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O trabalho em equipe nas políticas públicas e na socioeducação: a transferência e a

construção do caso clínico em questão1.

Fídias Gomes Siqueira2

“[...]fórmulas sublimes pouco podem contra as paixões” (Freud, 1915 [1914], p. 171)

Introdução
Em primeiro lugar eu quero agradecer à Professora Rosângela
Silveira/UNIMONTES, à Professora Andréa Guerra/UFMG e a toda a equipe que
compõe o vigoroso trabalho do PSILACS – Núcleo de Psicanálise e Laço Social no
Contemporâneo/UFMG, e a todos vocês aqui presentes.
A inserção nas políticas públicas leva-nos à interrogação de nossa própria prática
profissional num tempo em que as condições do mundo não são as mesmas da época do
surgimento da psicanálise. Quando identificamos os limites com os quais somos
confrontados no cotidiano de trabalho, devemos considerar as condições fornecidas pela
psicanálise para operarmos no mundo sem, no entanto, fazermos um inventário de
questões que podem angustiar e paralisar, mais do que nos mobilizar e colocar a trabalho.
As questões com as quais nos deparamos são estas mesmas do tempo atual de
nossas vidas. Evitar a nostalgia de um tempo paradisíaco ou do retorno a um estado
anterior de coisas é manter no horizonte a condição de possibilidade, trabalhar com os
recursos que dispomos numa época de precariedade generalizada. São precários os
recursos, as condições, as relações e os laços.
São condições que nos levam a considerar como necessária a articulação entre a
subjetividade e a política para pensarmos a atualidade de nossa ação nas instituições e na
cidade. O sujeito de nossa época explicita muito mais os seus novos modos de viver e
operar na cidade em relação àquele sujeito do tempo de invenção da psicanálise. Isto é

1
Conferência para o Programa Laços: Psicanálise, subjetividades contemporâneas e laço social; parceria
PSILACS/UFMG e UNIMONTES. Montes Claros-MG, 29 de maio de 2018. Texto inédito, disponível para uso interno.
2
Psicanalista. Doutorando (2017-2021) e Mestre (2016) em Teoria Psicanalítica pela FAFICH/UFMG. Coordenador do Projeto de
Extensão Já É do PSILACS/UFMG.
importante, pois o tempo em que vivemos é marcado pela explicitação quase obscena de
nossa singularidade no espaço público.
Ocorre que esta expressão da singularidade no espaço público também é portadora
das evidentes modificações advindas da composição de uma multiplicidade de fatores que
a formam e nela interferem. São condições que expressam determinados contextos e, não
somente marcam a presença do sujeito no mundo, mas tornam-se elas mesmas a marca
da subjetividade de nossa época.
Muitas vezes tal inscrição no mundo é marcada pela exclusão da cena pública, do
espaço político e o sujeito é encoberto pelos discursos vigentes que não lhe deixam
margens móveis que lhe permitam ser capturado para dentro do sistema político. Tal
condição, marca de alguns no mundo contemporâneo, exige que se invente formas de
operar a partir da exclusão e frente à segregação.
Em alguns contextos, a exclusão é pensada como índice da inclusão, ou seja, o
sujeito só se inclui na condição de estar excluído. Condição que é fortalecida pela
segregação em sua dimensão estrutural, isto é, não pode ser eliminada, mas a resposta de
cada sujeito à mesma decorre da articulação entre o determinismo inconsciente e a
contingência.
Assim, a nossa prática profissional - seja a clínica, a investigação, a pesquisa e
extensão - deve levar em consideração a afirmação freudiana de que a psicanálise não tem
uma Weltanschauung (Freud, 1976/1933), ou seja, uma visão de mundo ou um constructo
intelectual capaz de responder a todos os problemas de nossa existência sem deixar algo
sem resposta. E diante das inúmeras indagações que a contemporaneidade nos coloca,
consideramos a recomendação de Lacan (1998/1953) quanto à importância de o
psicanalista “alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época” (p. 322) ou caso
contrário renuncie à sua prática.
Duas orientações que nos guiam a fim de tomarmos posição em relação aos
discursos normativos e disciplinares, pois, caminhamos em direção oposta aos
dispositivos e artifícios produzidos pela ciência e pelo capital, que visam o apagamento
do sujeito e sua singularidade, algo tão precioso à psicanálise.
Portanto, se Freud (1976/1921) já nos advertia que a psicologia do indivíduo é
também social, a psicanálise desempenha importante papel na subjetividade
contemporânea e o discurso psicanalítico pode fazer frente à montagem entre o discurso
da ciência e do capital a fim de que se produzam novas formas de respostas, pois, a
normatização da subjetividade e a exclusão dos indivíduos não resolvem o problema do
mal-estar, uma vez que não é possível extirpá-lo de toda forma de laço social. Na
psicanálise, portanto, dispomos de um recurso fundamental, a transferência, que funciona
como índice para operarmos na clínica e nas instituições. A partir deste ponto, propomos
uma reflexão sobre a nossa prática a fim de não tornarmos o sujeito impermeável e nem
diminuirmos as margens móveis para as suas invenções.

.
1 – A transferência: de Freud a Lacan

Inicialmente, a ideia associada ao termo transferência em psicanálise, segundo


Roudinesco e Plon (1998) – Dicionário de Psicanálise - refere-se a um deslocamento.
Tratando-se de um termo essencial ao processo psicanalítico, apesar das divergências
teóricas quanto ao seu lugar no tratamento. A inovação freudiana foi reconhecer nesse
fenômeno um componente essencial da psicanálise. Mas Kaufmann (1996) – Dicionário
Enciclopédico de Psicanálise - destaca não só a utilização do termo por Freud, mas
também a inclusão do analista na psicanálise de um sujeito; além do reconhecimento
freudiano do caráter perturbador da transferência com o surgimento do amor que se volta
para o analista, tendo este amor um papel revelador e também de resistência.
Embora os apontamentos sobre a transferência já estivessem desde o início da
psicanálise, Freud (1976/1912) - Sobre a dinâmica da transferência – esclarece como ela
se desencadeia durante um tratamento e assume um papel. O seu questionamento se refere
à intensidade com que a transferência se apresenta no contexto da análise, somando-se
ao ponto obscuro relacionado à incógnita de ser ela mesma a mais forte resistência contra
o tratamento.
Além disso, Freud (1976/1912) não achou correto afirmar que a transferência
aparece mais intensamente no tratamento psicanalítico do que fora dele, observando que
nas instituições onde os ‘pacientes nervosos’ não têm tratamento psicanalítico surgem as
maiores intensidades e as formas mais indignas de transferência. Ao ocupar-se dessas
intensidades, Freud também se pergunta por que a transferência é um obstáculo,
constituindo a arma mais poderosa da resistência e o esclarecimento de seu papel no
tratamento só funciona ao abordarmos seus vínculos com a resistência.
Freud (1976/1912) não somente se ocupou do fenômeno da transferência, como
também identificou que os seus fenômenos de resistência não aparecem apenas na
psicanálise, sendo identificados nos tratamentos indiferenciados nas instituições. Em
relação ao tratamento ou trabalho realizado nas instituições alerta-nos acerca da
transferência e da resistência, pois, “elas também aparecem lá, mas precisam ser
reconhecidas como tais” (p. 116). Vê-se, portanto, que a transferência não se restringe ao
tratamento psicanalítico, fazendo parte das práticas institucionais, onde também se
destacam dois aspectos: a irrupção da transferência negativa nas instituições é algo
frequente; assim como o fato de a transferência erótica não ter efeito tão inibidor nas
instituições, “já que lá, assim como a vida, ela é embelezada, em vez de ser revelada” (p.
116). Tal aspecto demonstra sua manifestação enquanto resistência contra a cura e ao
invés de afugentar o doente da instituição, ela o assegura lá e o distancia da vida.
Já em 1915 [1914] Freud - Observações sobre o amor transferencial – destaca as
dificuldades no manejo da transferência, centrando-se na questão da paixão e do amor,
destacando a sua preocupação quanto aos eventos do amor no tratamento, a fim de
esclarecer e alertar em relação a este contexto no interior da experiência analítica. Ao
afirmar que a paixão já estava lá, considera que a resistência se serve dela para impedir a
continuidade do tratamento. Seu alerta também aponta os perigos de indução dos
pacientes a reprimirem a transferência amorosa, a fim de não fazermos como “se
quiséssemos habilmente invocar um espírito do submundo para que venha à superfície,
para depois mandarmos ele de volta, sem ao menos lhe fazer uma pergunta”. (p. 171)
Ao situar tais aspectos da transferência no interior do tratamento psicanalítico e
das práticas institucionais, cabe-nos tirar consequências dos mesmos, caso contrário, o
psicanalista incorre no próprio equívoco de que este amor é portador. Este será o aspecto
desenvolvido posteriormente por Lacan nos anos de seu ensino dedicado ao tema.
Segundo Roudinesco e Plon (1998), Lacan (1960-1961) introduz o desejo do
psicanalista a fim de esclarecer a verdade do amor transferencial. Neste sentido, seu ponto
de partida é O Banquete, onde Sócrates é colocado no lugar daquele que interpreta o
desejo de seus discípulos. E se a transferência consiste do mesmo estofo que o amor
comum, ela é um artifício, pois, refere-se inconscientemente a um objeto que reflete outro.
Posteriormente, nos anos 1961-1962 – O Seminário 9: a identificação – Lacan, apresenta
uma nova perspectiva, onde a transferência aparece como materialização de uma
operação relacionada com o engano, onde o analisando instaura o analista no lugar do
“sujeito suposto saber”, atribuindo-lhe o saber absoluto. Já em Os quatro conceitos
fundamentais, Lacan (1964) a definirá como encenação da realidade do inconsciente
através da experiência analítica.
Kauffman (1996) destaca a ênfase dada por Lacan na importância do Outro em
relação à transferência. Trata-se, portanto, do Outro garante da boa-fé da fala, mais-além
do eu e do outro a quem se dirige quando fala a um outro. Mas no lugar deste Outro
existem furos (recalcamento, forclusão) no encadeamento significante dos termos da
história do sujeito. Trata-se de o sujeito descobrir a que Outro se dirige, ainda que não o
saiba. Além disso, no esquema L, na linha S – A o imaginário a-a’ desempenha ao mesmo
tempo um papel constituinte, na medida em que do engano e do embuste pode surgir a
verdade. Temos a mentira, a dimensão imaginária e a dimensão do embuste. E ao
diferenciar entre transferência e sugestão, insere o desejo entre a demanda e a
transferência, e com o desejo a questão da transferência se abre para o enigma do Outro,
mais precisamente para o desejo do analista.
Neste contexto, Lacan (1992/1960-1961) afirma que o Outro é o lugar da fala,
lugar evocado desde que há fala, lugar terceiro que existe sempre nas relações com o
outro, a, desde que há articulação significante. O Outro - A - não é o outro absoluto, um
outro que seria respeitado enquanto sujeito, enquanto nosso igual, esse Outro é
simultaneamente necessidade e necessário como lugar, mas ao mesmo tempo
incessantemente submetido à questão daquilo que o garante, ele próprio é um Outro
permanentemente evanescente
É à questão formulada ao Outro, quanto ao que ele pode nos dar e ao que tem para
nos responder que se liga o amor como tal; pois, para Lacan (1992/1960-1961)

“o problema consiste em perceber a relação que liga o Outro ao qual se dirige a demanda
de amor à aparição do desejo. O Outro não é, então, de modo algum, nosso igual, o Outro
ao qual aspiramos, o Outro que não o amor, mas alguma coisa que representa, falando
propriamente, uma sua queda – quero dizer, algo que é da natureza do objeto” (p. 172)

Para Lacan (1964), a transferência é produto da situação analítica e não exclui o


fato de que se não há analista no horizonte, que ali possa haver efeitos de transferência.
Entretanto, se a presença do analista é aquela que testemunha uma perda, cabe manter
uma posição conflitual, já que a psicanálise repousa sobre um conflito fundamental,
colocando em jogo uma causa, a causa do inconsciente, e esta deve ser sustentada, pois,
concebida como causa perdida é que encontramos a chance de ganha-la. Assim,
compreendemos que o campo da transferência nos obriga a operar com os seus truques
na dimensão do inconsciente.
2 – A transferência: da suposição de saber à lógica da suspeição

Ao desenvolver a questão da transferência a partir da autenticidade freudiana


sobre o amor, Lacan (1964) afirmará que se trata de falso amor, sombra de amor, dando
um passo em relação ao saber que este amor visa. Entretanto, ao destacar a relação entre
este saber e o amor, afirma que “no inconsciente há um saber que não é de modo algum
a ser concebido como saber a ter acabamento, a se concluir” (p. 129). E se a transferência
estrutura as relações particulares a esse outro que é o analista, devemos atentar para um
signo de reserva em relação àquilo que se deve colocar em suspeita.
Tomando as referências a O Banquete, procuramos identificar como a concepção
lacaniana da transferência se desenvolve a partir da perspectiva do amor em direção ao
saber, procurando identificar as passagens constitutivas desta ‘suposição de saber’ e as
condições em que este saber é também colocado sob uma suspeição.
Kauffman (1996) destacará que Lacan aponta com Sócrates o que deve ser o
desejo do analista a fim de elucidar a verdade do amor de transferência. E ao introduzir
a transferência entre o desejo e amor, algo se refere ao analista, ao desejo do analista, e
se a posição do sujeito desejante é a da falta; o analista posto no lugar de desejante deverá
fazer valer sua falta fundamental. Tomando Sócrates como figura exemplar, Lacan
inverte o sentido da transferência, pois, ser desejante enquanto analista significa nada
poder dizer de si mesmo como desejante, ali onde é desejado, caso contrário se aboliria
como desejante. Isto implica em sustentar uma posição que revela ao sujeito o objeto de
seu desejo a partir da demanda de amor, algo que se encontra na dependência do desejo
do analista, lugar de onde podemos interrogar a transferência.
Esta relação tomada ao desejo de Sócrates se articula em função de uma posição
subjetiva em face do saber que antecipa a do analista. Este não saber nada manifesta sua
divisão de sujeito; mas o autor afirma que é no Seminário 11 – A transferência – que
surge como essencial não só a referência ao saber, mas a de suposição do saber; e assim
o analista é interrogado na qualidade de quem sabe e é nesse lugar em que somos supostos
saber que somos chamados a ser nada mais que uma presença real. Esse sujeito suposto
saber, Lacan (1961) introduziu a sua fórmula no seminário A identificação, afirmando se
tratar de uma introdução pela via da ‘ironia’ relacionada a uma figura desenvolvida no
seio de um preconceito filosófico e, ao mesmo tempo, indica que prescindamos dessa
fórmula, denunciando o sujeito suposto saber e renunciando à sua própria concepção do
Outro como sujeito. E, ao final do Seminário 11, Lacan dirá que, na análise, o sujeito
suposto saber é o analista, e onde quer que haja sujeito suposto saber há transferência;
mesmo quando se está longe de atribuir este lugar ao analista, e assim o Outro é um lugar
para o qual se transfere o saber do sujeito, afirmando que o Outro não é um sujeito, mas
um lugar. (Kaufmann, 1996)
Em continuidade a esta concepção da suposição de saber articulada à
transferência, acompanharemos as proposições no Seminário 8 – A transferência – onde
Lacan (1961-1962) afirma que O Banquete oculta em si algo de absolutamente radical
quanto a essa mola do amor. Daquilo que os diálogos tratam com referência à natureza
do amor, há uma reserva quanto ao lugar do enigma, bem como um elemento exotérico e
fechado; possibilitando articular o tema do agalma, este objeto escondido no interior do
sujeito Sócrates, revelando assim a estrutura referente à função do desejo. Com isso
articula a função do desejo no analisando e no analista.
Neste caminho que nos leva à transferência, Lacan (1961-1962) afirma que “é
próprio das verdades nunca se mostrarem por inteiro” (p. 173), e a partir disso, apresenta-
nos a ideia da transferência como fonte de uma ficção, onde o sujeito fabrica alguma
coisa, e indaga a natureza desta ficção, qual o seu objeto, e sendo ficção, o que se finge e
já que se trata de fingir, para quem? Embora não se saiba a quem se dirige, isto não
significa que a pessoa a quem se dirige é volatizada subitamente, desvanecida. O saber
do inconsciente nos indica que alguns fenômenos psíquicos se produzem, se desenvolvem
e se constroem para serem ouvidos, “justamente para este Outro que está ali, mesmo que
não se o saiba” (p.177). Assim, embora não se o saiba que estão ali para serem ouvidos,
para serem ouvidos por um Outro, a transferência se manifesta na relação com alguém a
quem se fala.
Fato que Lacan (1961-1962) destacará em O Banquete, na confissão pública de
Alcibíades, porque não se trata de um puro e simples relato, mas da confissão de um
segredo. Diante de quem? Diante dos outros, “dos outros, todos os outros, aqueles que,
em seu conjunto, seu corpo, seu concílio, parecem dar o maior peso possível àquilo que
se pode chamar de o tribunal do Outro” (p. 178).
Para Lacan (1961-1962), o valor desta confissão encontra-se na tentativa de fazer
de Sócrates algo submisso e subordinado a um outro valor que não o da relação entre
sujeito e sujeito. Submissão ao objeto de seu desejo que é o agalma, e nisto se encontra
uma violação, desvela-se em traço o segredo mais chocante, a queda do Outro, A, em
outro, a. Mas a operação feita por Sócrates aponta a Alcibíades onde está o desejo deste
e consiste em remeter Alcibíades ao seu verdadeiro desejo.
Tudo indica que é a partir deste engano do qual o amor de transferência é portador
que poderemos pensar as articulações desse sujeito suposto saber em seu endereçamento
ao Outro. Tomaremos a trilha de Lacan(2003/1961-1962) no Seminário 9 – A
identificação – onde o mesmo evoca o ‘eu penso’ e disso extrai a dimensão voluntária do
julgamento, realizando uma distinção entre enunciação e enunciado e aponta o paradoxo
que leva ao impasse do eu minto. Assim, se eu posso mentir e dizer com a mesma voz
que minto, mas quando ‘eu digo que minto’ ou se eu digo ‘eu sei que minto’, isto tem
algo que deve deter os analistas, pois a fórmula ‘eu sei que minto’ trata de um
ultrapassamento, pois, também porta uma ironia e sua questão: a moção de desconfiança
por atribuir este suposto saber a quem quer que seja. O saber é intersubjetivo, não quer
dizer que seja o saber de todos, nem que seja o saber do Outro. Não sendo sujeito, o Outro
é um lugar ao qual nos esforçamos para transferir o saber do sujeito. O sujeito só se
perturba em função de uma suposição indevida, de que o Outro saiba, que haja um saber
absoluto, mas o Outro sabe disso menos ainda que ele, pela simples razão de que ele não
é um sujeito.
Perseguindo esta trilha, encontraremos no Seminário 11 – Os quatro conceitos
fundamentais – a afirmação de Lacan (1964) quanto à transferência ser uma relação que
se instaura num plano que não é recíproco nem simétrico, mas nesta relação institui-se
uma procura da verdade em que um é suposto saber, ou pelo menos saber mais do que o
outro. E em relação a este outro que deve saber, também afirma “não somente ele não
deve se enganar, como também que se pode enganá-lo” (p. 131). O enganar-se é remetido
ao sujeito que se move no discurso situando-se na dimensão do se enganar. E se alguém
busca uma análise por um sofrimento, seu sintoma lhe traz satisfações, mas a motivação
de sua busca foi uma visada inconsciente, embora o paciente deseje o contrário de sua
intenção primeira. Tal asserção é ambígua e, instituindo uma certa mentira, vemos
instaurar-se a dimensão da verdade. A mentira se põe na dimensão da verdade, pois, se
você diz eu minto você está dizendo a verdade.
Lacan (1964) ilustra esta dimensão da mentira com a história judia do trem que
um dos dois parceiros da história afirma ao outro que vai tomar: Eu vou à Lemberg, diz
um deles, ao que o outro responde – Por que você me diz que vai à Lemberg já que você
vai lá mesmo, e que, se você me diz, é para que eu acredite que você vai à Cracóvia? (p.
133)
Neste sentido, apontando a divisão do enunciado à enunciação, Lacan (1964)
endossa aquilo que o enunciado produz ao nível da enunciação e, assim, o minto é tomado
ao nível do enunciado naquilo que produz ao nível da enunciação, resultando em um eu
o engano. Mas esta asserção provém do ponto onde o analista espera o sujeito,
remetendo-lhe sua própria mensagem e afirmando que ao fazer isto o sujeito diz a
verdade. Mas enquanto o sujeito se aventura pelo caminho da tapeação, o analista em sua
posição afirmará a dimensão da verdade no dito do sujeito.
Tomando o inconsciente na sua pulsação temporal, Lacan (1964) utiliza a
imagem da nassa, no fundo da qual vai se realizar a pesca do peixe; revertendo a topologia
imagética tradicional a partir do modelo ótico de Daniel Lagache, para afirmar que “ali
onde o sujeito se vê, isto é, onde se forja essa imagem real e invertida de seu próprio
corpo que é dado no esquema do eu, não é lá de onde ele se olha” (p. 137), mas é no
espaço do Outro (A) que ele se vê. Caberá perguntarmos de onde cada sujeito se baliza
para dirigir-se ao sujeito suposto saber, função que poderá ser encarnada por qualquer um
e se o analista se mantém neste lugar fundado pela transferência, o sujeito poderá pensar
que o analista será enganado, mas “aquele que pode ser enganado, não deveria estar a
fortiori sob a suspeita de poder, muito simplesmente, enganar-se?” (p. 221). Se algo se
estanca em torno deste enganar-se; cabe indagar o estatuto da confiança depositada no
analista, pois, este é suposto saber também partir ao encontro do desejo inconsciente.
Toda a elaboração lacaniana em relação à transferência funda-se na perspectiva
freudiana do amor e avança em relação à suposição de saber, calcada no endereçamento
a um Outro da fala, ao qual se dirige a mensagem, ainda que invertida, mas ao mesmo
tempo portadora de uma verdade, a verdade do sujeito. O analista espera ali o sujeito, no
ponto onde poderá apontar, tal como Sócrates, o fio do desejo e da verdade, desde que
atento à dimensão inconsciente em jogo na transferência.
No contexto atual, quando o sujeito não encontra a quem endereçar a sua
mensagem, ainda que esta já esteja lá e ele não saiba que possa endereça-la, parece-nos
importante que o psicanalista possa primeiramente constituir-se como um lugar que
acolha o endereçamento desta fala do sujeito a fim de remetê-la ao mesmo, fazendo-o do
lugar vazio concernente ao seu desejo.
Assim, nossa experiência clínica, de pesquisa e extensão em torno da investigação
sobre os novos modos de vida da adolescência e juventude apontam-nos mudanças na
ordenação do mundo decorrentes da perda de referentes no plano político e simbólico
(GUERRA, 2011). A exclusão tem se tornado a marca da juventude negra, pobre e
favelada em nosso país e a resposta daqueles que se encontram em conflito com a lei é o
estabelecimento de traços identificatórios, pela via imaginária, ao saber do Outro do crime
(GUERRA, 2011). Trata-se de um saber não dialetizável, mas que se impõe sob a forma
da tirania. Neste sentido, a proposição de outra característica encontrada pelos
adolescentes parte de uma inversão de valor atribuído à regulação e manutenção da vida,
onde os jovens marcam sua presença na cena da cidade baseando-se no tripé revolta –
vingança – morte; e se na prática clínica nos sustentamos no sujeito suposto saber, a
relação entre estes jovens se baseia no sujeito suposto suspeito; onde a desconfiança deixa
uma margem aberta em relação à interpretação negativa do Outro. Com isso os jovens
cumprem uma espécie de destino social marcado pelo que eles cunham como os três “C”:
cadeia, caixão ou cadeira de rodas. Fazer vacilar este sistema pode favorecer a produção
de novas saídas. (MARTINS; GUERRA; CANUTO; NEVES, 2015)
Para Laurent (2000), a proposição lacaniana da forma lógica da suspeita é definida
como o primeiro nível da lógica coletiva, onde se definem as relações do indivíduo no
agrupamento antes de constituição da classe, isto é, antes que o indivíduo seja
especificado; pois, o segundo nível é aquele do tempo lógico e da asserção da certeza
antecipada, onde o sujeito vem se especificar, ou seja, se identificar. Poderemos pensar,
portanto, que no primeiro nível situamos o sujeito ainda não especificado no tripé revolta
– vingança – morte; enquanto no segundo nível, o sujeito já estaria especificado, ou seja,
identificado ao seu destino de três “C” – cadeia, caixão ou cadeira de rodas.
Assim, a lógica da suspeita se insere nas relações do sujeito com o seu
agrupamento e, por que não, nas relações com a instituição e com o próprio psicanalista?
Se a clínica se baseia no sujeito suposto saber, devemos indagar se a suspeição e a
interpretação negativa do Outro não seriam transpostas para a clínica e para os espaços
institucionais, não apenas na perspectiva da transferência negativa, mas como uma
condição estruturante das relações contemporâneas, pois, ao serem confrontados com a
exclusão radical, também experimentam uma ausência real do Outro enquanto lugar de
endereçamento de sua fala. Na contramão, em um eixo imaginário, o saber do Outro do
crime se torna consistente. Não cabe ao analista realizar confrontações, mas operar do
lugar vazio do seu desejo e do seu saber a fim de vacilar esta suspeição imaginária e
introduzir o sujeito em uma via desejante e menos mortífera.
Se Alcibíades realiza a sua confissão diante dos outros, daqueles que em seu
conjunto se poderia chamar de o tribunal do Outro, os adolescentes e jovens com os quais
trabalhamos parecem não encontrar a quem endereçar a sua confissão. Muito pelo
contrário, este Outro também colocado sob suspeição faz muito mais o papel acusatório
em sua função normativa, disciplinar e excludente; enquanto no plano imaginário esta
suspeição ocorre entre o sujeito e os seus iguais, estendendo-se também para o Outro;
mas no plano real, o Outro é interpretado negativamente, isto é, por não estar lá.

3 – O trabalho em equipe e a construção do caso sob transferência

Neste cenário, se a nossa referência é o sujeito suposto saber, como podemos


operar ali onde o sujeito é suposto suspeito? E mais, como operar onde o saber é colocado
sob uma suspeição? Além disso, tais condições não se colocam apenas do lado do sujeito,
uma vez que alguns impasses se apresentam do lado dos operadores nas instituições,
principalmente quando se trata de operar numa prática feita por vários.
A fim de evitar os ‘embustes’ suscetíveis à nossa prática, tentaremos avançar não
somente quanto ao trabalho da equipe em relação ao sujeito que a nós se dirige; mas
situando as possibilidades de invenção que nos desviem dos modelos que nos
dessubjetivam.
Para Ciaccia (1999), na prática feita por vários é preciso identificar como se
articulam as tarefas a serem cumpridas àquelas que se encadeiam ao desejo. Não se pode
desconsiderar, portanto, que a natureza de nossos trabalhos depende do Um fundador,
assim como a nossa maneira de trabalhar. Para o autor, a instituição resulta da articulação
essencial entre o Um e o múltiplo. E, se por um lado, o Um fundador dá coesão, isto
resultará em uma identificação vertical ao mesmo, e em uma identificação horizontal
entre os iguais. Outro importante fator a ser destacado é o fato de tal coesão comportar
um elemento de rejeição, recusa ou ódio àqueles que se encontram fora da instituição.
Neste contexto, a possibilidade de o discurso do mestre se impor de modo
automática e dominar a instituição será contrabalançada, com a contribuição freudo-
lacaniana, a fim de que o trabalho se fundamente no discurso analítico, avesso ao discurso
do mestre e, que não se sustente no Um do mestre, mas na falta desse Um do mestre. Ao
mesmo tempo em que Ciaccia (1999) nos orienta quanto à nossa prática frente ao discurso
do mesmo, também orienta-nos a fim de que a instituição não se torne uma sala de espera
para psicanalistas, nem mesmo se desenvolva nela uma aversão à psicanálise e aos
psicanalistas. Fato que observamos na atualidade em diversos espaços institucionais.
Que o trabalho na instituição não se sustente apenas no Um do mestre, embora
este seja necessário a cada instituição, possibilita a Ciaccia (1999) apontar para aquilo
que chama o Um do vazio, “esse Um do vazio não é o feito de um só, mas o feito de cada
um, um por um. Pois cada um, em uma instituição, é chamado a fundá-la a partir de sua
própria relação a esse vazio que faz o centro de seu ser”. (p. 64)
Portanto, encontramos uma importante orientação quanto ao modo de operar
frente ao Um do mestre e do lugar do Um do vazio, onde as questões de cada um remetem
à sua própria Causa em jogo no trabalho institucional. Tendo esta direção tomada em
Ciaccia (1999), compreendemos com o autor que se torna impossível eliminar o Um do
mestre nas instituições, nem mesmo se trata de uma relação de concorrência, mas
entendemos que nossa prática advém daquilo que sobressai do Um do vazio, mantendo
aberto este vazio, através do papel essencial do guardião do vazio central, função a ser
desempenhada por alguém que seja referenciado na equipe, sem que encarne o lugar do
mestre, mas que no ponto central que é o Um do vazio, possibilitando que se estabeleça
na equipe uma relação essencial ao trabalho entre muitos, incluindo o respeito à iniciativa
e ao estilo uns dos outros.
Acreditamos, assim, que tal condição de possibilidade se articula também à
proposição de construção do caso em equipe. E a transferência permanece como recurso
essencial ao nosso trabalho, pois, chegando a este ponto compreendemos a necessidade
de suspendermos as rivalidades imaginárias tão improdutivas a fim de alcançarmos o que
está em jogo no trabalho de construção de caso em equipe.
Ao pensarmos a construção do caso, consideramos os apontamentos de Viganó
(1999) que inicialmente indicam uma passagem em que o significante ‘doença’ é
eliminado, mas na atualidade de nossa prática estendemos tal passagem para o
significante ‘usuário’ a fim de nos referirmos aos diversos campos de trabalho em que a
psicanálise de orientação lacaniana se encontra. Se não for o significante adequado à
nomenclatura usual, que o tomemos como exemplo para o que pretendemos aqui.
Mas a questão colocada se refere à tomada de um significante que cristaliza o
sujeito nas instituições. Ainda assim, Viganó (1999) destaca que tal passagem não deixa
de marcar uma dimensão da assistência e, por isto, precisamos encontrar a dimensão
clínica, que também é a dimensão do homem. Isto posto, consideramos que a dimensão
da assistência não se refere às condições e direitos do cidadão, mas a um lugar onde este
é colocado pelas instituições, elidido desta dimensão o sujeito. Tal passagem apontada
pelo autor também se refere à cronicidade que advém de “uma adesão a um programa de
vida imposto, decidido fora de qualquer expressão subjetiva” (p. 50). Com isto,
incorremos no risco, segundo o autor, de passagem da exclusão à segregação.
Assim, visando objetivar nosso trabalho, organizamos abaixo os quadros relativos
às distinções realizadas por Viganó (1999) em relação ao caso clínica, ao caso social, à
construção do caso e ao trabalho em equipe.

QUADRO 1
CASO CLÍNICO CASO SOCIAL
- Compreender o significante e o objeto; - Equivalência do peso crescente de uma
- Resolvido pelo sujeito que é o verdadeiro equação que igual serviços, direitos,
operador se colocado nesta condição; saúde, assistência à mercadoria
- Não exclui o caso social; - Discurso do puro significante, dos
- É condição para que haja o caso social instrumentos jurídicos e assistenciais;
- Conduzido pelos operadores;
COMPLICAÇÃO: DUAS CONSTRUÇÕES DA CLÍNICA QUE SE OPÕEM
- Uma mantém separado o caso clínico do - A outra os articula entre si;
caso social; - Quando articulados: concepção da
- Separados: relação transitiva entre clínica como discurso que torna ativo o
terapeuta e paciente – T  P paciente – T P
DUAS CONCEPÇÕES
- Transferência como repetição; - Uma orientação que mantém um vazio
- Posição do analista como lugar do Outro do tempo clínico, de saber;
do saber; - Tempo preliminar à entrada no discurso
- Momento clínico transformado em analítico;
instrumento terapêutico; - Vazio que permite passar à posição de
- Baseia-se numa hierarquia de saberes e trabalho;
funções; - Vazio que possibilita fazer perguntas;
- Opõem-se interpretação e intervenção - Não colocar a pergunta: o que fazer por
corretiva; ele?
- Esvazia-se a possibilidade de o sujeito se - Perguntar: o que ele pode fazer para
perguntar: o que faz aqui, como sair? sair?
QUADRO 2
A CONSTRUÇÃO DO CASO
- É distinto da interpretação, esta visa decifrar significantes e extrair o real do gozo;
- A construção não visa reintegrar os significantes perdidos;
- Deve restaurar a topologia do furo, do furo da falta que causa o desejo;
- Consiste no testemunho das diversas fases do trabalho do analisante/paciente;
- Inclui a transferência, o sintoma e a demanda;
- Difere do primeiro tipo de clínica, para o qual basta a transferência;
- Para o segundo tipo, é preciso que o sujeito se implique naquilo de que se queixa;
- Passagem que não pode ser provocada;
- Isolar o significante que inclui o analista na transferência;
- O analista não é um expert, mas compreende o trabalho dos colegas não-analistas;
- Na construção não há exigência de um sujeito suposto saber como na supervisão;
- Construção do ato como ponto de não retorno, através do qual o sujeito consegue bem
dizer, aprende a falar;
- Cabe ao analista construir o caso, colocar o paciente a trabalho, registrar seus
movimentos, recolher as passagens subjetivas importantes, escutar a sua palavra
quando esta vier;
- Registrar uma mudança é fundamental, pode ser uma mensagem a se fazer notar;
- Na construção não se interpreta uma mudança, pois, a interpretação levaria ao
esmagamento do sujeito com o nosso saber;
- Trata-se mais de notar quanto há um ato, uma mudança, do que saber o motivo do
ocorrido;
- A interpretação só ocorrerá quando o sujeito começar a colocar a sua pergunta para
alguém.
QUADRO 3
A CONSTRUÇÃO DO CASO E O TRABALHO EM EQUIPE
- Implica abandonar o saber do mestre;
- Trabalho orientado pelo debate democrático que leve a um ponto de orientação e
autoridade que faça a equipe tomar uma decisão;
- O trabalho de construção do caso dentro do grupo tende a trazer à luz a relação do
sujeito com o seu Outro
- Construção de um diagnóstico de discurso e não do sujeito;
- Considerar que o sujeito pode não estar no discurso, mesmo estando na instituição;
- Possibilitar que o sujeito se pergunte acerca do que o Outro quer dele pode promover
uma inclusão no discurso;
- A construção servirá para operar o deslocamento do sujeito dentro do discurso.

QUADRO 4
ESCANSÃO DA CONSTRUÇÃO DO CASO EM DOIS TEMPOS
1 – Situar em que discurso o sujeito é 2 – Produzir um projeto que tenha
colocado; objetivo;
CONSTRUÇÃO DO CASO EM DOIS ASPECTOS
1 – Considerar o sujeito e sua ausência de 2 – Vários profissionais envolvidos;
condições de se representar dentro do - A construção opera um corte transversal
próprio discurso; sobre os profissionais;
- Reativar a relação do sujeito com o - Interrogar o lugar dos profissionais em
Outro; relação ao paciente;
- Margem de previsão e efeito da - Os lugares de saber fundam-se com o
intervenção a posteriori; trabalho;
- Construir escansões que considerem o - O trabalho constrói um saber possível
resultado como forma de avaliação sobre o sujeito;
- Interrogações do grupo de trabalho sobre - Um corte que ativa o desejo, desejo de
o paciente sem reificá-lo, torna-lo um ocupar um lugar para aquele sujeito;
objeto conhecido, mas abrir um caminho à - Ausência de garantia quanto aos papéis;
subjetivação. - Desejo de arriscar-se
Considerações finais:

Frente a todo o contexto apresentando, consideramos como fundamentais as


observações relacionadas às passagens teóricas que situaram a transferência no âmago da
experiência psicanalítica e também institucional. Além do mais, cabe destacar a
importância demarcação dada por Freud e Lacan quanto ao fato de ser a transferência um
fenômeno que não se restringe ao espaço analítico, estando nas instituições e, bastando
para isso atentarmos às suas manifestações.
Também tomamos deste referencial o fato de que tal endereçamento não se dá
apenas na pessoa do psicanalista, podendo ocorrer em relação aos diferentes profissionais
das instituições. Assim, nem mesmo as dimensões amorosas, do engano, do embuste, do
saber e da suspeição deixam de nos orientar rumo a uma prática se pretende contrária aos
efeitos segregatórios do discurso do mestre, das práticas que levam à exclusão, bem como
aos efeitos de cristalização e apagamento do sujeito advindos da disciplina e do saber da
ciência tão presente nas instituições.
Consideramos ainda que o poder da transferência enquanto instrumento da nossa
prática não perdeu a sua força e a sua função, mesmo neste tempo em que vivemos a
inconsistência do Outro. Trata-se, portanto, de prestar atenção nos endereçamentos feitos
pelo sujeito. Trata-se de saber a quem, onde e como sua mensagem é endereçada. Cabe-
nos, portanto, acolhê-la. Mas não decifrá-la para o sujeito, e sim devolvê-la a fim de que
uma pergunta se produza neste encontro.
Concordamos com Ciaccia (1999) quanto ao fato de que os profissionais que
trabalham a partir do coletivo podem funcionar como um motor a fim de lançar
novamente o desejo de cada membro em relação ao que estão juridicamente autorizados
pela sua prática. Acrescentamos, portanto, que mesmo diante das dificuldades da prática,
a sua decisão por uma Causa seja também esta de relançar o sujeito em sua causa
desejante.
Muito obrigado!
Referências bibliográficas:

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