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BIOSSEGURANÇA NA EXPERIMENTAÇÃO E NA CLÍNICA VETERINÁRIA

PEQUENOS ANIMAIS

Norma LABARTHE1, Maria Eveline de Castro PEREIRA2

A responsabilidade do Médico Veterinário de Pequenos Animais não é


diferente da responsabilidade de qualquer outro profissional de saúde. Nosso
compromisso com a população deve e tem que ser salvaguardado, em todos
os aspectos, mormente no que concerne à saúde, segurança e bem-estar
social (CRMVRJ 2004). Os Clínicos de Pequenos Animais costumam, em sua
maioria, descumprir regras básicas de segurança pessoal e coletiva. Não o
fazemos por indisciplina ou negligência; quase sempre o fazemos por
desconhecimento. Biossegurança é tema relativamente recente entre
pesquisadores de instituições modernas. As primeiras regulamentações
laboratoriais (1974) do National Institutes of Health - EUA (NIH) tinham o foco
em segurança ocupacional, os primeiros manuais da Organização Mundial da
Saúde relacionavam a biossegurança apenas a risco biológico. No Brasil a
primeira regulamentação da biossegurança – Lei 8.974/95, que foi revogada
pela Lei 11.105/05 – estabeleceu normas para o uso das técnicas de
engenharia genética e liberação de organismos geneticamente modificados no
ambiente (BORBA e ARMÔA, 2007). As regras gerais objetivam a preservação
da saúde dos profissionais, da coletividade e do ambiente, além da integridade
do objeto de estudo, no caso da clínica de pequenos animais, o paciente. Em
tempos de globalização, qualquer descuido ocorrido localmente pode se tornar
ameaça generalizada, podendo chegar, inclusive, a países distantes.
Clínicos Veterinários de Pequenos Animais precisam atualização sobre o
tema, e porque não dizer, há necessidade premente na criação de normas e
regras que incentivem a atualização permanente em todos os assuntos,
inclusive além da biossegurança. Já passou da hora de termos a Educação
Continuada como exigência. A velocidade com que se gera e difunde novos
conceitos e conhecimentos, impõe a Educação Continuada como pilar da
Medicina Veterinária de qualidade no mundo moderno.
Não tenho a pretensão de esgotar nem o assunto Biossegurança e nem o
assunto Educação Continuada, apenas convidar os leitores à reflexão.
No contexto da Biossegurança, devemos levar absolutamente todas as
atividades da clínica ou consultório em consideração e lembrar que as
recomendações gerais nada mais são que a compilação de conhecimentos
científicos à luz do bom senso.

1
Programa Biodiversidade e Saúde, Vice Presidência e Desenvolvimento Institucional e
Gestão do Trabalho (VPDIGT)/Fiocruz
2
Comissão Interna de Biossegurança, Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.153-157, abril, 2008


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Área de recepção dos animais. certamente mal visto pelos clientes,


Qual o risco inerente aos animais e por outro, quando o paciente
aos proprietários nessa área? Será parecer infectado por agentes de
correto manter animais de espécies transmissão direta e com potencial
distintas cara-a-cara? Na resolução de transmissão aos seres humanos,
do CFMV 670 (10/08/2000) são parecerá pouco. Um cão, filhote, de
definidas as condições para raça pura e de pequeno porte
funcionamento de Clínicas Veteri- sempre parecerá inofensivo, em-
nárias, sendo estabelecido que o quanto um vira-lata recém recolhido
setor de atendimento contempla a das ruas, de porte grande e aspecto
sala de recepção, o consultório, a de doente poderá suscitar receio.
sala de ambulatório e o arquivo Apesar de o risco variar, há chances
médico, mas como se sentirá um de acidentes em qualquer situação.
gato mantido dentro de um Nesses casos o Médico Veterinário
transporte pequeno encarando um deverá chamar para si a
Bulldog na coleira, distanciado por responsabilidade e coordenar pés-
apenas alguns centímetros? Aos soalmente os procedimentos de
olhos do gato, o Bulldog está livre e forma a preservar a integridade de
ele confinado. E se o cão, num sua equipe e do ambiente. Se por
descuido de seu proprietário atacar um lado ninguém usa luvas de
o gato? Provavelmente o dono do procedimento durante atendimentos
gato se interporá e tentará defender gerais, por outro, é exibição de
seu animal de estimação. Nesse status social circular livremente
caso, muito provavelmente o dono pelas ruas com jalecos ou aventais.
do gato, e quem sabe o gato, sairão Melhor ainda se puder portar um
seriamente machucados. estetoscópio pendurado no pés-
Precisamos pensar nesses coço. Essa transgressão precisa ser
casos corriqueiros para compreen- firmemente combatida, uma vez que
dermos o significado da biosse- é dos poucos cuidados com a
gurança! É nosso dever prever e biossegurança que não tem custo
trabalhar para evitar qualquer financeiro e que poderá se constituir
incidente que possa resultar em no início da sensibilização da classe
prejuízo da coletividade humana ou quanto à importância da biosse-
animal. gurança. Jalecos são vestimentas
Manuseio dos animais. Todos que visam proteger o profissional e
os animais devem ser manuseados evitar a circulação de patógenos
por profissionais trajados com entre os ambientes internos e
Equipamentos de Proteção externos à clínica.
Individual (EPI)? Imaginemos os Imunização de Médicos
atendentes e Médicos Veterinários Veterinários, atendentes e
enluvados e com aventais e jalecos auxiliares. Ninguém poderá discutir
descartáveis, sempre. Alguns a importância da vacinação contra
defensores do uso constante de EPI raiva e tétano, no mínimo. Segundo
certamente são favoráveis a essa relatório da Organização Paname-
generalização, que à maioria de nós ricana de Saúde (1993) na zona
parece um exagero! Se por um lado urbana do Brasil a partir de 1990 foi
o uso rotineiro de luvas para crescente a incidência de casos de
procedimentos no manejo de raiva em humanos, atribuída
animais aparentemente saudáveis principalmente pela falha na
seja encarado como excessivo e educação sanitária. No estudo

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realizado no Hospital Veterinário da em embalagens específicas, de


Universidade Federal de Mato paredes duras e resistentes,
Grosso, onde foi destacada a claramente identificadas.
importância da realização de provas Todo o material contaminante
sorológicas antes de iniciar o ou contaminado deverá ser
esquema de profilaxia vacinal, do acondicionado em sacos plásticos
grupo de 102 pessoas estudado, de biossegurança brancos, leitosos
composto por professores, alunos e e claramente identificados, padroni-
funcionários, apenas 26,47% tinham zado pela ABNT-NBR 9190
recebido vacina anti-rábica (NOCIF (RODRIGUES, 2004). Todo esse
at al, 2003). O que mais uma vez material deverá ser recolhido para
sugere que regras restritivas lixo especial.
envolvendo a Educação Continuada Medicamentos especiais como,
sejam imperiosas. Enquanto não por exemplo, os quimioterápicos
conscientizarmos a comunidade devem ser manipulados de forma
médico-vetrinária sobre a impor- correta, visando à proteção tanto do
tância da proteção individual, será operador quanto do ambiente
impossível garantir a adesão geral (PASIANATO, 2007). Em muitos
aos conceitos de biossegurança. casos os medicamentos devem ser
Precisamos mudar os conceitos manipulados em capelas de exaus-
desde a base do conhecimento e, tão química, devidamente certifica-
num País cheio de diferenças e da.
peculiaridades, decidir sobre os Exames laboratoriais. Os
cuidados mínimos a serem im- Médicos Veterinários de Pequenos
plantados e seriamente exigidos em Animais não podem esquecer que
todos os estados e municípios, é mesmo procedimentos simples, com
difícil. amostras clínicas, demandam
Deixando situações especí- cuidados especiais. Amostras de
ficas, ao considerarmos biossegu- fezes, por exemplo, devem sempre
rança em geral, devemos lembrar ser manipuladas com luvas de
que acidentes com material procedimento, máscaras e óculos
perfurocortante são os mais protetores, uma vez que agentes
freqüentes. No Estado de São etiológicos eliminados pelas fezes
Paulo, o Sistema de Notificação de ou urina podem permanecer viáveis
Acidentes Biológicos (SINABIO), por longo tempo no ambiente, à
registrou de janeiro de 1999 a espera de uma oportunidade para
outubro de 2003; 5.735 notificações infectar um hospedeiro susceptível.
de acidentes ocupacionais com Resíduos. Toda Clínica
exposição a fluidos biológicos, dos Veterinária deve ter um Plano de
quais 4.604 (80.27%) ocorreram Gerenciamento de Resíduos, aten-
com materiais perfurocortantes sem dendo a legislação nacional vigente,
esquecer dos riscos biológicos que abranja a segregação que tem
como transmissão de doenças como finalidade evitar a mistura dos
infecto-contagiosas, químicos, físi- incompatíveis, visando garantir a
cos, ergonomicos ou radioativos. possibilidade de reutilização, reci-
Precisamos lembrar que não se clagem e a segurança no manuseio;
reencapam agulhas hipodérmicas a identificação utilizando as simbo-
nem laminas de bisturi, que todo o logias baseadas na norma ABTN
material perfurocortante, contami- 7500 a 7504 a na Resolução
nado ou não, deve ser descartado CONAMA 275/01; coleta e trans-

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porte interno que compreende a http://www.cfmv.org.br/portal/legisla


operação de transferência dos cao/resolucoes/resolucao_670.htm
resíduos acondicionados do local da Acesso em 12 de fevereiro de 2008.
geração para o armazenamento CONSELHO REGIONAL DE
temporário ou tratamento interno MEDICINA VETERINÁRIA DO
(descontaminação e reprocessa- ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
mento); tratamento externo sendo
CRMV-RJ – Manual do Médico
observada as exigências legais Veterinário e do Zootecnista.
quando se tratar de resíduos Classe 2004. 126 p.
I – Perigosos.
Limpeza. O chão deve ser BORBA, C. e ARMÔA, G. –
mantido limpo e seco. A professora Biossegurança no laboratório de
Masaio Ishizuka da USP orienta que microbiologia – Microbiologia in
a limpeza seja conduzida em duas foco. São Paulo, v. 1, n. 2, p. 13-19,
etapas: remoção das sujidades e 2007.
lavagem. A primeira visa retirar ISHIZUKA, M.M.- Limpeza e
todos os materiais potencialmente Desinfecção em criações de
contaminados que poderão atuar Suínos- Revista Porkworld -
como vias de transmissão de http://www.porkworld.com.br/index.p
agentes de doenças (podendo ser hp?documento=1075 Acessado em
realizada com auxílio de pás e 12 de fevereiro de 2008.
vassouras). Quando da varredura,
ela recomenda umedecer o material MEDEIROS, C. – Instruções para
a ser removido para evitar elaboração do plano de
aerossóis. A lavagem objetiva gerenciamento de resíduos sólidos.
completar a remoção de sujidades e Sistema estadual de Informações
possibilita a melhor ação dos Ambiental da Bahia – SEIA -
desinfetantes que podem apre- http://www.seia.ba.gov.br/SGDIA/tra
sentar dificuldades de penetração nsarq/arquivos/Formul%C3%A1rios
em matéria orgânica presente em %20-%20Modelos%20-%20Normas
excesso. O uso de sabão e/ou %20%20Roteiros/Roteiros/Arquivo/
detergente tem como objetivo a PGRS.pdf Acessado em 12 de
remoção de gorduras e poderá fevereiro de 2008.
também facilitar a atuação dos NOCIFI, D.L, CARMARONI
desinfetantes. É importante que JÚNIOR, J. et al. – Anticorpos
sejam utilizados produtos aprovados contra o vírus rábico em seres
e registrados pelo Ministério da humanos com atividades no
Agricultura, Abastecimento e Pecu- Hospital Veterinário federal de Mato
ária (MAPA/Brasil), que sejam Grosso, Cuiabá, MT, Brasil –
obedecidas às recomendações do Revista da Sociedade Brasileira
fabricante quanto ao uso, à de Medicina Tropical – v. 36, n. 3,
armazenagem, diluição, tempo para p. 355-358, 2003.
ação e principalmente quanto ao
descarte de embalagens, contato PASINATO, J. R. – Plano eficaz:
com crianças, animais e pessoas. manuseio de drogas quimio-
terápicas necessita de normas de
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS segurança. Revista Proteção p.
100-107, 2007.
CONSELHO FEDERAL DE
MEDICINA VETERINÁRIA - RODRIGUES, A.M.S. – Guia
Resolução N.º 670, 10/08/2000 - Sanitário para estabelecimentos

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médicos veterinários – Conselho


Regional de Medicina Veterinária
(CRMV-RJ), dez. 2004.
SECRETARIA DE GOVERNO DO
MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO/
VIGILÂNICA SANITÁRIA –
Resolução “N” 742 DE 22/05/06 -
Roteiro de inspeção e auto de
inspeção sanitária de
estabelecimentos de medicina
veterinária -
http://www2.rio.rj.gov.br/governo/vigi
lanciasanitaria/roteiro/resolucao_74
2.pdf Acesso em 12 de fevereiro de
2006.
SINABIO – Divisão de Vigilância
Epidemiológica PE DST/AIDS –
Boletim Epidemiológico – v. 2, n. 1,
2004 http://www.infectologia.org.br/
anexos/Boletim%20Sinabio_2004.p
df Acesso em 12 de fevereiro de
2008.

Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 11, suplemento 1, p.153-157, abril, 2008

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