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Ano 18 - N.º 2
abr./mai./jun./2015
Agricultura
Olericultura
Olerícolas: geração
Editorial
de empregos no campo;
F
olhosas, raízes, bulbos, tubérculos e frutos está em constante crescimento e muito se deve, além
integram a olericultura, uma área da horticul- da mudança dos hábitos alimentares da população,
tura que abrange a exploração de um grande ao incremento tecnológico nos campos, o qual sem a
número de espécie de plantas, conhecidas como hor- pesquisa, a assistência técnica e a extensão rural, não
Governador do Estado taliças. São várias espécies de verduras, legumes e fru- teria tantos resultados positivos. Hoje em dia é pos-
Geraldo Alckmin tos em cultivo comercial, que oferecem ao mercado sível trabalhar e obter um aumento da produtivida-
um mix de produtos ricos em vitaminas e sais mine- de, com mais qualidade, diminuição do desperdício e
Secretário de Agricultura e Abastecimento rais, que atendem consumidores exigentes os quais usando, de forma racional, os recursos hídricos.
Arnaldo Jardim prezam por uma alimentação cada vez mais saudável
Com o objetivo de melhorar o acesso ao mercado
e buscam, além de cores e sabores, frescor, qualidade
Secretário-Adjunto olerícola paulista, por meio de adoção de Boas Práticas
e segurança alimentar, sem deixar de lado o respeito
Rubens Naman Rizek Junior Agrícolas (BPA) e de estratégias adequadas ao merca-
ao meio ambiente.
do, a CATI executa o Projeto da Cadeia Produtiva de
Chefe de Gabinete De acordo com o Levantamento Censitário Olericultura, com metas que incluem a capacitação
Omar Cassim Neto das Unidades de Produção Agropecuária (LUPA de produtores em utilização de ferramentas de ges-
2007/2008), elaborado pela Coordenadoria de tão administrativa e BPA no fortalecimento de organi-
Coordenador/Assistência Técnica Integral Assistência Técnica Integral (CATI), órgão da Secretaria zações de produtores; e a instalação de Unidades de
José Carlos Rossetti de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Adaptação de Tecnologia.
Paulo, a olericultura está amplamente distribuída em
Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento A instituição também atua na capacitação con-
todo o território paulista, havendo uma concentração
Ypujucan Caramuru Pinto tínua dos seus técnicos e de produtores rurais, para
no entorno das regiões metropolitanas, nos chama-
que possam acessar políticas públicas como os pro-
Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes dos cinturões verdes. São mais de 42 mil Unidades de
gramas federais de Aquisição de Alimentos (PAA) e de
Edson Luiz Coutinho Produção Agropecuária (UPAs), que produzem pelo
Alimentação Escolar (PNAE), e o Programa Paulista da
menos uma espécie olerícola. No Brasil, São Paulo é o
Agricultura de Interesse Social (PPAIS).
Estado que possui o maior setor produtivo, com 20%
da produção e é também o principal mercado consu- Nas próximas páginas desta edição da Revista
midor, que absorve 22% do que é produzido. Casa da Agricultura, você poderá ler nos artigos e nas
reportagens o que há de mais significativo sobre as
Outro dado extremamente relevante da cadeia
Boas Práticas na produção e comercialização; o uso de
é o do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
defensivos; as tendências de mercado; as linhas de
Comércio Exterior, que revela que a olericultura é fa-
crédito; as diversas formas de produção; vai se inteirar
tor de empregabilidade com baixo investimento ini-
sobre o mercado de orgânicos, agroecológicos, horta-
cial de capital pois, a cada R$ 5 mil investidos na ativi-
liças não convencionais, hortas periurbanas, políticas
dade, pode-se gerar até dois empregos diretos. Além
públicas, alternativas de combate ao desperdício; e vai
disso, o cultivo de verduras e legumes gera mais lucro
conhecer histórias de produtores que impulsionam a
por hectare do que outras culturas, principalmente se
olericultura e fazem com que o cenário mercadológi-
falarmos em cultivo protegido e hortaliças diferencia-
co para os próximos anos seja bastante positivo.
das.
É fato que a produção brasileira de hortaliças, re- Boa leitura! José Carlos Rossetti
alizada com predominância da agricultura familiar, Coordenador da CATI
Edição e Publicação - Cecor/CATI
Expediente
Sumário
4 Entrevista
Departamento de Comunicação e Treinamento – DCT 7 Hortaliças: negócio do futuro ou do presente?
Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto
Centro de Comunicação Rural - Cecor 10 Boas Práticas Agrícolas na produção de hortaliças
Diretora: Roberta Lage
Editora responsável: Jorn. Roberta Lage (MTB 43.382-SP)
12 Hortaliças de qualidade: exigência do consumidor, dever de toda a cadeia produtiva
Coeditora: Jorn. Graça D’Auria (MTB 18.760-RJ 14 Irrigação – escolha do sistema depende de avaliação e planejamento
Revisor: Carlos Augusto de Matos Bernardo
Reportagens: Jornalistas Cleusa Pinheiro (MTB 28.487-SP), Graça 16 Comercialização e Marketing de Hortaliças
D’Auria (MTB 18.760-RJ), Roberta Lage (MTB 43.382-SP).
19 Agregação de valor e tendências de mercado em hortaliças
Supervisão técnica dos textos: Gilberto J. B. de Figueiredo 22 Manejo do solo, calagem e adubação de hortaliças
– Engenheiro Agrônomo – Gestor Estadual do Projeto CATI
Olericultura – Casa da Agricultura de Caraguatatuba 24 Casa da Agricultura de Biritiba Mirim
Olericultura: ridades e suas necessidades es- lógicas, das práticas de preservação maior ou menor necessidade de
pecíficas, tratando sempre de um ambiental e o uso e a conservação seu uso. No caso da olericultura, as
conjunto amplo de fatores. Afirmar dos solos fez com que a cadeia se culturas necessitam de um volume
Graduado em engenharia agronômica, um setor que que uma região é mais tecnificada modernizasse rapidamente. O au- maior de água para se desenvolve-
ou melhor que a outra exige um mento do consumo gerado pelo rem ou mesmo para que possam
pela Universidade de Taubaté (Unitau), Renato
Abdo é também pós-graduado em gestão e oferece diversidade, estudo profundo dos fatores edá- crescimento populacional e tam- estar em conforto climático, assim
ficos (relativos ao solo), climáticos, bém a adesão de mais pessoas em as consequências de uma redução
manejo ambiental em sistemas agrícolas, pela sociais, econômicos e ambientais; busca de uma alimentação sau- da produção até mesmo sua pa-
Universidade Federal de Lavras (UFLA), e possui
mestrado em Mudança Social e Participação
qualidade, respeito não podemos comparar sem a dável disparou um processo de ralização geram um efeito cascata
Entrevista
base científica como plataforma de redução de perdas, melhoria na crítico. Os municípios que têm sua
Política, pela Universidade de São Paulo (USP).
Sua trajetória profissional é marcada
ambiental e emprego sustentação. Entre-
tanto, posso afirmar
base econômica na
produção de oleríco-
pelas ações em prol da agricultura paulista e que a tecnologia da “A modernização do acondicionamento dos las (acima de 20% do
Roberta Lage – Jornalista – Centro de Comunicação Rural
dos produtores rurais. Possui experiência em Cecor/CATI – roberta.lage@cati.sp.gov.br
produção nacional é produtos em embalagens plásticas, laváveis e PIB) devem se atentar
recuperação de áreas degradadas e plantio suficiente para suprir a um histórico quando
de mudas no campo; na sanção de portarias e as necessidades mer- higienizáveis, aumentando a segurança e a qualidade a agricultura vai mal, o
resoluções estaduais em relação às questões RCA – Como avalia a atual situação da cadológicas exigidas do alimento, é um fator muito positivo. Um fator efeito é direto no co-
de recursos hídricos, ambientais e técnicas de olericultura no Estado de São Paulo e atualmente. mércio onde os produ-
negativo que deve ser melhorado e já vem sendo tores, seus dependen-
produção agropecuária; na prestação de serviços no Brasil?
RCA - As legislações
em tecnologia da produção de olerícolas, frutas RA – O setor detém uma responsabili-
analisado são as perdas na cadeia de produção, ou tes e os trabalhadores
que regem a cadeia rurais retraem-se e
de clima temperado, pastagens e capineiras; dade social que ultrapassa as questões são suficientes? seja, a somatória das perdas de campo, no transporte, desaceleram as com-
entre outras. econômicas individuais; os produtores Quais as principais no manuseio entre mercados atacadistas e varejistas pras, seguidamente as
Atualmente, Renato é presidente da Câmara para manterem seus negócios ativos e legislações e suas indústrias sofrem com
Setorial de Hortaliças, Cebola e Alho do Estado de buscarem sua permanência no mercado determinações? e, finalmente, as perdas nos consumidores, que
a economia resfriada.
São Paulo (CSHCA); gerente do Sindicato Rural de devem produzir com qualidade, seguran- atingem níveis que devem ser trabalhados.”
RA – A legislação é Consequentemente,
Mogi das Cruzes (SRMC); e sócio-proprietário de ça e equilíbrio ambiental, disponibilizan-
ampla, os produtores a queda na disponi-
uma empresa de consultoria em agronegócios. do produtos com diversidade, condições
devem estar atentos a leis, resolu- bilidade de produtos
adequadas e rastreabilidade para toda
Nesta entrevista, Abdo afirma que a cadeia ções, portarias, decretos, instruções qualidade e aumento da produti- agrícolas geram uma alta nos pre-
população brasileira. É um setor que ali-
de olerícolas se modernizou nos últimos anos, normativas e tantas outras ferra- vidade. Todo esse desafio vem se ços, o que diminui ainda mais a
menta diariamente 200 milhões de pes-
com incremento de tecnologia, aplicação de mentas regulatórias existentes em consolidando com a implantação capacidade de compra, trazendo a
soas, responsabilidade que além de reali-
técnicas conservacionistas e atendimento às nosso País. Não existe uma única re- de tecnologia no setor, utilização reboque o desemprego no campo
zada com presteza, ainda gera empregos
exigências de mercado. Como gra, como tudo na agricultura está de ambientes protegidos, manejos e nos setores citados, assim, uma
e renda para milhões de pessoas.
desafios estão o combate ao vinculado a um conjunto de fato- modernos e sustentáveis no uso do crise hídrica se transforma em uma
O cenário acima aponta um setor de ca-
desperdício e as crises res e condicionantes, as principais solo, utilização racional de recursos crise econômica e social de impac-
racterística fundamental para a manuten-
hídrica e econômica. são tributárias, fiscais, trabalhistas, hídricos com redução do consumo to nacional. O acompanhamento
ção e desenvolvimento dos outros seto-
res, como diz o velho ditado “saco vazio ambientais e sanitárias. A revisão e de água por meio de gotejamento e monitoramento do desenvolvi-
não para em pé”. O Brasil, com sua exten- implementação dos marcos regu- e ainda a possibilidade do uso da mento dos mananciais é constante
são territorial, apresenta ainda esses con- latórios é uma constante devido às fertirrigação. para que possamos estar cientes e
Renato Abdo: trastes, mas não podemos nos acostumar inovações de técnicas de produção possivelmente evitar essas preo-
RCA - Até que ponto a questão cupações. A orientação que posso
e modernização mercadológica, as-
atuação em prol e achar que isso é comum. Mesmo assim,
sim, estar sempre em contato com
hídrica é um entrave para a pro- deixar é a mesma que diariamente
o setor e seus atores estão sempre dis- dução? Quais as principais con- ouvimos: utilizar racionalmente a
da olericultura postos e abertos a modernizações com extensionistas, assistentes técnicos
sequências e alternativas de pro- água, para que possamos utilizá-la
foco no desenvolvimento socialmente e a sua base sindical permite um
dução? Qual a orientação para sempre.
renato.abdo@ig.com.br justo, economicamente viável e ambien- acesso direto a essas adequações,
que o produtor não desanime e
talmente sustentável. evitando surpresas desagradáveis
para que o consumidor não deixe RCA – Como estão os níveis
em relação à sua atividade.
de comprar esses produtos por de importação e exportação
RCA - Comparado a outros estados e
RCA - Quais os principais avanços causa dos altos preços? das olerícolas? Faça um breve
países, como está o Brasil diante da balanço.
dos últimos 10 anos nessa cadeia
olericultura? Qual o atual perfil do se- RA – De forma geral, a agropecuária
produtiva?
tor? depende diretamente da água para RA – Atualmente, a importação é
RA – A tecnologia implantada no sua realização e o bom desenvolvi- uma constante, produtos como
RA – A comparação é difícil, cada estado setor nos últimos anos é significati- mento das atividades, as caracte- alho e o cogumelo são importados
e país têm seu potencial, suas peculia- va, a soma das exigências mercado- rísticas de cada setor determinam sem grandes barreiras ou restri-
8 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀9
Q
sendo realizado e o culdades na implan- uando me formei em 1986 e fui traba- Pecuária e Abastecimento (MAPA), ainda é inexpres-
que precisa ser me- setores da cadeia de produção, para que possam tação; a organização lhar na Cooperativa Agrícola de Cotia, no siva diante da produção e depende basicamente do
lhorado? social dos grupos e a
agilizar o desenvolvimento.” Departamento de Hortaliças, a minha área desempenho da fruta olerácea melão. Já a importa-
RA – Estrategicamen- adequação a burocra- de atuação estava restrita aos cinturões verdes, que ção cresceu 118,7%, principalmente em batata in-
te, as áreas de pro- cia são bons exem- ficavam ao redor dos grandes centros urbanos, como glesa, cebola e alho, segundo dados do Ministério da
dução de olerícolas plos, mas, assim que São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília. As Agricultura. O avanço neste quadro é um dos desafios
encontram-se nas proximidades andar de “mãos juntas” com os se- sanados, garantem aos agriculto- pessoas não tinham o hábito de consumir hortaliças e do setor, ao mesmo tempo em que a cadeia busca
dos centros urbanos; a perecivida- tores da cadeia de produção, para res, de caráter familiar, uma renda quando o faziam, o prato era composto basicamente maior conhecimento e reconhecimento, diante da
de dos produtos e o alto custo da que possam agilizar o desenvolvi- mínima anual. por alface, tomate e cebola. Passados um pouco mais real importância que assume na socioeconomia na-
distribuição levam a esse cenário, mento. Atualmente, os investimen- de 20 anos, os hábitos de consumo das famílias brasi- cional. A olericultura se posiciona entre os segmentos
assim, a otimização do transporte RCA – Quais as perspectivas para
tos nos dois pontos citados ficam a leiras mudaram e aumentou a compra de hortaliças e com maior expressão produtora no destacado agro-
é essencial para viabilizar a comer- a produção e para o consumo in-
desejar, sendo os maiores avanços frutas. Os restaurantes por quilo passaram a oferecer negócio brasileiro.
cialização e distribuição. A moder- terno, nos próximos meses/anos?
desenvolvidos e difundidos pela uma maior diversidade de produtos e as políticas pú-
nização do acondicionamento dos A produção brasileira de hortaliças cresceu 31%
iniciativa privada e cobradas do RA – O crescimento populacional blicas de compras, como a aquisição para a merenda
produtos em embalagens plásticas, entre 2000 e 2011, conforme os últimos levantamen-
setor produtivo. Visando à perma- e o crescimento de consumido- escolar deram um grande impulso na produção.
laváveis e higienizáveis, aumen- tos da Embrapa Hortaliças, os quais evidenciam que a
nência do produtor no campo, os res em busca de uma alimentação A horticultura brasileira, no decorrer dos últimos quase totalidade do incremento se deu na produtivi-
tando a segurança e a qualidade investimentos na extensão rural e saudável têm concretizado um au-
do alimento, é um fator muito po- anos, dá mostras de seu potencial produtivo, com dade, com 83,7%, graças à adoção de novas tecnolo-
assistência técnica devem ser reali- mento no consumo, entretanto, o evolução em diversos índices e condições para ir ao gias. A área praticamente não se alterou, mantendo-
sitivo. Um fator negativo que deve zados a curtíssimo prazo, o mesmo consumo ainda é muito abaixo do
ser melhorado e já vem sendo ana- encontro das demandas. Estas, no entanto, ainda não se em cerca de 800 mil hectares. Inclusive já esteve
nos centros de desenvolvimento e recomendado por organizações de correspondem às expectativas: em nível interno, o um pouco maior neste período (824 mil hectares em
lisado são as perdas na cadeia de pesquisa, para que possamos redu- saúde. O cenário mercadológico
produção, ou seja, a somatória das consumo fica aquém das necessidades; e no plano ex- 2002). Na relação com o aumento populacional, a dis-
zir os custos da modernização. é extremamente positivo, a mo- terno há poucas saídas de produtos. Embora a expor- ponibilidade também se elevou, na ordem de 17,4%.
perdas de campo (por diversos fa- dernização e o desenvolvimento
tores), com as perdas no transpor- RCA - Como avalia as linhas de tação tenha avançado 14% entre 2000 e 2011 (em nú-
tecnológico na produção também, O cultivo de hortaliças é uma atividade agroeco-
te, as perdas no manuseio entre crédito oferecidas ao produtor, meros, o aumento ficou em 33 mil toneladas),
resta então analisar as variáveis nômica que é realizada por micro, pequenas,
mercados atacadistas e varejistas e, para que ele possa incrementar estatística indicada pelo Ministério
como as crises econômica e hídrica, médias e grandes propriedades, localizadas
finalmente, as perdas nos consumi- suas atividades? da Agricultura,
que até o momento não há defini- tanto no interior, quanto nas proximidades
dores, que atingem níveis que de- RA – Posso dividí-las em três gru- ção específica. dos grandes centros urbanos. O cultivo de ver-
vem ser trabalhados. pos distintos: agricultura familiar, duras e legumes gera mais lucro por hectare
RCA – Deixe uma mensagem aos do que outras culturas, sendo que as hortaliças
RCA - Qual a importância da ex- agricultura empresarial de micro,
produtores rurais e extensionis- em sistemas de produção em campo aber-
tensão rural, da pesquisa e da pequeno e médio porte e agricul-
tas que trabalham com olericul- to exigem investimento médio inicial de
tecnologia para a manutenção tura empresarial de grande porte.
tura. US$ 1 mil a US$ 5 mil por hectare, e geram
do olericultor no campo e para a Cada grupo apresenta suas carac-
terísticas e sua relevância nacional, RA – Somos todos brasileiros e não mais lucro a cada hectare cultivado, quando
melhoria constante da qualidade
entretanto, o grupo da agricultura desistimos nunca, essa velha máxi- comparada a outras culturas, como os grãos.
da olericultura?
empresarial de micro, pequeno e ma define bem esses atores do se- Estima-se que cada hectare de
RA – A pesquisa e a tecnologia médio porte fica sem uma defini- tor. Somente com força e união, de hortaliças gere, em média, entre
são a base do desenvolvimento ção de política pública específica, pessoas comprometidas e sérias, três e seis empregos diretos e
de qualquer setor, mas não adian- o que o torna responsável pelos poderemos manter e desenvolver a um número idêntico de empre-
ta criar e elaborar sem difundir e seus aportes e buscas de setores de olericultura nacional. gos indiretos, sendo que a soja
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Fotos: Banco de Imagens – Cecor/CATI
e o milho geram 0,4 empregos/ha. Estima-se que de lhosas, entre 2008 e 2009, foi de 4kg/por pessoa/ano se acentuando a cada dia. No Estado de São Paulo gia vem permitindo cultivar onde antes era necessário
8 a 10 milhões de pessoas dependem da olericultura. e as demais hortaliças de 12kg/por pessoa/ano, o que surgiram diversos cinturões verdes ao redor de cida- trazer produtos das áreas serranas. (“Anuário Brasileiro
Por isso, apesar das variações cíclicas e sazonais das ainda é pouco se comparado com outros países. des como Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, Presidente de Hortaliças 2013” e Instituto de Economia Agrícola
hortaliças, os negócios no setor vêm sendo bastante Em relação à comercialização, também de acordo Prudente, só para citar algumas delas. Tanto em São (IEA)/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
atrativos. Em condições normais de mercado, estima- com o MAPA, estima-se que entre 55% e 60% do vo- Paulo como no Brasil, são praticamente os mesmos Estado de São Paulo).
se que as hortaliças gerem renda entre US$ 2 mil e lume de hortaliças são comercializadas pelos merca- produtos da olericultura que se destacam. Sem levar
US$ 20 mil por hectare (campo aberto). Essa variação em conta a mandioca, sobressaem-se a batata inglesa Desafio: fazer as hortaliças chegarem a um
dos atacadistas, que movimentam uma média anual número maior de pessoas
acontece porque os lucros obtidos dependem do va- de 15 milhões de toneladas de hortaliças oriundas da e o tomate (para mesa e industrial), que no território
lor agregado do produto e da conjuntura de mercado. produção nacional e importada, totalizando um valor paulista ocupam, respectivamente, 26,2 mil, 8,5 mil A cabeça de todo mundo sempre relaciona frutas
Além disso, a maior rentabilidade da cultura é condi- no atacado superior a R$ 10 bilhões. Porém, o cresci- e 3,5 mil hectares. A produção de cada um deles, em e hortaliças frescas com o que é natural, saudável,
cionada ao alto nível tecnológico, incluindo cultiva- mento do setor varejista, principalmente do chamado 2011, pela mesma ordem, alcançou 665 mil, 587 mil e previne doenças, saboroso, tem frescor e oferece di-
res/híbridos mais produtivos e manejo adequado da “atacarejo”, que reúne em um só local o comércio va- 276 mil toneladas. Ainda passam de 200 mil tonela- versidade ao paladar e aos olhos. O distanciamento
cultura. rejista e atacadista, vem crescendo muito nos últimos das, no mesmo Estado: a beterraba, a cebola, a melan- entre o consumidor e a agricultura cresce com a urba-
anos e, em breve, deve ultrapassar o setor atacadis- cia, o repolho e as alfaces. nização e com o crescimento das grandes metrópo-
As frutas e hortaliças são ainda sinônimos de facili-
ta na comercialização de hortaliças. Adicionalmente, les. Segundo a Organização das Nações Unidas para
dade de preparo e consumo (o fast food do tempo das O Sudeste brasileiro concentra a maior parcela
existem os processos de vendas diretas por produ- Alimentação e Agricultura (FAO), o cultivo de frutas
cavernas), de sobrevivência digna para o pequeno e da produção de hortaliças, destacando-se também
tores, em geral destinadas às feiras livres locais, aos e hortaliças nas cidades e seus arredores aumenta a
para o médio produtor, de fartura de empregos, de Minas Gerais, que inclusive aparece na primeira po-
sacolões, supermercados ou mercados sobre veículos. oferta de produtos frescos e nutritivos e melhora o
alimentação barata, de oportunidade de diferencia- sição no último Censo Agropecuário do IBGE (2006),
acesso econômico dos pobres aos alimentos.
ção no varejo, de sobrevivência do pequeno e médio No continente europeu, já é hábito muito antigo levando-se em conta o número de estabelecimentos
varejista, de margem alta para o varejo e de um nú- o consumo de hortaliças, que são produzidas em sua dedicados à atividade: 5.449 unidades, do total de Segurança alimentar significa que as pessoas po-
mero infinito de novos bons negócios. grande maioria por pequenas propriedades, mas com 27.374 no Brasil. O Sul igualmente é forte no setor. O dem produzir suficientes alimentos, ou comprá-los,
tecnologia embutida. Mas há muitas hortas urbanas, Paraná, inclusive, ocupava então a segunda posição para satisfazer suas necessidades diárias a fim de levar
Os consumidores têm redirecionado a produção
espalhadas pelas cidades. no País entre os estados com mais produtores: 3.857 uma vida ativa e saudável. Em muitas das cidades em
no setor. Além dos tradicionais produtos in natura,
propriedades, posicionado logo após São Paulo neste desenvolvimento do século 21, todas estas condições
as indústrias processadoras vêm ampliando a oferta São Paulo: maior setor produtivo de
item. Nos últimos anos, por outro lado, tem sido veri- da segurança alimentar estão ameaçadas. As famílias
de produtos, seja na forma de vegetais conservados, olerícolas do Brasil
ficada maior descentralização da produção, que apa- urbanas pobres gastam até 80% de sua renda em ali-
gelados ou supergelados, desidratados e liofilizados, No Brasil, o Estado de São Paulo possui o maior se- rece de forma mais expressiva e extensiva em outros mentos, o que as tornam muito vulneráveis quando
seja como hortaliças minimamente processadas. As tor produtivo de olerícolas do Brasil, com 20% da pro- pontos, como Goiás, no Centro-Oeste. Na Bahia, líder os preços dos alimentos sobem ou sua renda dimi-
transformações na cadeia de hortaliças têm sido guia- dução, e o principal mercado consumidor, que absor- no Nordeste, também aparece em evidência a expan- nui. A horticultura urbana e periurbana ajuda as cida-
das pelas demandas dos consumidores que buscam: ve 22% do que é produzido. Em 2011, computadas 11 são da olericultura em polos como Irecê e Chapada des em desenvolvimento a enfrentar esses desafios.
qualidade, conveniência, alimento seguro e saudável culturas, a quantidade colhida chegou a 2,7 milhões Diamantina. A região serrana do Rio de Janeiro obser- Primeiro, contribui para o fornecimento de produtos
e inovações/novas experiências. As hortaliças produ- de toneladas, em 86 mil hectares, segundo informa- vou uma grande expansão do cultivo, o mesmo acon- frescos, nutritivos e disponíveis o ano todo. Segundo,
zidas em sistemas orgânicos também vêm conquis- ções do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Hoje, tecendo no Norte e Nordeste do Brasil. A cidade de melhora o acesso econômico dos pobres aos alimen-
tando cada vez mais consumidores. podemos afirmar que ainda temos uma concentração Salvador tem hoje uma região de cultivo de hortaliças tos quando a produção familiar de frutas e hortaliças
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia nos chamados cinturões verdes, mas o desenvolvi- que chega a se expandir em uma raio de 100km da ci- reduz os gastos com alimentos e quando os produto-
e Estatística (IBGE), no Brasil o consumo médio de fo- mento e a expansão do cultivo fora destes locais vêm dade e, principalmente, nas áreas costeiras, a tecnolo- res obtêm renda com as vendas.
12 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀13
na produção de hortaliças
das na análise de solo e no tipo de cultura; não devem meio ambiente.
ser aplicadas doses sem controle ou sempre as mes-
mas quantidades do adubo ou corretivo, é importan-
te também que estes sejam aplicados no momento
Henrique Bellinaso – Engenheiro Agrônomo, MSc. – CATI Regional Piracicaba – henrique.bellinaso@cati.sp.gov.br correto. Devem ser adotados programas de controle
de pragas e doenças, sempre priorizando medidas
B
oas Práticas Agrícolas (BPA) são o conjunto de prevenção como uso de variedades tolerantes ou
Henrique Bellinaso
de ações e recomendações técnicas realiza- resistentes; limpeza do local, não deixando restos de
Henrique Bellinaso
das durante toda a produção, colheita e pós- culturas passadas; uso correto da irrigação e nutrição
-colheita de determinado produto agrícola, até que equilibrada, entre outras. Quando necessária, a apli-
esse chegue ao consumidor, como um alimento que cação de agrotóxicos deve ser baseada no monitora-
seja seguro para o consumo e produzido de maneira mento e na detecção de pragas e doenças; deve ser
sustentável. Além disso, as BPA garantem melhores usada dosagem correta dos produtos, além dos de-
condições de trabalho e segurança aos produtores e mais itens já comentados anteriormente. No caso do do principalmente para sua higienização. Quanto à
trabalhadores rurais, assim como um produto final de uso de controle biológico, deve haver maior atenção mão de obra, é preciso estar atento à saúde dos traba-
maior qualidade, que atende às exigências do merca- aos horários adequados para uso dos mesmos, além lhadores, os quais devem ter acesso a boas condições
do. É bom lembrar que alimento seguro é aquele que de serem seguidas todas as recomendações dos fabri- de higiene, com instalações sanitárias adequadas. É
não apresenta risco à saúde do consumidor, ou seja, cantes. Deve haver controle de plantas espontâneas de grande importância, para sucesso da adoção das
aquele que não oferece perigos químicos, físicos ou (plantas daninhas). Boas Práticas, a realização constante de capacitações
microbiológicos. Neste texto serão abordadas as Boas dos trabalhadores.
Práticas Agrícolas de produção. Sistema de irrigação Boas Práticas na gestão da propriedade são funda-
por gotejamento para
Quando se fala de BPA na produção de hortaliças mentais para o sucesso econômico da atividade, para
economia de água.
Henrique Bellinaso
nos diversos sistemas disponíveis, duas atividades ro- isso recomenda-se que o produtor adote o uso de do-
tineiras na produção devem receber maior atenção cumentação e controle de fornecedores de insumos,
por parte do agricultor, para que o seu produto seja ção (não armazenar juntamente com insumos e ferra- da entrada e saída de recursos, das práticas do manejo
seguro para a saúde do consumidor: a qualidade da mentas); evitar contaminação de mananciais; instruir da irrigação, do uso de defensivos, do controle de pra-
água utilizada na irrigação e o uso adequado de agro- os trabalhadores no uso correto dos Equipamentos de gas e doenças, da aquisição de insumos e da venda
tóxicos, especialmente no cultivo de culturas em que Proteção Individual (EPIs); aplicar produtos registra- dos produtos. Além disso, é importante a padroniza-
as partes aéreas da planta são consumidas, como é o dos para a cultura; não realizar misturas de diferentes ção das tarefas, por isso é recomendável a criação de
caso da alface, da rúcula, da couve, do pimentão, do produtos na mesma calda; respeitar o período de ca- documentos que descrevam cada atividade realizada
tomate, do brócolis, entre outras. rência do produto; realizar aplicações somente quan- na propriedade.
do necessário; e atentar para as condições ambientais Adubação verde de
A água utilizada na irrigação pode apresentar con- durante a aplicação (calor, umidade relativa do ar e Boas Práticas Agrícolas no Projeto CATI
inverno (aveia preta)
taminantes biológicos que podem trazer doenças ao velocidade dos ventos). Olericultura
para preparo em estufa
consumidor. Recomenda-se que, sempre que possível, de futuro plantio de
o produtor faça análises microbiológica e parasitoló- Além dos cuidados específicos com a água e os Em 2014, a CATI desenvolveu o Protocolo de Boas
pimentão. Práticas Agrícolas, utilizado como uma ferramenta
gica. Não deve ser utilizada água de córregos, açudes, agrotóxicos, outras práticas são essenciais. Primeiro
lagos ou rios que recebem esgoto doméstico sem que deve ser realizado um correto planejamento de ações, que auxilia os técnicos na orientação aos produto-
essa seja tratada, ou seja, o produtor deve estar aten- começando pela escolha do local para o plantio, o res rurais. O Protocolo consiste em um conjunto de
to quanto ao local de captação. Quando utilizar água qual não deve possuir alta declividade, para mini- Na infraestrutura devem existir depósitos para perguntas ou tópicos, sendo que para cada resposta
de poços artesianos ou cisternas de armazenamento, mizar problemas de erosão. Também é preciso estar armazenamento dos equipamentos utilizados, de existe uma recomendação correspondente. Ao final
o produtor pode realizar o tratamento com cloro. O atento ao histórico da área, verificando se no solo insumos e de agrotóxicos, bem como instalações sa- do preenchimento é possível estabelecer um retrato
sistema de irrigação deve ser bem dimensionado, de não há presença de contaminantes como, por exem- nitárias para uso dos trabalhadores. Quando se trata da propriedade, apontando os pontos críticos que de-
acordo com a atividade e situação local. Por causa dos plo, resíduos industriais. Deve-se verificar também as da produção em estufas (ambiente protegido ou plas- vem ser trabalhados prioritariamente. Recomenda-se
atuais problemas de escassez hídrica é recomendado áreas ao redor da produção, observando se não há ticultura), alguns cuidados são essenciais para uma a aplicação do Protocolo na mesma propriedade, pelo
que sempre se opte por sistemas que utilizem menor risco de contaminação externa derivada de agrotóxi- boa produção: a localização delas, atentando para menos a cada seis meses, para verificar se houve me-
quantidade de água. Ao usar mulching plástico, reco- cos, esgoto, entrada de animais domésticos ou ainda condições de iluminação e direção predominante dos lhoria nas ações desenvolvidas na propriedade. Bem
menda-se a adoção de irrigação por gotejamento. Em água contaminada. É preciso verificar ainda, se a área ventos; a sua estrutura, que deve ser bem dimensio- aplicada, essa ferramenta pode servir de diferencial à
sistemas que utilizam irrigação por aspersão, deve-se possui acesso a pontos de captação de água boa para nada; a altura do pé-direito, a qual está relacionada ao comercialização pelo produtor, que pode obter me-
atentar aos horários corretos para realizá-la, isso é ne- irrigação, bem como se está livre do acúmulo de lixo. calor e seus efeitos nas plantas; o uso do plástico e/ou lhores condições de remuneração.
cessário para que haja menor incidência de doenças e tela de boa qualidade, os quais devem ser resistentes
No plantio e na condução da cultura é impres- à ação dos raios UVA-UVB. Além disso, as casas e os sa- Para receber mais informações, esclarecimentos ou orientações,
perda de água por evaporação. cindível que sejam realizadas análises de solo (física, nitários devem possuir fossas sépticas para tratamen- incluindo o Protocolo de Boas Práticas Agrícolas, o produtor deve
No uso de defensivos, o produtor deve possuir lo- química e biológica); usadas sementes ou mudas de to do esgoto. Os equipamentos utilizados na colheita procurar a Casa da Agricultura do seu município.
cal de armazenamento adequado conforme a legisla- boa qualidade; escolhidas espécies e/ou variedades devem ser inspecionados constantemente, atentan-
14 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀15
Hortaliças de qualidade:
A
Adoção de BPA nos pontos de comercialização
dquirir uma fruta ou hortaliça com qualidade que são selecionadas para a adequação a um determi-
e segurança é direito inalienável do consumi- nado uso; os atributos sensoriais (coloração, formato, As Centrais de Abastecimento (Ceasas) são os
dor e, por consequência, dever a ser cumprido gosto, aromas e sabor); o valor nutritivo; os constituintes pontos de concentração física da produção de hor-
por todos os elos das cadeias produtivas de hortícolas. químicos; as propriedades funcionais ou nutracêuticas; tifrutigranjeiros e flores oriundos das diversas regi-
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078, de e os defeitos. ões do País. No Estado de São Paulo, a Companhia
11/9/1990) estabelece direitos básicos como garantia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo
No segundo nível, uma parcela menor, mas já bas- (Ceagesp), empresa pertencente ao Ministério da
da qualidade, aquisição de alimentos seguros e informa-
tante significativa, de compradores finais preocupa-se Agricultura, Pecuária e Abastecimento, engloba 13
ções claras e precisas sobre o que está sendo comprado.
com a questão da segurança do alimento, ligada a fa- entrepostos atacadistas além de manter uma rede pú-
E para garantir esses direitos ao consumidor final, boa
tores como a quantidade de resíduos de agrotóxicos, blica com 34 unidades (ativas, locadas ou cedidas) de
parte dos produtores hortícolas ainda precisa inserir as
presença de micro-organismos causadores de doenças armazéns, silos e graneleiros. O Entreposto Terminal
chamadas Boas Práticas Agrícolas (BPA) nos seus siste-
e de metais pesados. E, finalmente, no terceiro nível, de São Paulo (ETSP) da Ceagesp é a maior central de
mas de produção.
um número menor de pessoas, mas com tendência ao distribuição da América Latina, sendo abastecido por
O conceito de qualidade de um alimento engloba crescimento, se atenta para os aspectos ambientais e so- mais de 1.300 municípios brasileiros, 16 países, res-
não só as características de sabor, aroma, aparência e ciais da produção, evitando a compra de produtos que ponsável pela comercialização de cerca de 12% da
padronização, mas também a preocupação em ofertar afetem demasiadamente o meio ambiente no processo produção nacional de produtos hortícolas in natura e,
produtos que não causem danos ou ameaças à saúde. produtivo ou que este não cumpra adequadamente as ainda, por 33% do volume de cereais, hortícolas e pes-
Nesse aspecto, o valor nutricional e a segurança do ali- obrigações sociais. Diversos protocolos de certificações, cados comercializados em todas as Ceasas do Brasil.
mento ganham cada vez mais importância por estarem como a Produção Integrada e a Produção Orgânica do
relacionados diretamente ao bem-estar das pessoas. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento No entanto, a dinâmica da comercialização das fru-
(MAPA), algumas independentes e diversas estrangeiras, tas e hortaliças nas Ceasas muitas vezes não atende
O grande sucesso de produtores que conseguiram a todos os requisitos das Boas Práticas. O grande vo-
se propõem a dar essas garantias. Todos esses protoco-
associar seus nomes ou marcas a produtos com atri- lume diário de comercialização aliado ao manuseio,
los se baseiam nas BPA. Concluindo, um produto hor-
butos superiores indica que esse é o primeiro passo no muitas vezes excessivo, geram toneladas de resíduos
tícola apto a ocupar os melhores nichos do mercado é
caminho da diferenciação. Nos últimos anos, são vá- (madeira, palha, papelão, plástico pescado e descar-
aquele que consegue atender aos três níveis de exigên-
rios os exemplos, principalmente no melão, no mamão tes); sendo assim, os produtos hortícolas que são ex-
cias dos consumidores.
‘Formosa’, nas mangas colhidas maduras, nos tomates tremamente sensíveis às condições ambientais e de
italianos, entre tantos outros. Provavelmente, a grande A segurança dos alimentos só pode ser alcançada manuseio, podem vir a desenvolver estresses e desor-
quantidade de programas especializados em culinária com a adoção das BPA, com métodos de organização e dens fisiológicas que comprometem sua qualidade e
e gastronomia nas televisões aberta e paga, juntamen- higiene necessários para garantir a seguridade na pro- o seu valor comercial durante as etapas de pós-colhei-
te com publicações e sites da internet voltados a esses dução, na seleção de fornecedores, no manuseio, na em- ta (produção, comercialização e consumo).
temas, estejam criando rapidamente uma maior cultura balagem, no transporte, no armazenamento, no recebi-
gastronômica no País e, consequentemente, consumi- mento, na distribuição, na exposição e na comercializa- As práticas de manuseio pós-colheita são tão im-
dores mais exigentes e predispostos à experimentação ção, adotando-se ou não um Protocolo de Certificação e, portantes quanto as práticas culturais. De nada adian-
e à busca por produtos diferenciados. ainda, investindo na capacitação de toda a equipe. ta a utilização de moderna tecnologia agrícola visan-
do ao aumento da produção de alimentos, se esses
Pode-se considerar que as exigências ou os desejos Todas as empresas que trabalham com alimentos de- não forem convenientemente aproveitados.
dos consumidores estejam situados em níveis básicos. vem, por exigência da Lei, adotar Boas Práticas Agrícolas
No primeiro nível, estão as características qualitativas e Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs), os Todos os que trabalham com alimentos em toda a
extrínsecas e intrínsecas, ou seja, aquelas que levam ini- quais descrevem, de forma simples e objetiva, as práti- cadeia de produção e consumo são responsáveis não
cialmente a uma maior atratividade no ponto de venda cas e rotinas realizadas no estabelecimento, estabele- só pela saúde, mas também pelo bem-estar e pela
e, posteriormente, à maior satisfação e ao prazer no mo- cem os responsáveis por cada tarefa, a frequência e os satisfação do consumidor. É essencial adotar proce-
mento do consumo. Nesse patamar se adequa muito a horários de sua realização, além de listarem os materiais dimentos de rotina que garantam a segurança dos
qualidade e excelência de frutas e hortaliças in natura, exigidos para a realização de cada atividade. produtos.
16 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀17
A
cultura.
Comercialização e Marketing
apresentava falhas de planejamento, na produção e
na distribuição; entretanto, pelo ainda baixo consumo
e pela falta de planejamento das cidades, mantinham Lilia
n Cer
a distribuição de forma direta. O consumo estava fo- vei
de Hortaliças
ra
– Ce
cado basicamente em produtos in natura ou semipro- co
r /C
AT
cessados. Com o aumento do interesse pelo autosser-
I
viço em comercializar produtos frescos, a redução da
participação das feiras livres na distribuição desses
Renato Augusto Abdo – Engenheiro Agrônomo, MSc. – Sindicato Rural de Mogi das Cruzes – Presidente da Câmara Setorial de Hortaliças, produtos foi reduzida. A comercialização de horta-
Cebola e Alho da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA) – renato.abdo@ig.com.br liças pelo autosserviço inicialmente era vista como
Gilberto J. B. de Figueiredo – Engenheiro Agrônomo – Gestor Estadual do Projeto CATI Olericultura – Casa da Agricultura de Caraguatatuba – uma estratégia de atração de consumidores aos pon-
CATI Regional Pindamonhangaba – gilberto.figueiredo@cati.sp.gov.br tos de venda e a rentabilidade era baixa em relação
aos outros itens oferecidos. A estratégia de atração
A
tualmente, os desafios para a distribuição de últimos anos no mercado atacadista. Sua distribuição funcionou e ainda passa a interferir no hábito de con-
hortaliças estão na necessidade de atender tradicionalmente ocorria por meio das Centrais de sumo. O que não se esperava era que essa estratégia
os consumidores modernos, mais exigentes Abastecimento (Ceasa) estaduais. Nestas, a maior par- dos supermercados contribuiria para mudar o hábito
por qualidade e produtos diferenciados. Este desafio cela de suas atividades comerciais se caracteriza como de consumos das pessoas. Porém, com a concorrência
foi, é e será mais complexo quando depara-se com transações do tipo spot (pagamento à vista e entre- direta das grandes redes varejistas e dos varejões ou
o setor no qual o produto depende diretamente de ga imediata da mercadoria). Outro tipo de mercado sacolões, essas lojas devem realizar uma mudança na
um conjunto amplo de fatores para ser produzido. atacadista é realizado por empresas profissionais in- postura para garantir a sua sobrevivência.
Estamos nos referindo às olerícolas, seres vivos que dependentes, que trilharam novos caminhos comer- Consolidando esta forma de varejo, que se carac-
precisam de água, temperatura, umidade, nutrição, ciais, os mercados de autosserviço, que passaram a teriza não somente em disponibilizar ao consumidor
luminosidade, controle e combate de pragas doenças exigir maior eficiência no sistema comercial, aceleran- produtos de qualidade mas, também, se preocu-
e plantas invasoras para o seu pleno desenvolvimen- do o processo de modernização do mercado. Nesse pa com fatores como conveniência e localização, a
to. Esses fatores desafiam o setor a implantar sistemas sentido, os atacadistas profissionais e independentes maioria dos supermercados vem adquirindo as FLVs
de padronização, classificação e embalagens, dificul- assumem a distribuição com maior eficiência, além de (frutas, legumes e verduras), especialmente as horta-
tando a implementação da rastreabilidade dos pro- criarem formas diferenciadas de distribuição, como as liças, diretamente dos produtores. Visando garantir
dutos e o próprio desenvolvimento das operações de centrais de compras, e adotam sua própria distribui- a qualidade e a procedência dos produtos ofertados um intermediário, distribuidor, atacadista ou varejis-
mercado. ção. Esses novos fornecedores localizam-se próximos aos consumidores modernos e exigentes, as redes de ta, o nosso verdadeiro cliente é o consumidor final.
às áreas de produção e abastecimento pela alta pere- varejo passaram a exigir dos produtores a rastreabili- Assim, é a ele que devemos conquistar por intermé-
Com esta realidade, novas formas de comercia- dio de nossos produtos, os quais precisam satisfazer
cibilidade das hortaliças, atuam também no abasteci- dade dos produtos, disparando um processo de mo-
lização passam a ser realizadas, como a distribuição seus desejos e anseios, seja por uma alimentação
mento dos mercados de pequeno e médio porte, por dernização e adequação tecnológico no campo, onde
direta dos produtores. A comercialização direta do mais natural, pela beleza do produto e sua apresen-
conseguirem embalagens de volumes variados e uma todas as ações, os procedimentos, processos realiza-
produtor foi um passo fundamental para a agregação tação, ou pelo preço justo etc. O consumidor compra
diversidade de produtos que acabam por formar um dos e produtos utilizados devem estar registrados,
de valor aos produtos e o aumento da renda da ati- aquilo que deseja, não aquilo que é necessário so-
mix, o que dinamiza a compra por parte desse seg- catalogados e identificados por lotes de produção, a
vidade. Assumir mais uma parte da cadeia produtiva, mente. Num momento de crise como o que estamos
mento de mercado. Todo esse processo inicia a evo- ponto de permitir a logística reversa dos produtos,
como a logística de distribuição, ocasiona um acúmu- vivendo, ele até pode buscar restringir suas compras
lução na cadeia produtiva, onde o próprio mercado identificando, quando necessário, os pontos falhos
lo de funções que podem prejudicar o negócio, caso em razão do dinheiro disponível, mas a vontade fica
não seja realizado da maneira correta. Assim, o produ- de autosserviço (que hoje conhecemos como varejo), nos processos de produção, manejo e distribuição
para suprir as necessidades dos consumidores, passa dos produtos, não somente em relação ao produtor, lá, reprimida à espera do momento certo. Estudos da
tor rural deve passar por uma transformação profis- Universidade de Oxford indicaram que o ser humano
sional, se capacitando e aprimorando suas técnicas de a se abastecer diretamente dos produtores. mas em todo percurso logístico da produção.
carrega uma herança genética que dá preferência por
produção e administração e se tornar um empresário Antigamente, no mercado varejista a distribuição Atualmente, estar inserido na cadeia de produção alimentos gordurosos e doces, pois evoluímos para
rural. de hortifrutigranjeiros era realizada, com maior im- de olerícolas requer conhecimento técnico especí- o que somos hoje graças a esses produtos. Assim, a
O segmento de hortaliças foi o principal respon- portância, pelas feiras livres. Nessa época, a estrutu- fico em diversas áreas de atuação, como tecnologia indústria de sementes de hortaliças vem trabalhando
sável pelas mudanças mercadológicas ocorridas nos ração da cadeia produtiva de hortifruti era precária, de produção, Boas Práticas Agrícolas, gerenciamento para produzir alfaces, repolhos e outros produtos cada
de recursos humanos, gestão empresarial, ações e es- vez mais adocicados, seguindo o mesmo caminho já
tratégias de marketing, logística e meteorologia, para trilhado pelas frutas. Mas, o que isso tem a ver com o
que o produtor possa permanecer ativo no mercado, marketing? Satisfazer “desejos e necessidades” mesmo
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI
produzir com qualidade, volume, diversidade, garan- quando estão ocultos (quando o consumidor não tem
tindo a saúde do consumidor e do planeta. ciência desse fato), pois ao provar dois alimentos é o
Mas, afinal, qual é o significado de marketing ? mais doce, o mais bonito, o mais cheiroso que acaba
Segundo o professor Theodore Levitt, da universi- sendo comprado, muitas vezes independente do va-
dade americana de Harvard, um dos primeiros a usar lor nutritivo ou do preço.
a palavra “globalização” e autor de numerosos artigos Os 4 “P”s do marketing
no tema, “marketing é tudo aquilo que fazemos para Qualquer um pode desenvolver na propriedade
conquistar e manter um cliente”. Simples assim. Num uma estratégia de marketing, que nada mais é do que
primeiro momento, devemos entender que mesmo “convencer” o consumidor a comprar nosso produto.
que comercializemos nossos produtos por meio de Existe uma metodologia muito simples a ser seguida,
20 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀21
N
pecial atenção à criação de uma marca, pois estudos
do Paraná, recentemente, foi criada uma lei exigindo o dicionário Aurélio, tendên- e as revendas agrícolas, ou seja, o agri-
do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
que os pontos de venda, sejam quais forem, tenham cia quer dizer: "aquilo que cultor familiar compra insumos agríco-
Empresas (Sebrae) comprovam que produtos com
informações claras sobre o produto (frutas e horta- leva alguém a seguir um de- las a preços muito altos.
marca chegam a receber até 30% a mais, pois acredi-
liças) indicando nome, endereço e informações que terminado caminho ou a agir de certa A pergunta é: o que fazer?
ta-se que em geral tenham uma maior preocupação
identifiquem o produtor. E esta é uma tendência que forma". Na comercialização de hortali-
com os aspectos de seleção e padronização, além de O primeiro passo a ser dado é que
veio para ficar. O marketing faz parte da vida das pes- ças, o caminho que a maioria está se-
estarem acondicionados em uma embalagem com os produtores rurais devem se profis-
soas nas ações mais corriqueiras como para conseguir guindo ou a forma como irá agir é que
maior apelo visual e que ofereça proteção e conser- sionalizar na gestão administrativa
um bom emprego, uma boa imagem, melhorar a re- indica a probabilidade de sucesso ou
vação do produto. A marca pode e deve acentuar de suas propriedades rurais e de suas
muneração. Não é diferente na atividade agrícola e fracasso que um produtor irá obter na
propriedades que interessam ao consumidor, como associações e cooperativas, além de
em nenhuma outra atividade. Então, não tenha receio atividade. Aquele que indica o cami-
sabor, cheiro, valores nutricionais, valorização visual, focarem no desenvolvimento de suas
do marketing, pratique e o coloque a favor dos seus nho tem maiores chances de sucesso
segurança alimentar, entre outros. Feito isso, a próxi- próprias agroindústrias, agregando va-
interesses. mas, para isso, ele deve ter uma visão
ma etapa é procurar trabalhar o preço, pois sabemos lor, bem como construindo produtos
que para o produtor rural nem sempre é fácil estipular apurada da cadeia como um todo e,
diferenciados, com marca própria.
um preço, visto que muitas vezes é a lei da oferta e Lilian C principalmente, conhecer seus consu-
erv
eira midores. Dados do Serviço Brasileiro de
procura. Porém, é possível passar a ter um rigor –C
ec
or Apoio às Micro e Pequenas Empresas
com os custos de produção, o transporte e a Sabemos que a maior parte do va-
(Sebrae – SP) indicam que produtos
/C
Outra característica importante é a diminuição do Assim, é fundamental que o produtor esteja infor-
jo, onde se enquadram aqueles que trabalham dire- 44%, sendo que, em 2020, essa parcela será de 78%,
tamente com o consumidor final, como é o caso de segundo dados do Banco Mundial. Isso indica que, ao
supermercados, mercearias, quitandas e, mais recen- plantar hortaliças, os produtores devem estar atentos
temente, das butiques de hortifrutis. Nesses locais, a esses números, no momento de escolher as varie-
a preocupação com a aparência final do produto, o dades.
24 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀25
adubação de hortaliças
cimento de nitrogênio fixado da atmos-
fera por plantas leguminosas; produção
de fitomassa para formação da cobertura
morta (mulching). A economicidade da
adubação verde deve ser comparada com
Paulo Espíndola Trani – Engenheiro Agrônomo, doutor e pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas – Agência Paulista a rotação de culturas, sistema de produ-
de Tecnologia dos Agronegócios (Apta/SAA) – petrani@iac.sp.gov.br ção onde plantas de diferentes famílias
botânicas são cultivadas até a colheita e
A
podem proporcionar uma renda extra ao
s hortaliças constituem um grupo de plantas É fundamental realizar as análises química e físi- produtor de hortaliças.
com características próprias de cultivo, com ca do solo da área a ser cultivada com hortaliças. As
o uso intensivo do solo e da água de irriga- amostras compostas (resultado da mistura de pelo • Adubação mineral
ção, requerendo também a utilização de quantidades menos 12 subamostras) devem ser coletadas sepa- As quantidades recomendadas de ma-
elevadas de calcário e fertilizantes, podendo repre- radamente, conforme os diferentes tipos de solo da cro e micronutrientes, no plantio e em
sentar 20% a 25% do custo total de produção. propriedade e, também, de acordo com o histórico da cobertura, baseiam-se nos resultados de
área a ser utilizada. análise do solo, da análise foliar e na exi-
Recomenda-se o preparo do solo e a construção
vouras de tomate do Estado de São Paulo, especial- textura do solo, os espaçamentos entre linhas, entre
mente aquelas situadas no sudoeste paulista. plantas e o tipo de irrigação utilizada. Em solos argi-
dratado), proporcionando os conhecidos efeitos be-
• Calagem losos ou orgânicos, os adubos minerais devem ser
néficos às plantas. Vale ressaltar ainda, que o fósforo
aplicados nos sulcos de plantio ou em covas. A apli-
A distribuição do calcário, aos 60 dias antes solúvel disponibilizado em quantidades adequadas
cação localizada melhora o efeito do fósforo, devido à
do plantio, deve ser feita a lanço, de forma manual no solo favorece a absorção de nitrogênio e de mag-
menor fixação pelo solo. Em solos arenosos, a aplica-
ou mecanizada, em área total, desde a superfície até nésio pelas plantas, por conta do sinergismo entre
ção localizada de fórmulas NPK (nitrogênio, fósforo e
20cm a 30cm de profundidade. A quantidade do cor- esses nutrientes quando presentes em quantidades
potássio) com alto efeito salino, nos sulcos de plantio,
retivo de acidez é determinada pela análise de solo equilibradas na solução do solo.
pode ser danosa ao desenvolvimento inicial de algu-
e o seu Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT). mas hortaliças, razão pela qual quando aplicados em A liberação dos nutrientes para as plantas é mais
Canteiros bem formados em Para as hortaliças em geral, recomenda-se realizar a altas doses, devem ser esparramados na área total dos eficaz se a fórmula de cobertura for aplicada próxima
horta no Sítio dos Mendonça, em calagem para se atingir a saturação por bases do solo canteiros. às raízes das plantas em crescimento e coberta com
Campinas (SP). de 80% (que na literatura técnica sobre o assunto é o solo. Recomenda-se parcelar as coberturas com fer-
identificada como V). A irrigação do solo, após a apli- • Adubação mineral em cobertura
tilizantes, de acordo com a marcha de absorção de
cação do calcário, tornará mais rápida a sua ação cor- A maior parte do nitrogênio (80% a 90%), de 50% nutrientes da cultura e a orientação técnica do enge-
Quando do cultivo de hortaliças em áreas de decli- retiva. a 60% do potássio e 20% a 30% do fósforo são forne- nheiro agrônomo da CATI. Podem ser utilizados tanto
ve acentuado, é fundamental a execução de práticas • Adubação com fertilizantes orgânicos e aduba- cidos em cobertura para a maioria das culturas, con- os fertilizantes sólidos, de solubilização gradual, apli-
conservacionistas, como a construção de terraços e ção verde forme pesquisas realizadas e observações de campo. cados manualmente ou com máquinas, bem como
curvas de nível, para se evitar as perdas do solo e de Vale observar que a aplicação de fósforo em cober- aqueles altamente solúveis, por meio da fertirrigação.
Os fertilizantes orgânicos têm importante função tura, nas proporções máximas de 1:4 a 1:3 de P2O5
água por erosão. O sistema de semeadura direta cons- A escolha da melhor maneira de aplicação deve consi-
na manutenção e na melhoria das propriedades físi- (pentóxido de fósforo) em relação ao N (nitrogênio)
titui-se também em uma boa alternativa ao produtor derar os custos da mão de obra, o preço dos fertilizan-
cas e biológicas do solo. São utilizados estercos ani- e ao K2O (óxido de potássio), pode proporcionar me-
rural, citando-se como exemplo o crescente cultivo de tes e a produtividade esperada.
mais, materiais vegetais triturados, tortas vegetais e lhor qualidade das hortaliças colhidas, conforme ob-
cebola e beterraba na região da Média Mogiana do
compostos orgânicos, desde que devidamente bio- servações práticas em diversos locais com diferentes • Adubação mineral com micronutrientes
Estado de São Paulo.
estabilizados. A aplicação dos fertilizantes orgânicos tipos de solos e algumas espécies de hortaliças. A alta Os micronutrientes devem ser aplicados no solo
Cebola produzida em
deve ser feita em área total dos canteiros, sulcos ou solubilidade dos fertilizantes binários monoamônio de preferência junto com os macronutrientes, parte
área que recebeu as Boas covas, incorporando-se uniformemente, com antece- fosfato (MAP) e diamônio fosfato (DAP), que contêm no plantio e parte em cobertura. A aplicação desses,
José Maria Breda Júnior
Práticas conservacionistas. dência de 30 a 40 dias ao plantio. No comércio exis- o fósforo (P) nas formas H2PO4- e HPO4 - e são com- por meio de pulverizações foliares, complementa a
tem compostos orgânicos humificados, que podem ponentes de fórmulas de média e alta concentração aplicação no solo, sendo importante destacar que os
ser aplicados com antecedência de 15 a 20 dias antes de nutrientes, possibilita uma rápida absorção de fós- fertilizantes foliares não devem ser misturados com
do plantio, sem o risco de “queima” das sementes ou foro pelas raízes das hortaliças, inclusive aquelas de agrotóxicos na mesma aplicação. A falta ou carência
mudas. ciclo rápido. Nas fórmulas de baixa concentração de de determinados micronutrientes podem compro-
A adubação verde consiste no cultivo e no corte nutrientes (como 12-4-12) nas quais o superfosfato meter o bom desenvolvimento das culturas, como no
de plantas imaturas, no pleno florescimento, com ou simples está presente, essas contêm além do fósforo, caso da couve-flor, onde a falta de boro (B) pode pro-
sem a incorporação da fitomassa ao solo. Dentre os cerca de 40% de gesso agrícola (sulfato de cálcio di-hi- vocar a podridão parda.
26 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀27
mais complicada devido às mudanças climáticas e altas va armazenadas em reservatório com capacidade para
temperaturas, passaram a investir em olericultura; ou- mais de um milhão de litros. A classificação, embalagem
tros ainda aproveitaram para descobrir novas formas de e o processamento mínimo estão nos planos, mas por
produção. Júlio acompa- enquanto investe em sistemas variados de culti-
nha as decisões, opina, Shintate e Júlio: CATI dá vo: céu aberto com mulching, gotejamento, fitas
CASA DA AGRICULTURA
faz projetos para obten- assistência e apoio ao microaspersoras que jogam água de baixo para
ção de crédito rural, bus- produtor. cima (“santeno”), telados coloridos. Sabe dizer
ca aperfeiçoamento, está com exatidão as vantagens e desvantagens de
junto com a comunidade cada um destes sistemas de acordo com o mer-
nas lutas por um olhar
Biritiba Mirim – uma cidade em tons de verde
cado, se para feirantes alfaces de 700g, se para
mais compreensivo para supermercados bastam 300g. “É preciso tirar o
H
natureza, por outro tenta
á quase cem anos, imigrantes japoneses che- de irrigação, conseguirão passar pela maior crise hídrica sobreviver às várias limi- em produzir o melhor agrião. Não é que Stevan
gavam trazendo na bagagem determinação da história de São Paulo”, alerta o engenheiro agrôno- tações à produção agro- Wihthmann, um descendente de alemães e
para mudar as suas vidas e a de toda uma mo Júlio Nagase, responsável pela Casa da Agricultura pecuária. japoneses, não cultive outras verduras como
região por muitas gerações e Mogi das Cruzes e região (CA) de Biritiba Mirim, em tupi-guarani o “pequeno lugar repolho, alfaces diversas e rabanete (na rotação com o
Olericultores de Biritiba Mirim –
tornaram-se conhecidas pela oferta de flores e horta- onde nascem muitos biris”, uma planta nativa que flores- agrião) como alternativas de renda, mas o forte mesmo
liças, parte do “cinturão verde” formado no entorno da ce em terrenos alagados. exemplos de perseverança é o agrião de qualidade. “O plantio é rústico e o agrião
maior capital do País. Um local Andando pelas ruas e estradas vicinais de Biritiba se desenvolve mui-
As mineradoras também dispu-
privilegiado pelos mananciais de Mirim, a paisagem lembra uma colcha de retalhos em to bem em terre-
Rodrigo Di Carlo – Cecor/CATI
A
teirar, vira um tapete e o corte é feito em maços usando- sempre em busca de olericultura, dentro do universo da agricultura, é a maior responsável pela produção de alimentos para
se uma faca. É também muito resistente. Caminhe sobre tecnologia, faço visitas, o ser humano. Todos os dias consumimos algum produto advindo da olericultura, podendo ser uma sa-
Programas de subvenção
Programa Finalidade Limite de Crédito Prazo Máximo Carência*
Uso adequado de defensivos
Segurança no controle de pragas e doenças
Pró-Trator Subvenção da taxa de juros para a aquisição de tratores novos ** 8 anos 3 anos
Pró-Implemento Subvenção da taxa de juros para a aquisição de implementos e R$ 200.000,00 8 anos 3 anos
equipamentos novos acopláveis ao trator
Integra SP Recuperação de Áreas Degradadas por Grandes Erosões R$ 10.000,00 *** - Sergio Mitsuo Ishicava – Engenheiro Agrônomo – CATI Regional Bauru – sergio.ishicava@cati.sp.gov.br
Seguro Rural Subvenção do prêmio do seguro rural R$ 24.000,00 - -
A
*A carência está inclusa no prazo máximo. olericultura tem particularidades que a dife- A legislação brasileira é rigorosa no registro dos
**Consultar preços dos tratores na Casa da Agricultura de seu município. renciam de outros setores da agropecuária. agrotóxicos (e aqui nem iremos discutir o uso do ter-
***Pagamento feito mediante recebimento das obras e apresentação das respectivas notas fiscais. Uma das principais vem do fato de ser cons- mo agrotóxico, termo oficial usado na legislação em
tituída por um grupo diverso de plantas, formado por vigor, ou defensivo) e isso leva os fabricantes a não
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) – Ano Safra 2015/2016 variadas espécies cultivadas de forma temporária. A incluírem as culturas de menor expressão econômica,
maior parte da produção de olerícolas (hortaliças de fazendo com que a listagem de produtos liberados
Para o novo ano safra que se iniciou no dia 1.° de julho de 2015, as novas condições de financiamento são: modo geral) está concentrada em propriedades de para uso em hortaliças seja muito restrita, oferecendo
Linhas Faixa I Faixa II Faixa III exploração familiar, intensivamente utilizadas em suporte fitossanitário insuficiente para alguns tipos
Pronaf Custeio Limite de Crédito Até R$ 10 mil Acima de R$ 10 mil até Acima de R$ 30 mil até área e tempo. É uma atividade que gera significativa de pragas e doenças. Como resultado, algumas ole-
R$ 30 mil R$ 100 mil quantidade de empregos no campo pela alta exigên- rícolas acabam figurando como “grandes vilãs” (fora
Taxa de Juros 2,0% a.a. 3,5% a.a. 4,5% a.a.
cia de mão de obra em todas etapas da produção; de conformidade legal) quando se observa as análises
cada hectare responde por até seis empregos diretos de resíduos de agrotóxicos realizados periodicamente
Pronaf Investimento Limite de Crédito Até R$ 10 mil Acima de R$ 10 mil até Acima de R$ 30 mil até
e mais seis indiretos. Embora exija altos investimen- pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
R$ 30 mil R$ 150 mil ou R$ 300 mil
tos, permite a obtenção de elevados rendimento e Nos últimos anos, podemos citar como exemplos o pi-
para avicultura, suinocultura
produção por área. No entanto, trata-se de uma ativi- mentão e o pepino, no entanto já foram outras, como
e fruticultura.
dade de alto risco em função da grande sensibilidade o tomate.
Taxa de Juros 2,5% a.a. 4,5% a.a. 5,5% a.a. às condições climáticas, maior sazonalidade de oferta
O que ocorre é que muitas vezes esses resultados
Prazo Até 5 (cinco) anos, com até 1 (um) ano de carência, para caminhonetes de carga; e oscilações de preços, além de problemas fitossani-
são divulgados na grande imprensa de forma irres-
Até 10 (dez) anos, incluídos até 3 (três) anos de carência, para os demais itens financiáveis. tários devido ao cultivo intensivo e escalonado em
ponsável e sensacionalista, faltando dar uma melhor
pequenas áreas.
O Pronaf Custeio deve ser utilizado para financiar as despesas normais de produção. orientação à população sobre as reais condições de
São justamente esses problemas decorrentes da contaminação. Fatos como esse podem causar sérios
O Pronaf Investimento se destina a promover o aumento da produção e da produtividade e a redução dos incidência de pragas e doenças nas olerícolas os que prejuízos a toda cadeia produtiva de diversas cultu-
custos de produção, tendo por objetivo a elevação da renda familiar. acarretam maior demanda de assistência técnica jun- ras. Recente divulgação sobre o potencial efeito can-
Os créditos de investimento estão restritos ao financiamento de itens diretamente relacionados com a implan- to à extensão rural. Mesmo assim, desses, apenas cerígeno dos resíduos dos agrotóxicos em olerícolas
tação, ampliação ou modernização da estrutura das atividades de produção, de armazenagem, de transporte uma pequena parcela de produtores procura auxílio, e frutas, principalmente, tem trazido uma série de
ou de serviços agropecuários ou não agropecuários, no estabelecimento rural ou em áreas comunitárias rurais a grande maioria ainda recorre às "receitas" de vizi- preocupações para toda a sociedade em relação ao
próximas, sendo passíveis de financiamento, ainda, a aquisição de equipamentos e programas de informática nhos ou parentes, orientações de lojas agropecuárias consumo de produtos seguros e saudáveis. O consu-
voltados para a melhoria da gestão dos empreendimentos rurais, de acordo com projetos técnicos específicos. e, em alguns casos como o da produção em ambiente midor de hortaliças também tem se tornado cada vez
protegido, de assistência técnica privada contratada mais exigente em qualidade e aspectos nutricionais,
Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) - Ano Safra 2015/2016 e, nesse caso, nem sempre corretas, pois muitas ve- sendo fundamental aos produtores se adequarem a
Linhas Limite de Crédito Prazo Máximo Taxa de Juros
zes são observadas receitas proibidas pela legislação esta realidade.
vigente como misturas de produtos com princípios
Pronamp Custeio R$ 710.000,00 2 anos 7,75% a.a.
ativos diferentes com aplicações sistemáticas. Nesse Portanto, não discutiremos a semântica entre agro-
Pronamp Investimento R$ 385.000,00 12 anos, inclusos até 2 anos de carência. 7,50% a.a. caso é usar uma "bala de canhão" para tentar acertar tóxicos ou defensivos, ou entraremos na discussão
um possível "inseto", o qual muitas vezes ainda não sobre as vantagens e desvantagens dos sistemas de
Para ter acesso ao crédito do Pronamp, o produtor rural tem que atender aos seguintes requisitos: esteja causando um problema tão grande para justifi- cultivo convencional ou orgânico, um debate muito
• Ter, no mínimo, 80% de sua renda bruta anual originária da atividade agropecuária ou extrativa vegetal; car tal procedimento. mais amplo. Quero abordar é a necessidade premente
• Possuir renda bruta anual de até R$ 1,6 milhão.
O interessado deve se dirigir à instituição financeira de sua preferência, que informará qual a documentação
necessária, analisará a possibilidade de concessão do crédito e negociará as garantias.
Edson Savazaki
Mais informações sobre as linhas de financiamento citadas podem ser obtidas na Casa da Agricultura de seu município.
32 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀33
Fernando Franco
com o adesivo “Cuidado Veneno”. O local deve ser co- o início de 2013, a CATI Regional Avaré ini- Muda alta: melhor
ciou os trabalhos para possibilitar a partici- enraizamento e resistência
berto, ter piso impermeável e estar localizado fora da a pragas e doenças.
residência. Antes, havia uma única resolução, inde- pação dos agricultores familiares nas cha-
pendente de volume, e a obrigatoriedade de se ter madas públicas do Programa Nacional de Alimentação
uma construção específica para essa finalidade. Escolar (PNAE) no município, por meio do Projeto CATI
Olericultura e, a partir dessa ação,
Recomenda-se aos produtores rurais procurarem foi criado um grupo informal de
Fernando Franco
os técnicos locais da Coordenadoria de Assistência agricultores. Esse grupo partici-
Técnica Integral (CATI) e da Coordenadoria de Defesa pou ativamente de reuniões arti-
Agropecuária (CDA), ambas pertencentes à Secretaria culadas pela CATI com a Secretaria
de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Municipal da Agricultura e
Paulo, nas Casas da Agricultura e/ou nos Escritórios Abastecimento e a Central de
Regionais das Coordenadorias para obterem mais in- Alimentação Escolar. Em julho de
formações. Além disso, o site da Associação Nacional 2013 foi aprovado o primeiro pro- Palha: controla o mato, retém água e
de Defesa Vegetal (Andef ) disponibiliza mate- jeto desse grupo para venda no aumenta a atividade biológica no solo. to do uso do solo aos agricultores e a rea-
rial didático interessante e o Serviço Nacional de PNAE. lização da primeira edição do “Semeando
Aprendizagem Rural (Senar) oferece cursos a aplica-
Com o sucesso desse primeiro projeto e com as capa- Agroecologia em Avaré”, encontro técnico com mesas-
dores de agrotóxicos.
citações promovidas no Programa de Desenvolvimento -redondas e palestras fizeram parte das atividades de
Esse trabalho de "educação sanitária" faz parte das Rural Sustentável - PDRS – Microbacias II – Acesso ao 2014, bem como a campanha de consumo consciente
Boas Práticas Agrícolas (BPA) divulgadas pela CATI. Mercado, o grupo cresceu, se formalizou e hoje a em comemoração ao Dia Nacional da Agroecologia.
Mas, principalmente em relação à olericultura, é fun- Associação dos Seis Bairros está em seu segundo con- No segundo semestre de 2014 foram definidas qua-
damental a mudança da atual situação na qual se ob- trato de venda com a Prefeitura, ultrapassando meio mi- tro Unidades de Adaptação de Tecnologia (UAT), ten-
servam ações positivas, como cursos, palestras, entre lhão de reais e com vários agricultores comercializando do os agricultores familiares destas unidades como
de uma ampla discussão envolvendo todo o setor no outros, acontecendo em diversas regiões do Estado. individualmente no Programa Paulista da Agricultura bolsistas do projeto para condução das atividades de
sentido de promover o uso adequado e racional de Porém, são ações pontuais e isoladas. O ideal seria de Interesse Social (PPAIS). ampliação e adequação de tecnologias locais. Isto foi
produtos e trazer algumas reflexões sobre os diversos promover uma maior articulação, envolvendo profis-
O apoio no acesso ao mercado, a preocupação com a proposto como forma de incentivo ao agricultor duran-
desafios a serem vencidos, com objetivo de se ter uma sionais de órgãos públicos e privados ligados ao setor,
qualidade dos alimentos e a segurança alimentar, bem te o processo de transição agroecológica.
produção sustentável de alimentos seguros e saudá- desde a pesquisa, o ensino até a extensão dentro de
um programa ou projeto de trabalho que coordenas- como o início do Programa SP Orgânico, motivou a par- Parcerias – “O desenvolvimento dessa parceria com
veis. ceria entre a CATI Regional Avaré e o Instituto Federal
se as ações e metas a serem cumpridas. São diversas a CATI Regional Avaré para criação do Núcleo, com
Para o uso correto de defensivos/agrotóxicos é as propostas de ações, dentre elas cito como funda- de Educação, Ciência e Tecnologia (IFSP) Campus Avaré apoio do CNPq, possibilitou a docentes e estudantes,
fundamental se adequar às normas vigentes quanto mentais: na elaboração e aprovação do projeto de formação bem como técnicos, parceiros e agricultores familiares
à aplicação, ao transporte, armazenamento e descar- do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção desenvolverem ações, integrando ensino, pesquisa e
• o desenvolvimento de normas oficiais de Boas Práti- Orgânica (NEA Avaré), com financiamento do Conselho
te de embalagens vazias. O uso e a aplicação deverão cas, observando os princípios da Produção Integrada extensão rural, aproximando a academia da comunida-
estar de acordo com o receituário agronômico feito Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico de local, favorecendo a construção e socialização dos
para algumas olerícolas de maior expressão; (CNPq). As atividades iniciais do NEA Avaré, em 2014,
por um técnico habilitado, que fará toda prescrição • a viabilização da extensão de uso para culturas de conhecimentos e práticas relacionadas à agroecologia
relativa às culturas nas quais serão aplicadas, deven- consistiram na visita aos produtores a fim de divulgar a e aos sistemas de produção orgânica”, avalia Raquel
suporte fitossanitário insuficiente por intermédio de criação do Núcleo e a parceria.
do constar a especificação não só da cultura, mas normas editadas pelo Ministério da Agricultura, Pecu- Mattana, pesquisadora do IFSP e coordenadora do NEA
também da propriedade onde será aplicado, não sen- ária e Abastecimento (MAPA), responsável por estabe- “O projeto coloca em prática a sustentabilidade, Avaré.
do permitido o uso fora da área especificada. É fun- lecer essas diretrizes e exigências; produzindo alimentos em quantidade e qualidade, Sistema PMB - Palha, Muda Alta e Biofertilizante
damental que o aplicador utilize o Equipamento de • a ampliação e divulgação de estudos de Manejo In- aumentando renda ao agricultor e viabilizando novos – Além da CATI Regional Avaré, o projeto conta com a
Proteção Individual (EPI) adequado. tegrado de Pragas e Doenças. postos de trabalho. A expectativa é de que ampliando a parceria do engenheiro agrônomo Sérgio Pimenta, que
É claro que, além desses, há vários outros desafios renda e a qualidade de vida dos agricultores familiares, há mais de 20 anos estuda os benefícios do uso da com-
Por ocasião da compra, verificar se consta na Nota
a serem vencidos. O que se deseja e se faz necessá- a atividade seja atrativa ao jovem, promovendo tam- postagem laminar. Com o apoio de Pimenta, o Núcleo
Fiscal o local de devolução das embalagens vazias. O
rio é incentivar essa discussão sobre o uso adequado bém a renovação e a permanência na atividade rural”, iniciou os trabalhos de desenvolvimento do Sistema
local deve ser devidamente licenciado para esse fim,
ressalta Eliseu Aires de Melo, diretor da CATI Regional PMB, que consiste no desenvolvimento da tecnologia
sendo responsabilidade das revendas, na data da de- dos agrotóxicos nas olerícolas em face da importância
Avaré. de plantio direto na palha sem herbicida, com uso de
volução, emitir um recibo comprovando a entrega. dessa cadeia produtiva nos aspectos nutricional e de
Este recibo deve ser guardado pelo produtor durante saúde, social e econômico, para que haja um desen- Uma série de capacitações sobre conceitos de agroe- biofertilizante e muda alta. Tendo como referência o
um ano para ser apresentado em caso de vistoria dos volvimento sustentável de todo o setor. cologia, sistemas orgânicos de produção e planejamen- plantio direto na palha e o pastoreio racional Voisin,
34 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀35
D
“Hoje, consigo
Fernando Franco
produzir irrigando sem resíduos de venenos”, e uns tempos para cá, uma nova sigla come- Soledade
apenas com declara. çou a circular pela mídia e a fazer parte do vo-
Fernando Franco
e Valéria:
biofertilizante”, Miro cabulário de naturalistas, nutricionistas, chefs
Albano. Para o olericultor André parceria
Diego Albano, da UAT de cozinha, médicos, engenheiros agrônomos e che- no projeto
Primus Ranch, o benefício é gou até aos consumidores exigentes e atentos a tudo Angico do
o rápido desenvolvimento o que pode favorecer a saúde. Nesse caso, as Plantas Cerrado
das plantas no campo por Alimentícias Não Convencionais (Pancs) oferecem qua-
Pimenta passou a explorar alternativas ao meio das mudas altas, sem a lidades e valores nutricionais maiores do que muitas
D
da renda na comuni- fica no caminho que leva à estação e ao metrô e muitas iversos são os sistemas de produção de ole- ras mortas, responsáveis por reduzir o calor, melho-
dade”, explica Valéria pessoas que passam por ali pegam algo para acrescen- rícolas e diversos também são os sabores rar a matéria orgânica e proteger o solo de erosões,
Paschoal. “Nesse tar ao cardápio e deixam algo, foi assim que a catalonha e as cores proporcionados por essa impor- aliadas à irrigação por gotejamento ou por microas-
projeto eu mais passou a fazer parte da horta. “Esse espírito comunitário tante fonte nutricional. Cada um a seu modo, oferece persão, as produções foram aumentando. Entre as
é que faz bem”, diz Neide. Em sua cheirosa cozinha onde ao produtor e ao consumidor final, esse cada vez mais coberturas mortas também há o que escolher, alguns
está satisfeito com os resultados. A ráfia não esquenta ainda, mantém a crocância, apreciada pelo mercado
Hortas Urbanas e Periurbanas: alimento A seguir, alguns exemplos da agricultura urnana e pe-
riurbana que, apesar da intensa urbanização ocorrida no
Brasil, principalmente no Estado de São Paulo, desde mea-
em serviços gerais em instituições bancárias e “casas de
família”. Mas nunca se esqueceram das raízes rurais da fa-
mília. “Conhecemos o projeto de hortas em reuniões que
saudável e renda no calor do asfalto dos do século XX, não foi sufocada completamente.
São Paulo capital: projeto revela o avanço da agricul-
aconteciam na igreja do bairro. Contamos com o apoio da
bióloga Vandineide, da prefeitura, e começamos uma pe-
quena horta em local próximo à nossa casa, mas o terre-
Até há alguns anos considerada restrita à paisagem rural, a horticultura tem se mostrado uma alternativa tura urbana e periurbana
no não era adequado. Há seis anos, por meio do Programa
sustentável para atender às necessidades de consumo e gerar renda nas cidades de Agricultura Urbana, tivemos acesso a esse terreno da
H
ras, conseguimos transformar uma área abandonada em
á alguns anos, moradores de grandes cidades do e a boa gestão das áreas baldias; amenizar o microclima
um solo fértil, por meio do qual obtemos hortaliças e frutas
mundo, como São Paulo, têm se deparado com local; viabilizar oportunidades de educação ambiental.
para nosso consumo e também para comercializar”, explica
aromas, cores e imagens típicas da zona rural. ”Essa agricultura deve ser analisada de forma ampla, pois
o casal, falando também sobre como a experiência tem sido
Em pequenos canteiros em ilhas de grandes avenidas, no tem suas raízes firmadas no tripé da sustentabilidade: am-
transformadora para suas vidas. “O começo foi muito difí-
telhado de prédios comerciais e residenciais, em terrenos biental, social e econômica. Falando apenas das hortas, os
cil, pois não temos muitos recursos para investir. Mas, com
antes abandonados, na periferia ou nos centros, a cada benefícios gerados são imensos, pois nas grandes cidades
apoio e força de vontade, hoje podemos contemplar essa
dia mais pessoas estão engajadas na divulgação de uma além de fonte de renda para muitos, elas também têm se
maravilha. É um presente de Deus trabalhar com a terra e
alimentação saudável, que promova segurança alimentar. firmado como fonte de conscientização da população
ver que o fruto das nossas mãos faz bem para a nossa vida
Nesse movimento, o qual também preconiza uma renova- sobre a importância do alimento saudável e do produtor
e para a dos outros. E trabalhar com a agricultura orgânica
ção nas relações entre produtor e consumidor com incen- rural. Agregando-se a isso, investimentos do governo do
é ainda mais gratificante, pois sabemos da qualidade dos
tivo à dinâmica do produzir e comprar localmente, estão Estado têm levado à implantação de hortas em escolas es-
produtos que vendemos. Participar desse Programa resga-
envolvidas instituições públicas, organizações não gover- taduais, as quais têm mudado a relação de crianças com os
Agricultores urbanos fazem dos solos das cidades uma fonte de vida. tou a nossa história de vida e a nossa alegria. Trabalhamos
namentais, ao lado de iniciativas individuais que em mui- alimentos, desenvolvendo hábitos alimentares mais saudá-
Grupo de produtores em terreno de empresa de eletricidade, no Bairro todos os dias, desde o amanhecer até à noite, felizes da
tos locais deram o start para o envolvimento da sociedade veis, que são levados para as famílias. Além disso, não se
São Mateus, contam com o apoio da engenheira agrônoma Tatiane vida”, diz dona Sebastiana.
organizada. pode esquecer do papel relevante das hortas comunitárias
Soares.
que, em muitas locais, têm sido fonte de segurança alimen- As hortaliças são comercializadas em um ponto de ven-
Conceitualmente, essas iniciativas estão agregadas nos da instalado na entrada do terreno que, além do casal, tem
tar para pessoas em condições de risco nutricional”, avalia Em um primeiro momento, para a maioria das pessoas
termos agricultura urbana e periurbana que, segundo es- áreas de produção de mais três famílias. “Adultos e crianças
José Carlos Rossetti, coordenador da CATI, destacando que o cenário parece deslocado de lugar mas, ao adentrar pe-
tudiosos, podem ser definidas como produção, transfor- vêm aqui não só para adquirir os produtos, mas conhecer
a instituição tem atuado com orientação técnica e elabo- los portões do terreno pertencente à empresa Eletricidade
mação, comercialização e prestação de serviços, de forma como eles são produzidos. É incrível ver a emoção de pes-
ração de projetos que auxiliem os produtores urbanos e de São Paulo S.A. (Eletropaulo), no Bairro São Mateus, zona
segura, para gerar produtos agrícolas (hortaliças, frutas, soas que, como nós, se lembram do tempo em que tam-
periurbanos a acessarem o crédito rural e as políticas públi- leste da capital paulista, é possível ver a vida que brota em-
plantas medicinais, ornamentais, cultivados ou advindos cas de aquisição de alimentos, nas regiões que comportam bém trabalhavam na roça e daqueles que acham que a
baixo dos postes de eletrificação. O terreno de pouco mais
de agroextrativismo etc.) e pecuários (animais de pequeno esse tipo de agricultura. hortaliça nasce na banca do mercado”.
de oito mil metros quadrados, onde havia lixo e destruição,
porte), (re)aproveitando-se, de forma eficiente e sustentá-
Como iniciativa nacional, a Secretaria de Segurança hoje reluz a uma profusão de nuances verdejantes e mostra Segundo Tatiane, a maioria dos agricultores ingressou
vel, os recursos e insumos locais (solo, água, resíduos, mão
Alimentar e Nutricional, ligada ao Ministério do aos habitantes das imediações que a agricultura traz não no Programa para obter uma complementação da renda fa-
de obra e saberes) de espaços urbanos ou periurbanos.
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em apenas alimento para a mesa, mas também mais frescor miliar, sendo que uma parte do grupo é formada por apo-
Relatos históricos apontam que a agricultura urbana parceria com a Organização das Nações Unidas para a e a possibilidade de contato com a natureza, para locais sentados ou pessoas desempregadas, com ou sem expe-
não é um fenômeno novo nas cidades e ocorre desde os Alimentação e a Agricultura (FAO), elaborou o documento onde o cinza do concreto predomina. “Há seis anos, esse riência anterior com a agricultura. “Ao conversar com eles,
primórdios da formação dos centros urbanos, estando pre- “Panorama da Agricultura Urbana e Periurbana no Brasil e local estava vazio, com mato alto e era alvo de vândalos. observa-se que houve significativa melhora nos padrões
sente até hoje nas práticas cotidianas de parte da socieda- Diretrizes Políticas para sua Promoção”, por meio do qual Após a iniciativa de uma bióloga que atuava na Secretaria de vida, pois a renda gerada com a produção ajuda na ma-
de, mesmo não sendo notada muitas vezes pela maioria identificou e caracterizou as iniciativas de agricultura ur- Municipal do Verde e a implementação de um projeto de nutenção das despesas das residências. Outra informação
dos habitantes. ”Foi apenas após a Conferência Habitat bana e periurbana em regiões metropolitanas brasileiras, agricultura urbana pela prefeitura municipal, em 2010, ter- bem interessante, é que eles deixam claro que houve uma
II - Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos colocando em prática, em 2013, o Programa de Agricultura renos como esse foram cedidos em comodato para pessoas melhora na saúde por conta do acesso a uma alimentação
Urbanos, realizada em 1996, na qual a Organização das Urbana em 13 regiões, envolvendo mais de 250 mil famílias. interessadas em cultivar hortaliças e frutas, o que tem gera- mais saudável, proveniente da agroecologia”, informando
Nações Unidas (ONU) começou a alertar a sociedade para do uma transformação na vida de quem produz e de quem que na zona leste são 79 produtores, dos quais 38 produ-
os elevados índices de urbanização e sua relação direta com Além dos benefícios já relacionados advindos da agri- consome”, explica Tatiane Soares, engenheira agrônoma zem no sistema orgânico, tendo fundado a Associação de
os níveis de pobreza e insegurança alimentar, que o tema cultura praticada nos espaços urbanos, outro fator impor- da Casa da Agricultura Ecológica da Zona Leste, unidade Produtores Orgânicos de São Mateus.
ganhou maior visibilidade”, explica Gilberto Figueiredo, en- tante tem raízes históricas na migração de um grande nú- criada em 2009, ligada à Secretaria Municipal do Trabalho,
mero de famílias rurais para os centros urbanos ao longo Desenvolvimento e Empreendedorismo, cuja finalidade é Além de áreas de linhas da Eletropaulo, as hortas ur-
genheiro agrônomo responsável pelo Projeto Olericultura
de décadas. “Nesse processo, uma grande parte das famí- a extensão rural. “Prestamos assistência técnica aos agri- banas cadastradas no Programa ocupam áreas de aduto-
da CATI, informando que a maioria da agricultura urbana
lias que migraram das zonas rurais não tinham capacitação cultores envolvidos no Programa de Agricultura Urbana e ras da Sabesp, terrenos públicos ociosos, bem como áreas
e periurbana do Estado de São Paulo tem na olericultura a
para serviços tipicamente urbanos e ficaram à margem do Periurbana, que cultivam hortaliças, frutas, flores, plantas particulares, não apenas na zona leste, mas, principalmente
principal atividade.
mercado de trabalho, deixando de ter condições apropria- medicinais e ornamentais, desde o preparo do solo até a na zona sul, na região do Bairro Parelheiros, que concentra
Pesquisas realizadas em várias partes do mundo apon- das para satisfazer as suas necessidades. Portanto, incenti- comercialização dos produtos”. cerca de 400 produtores, considerados periurbanos, muitos
tam que esse tipo de agricultura pode contribuir para var a agricultura urbana e periurbana é um meio viável de dos quais estão organizados na Cooperativa Agroecológica
promover a segurança alimentar, a geração de renda, a reinserir um grande número de pessoas as quais, apesar da Entre esse grupo, destaca-se o casal Genival Morais da Região das APAs (Cooperapas). Nesse local, os horticul-
economia doméstica, a nutrição e a saúde de famílias; enri- assimilação de um modo de vida essencialmente urbano, e Sebastiana Helena de Farias. Egressos do Estado de tores são acompanhados pelos extensionistas da Casa da
quecer a paisagem e a biodiversidade dos bairros; permitir retêm antigas práticas provenientes de suas origens rurais”, Pernambuco, na década de 1970, trabalharam por anos Agricultura Ecológica da Zona Sul, pertencente à Prefeitura,
a reciclagem sistemática dos resíduos orgânicos urbanos explica Gilberto Figueiredo. na área urbana, ele em uma indústria de papelão e ela os quais contam com apoio dos técnicos da Casa da
42 ׀Casa da Agricultura Casa da Agricultura ׀43
N
Por outro lado, a demanda por alimentos provenientes ma- pa do projeto, atendendo os produtores em quase sua tota-
joritariamente da agricultura familiar, como os produtos lidade (atualmente cerca de 200 famílias são responsáveis ão há estudos que confirmem, porém é im- Campinas e Baixada Santista, no Vale do Paraíba (fa-
hortícolas, cresceu com o aumento da população e dos pelas hortas). A orientação técnica vai desde a adoção das possível não notar e comprovar, sobretudo vorecido pelo eixo Rio-São Paulo) em outras cidades
serviços. Diante desse quadro, a implementação de hortas Boas Práticas Agrícolas em hortaliças e frutas (adubação por vários depoimentos colhidos ao lon- pelo interior consideradas polos regionais de distri-
urbanas se mostrou uma boa alternativa de renda para os equilibrada, otimização da irrigação, controle alternativo go de reportagens, a diferença que vêm fazendo na buição, com as suas Centrais de Abastecimento. Os
produtores e o atendimento da demanda crescente. “Hoje, de pragas, cultivo protegido, cuidados pós-colheita, entre vida dos produtores rurais, principalmente dos agri- problemas enfrentados pela agricultura familiar estão
o município tem aproximadamente 250 hortas urbanas, outros), até o apoio na obtenção de certificados orgânicos, cultores familiares, os ganhos proporcionados pelas relacionados à oferta em relação ao volume e ao pre-
com tamanhos que variam de 1.500m² a 10.000m², em crédito agrícola e venda direta ao consumidor. “Nosso obje- políticas públicas de compra de alimentos, como o ço, geralmente mais baixo pago pelas grandes redes.
bairros de zoneamento comercial, industrial e residencial, tivo é favorecer a qualidade de vida não apenas do produ- Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa “As políticas públicas caíram como uma luva para es-
com mão de obra predominante familiar, onde famílias tor, mas também dos outros munícipes. O benefício social Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa ses grupos e estão tornando a olericultura uma ca-
produzem e vendem para os consumidores vizinhos, res- que as hortas têm trazido é enorme, pois geralmente esses Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS), os deia forte, tanto pelo aumento do volume, como pela
taurantes, empresas de alimentos processados e mercados terrenos, públicos ou privados, eram baldios, com presença quais têm possibilitado a compra de produtos in natu- possibilidade de agregar valor ao produto. O Projeto
locais. Mas já temos produtores que estão atendendo às de mato, entulho, lixo e pragas urbanas. Além disso, pesso- ra ou minimamente processados para atendimento às Microbacias II e os programas de compras governa-
políticas públicas de aquisição de alimentos, como é o caso as que estavam aposentadas e até desempregadas ganha- creches, escolas, universidades, aos hospitais e às pe- mentais de alimentos se complementam”, avalia o
da merenda escolar e as Centrais de Abastecimento”, expli- ram uma nova profissão ou puderam reencontrar sua ver- nitenciárias. São programas que incentivam os órgãos gerente técnico do Projeto Microbacias II, engenheiro
ca o engenheiro agrônomo André Luiz Xavier de Macedo dadeira vocação: a de agricultor, trabalhando a terra para públicos a adquirirem no mínimo 30% de alimentos agrônomo João Brunelli Junior. Com a possibilidade
Barreto, da Casa da Agricultura de Nova Odessa, pertencen- de construção de packing houses para concentrar a
que o alimento não falte à mesa”. oriundos da agricultura familiar. Complementando
te à CATI Regional Piracicaba, que atende os horticultores produção e a compra de equipamentos de seleção,
esses programas, ainda existem outros como o Projeto
de Americana. classificação, limpeza, embalagem estão permitindo
de Desenvolvimento Rural Sustentável – Microbacias
A vizinhança das hortas tem aprovado a iniciativa. II – Acesso ao Mercado, que está permitindo que as- o processamento mínimo das mais variadas oleríco-
Moradores e comerciantes afirmam ter sempre em mesa sociações e cooperativas aumentem a infraestrutura las. Essa é uma demanda das merendeiras das escolas
um produto fresco e de qualidade, e que olhar a diversida- para produzir e entregar mais alimentos com maior que recebem alimentos da agricultura familiar. Outro
de de alimentos produzidos é privilégio para quem mora valor agregado, como os minimamente processados, ganho de mercado foi conquistado com a aquisição
entre uma infinidade de concreto. Para eles é bom ver o que contam com classificação, seleção, processamen- de veículos para uso no campo ou logística de entre-
alimento sendo produzido e conhecer quem produz. Um to, embalagem, logística de distribuição, entre outros, ga de produtos, que permite aumentar o raio e a fre-
desses produtores é Rodrigo Aparecido Castello Novo de tornando-se uma política pública que abre opor- quência de entregas e, consequentemente, o acesso
Assunção. “Por muitos anos trabalhei em uma metalúrgica. tunidades de novos negócios, gera emprego e ren- a novos mercados, muitas vezes em âmbito estadual.
Não tenho origem rural, mas possuía uma pequena chácara Dessa forma, as associações e cooperativas formadas
da no campo, e contribui para conter o êxodo rural.
e sempre gostei de trabalhar com a terra. Há um ano, fiquei principalmente por agricultores familiares puderam
Subjetivamente, ainda aumentam a autoestima das
sabendo desse projeto com hortas urbanas e me interessei. passar a competir em igualdade de condições quan-
pessoas que se dedicam à difícil arte de produzir ali-
Consegui a autorização para instalar uma área de cultivo do comparados aos médios e até grandes produtores.
em um terreno público municipal. Nesse período conheci a
mentos, mesmo contando com ventos, tempestades,
chuvas de granizo, pragas, doenças e, mais recente- “Foi um ganho enorme, a olericultura para os peque-
CATI e, com apoio dos técnicos da Casa da Agricultura, par- nos era uma atividade que poderia ser considerada
ticipei de cursos, capacitações, além de receber orientação mente, falta de água.
Os produtores Rodrigo e Maria de Lurdes de Assunção cultivam marginal, mas que hoje está no centro de interesse
técnica. Após apenas um ano, só contabilizo coisas boas. A folhosas, plantando cerca de 2,5 mil mudas por semana. A A olericultura está espalhada por todos os cantos dos agricultores”, argumenta Brunelli.
renda da horta é suficiente para manter minha família, amo comercialização é feita no sistema de venda direta. do Estado de São Paulo e “tem demanda certa”, con-
o que faço e me sinto gratificado”, conta o produtor, que tam os agricultores, principalmente aqueles que se O Projeto Microbacias II – Acesso ao Mercado tam-
estabilizaram próximo aos grandes centros de consu- bém está permitindo que as associações se profissio-
mo, como nas regiões metropolitanas de São Paulo, nalizem no processo de gestão desses novos negó-
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A
namentais, e um dos mais impactantes foi o Programa
tratores, por exemplo. Os irmãos Milton e Reginaldo s cenas são cho- das perdas no País, que apesar de não ter dados atualizados,
de Aquisição de Alimentos (PAA) no caso dos assenta-
de Oliveira Morais, de Mogi das Cruzes, são um exem- cantes: tonela- não difere do estudado por ele entre os anos 1997 e 2000.
mentos geridos pelo Itesp. Nos levantamentos feitos
plo desse planejamento. Ao resolverem implantar o das de alimentos “Em 1998, o consumo de frutos era da ordem de 40kg/hab./
em 2010/2011 pelo órgão verifica-se que as oleríco-
plantio de tomates variedade Débora, investiram em desperdiçadas, enquanto ano nas 10 principais capitais do Brasil. A produção das prin-
las tiveram um aumento de 30% em área de cultivo,
uma estufa de mil metros quadrados, adquirida via milhares de pessoas pas- cipais hortaliças frescas comercializadas no Brasil era de apro-
a produção aumentou de 8,1% para 15,7% e a ren-
recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da sam fome nos mais diver- ximadamente 16 milhões de toneladas. O índice de perdas
da para significativos 27,7% contra 12,8%, segundo
Agricultura Familiar (Pronaf ). Até 1997, Reginaldo tra- sos países. Segundo dados desses produtos situava-se em 35%. Sendo assim, verificava-
Renata Cunha, gerente de Desenvolvimento Humano
balhava como topógrafo e Milton como empregado da Organização das Nações se o valor de 5,6 milhões de toneladas/ano de produto não
do Itesp. Renata conta que tanto deu certo que o Itesp
de agricultores da colônia japonesa, agora cuidam das Unidas para a Alimentação consumido – 37kg/hab./ano. No mesmo período, o consumo
acabou lançando, em janeiro de 2012, mais uma al-
suas próprias terras e investem cada vez mais. “Tenho e Agricultura (FAO), 1,3 bi- de hortaliças, nesses locais, era da ordem de 35kg/hab./ano.
ternativa para os agricultores: o Programa Paulista da
clientela certa, já planto sabendo quanto vou ga- lhão de toneladas de ali- Portanto, verificou-se que eram jogadas fora mais hortaliças
Agricultura de Interesse Social (PPAIS), para compras
nhar, está tudo vendido”, conta Milton, que começou mentos é desperdiçada do que se consumia”.
de alimentos da agricultura familiar por universida-
produzindo couve-de-bruxelas, aí o preço caiu e ele anualmente. Relatório da
des, presídios, hospitais, creches e escolas estaduais. Para a nutricionista Beatriz Cantúsio Pazinato, da Divisão
mudou para o tomate para o qual conta com venda FAO indica também que,
nômica. “Temos uma boa relação e parceria ração em todo o processo), a classificação não padronizada, panha junto aos consumidores, pois muitas hortaliças não
com os técnicos da Coordenadoria de Defesa a contaminação, o comércio ineficaz no atacado, o excesso são consumidas ou utilizadas de forma adequada, porque
Agropecuária (CDA) e as palestras itinerantes as pessoas não conhecem, o que também gera perdas”, diz a
de “toque” nos produtos por parte dos consumidores, o acú-
são conjuntas na abordagem de temas como pesquisadora.
mulo de produtos nas gôndolas de exposição de varejo, as
uso de defensivos, conservação do solo e ou- deficiências gerencial e a administrativa nos centros ataca- Para minimizar as perdas no pós-colheita, a Embrapa
tros”, diz Felipe Almeida. distas e varejistas. O pesquisador também traça um cenário Hortaliças tem um projeto voltado aos pequenos horticulto-
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E
forma, se conservarão por mais tempo e não se estragarão
mando também que, no País, poucos produtos são armaze- caso fiquem por vários dias na geladeira doméstica. A maio- timologicamente, a palavra olericultura significa olericultura nacional evoluiu de 'pequena horta' para uma
nados para a comercialização por um longo tempo. “A perda ria das frutas também deve ser armazenada sob refrigeração cultivo de hortaliças. O termo é derivado do latim exploração comercial”, esclarece Gilberto.
de peso de frutas e raízes pode chegar a 15% em quatro dias ao atingirem o ponto de maturação desejado, conseguindo olus, que significa hortaliça, e colere, que significa
A partir da década de 1940, instituições oficiais de pes-
após a colheita, em temperatura e umidade ambientes. A so- preservar suas características ideais de textura, aroma e sa- cultivar. Para muitas pessoas, olericultura e horticultura são
quisa passaram a apoiar a olericultura, proporcionando uma
lução é desenvolver um ambiente climatizado”. bor e valor nutricional”, ensina a nutricionista. palavras sinônimas, mas publicações técnicas demonstram
retaguarda técnico-científica composta por pesquisadores,
A coordenadora ressalta outros pontos que devem ser que o último termo é mais abrangente, pois refere-se à pro-
A CATI possui várias publicações que orientam e ofere- professores e extensionistas. Artigo publicado em 2015, pe-
combatidos para conter o desperdício. “No Brasil, a impres- dução de uma grande diversidade de culturas, como fruticul-
cem dicas e receitas sobre o melhor aproveitamento de fru- los pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da
são de fartura e a sensação de vantagem de menor reposição tura, cultura de cogumelos comestíveis, plantas medicinais
tas e hortaliças, como: Aproveitamento integral dos vege- Secretaria de Agricultura e Abastecimento, Waldemar Pires
fazem com que o sistema não funcione como nos países eu- e condimentares, bem como a produção de flores e plantas
tais; Congelamento Doméstico de Alimentos; Frutas cítricas: de Camargo Filho e Felipe Pires de Camargo, aponta que o
ropeus. O alimento fica deteriorado e é descartado porque ornamentais. De forma simplificada, a olericultura pode ser
dicas e receitas; Processamento Artesanal de Hortaliças – ponto alto da organização da pesquisa de hortaliças no Brasil
perde seu valor comercial. É necessária a implantação de um definida como a área da horticultura que abrange a explora-
Conservas; entre outras. ocorreu na década de 1970, por meio do Programa de Apoio
programa abrangente, desde a modernização de cada etapa ção de hortaliças.
à Produção e Comercialização de Produtos Hortigranjeiros
do processo até a inovação das técnicas de cada elo da ca- Com a finalidade de incentivar o consumo de hortaliças Relatos históricos destacam que após a descoberta do (Prohort), o qual foi fundamental para a modernização das
deia produtiva. Essas mudanças melhorariam todo o proces- e promover uma alimentação saudável, visando também Brasil em 1500 e o início da colonização sistemática em 1530 cadeias produtivas. “O Programa era composto de planos
so existente”, conclui. combater o desperdício no armazenamento e na elaboração ocorreu então, promovido pelos colonos, navegadores e je- para a fruticultura e a olericultura, tendo como hortaliças
de receitas, a Embrapa Hortaliças lançou o site Hortaliças na suítas, um amplo processo de troca de plantas, dentre elas as prioritárias a batata, o tomate, a cebola e o alho (para indús-
Combate ao desperdício: questão de Web – www.cnph.embrapa.br/hortalicasnaweb/index.html. hortaliças, oriundas de Portugal, do Brasil e de outras posses- tria e mesa). Suas ações promoveram o desenvolvimento e
segurança alimentar De acordo com a pesquisadora Milza Lana, com as informa- sões portuguesas da África e da Ásia. “Essas plantas serviram a modernização das cadeias produtivas da olericultura, com
ções disponíveis o objetivo é oferecer opções de preparo, de material básico para o melhoramento genético, muitas metas de melhoria na produção, na comercialização, na dis-
Segundo o relatório da FAO de 2013, o Brasil tem cerca de
com receitas nutritivas, práticas para o dia a dia e com preços vezes realizado de forma empírica, ou seja, na base da obser- tribuição e no abastecimento”, escreveram os pesquisadores.
três milhões de pessoas em situação de insegurança alimen-
acessíveis. “Pretendemos também orientar a população so- vação prática, na adaptação das novas espécies às condições
tar, o que representa 1,7% da população. De acordo com o bre os atributos de qualidade a serem considerados na hora A implantação das Centrais de Abastecimento (Ceasas),
mesmo documento, mais de 800 milhões de pessoas, ou seja, de solo e clima brasileiros, bem como em uma diversificação
da compra e o correto manuseio e acondicionamento das pelo governo federal – que depois se tornaram responsabi-
da alimentação na Colônia”, explicam os engenheiros agrô-
uma em cada nove sofre de fome no mundo. hortaliças no mercado e na residência para evitar desperdí- lidade dos estados –, ao longo da década de 1970, também
nomos e pesquisadores Paulo E. Trani, Arlete M. T. de Melo,
cios”. foi decisiva para a expansão da olericultura.
Acabar com o desperdício, principalmente na olericultura, Francisco A. Passos e Luis Felipe V. Purquério, do Centro de
é uma questão que deve ser tratada de forma integrada entre O destaque do site é a seção “50 hortaliças”, que relaciona Horticultura do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. A década de 1980 é considerada muito importante para
todos os elos da cadeia produtiva: da produção ao consumo, informações de cada hortaliça como origem, valor nutritivo, a olericultura brasileira, especialmente graças à atividade da
Desse período em diante, as hortaliças começaram a fa-
pois as soluções são complexas. De acordo com o pesquisa- receitas e dicas de como comprar, conservar e consumir. zer parte da alimentação da população, mas cultivada em pesquisa oficial, com a recomendação e o lançamento de
dor Antônio Gomes, entre 1997 e 2000, período em que ele pequenas áreas rurais, nos arredores das cidades. “A oleri- cultivares de hortaliças adaptadas às mais diversas condi-
fez o estudo, a produção dos principais frutos frescos comer- cultura, no Brasil, evoluiu mais acentuadamente a partir da ções climáticas do território nacional, bem como com a in-
Lilian Cerveira – Cecor/CATI
cializados no Brasil era de aproximadamente 17,7 milhões de década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial”, conta trodução dos Planos de Produção Programada de Hortaliças,
toneladas/ano. Desse total, a perda estava calculada em 30%. o engenheiro agrônomo Gilberto Figueiredo, responsável da Cooperativa Agrícola de Cotia, a qual teve um papel fun-
Segundo ele, aumentar a produção agrícola sem reduzir as pelo Projeto Olericultura da CATI, acrescentando que relatos damental na expansão da comercialização de olerícolas em
perdas, não é uma das soluções para acabar com a insegu- históricos mostram que, nessa época, existiam apenas pe- São Paulo em especial no “Cinturão Verde” da cidade de São
rança alimentar. “Se o Brasil diminuir o seu desperdício pode- quenas explorações diversificadas. “Depois desse período, Paulo (Mogi das Cruzes, Ibiúna, entre outras), o qual teve iní-
rá aumentar a oferta de produtos sem aumentar a produção houve uma migração da produção de hortaliças para áreas cio com os imigrantes japoneses que instalaram-se em pe-
agrícola; isso reduziria custos e preços”, avalia. rurais, maiores e mais especializadas no interior; com isso, a quenas propriedades ao redor da cidade de São Paulo, onde
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todos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA), tir do final da década de 1960, a extensão rural paulista O produtor rural Luis Yano, de Mogi das Cruzes, tem na
ao lado dos trabalhos de pesquisadores da Esalq/USP, foi Professor contabilizou grandes avanços na produção de hortaliças. família a tradição da agricultura há três gerações. Há mais de
fundamental para a expansão da olericultura em São Paulo. Hiroshi “Fomentamos a modernização do sistema de produção, com 20 anos produzindo hortaliças, Yano afirma que a orientação
“Naquela época, entre as décadas de 1950 e 1970, as varieda- Ikuta, em a introdução de novas técnicas de plantio, que levavam em dos extensionistas da CATI e os eventos técnicos organiza-
des locais não tinham tanta expressão econômica e a maio- atividade no consideração Boas Práticas, que nesse período nem tinham dos pela instituição foram primordiais para sua capacitação
ria das sementes utilizadas eram importadas, porém não campo na esse nome, desde o preparo de solo até a collheita, como a e profissionalização na atividade. “Sempre contei com o
adaptadas para as nossas condições tropicais”, explica o pro- década de correção da fertilidade do solo, visando adaptar o plantio de apoio técnico da CATI para solucionar dúvidas no campo e
fessor Ikuta, dizendo que um marco da pesquisa paulista foi 1980.
hortaliças cujas mudas vinham de fora. Nessa época também para aprimorar os conhecimentos. Também foi por meio da
o melhoramento da couve-flor de verão, desenvolvido por fizemos a introdução de equipamentos adaptados às cultu- instituição que tive acesso às políticas públicas e ao crédito
meio da coleta de sementes da Índia e do Paquistão. “Essas ras, como foi o caso dos microtratores que, ao lado de outros rural quando precisei”, conta o produtor.
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CATI capacitou extensionistas das Casas da tivos, a produção escoada era transportada de forma indi-
Aconteceu
Agricultura em técnicas de irrigação vidual entre os associados, e com as novas aquisições, os
A Coordenadoria de Assistência Técnica Integral produtores garantirão a entrega de legumes e frutas fres-
(CATI), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e cos em condições adequadas de transporte.
Abastecimento do Estado de São Paulo, promoveu, en- CATI completa 48 anos
tre os dias 7 e 9 de abril, para seus extensionistas, o cur-
so “Atualização em Sistemas e Manejo da Irrigação”, com
o objetivo de capacitá-los para a orientação dos produ-
tores rurais em técnicas de irrigação. A capacitação foi
realizada na CATI Regional Bragança Paulista e teve o
objetivo de preparar os técnicos do órgão sobre como
avaliar as propriedades do agricultor quanto ao tipo de
irrigação aplicada, mas a proposta é poder levá-la para ser