Vous êtes sur la page 1sur 13

Trabalho de Conclusão de Curso

Engenharia Mecânica 2019.1


Centro Universitário de Brusque

ANÁLISE NUMÉRICA DE FLUXO SANGUÍNEO EM ANEURISMA DE


AORTA ABDOMINAL

Robson Santin Pasqualotto, robson.pasqualotto@unifebe.edu.br 1


Misael Dalbosco, m.dalbosco@unifebe.edu.br1

1UNIFEBE – Centro Universitário de Brusque, Rua Dorval Luz, 123 – Santa Terezinha – CEP: 88352-400 –
Brusque/SC – Cx. Postal: 1501

Resumo: De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças do sistema cardiovascular são
a principal causa de mortes no mundo. O Aneurisma de Aorta Abdominal (AAA) é uma destas doenças, que
consiste na dilatação localizada e permanente de uma artéria. Os esforços ocasionados pelo fluxo sanguíneo
nas paredes desta artéria podem levá-la ao rompimento e ao óbito do paciente. Neste contexto, é nítida a
importância em investigar a dinâmica sanguínea e suas consequências nas paredes da artéria. Há pelo
menos 30 anos, a dinâmica de fluidos computacional (CFD) tem contribuído com avanços significativos na
compreensão do comportamento sanguíneo na artéria e auxiliado na tomada de decisões terapêuticas para
tratamento de patologias. O objetivo do presente estudo é reconstruir e simular através do software gratuito
SimVascular, um modelo de AAA (construído experimentalmente em silicone), retirado da literatura. As
condições de contorno (geometria, vazão, resistências, viscosidade dinâmica e densidade) estabelecidas
para desenvolvimento da simulação foram escolhidas de forma a reproduzir o estudo experimental utilizado
como base, divergindo apenas, no fato de a simulação ser puramente fluidodinâmica, assumindo as paredes
da artéria como rígidas, enquanto no modelo original as paredes são flexíveis, se deformando com a
passagem do fluxo sanguíneo. Os resultados obtidos foram comparados com o modelo original, sendo que
a velocidade para a artéria suprarrenal apresentou semelhanças na forma de onda com pico de velocidade
na sístole e velocidade menor na diástole. Os valores de velocidade na entrada da artéria suprarrenal e na
saída da artéria ilíaca direita, retirados da simulação, ficaram semelhantes a literatura variando entre
aproximadamente 4 e 14 cm/s, 30 e 40 cm/s, respectivamente. A pressão média obtida variou entre 120 e
130 mmHg, superior ao esperado que seria 100 mmHg.

Palavras-chave: Aneurisma de aorta abdominal. SimVascular. Dinâmica de Fluidos Computacional.


Análise de fluxo sanguíneo.

1. INTRODUÇÃO E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças do sistema cardiovascular são a principal
causa de mortes no mundo, sendo responsáveis pelo óbito de mais de 9 milhões de pessoas em 2016 [1]. O
aneurisma é uma destas doenças e consiste na dilatação localizada e permanente de uma artéria, resultado
dos esforços radiais causados pela pressão sanguínea [2], e que pode se desenvolver em variados locais do
sistema circulatório, dentre eles a artéria aorta [3], conforme ilustrado na Fig. 1.
O que caracteriza o aneurisma da aorta abdominal (AAA) é um aumento de ao menos 50% do seu
diâmetro máximo usual, que em adultos é cerca de 2,0 cm. A principal dificuldade na prevenção dos AAAs é
o fato de ser uma doença quase sempre assintomática [4]. O consequente rompimento da aorta, quando
ocorre, alcança uma taxa de 90% de mortalidade [5], sendo que, apenas nos EUA, estimam-se em 15.000
óbitos ao ano [6].
O tratamento para AAA pequenos consiste do acompanhamento médico, promoção de hábitos saudáveis
e administração de medicamentos. Em contrapartida, para AAA grandes (>5,5 cm), que apresentam alto risco
de ruptura, é recomendada uma intervenção cirúrgica [3].

1
Figura 1. Aneurisma da aorta abdominal (AAA) (adaptado de Blausen [20]).

A intervenção cirúrgica tradicional consiste na retirada da parte doente da aorta e a substituição por um
tubo protético de tecido polimérico, conforme ilustrado na Fig. 2a. Trata-se de uma cirurgia muito invasiva, em
que é realizada uma grande incisão no abdômen [7]. O tratamento endovascular aneurysm repair (EVAR),
conforme ilustrado na Fig. 2b, foi introduzido por Parodi em 1991 e é uma técnica menos invasiva que usa
uma endoprótese, do tipo stent-graft (SG), que, assim como no método tradicional, consiste de um tubo
protético, porém com um esqueleto metálico fixado a ele, para garantir a sustentação do tubo. O SG é usado
para isolar o fluxo sanguíneo da aorta e para ajudar a impedir que a área lesionada se rompa.

(a) (b)
Figura 2. Método tradicional de reparo AAA (a) e reparo de AAA via EVAR (b) (adaptado de Mohler [7]).

O procedimento consiste em perfurar a artéria femoral, localizada na perna, na região da virilha, e através
desta conduzir a endoprótese (inserida dentro de um cateter) no interior da aorta por um fio guia até o local
do aneurisma [6]. Por ser um procedimento menos invasivo, vem sendo cada vez mais utilizado, chegando a
responder por mais de 80% das cirurgias para reparo de aneurisma em alguns centros dos EUA [8]. No
entanto, este procedimento, se comparado com a intervenção tradicional, ainda possui maior risco de
ocasionar problemas pós-operatórios e a necessidade de intervenções secundárias [9], como vazamentos,
formação de trombos, entre outros.
Simulações do fluxo sanguíneo e das suas consequências sobre as paredes das artérias têm sido
realizadas há pelo menos 30 anos. Fukushima et al. [10] investigaram, por um método de visualização de
fluxo, modelos de vidro simulando aneurismas fusiformes, conforme ilustrado na Fig. 3a e saculares,
apresentado na Fig. 3b. Com os dados retirados do experimento de visualização, fez-se uma análise de
elementos finitos para obter campos de velocidade e pressão no fluxo pulsátil, a fim de estudar os efeitos da
mudança na forma de onda pulsátil, mantendo o número médio de Reynolds. O aparecimento e
desaparecimento de vórtices no aneurisma, resultaram em distribuições complexas de campos de pressão e
cisalhamento.

2
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

(a) (b)
Figura 3. Aneurisma fusiforme (a) e sacular (b) (adaptado de Azencott [21]).

Estudos recentes [12 e 13] visam entender o papel da dinâmica de fluidos em AAA, incluindo velocidade
do fluxo sanguíneo, vórtices, tensão de cisalhamento na parede e evolução de pressão, que podem levar ao
fenômeno de ruptura, pois as forças mecânicas internas são mantidas pela ação dinâmica do fluxo de sangue
nas paredes dos AAAs [11]. A dinâmica de fluidos computacional (CFD) tem sido muito utilizada nos últimos
anos e levou a avanços significativos na compreensão de como o fluido afeta as paredes da artéria.
Simulações desse tipo podem ser puramente fluidodinâmicas, incorporando a suposição de que as paredes
da artéria são rígidas, ou então podem utilizar métodos de interação fluido-estrutura (FSI). Em métodos FSI,
analisa-se a estrutura sólida da parede durante a interação com fluido, na qual a estrutura se deforma e
consequentemente altera o fluxo do próprio fluido. Este método é o mais próximo da situação real, entretanto
aumenta consideravelmente o custo computacional [13].
A CFD tem auxiliado na tomada de decisões terapêuticas para tratamento de patologias vasculares da
aorta humana. Karmonik et al. [12] calcularam as vias de fluxo sanguíneo, tensão de cisalhamento na parede,
pressões dinâmicas e velocidades do sangue de um AAA reparado via EVAR. Stergiou et al. [13] utilizaram o
método FSI para investigar a ligação entre o comportamento dinâmico de um AAA, posicionado abaixo da
bifurcação renal, com diâmetro máximo de 55 mm, e as variações da viscosidade do sangue devido a
diferentes valores de hematócrito, que indica a porcentagem de glóbulos vermelhos no volume total de
sangue. Ainda com o método FSI é possível estimar parâmetros biomecânicos como tensão de cisalhamento
no tecido da parede e as correspondentes tensões principais [14].
Dada a relevância do assunto, médicos, engenheiros, bioengenheiros e matemáticos trabalharam em
conjunto no desenvolvimento do SimVascular, um pacote de software integrado que fornece a possibilidade
de construir um modelo completo de vasos sanguíneos através de dados tomográficos, com objetivo de
contribuir para avanços na medicina personalizada, planejamento cirúrgico e design de dispositivos médicos
[15]. O software permite desenvolver simulações hemodinâmicas em taxas de fluxo e pressões realistas,
atribuindo ao modelo criado condições de contorno obtidas de dados clínicos [16]. Essas simulações podem
ser puramente fluidodinâmicas, considerando a parede da artéria como rígida, ou pelo método FSI. Com o
resultado das simulações obtém-se diversos parâmetros de interesse, tais como a tensão de cisalhamento
na parede (WSS) e o índice de cisalhamento oscilatório (OSI).
A WSS é a força tangencial que atua na parede arterial devido ao fluxo sanguíneo, por unidade de área
[17], calculada conforme a Eq. 1.

𝜕𝑦
𝜏= .𝜇 Eq. (1)
𝜕𝑥

onde:
τ – tensão de cisalhamento na parede WSS (Pa)
∂y/∂x – derivada do perfil de velocidade (s)
µ – viscosidade do fluido (Pa.s)

O OSI é um índice que mede a mudança da direção do vetor WSS durante o ciclo cardíaco [18]. Conforme
apresentado na Eq. 2, este índice é calculado com base no relativo período de cisalhamento negativo versus
cisalhamento positivo através de um ciclo cardíaco, em cada ponto.

1 𝑇
| ∫0 𝜏𝑤 𝑑𝑡|
𝑂𝑆𝐼 = 0,5. (1 − 𝑇 ) Eq. (2)
1 𝑇
∫ |𝜏 |𝑑𝑡
𝑇 0 𝑤

onde:
τw – período de cisalhamento (Pa)
T – ciclo cardíaco (s)

3
De acordo com a abordagem biomecânica, a ruptura dos AAAs segue os mesmos princípios básicos
aplicados a qualquer material: a falha ocorre quando a solicitação mecânica exercida sobre esse material
ultrapassa sua resistência [17]. Através de parâmetros como WSS e OSI, é possível avaliar o impacto de um
procedimento de EVAR no fluxo padrão da artéria, por exemplo.
Altos níveis de WSS, que ocorrem em bifurcações arteriais devido ao impacto do fluxo, são uma das
causas de alteração da estrutura celular do tecido arterial que pode ocasionar um aneurisma [18]. Baixos
níveis de WSS, definidos como <1 Pa para artérias in vivo, estão associados a patologias como aterosclerose
(inflamação na parede da artéria) e formação de coágulos nas artérias, podendo ocorrer em regiões com
recirculação de fluxo [19]. Magnitudes extremamente baixas de WSS (da ordem de 10-2 Pa) foram associadas
ao desenvolvimento de aterosclerose e coagulação sanguínea. Oscilações periódicas na WSS também foram
associadas ao desenvolvimento de aterosclerose [19].
É possível investigar o fluxo sanguíneo em aneurismas também por meio de estudos experimentais.
Boersen et al. [19] desenvolveram um experimento em que foram construídos quatro modelos de aneurisma
da aorta abdominal, sendo um sem endoprótese, conforme ilustrado na Fig. 4a. Três com sistemas distintos
de endoprótese, Endurant (Medtronic, Minneapolis, Minn.), mostrado na Fig. 4b, AFX (Endologix, Irvine,
Calif.), apresentado na Fig. 4c e Nellix (Endologix), ilustrado na Fig. 4d. Os modelos foram construídos em
silicone transparente a partir de um molde de AAA obtido através de impressão 3D; a geometria foi baseada
em uma anatomia de AAA simples com um diâmetro do colo infra-renal de 28mm e comprimento de 15mm e
diâmetro máximo de AAA de 55mm. A implementação e dimensionamento dos modelos com endoprótese
foram realizadas seguindo as instruções de experientes cirurgiões vasculares.

Figura 4. Modelos de AAA, desenvolvidos em silicone (Boersen et al. [19]).

Os testes de fluxo sanguíneo desenvolvidos no estudo experimental, foram realizados em condições


fisiológicas de repouso. Para visualizar o fluxo usou-se a velocimetria por imagem de partículas a laser, que
consiste na utilização de um laser para excitar partículas fluorescentes de polimetil metacrilato e sincronizado
com uma câmera de alta velocidade, capturar os sinais das partículas fluorescentes. O resultado está
exemplificado na Fig. 5, e foi obtido para as três regiões de interesse, conforme ilustrado na Fig. 4a. As
análises realizadas basearam-se no conceito da tensão de cisalhamento da parede (WSS) e do índice de
cisalhamento oscilatório (OSI). O objetivo do experimento foi avaliar o impacto do fluxo nas paredes da artéria,
comparando os resultados entre os quatro modelos construídos.

Figura 5. Velocimetria por imagem de partículas a laser (adaptado de Boersen et al. [19]).

4
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

O objetivo deste trabalho é realizar uma análise numérica de um AAA baseado na geometria e parâmetros
utilizados no trabalho de Boersen et al. [19] (modelo A apresentado na figura 4), Utilizando para isto o software
SimVascular. Parâmetros como velocidade de fluxo e pressão na parede serão avaliados e os resultados da
simulação serão comparados com aqueles obtidos experimentalmente por Boersen et al. [19].

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A geometria do AAA foi reconstruída no software, conforme os parâmetros geométricos apresentados em


[19] e repetidos no Anexo A por conveniência.
Os modelos tridimensionais foram então gerados pela seleção de caminhos da linha central ao longo dos
vasos, criando segmentações 2D ao longo de cada um desses caminhos e, em seguida, agrupando as
segmentações para criar um modelo sólido. Um modelo sólido foi criado para cada vaso e a adição booleana
foi usada para gerar um único modelo representando o modelo completo, conforme ilustrado na Fig. 7.

3
2

4 5

(a) (b)
Figura 7. Comparação entre modelo reconstruído no SimVascular (a) e modelo de silicone (b) (dos autores).

O comportamento do sangue é assumido com propriedades fisiológicas padrão, que são viscosidade
dinâmica de 0,04 g/cm.s² e densidade de 1,06 g/cm 3 [23]. As equações de conservação de massa e Navier-
Stokes foram resolvidas assumindo paredes rígidas e antiderrapantes, com intuito de diminuir o custo
computacional.
As condições de contorno utilizadas no software podem ser separadas em condições de limite de entrada
e saída. Para a entrada que compreende a região da aorta suprarrenal (1), conforme a Fig. 7 (a), foi escolhido
o perfil de fluxo Womersley, usado para seções circulares que usa uma solução fechada para o perfil de
velocidade [15] e utilizada uma vazão obtida através da Eq. 3

𝑄 = 𝑣𝐴 Eq. (3)

onde:
Q – vazão (cm²/s)
v – velocidade (cm/s)
A – área (cm²)

Os valores de velocidade (v) na entrada do modelo experimental foram retirados do trabalho de Boersen
et al. [19], conforme mostrado na Fig. 8, que representa a velocidade média para 10 ciclos cardíacos (linha
azul escura), sendo que o sombreado representa o desvio padrão para um tempo de 1 s.

5
Figura 8. Gráfico da velocidade versus tempo (adaptado de Boersen et al. [19]).

Nas saídas que compreendem as regiões das artérias renais (2 e 3) e ilíacas (4 e 5) mostradas na Fig.
7(a), são impostas condições de limite de resistência, que caracteriza a vasculatura a jusante [15]. O valor de
resistência (20000 dyn.s/cm 5) considerado para as quatro saídas, foi obtido através da Eq. 4 [15],

𝑝𝑚𝑒𝑑 = 𝑅𝑄 Eq. (4)

onde:
𝑝𝑚𝑒𝑑 – pressão média (dyn/cm²)
R – resistência (dyn.s/cm 5)
Q – vazão (cm²/s)

Na equação acima, a vazão utilizada foi de 6,67 cm²/s (0,4 L/min) e a pressão média de 133320 dyn/cm²
(100mmHg) em cada saída, de acordo com os dados do experimento [19]. A simulação foi realizada
considerando-se um único ciclo cardíaco, dividido em duas fases denominadas: sístole período de contração
muscular do coração e diástole período de relaxamento do coração. Foram utilizados 100 timesteps com um
valor de 0,01 segundo por timestep, esses dois parâmetros controlam a quantidade de tempo físico com que
se executa a simulação[15].
Os resultados esperados da simulação realizada no SimVascular, e visualizada no software ParaView são
os valores da pressão média do modelo; a pressão ao longo do tempo para 1 ciclo cardíaco na aorta
suprarrenal; e as velocidades do sangue para as três regiões de interesse: aorta suprarenal (1), artéria renal
direita (2) e artéria ilíaca (3) conforme Fig. 7 (b). Os valores obtidos, de acordo com as condições de contorno
apresentadas, serão comparados com o experimento de Boersen et al. [19]

3. RESULTADOS

Nesta seção serão apresentados, discutidos e comparados os resultados obtidos na simulação realizada
de acordo com as condições de contorno mencionadas no capítulo anterior.
Através do ParaView (software utilizado apenas, para visualização dos resultados da simulação, realizada
no SimVascular), foi avaliada a pressão média na entrada do modelo no início da simulação. Os dados obtidos
na Fig. 9 demonstram valores entre 120 e 130 mmHg, superiores ao que seria esperado conforme condições
de contorno estabelecidas (100 mmHg), esta diferença pode estar relacionada com valores inadequados de
resistência, que foram calculados de acordo com a Eq. 3 [15], e com os dados retirados do experimento de
Boersen et al. [19]. Verifica-se também na figura que a pressão diminui à medida que percorre as ramificações,
o que era esperado.

6
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

Figura 9. Análise da pressão média obtida no ParaView (dos autores).

A Fig. 10 apresenta a velocidade obtida na simulação, para a aorta suprarrenal. Comparando o perfil com
a Fig. 8, referente ao experimento de Boersen et al. [19], verifica-se que ambas têm a mesma forma de onda,
com pico de velocidade na sístole e velocidade menor na diástole. Pode-se observar que a velocidade da
simulação variou entre aproximadamente 5 e 13 cm/s, semelhante à velocidade obtida no experimento, que
variou entre aproximadamente 4 e 14 cm/s, o que significa que as condições de contorno na entrada estão
consistentes com o experimento.

Figura 10. Gráfico da velocidade na aorta suprarrenal (dos autores).

Na Fig. 11 são apresentados os valores de pressão obtidos no tempo para a região da aorta suprarrenal
(1) conforme Fig. 7, que variam entre aproximadamente 210 e 190 mmHg; os valores ficaram acima do
esperado, que seria uma variação entre 120 e 80 mmHg, este é outro indício de que os valores de resistência
utilizados podem estar inadequados. O experimento de Boersen et al. [19] não deixa muito evidente, se os
valores de vazão utilizados para o cálculo da resistência, são os mesmos nas quatro ramificações
apresentadas na Fig. 7a.

7
Figura 11. Gráfico da pressão média na aorta suprarrenal (dos autores).

Em ambas as Fig. 10 e 11 os resultados foram obtidos para somente 1 ciclo cardíaco, levando
aproximadamente duas horas para realização da simulação; idealmente, seria desejável simular vários ciclos
cardíacos em sequência, de forma a possibilitar a estabilização do fluxo. Isso não foi realizado devido ao
custo computacional associado. No estudo experimental, foram realizados os testes para 10 ciclos cardíacos.
Estima-se que a simulação dos mesmos 10 ciclos cardíacos no software, levaria aproximadamente 20 horas.
As Fig. 12 e 13 apresentam os valores de velocidade para as duas regiões de interesse propostas no
capítulo anterior, que são a artéria renal direita (2) e a artéria ilíaca direita (3), conforme Fig. 7. Esses valores
são comparados com os resultados obtidos no experimento de Boersen et al. [19].
Como pode ser observado na Fig. 12, os perfis de velocidade simulado (Fig. 12a) e experimental (Fig.
12b) demonstram comportamento parecido, com velocidades maiores no centro e menores próximo à parede
da artéria. As velocidades próximas à parede da artéria se assemelham, porém os valores na parte central
divergem em aproximadamente 15 cm/s, sendo maiores no resultado obtido na simulação Fig. 12a, chegando
ao pico de 77 cm/s. Este é um indício de que o valor de resistência utilizado nas artérias renais está
inadequado.

(a) (b)

Figura 12. Análise de velocidade na artéria renal direita do SimVascular (a) e estudo experimental (b) (dos
autores).

8
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

Na Fig. 13 são apresentados os perfis de velocidade simulados (Fig. 13a) e experimentais (Fig. 13b) para
a artéria ilíaca direita. Assim como nas artérias renais, as artérias ilíacas apresentam maiores velocidades no
centro e menores velocidades próximo às paredes em ambos os casos. Na saída da artéria os valores ficaram
próximos, variando entre 30 e 40 cm/s, o que não ocorreu na região central da artéria (entre a entrada e a
saída) onde os valores divergiram, com velocidades maiores apontadas no experimento, Fig. 13(b), entre 10
e 20 cm/s. O que também pode estar associado ao valor de resistência calculado e utilizado na simulação

(a) (b)

Figura 13. Análise de velocidade na artéria ilíaca direita do SimVascular (a) e estudo experimental (b) (dos
autores).

As diferenças apresentadas nas Fig. 9, 11, 12 e 13 entre os valores simulados e experimentais pode ser
ocasionada devido às condições de contorno impostas nas saídas das ramificações; é possível que valores
de resistência estejam inadequados, mesmo que estes tenham sido calculados com os dados retirados do
experimento do Boersen et al. [19]. Possivelmente, um desempenho melhorado poderia ser obtido utilizando
um modelo Windkessel de três elementos, que consiste na resistência proximal (Rp), capacitância (C) e
resistência distal (Rd), representando a resistência e a capacitância dos vasos proximais, localizados mais
próximos ao coração e a resistência dos vasos distais, que estão localizados mais distantes do coração.
Ambos a jusante de cada saída. Maiores informações a respeito podem ser encontradas na literatura [15].
A simulação foi realizada considerando as paredes da artéria como rígidas, o que implica em uma
condição de contorno chamada de “no-slip”, que aplica valores nulos para as componentes normais e
tangenciais de velocidade na parede [22], o que pode ser observado nas Figuras 12 (a) e 13 (a). Já para o
modelo experimental, como as paredes são deformáveis, observam-se velocidades ligeiramente negativas
(contrafluxo), nas paredes das artérias, o que também pode ser observado nas Figuras 12 (b) e 13 (b).
Outro aspecto que pode impactar na obtenção dos valores é a geometria com arestas muito fechadas nas
junções entre a aorta suprarrenal e as artérias renais e entre a aorta infrarrenal e as artérias ilíacas, conforme
mostrado na Fig. 7. Esta condição implica em uma malha gerada para o modelo com elementos muito
pequenos, consequentemente dificultando o processo de convergência da simulação.

4. CONCLUSÕES

De acordo com os dados apresentados conclui-se que, a velocidade obtida na simulação (Fig. 10) para a
artéria suprarrenal (região 1 da Fig. 7b) se assemelha à velocidade medida no experimento (Fig. 8) realizado
por Boersen et al. [19]. Isso demonstra que o fluxo teve comportamento semelhante em ambos os casos. As
velocidades próximas às paredes das artérias renal (região 2 da Fig. 7b) e ilíaca (região 3 da Fig. 7b), e a
velocidade na saída da artéria ilíaca, também apresentaram valores semelhantes nos dois casos, porém a
velocidade na parte central da artéria renal apresenta valores maiores na simulação, chegando a uma
variação de aproximadamente 15 cm/s.

9
O valor simulado da pressão média variou entre 120 e 130 mmHg e a variação de pressão para um ciclo
cardíaco obtido entre 190 e 210 mmHg, divergindo do esperado para as condições de contorno impostas, que
seriam uma média de 100 mmHg e variação entre 120 e 80 mmHg para um ciclo cardíaco. Essas divergências
podem estar relacionadas com as resistências aplicadas no software para as ramificações da artéria.
Alguns aspectos que devem ser considerados para explicar a divergência os resultados obtidos na
simulação e aqueles da literatura: a simulação realizada foi puramente fluidodinâmica, incorporando a
suposição de que as paredes da artéria são rígidas, o que não acontece no experimento realizado por Boersen
et al. [19], onde as paredes são flexíveis alterando o fluxo na artéria; a simulação de apenas 1 ciclo cardíaco,
divergindo do experimento onde os resultados foram obtidos com 10 ciclos cardíacos, o que pode explicar os
valores mais baixos de pressão no início do ciclo, na Fig. 11; as condições de contorno impostas nas saídas
das ramificações, é possível que valores de resistência estejam inadequados, mesmo que estes tenham sido
calculados com os dados retirados do experimento.
Considerando que este foi um trabalho inicial exploratório utilizando o software SimVascular, futuramente
pode-se realizar alguns ajustes para se chegar em resultados mais próximos à literatura, realizando por
exemplo: simulação com o método FSI, disponibilizado no SimVascular; aumento do número de ciclos
cardíacos simulados; aplicação do modelo de Windkessel como condição de saída para as ramificações da
artéria; ajuste da geometria do modelo, principalmente nas junções das ramificações, a fim de evitar arestas
muito fechadas; refinamento local da malha para obter elementos mais adequados em todas as regiões do
modelo.
Mesmo que alguns resultados não apresentem os valores esperados, o objetivo do trabalho, de analisar
computacionalmente o fluxo sanguíneo, em um modelo de AAA, reproduzindo-o no software SimVascular,
utilizando para isso a geometria e as condições impostas no estudo experimental realizado por Boersen et al.
[19] apresentadas no capítulo 2, com intuito de comparar os resultados obtidos, foi atingido.

5. REFERÊNCIAS

[1] OMS. The top 10 causes of death. 2019. Disponível em: https://www.who.int/en/news-room/fact-
sheets/detail/the-top-10-causes-of-death. Acesso em: 24 mar. 2019.
[2] VORP, D. A. Biomechanics of abdominal aortic aneurysm. Journal of Biomechanics, v. 40, n. 9, p.
1887–902, jan 2007. ISSN 0021-9290.
[3] SAKALIHASAN, N.; LIMET, R.; DEFAWE, O. D. Abdominal aortic aneurysm. Lancet, v. 365, n. 9470, p.
1577–89, 2005. ISSN 1474-547X.
[4] MARTINO, R. R. de; NOLAN, B. W.; GOODNEY, P, P.; CHANG, C. K.; SCHANZER, A.; CAMBRIA, R.;
BERTGES, D. J.; CRONENWETT, J. L. Outcomes of symptomatic abdominal aortic aneurysm repair.
Journal of Vascular Surgery, Elsevier Inc., v. 52, n. 1, 2010. ISSN 0741-5214. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jvs.2010.01.095. Acesso em: 24 mar. 2019.
[5] TILLMAN, K.; LEE, O. D.; WHITTY, K. Abdominal aortic aneurysm: an often asymptomatic and fatal
men’s health issue. American Journal of Men’s Health, v. 7, n. 2, p. 163–8, mar 2012. ISSN 1557-9891.
[6] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de
Saúde. Diretriz Brasileira para o tratamento do Aneurisma de Aorta Abdominal. 2019. Disponível em:
http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2017/Relatorio_Diretriz_AneurismaAortaAbdominal_Recomendacao.
pdf. Acesso em: 24 mar. 2019.
[7] MOHLER, E. R. Patient information: abdominal aortic aneurysm (Beyond the Basics). 2014. 1–10 p.
[8] ALBUQUERQUE, F. C.; TONNESSEN, B. H.; NOLL, R. E.; CIRES, G.; KIM, J. K.; STERNBERGH, W. C.
Paradigm shifts in the treatment of abdominal aortic aneurysm: trends in 721 patients between 1996
and 2008. Journal of Vascular Surgery, Elsevier Inc., v. 51, n. 6, p. 1348–52; discussion 1352–3, jun 2010.
ISSN 1097-6809.
[9] STOKMANS, R. A.; TEIJINK, J. A.; FORBES, T. L.; BÖCKLER, D.; PEETERS, P. J.; RIAMBAU, V.; HAYES,
P. D.; SAMBEEK, M. R. van. Early Results from the ENGAGE Registry: Real-world Performance of the
Endurant Stent Graft for Endovascular AAA Repair in 1262 Patients. European Journal of Vascular &
Endovascular Surgery, Elsevier Ltd, v. 44, n. 4, p. 369–375, 2012. ISSN 1078-5884. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.ejvs.2012.07.005. Acesso em: 31 mar. 2019.
[10] FUKUSHIMA, T; MATSUZAWA, T; HOMMA, T. Visualization and finite element analysis of pulsatile
flow in models of the abdominal aortic aneurysm. Biorheology. (1989) 26. 109-30. Disponível em:
https://doi.org/10.3233/BIR-1989-26203. Acesso em: 31 mar. 2019.
[11] CONG, Y.; WANG, L.; LIU, X. A numerical study of fluid-structure coupled effect of abdominal aortic
aneurysm. Bio-medical materials and engineering. (2015) 26. Suppl 1: S245-55. Disponível em:
https://doi.org/10.3233/BME-151311. Acesso em: 31 mar. 2019.
[12] KARMONIK, C.; KLUCZNIK, R.; BENNDORF, G. Blood Flow in Cerebral Aneurysms: Comparison of
Phase Contrast Magnetic Resonance and Computational Fluid Dynamics - Preliminary Experience.
RöFo: Fortschritte auf dem Gebiete der Röntgenstrahlen und der Nuklearmedizin. (2008) 180. 209-15.
Disponível em: https://doi.org/10.1055/s-2008-1027135. Acesso em 31 mar. 2019.

10
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

[13] STERGIOU, G. Y.; KANARIS, A.; MOUZA, A.; PARAS, V. S. Fluid-Structure Interaction in Abdominal
Aortic Aneurysms: Effect of Haematocrit. Fluids 2019, 4, 11.
[14] CANCHI, T.; NG, E.; SAXENA, A.; NARAYANAN, S. CFD-Based Postprocessing of CT-MRI Data to
Determine the Mechanics of Rupture in Abdominal Aortic Aneurysms: Applications and Computational
Techniques. Multi-Modality Imaging. (2018). 83-101. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-
98974-7_4. Acesso em: 31 mar. 2019.
[15] SimVascular. SimVascular. 2019. Disponível em: http://simvascular.github.io/index.html. Acesso em: 06
abr. 2019.
[16] UPDEGROVE, A.; WILSON, N.M.; MERKOW, J.; LAN H.; MARSDEN, A. L.; SHADDEN, S.C.
SimVascular: An Open Souce Pipeline for Cardiovascular Simulation. Ann Biomed Eng (2017) 45.
525-541. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10439-016-1762-8. Acesso em: 06 abr. 2019.
[17] KONTOPODIS, N.; TZIRAKIS, K.; TAVLAS, E.; LIOUDAKI, S.; IOANNOU, C. Biomechanic and
Hemodynamic Perspectives in Abdominal Aortic Aneurysm Rupture Risk Assessment. From Basic
Research to Clinical Practice. (2018). Disponível em: https://doi.org/10.5772/intechopen.76121. Acesso
em: 21 abr. 2019.
[18] OLIVEIRA, I. L. de. Using foam-extend to assess the influence of fluid-structure interaction on
the rupture of intracranial aneurysms. (2017). Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/151490.
Acesso em: 05 mai. 2019.
[19] BOERSEN, J. T.; GROOT J. E.; VERSLUIS, M.; SLUMP, C. H.; KU, D. N.; VRIES, J.P. M.; REIJNEN,
M. M. P. J. Flow and wall shear stress characterization after endovascular aneurysm repair and
endovascular aneurysm sealing in an infrarenal aneurysm model. Journal of Vascular Surgery
(2017). Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jvs.2016.10.077. Acesso em: 24 mar. 2019.
[20] BLAUSEN MEDICAL. Blausen gallery 2014. Wikiversity Journal of Medicine, 2014. Disponível em:
https://en.wikiversity.org/wiki/WikiJournal_of_Medicine/Medical_gallery_of_Blausen_Medical_2014. Acesso
em: 24 mar. 2019
[21] AZENCOTT. A. Aortic Aneurysm. 2019. Disponível em: http://www.dr-
azencott.fr/index.php?option=com_content&view=article&id=116&Itemid=259&lang=en#how-to-treat-an-
aneurysm-of-the-abdominal-aorta. Acesso em: 02 jun. 2019.
[22] SANTOS, F. O. Simulação numérica de escoamentos de fluidos utilizando diferenças finitas
generalizadas. 2005. 83 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências da Computação e Matemática
Computacional, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, São Carlos,
2005.
[23] YOUSIF, M.Y.; HOLDSWORTH, D.W.; POEPPING, T.L. A blood-mimicking fluid for particle image
velocimetry with silicone vascular models. Exp Fluids (2011). 50: 769. Disponível em:
https://doi.org/10.1007/s00348-010-0958-1. Acesso em: 08 jun. 2019.

11
6. ANEXOS

Anexo A. Parâmetros geométricos do AAA (adaptado de Boersen et al. [19])

NUMERICAL ANALYSIS OF BLOOD FLOW IN ABDOMINAL AORTIC


ANEURISM

Robson Santin Pasqualotto, robson.pasqualotto@unifebe.edu.br 1


Misael Dalbosco, m.dalbosco@unifebe.edu.br1

1UNIFEBE – Centro Universitário de Brusque, Rua Dorval Luz, 123 – Santa Terezinha – CEP: 88352-400 –
Brusque/SC – Cx. Postal: 1501

Abstract: According to the World Health Organization (WHO), diseases of the cardiovascular system are the
leading cause of death in the world. Abdominal Aortic Aneurysm (AAA) is one of these diseases, which
consists of localized and permanent dilatation of an artery. The loads caused by the blood flow in the walls of
this artery can lead to the rupture and death of the patient. In this context is clear the importance of
investigating the blood dynamics and its consequences in the walls of the artery. For at least 30 years,
computational fluid dynamics (CFD) has contributed to significant advances in the understanding of arterial
blood behavior and aided in making therapeutic decisions for treating pathologies in the human aorta. The
objective of the present study is to reconstruct and simulate through the SimVascular free software a model
of AAA (experimentally constructed in silicone) taken from the literature. The boundary conditions (geometry,
flow, resistence, dynamic viscosity and density) established for the development of the simulation were
chosen in order to reproduce the experimental study used as the basis differing only in that the simulation
was purely fluid dynamics assuming the walls of the artery as rigid while in the original model the walls are
flexible deforming with the passage of blood flow. The results obtained were compared with the original model,
and velocity to the suprarenal artery showed similarities in the waveform with peak velocity at systole and
lower velocity at diastole. The velocity values at the entrance of the suprarenal and the output of the right iliac
artery exit were similar the literature varying between approximately 4 to 14 cm/s and 30 to 40 cm/s
respectively. The mean pressure obtained ranged from 120 to 130 mmHg, higher than expected, which would
be 100 mmHg.

12
Robson S. Pasqualotto, Misael Dalbosco. Análise Numérica de Fluxo Sanguíneo em Aneurisma de Aorta Abdominal

Keywords: Abdominal aortic aneurysm. SimVascular. Computacional Fluid Dynamics. Blood flow analysis.

13

Vous aimerez peut-être aussi