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Introdução à política
Para compreender o significado de política, se faz necessário voltar nosso olhar para a antiguidade,
isto é, precisamos compreender o que era a política e onde ela surgiu.
Política denomina a arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados.
O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os procedimentos
relativos a polis, ou cidade-estado. Por extensão, poderia significar tanto cidade-estado quanto sociedade,
comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida urbana.

Tipos de poder político

Monarquia é um tipo de forma de governo em que o chefe de Estado mantem-se no cargo até a morte
ou a abdicação, sendo normalmente um regime hereditário. O chefe de Estado dessa forma de governo
recebe o nome de monarca (Normalmente com o título de rei ou rainha) e pode também muitas vezes ser o
chefe do governo.
Aristocracia literalmente poder dos melhores, é uma forma de governo na qual o poder político é
dominado por um grupo elitista. Normalmente, as pessoas desse grupo são da classe dominante, como
grandes proprietários de terra (latifundiários), militares, sacerdotes, etc.
Democracia "demos+kratos" é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões
políticas está com os cidadãos, direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos.
Oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de
pessoas.
Ditadura é a designação dos regimes não democráticos ou antidemocráticos, ou seja, governos onde
não há participação popular, ou que essa participação ocorre de maneira muito restrita. Na ditadura, o poder
está em apenas uma instância, ao contrário do que acontece na democracia, onde o poder está em várias
instâncias, como o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Totalitarismo é um sistema político no qual o Estado, normalmente sob o controle de uma única
pessoa, político, facção ou classe, não reconhece limites à sua autoridade e se esforça para regulamentar
todos os aspectos da vida pública e privada, sempre que possível. O totalitarismo é caracterizado pela
coincidência do autoritarismo (onde os cidadãos comuns não têm participação significativa na tomada de
decisão do Estado) e da ideologia (um esquema generalizado de valores promulgado por meios institucionais
para orientar a maioria, senão todos os aspectos da vida pública e privada). Os regimes ou movimentos
totalitários mantêm o poder político através de uma propaganda abrangente divulgada através dos meios de
comunicação controlados pelo Estado, um partido único que é muitas vezes marcado por culto de
personalidade, o controle sobre a economia, a regulação e restrição da expressão, a vigilância em massa e o
disseminado uso do terrorismo de Estado.

Poder e autoridade

A diferença entre poder e autoridade, os quais, sempre existiram, mesmo antes dos gregos, como nos
povos egípcios, mesopotâmios, assírios, incas, maias, astecas, estes entendiam o poder e autoridade sobre a
comunidade revestida de uma sacralidade, revestidos de caráter espiritual, de caráter sobrenatural, ex.: o
faraó se dizia não apenas como um representante de Deus, mas como o próprio Deus. Esse tipo de poder e
autoridade se chamam Teocrático – Teo (Deus) + Kratos (poder), poder de Deus, onde, nesse tipo de poder
não pode haver críticas, nem dúvidas ou questionamentos, pois, tal comportamento se constitui na
contrariedade aos Deuses, sendo isso inadmissível. Este era um paradigma de tipo de governo. Ex.: O Irã é
2

um tipo de governo teocrático, onde, se tem como ordenamento jurídico o alcorão, onde, todas as normas e
leis emergem de um livro sagrado, tendo uma fusão entre Estado e religião. No período entre o século VI e
V os gregos inventaram a política, simultaneamente ao nascimento da democracia, destituindo o poder e
autoridade de uma sacralidade, do caráter espiritual. A partir desse ponto podemos encontrar várias
características da política.

Principais características da política

Separaram a autoridade pessoal privada do chefe da família e o poder impessoal público; separaram a
autoridade militar e o poder civil, submetendo o poder militar ao poder civil; secularização1 do poder, isto é,
os governantes não eram mais divinizados; criou-se a ideia de que a lei é uma expressão da vontade coletiva
e pública e não a vontade arbitrária do governante; criação de instituições e funções públicas para aplicação
da lei: tribunais e magistrados; separação entre o tesouro do Estado e os bens pessoais do governante;
criação do espaço público, a Eclésia (Assembleia política de cidadãos dos Estados da Grécia antiga), para os
gregos, e o senado (Conselho supremo de Estado) para os romanos.

A política em Aristóteles

A cidade e o cidadão

O bem do indivíduo é da mesma natureza que o bem da cidade, mas este “é mais belo e mais divino”
porque se amplia da dimensão do privado para a dimensão do social, para a qual o homem grego era
particularmente sensível, porquanto concebia o indivíduo em função da cidade e não a cidade em função do
indivíduo. Aristóteles, aliás, dá a esse modo de pensar dos gregos uma expressão paradigmática2, definindo
o próprio homem como “animal político” (ou seja, não simplesmente como animal que vive em sociedade,
mas como animal que vive em sociedade politicamente organizada) e escrevendo textualmente o seguinte:
“Quem não pode fazer parte de uma comunidade, quem não tem necessidade de nada, bastando-se a si
mesmo, não é parte de uma cidade, mas é fera ou deus”.
Entretanto, Aristóteles não considera “cidadãos” todos aqueles que vivem em uma cidade e sem os
quais a cidade não poderia existir. Para ser cidadão, é preciso participar da administração da coisa pública,
ou seja, fazer parte das assembleias que legislam e governam a cidade e administram a justiça.
Consequentemente, nem o colono3 nem o membro de uma cidade conquistada podiam ser “cidadãos”. E
nem mesmo os operários, embora livres (ou seja, mesmo não sendo cativos (escravo) ou estrangeiros),
poderiam ser cidadãos, porque faltava-lhes o “tempo livre” necessário para participar da administração da
coisa pública. Desse modo, os cidadãos revelam-se de número bem limitado, ao passo que todos os outros
acabam, de alguma forma, sendo os meios que servem para satisfazer as necessidades dos primeiros.
Nessa questão, as estruturas sociopolíticas do momento histórico condicionam o pensamento
aristotélico a ponto de leva-lo à teorização da escravidão. Para ele, o escravo é como que “um instrumento
1
A secularização de uma sociedade pode ser entendida, em um sentido literal, como um processo pelo qual a religião deixa de
ser o aspecto cultural agregador, transferindo para uma das outras atividades desta mesma sociedade este fator coercitivo e
identificador. Ela faz com que tal objeto de análise já não esteja mais determinado diretamente pela religião.
2
Paradigma (do grego parádeigma) literalmente modelo, é a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto
filosófico, matriz, ou seja, uma teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica
com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e
pesquisas.
3
O termo se refere ao empregado que trabalhava por meação (direito de copropriedade, entre duas pessoas, sobre um ou mais
objetos), recebendo metade do que foi produzido e deixando a outra para o proprietário.
3

que precede e condiciona os outros instrumentos”, servindo para a produção de objetos e bens de uso, além
dos serviços. E o escravo é tal “por natureza”, como decorre da seguinte passagem: “Todos os homens que
diferem de seus semelhantes tanto quanto a alma difere do corpo e o homem da fera (e estão nessa condição
aqueles cujos encargos implicam no uso do corpo, que é aquilo que eles têm de melhor) são escravos por
natureza e, para eles, o melhor partido é submeter-se à autoridade de alguém. (...) É escravo por natureza
quem pertence a alguém em potência (e, por isso, torna-se posse de alguém em ato) e participa da razão
apenas naquilo que diz respeito à sensibilidade imediata, sem possuí-la propriamente, ao passo que os outros
animais não possuem sequer o grau da razão que compete à sensibilidade, mas obedecem às paixões. e o seu
modo de emprego difere de poucos, porque tanto uns quanto outros, os escravos e os animais domésticos,
são utilizados para os serviços necessários ao corpo.”
E, como os escravos eram frequentemente prisioneiros de guerra, Aristóteles sentiu necessidade de
estabelecer também os escravos não deveriam resultar de guerras dos gregos contra os gregos, mas sim das
guerras dos gregos contra os bárbaros, dados que estes são inferiores “por natureza”. É o velho preconceito
racial dos helênicos que Aristóteles reafirma, pagando também neste caso um pesado tributo à sua época e
sem ver-se como indo contra os princípios de sua própria filosofia, que se prestava a desdobramentos em
direção oposta.

O Estado e suas formas

O Estado pode ter diferentes formas, ou seja, diferentes constituições. A constituição é “a estrutura
que da ordem a cidade, estabelecendo o funcionamento de todos os cargos, sobretudo da autoridade
soberana”. Ora, como o poder soberano pode ser exercido 1) por um só homem, 2) por poucos homens, e 3)
pela maior parte dos homens e como quem governa pode governar a) segundo o bem comum ou então b) no
seu interesse privado, então são possíveis três formas de governo reto e três de governo corrupto: 1a)
monarquia, 2a) aristocracia, e 3a) politía; 1b) tirania, 2b) oligarquia e 3b) democracia.
Aristóteles entende por “democracia” um governo que, desleixando (deixa de lado) o bem comum,
visa a favorecer de maneira indébita4 os interesses dos mais pobres; assim, entende “democracia” no sentido
de “demagogia5”. Ele precisa que o erro em que recai essa forma de governo demagógico consiste em
considerar que, como todos são iguais na liberdade, todos também podem e devem ser iguais também em
todo o resto.
Aristóteles afirma que, abstratamente6, são melhores as primeiras duas formas de governo, mas,
realisticamente, considera que, no concreto, dado que os homens são como são, a forma melhor é a politía,
que é substancialmente uma constituição que valoriza o segmento médio. Com efeito, a politía é
praticamente um meio caminho entre a oligarquia e a democracia ou, se assim preferir, uma democracia
temperada pela oligarquia, assumindo-lhes os méritos e evitando-lhes os defeitos.

O Estado ideal

Como o fim do Estado é moral, é evidente que aquilo a que ele deve visar é ao incremento dos bens
da alma, “podemos dizer que feliz e florescente é a cidade virtuosa. É impossível que quem não cumpre boas
ações tenha êxitos felizes – e nenhuma boa ação, nem de um indivíduo, nem de uma cidade, pode realizar-se

4
Indébita aqui significa: de maneira indevida
5
Política que favorece as paixões populares.
6
Abstração é o processo ou resultado de generalização por redução do conteúdo da informação de um conceito ou fenômeno
observável, normalmente para reter apenas a informação que é relevante para um propósito particular. Por exemplo,
abstraindo uma bola de futebol de couro, por uma bola de futebol, retemos apenas a informação enxuta das propriedades e
comportamentos da palavra.
4

sem virtude7 e bom senso. O valor, a justiça e o bom senso de uma cidade têm a mesma potência e forma
que a sua presença em um cidadão privado faz com que ele seja considerado justo, ajuizado e sábio.”
Aqui, de fato, é reafirmado o grande princípio platônico da correspondência entre o Estado e a alma
do cidadão individual. Para Aristóteles, a cidade perfeita deveria sê-lo na medida do homem: nem muito
populosa, nem muito pouco. Também o território deveria ter características análogas8: grande o bastante
para satisfazer as necessidades sem produzir o supérfluo. As qualidades que os cidadãos deveriam ter são as
características próprias dos gregos: um meio caminho, ou melhor, uma síntese das características dos povos
nórdicos9 e dos povos orientais. Os cidadãos (que, como sabemos, são aqueles que governam diretamente)
seriam guerreiros quando jovens, depois conselheiros e, quando velhos, sacerdotes10. Desse modo, seriam
adequadamente desfrutados, na justa medida, a força que há nos jovens e o bom senso que há nos velhos.
Por fim, como a felicidade da cidade depende da felicidade dos cidadãos individualmente, seria necessário
tornar cada cidadão o mais possível virtuoso, mediante educação adequada.
Viver em paz e fazer as coisas belas (contemplar) são os ideais supremos a que deve visar o Estado,
como escreve Aristóteles nessa belíssima passagem: “Introduzindo nas ações uma distinção análoga à feita
para as partes da alma, podemos dizer que são preferíveis aquelas que derivam da melhor parte da alma, pelo
menos para quem saiba comparar todas ou a menos duas das partes da alma, porque todos acharão melhor o
que tende ao fim mais elevado. E todo gênero de vida pode também ser dividido em dois, conforme tenda
para as ocupações e o trabalho ou para a liberdade de qualquer compromisso, para a guerra ou para a paz:
correspondentemente com essas duas distinções, as ações são necessárias e úteis ou são belas. Ao escolher
esses ideais de vida, é preciso seguir as mesmas preferências que valem para as partes da alma e para as
ações que dela derivam, isto é, é preciso escolher a guerra tendo por objetivo a paz, o trabalho tendo por
objetivo a libertação em relação a ele, as coisas necessárias e úteis para poder alcançar as coisas belas. O
legislador deve ter em conta todos esses elementos que analisamos, as partes da alma e as ações que a
caracterizam, visando sempre as melhores e tais que possam tornar-se fins e não sejam somente meios. Esse
critério deve guiar o legislador na sua atitude diante das várias concepções de vida e dos vários tipos de
ação: deve-se poder atender ao trabalho, travar a guerra e fazer as coisas necessárias e úteis, mas deve-se
mais ainda poder praticar o livre repouso, viver em paz e fazer as coisas belas (isto é, contemplar).”

A política em Maquiavel

Nicolau Maquiavel foi um historiador, poeta, diplomata e músico italiano do Renascimento. É


reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de haver escrito sobre o
Estado e o governo como realmente são e não como deveriam ser. O prejuízo causado ao nome de
Maquiavel foi devido à sua descrição, que até hoje é mal interpretada, ao tipo de governo que se constituía
na Itália do período em que viveu. Mais de quatro séculos nos separam da época em que viveu Maquiavel.
Um número grande de pessoas evoca seu nome ou pelo menos os termos que aí tem sua origem.
Maquiavélico e maquiavelismo são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, político e do
senso comum. Em qualquer de suas acepções está associado a ideia de perfídia (Deslealdade, traição,
infidelidade), a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Devido ao fato de Maquiavel ter

7
Disposição constante de praticar o bem e evitar o mal.
8
Semelhante
9
Relativo aos países do norte da Europa e a seus habitantes.
10
Aquele que tem profissão honrosa ou missão nobre.
5

demonstrado a distinção, que surgia em sua época, entre ética e política, provocou uma enorme reviravolta
no mundo moderno. Tal atitude fez com que muitos, de certo modo ingênuos, interpretassem que seria
Maquiavel que estaria sugerindo aquele modelo de governo. “É um mito que sobrevive independente do
conhecimento do autor ou da obra onde teve origem”. Clássicos da política vol. 1. “Maquiavel, fingindo dar
lições aos Príncipes, deu grandes lições ao povo”. Rousseau – Do contrato social, livro 3. “O destino
determinou que eu não saiba discutir sobre a seda, nem sobre a lã; tampouco sobre questões de lucro ou de
perda. Minha missão é falar sobre o Estado. Será preciso submeter-me à promessa de emudecer, ou terei que
falar sobre ele”. Carta a F. Vettori, 13/03/1513.
Sua preocupação era o Estado, não o Estado utópico, que nunca existiu, mas um Estado real, capaz
de impor a ordem. Maquiavel rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino e
segue a trilha inaugurada pelos historiadores antigos, como Tácito, Políbio, Tucídides e Tito Lívio. Esta é a
sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que fosse. A
substituição do reino do dever ser, que marcara a filosofia anterior, pelo reino do ser, da realidade.

O que perguntava Maquiavel!


Como fazer reinar a ordem; como instaurar um Estado estável? O problema central de sua análise
política é descobrir como pode ser resolvido o inevitável ciclo de estabilidade e caos. Ao formular e buscar
resolver essa questão, Maquiavel provoca uma ruptura com o saber repetido pelos séculos.

“A ordem, produto necessário da política, não é natural, nem a materialização de uma


vontade extraterrena, e tampouco resulta do jogo de dados do acaso. Ao contrário, a ordem
tem um imperativo: deve ser construída pelos homens para se evitar o caos e a barbárie, e,
uma vez alcançada, ela não será definitiva, pois há sempre, em germe, o seu trabalho em
negativo, isto é, a ameaça de que seja desfeita”. Clássicos da política, Vol. 1

O mundo da política não leva ao céu, mas sua ausência é o pior dos infernos. Os homens são
ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante aos perigos, ávido (que deseja com muito ardor) de lucro. O
príncipe cap. XVII. Estes atributos negativos compõem a natureza humana e mostram que o conflito e a
anarquia11 são desdobramentos necessários dessas paixões e instintos malévolos. O estudo do passado não é
um exercício de mera erudição12, nem a história um suceder de eventos em conformidade com desígnios
divinos até que chegue o dia do juízo final, mas sim um desfile de fatos dos quais se deve extrair as causa e
os meios utilizados para enfrentar o caos resultante da expressão da natureza humana.

“Aquele que estudar cuidadosamente o passado pode prever os acontecimentos que se


produzirão em cada Estado e utilizar os mesmos meios que os empregados pelos antigos. Ou
então, se não há mais os remédios que já foram empregados, imaginar outros novos, segundo
a semelhança dos acontecimentos”. Discurso, livro I

O poder político tem, pois, uma origem mundana. Nasce da própria “malignidade” que é intrínseca
(essência) à natureza humana. Além disso, o poder aparece como a única possibilidade de enfrentar o
conflito, ainda que qualquer forma de “domesticação” seja precária e transitória. Não há garantia de sua
permanência. A perversidade das paixões humanas sempre volta a se manifestar, mesmo que tenha
permanecido oculta por algum tempo. Maquiavel acresce um importante fator social de instabilidade: a
presença inevitável, em todas as sociedades, de duas forças opostas: uma das quais provém de não desejar o
povo ser dominado nem oprimido pelos grandes. Outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo.

11
Desordem, confusão.
12
Saber aprofundado em um ramo do conhecimento; instrução, cultura vasta e variada.
6

O problema político é então encontrar mecanismos que imponham a estabilidade das relações, que
sustentem uma determinada correlação de força. Para isso, podemos associar o desejo do capitalismo13 em
explorar o povo. O príncipe não é um ditador; é, mais propriamente, um fundador do Estado, um agente da
transição numa fase em que a nação se acha ameaçada de decomposição. Quando, ao contrário, a sociedade
já encontrou formas de equilíbrio, o poder político cumpriu sua função regeneradora e “educadora”, ela está
preparada para a república14. O governante tem que se mostrar capaz de resistir aos inimigos e aos golpes da
sorte, “construindo diques para que o rio não inunde a planície, arrastando tudo o que encontra em seu
caminho”. O homem de virtú deve atrair os favores da cornucópia15, conseguindo, assim, a fama, a honra, e
a glória para si e a segurança para seus governados.

Fichamento de “O Príncipe” de Maquiavel

Capítulo I

Classifica-se o Estado em dois tipos: repúblicas e principados16.


Os principados podem ser hereditários ou fundados recentemente, que podem ser de todo novos ou anexações.
A república17 não é objeto de discussão na obra.

Capítulo II

Destaca-se a menor dificuldade em manter Estados herdados, visto que os súditos estão acostumados à família
reinante.
Maior dificuldade se encontra em manter monarquias novas. Deve-se evitar, neste caso, transgredir os costumes
tradicionais e saber adaptar-se a circunstâncias imprevistas.

Capítulo III

Fala-se da dificuldade em manter os Estados novos, visto a facilidade com que os homens mudam de governantes,
e, a esperança de melhoria acaba os levando a levantar em armas contra os atuais.
Para que se estabeleça num Estado novo, deve-se observar alguns pontos.
Primeiramente, é necessário o apoio dos habitantes do território para poder dominá-lo.
Note-se que um território nunca volta a ser perdido com a mesma facilidade. A rebelião pode até trazer resultados
positivos como o fortalecimento de sua posição.
De preferência o soberano deve estar presente, pois desta maneira os distúrbios são rapidamente percebidos e
corrigidos.

Capítulo IV

Destaca-se que não haverá rebelião se a linha política for mantida.

13
Na terminologia marxista, regime econômico, político e social que procura sistematicamente a mais-valia graças à exploração
dos trabalhadores pelos proprietários dos meios de produção e de troca.
14
Forma de governo em que o povo exerce a sua soberania por intermédio dos seus delegados e representantes e por tempo
fixo
15
Corno da abundância, símbolo da produtividade da natureza. Na mitologia grega, há duas histórias sobre sua origem. Em uma,
Hércules e um deus fluvial tiveram uma disputa. Quando o rio assumiu a forma de um touro, Hércules arrancou um de seus
cornos e o encheu de flores para a deusa da abundância. Segundo outro relato, o menino Zeus teria se alimentado com o leite
de uma cabra. Zeus deu um dos cornos da cabra para suas amas, como uma lembrança por seus cuidados. O corno era capaz de
se encher de qualquer coisa que seu dono desejasse.
16
Um principado é um território governado por um príncipe. É distinto de um reino, normalmente por ser um microestado,
outras vezes porque não tem soberania total.
17
A República (do latim res publica, "coisa pública") é uma forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito pelos cidadãos
ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada.
7

No que diz respeito a conquistas, o Estado dirigido por um único soberano é difícil de conquistar e fácil de manter.
Já o Estado governado por muitas pessoas é fácil de conquistar e difícil de conservar.
No primeiro tipo citado, para conquistar o Estado, basta aniquilar o príncipe e sua família, ao passo que no outro
não basta apenas estes, mas também os nobres.

Capítulo V

Segundo o autor ao conquistar um Estado regido por leis próprias, há três modos de mantê-lo: arruiná-lo, habitá-
lo, ou permitir que continuem vivendo com suas próprias leis, mas pagando tributos e organizando um governo
composto por pessoas amigas.
No entanto, o método mais seguro é a destruição, pois os habitantes sempre terão motivos para lutar em nome da
liberdade.

Capítulo VI

Aqueles que se tornam príncipe por seu valor conquistam seus domínios com maior dificuldade, todavia os
mantêm mais facilmente; as dificuldades, então, surgiriam na introdução de inovações. No caso de introduzir
inovações, porém, é mais seguro e prudente que as faça por meios próprios, pois aqueles que dependem da ajuda
de outrem sempre falham, não chegando a lugar algum. Introduzidas as mudanças, as dificuldades residirão,
agora, em mantê-las.

Capítulo VII

Os que se tornam príncipes tão-somente pela sorte têm dificuldade para manter o poder, embora tenham-no
conseguido sem grandes dificuldades. A manutenção do poder ficará na dependência da mesma sorte que o levou
a ele.
Evidentemente que os Estados criados subitamente não têm raízes sólidas, de modo que são facilmente
derrubados, a menos que o príncipe tenha virtudes. A solução é preparar os alicerces do poder antes de alcançá-
lo, pois depois representará grande esforço e perigo.

Capítulo VIII

Pode-se chegar ao poder a partir ou a favor de atos criminosos. No entanto, deve-se tomar cuidado, pois atos
criminosos podem conduzir ao poder e não à glória. A crueldade pode ser usada de duas formas: na primeira, usa-
se bem quando utilizada toda sorte de crueldade de uma só vez, para garantir o poder e para que as pessoas se
satisfaçam com as inovações; de outra maneira, utiliza-se mal quando no começo é pouca, mas aumenta com o
tempo.

Capítulo IX

Governo civil vem a ser aquele em que o cidadão se torna soberano por favor de seus concidadãos; neste caso
não dependerá apenas do valor ou da sorte, mas da astúcia afortunada. Este governo é instituído pelo povo ou
pela aristocracia, sendo que aqueles que são ajudados pelos ricos têm maior dificuldade, uma vez que estes ficam
ao lado de quem oferecer maiores vantagens, não sendo de todo fiéis.
É mais difícil satisfazer a nobreza através da conduta justa, sem causar prejuízo aos outros, uma vez que esta só
quer oprimir, ao passo que o povo somente deseja evitar a opressão. Por isso é mais prudente confiar no povo
neste caso; no entanto, nesta hipótese, deve-se manter a estima do povo, o que se faz unicamente protegendo e
não oprimindo.
8

Capítulo X

Ao examinar as qualidades e avaliar a força dos Estados, deve-se considerar se os príncipes podem se manter no
poder por si mesmos ou se só podem se manter no poder com auxílio alheio.
Note-se que o príncipe que é senhor de uma cidade poderosa, e não se faz odiar, não poderá ser atacado; e
mesmo se o for, o assaltante não sairia glorioso, mesmo porque um príncipe corajoso e poderoso saberá
sobrepor-se a tais dificuldades.

Capítulo XI

Os Estados eclesiásticos18 são aqueles conquistados por mérito ou sorte, mas não precisa de nenhum destes para
mantê-lo, visto que são sustentados por antigos costumes religiosos. Somente estes Estados são seguros e felizes.

Capítulo XII

A base principal de todos os Estados devem ser as boas leis e os bons exércitos.
As tropas mercenárias, neste contexto, não oferecem posição firme e segura, pois os soldados são desunidos,
ambiciosos, indisciplinados e infiéis.
Portanto, só os príncipes e as repúblicas armadas, em que respectivamente o príncipe pessoalmente ou um
cidadão da república comandam as forças armadas, obtêm grandes progressos, pois as forças mercenárias só
sabem causar danos.

Capítulo XIII

As tropas auxiliares podem ser em si mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que dela se valem. Isto
ocorre porque, apesar de unidas, são obedientes a outrem, por isso não proporcionam conquistas.
Assim, é preferível perder com tropas próprias a vencer com tropas alheias.

Capítulo XIV

A guerra deve ser o objetivo ou o pensamento principal do príncipe, pois através dela um príncipe pode perder sua
posição de soberano e também ela torna possível a homens comuns galgar a posição de soberanos.
Estar desarmado, assim, significa perder a consideração, principalmente por parte dos soldados. Mesmo em
tempos de paz não deve se afastar dos exercícios bélicos.

Capítulo XV

O príncipe deve se ater ao que se faz e não ao que deveria ter sido feito. Ainda, usar a bondade apenas quando e
se necessário. Deve também ter prudência necessária para evitar escândalo provocado por vícios que poderiam
abalar seu reinado e saber quais os que trazem como resultado o aumento da segurança e o bem-estar.

Capítulo XVI

A liberalidade, quando praticada de modo a ser vista por todos, prejudica o príncipe.
Quem quiser ganhar reputação de liberalidade, despenderá de muita riqueza; no entanto, não deverá esbanjar de
seus próprios recursos, pois isso trará prejuízo, o que não acontecerá se esbanjar a riqueza dos outros. Deve
cuidar, ainda, para não ser tido como miserável.

18
Os Estados Papais, Estados Pontifícios, Estados da Igreja ou Patrimônio de São Pedro eram formados por um aglomerado de
territórios, basicamente no centro da península Itálica, que se mantiveram como um estado independente entre os anos de 756
e 1870, sob a direta autoridade civil dos Papas, e cuja capital era Roma.
9

Note-se que para os que já são príncipes a liberalidade pode ser prejudicial, ao passo que para os que ainda não
são e para os que vivem de roubo, ela se faz necessária.

Capítulo XVII

É preferível ser considerado clemente a ser considerado cruel, porém a reputação de cruel não deve incomodar se
o objetivo for manter o povo unido e leal. Os mais novos no poder devem ter reputação de cruel, visto que os
novos Estados oferecem muitos perigos.
Não se deve ter medo, deve ter prudência, equilíbrio e humanidade, porém na opção entre ser amado e temido, o
príncipe deve optar por ser temido; fazer-se temer, porém sem ganhar o ódio. Deve-se ainda manter tropas
unidas e dispostas com fama de crueldade.

Capítulo XVIII

Os príncipes que não respeitam a palavra podem superar os que respeitam; assim, o príncipe não deve agir de
boa-fé se isso for contra seus interesses, por isso além de forte deve ser astuto. Não se faz necessário que o
príncipe tenha qualidades, mas deve aparentar ter, principalmente a aparência de religiosidade. O príncipe deve
evitar se desviar do bem e praticar o mal se necessário.

Capítulo XIX

O príncipe deve evitar ser odiado e desprezado. O que mais faz o príncipe ser odiado é a usurpação dos bens e
mulheres do súdito. Um homem esquece mais rápido uma morte do que a perda de um bem.
Deve-se acautelar quanto aos súditos e as potências estrangeiras. A situação interna permanecerá tranqüila se
não for perturbada por conspirações e um dos mais poderosos remédios contra as conspirações é não ser odiado
pela massa popular; o conspirador acredita sempre que a morte do soberano satisfará o povo.
Assim, o príncipe, embora não possa evitar de ser odiado por algumas pessoas, deve buscar em primeiro lugar
evitar o ódio das massas e se não conseguir, evitar o ódio dos poderosos.

Capítulo XX

O príncipe não pode desarmar seus súditos, pelo contrário, estando eles desarmados, deve armá-los, pois esses
braços armados pertencerão ao monarca. Além do mais, desarmar os súditos pode ofendê-los. O desarmamento
deve ocorrer apenas no caso de anexação.
Note-se que quando o inimigo se aproxima, a fração mais fraca aderirá a ele. Superar oposições e inimizades gera
e incrementa a grandeza.
O autor destaca que o príncipe que temer aos seus súditos deve construir fortalezas, no entanto, mais vale a
amizade e a estima dos cidadãos, que fortalezas.

Capítulo XXI

O príncipe deve ser estimado, dar grandes exemplos e prometer grandes empreendimentos. Deve procurar em
todas as suas ações conquistar fama, grandeza e excelência, ser amigo ou inimigo declarado, evitando a
neutralidade. Devem, também, demonstrar apreço pelas virtudes, dar oportunidade aos mais capazes e honrar os
excelentes em cada arte, além de incentivar os cidadãos a praticar pacificamente sua atividade.

Capítulo XXII
10

A escolha dos ministros por parte do príncipe é de grande importância. Deve escolher homens eficientes e fiéis,
que compreendam as coisas por si só. Evitar os ministros ruins, ou seja, aqueles que se preocupam mais consigo
mesmo.

Capítulo XXIII

Deve-se evitar aduladores. Os conselheiros escolhidos devem ser sábios que dizem com plena liberdade a
verdade, quando forem e sobre o que forem consultados; os aduladores fazem com que o príncipe aja
precipitadamente. Note-se que o príncipe que não é sábio por si só, não poderá ser bem aconselhado.

Capítulo XXIV

Os príncipes novos têm sua conduta observada muito mais que um antigo; por isso devem fortalecer o Estado com
boas leis, boas armas e bons exemplos, além de serem simpáticos ao povo e garantir-se contra os nobres.
Destaque-se que só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e do
nosso próprio valor.

Capítulo XXV

Não se deve deixar que o acaso decida; basear-se apenas na sorte pode trazer a ruína quando esta mudar.
Deve-se agir de acordo com as circunstâncias. Cada época e cada lugar requerem um caminho diferente a seguir
para alcançar determinados objetivos; assim, mudança de circunstâncias e tempos requer uma adequação para
não trazer a ruína.

Capítulo XXVI

Por fim, não há nada melhor do que erguer-se das ruínas para mostrar sua força e seu valor.

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