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xxxx, xxxxxxxxxxxx
xxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx. –
Recife: UPE/NEAD, 2011
48 p.
ISBN -
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxx
REITOR
Vice-Reitor
Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque
Pró-Reitor Administrativo
Prof. José Thomaz Medeiros Correia
Pró-Reitor de Planejamento
Prof. Béda Barkokébas Jr.
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Coordenação de Suporte
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Edição 2013
Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares
Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro
Recife / PE - CEP. 50103-010
Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664
LÍNGUA BRASILEIRA
DE SINAIS - LIBRAS
Maria do Socorro Araújo de Freitas Carga Horária | 60 horas
Ementa
Um breve passeio pelas raízes da história da educação de
surdos e das filosofias educacionais para surdos. Estudos
linguísticos da Língua Brasileira de Sinais - Libras. A língua
de sinais brasileira em contexto. A escrita da língua de si-
nais brasileira – signwriting.
Objetivo geral
Propiciar aos discentes conhecimentos sobre a história
da educação de surdos e seus fundamentos filosóficos,
teóricos e legais como também os aspectos sócio-cul-
tural-linguísticos da Língua Brasileira de Sinais - Libras,
expressos na forma sinalizada e escrita.
Apresentação
A implementação da disciplina Libras nos cursos de licenciatura surge como cumprimento do De-
creto 5.626, de 22/12/2005, que regulamentou a Lei 10.436, de 24/04/2002, intitulada Lei da Li-
bras, por reconhecer essa língua como o meio legal de comunicação e expressão do sujeito surdo.
Conforme o decreto, todas as licenciaturas nas diferentes áreas do conhecimento deverão incluir,
obrigatoriamente, essa disciplina em seu currículo. Um aspecto importante a ser considerado é
que todo aprendizado de língua pressupõe o aprendizado também de temas, como a cultura e
os costumes adotados pelos seus “falantes”, ou pelos seus usuários. Nesse curso, apresentamos
a você informações a respeito da educação, cultura, identidade e língua dos surdos, para que,
conhecendo um pouco das particularidades desses sujeitos, você se sinta melhor preparado para
lidar com as questões relativas à inclusão destes nos ambientes que vier a frequentar, seja em seu
trabalho como futuro pedagogo, ou em outros ambientes sociais.
A Língua Brasileira de Sinais não é um conjunto de gestos soltos e isolados, mas uma língua que
possui suas características próprias como qualquer outra língua oral. Sabemos que não esgotare-
mos o assunto a ser estudado aqui, mas esperamos poder contribuir na construção, divulgação e
compreensão dessa língua enquanto alicerce para o desenvolvimento integral do educando surdo.
É sabido que, para se aprender uma língua, são necessários anos de prática. Portanto, sinta-se
motivado a buscar mais conhecimentos para alcançar a fluência em Libras.
SUCESSO!
HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO
DOS SURDOS
INTRODUÇÃO
Estamos iniciando a disciplina Língua Brasileira de Sinais – Libras. Aprender uma nova língua requer
também conhecer a cultura e a história dos seus usuários, para que possamos entender seus movi-
mentos e suas lutas sociais.
Neste capítulo, vamos fazer um rastreamento da educação das pessoas surdas desde os primórdios da
história, com a eliminação ou abandono, passando pela prática da caridade na Idade Média, visão do
surdo como um doente, o processo de normalização, integração e inclusão, resgatando os diferentes
momentos vivenciados e compreendendo os fatos que influenciaram as conquistas alcançadas por
esses indivíduos na prática do cotidiano escolar.
capítulo 1 7
comunhão, por não serem capazes de con-
fessar seus pecados; também era proibido o
casamento entre duas pessoas surdas, além de
existirem leis que proibiam de receberem suas
heranças, de votar, de exercer sua cidadania,
de um modo geral. Berthier (apud Nascimen-
to, 2006) afirma que somente a religião cristã
trouxe aos surdos sua dignidade e os salvou do
exílio em que se encontravam.
8 capítulo 1
professor surdo, retruca essa informação, ale-
gando que tanto na França quanto no exterior,
muitas tentativas isoladas de instrução tinham
sido feitas em nível de sucesso variável, mas
não obtiveram reconhecimento público.
capítulo 1 9
e em outros países da Europa. Por esse e ou-
tros feitos, foi considerado por Berthier como
“benfeitor da humanidade, o primeiro a livrar
o surdo da solidão”.
No instituto funda-
do por L’Epée, foram
formados vários pro-
fessores surdos, entre
eles Ferdinand Ber-
thier, Laurent Clerc e
Ernest Huet, persona-
gens importantes na
ocupação, porém, era dar atendimento aos educação de surdos
surdos que viviam perambulando pelas ruas da França, Estados FIGURA 09. Ferdinand
Earthier. FONTE: http://
de Paris. Aprendeu com eles a língua de sinais Unidos e Brasil, res- en.wikipedia.org/wiki/Ferdi-
e criou os “Sinais Metódicos”, uma combina- pectivamente.
nand_Berthier
10 capítulo 1
Gallaudet, nesse país, é considerada como um
grande centro de estudos para surdos.
A educação de surdos
no Brasil teve início com
o professor surdo Ernest
Huet, vindo do Instituto
Nacional de Jovens Sur-
dos de Paris, a convite
do Imperador D. Pedro
II. Huet chegou ao Bra-
sil em 1855 e, dois anos
após, fundou a primeira
escola de surdos do Bra- FIGURA 12. Ernest Huet
sil, o Imperial Instituto FONTE: VELOSO &
oralismo dominou
todo o mundo, e
os aspectos relacionados à escolarização dos
surdos foram relegados a segundo plano. Dan-
do ênfase à reabilitação e à cura da surdez, as
escolas passaram a ser clínicas, e os alunos, pa-
cientes. Com a proibição da língua de sinais, os
professores surdos foram afastados das esco-
las. As pessoas surdas, consideradas deficien-
tes, vivenciaram privações sociais, emocionais
e psicológicas, porque para elas apenas a ora-
FIGURA 13. INES
FONTE: VELOSO & FILHO, 2010 p. 41
lidade poderia torná-las cidadãs.
capítulo 1 11
Não demorou muito para que a Comunicação
Total cedesse lugar para o Bilinguismo. O Bi-
linguismo defende o uso da língua de sinais
e da língua oral, mas não em simultaneidade,
sendo a língua de sinais no Brasil a Libras, a
língua natural, portanto a primeira língua (L1),
por excelência a língua de instrução; a língua
oral o Português, a segunda língua (L2), que
deve ser ensinado com metodologia específica
de ensino de segunda língua. Nessa filosofia,
a surdez não é mais concebida como uma de-
ficiência, mas como uma diferença cultural e
linguística.
Para defender seus direitos linguísticos, o povo
surdo travou uma longa e sofrida batalha e se Legalmente, a Língua Brasileira de Sinais – Li-
uniu em associações, na luta contra a extinção bras foi garantida aos surdos em todas as eta-
da sua língua natural. pas da educação básica por meio da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, no entan-
O oralismo imperou to, sua oficialização como língua dos surdos
em todo o mundo, só aconteceu com a Lei nº 10.436, de 24 de
até a década de 1960, abril de 2002. Com a regulamentação dessa
quando os estudos Lei pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro
de William Stokoe, de 2005, foi garantida a língua de sinais nas
linguista americano instituições de ensino na educação dos surdos,
da Universidade de na formação de professores que irão atendê-
Gallaudet, demons- -los bem como a presença do tradutor e intér-
traram que a Língua prete de língua de sinais.
de Sinais Americana - FIGURA 15. William Stokoe
ASL apresentava todas FONTE: http://it.wikipedia.
A partir desse Decreto,
org/wiki/William_Stokoe
as características das um marco histórico na
línguas orais. A partir educação de surdos foi
daí, surgiram várias pesquisas e estudos sobre a criação do curso de
as línguas de sinais e sua aplicação na educa- Licenciatura em Letras
ção de surdos. – Libras, pela Universi-
dade Federal de Santa FIGURA 16. Letras - Libras.
Na década de 1970, devido à insatisfação com Catarina - UFSC, em FONTE: http://www.libras.
ufsc.br/
os resultados obtidos com o oralismo, surgiu a 2006, uma iniciativa
Comunicação Total, filosofia caracterizada pelo pioneira na América La-
uso de todos os meios que possam facilitar a tina, que oportunizou a 447 surdos o ingresso
comunicação, desde a ‘fala sinalizada’, a lei- na universidade. A universidade ofereceu 500
tura labial, à escrita desenho, língua de sinais. vagas, das quais 53 foram ocupadas por ou-
vintes. Essa turma pioneira concluiu o curso
Essa filosofia, quando criada, teve o mérito em dezembro 2010.
de reconhecer a língua de sinais como direito
da pessoa surda, contudo a surdez ainda era De acordo com Strobel (2008 a), a história da
vista como patologia, e a língua de sinais era educação de surdos pode ser dividida em três
usada como recurso para o ensino da língua fases:
oral. A maior crítica a essa filosofia se relaciona
ao fato de se utilizar simultaneamente a fala Revelação cultural: época em que os povos
e os sinais, constituindo o ‘bimodalismo’ ou surdos não apresentavam problemas com a edu-
português sinalizado, privando os alunos de cação. A maioria dos sujeitos surdos dominava a
arte da escrita, e há evidência de que havia muitos
aprender tanto a língua oral quanto a língua escritores surdos, artistas surdos, professores sur-
de sinais. dos e outros sujeitos surdos bem sucedidos.
12 capítulo 1
Isolamento cultural: fase de isolamento da
comunidade surda em consequência do Congres-
so de Milão de 1880, que proíbe o acesso da lín-
gua de sinais na educação dos surdos; nessa fase,
as comunidades surdas resistem à imposição da
língua oral.
capítulo 1 13
No próximo capítulo, estudaremos as propos-
tas educacionais direcionadas para os sujeitos
surdos.
Vamos em frente!
RESUMO REFERÊNCIAS
GUARINELO, Ana Cristina. O papel do outro na
A forma como a sociedade percebe a pessoa
escrita de sujeitos surdos. São Paulo, Plexus:
surda se diversificou no decorrer dos séculos,
2007.
determinando suas ações. Nos primórdios, os
surdos eram considerados como seres, que não
NASCIMENTO, LILIAN C. R. Um pouco mais
podiam ser educáveis; no século XVIII, passa-
da história da educação dos surdos, segundo
ram a ser reconhecidos como minoria linguísti-
Ferdinand Berthier. ETD - Educação Temática
ca - caracterizada por compartilhar uma língua
Digital. Campinas, V. 7, n. 2, p. 255-265, jun.
de sinais e valores culturais, hábitos e modos
2006. Disponível em: http://www.slidesha-
de socialização próprios, assumindo sua edu-
re.net/asustecnologia/historia-da-educao-
cação. A partir de 1880, começa a imperar a
-do-surdo-segunfo-fernandino. Acesso em:
concepção de que são doentes (do ouvido) e
28/07/2011.
precisam ser curados, sendo proibidos de usar
sua língua natural e obrigados a aprender a
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma viagem ao
língua oral, ficando a apreensão dos conteú-
mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das
dos relegados a segundo plano. Atualmente,
Letras, 1998.
eles garantem e conquistam espaços, fazendo-
-se ouvir, apesar de tantas dificuldades. A lín-
SKLIAR, Carlos. La educación de los sordos:
gua de sinais está sendo utilizada e reconhe-
una reconstruccion histórica, cognitiva y peda-
cida; muitos surdos estão se aprimorando e
gógica. Mendonça: EDIUNC, 1997.
tornando-se instrutores da Libras, professores,
mestres e doutores em educação e em tantas
STROBEL, Karin. História da Educação de Sur-
outras áreas, possibilitando a concretização de
dos. Florianópolis: UFSC, 2008 - a.
uma vida mais digna.
_______, Karin. As imagens do outro sobre a
Diante desse contexto histórico, precisamos
cultura surda. Editora da UFSC, 2008-b.
assumir o que afirmou Oliver Sacks (1998)
Somos notavelmente ignorantes a respeito da VELOSO, Éden; FILHO, Valdeci M. Aprenda Li-
surdez, muito mais ignorantes do que um ho- bras com eficiência e rapidez. Curitiba, Mãosi-
mem instruído teria sido em 1886 ou 1786. Igno- nais: 2010.
rantes e indiferentes (...). Eu nada sabia a respeito
da situação dos surdos nem imaginava que ela
pudesse lançar luz sobre tantos domínios, sobre-
tudo o domínio da língua. Fiquei pasmo com o
que aprendi sobre a história das pessoas surdas e
Atividades
os extraordinários desafios (linguísticos) que elas
enfrentam, e pasmo também ao tomar conhe- 1. Após ler este capítulo, redija um breve texto,
cimento de uma língua completamente visual, sintetizando os principais aspectos da histó-
a língua de sinais, diferente em modo de minha ria da educação dos surdos.
própria língua, a falada.(...)
2. De acordo com Strobel (2008 a), a história
e buscar novos conhecimentos para propor- da educação de surdos pode ser dividida
em três grandes fases. Destaque essas fases,
cionar o desenvolvimento pleno da capacidade identificando a situação dos surdos em cada
dos surdos. uma delas.
14 capítulo 1
FILOSOFIAS
EDUCACIONAIS
PARA SURDOS
INTRODUÇÃO
Neste capítulo, vamos analisar as diversas filosofias educacionais para alunos surdos, resgatando os
diferentes momentos vivenciados e compreendendo os fatos que influenciaram a ascensão e o declínio
delas.
Conhecer essas abordagens é importante para o pedagogo, na medida em que se trata de manifesta-
ções da sociedade que se refletem na escola, objeto e local de estudo desse profissional.
Veremos que a Educação Bilíngue não é um modismo. Ela é um direito garantido em lei, fruto de um
contexto histórico, que percebe o surdo na sua diferença linguística e cultural e busca romper com a
concepção de surdez arraigada à deficiência.
Esperamos que com este estudo você possa compreender a surdez para além de uma limitação física,
enxergando os surdos como sujeitos culturais, membros de uma comunidade, que é minoria linguísti-
ca em qualquer parte do mundo.
capítulo 2 15
Com o avanço tecnológico, essa situação co-
meça a mudar, pois, com os aparelhos audi-
tivos facilitando o treino de fala, a oralização
passa a ter força diante das famílias que que-
rem seus filhos curados da surdez.
16 capítulo 2
Essa abordagem enfatiza que a aquisição da
fala oral deve ser iniciada o mais cedo possí-
vel, utilizando-se dos instrumentos necessários
(aparelho auditivo, por exemplo) e explorando
os resíduos auditivos que o surdo possui.
capítulo 2 17
Os resultados de muitas décadas de trabalho
nessa linha, no entanto, não mostraram gran-
des sucessos. A maior parte dos surdos pro-
fundos não desenvolveu uma fala socialmente
satisfatória, e, em geral, esse desenvolvimento
era parcial e tardio em relação à aquisição de
fala apresentada pelos ouvintes, implicando
um atraso de desenvolvimento global signifi-
cativo. Somadas a isso, estavam as dificuldades
ligadas à aprendizagem da leitura e da escrita:
sempre tardia, cheia de problemas, mostrava
Para o surdo aprender a língua oral, é neces- sujeitos, muitas vezes, apenas parcialmente al-
sário um trabalho sistematizado, que deve ser fabetizados após anos de escolarização.
feito por um profissional competente (o fo-
noaudiólogo). A aprendizagem da fala é uma A predominância do oralismo puro ocasionou
atividade árdua para o surdo e pressupõe um o fracasso da educação de surdos, devido aos
trabalho contínuo e prolongado. limites que os métodos orais apresentam e à
“concentração exclusiva da educação na orali-
Segundo Porker (p.5 e 6), a educação oral re- zação” (CAPOVILLA, 2000).
quer um esforço total por parte da criança, da
família e da escola. De acordo com os seus de- Apesar de o oralismo não ter atingido seu
fensores, para se obter um bom resultado, é objetivo - a apreensão da língua oral pelos
necessário: surdos, essa meta continuou a ser buscada,
entretanto, por meio de outros meios de co-
• Envolvimento e dedicação das pessoas que municação, além da oralidade. Então, como
convivem com a criança no trabalho de re- alternativa ao oralismo, surgiu na década de
abilitação todas as horas do dia e todos os 1970, quase cem anos após o Congresso de
dias do ano; Milão, a comunicação total.
18 capítulo 2
Essa filosofia se preocupa também com a
aprendizagem da língua oral pela criança sur-
da, mas acredita que os aspectos cognitivos,
emocionais e sociais não devem ser deixados
de lado só por causa da aprendizagem da lín-
gua oral. Defende, assim, a utilização de qual-
quer recurso espaço - visual como facilitador
da comunicação.
capítulo 2 19
Para Porker, o bilinguismo
20 capítulo 2
• Aos quatro anos: criança já produz sen-
FIGURA 07. Movimento surdo em favor
da educação e da cultura surda. FONTE: tenças mais complexas e usa expressões
http://www.audithus.com.br/ima- faciais;
ges/201105_676_1.jpg
capítulo 2 21
RESUMO
As filosofias educacionais estudadas mostram
que, por muitos séculos de existência, a esco-
larização e outros aspectos próprios do povo
surdo têm sido organizados do ponto de vista
dos sujeitos ouvintes. Por isso, a comunida-
de surda brasileira, por meio do Movimento
Surdo em Favor da Educação e Cultura Sur-
da, reafirmando sua posição de atores sociais
com direito a opinar sobre as propostas edu-
cacionais que vêm sendo impostas aos surdos
• Fazer da língua de sinais uma disciplina, brasileiros de maneira inadequada e autoritá-
pois conforme Quadros (1997), “a libras ria, elaborou um documento com propostas
é a língua, que deve ser usada na escola de emenda substitutivas ao Projeto de Lei nº
para a aquisição da língua, para aprender 8.035, de 2010, que aprova o Plano Nacional
através dessa língua e para aprender sobre de Educação – PNE, que vigorará no decênio
a língua”; 2011-2020. Esse documento quer garantir, no
Plano Nacional de educação, a manutenção
• Inserir as manifestações da cultura surda: e criação de escolas que tenham como pro-
pintura, poesias, narrativas de histórias, posta educacional uma educação específica,
piadas, cinema etc; diferenciada, cultural e bilíngue para os surdos
brasileiros que têm a língua brasileira de sinais
• Incluir conteúdos sobre a história dos sur- como sua primeira língua.
dos, a escrita da língua de sinais;
Uma educação bilíngue pressupõe muito mais
• Contar com a colaboração de professores e do que só o domínio de duas línguas pelo alu-
pesquisadores surdos na mudança do cur- no surdo. Há de estar contemplada a política
rículo para, considerando as especificida- das identidades, que possibilite ao aluno surdo
des da comunidade surda, incluir para eles constituir-se como cidadão diferente, porém
os mesmos conteúdos dos ouvintes. eficiente, e com autoimagem positiva, o que
só poderá acontecer na convivência com seus
Além dessas questões, o currículo surdo, se- iguais. Além disso, não se pode desconsiderar
gundo Lopes (2011, p.86), “exige que nós que o bilinguismo pressupõe duas culturas,
pensemos na nossa capacidade de olhar para surda/ouvinte, e que o currículo deve contem-
os surdos, colocando-os em outras tramas, plá-las igualmente, atribuindo às duas línguas
que não aquelas atreladas às pedagogias cor- a mesma importância. Há de se considerar,
retivas”. ainda, que as pessoas surdas têm acesso ao
mundo pela visão, aspecto que deve ser respei-
tado no ensino de alunos surdos.
22 capítulo 2
Atividades
1. Após a leitura atenta desse capítulo, preencha o quadro abaixo sintetizando as abordagens estudadas:
PONTOS PONTOS RECURSOS
ABORDAGEM OBJETIVO
POSITIVOS NEGATIVOS UTILIZADOS
ORALISMO
COMUNICAÇÃO
TOTAL
BILINGUISMO
2. De acordo com o que foi apresentado, o que é educação bilíngue? Produza um pequeno texto responden-
do essa questão.
capítulo 2 23
LÍNGUA
DE SINAIS
INTRODUÇÃO
Par a várias pessoas, as línguas de sinais são apenas gestos, mímicas, uma lingua-gem artificial sem
estrutura própria ou um sistema superficial de comunicação subordi-nado e inferior às línguas orais.
Neste capítulo, vamos desmistificar essa ideia, verifi-cando que a Língua Brasileira de Sinais – Libras,
assim como as demais línguas de si-nais, atende a todos os critérios linguísticos de uma língua.
Iniciaremos esse estudo diferenciando língua de linguagem, observando as proprie-dades inerentes a
todas as línguas orais e de sinais. Depois, verificaremos que a língua de sinais é uma língua natural,
com características próprias e, assim como a Língua Por-tuguesa, apresenta os níveis fonológico, mor-
fológico, sintático, semântico e pragmático.
No nível fonológico, veremos as unidades mínimas, que formam os sinais; no mor-fológico, os pro-
cessos de formação dos sinais e os tipos de verbos; no sintático, as cons-truções de frases possíveis na
Libras; e para encerrar o capítulo, exemplos dos níveis semântico e pragmático.
Sinta-se motivado para iniciar o estudo de uma língua que desperta sentimentos e leva a conhecimen-
tos diversos!
capítulo 3 25
que são atribuídas a todas as línguas. Ho-
ckett(1992), Lyons (1981) e Lobato (1986),
citados por Quadros e Karnopp (2004), enu-
meraram uma lista de traços atribuí-dos às lín-
guas em geral, abordando a diferença entre
língua e sistemas de comunicação animal. Os
principais traços discutidos pelos autores são
apresentados a seguir:
1. LÍNGUA BRASILEIRA
ARBITRARIEDADE - a palavra/sinal (signo
linguístico) é arbitrária, porque é sempre uma
convenção reconhecida pelos falantes de uma
DE SINAIS – LIBRAS língua, ou seja, as palavras/sinais não apresen-
tam relação direta entre a forma e o significado.
“Enquanto houver dois surdos sobre a face da Terra e
eles se encontrarem, haverá sinais”.
J. Schuyler Long (1910)
DESCONTINUIDADE - diferenças mínimas
entre as palavras/sinais e os seus signifi-cados
A linguagem é um sistema de comunicação são descontinuados por meio da distribuição
natural ou artificial, humano ou não. Nesse que apresentam nos diferentes níveis linguís-
sentido, linguagem é qualquer forma utiliza- ticos. Por exemplo, em Português, maca/mala
da com algum tipo de intenção comu-nicativa, (alterando apenas um fonema), em Libras, FA-
incluindo a própria língua. A língua pode ser MÍLIA e REUNIÃO (alterando apenas um parâ-
entendida como um sistema pa-dronizado
de sinais/sons arbitrários, caracterizados pela
estrutura dependente, criativi-dade, desloca-
Saiba Mais
mento, dualidade e transmissão cultural (QUA- Os sinais da Libras são representados por palavras
DROS, 2004). da Língua Portuguesa em letras maiúsculas.
26 capítulo 3
FIGURA 01. Ontem. FONTE: FELIPE & MON-
TEIRO (2005) p. 70
capítulo 3 27
exemplos abaixo:
Tem
De acordo com Felipe e Monteiro (2008), os movimento
sinais APRENDER, LARANJA E DESODORANTE-
-SPRAY têm a mesma configuração de mão e
são realizados na testa, na boca e na axila, res-
pectivamente. Seguem os exemplos:
Não tem
movimento
FIGURA 03. FONTE: FELIPE & MONTEIRO (2008) p. 22 FIGURA 05. FONTE: FELIPE & MONTEIRO (2008) p. 23
28 capítulo 3
de. Observe os exemplos abaixo:
capítulo 3 29
Sinais que se opõem quanto ao movimento
AZUL
AMARELO
FIGURA 11. FONTE: CAPOVILLA & RAPHAEL (2001)p. 185 repete e encurta o movimento dos verbos.
Saiba Mais
Um sinal composto, que será representado por
duas ou mais palavras, mas com a ideia de uma
única coisa, será separado pelo símbolo ^.
30 capítulo 3
MULHER^BÊNÇÃO
“mãe”
CASA^ESTUDAR
“escola” Incorporação da negação: é um processo
muito produtivo na Libras. Pode in-corporar
GOSTAR GOSTAR-NÃO
a outro sinal.
UM-DIA DOIS-DIAS
FIGURA 18. FONTE: FELIPE & MONTEIRO (2005) p. 66
FIGURA 17. FONTE: FELIPE & MONTEIRO (2005) p. 75 FIGURA 19. FONTE: QUADROS & KARNOPP (2004) p. 117
capítulo 3 31
e construção com foco, sempre associados ao
uso de marcação não manual específica. Assim
as construções nas ordens OSV, SOV e VOS,
se não houver uso de elementos não manuais,
serão agramaticais.
32 capítulo 3
Observe o exemplo apresentado pela autora:
capítulo 3 33
compreender o que foi apre-sentado.
REFERÊNCIAS
ALBRES, N. Interpretar em Libras blogspot. Dis-
ponível em: http://interpretaremlibras.blogs-
pot.com.br/2009/04/expressao-chupar-dedo.
html. Acesso em: 20 dez. 2012.
34 capítulo 3
ESCRITA
DE LÍNGUA
DE SINAIS
BRASILEIRA
INTRODUÇÃO
Este capítulo se propõe a introduzir o tema da escrita de sinais como parte necessária da educação
bilíngue, haja vista ser a língua de sinais a língua suporte para a aprendizagem efetiva das pessoas
surdas.
Bom proveito!
capítulo 4 35
Originalmente, essa escrita era feita na argila
mole, com um estilete em forma de cunha, o
que determinou o formato dos sinais. Por isso, a
escri-ta sumeriana ficou conhecida como cunei-
forme.
1. ESCRITA DE LÍNGUA
DE SINAIS BRASILEIRA
A pessoa que fala português escreve em Português?
FIGURA 01. Escrita Cuneiforme. FONTE:
A pessoa que fala inglês escreve em Inglês? http://icommercepage.wordpress.
E o surdo, em que língua escreve? com/2010/09/26/a-escrita-cuneiforme/
Marianne Rossi Stumpf
36 capítulo 4
de letras individuais.
capítulo 4 37
FIGURA 03. Valerie Sutton.
FONTE: http://www.cultu-
rasurda.com.br/sw.html
38 capítulo 4
De acordo com Capovilla (2001, p. 1494-
1495), a escrita de sinais vem sendo utilizada
em atividades, como: escrita de contos infan-
tis, cursos de informática e Língua de Sinais
para crianças Surdas, documentar a gramática
da Libras, documentar sinais da Libras e para
permitir a telecomunicação entre Surdos e a
comunicação face a face entre Surdos com dis-
túrbios motores e ouvintes.
1.1 INTRODUÇÃO
À ESCRITA DE SINAIS
Serão apresentadas abaixo as noções básicas
para a escrita de sinais, segundo Stumpf (2011
p.98-102): Adicionar dedos ao punho
FIGURA 05. FONTE: Stumpf (2011), p.98 FIGURA 07. FONTE: Stumpf (2011), p.98
capítulo 4 39
FIGURA 12. FONTE: Stumpf (2011), p.100
FIGURA 11. FONTE: Stumpf (2011), p.100 FIGURA 14. FONTE: Stumpf (2011), p.101
40 capítulo 4
FIGURA 15. FONTE: Stumpf (2011), p.101
FIGURA 16. FONTE: Stumpf (2011), p.101 FIGURA 18. FONTE: Stumpf (2011), p.102
FIGURA 17. FONTE: Stumpf (2011), p.102 FIGURA 19. FONTE: Stumpf (2011), p.102
capítulo 4 41
Saiba Mais
As figuras apresentadas são apenas uma mostra
das noções básicas da escrita de sinais. Para você
obter mais informações como representar os mo-
vimentos, os sinais de contato, expressões faciais,
enfim para conhecer mais sobre a escrita de si-
nais, você pode acessar o site
www.signwriting.org
do lado esquerdo da tela clicar
no link, Brasil.
Resumo
Neste capítulo, observamos que a escrita da
língua de sinais assim como a das línguas orais
é um sistema de representação gráfica, apto a
assegurar as funções da escrita: re-gistro e di-
fusão de informações, compreensão e expres-
são de ideias e sentimentos e construção de
conhecimentos.
42 capítulo 4
Atividades
1. Conheça o alfabeto e os numerais em SignWright e treine a escrita.
A M Z
B N 1
C O 2
Ç P 3
D Q 4
E R 5
F S 6
G T 7
H U 8
I V 9
J W 10
K X 11
L Y 12
capítulo 4 43
2. Com base nas noções básicas de escrita de sinais apresentadas, faça a
correspondência entre os sinais mostrados e sua respectiva escrita.
1
Domingo
2
Hoje
3
Casa
4
Carro
5
Surdo
6
América do Sul
7
Brasil
Língua de Sinais
9
Sábado
10
Terça-feira
44 capítulo 4
3. Escrever o nome próprio (datilologia) e o dos colegas é uma atividade que
ajuda na memorização das configurações de mãos do alfabeto.
REFERÊNCIAS
CAPOVILLA, F.; et al. A escrita visual direta de
sinais SignWriting e seu lugar na edu-cação da
criança Surda. In: CAPOVILLA, F. C. & RAFHA-
EL, V.D. Dicionário Enciclopé-dico Ilustrado
Trilíngue de Língua de Sinais Brasileira. Vol. II.
São Paulo: EDUSP, 2001. p. 1492 - 1495.
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