania plena e igual para todos”.
cidade altamente fragmentada, o que (CORRÊA, 2005, p. 08-09).
caracteriza a dialética da fragmentação As pesquisas de campo contribuíram
articulada mencionada por Corrêa (2005). “O para o desvendamento da vigente fragmentação
espaço da cidade capitalista é fortemente articulada do território urbano, ao se considerar,
dividido em áreas residenciais segregadas, comparativamente, o centro histórico e os
refletindo a complexa estrutura social em bairros Palha, Rio Grande e Bela Vista, os três
classes (...) é um reflexo tanto de ações que se últimos desprovidos de diversos equipamentos
realizam no presente como também daquelas de infra-estrutura, saneamento básico e
que se realizaram no passado e que deixaram assistência pública, que aparecem concentradas
suas marcas impressas nas formas espaciais do no centro da cidade e seu entorno (o mapa
presente (...) a desigualdade constitui-se em apresentado anteriormente delimita esta área).
característica própria do espaço urbano A análise do gráfico 01 confirma essa assertiva,
capitalista (...) O espaço da cidade é assim, e quando se tem a grande maioria dos
também, o cenário e o objeto das lutas sociais, entrevistados nos três bairros da periferia
pois estas visam, afinal de contas, o direito à apontando variadas problemáticas
socioespaciais em seus respectivos espaços de
vivência, em contraponto à população residente

Gráfico 01

Problemas de saneamento básico e infra-estrutura


urbana nos bairros entrevistados

40 37
35
35 32
30

25
Centro Histórico
20
Bela Vista
Palha 15
Rio Grande 10
7
5

0
Residentes por bairro

Fonte: Ques tionário aplicado e m Diam antina, 2008 / E. Costa.

Mais uma vez, fica notória a contradição pela negligência dos agentes públicos em
existente em Diamantina entre a retórica relação aos seus espaços de vida, emerge uma
capitalística dos agentes públicos e o clamor retórica descabida por parte dos detentores do
sublevado dos habitantes locais. Enquanto a poder. De acordo com o atual Prefeito de
população dos bairros Rio Grande, Palha e Bela Diamantina, Gustavo Botelho Júnior, quando o
Vista apontam a “precarização” de seu território questionamos sobre sua análise dos principais
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 19

problemas socioespaciais existentes na cidade o próprio prefeito, pois considera Diamantina,


e sobre a “turistificação” do centro histórico, diz- uma cidade com sérios problemas urbanos, o
nos que, “Não temos nenhum problema que o faz crer no potencial do turismo para a
[socioespacial], a administração falha por falta melhoria da qualidade de vida do
de planejamento [assume a falta de diamantinense. “O pessoal que está no entorno
planejamento], principalmente agora, nestes de Diamantina, distritos18 e periferia, passam por
últimos dois anos. Se você verificar a periferia, muita dificuldade. Diamantina não tem muito que
está toda asfaltada, e todas casas de alvenaria, oferecer em termos de emprego. O turismo é
inclusive casas boas; e quem trouxe isso foi o uma nova chance e as pessoas começam a
turismo, que deu emprego a estas pessoas que enxergar isso porque está dando dinheiro.
são oriundas do garimpo. A Universidade Surgiu uma Vesperata com mil coisas que eu sou
Federal, agora, de 2005 para cá, está em contra, bom, mas é um detalhe, mas é um
Diamantina, ajudando no desenvolvimento, produto que enche a cidade e se a enche, o
criando. Por isso falo na falta de planejamento, hotel pode se manter, o que faz contratar mais,
agora que o turismo e a universidade juntos ele amplia espaço, o posto de gasolina vende
aumentaram muito a demanda, e não mais, o artesanato vende mais, e isso vai
estávamos preparados para um aquecendo e fazendo aparecer a visão de que
desenvolvimento tão grande, e estávamos sem eu posso sobreviver disso”.19
preparo do quadro técnico, e não estávamos Ao ouvir os residentes nos bairros
estruturados para este desenvolvimento Palha, Rio Grande e Boa Vista, fica latente a
repentino, foi tão grande esse desenvolvimento, lógica do ponto de vista do secretário de turismo
que transformou a vida da população. de Diamantina, que reconhece o processo de
Diamantina é considerada pelo governo federal “precarização” da periferia (foto 02), onde
como Indutora do Turismo Internacional, aparecem como principais problemáticas
Diamantina foi escolhida, em Minas Gerais apontadas pelos moradores: a falta de água,
juntamente com Ouro Preto e Tiradentes. Sobre sobretudo em períodos de grandes eventos;
o PRODETUR, a comunidade era chamada para esgoto a céu aberto; precariedade das vias
participar de numa reunião; sobre uma das públicas; ausência de telefones públicos;
coisas que discutimos, percebi que havia uma ineficiência dos transportes públicos coletivos;
divisão entre um grupo que considerava o centro falta de segurança pública, descaso com a
histórico um atrativo turístico e outro grupo dizia limpeza de ruas e praças, além do grande
que não é um atrativo porque não se pode desemprego (visivelmente, os bairros Rio
vender. Com certeza absoluta deve-se vender, Grande e Palha são dois dos bairros mais
porque o município de Diamantina, desde sua carentes de Diamantina). Também fica nítida a
origem, vivia da extração de diamantes e até insatisfação dos moradores em relação à
pouco tempo atraz 70% da economia do inexistência, por exemplo, de comércio e serviços
município girava em torno da extração dos em geral, em seus bairros, de forma a serem
diamantes, hoje é o turismo”.17 obrigados a se deslocarem, para diversos fins
A fala do prefeito remete-nos à – particulares, ao centro histórico e arredores, que
utopia!? – de uma cidade que não apresenta ainda guarda suas funcionalidades. Fica nítida
problemas socioespaciais, a uma cidade que tem a insatisfação pelo ônus desse deslocamento,
no turismo a atividade que vem favorecendo o nesses bairros mais pobres.
ordenamento do território urbano por si só, bem De acordo com Haesbaert (2004, p.
como a melhoria da qualidade de vida da 315), a pobreza está associada à
população local, sem planejamento (essa disponibilidade de recursos (em sua acepção
postura contraria nossas análises de campo e mais ampla), o que inclui a própria dimensão
teórica). Contudo, a fala do atual secretário de espacial, ou seja, o território como “recurso”,
turismo, Walter Cardoso França Júnior, contradiz inerente á nossa reprodução social. O autor
20 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, 2009 BATISTA DA COSTA,E

parte do pressuposto de que toda pobreza e, privação territorial, isto é, a desterritorialização


com mais razão ainda, toda “exclusão social”, é num sentido absoluto, a não ser como espaços
também, em algum nível, “exclusão que são vedados à territorialização.
socioespacial” e, por extensão, “exclusão Haesbaert continua sua análise citando
territorial”, o que Haesbaert denomina José de Souza Martins, que prefere utilizar o
“desterritorialização” em um sentido “forte”, ou termo “inclusão precária”, em vez de “exclusão
aquele que pode ser considerado o mais estrito, social”. Martins critica a noção de “exclusão”
a desterritorialização como “exclusão, privação como um estado ou situação fixa, que “substitui
e /ou precarização do território enquanto a idéia sociológica de processos de segregação”
‘recurso’ ou ‘apropriação’ (material e simbólica) e que ignora a “reação da vítima, isto é, sua
indispensável à nossa participação efetiva como participação transformativa no próprio interior
membros de uma sociedade”. Para o autor, da sociedade que exclui o que representa a sua
assim como não há uma situação completa de concreta integração”. Ao concordar com o autor,
exclusão social, também não há a completa considera-se, aqui, o processo enquanto
segregacionista.

Foto 02 e 03: Bairro Rio Grande, de ocupação desordenada, no entorno do centro histórico, com
gravíssimos problemas de infra-estrutura urbana. As casas foram construídas em meio às pedras. Foto do
autor / fev. 2008.
Planejamento territorial urbano e do turismo,
para quem?
território para o turismo; a primeira diz respeito
A atual política de patrimônio em à própria negligência com a qual é tratado; a
Diamantina evidencia o negligenciamento do segunda está ligada ao insustentável discurso
território, pois é tratado na ótica “econômica e das diminuições das desigualdades regionais
economicista da atividade turística” (CRUZ, com a implementação da atividade, como se o
2005). O Estado participa, ativamente, na turismo, uma atividade setorial, fosse capaz de
transformação do espaço social em produto de reverter, por si só, desigualdades historicamente
consumo, com o Programa Monumenta. De criadas. Logo, o turismo, por si só não é capaz
acordo com Cruz (2005, p. 35), duas de reverter as realidades históricas das
problemáticas afloram no tratamento do desigualdades sócio-regionais. Segrega, ainda
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 21

mais, um turismo sem um devido planejamento trabalhadores, o acesso à educação em todos


(CRUZ, 2005, p. 35). os níveis. “A saúde tem de ser assegurada
É de bom tom considerar que a também e, para isso, é fundamental que a
alimentação básica seja obtida através do
atividade do turismo tem algo de perverso em
trabalho em horário normal” (CAMPOS FILHO,
sua natureza, como aponta Cruz (2005). Só faz
1992, p. 47).
turismo quem tem condições para isso
Com a análise posta até o
(expressa diferenças sociais) e não são todos
momento sobre o território urbano de
os lugares escolhidos para o seu
Diamantina, identifica-se, mais uma vez, que o
desenvolvimento. O capital é extremamente
planejamento faz-se como um processo político-
seletivo do ponto de vista espacial; para Cruz
ideológico, que exprime anseios, desejos,
(2005), o é ainda mais quando atrelado ao
angústias e visões de mundo dos agentes que
turismo, uma vez que o espaço é seu objeto de
o conduzem; tem-se, desta forma, a rendição
consumo. Nesse sentido, a escolha dos lugares
dos sujeitos aos pressupostos neoliberais, a
para o estabelecimento dessa atividade
centralização descentralizada, a negligência do
redunda em uso e também em negligenciamento
espaço urbano em favor do mercado, a
do território, dialeticamente: “De um lado,
fragmentação articulada do território urbano.
enquanto se prioriza os territórios eleitos pelo
Nesse sentido, o território urbano
turismo com obras e normalizações de uso, se
pode ser definido a partir de suas
negligencia outras porções do território,
desigualdades, quando são estabelecidos
abandonadas à própria sorte” (CRUZ, 2005, p.
“enclaves de prosperidade”, nas cidades;
39), é o que se identifica através de uma
processo que ocorre de forma desequilibrada,
fragmentação articulada entre um centro em
dado o despotismo do capital hegemônico que
vias de “valorização” e uma periferia em
o fragmenta. Para Santos (1999), o capital
processo de “precarização”, em Diamantina.
torna-se cada vez mais autoritário, vestindo
Sendo o turismo uma atividade
uma máscara da bondade e do equilíbrio,
incipiente na cidade histórica do sertão do norte
camufla suas contradições imanentes,
de Minas e considerando que seu planejamento
transformando o território quando posto em
urbano, na prática, está ligado às necessidades
ação.
de uma classe específica voltada para um
As entrevistas com os agentes
território pontual, torna-se mister a indicação
públicos de Diamantina (prefeito, secretário de
de Campos Filho (1992, p. 47). Para o autor,
turismo, coordenador do Programa Monumenta
hoje, há uma reivindicação crescente nas
/ Diamantina e com o chefe do Escritório Técnico
cidades, a de o poder público atender ao direito
do IPHAN / Diamantina) revelam uma retórica
a uma vida segura, com estabilidade no
em que a cidade tem como norte o
emprego, e a um ganho correspondente
desenvolvimento do turismo, a geração de
estável, em que o progresso pessoal decorra
renda para o município e a melhoria do
de um jogo político limpo, em busca da
saneamento básico, num momento em que o
apropriação da riqueza gerada (deve, o
garimpo do diamante deixa de ser a principal
diamantinense, fazer frente ao poder público
fonte de renda da população. Contudo, verifica-
na exigência da implementação de políticas
se que as ações que buscam alcançar esses
públicas que promovam a redistribuição da
novos objetivos são estabelecidas
renda oriunda do turismo que vem se
desarticuladamente, o que dificulta, em nosso
apropriando, privativamente, de um patrimônio
entendimento, a operacionalização da
mundial que é – ou deveria ser – apropriado de
organização socioespacial urbana para o
forma coletiva). Também, deve-se enaltecer o
alcance dos mesmos. Segundo Corrêa (2003,
próprio direito de reivindicar e fazer greves
p. 84) não é com remendos somente na
gerais, o que ainda não é plenamente
organização espacial da cidade, que se resolve
reconhecido. Deve-se reivindicar, ainda, os
22 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, 2009 BATISTA DA COSTA,E

a questão das desigualdades socioespaciais obras e serviços apresentam-se com baixa


postas historicamente. Há de se mudar a partir capacidade para todo o Vale do Jequitinhonha.
da prática e das relações daqueles que A maior contradição identificada no quadro,
assumem o papel de agentes do destino de uma porém, encontra-se no descaso ao provimento
sociedade, de seu próprio destino e de políticas culturais e de apoio ao turismo para
modeladores de seu espaço; há de se moldar o todo o Pólo Turístico do Vale do Jequitinhonha
homem novo de uma sociedade que se retrata (como se desenvolver um turismo sério, gerador
cada vez mais desigual. de renda para a coletividade, sem o
O atendimento concreto da estabelecimento de tais políticas?). A análise
melhoria das condições de vida que deveria ser qualitativa do quadro 01 demonstra uma
assegurada, nas cidades, é dificultado desarticulação e a falta de critérios sociais no
enormemente pela forma como está organizado planejamento urbano dessas cidades do
o seu espaço, especialmente devido à interior, onde, na esperança do lucro e de renda
especulação com a terra, segundo Campos Filho fáceis, as ações são pontuais e favorecedoras
(1992). E é dificultado, também, pelas do estabelecimento de funções e formas
estruturas político-administrativas que espaciais distintas para sujeitos específicos;
impedem, ou não fazem a menor questão, de ações que promovem atividades e criam
atender o direito do cidadão em participar da materialidades concentradas, o que favorece a
gestão da sua cidade [aqui se defende, por dinamização espacial da segregação (as ações
exemplo, a gestão participativa da cidade, ou o que acompanham o Monumenta, em
Plano Diretor, verdadeiramente, participativo, Diamantina, são exemplares).
que transcenda a retórica de agentes públicos
inescrupulosos – é uma proposta que se faz
Quadro 01:
clara na Convenção do Patrimônio Mundial, no
Memorando de Viena, na Recomendação de
Nairóbi e cartas analisadas em Costa (2009)].
A questão da infra-estrutura
urbana e do saneamento básico aflora em
Diamantina no momento de sua maior
visibilidade internacional, ao ser consagrada
como Patrimônio Mundial. A Fundação João
Pinheiro desenvolveu, em 2004, o Plano de
Desenvolvimento Integrado do Turismo
Sustentável do Pólo Turístico do Vale do
Jequitinhonha que traz informações
fundamentais sobre a capacidade institucional
e municipal das cidades da região; informações
que possibilitam enquadrar Diamantina no
contexto regional e ratificar as observações de
campo que levam a identificar uma cidade
progressivamente dual.
O quadro 01, abaixo, oferece-nos
informações preciosas sobre a capacidade Segundo o prefeito de Diamantina, “O
institucional das administrações municipais das desenvolvimento do turismo, a geração de
cidades do Pólo Turístico do Jequitinhonha, do renda e o saneamento básico são prioridades
qual faz parte Diamantina. A situação geral dos da prefeitura. No artesanato, por exemplo,
municípios é calamitosa, onde o planejamento sedemos uma parte da Secretaria de Cultura
urbano e o provimento de infra-estrutura de para um grupo de 17 artesãos; com 8 meses
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 23

criaram uma associação e tinham 101 a infra-estrutura urbana como sendo duas das
associados, o apoio da prefeitura foi oferecer o principais problemáticas socioespaciais
espaço físico e orientação via SEBRAE. Hoje enfrentadas pelo diamantinense. A Fundação
temos vários projetos, mas continuamos dando João Pinheiro ratifica, mais uma vez, ratifica
o apoio a este projeto. Hoje, a gente apóia nossa análise, ao trazer como os principais
pouco, não há necessidade, pois a associação problemas urbanos da cidade os córregos sem
já dá conta de se sustentar, os distritos também canalização, a habitação e o saneamento,
possuem esses grupos de artesãos que foram principalmente esgoto sanitário. Diamantina
apoiados pela prefeitura”.20 apresenta todos os problemas de esgotamento
O quadro 02, a seguir, também da sanitário possíveis, de acordo com o quadro 03,
Fundação João Pinheiro, traz os principais que se sucede ao seguinte. De acordo com o
problemas urbanos identificados nos municípios prefeito, “O bairro Rio Grande foi ocupação
do Vale do Jequitinhonha, o que revela um desordenada; hoje, está sendo urbanizado, é
problema regional de gestão urbana que um dos bairros que tem mais investimento em
envolve a melhoria da qualidade de vida da urbanização. Estamos investindo em praças, na
população do norte de Minas Gerais. A fala dos captação de água da serra e na despoluição do
moradores de Diamantina, juntamente com a córrego, porque la é onde recebe o esgoto, é
observação de campo, remetem ao descaso uma das ações que estão sendo desenvolvidas,
municipal para com o saneamento básico e com de saneamento”.21

Quadro 02:

Há cidades, segundo Campos Filho (1992, p. houvesse, terrenos baldios em quantidade


52), que pelo menos, num esforço gigantesco, razoável. “Um governo urbano cada vez mais
procuram, com seus parcos recursos, levar a pobre, enfrentando cidades cada vez mais
infra-estrutura de serviços urbanos e caras: essa é a realidade preocupante que nós,
equipamentos comunitários à periferia; são brasileiros, temos que enfrentar” (CAMPOS
cidades obrigadas a estendê-los muito mais do FILHO, 1992, p. 52).
que seria necessário, caso não houvesse, ou
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Quadro 03:

Fotos 04 e 05: Descuido com o tecido urbano, nos bairros Rio Grande e Palha.
Fotos do autor / fev. 08.

Segundo Campos Filho (1992, p. 47), atender importante reivindicação política dos
ao direito mínimo do cidadão urbano, que é o movimentos sociais urbanos. Isso significa ter
habitar com dignidade, está se tornando o cidadão uma casa, ainda que singela, com
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 25

transporte para o trabalho, algum lazer, os diferenciação no padrão das habitações, onde
serviços essenciais à saúde, como água potável, poucos possuem uma renda para pagar uma
com a drenagem da água, tanto insalubre como moradia decente (foto 06). Há uma grande
a destruidora de sua moradia (enchentes), e sintonia da segregação, da fragmentação do
os serviços necessários à sua segurança, como território urbano, com a subnutrição, com o baixo
ruas bem iluminadas e transitáveis durante todo nível de escolaridade, com o desemprego, com
o ano. o subemprego e com o emprego mal-
Ao se considerar a proposição de remunerado. Para Corrêa (2005, p. 30), esse
Campos Filho, aferi-se que Diamantina grupo torna-se um agente modelador do espaço
apresenta um espaço urbano desigual e na produção de favelas (terrenos públicos ou
mutável dada a própria política pública de privados), a despeito de outros agentes; vê-se
patrimônio adotada; o Estado, juntamente com uma luta pela sobrevivência frente às
os agentes de mercado, frente aos grupos diversidades que encontram grupos recém-
sociais segregados, constituem-se nos chegados do campo ou provenientes de áreas
principais modeladores do espaço urbano. O urbanas reformuladas pelo mercado, que lutam
Estado e o mercado buscam na valorização pelo direito à cidade. “Como morar na periferia
simbólica um adendo para a valorização é, na maioria das cidades brasileiras, o destino
econômica do espaço central da cidade, criando dos pobres, eles estão condenados a não dispor
uma “cidade empreendimento de última de serviços sociais ou a utilizá-los
geração” (ARANTES, 2002, p.16) com ênfase no precariamente, ainda que pagando por eles
retorno ao planejamento, que segundo a preços extorsivos, é o mesmo que se dá com os
autora, não veio para corrigir o antiurbanismo transportes. O resultado de todos esses
anárquico. Ao contrário, esse novo agravos é um espaço empobrecido e que
planejamento veio para agravar ainda mais as também se empobrece: material, social, política,
problemáticas socioespaciais urbanas, desde cultural e moralmente (...) A quem pode um
que governantes e investidores passaram a candidato a cidadão recorrer para pedir que faça
desbravar a fronteira do poder e do dinheiro – valer o seu direito ao entorno (...) ? A própria
no negócio das imagens. “O ‘tudo é cultura’ da existência vivida mostra a cada qual que o
era que parece ter sido inaugurado nos idos de espaço em que vivemos é, na realidade, um
1960 teria, pois, se transformado de vez naquilo espaço sem cidadãos”. (SANTOS, 2007, p. 65)
que venho chamando de culturalismo de
mercado” (ARANTES, 2002, p. 16). O espaço
urbano de Diamantina é produzido focalizando-
se esculturas, praças, objetos arquitetônicos de
alto valor simbólico incorporado, atraindo
capitais e estruturando a obrigatoriedade de um
trajeto pré-estabelecido, são zonas favorecidas
que incorporam o capital cultural, na ilusão que
forja não somente um esperado futuro
promissor para uma classe determinada, mas
precariza a situação urbana e de vida de
pessoas menos esclarecidas e menos
favorecidas social e espacialmente.
Quanto aos grupos sociais
segregados, os últimos modeladores do espaço
urbano, vivem as diferenças aos acessos aos Foto 06: Habitações precárias, entre as pedras, no
bens e serviços produzidos socialmente. Corrêa bairro Rio Grande. Foto do autor / fev. 08.
(2005) considera marcante no espaço urbano a
26 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, 2009 BATISTA DA COSTA,E

Os bairros Palha e Rio Grande, principalmente, periferia. Considerar a cultura localizada apenas
estabelecidos em terrenos inadequados aos no centro é desconsiderar o que não é central,
outros agentes de produção do espaço (como o que acontece em Diamantina, no nosso
o da foto 06, acima), devido às encostas entender; a cultura que se cultiva no território
íngremes e áreas alagadiças, aos poucos e de que se mostra desprovido das condições dignas
forma incompleta recebem o insuficiente de de sobrevivência é a da pobreza e a da miséria,
infraestrutura da municipalidade. Normalmente, o que acaba por transformar o imaginário do
a verba pública ou os investimentos só são residente em relação à sua cidade histórica,
destinados à periferia ou à parte do território representada pelo centro em processo de
urbano desprovido de capital fixo, sob a forma turistificação. “A musealização da cidade e dos
de assistencialismo, em caso de catástrofes centros históricos, ocorre em lugar da
naturais ou forte reivindicação popular, em ‘culturalização’ de todo espaço urbano; as ruas
lugares cujos habitantes organizam-se frente de lazer e outros enganosos paliativos aos
aos setores públicos. Conforme Carlos (2006), desequilíbrios da vida contemporânea caem
o urbano é, por excelência, o lugar das também nesta perspectiva” (MENESES, 1999, p.
contradições, dos confrontos, das lutas pelo 95).
espaço e da imposição de classe. Planejadores, políticos e promotores
Os problemas urbanos de culturais trabalham em conjunto para
Diamantina, apontados neste artigo, agravam produzirem ou estabelecerem um consenso
a situação de vida da população, vê-se que a social sobre as estratégias culturalistas;
ilusão de que o desenvolvimento da atividade assumem papel preponderante a mídia e a
turística favorece a melhoria das condições propaganda na veiculação local e internacional
sociais, de forma coletiva, transforma-se em uma das vantagens oriundas do desenvolvimento
retórica que busca o apaziguamento dos ânimos turístico, aparecem como os principais benefícios
sociais frente a um processo que segrega social oriundos da atividade, de acordo com as
e espacialmente. Segundo Campos Filho (1992), informações disseminadas, a geração
o conjunto dos problemas sociais urbanos vai “exorbitante” de empregos, a melhoria da
empurrando o trabalhador de baixa renda para qualidade de vida para a população local e o
posições cada vez mais periféricas na estrutura desenvolvimento do “capital” cultural para a
urbana, muitas vezes não lhe restando outra população local. Assim, pode-se considerar a
possibilidade que a aquisição de terrenos na proposta de Scarlato (2005), para quem é
zona rural (uma inversão de fluxos preciso se trabalhar a cidade não somente no
populacionais, agora, da cidade para o campo). plano de sua materialidade, mas também no da
Esse processo de periferização física e social subjetividade; quer dizer, a sociedade não só
acaba por distanciar ainda mais a família pobre produz, historicamente, formas espaciais,
do emprego, do comércio melhor e mais barato condições de sobrevivência, mas também
e dos serviços públicos de melhor qualidade, da reproduz, no seu imaginário, as representações
educação, saúde e lazer, que são gratuitos, ou simbólicas da cidade
seja, não são pagos pelos salários, isso, quando O planejamento urbano estratégico,
já existentes em seu lugar de morada. como instrumento de classe, que atua,
Logo, o novo planejamento urbano objetivamente, nos lugares “especiais” da
estratégico assume uma política cultural que não cidade (uma de suas limitações) não nos deixa
diz respeito à totalidade da experiência social, crer na argumentação de uma vertente para a
mas na segmentação dos privilegiados. De qual a cultura desceu de seu pedestal elitista,
acordo com Meneses (1999, p. 95), há uma visão bem como saiu de seu confinamento populista,
concentradora de cultura que se consubstancia expandindo-se e infiltrando-se por todos os
no centro histórico, por exemplo. O termo centro, domínios relevantes nas arenas econômicas,
de cara, induz à ideia da existência de uma sociais e políticas, reconstituindo-as segundo as
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 27

regras de novos formatos culturais, utilizados Em um território urbano onde a localização dos
por sua vez, como recurso de valorização nos serviços essenciais é deixada ao sabor da lógica
respectivos âmbitos (cultura para as massas?). do mercado (ou da mercantilização de
Precisa-se concordar com Arantes (2002, p. 47), patrimônio), verifica-se uma tendência geral
o acesso à cultura ainda é elitizado e direcionado para que as desigualdades sociais aumentem.
a uma classe específica. Ao empobrecimento pela economia, isto é, pelo
Para colocar termo à dialética mercado, junta-se o empobrecimento pela
fragmentária de uma construção destrutiva que desorganização do território por inação do
assola as cidades históricas, analisadas à luz poder político.
da relação entre a valorização do espaço, a Somos favoráveis à análise de
dominação do espaço e a representação do Castells (1975) sobre o planejamento urbano,
espaço, operacionalizadas por sujeitos sociais pois, pode se definir, em geral, como a
com distintas visões sociais de mundo urge a intervenção do sistema político sobre o sistema
transcendência de uma luta urbana que deve econômico-social, na esfera de um conjunto
enfocar a cidade como um todo e o indivíduo socioespacial específico; intervenção
total, onde os segregados unam-se em favor encaminhada para regular o processo de
de uma causa comum. Para Milton Santos, em reprodução da força de trabalho (consumo de
“O espaço do cidadâo”, as ações que têm bens e serviços) e o da reprodução dos meios
também por base intelectual e ideológica de produção (produção de bens e serviços),
comportamentos corporativos têm eficácia superando as contradições postas no interesse
reduzida, ou nenhuma, na formulação da geral da formação social cuja subsistência
consciência social e como contribuição válida ao procura assegurar. Sabendo que a intervenção
desenvolvimento social. Conforme o autor, no espaço urbano está necessariamente sujeita
“Marx, em A Ideologia Alemã, já lembrava o perigo à matriz social que a gera e a circunscreve, urge
de os indivíduos de uma mesma classe se a implementação da gestão participativa nas
tornarem inimigos na concorrência internamente cidades históricas do interior brasileiro,
travada entre eles próprios, em lugar de se especialmente, nas cidades nas quais o turismo
organizarem para se exprimir eficazmente contra mostra-se incipiente, como é o caso de
a classe dominante, cuja condução da sociedade Diamantina. Sua abordagem teórica e prática
impede que as classes dominadas busquem seu deve ter como azimute a busca da totalidade
caminho via uma ação conseqüente”. (SANTOS, da cidade histórica inserida no contexto mais
2007, p. 99) amplo de reprodução do capitalismo e
seletividade do capital.
Á guisa de conclusão: a dialética necessária Este artigo sintetiza a resposta ao
ao planejamento nosso problema da pesquisa, no qual se buscou
entender como a “preservação” de patrimônio
É evidente a dualidade da “valorização” cultural reflete na organização socioespacial de
do centro histórico frente à “precarização” da Diamantina, uma cidade do sertão de Minas
periferia como fator de transformação da Gerais. Por de uma abordagem crítica, verificou-
realidade e do imaginário do diamantinense, se que o par dialético “preservação” /
constituindo uma questão de produção “mercantilização” favorece a produção de um
socioespacial capitalística. Nesse sentido, território urbano dividido quando as ações do
verifica-se que o poder público colabora para a poder público voltam-se para o centro da cidade
supervalorização de certas áreas, para o melhor e negligenciam o processo de “precarização”
êxito da especulação, para a maior anarquia das vigente e ascendente na periferia. Ao focar a
localizações e dos fluxos, para o cidade histórica enquanto a área delimitada pelo
empobrecimento cumulativo das populações e tombamento, pecam pesquisadores e
o enobrecimento de áreas especiais da cidade. governanças urbanas; o possível caminho para
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a preservação inconteste dos bens culturais do do que isso, a necessidade de reprodução do


mundo encontra-se na busca do entendimento capital busca nas singularidades e
e da minimização das problemáticas irreplicabilidades do urbano (Diamantina
socioespaciais na totalidade da cidade histórica Patrimônio Mundial universelle exceptionnelle) um
inserida na “totalidade mundo” (SANTOS, 2002). adendo para a “valorização do espaço” agora
Fica claro que, mais uma vez, o metamorfoseado em “capital simbólico”.
planejamento não chega à periferia, é feito Assim, o planejamento torna-se o
pelas elites para as elites; o que se tem é mais primeiro e o principal instrumento favorecedor
um modelo segregacionista de planejamento da transformação da cidade histórica em
urbano, quando poderia surgir como em um mercadoria, ao passo que deveria possibilitar
potencial instrumento de melhoria da qualidade uma maior articulação entre agentes públicos e
de vida de toda população diamantinense. sociedade civil para se pensar o direito de todos
Logo, lançamos um olhar geográfico sobre à cidade e a preservação dos bens culturais do
Diamantina reconhecendo a dialética da mundo de forma social, espacial e
fragmentação articulada instaurada no território democraticamente integrada, verdadeiramente
urbano, pois a especulação do centro histórico participativa, que por falta de vontade política
parece depender da “precarização” da periferia, não pode ser implementada. Os centros
mesmo constituindo o centro em um lugar primaz históricos não são as cidades históricas, mas parte
na vida de todo diamantinense, pois seu integrante e fundamental do que as encerra, são
imaginário aponta para a transformação dos o símbolo primeiro da formação urbana e
significados que esse espaço tem para si, agora territorial brasileira. O planejamento deve,
como espaço do turismo e do lazer para os assim, tratar a cidade histórica enquanto
forasteiros. Nem tão articulado, nem tão totalidade urbana, minimizando a distância
somente fragmentado, a leitura geográfica do material e simbólica do núcleo tombado para
território urbano de Diamantina aponta para a seus residentes, valorizando e reconhecendo,
limitação do acesso público aos bens culturais simultaneamente, os aspectos mais amplos e
e lugares coletivos; a cidade, de forma contraditórios da urbes e das múltiplas relações
incipiente, é açambarcada pela lógica do turismo que a dão sentido enquanto locus da vida e da
enquanto uma atividade que rebate, morte, do sagrado e do profano, do efêmero e
negligentemente (na falta do devido do permanente, do bem e do mal, da memória
planejamento), sobre o espaço social. No limite, e do esquecimento, da preservação e da
essa análise aponta para o que denominamos mercantilização, do público e do privado, por fim,
dialética da construção destrutiva na consagração do centro e da periferia, dialeticamente.
do Patrimônio Mundial (simultaneamente,
símbolo de cultura e de mercadoria; cultura Notas
urbana enquanto valor de uso que é minimizada
1
pela mercantilização que a recria e a maximiza Este texto reproduz as reflexões desenvolvidas
como valor de troca), baseado na leitura de na dissertação de mestrado do autor titulada
David Harvey, Milton Santos e Antônio Carlos “A dialética da construção destrutiva na
Robert Moraes, principalmente, que nos legam consagração do Patrimônio Mundial: o caso de
uma crítica marxista que apresenta com Diamantina (MG)”, orientada pelo Prof. Dr.
propriedade e coerência a idéia de um Francisco Capuano Scarlato e defendida no
desenvolvimento desigual e combinado da Programa de Pós-Graduação em Geografia
sociedade, argumentando que o capital Humana da Universidade de São Paulo (USP),
constrói, destrói e reconstrói os lugares à sua em 19 de Janeiro de 2009.
semelhança. Sobretudo a cidade histórica do
2
interior, transforma-se, contemporaneamente, Organização das Nações Unidas para a
em função das funcionalidades do capital; mais Educação, a Ciência e a Cultura.
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 29

3 6
Banco Interamericano de Desenvolvimento. Valorização, dominação e representação são
ações que se materializam no processo histórico
4
O procedimento de inscrição de um bem na de produção do território urbano, em
lista do Patrimônio Mundial demanda duas fases Diamantina. Hoje, as ações destinadas à busca
distintas. Na primeira, o Estado interessado da chancela da UNESCO e à implantação do
inventaria o bem cultural e aplica as medidas Programa Monumenta simbolizam a imbricação
necessárias para sua proteção. Na segunda, a de ações políticas e interesses econômicos
solicitação da inscrição do bem cultural é voltados para a mercantilização do patrimônio
submetida ao exame e à deliberação do cultural, de forma que o urbano assume uma
ICOMOS (Conselho Internacional de nova representação no imaginário do residente.
Monumentos e Lugares de Interesse Artístico e Sobre essa relação imbricada, foi discutida,
Histórico), cujo comitê defere ou rejeita a teoricamente, em aula proferida pelo Prof. Dr.
proposta de inscrição do bem (Silva, 2003). No Antônio Carlos Robert Moraes, aos alunos do
caso de Diamantina, foi proposta pelo governo Programa de Pós-Graduação em Geografia
federal por intermédio do Ministério das Humana, no Departamento de Geografia da USP,
Relações Exteriores mediante dossiês no dia 25 de setembro de 2007; disciplina:
encaminhados ao ICOMOS, instruídos com o Formação Territorial e Teoria em Geografia
nome do patrimônio e dos bens que o Humana.
constituem, sua localização geográfica, as
7
medidas de proteção e a justificativa de seu Moraes e Costa (1996) e Moraes (2000)
“valor universal excepcional”. definem o “valor no espaço” como aquele criado
pelo trabalho, onde o espaço torna-se o
5
O Programa Monumenta representa um receptáculo da produção material, de forma que
paradigma no campo da política de patrimônio a diferenciação do trabalho acumulado sobre
cultural, no Brasil, fruto da operacionalização do áreas distintas define o valor real. Assim, a
capital sobre o território, tendo como principais produção instala-se no espaço valorizando
agentes de produção do espaço: o Estado nesse a localização e a distância; “é um valor
(esfera municipal, estadual e federal) criado”, segundo os autores. Contudo, torna-
conjuntamente aos agentes de mercado (cujo se relevante em nossa abordagem o “valor do
expoente é o Banco Interamericano de espaço”, enquanto um valor que é transferido
Desenvolvimento/BID, que financia o Programa). aos objetos durante sua criação ou enquanto
A partir dessa operacionalização, identifica-se um valor que é atribuído a objetos pré-
o rebatimento do Programa sobre o território, o existentes; o “valor do espaço” é transferido
que nos dá subsídios para a análise da dialética no processo de trabalho para o produto “através
do uso e da troca, da “preservação” / das características próprias de cada lugar”
“mercantilização” e da “construção destrutiva” (MORAES e COSTA, 1996, p.122), o que ocasiona
que envolve os bens culturais do mundo, de uma heterogeneidade na produção e
forma particular em Diamantina. O Programa apropriação dos lugares, onde singularidades
Monumenta constitui-se em uma síntese da são estabelecidas através do trabalho humano;
trajetória das fases de produção do patrimônio valores distintos são atribuídos a estruturas
cultural no Brasil da gênese colonial do socioespaciais distintas.
patrimônio à sua cenarização progressiva
8
contemporânea, fruto do avanço da globalização Pode-se considerar que o turismo em
e da necessidade de reprodução do capital [para Diamantina cumpre o importante papel de
um aprofundamento nesta análise, ver Costa articulá-la com o mundo, considerando-o um
(2009)]. fenômeno complexo que envolve outros
fenômenos sociais, culturais e econômicos da
sociedade contemporânea. Cruz (2003) deixa
30 - GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, Nº 28, 2009 BATISTA DA COSTA,E

claro que os usos determinantes de dados espetáculo urbano de poucos personagens


territórios pelo turismo, acarretam diferentes para selecionados expectadores, via
tipos de fluxos de capitais, informações e mercantilização da cultura.
pessoas; fluxos determinados fora do lugar, por
12
pontes entre o local e global, que dinamizam o Esse objetivo traçado em 1999 não está
espaço. Silveira (1997) também considera uma sendo alcançado, ao contrário, agrava-se
nova lógica de fluxos numa nova era econômica sobremaneira, em Diamantina, decorridos 10
mundial, que produz o turismo, onde novas anos. A periferia de Diamantina clama por
formas de circulação dos bens, do dinheiro, das melhores condições de vida, de acordo com
idéias, dos comandos, das modas e novas nossos questionários.
formas de consumo acabam por gerar novas
13
formas de produção. “No período técnico- Observa-se uma maior atenção destinada ao
científico-informacional, as formas de consumo centro histórico em relação aos demais bairros
não-material e, entre elas, o lazer, aumentam e ou Zonas de Preservação da cidade.
se disseminam no território. Esse parece ser,
14
hoje, o contexto da produção do turismo.” Talvez essa ocupação desordenada seja mais
(SILVEIRA, 1997); contexto da atual dinâmica indesejada pelos agentes sociais (que não vêem
econômica de Diamantina. outra saída para sua sobrevivência, a não ser a
ocupação de terrenos públicos) que a fizeram
9
O centro histórico de Diamantina é envolvido do que pelos responsáveis pelo planejamento
por uma lógica que recria singularidades e urbano de Diamantina.
irreplicabilidades em prol de se alcançar a renda
15
de monopólio, analisada por Harvey (2005), num Entrevista do secretário de turismo de
processo que se dá ante a cenarização Diamantina, Walter Cardoso França Júnior,
progressiva do patrimônio (COSTA e OLIVEIRA, concedida ao autor em 13 de fevereiro de 2008.
2008).
16
Entrevista do coordenador do Programa
10
“A cidade, natureza transformada e Monumenta em Diamantina, Carlos Emanuel,
artificializada pela ação social, acumula nos seus concedida ao autor em 12 de fevereiro de 2008.
artefatos o tempo humano. A mudança de
postura ideológica da sociedade em relação ao 17
Entrevista do prefeito de Diamantina, Gustavo
seu patrimônio cultural revela novos universos Botelho Júnior, concedida ao autor em 14 de
simbólicos que perfazem um processo contínuo fevereiro de 2008.
de alterações de valores.” (LUCHIARI, 2005, p.
96). 18
Visitamos Mendanha, Guinda, Sopa e
Extração, na última atividade de campo, a fim
11
Acredita-se que a crítica à mercantilização do de verificar a importância de Diamantina para
patrimônio cultural deve se fundamentar em um esses distritos mais próximos à cidade.
posicionamento que leve em consideração o Identificamos que Mendanha não possui
movimento dialético entre o valor de uso e o valor comércio, apenas uma escola, e todos os
de troca. Essa fundamentação teórico- serviços são prestados por Diamantina, a cerca
metodológica baseia-se na crença de que, hoje, de 30 Km. Diamantina é central para a
há a mercantilização total de um valor de uso sobrevivência da população de Mendanha.
civilizatório, que é a cidade (ARANTES, 2002), Nesse local, os idosos vivem da aposentadoria
que desprende e pulveriza os laços do passado do INSS e os jovens estudam e trabalham em
através de ações conscientes, programadas e outros locais (roças). Há apenas, atualmente,
equivocadas da parceria dos setores públicos e uma família que trabalha com a pecuária,
privados com o fim último de se estabelecer um próxima ao lugarejo. Distrito de Diamantina,
Da volrização do espaço à fragmentação articulada do território urbano: A cidade
histórica para além dos limites do tombamento - O caso de Diamantina (MG), pp. 9 - 32 31

Guinda sobrevive na órbita da primeira. Área de Já saiu 48 família para outras cidade, hoje é
antigo Serviço, este lugarejo não possui numa média de 90 família. Aqui não tem criação
agricultura nem pecuária própria, seguindo a de gado e nem plantação de mantimento. Eu
característica de toda a região; distante de só lamento que os mais antigos, como meu pai
Diamantina cerca de 15 Km. Seguindo a mesma e minha mãe não verem o progresso aqui em
estrutura de Guinda e Mendanha, Sopa também Guinda (a entrevistada faz menção ao asfalto
é distrito de Diamantina, é um lugarejo pacato, que chegou ao lugarejo), antes era tudo terra,
que orbita Diamantina, distante desta cerca de a maior poeirada. Se você for em Sopa, vai ver
20 Km. A aproximadamente 8 Km de a Igreja de lá mais antiga, a nossa é mais nova,
Diamantina, Extração é outro lugarejo bem foi reconstruída.”
semelhante aos anteriores visitados, tanto na
19
implantação do sítio como nas características Entrevista do secretário de turismo de
sócio-econômicas. Com menos de 200 pessoas, Diamantina, Walter Cardoso França Júnior,
a igreja é localizada numa praça central, com concedida ao autor em 13 de fevereiro de 2008.
as casas no entorno e uma vida um tanto
20
pacata. Diamantina é centralidade para as Entrevista do secretário de turismo de
questões de saúde, compras, serviços diversos Diamantina, Walter Cardoso França Júnior,
e emprego da população local. Segundo concedida ao autor em 13 de fevereiro de 2008.
depoimento colhido em 17 de fevereiro de 2008,
21
de Maria Aparecida, a residente mais antiga do Entrevista do prefeito de Diamantina, Gustavo
Distrito, com 86 anos, “Precisamos ir para Botelho Júnior, concedida ao autor em 14 de
Diamantina para resolver todo o problema. fevereiro de 2008.Entrevista do prefeito de
Antigamente, dava para viver da mineração, Diamantina, Gustavo Botelho Júnior, concedida
mas hoje tá difícil. As mulheres trabalha de ao autor em 14 de fevereiro de 2008.
doméstica em Diamantina, os homem novo
estuda para concurso ou vai para Diamantina.
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Trabalho enviado em setembro de 2009


Trabalho aceito em junho de 2010

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