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Da refoma da Igreja à reforma dos cristãos: reformas, pastoral e espiritualide

Maria de Lurdes Coneia Fernandes

OS PRIMEIROS IMPULSOS DE REFORMA DAS ORDENS RELIGIOSAS

TIRANDO AS CONSEQUÊNCIAS da crescente consciência da necessidade de reforma da


Igreja — in capite et in membris —, das críticas, propostas e iniciativas várias que foram
sendo tomadas ao longo do século xv e nos inícios do século xvi, várias ordens religiosas
iniciaram ou foram submetidas a diversificados processos de reforma interna que, em alguns
casos, tiveram também um alcance assinalável na afirmação, se não de novas, pelo menos de
renovadas correntes de sentimento religioso e de espiritualidade. Em Portugal esses processos
de reforma — alimentados também pela implantação de novas ordens ou congregações, dos
Jerónimos aos Jesuítas, passando pelos Cónegos Seculares de São João Evangelista (ou Lóios)
— foram tendo alguns efeitos visíveis tanto na sua organização ou disciplina interna como na
vida religiosa da época, ainda que de um modo relativamente lento ou nem sempre muito
sistemático (quando não contraditório). p. 16

Mas antes de entrar por alguns momentos e aspectos dessas primeiras reformas é necessário
realçar a importância da valorização ou reconhecimento de novas ordens ou congregações
religiosas que foram germinando em finais do século xiv e na primeira metade do século xv,
com destaque para os Jerónimos e para os Cónegos Seculares de São João Evangelista;
apareceram, sobretudo os primeiros, sob o signo do eremitismo, tendo a Ordem de São
Jerónimo nascido em Espanha com a aprovação de Gregório XI em 1378 e tido a sua criação
em Portugal com a aprovação de Bonifácio IX em 14007; a congregação dos Cónegos
Seculares de São João Evangelista só foi verdadeiramente instituída como tal em 1446, e, em
Portugal, pela bula de Pio II só em 1471, c om a protecção da rainha D. Isabel, mulher de D.
Afonso V, e de D. Afonso, duque de Bragança8. Ambas, apesar de muito diferenciadas,
sobressaíram pelo ideal de vida reformada com que nasceram, embora a primeira estivesse
mais vocacionada para o estudo e a segunda mais para a acção pastoral. Quase
emblematicamente, podem referir-se como exemplos dessas distintas orientações, por um
lado, o j e r ó n i m o Frei Heitor Pinto ^1584), cuja Imagem da vida cristã (i.a parte, 1563;
2.a parte, 1572) correu o mundo católico em diversas traduções na segunda metade do século
xvi e no século xvii9; por outro, o lóio Frei Pedro de Santa Maria ("{"1564), também
conhecido como «Padre da Doutrina» porque se notabilizou pela sua actividade catequética
no Porto em meados do século xvi, para o que escreveu várias obras, sendo a mais conhecida
a Ordem e regimento da vida cristã (Coimbra, 1555)10. p. 16. 17

REFORMAS DO CLERO SECULAR E ORIENTAÇÕES DA PASTORAL

TODO ESTE AMBIENTE, EM QUE O IDEAL d e r e f o r m a da Igreja, da o b s e r v â n -


cia da regra por parte dos religiosos e do apelo à renovação da actividade pastoral para a
melhor formação cristã também dos fiéis foram caminhando mais OU menos a par, não pode
ser cabalmente compreendido se não se tiver em conta o peso decisivo de correntes de
espiritualidade e de sentimento religioso que se foram afirmando ao longo do século xvi, quer
através do incentivo ã publicação e à leitura de obras de espiritualidade, quer em círculos
devotos que congregavam religiosos, clérigos e leigos. A essas correntes — ou a algumas
figuras individualmente — se deve muito do conceito de renovação que ultrapassava o limiar
da legislação canónica ou das disposições disciplinares. Mas é necessário ter presente que
essa renovação (esse re-formar) significou muitas vezes a recuperação e actualização de
modelos anteriores da vida espiritual, através sobretudo da releitura e reinterpretação de obras
e doutrina dos Padres e Doutores da Igreja, com especial destaque para São Bernardo e São
Boaventura, mas também de vários (as) místicos (as) medievais, de Santa Gertrudes- a-Magna
a Santa Catarina de Sena, bem como de obras emblemáticas da Devotio moderna com
especial destaque para a Imitação de Cristo de Tomás de Kempis, cujas influências se foram
manifestando de modo mais ou menos evidente em diversos autores e respectivas obras
espirituais mais influentes ou significativos em Portugal antes (e ainda depois) de Trento. p.
22, 23

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