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1 – PRESCRIÇÃO PARTE 3
Inc. I - Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento
da existência do crime
O Inciso I trata das chamadas “questões prejudiciais”, que são aquelas que prejudicam
(impedem) a análise do mérito, e estão previstas nos artigos 92 e 93 do CPP. O juiz criminal
tem competência para resolver todas as questões prejudiciais, salvo as relativas ao estado civil
das pessoas.
As questões prejudiciais ligadas ao estado civil das pessoas devem ser resolvidas pelo juízo
civil, de modo que o juiz da ação penal suspende a ação penal, bem como a prescrição, até que
a questão prejudicial seja resolvida na esfera civil.
Art. 366 do CPP: “Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a
produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312. ”
Art. 89, § 6º, da Lei 9.099/1995: “Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do
processo. ”
9.2.1. Conceito
A prescrição retroativa é uma modalidade da PPP (prescrição da pretensão punitiva), porque
não há trânsito em julgado da condenação para ambas as partes, mas somente para a acusação.
9.2.1. Cálculo
Art. 110, § 1º, do CP: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado
para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não
podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa. ”
3ª – A prescrição retroativa é calculada com base na pena aplicada (como há aplicação de uma
pena, que transitou em julgado para a acusação, não se fala mais em cálculo com base na pena
em abstrato. A pena não pode mais aumentar, tendo em vista o princípio da non reformatio in
pejus – “a pena não pode ser aumentada em recurso exclusivo da defesa”).
Aula 16.2
PPP (Calculada com base na pena máxima em abstrato, no exemplo 4 anos). Pena de 4 anos
prescreve em 8 anos. Da data do cometimento do crime até o recebimento da denúncia não se
passaram 8 anos. Da data do recebimento da denúncia até a data da sentença também não se
passaram 8 anos. Portanto, não ocorreu a PPP. O Ministério Público não recorre da sentença
no tocante à pena aplicada. Nesse momento passa a existir o pressuposto para a prescrição
retroativa. O termo inicial da prescrição retroativa é a data da publicação da sentença
condenatória. A análise da prescrição retroativa deverá ser feita da sentença “para trás”, até o
recebimento da denúncia, considerando-se a pena aplicada, que, no exemplo, é de 1 ano. Pena
de 1 ano prescreve em 4 anos. No exemplo, houve prescrição, pois, como a prescrição é
matéria de direito penal, o prazo será contado de acordo com o direito penal, ou seja,
incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o dia do final. Assim, passaram-se 4 anos.
Questiona-se: Se não cabe mais prescrição retroativa na fase investigatória, significa dizer que
se está diante de uma nova hipótese de imprescritibilidade penal?
Resposta: Não, pois na fase investigatória não se admite a prescrição retroativa, porém é
perfeitamente possível a PPP propriamente dita.
O projeto da Lei 12.234/10 tinha como objetivo acabar com a prescrição retroativa como um
todo no Brasil, porém acabou com a prescrição retroativa apenas na fase investigatória, ou
seja, tal prescrição continua existindo na fase judicial.
2ª corrente (posição dominante): o juiz de primeira instância não apenas pode, mas deve
reconhecer a prescrição retroativa quando ela estiver caracterizada. Fundamentos: celeridade
processual; economia processual; art. 61, “caput” do CPP (sendo a prescrição uma causa
extintiva de punibilidade, que é matéria de ordem pública, deve ser declarada de ofício, a
qualquer momento).
9.3.2. Cálculo
Art. 110, § 1º, do CP: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado
para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não
podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.”
Aula 16.3
9.5.1. Conceito
É a perda do direito de executar uma pena que já foi aplicada pelo Estado. A PPE, também
chamada de prescrição da condenação, depende do trânsito em julgado da condenação para
ambas as partes, ou seja, de uma pena definitiva.
9.5.2. Contagem
A PPE é calculada com base na pena concreta. Enquadra-se a pena concreta no art. 109 do CP.
Súmula 604 do STF: “A prescrição pela pena em concreto é somente da pretensão executória
da pena privativa de liberdade.”
A PPP propriamente dita é calculada com base na pena máxima em abstrato; a prescrição
retroativa e a prescrição intercorrente são calculadas com base na pena aplicada, que transitou
em julgado para a acusação, mas que ainda pode mudar em recurso de defesa; já a PPE, e
somente ela, é calculada com base na pena definitiva (concreta).
Art. 110, “caput”, do Código Penal: “A prescrição depois de transitar em julgado a sentença
condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior,
os quais se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.”
De acordo com o art. 110, “caput”, do Código Penal, a PPE terá o seu prazo aumentado em 1/3
se o condenado é reincidente.
Cuidado!
Súmula 220 do STJ: “A reincidência não influi no prazo da prescrição da pretensão punitiva.”
Observação: lembrar que a menoridade relativa e a velhice (senilidade) reduzem, pela metade,
“todas” as espécies de prescrição (PPP propriamente dita, retroativa, intercorrente e PPE).
Art. 113 do Código Penal: “No caso de evadir-se o condenado ou de revogar-se o livramento
condicional, a prescrição é regulada pelo tempo que resta da pena.”
O art. 113 do Código Penal consagra o princípio segundo o qual “pena cumprida é pena
extinta”. Exemplo: pena de 10 anos. Condenado cumpriu 5 anos e fugiu. A PPE não será
calculada com base na pena total de 10 anos, mas com base em 5 anos, ou seja, sobre o tempo
que resta da pena.
Pela lógica, se a PPE depende do trânsito em julgado da condenação para ambas as partes, ela
só começa a ser contada depois que existe o trânsito em julgado para ambas partes. Contudo, o
Código Penal, buscando favorecer o réu, dispõe que a PPE só pode ser reconhecida a partir do
momento em que existe o trânsito em julgado para a acusação e para a defesa, mas, uma vez
existindo o trânsito em julgado para ambas as partes, o termo inicial retroage à data do
trânsito em julgado para a acusação.
Exemplo:
Sujeito condenado em São Paulo por homicídio. Pena prescreve em 20 anos. A condenação
transitou em julgado para a acusação e defesa, porém o condenado está foragido. Passaram-se
19 anos no prazo prescricional, sendo que, em mais 1 ano, a pena prescreverá. O Promotor
levanta a folha de antecedentes do condenado e descobre que ele praticou um crime no Estado
do Amazonas (reincidência posterior). Quando o acusado praticou o crime no Amazonas,
houve interrupção da PPE em São Paulo.
Aula 16.4
PPP (ilustração acima) – Calculada com base na pena máxima em abstrato (4 anos). Pena de 4
anos prescreve em 8 anos. Da data do cometimento do crime até o recebimento da denúncia
não se passaram 8 anos.
Da data do recebimento da denúncia até a data da audiência também não se passaram 8 anos.
Portanto, não ocorreu a PPP. Contudo, no momento da audiência de instrução, debates e
julgamento (IDJ), o juiz constata que o crime é de furto, o réu é primário e de bons
antecedentes. Diante de tais condições, o juiz faz um prognóstico e já sabe que a pena que
deverá ser aplicada será a mínima (1 ano) ou muito próxima a ela. Como a pena que deverá ser
aplicada será de 1 ano ou muito próximo disso, o juiz conclui que a prescrição retroativa será
inevitável, uma vez que a pena de 1 ano prescreve em 4 anos. No exemplo, da data do
recebimento da denúncia à da audiência já havia se passado mais de 7 anos.
- Fundamentos
Os fundamentos da prescrição virtual são celeridade, economia processual e falta de interesse
processual (necessidade, utilidade e adequação). O juiz decreta a prescrição antes da sua
efetiva ocorrência, ganhando-se tempo, economizando-se atos processuais e evitando-se atos
inúteis.
Atenção: Atualmente, a prescrição virtual é rechaçada tanto pelo STF quanto pelo STJ.
- Súmula 438 do STJ: “É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão
punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do
processo penal.”
Inquérito 3574 (Inf. 788) – Supremo não admite a prescrição virtual pelos seguintes
argumentos:
- Falta de previsão legal (tal argumento por si só não convence, uma vez que o STF aplica
diversos outros institutos sem previsão legal, como, por exemplo, o princípio da
insignificância).
- Violação da presunção de não-culpabilidade (presunção de inocência – Art. 5º, LVII) – para
fazer uma projeção é preciso presumir que o réu vai ser condenado, o que viola a presunção de
inocência.
- Alteração da capitulação jurídica – É possível durante a instrução processual a alteração da
capitulação jurídica que venha a afetar o prazo prescricional. Ex. agente processado por um
furto. Na audiência, ouvindo a testemunha, pode-se descobrir que houve emprego de violência
contra a vítima. Deixando de ser furto e passando a ser roubo, a pena seria muito maior, de
modo que não haveria prescrição.
Aula 16.5
SISTEMA DA EXASPERAÇÃO
Questão:
O réu praticou 2 furtos qualificados na forma do art. 71 “caput” (crime continuado).
Foi aplicada a pena final (definitiva) de 2 anos e 4 meses de reclusão. Porém, 4 anos do prazo
prescricional já transcorreram. A questão queria que o candidato declarasse a prescrição das
penas dos dois furtos qualificados
Questiona-se: Pena superior a 2 anos até 4 anos prescreve em 8 anos, como que em quatro anos
ocorreu a prescrição?
Resposta: Como se aplica a pena no crime continuado? O juiz pega a pena de qualquer um dos
crimes, se idênticos, ou a mais grave, se diversos. Como os crimes são idênticos (dois furtos
qualificados), a pena de cada um é de 2 a 8 anos. O magistrado utiliza a pena de um dos crimes
e aumenta de 1/6 até 2/3 (crime continuado). O juiz aplicou a pena mínima de apenas um dos
dois crimes (2 anos), com o aumento mínimo de 1/6, já que foram praticados 2 crimes. Total =
2 anos e 4 meses, que prescreve em 8 anos. Nesse ponto, é necessário aplicar o art. 119 ( no
concurso de crimes, a prescrição incidirá sobre a pena de cada um dos crimes isoladamente) e
a Súmula 497 do STF.
De acordo com a Súmula 497 do STF, não se computa o acréscimo decorrente da continuação.
Assim, a prescrição incide apenas sobre 2 anos, excluindo-se os 4 meses da continuação,
chegando-se ao prazo prescricional de 4 anos.
Súmula 497 do Supremo Tribunal Federal: “Quando se tratar de crime continuado, a
prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se computando o acréscimo
decorrente da continuação. ”
Esta súmula dispõe apenas sobre o “crime continuado”. Por identidade de fundamento, qual
seja, o sistema da exasperação, seu enunciado também se aplica ao concurso formal próprio ou
perfeito.