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Coleção Primeiros Passos
ISBN: 85-11-01242-7
Primeira edição, 1990
AGRADECIMENTOS
SUMARIO
Apresentação 9
Introdução: A prevenção é um direito! 11
A pré-história da segurança do trabalho 15
Do agricultor ao operário: o homem e
suas condições de trabalho 17
Em defesa do direito à vida 20
E eu com isso? 25
Ora, a lei! 28
Prevenção dá lucro! 30
Acidentes do trabalho: prevenir ou remediar? 33
Acidentes não acontecem, são provocados! 36
A segurança é cara? 42
O trabalho não produz só acidentes 46
O trabalho é meio de vida 48
Nem só de vítimas vive o acidente 53
Anjos da guarda ou policiais? 55
Cipeiros — Os inspetores de quarteirão . 59
Sugestão de em presa prevencionista 61
Segurança do trabalho no Brasil 68
Observações finais 76
Sugestões de leitura ..." 79
Biografia • 80
ê
*
APRESENTAÇÃO
Ingressei profissionalmente na área de se- de saúde ocupacional, fez com que rne dispu-
gurança do trabalho em 1976. Recém-formado sesse a expor as ideias e experiências vividas,
em Engenharia Elétrica e em Engenharia de Surgiu assim a ideia deste livro. Pretendo, corn
Segurança do Trabalho e, de certo modo, de- ele, ampliar a discussão de um assunto que,
siludido com a Engenharia em geral, que me além de apaixonante, tem uma importância
pareceu uma ciência preocupada somente com muito grande, ainda não descoberta e consi-
;i produção, esquecendo-se do homem, decidi derada no mundo do trabalho. Pretendo dar a
trabalhar na área de engenharia de segurança você, leitor, a oportunidade de entender a ques-
e, desde logo, achei muito simplista resumir o tão da segurança do trabalho no contexto maior
da história da organização do trabalho, a partir
tratamento das causas dos acidentes de tra- do processo de industrialização mundial.
balho a atos e condições inseguras, o que se
É importante considerar que, para todos
fazia comumente àquela época. Ao longo do
nós, o ser humano acaba sendo quase uma
tempo, procurei sempre obter uma visão abran-
abstração, pois, exceto nos cursos de Antro-
gente do processo. Muitas vezes fui contestado pologia, Psicologia e Estudos Sociais, estuda-
e várias vezes estava efetivamente enganado. mos o ambiente, os minerais, a fauna, a flora,
Atuando em equipe, na Divisão de Segu- as máquinas, a matemática, afísica, a química,
rança e Medicina do Trabalho da CPFL, recorri a biologia etc., mas nunca o homem como ser
a profissionais de outras formações como pe- social e sua integração com isso tudo. Assim,
dagogos, psicólogos, estatísticos e sociólogos, a preservação da vida, da saúde e da integri-
para conseguir efetivamente perceber e enten- dade humana é confiada ao mero instinto de
der todos os ângulos do assunto. Acredito sin- sobrevivência; e sobreviver, para o trabalhador,
ceramente que aprendi muito e que muito ainda algumas vezes significa arriscar a vida na bus-
existe para ser aprendido. ca de um salário que lhe permita acesso aos
A preocupação em continuar aprendendo meios mínimos para permanecer vivo.
e discutindo o assunto, no momento em que Geralmente, a postura dos profissionais
estou afastado de uma atuação direta na área especializados em segurança do trabalho (en-
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14 Ely Moraes Disso
Inglaterra — de onde se propagou para toda a zesseis horas. Se antes um artesão planejava
Europa e os Estados Unidos da América do seu trabalho em função de suas necessidades,
Norte — provocou grandes mudanças nas con- agora o ritmo de trabalho era ditado pelo capi-
dições de trabalho enfrentadas pelos trabalha- talista e determinado pelo lucro que desejava
dores. obter.
As mudanças nas condições de trabalho A indústria nascente precisava de muita
foram substanciais e abrangeram o ambiente, mão-de-obra. Foram recrutados, então, ho-
as ferramentas, as máquinas e os equipamen- mens e mulheres, jovens e velhos e até mesmo
tos, a jornada, o tipo e a forma de organização crianças. Essas pesssoas totalmente despre-
do trabalho. Na verdade, o surgimento das pri- paradas, colocadas a trabalhar nesses ambien-
meiras máquinas alterou não só a maneira de tes agressivos, começaram a ser vítimas cons-
trabalhar, mas fundamentalmente a forma de tantes de graves acidentes e doenças infecto-
contagiosas.
organização da própria economia. Uma máqui-
na de fiar era muito mais rápida que o melhor
artesão, e a maioria dos artesãos não podia
comprar uma máquina. Surgiu a figura do ca-
pitalista que, vendo a oportunidade de ganhar
dinheiro, comprou a máquina e empregou o
trabalhador. Assim apareceu a relação Capi-
tal-Trabalho.
As fábricas foram instaladas em velhos
galpões, armazéns e estábulos e as primeiras
máquinas utilizadas eram rudimentares. As
condições de iluminação, ventilação e higiene,
portanto, eram ruins, as máquinas perigosas e
a jornada de trabalho chegava a catorze/de-
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O que é Segurança do Trabalho 21
V ^
cações e lutas sindicais. Foram exatamente es-
sas lutas que permitiram ou desencadearam o
aparecimento de instrumentos, em geral leis,
visando a garantir segurança e proteção ao
trabalhador.
No parlamento britânico, uma comissão de
inquérito conseguiu a aprovação da "Lei da
Saúde e Moral dos Aprendizes", em 1902. Com
EM DEFESA DO DIREITO A VIDA isso, a jornada de trabalho dos menores foi
limitada a 12 horas, proibido o trabalho noturno
e tornada obrigatória a ventilação das fábricas.
Aos olhos do capitalista, desde logo a se- Preocupados em não ter diminuído o seu lucro,
gurança do trabalho mostrou-se uma ameaça os capitalistas opuseram-se fortemente à edi-
aos lucros, pois, além da necessidade de in- ção e ao cumprimento dessa e de muitas outras
vestir em dispositivos que eliminassem ou di- leis posteriores.
minuíssem os riscos do trabalho, exigia a ado- Em 1830, um industrial inglês criou o pri-
ção de procedimentos de trabalho mais cuida- meiro serviço médico de fábrica/visando a cui-
dosos que, em princípio, baixavam o ritmo da dar da saúde das crianças trabalhadoras. A
produção. essa altura, os sindicatos de trabalhadores, le-
O sistema capitalista fez surgirem os sin- galizados desde 1824 na Inglaterra, desenvol-
dicatos de trabalhadores que, através da orga- viam, de um lado, intensa luta por melhores
nização e união, buscavam obter melhores condições de trabalho e, de outro, visavam a
condições de barganha junto ao capital. Os aci- dar assistência aos trabalhadores acidentados
dentes do trabalho e as doenças fizeram com ou doentes, garantindo-lhes cuidados médicos
que a preocupação com a segurança do tra- j e sobrevivência através de indenizações e/ou
balhador passasse a fazer parte das reivindi- j pensões.
V J,
Ely Moraes Bis? 3ue é Segurança do Trabalho ZJ
22
J
Admite-se hoje que os custos indiretos dos dência vai pagar seu salário e o tratamento
acidentes, que não são cobertos por seguro, médico, isto é, a sociedade vai pagar. A
44 Ely Moraes B isso O que é Segurança do Trabalho 45
empresa terá de colocar outro na função, venção foi revogada e a contribuição passou
mas se não tiver um substituto imediato, a ser uniforme para cada tipo de atividade du-
terá de treinar alguém, a produção irá di- rante um período.
minuir e o custo será da empresa. Existe proposta de nova legislação esta-
Agora pense na situação do Brasil, país belecendo três patamares mínimos de contri-
campeão mundial de acidentes do trabalho. Em buição à Previdência, nos quais as empresas
cada ano, mais de um milhão de trabalhadores seriam enquadradas conformo sua atividade.
acidentam-se no trabalho. O custo que esses Caso seu número de acidentes venha a ser
acidentes representam para a Nação é incon- maior que a média da ativídaclí*» ela passará a
cebível num país com tantas carências. A so- contribuir mais. Se, de um lado, uma medida
lução é estimular o investimento das empresas como essa tenderia a aumentar os cuidados e
em prevenção. investimentos com prevenção, por outro, po-
Outros países, como os EUA, adotaram a deria levar as empresas a esconderem seus
securitização privada dos acidentes do traba- acidentes, deixando de comunicá-los à Previ-
lho. As seguradoras, para estabelecerem o pré- dência.
mio que cada empresa vai pagar de seguro,
inspecionam as suas condições de segurança
e seus índices de acidentes do trabalho. Esse
procedimento obriga e estimula as empresas
a investir na prevenção, para reduzir seus gas-
tos com seguro.
No Brasil, tivemos uma lei que permitia,
às empresas que demonstravam redução sig-
nificativa do seu número de acidentes, uma
redução da taxa de contribuição ao IAPAS. Es-
sa lei que estimulava o investimento na pre-
O que é Segurança do Trabalho
N x 1.000.000
F =
H
A taxa de frequência estima o número mé- pressão da visão económica do homem. Che-
dio de acidentes que irá ocorrer numa empresa gou-se ao ponto de estabelecer quanto repre-
ou seção em cada milhão de horas de trabalho senta de perda do potencial para a produção
ali realizado. Portanto, equipara os acidentes de um homem a perda de uma falange do dedc
às peças defeituosas que podem ser produzi- mínimo da mão.
das num processo de fabricação. Explicando A partir do cálculo dessas taxas em uma
melhor: é como se considerássemos fato esta- série histórica, podem-se estabelecer as mé-
tístico normal que cada hora de trabalho deva dias de taxas para um dado íipo de indústria
produzir um determinado número de acidentes, ou atividade. Geralmente, as empresas que se
assim corno são admitidas algumas peças de- situam abaixo das médias consideram que têm
feituosas em cada mi! que se fabricam. um bom índice de acidentes. É comum, ainda
Já a taxa de gravidade estima o tempo hoje, ouvir alguém dizer: "Nossos resultados
médio de dias que os trabalhadores deixarão são bons, neste ano ainda não morreu ninguém
de trabalhar devido aos acidentes de trabalho de acidente".
ocorridos, em cada milhão de horas trabalha-
das. Essa taxa estabelece, portanto, que de- Embora o trabalho deva ser considerado
vemos encarar corno fato normal que cada hora meio de vida, não é raro que o trabalhador nele
de trabalho pode produzir um determinado nú- encontre a morte. Existem determinadas ativi-
mero de dias de afastamento do trabalhador, dades cujo potencial de risco é maior para pro-
em consequência de acidentes do trabalho. duzir acidentes com consequências graves em
A taxa de gravidade chega ao requinte de termos de lesões pessoais e mesmo morte.
ter urna tabela padrão internacional ques em Por essa razão, organismos internacionais,
caso de acidente que cause lesão permanente como a Organização Mundial de Saúde
ou morte ao trabalhador, estipula o percentual OMS —, têm-se preocupado em detectar e
de tempo de vida útil de trabalho que é perdido mensurar esses acidentes, por exemplo, atra-
pelo trabalhador. Essa tabela é mais alta ex- vés da taxa de morbidade que é obtida dividín-
52 Ely Moraes Bisso
N9 de Acidentes Fatais
TM =
NQ de Acidentes do Tipo
cia e chefia de quaisquer níveis. Ou seja, cada nais desse serviço são vistos como verdadeiros
gerente/chefe é responsável pela segurança "anjos da guarda" por gerentes e como "poli-
do trabalho da sua área e do seu pessoal. ciais" pelos empregados e acabam assumindo
Acontece que, na prática, geralmente o ge- toda a responsabilidade da prevenção.
rente não assume esse papel, preferindo ado- Na realidade, o SEST deve ter um. papel
tar uma postura do tipo: sou responsável pela de órgão de apoio, de orientação, normalização
produção; prevenção de acidente é lá com o e controle da segurança do trabalho para toda
"pessoal da segurança - - os anjos da guarda". a empresa, tendo como atribuições: a elabora-
Na realidade, essa posição gerência! é facilita- ção das normas de segurança do trabalho, as
da peia empresa que só cobra a produção. São especificações dos dispositivos de segurança,
raríssimas as empresas onde o número de aci- o estudo de problemas de engenharia e higiene
dentes do trabalho é item de avaliação geren- industrial e o desenvolvimento de programas
cial. de treinamento para a prevenção de acidentes.
Outro fator alimentador desse comporta- Nos países mais adiantados, é comum, além
mento gerencial é a postura dos chamados de engenheiros e técnicos em segurança do
"Serviços Especializados em Segurança do trabalho, o SEST dispor ainda de saniíaristas,
Trabalho - - SEST" nas empresas. Esse servi- estatísticos, desenhistas e profissionais de
ço, integrado por engenheiros e técnicos em apoio administrativo.
segurança do trabalho, foi criado nos diversos Para uma abordagem abrangente da pre-
países por razões diversas: exigência legal, venção de acidentes, é importante que o SEST
pressão sindical ou iniciativa da empresa vi- possa ainda dispor da colaboração de profis-
sando a reduzir a taxa de seguro de acidentes sionais como sociólogos, psicólogos, pedago-
feita em seguradoras privadas. Seu papel é o gos e assistentes sociais, ainda que não pre-
de assessorar tecnicamente as gerências para cisem estar lotados no órgão. A presença des-
facilitar a administração da função "prevenção ses profissionais de diferentes disciplinas dan-
de acidentes", mas, muitas vezes, os profissio- do retaguarda à ação do SEST possibilita con-
58 Ely Moraes Bisso
CIPEIROS — OS INSPETORES
DE QUARTEIRÃO
balho.
O esquema abaixo ilustra a nossa visão
do sistema de trabalho com segurança:
SUGESTÕES DE LEITURA
CONDICOE
EMPRESÁRIO SEGURAS DE
PROGRESSISTA TRABALHO
Para o leitor que pretenda aprofundar-se nos aspectos técnicos
da prevenção, recomendo consultar as apostilas dos cursos de forma-
ção de Técnico e Engenheiro de Segurança do Trabalho, da Funda-
centro; o Manual de Supervisor de Segurança do Trabalho, da Asso-
SINDICATOS ciação Brasileira para Prevenção de Acidentes — ABPA; Norma Bra-
GERÊNCIA
NTERESSADOS sileira — Cadastro de Acidentes da ABNT; e Técnicas de Segurança
ENVOLVIDA
do Trabalho, de Leonídio Francisco Ribeiro Filho.
Se você quer saber um pouco mais sobre a organização e as
SEGURANÇA
condições de trabalho, poderá ier: A Loucura do Trabalho, de Chrisío-
NO
TRABALHO phe Depurs, Editora Oboré; A Saúde nas Fábricas, de Giovanni
Beriinger; História da Riqueza do Homem, de Leo Hubermann; e
SEST Cabeça de Turco, de Gunter Waiíraff, Editora Giobo.
SUPERVISÃO
COMPETENTE
PREPARADA
Caro leitor:
As opiniões expressas nesíe livro são as do autor,
TRABALHADOR CIPA podem não ser as suas. Caso você ache que vaie a
HABILITADO
E MOTIVADO
ATUANTE pena escrever um outro livro sobre o mesmo tema,
nós estamos dispostos a estudar sua publicação
com o mesmo título como "segunda visão".