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Anais do V Encontro de Educação, I Colóquio de Educação, Políticas e Sociedade, I Encontro de Trabalho e Educação
nº 9.394/1996 – Art. 24, inciso V, alínea b, quando se refere explicitamente à acele-
ração de estudos no tratamento da ênfase à avaliação da aprendizagem e seu elo com
progressão escolar, a partir do rendimento escolar, eliminando os repetidos ciclos de
reprovação. Trata-se de uma proposta pedagógica que possibilita aos estudantes com
defasagem idade-ano avançarem no seu percurso escolar, através da aceleração de
estudos. O trabalho está estruturado a partir de uma introdução, em seguida de outra
sessão intitulada de educação para o desenvolvimento do ser; conhecendo o Projeto
Mundiar; Práticas desenvolvida na Sala do Mundiar em Tucuruí, seguidas das con-
siderações finais e as referências bibliográficas.
Palavras-chave: Educação para a Pessoa. Mundiar. Distorção idade serie/ano. Te-
lessala. Telecurso.
Introdução
O presente artigo, é fruto de uma experiência de mediação de uma
turma do Projeto Mundiar implantado na Escola Estadual de Ensino Médio
deputado Raimundo Ribeiro de Souza, na cidade de Tucuruí-PA. O Projeto
Mundiar torna-se objeto de estudo, pois nele notou-se uma proposição de or-
ganização pedagógica a possibilitar aos estudantes com defasagem idade-ano
avançarem no seu percurso escolar, referindo-se à aceleração de estudos, nos
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Professor de Filosofia SEDUC-PA, Mediador no Projeto Mundiar, Especialista em Do-
cência do Ensino Superior. E-mail: ronaldofpinho@gmail.com
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Doutorando em Geografia PPGEO/UFPA, Professor de Geografia SEDUC-PA, Tu-
curuí-PA. E-mail: milvio.geo@gmail.com
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Especialista em Educação, Técnica Pedagógica da SEDUC-PA, Tucuruí-PA. E-mail:
aparecidaranha@gmail.com
mas com um fio norteador semelhante. Em Belo Horizonte (MG) existe como
o nome de Floração, em Pernambuco adota o nome de Travessia, no Acre é o
Poronga, no Rio de Janeiro é conhecido como Autonomia Carioca; no Ceará
é o Tempo de Avançar; no Amazonas é conhecido com Tempo de Acelerar,
no Maranhão é o Viva Educação e no Estado do Rio Grande do Norte é o Ser-
ra do Mel. Conforme dados da própria Fundação Roberto Marinho5 ambos
apresentam percentuais de aprovação acima dos 80%.
Conforme dados apresentados por representantes da Fundação Roberto
Marinho em formação (SEDUC, 2014) para mediadores e coordenadores do
Projeto Mundiar, a Fundação Roberto Marinho lançou o Telecurso 2º grau
em 1978, com o propósito de oferecer aulas pela televisão, em recepção livre
para brasileiros que desejavam concluir a escolaridade básica. Até meados da
década de 1990, o Telecurso caracterizava-se como um curso livre, uma ofer-
ta educacional aberta e, por isso, fora do sistema público formal de ensino.
Em 1995, foi lançado o Telecurso 2000, que utilizava um novo formato
de teleaula, valendo-se da teledramaturgia para educar. Um grande desafio
foi criar um currículo de base humanista, capaz de responder às especificida-
des regionais e às diversidades étnicas, culturais e sociais de um Brasil com
muitas desigualdades. (SEDUC, 2014)
Para implementação do Telecurso, conforme dados do próprio site
(TELECURSO, 2016) a Fundação Roberto Marinho desenvolveu a Meto-
dologia Telessala. A Metodologia Telessala foi elaborada para desenvolver
o currículo do Telecurso e é utilizada em todos os projetos implementados
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A Fundação Roberto Marinho foi criada em 1977. Nasceu como fruto da convicção do
jornalista Roberto Marinho de que a comunicação tinha uma colaboração ainda maior a
dar do que entreter e informar: a comunicação poderia ser uma força para a Educação.
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Palestra ministrada durante a implantação do Projeto Mundiar. Estes dados foram apre-
sentados em slide durante a explanação do assunto. (SEDUC, 2014)
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para supervisores e coordenadores do então Projeto Mundiar.
O Cenário em que nasce o Projeto Mundiar apresenta um Estado do
Pará com graves condições educacionais comparado ao restante do país. Em
20136, conforme dados do Inep (2013) 54% da população possuía Ensino
Fundamental e apenas 40% dos jovens de 16 anos que concluíram essa mo-
dalidade. No Ensino Médio, o percentual de jovens de até 19 anos que con-
cluíram essa modalidade de ensino somava 31%. Cerca de 350 mil jovens de
15 a 17 anos estavam fora da escola e o IDEB da Rede de Educação do Pará,
tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Médio, era um dos
mais baixos do país. Em boa medida, tais resultados derivam da deficiência
da formação inicial dos professores da rede. Somente 55% possuíam Ensino
Médio e apenas 42% daqueles que lecionam no Ensino Fundamental tinham
formação superior.
Os dados apontados no Termo de Referência da Seduc (SEDUC, 2014)
para implantação de projeto de correção da distorção idade-ano revelam que
42% dos alunos do Ensino Fundamental e 58% dos alunos do Ensino Médio
estavam fora da faixa de escolarização desejável.
Na intenção de reverter esse quadro, a Secretaria da Educação do Es-
tado do Pará buscou organizar uma proposta pedagógica que possibilitasse
a esses estudantes avançar no seu percurso escolar, através da aceleração de
estudos, nos termos do disposto pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei no. 9.394/1996 – art. 24, inciso V, alínea b), quando se refere
explicitamente à aceleração de estudos no tratamento da ênfase à avaliação
da aprendizagem e seu elo com a progressão escolar, a partir do rendimento
escolar, eliminando os repetidos ciclos de reprovação.
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Conforme dados de um documento interno produzido pela Seduc no ato da parceria
entre a Fundação Roberto Marinho e a Seduc, tal documento informal fora denominado
de Escopo do Projeto Mundiar. (SEDUC, 2014)
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ver e tratar o ser humano de maneira holística7, como um todo, emocional,
racional e espiritual. Pois, “a crise de hoje é fruto de uma crise espiritual.”
(PINHEIRO, 2006, p. 48). Desta forma, o cuidado com o ser deve ser tarefa
primordial da educação, pois “sem o cuidado o ser humano estará fadado ao
fracasso.” (PINHEIRO, 2006, p. 48).
Mediante tais reflexões que passamos a acreditar em uma educação
para o desenvolvimento do ser, da “pessoa humana”8, que é proposta do Pro-
jeto Mundiar, conforme dados do Portal da Secretaria de Educação do Estado
do Pará (SEDUC, 2016), desenvolvido em parceria com a Fundação Roberto
Marinho, o objetivo principal é acelerar a aprendizagem corrigindo o fluxo
dos estudantes em distorção idade-série.
O Projeto Mundiar se apresenta como opção inovadora de emancipa-
ção do “Ser”, por meio do cuidado, “cuidar do ser”, na valorização da in-
teligência emocional, sobretudo buscando o desenvolvimento do aluno, não
apenas do ponto de vista intelectual, mas como um todo, formando cidadãos
críticos, criativos e participativos.
O fio norteador do Projeto Mundiar se faz como diferencial ao apresen-
tar eixos temáticos dos quatro módulos semestrais voltados à uma educação
para o desenvolvimento do “ser”. Primeiramente, abordando o ser humano e
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Holística, termo derivado de Holismo que provém de Holos em grego que significa
totalidade. É a compreensão da realidade que articula o todo nas partes e as partes no
todo, pois vê tudo como um processo dinâmico e uno.
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O termo utilizado parece redundante, mas é fruto de um trabalho monográfico apre-
sentado na PUC-GO (PINHEIRO, 2003) A Pessoa exprime a essência do ser humano
ordenando e integrando as categorias que totaliza, (efetuando no ato de existir). Deve ser
pensada como síntese entre a essência e a existência. O ser humano existe como Pessoa,
sendo um todo; em que no ápice de sua constituição ontológica ela se abre pela inteli-
gência e pela liberdade, à universalidade do Ser e do Bem, é, paradoxalmente, um todo
aberto” (PINHEIRO, 2003)
Distorção idade-série
A distorção idade-série no Estado do Pará, conforme Inep (2013) tem
apresentado dados preocupantes, pois no Ensino Médio 57% dos alunos es-
tão incluídos nesse cenário. Distribuídos no 1º ano com 59%, no 2º ano com
56% e no 3º ano mantendo a média de 57%.
Os alunos até que iniciam o 1º ano do ensino fundamental dentro de
parâmetros aceitáveis com uma faixa de distorção em apenas 9%, mas no
decorrer do avanço para às séries seguintes esses números vão aumentando,
chegando ao 5º ano (finalização do Ensino Fundamental I) com um percen-
tual de 49% de distorção idade-série.
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Pessoa- unidade conceitual que designa o homem na sua totalidade.
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Aquilo de que se fala ou a que se atribuem qualidades ou determinações ou a que são
inerentes qualidades ou determinações. (ABAGNANO, 2000, p.929)
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Fundamental I e II e do Ensino Médio. Desta forma, corrigindo o fluxo11 que
o aluno segue das séries iniciais até a conclusão do Ensino Médio, abran-
gendo quase toda a Educação Básica, ficando eximida do processo apenas a
Educação Infantil.
Uma turma do Mundiar é composta de no mínimo 25 alunos e no máxi-
mo 30. Utiliza como metodologia o sistema Telessala em que o professor atua
em regime de unidocência, mediando a aprendizagem. O curso é estruturado
em 4 módulos semestrais no ensino médio, citados anteriormente e têm como
foco o desenvolvimento do “Ser”.
Conforme orientações sobre o Projeto Mundiar (SEDUC, 2016) a di-
nâmica de sala de aula parte do levantamento dos conhecimentos prévios,
seguidos de leitura de texto imagéticos (teleaula e outros) e em contato com
o conteúdo que pode ser de socialização de entendimento e depois, contato
com o Livro Texto e resolução de atividades.
O Projeto Mundiar, se aplicado corretamente, poderá ser um diferencial
na educação paraense e na vida dos alunos, como o próprio nome expressa;
“Mundiar12”, termo usado na cultura marajoara para definir o ser encantado
por algo (exemplo ser mundiado pela cobra), assim deixar o aluno encantado,
“mundiado”, pelo saber e pela busca do conhecimento.
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Conforme o Ministério da Educação os fluxos normais para as séries seriam definidos
da seguinte maneira: “Compreende três etapas: a Educação Infantil (para crianças com
até cinco anos), o Ensino Fundamental (para alunos de seis a 14 anos) e o Ensino Médio
(para alunos de 15 a 17 anos).” (Brasil, 2016)
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Mundiar é um termo popular e regional, que na região amazônica significa: encantar,
enfeitiçar, entorpecer. (Dicionário Informal, 2016).
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contínua, o crescimento da autoestima e da capacidade crítica, o enfrenta-
mento dos desafios, com autocondução e corresponsabilidade, bem como a
avaliação contínua da aprendizagem e do ensino, contribuindo para o seu
aperfeiçoamento.”
Encerrar o dia de trabalho deve ser um momento de alegria. Abraços e
apertos de mãos devem tomar conta de cada um. Não se deve permitir que o
aluno saia da sala de qualquer maneira. É sempre importante uma despedida
amistosa. Mas é salutar que antes de ir o aluno registre suas informações no
memorial, registro das principais informações, sobretudo aquelas que marca-
ram de maneira intelectual e emocional ao estudante naquele dia.
memória do grupo, o que já aconteceu não deve se perder pois este é fruto
do cuidado da equipe de síntese. “Essas atividades fortalecem a capacidade
de síntese e de expressão, bem como as competências de sistematização e
estabelecimento de prioridades na busca dos melhores resultados.” (GUIMA-
RÃES, 2013, p. 61)
Além das três equipes citadas temos também a equipe de Avaliação,
que fortalece a corresponsabilidade de todos em se tratando dos resultados.
Esta equipe tem como responsabilidade facilitar a identificação das necessi-
dades de revisão de conteúdos e valorização dos ganhos obtidos. Sobretudo,
partindo do pressuposto do que não foi legal, do que foi bom e do que pode
melhorar; fazendo esta reflexão a cada dia, para que cada instante seja mais
produtivo. “Com a realização de tarefas na equipe de avaliação, o estudan-
te exercita habilidades de observação, análise, argumentação e autocrítica.”
(GUIMARÃES, 2013, p. 61).
Os estudantes não permanecem indefinidamente em uma mesma equi-
pe, pois conforme Guimarães (2013, p. 61) “os estudantes atuam nas equipes
de maneira rotativa, assim, ao longo de cada módulo, todos exercitam as
competências relacionadas à socialização, coordenação, síntese e avaliação.”
Cada equipe deve estar empenhada em anotar suas aprendizagens do dia,
pois tais aprendizagens servirão para alimentar o memorial da turma que re-
gistrará a construção do grupo e seu desenvolvimento. Assim, todos poderão
adquirir as experiências específicas inerentes a cada equipe, fortalecendo-o e
conduzindo-o ao amadurecimento intelectual, bem como pessoal, cumprindo
a missão de desenvolvimento do “ser” como um todo, enquanto “pessoa” e
“cidadão”.
Desafios
Contudo, nem toda a comunidade escolar tem recebido o projeto amis-
tosamente, em alguns municípios o mesmo foi até batizado por “projeto
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É importante ressaltar que para o Projeto Mundiar funcionar de manei-
ra eficiente o professor precisa ter perfil para o projeto. Pois, o papel principal
deste não é apenas transmitir conteúdo, mas estimular o aluno a se encantar
pelo saber e desejar buscá-lo, exercendo assim a função de mediador entre o
aluno e o conhecimento.
Anais do V Encontro de Educação, I Colóquio de Educação, Políticas e Sociedade, I Encontro de Trabalho e Educação
“Tú sabes minha flor... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingê-
nua! E tem apenas quatro espinhos para defendê-la do mundo...”
Precisamos ser agentes de transformação estimulando a formação da
“pessoa”, do “ser” no processo da ispeidade13 humana, em que o homem
seja instruído de maneira holística, conseguindo crescer em três âmbitos de
relações: na relação consigo mesmo (identidade, centro), na relação com o
outro (alteridade, horizontal) e na sua relação como transcendental, na sua
dimensão psíquica e espiritual (espiritualidade, vertical). Desta forma, se-
gundo Pinheiro (2006, p. 49) “para o homem sair da crise existencial... será
necessário ter uma vida... horizontalizada e verticalizada... ao mesmo tempo
que olha para o passado olha para o futuro...” e acima de tudo olha para seu
interior e para os seus semelhantes.
Em suma, compartilhamos aqui do pensamento de Brandão (2009, p
110) ao acreditar no ser humano e no seu ato de educar que “existe tanto no
trabalho pedagógico que ensina na escola quanto no ato político que luta
na rua por outro tipo de escola.” E por fim, citando o grande Guimarães
Rosa (1994, p.436) “mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente
aprende.”
Então, educar é plantar sonhos no fértil solo da esperança, é como disse
o protagonista do filme Clube do Imperador (Hoffman, 2002) “por mais que
tropecemos, o dever de um professor é esperar que o ensino mude o cará-
ter de um menino e assim o destino de um homem”. E acima de tudo, que
sejamos capazes de cativar os alunos, pois conforme Saint-Exupéry (2000,
p. 66) “mas, se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.” Mas
não nos esqueçamos de que “foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a
fez tão importante “(Saint-Exupéry, 2000, p. 70). E assim, acreditamos que
Identidade- auto expressão de si (sujeito) a si mesmo. Aquilo que faz a pessoa ser ela
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mesma.
Referências
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes,
2000. Verbete: Sujeito. p. 929 – 932.
BOFF, Leonardo. Saber cuidar. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
BRASIL, S. F. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº
9394/96. Brasília.
BRASIL. Portal Brasil. Etapas do ensino asseguram cidadania para crianças e
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