Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Resumo
Palavras-chave
INTRODUÇÃO
1 Brasileira, formada em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestranda em Política
Social pela Universidade de Brasília. A trajetória acadêmica é formada pela realização de pesquisas junto ao
NEMESS (Núcleo de estudos e Pesquisas sobre Ensino e questões Metodológicas em Serviço Social) da PUC-SP: "O
Sistema Prisional Feminino e a Questão dos Direitos Humanos - um desafio às políticas sociais" e "Mulher Presa:
Perfil e Necessidades - Uma construção de diretrizes", e atuação profissional também com mulheres presas no
SEFRAS (Serviço Franciscano de Solidariedade). Endereço eletrônico: hannah.zuquim@gmail.com. O presente
artigo é resultado da trajetória profissional e da experiência atual no mestrado, o qual versa sobre as mulheres no
tráfico de drogas.
1
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
são capturadas pelo Sistema Penal pela comercialização das drogas, mas nem sempre
foi assim. A partir de uma periodização da criminalização das mulheres, percebemos
que os motivos para o aprisionamento das mesmas são variados, mas que há sempre
uma continuidade em vista de que, independente do “crime” praticado, existe uma
relação direta entre a necessidade de controle - urbano, econômico e moral- e
criminalização, obedecendo a demanda por ordem do momento histórico. Neste sentido,
a primeira parte da base teórica é constituída pela história da criminalização das
mulheres no Brasil.
Diante deste cenário aponta-se a necessidade de problematizar as estruturas que
encarceram mulheres, a partir das teorias da criminologia crítica e do feminismo. A
criminologia que parte da compreensão de como se articula o sistema de justiça na
sociedade de classes e o feminismo vem no sentido da construção do conhecimento
acerca de como os mecanismos de uma justiça patriarcal agem sobre a vida das
mulheres, tendo contornos diferenciados, mudando o foco do conhecimento
historicamente construído através da perspectiva masculina.
2
A partir das vivências das mulheres negras é possível, com referências de pesquisas historiográficas, compreender
como se davam as relações que as envolviam no período da escravidão e quando de sua abolição. A partir de pesquisa
feita por Luciano Figueiredo (2013), a respeito das mulheres em Minas Gerais, há relatos que descrevem desde o
início do período colonial o comércio ambulante como fonte de renda de mulheres no Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais. Ou seja, não era rara a presença de mulheres negras nos espaços públicos, inclusive em atividades de
trabalho. A principal atividade das mulheres negras era no pequeno comércio de alimentos, abastecendo inclusive
locais longínquos. Um exemplo é o caso de Minas Gerais: por conta da mineração, havia demanda para as chamadas
"negras de tabuleiro", que levavam diversos artigos comestíveis e bebidas até os trabalhadores das minas
(FIGUEREDO, 2013). As autoridades, por meio de decretos, proibiam este tipo de atividade. As mulheres que eram
pegas vendendo e consideradas transgressoras, eram punidas. Casos de resistência ao regime de escravidão instaurado
são retratados em ambas as obras acima citadas: rebeliões, articulação de fugas, transmissão de informações, envio de
alimentos, contrabando. Não são raras as mulheres em episódios de resistência, a presença delas é inclusive
2
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
considerada fundamental nas articulações dos quilombos. Quando capturadas, eram encaminhadas de volta às casas
dos senhores, condenadas à prisão, à morte ou mandadas para África (SCHUMAHER; VITAL BRAZIL, 2007). As
formas de vida das mulheres negras: o trabalho, a religião, o envolvimento como parteiras, curandeiras, prostitutas
era criminalizada.
3
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
3 Ver história das mulheres no Brasil, organizado por Mary Del Priore.
4 SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência do Brasil urbano. In: PRIORE, Mary Del. História das mulheres no
Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
5 É um período de mudança nas conformações da sociedade: aumento das populações urbanas e conflitos internos,
diante das características diversas das formações político-econômicas e intelectuais de cada Estado. Uma
característica marcante e que merece devida atenção é a formação de intelectuais e sua influência nas instituições de
poder. Neste século são inaugurados museus, institutos históricos e geográficos e faculdades de direito e medicina: "É
a partir de meados do século XIX que o 'scientista' ganhará destaque e sobretudo maior independência" (SCHWARZ,
1993, p. 29). Parte da biologia empenhada em discutir a teoria da evolução ganha centralidade na produção de
conhecimento.
6 FONSECA, Claudia. Ser mulher mãe e pobre. In: PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. São
4
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
8
Os penitenciaristas eram constituídos por juristas, cientistas sociais, médicos, que participavam do meio acadêmico
e da produção e execução de políticas públicas do sistema carcerário.
5
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
6
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
9
A respeito das teorias da antropologia criminal: "Com elas, o tempo se organizará ou pensará se organizar (portanto
se construirá) numa sociedade composta dos eixos da criminalidade ou da não-criminalidade. Funda-se uma espécie
de narrativa mítica assentada em preceitos científicos sobre as entranhas da mente, cujo ponto de partida é o da
existência do criminoso nato, ou seja, uma espécie de memória genética instituinte do mundo agora bibartirizado
entre criminosos e não criminosos, sejam eles mentalmente sãos ou não" (CANCELLI, 2001, p. 28).
10 CIRINO, 1981: "A instituição principal da formação social está na esfera de produção: a fábrica (...) nas
na família. Esse mesmo sistema vem exercitado através do domínio patriarcal na esfera privada e vê a sua última
garantia na violência física contra mulheres (...) O direito penal, como supra analisado, é dirigido especificamente
aos homens, enquanto operadores de papéis na esfera (pública) da produção material. O seu gênero, do ponto de vista
simbólico, é masculino. Mas também o sistema de controle informal, especificamente dirigido às mulheres, enquanto
possuidoras de papéis no âmbito (privado) da reprodução natural, é de gênero masculino sob o ponto de vista
simbólico (BARATTA, 1999, p. 46).
12 Código Penal de 1890 mostra como a mulher é controlada pelos homens: Art. 279 A mulher casada que commetter
adulterio será punida com a pena de prisão cellular por um a tres annos.
7
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
13
Por patriarcalismo entende-se a organização da sociedade onde há o domínio dos homens sobre as mulheres
(HARTMAN, 1988).
14 "Conventos, enquanto espaços de encarceramento feminino (...) estes espaços constiruíam-se em verdadeiros
refúgios dos maus-tratos a que as mulheres eram submetidas no recinto doméstico (...) não eram esporádicos os
episódios de encarceramento forçado nestes espaços (...) eram verdadeiros espaços de reclusão seja para o
cumprimento de penas por crimes cometidos por mulheres contra a honra de suas famílias, seja pelo 'risco' de que
estas viesses a cometer crimes como adultério, o infanticídio ou o homicídio de seus consertes" (MENDES, 2014,
p.116). MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia feminista: novos paradigmas. São Paulo: Saraiva,
2014.
15A respeito da luta feminista aliada à anticapitalista: "A luta específica da mulher contra a situação particular de sua
opressão, e desta forma a afirmação de sua singularidade enquanto mulher, é também o potencial de superação desta
opressão e a reafirmação do ser humano em sua integralidade genérica. Podemos dizer que a luta específica e
particular da mulher é uma mediação particular concreta da luta genérica pela emancipação humana" (IASI, 2012, p.
3).
16 HARDING, Sandra. A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. In: Revista estudos
8
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
17 HARTMANN, Heidi. Un matrimonio mal avenido: hacia uma unión más progressiva entre marxismo y
feminismo. Papers de la Fundació/88.
18 IASI, Mauro Luis. Olhar o mundo com os olhos de mulher? (À respeito dos homens e a luta feminista). 2012.
Em artigo escrito por Mauro Iasi, ele problematiza a dificuldade dos marxistas em compreender a sociedade a partir
também do feminismo: Esta visão limitada produzirá consequências no campo da ação prática do movimento e suas
implicações políticas. Como diz Heidi Hartmann em seu texto, significativamente chamado "O infeliz matrimônio
entre o marxismo e feminismo", a decorrência desta visão é que a libertação das mulheres requer primeiro que elas se
convertam em trabalhadoras assalariadas como os homens e, segundo, que se unam aos homens na luta
revolucionária contra o capitalismo.
9
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALVES, Adriana Dantas Reis. As mulheres negras por cima o caso de Luiza Jeje -
escravidão, família e mobilidade social - Bahia, c. 1780-1830. 262 f. Tese - Universidade
Federal Fluminense.
ANDRADE, Bruna Soares Angotti Batista. Entre as leis da ciência do estado e de Deus:
surgimento dos presídios femininos no Brasil. São Paulo: IBCCRIM, 2011.
10
Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
FIGUEREDO, Luciano. Mulheres nas Minas Gerais. In: PRIORE, Mary Del. História das
mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
FONSECA, Claudia. Ser mulher mãe e pobre. In: PRIORE, Mary Del. História das mulheres
no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
HARDING, Sandra. A instabilidade das categorias analíticas na teoria feminista. In: Revista
estudos feministas, volume 1, ano 1. 1993.
HARTMANN, Heidi. Un matrimonio mal avenido: hacia uma unión más progressiva entre
marxismo y feminismo. Papers de la Fundació/88.
IASI, Mauro Luis. Olhar o mundo com os olhos de mulher? (À respeito dos homens e a luta
feminista). 2012. Disponível em:<http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2012/07/mauro-
iasi_feminismo.pdf>.
IASI, Mauro Luis. Olhar o mundo com os olhos de mulher? (À respeito dos homens e a luta
feminista). 2012. Disponível em:<http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2012/07/mauro-
iasi_feminismo.pdf>.
MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia feminista: novos paradigmas. São Paulo: Saraiva,
2014.
RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar - A utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930. Rio
de Janeiro: Paz e terra, 1985.
SAFIOTTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes. São Paulo: Expressão popular, 1969.
SALLA, Fernando. As Prisões em São Paulo: 1822-1940. São Paulo: Annablume, 1999.
SHUMAHER, Schuma; VITAL BRAZIL, Érico. Mulheres negras do Brasil. Rio de Janeiro:
Senac Nacional, 2007.
SCHWARZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no
Brasil - 1870-1930. São Paulo: Cia da letras, 1993.
SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência do Brasil urbano. In: PRIORE, Mary Del.
História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2013.
11