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ACIDENTES DO TRABALHO 1
1. Introdução
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Referência: MOREIRA, André MENDES e COÊLHO, Juliana Junqueira. Algumas Ilegalidades da
Contribuição para o SAT Seguro de Acidentes do Trabalho. Revista Dialética de Direito
Tributário, São Paulo, nº 126, mar. 2006, pp. 7-19.
2
O art. 3º, II da Lei nº 7.787/89 vigorou até o advento do art. 22, II da Lei nº 8.212/91.
outras fontes de custeio destinadas à seguridade social (CR/88, art. 195, § 4º c/c
art. 154, I). Confira-se a redação dos dispositivos legais:
Lei nº 7.787/89:
3
Posteriormente, as Leis nºs 9.528/97 e 9.732/98 alteraram o art. 22, II da Lei nº 8.212/91, que
passou a ostentar a seguinte redação:
4
STF, Pleno, RE nº 343.446/SC, Relator Min. CARLOS VELLOSO, DJ 04.04.2003, p. 40.
(a) o art. 3º, II da Lei nº 7.787/89 e o art. 22, II, da Lei nº 8.212/91 não
criaram nova fonte de custeio para a Seguridade Social, uma vez
que estipularam a incidência do SAT sobre a remuneração percebida
pelos funcionários das empresas, conceito este que se amolda ao de
folha de salários previsto na redação original do art. 195, I da
CR/885;
(b)
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Em seu voto de Relator, nos autos do RE nº 343.446/SC, o Ministro CARLOS VELLOSO
averbou:
-se da leitura dos citados dispositivos legais, Lei 7.787/89, art. 3º, II, Lei 8.212/91,
art. 22, II, que a contribuição do SAT (seguro de acidentes do trabalho), que não é nova,
pois estabelece a CF que o trabalhador tem direito ao seguro contra acidentes de trabalho,
a cargo do empregador (CF, art. 7º, XXVIII), incide, exatamente, sobre a folha de salários,
alíquota de 2% sobre o total das remunerações pagas aos empregados, nas alíquotas a
seguir mencionadas nas alíneas a, b, e c (Lei 8.212/91, art. 22, II). Bem disse o Ministro
Sepúlveda Pertence, no julgamento do RE 166.772/RS, ao examinar o conceito de salário,
(...)
Salário é espécie do gênero remuneração
habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de
contribuição previdenciária e conseqüente repercussão em benefícios, nos casos e na
zer, a Constituição manda que a contribuição incida sobre a
remuneração, que é o conjunto do que percebido pelo empregado, o salário e outros
ganhos.
(...)
Destarte, incidindo a contribuição sobre a folha de salários, deve a lei estabelecer,
esclarecendo, que essa incidência será sobre a remuneração ou o total da remuneração
paga ao empregado.
Não há falar, portanto, em ofensa ao art. 154, I, combinado com o art. 195, §4º, da
Constituição, por isso que, no caso, não cabe invocar a técnica da competência residual da
União. Noutras palavras, não é necessária lei complementar para instituição da
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Nessa toada, vale conferir outro trecho do voto do Min. CARLOS VELLOSO nos autos do RE nº
343.446/SC:
-se que as leis
Contudo, apesar de ter declarado a constitucionalidade da
co
regulamento foi além da lei (...) a questão não é de inconstitucionalidade. Se
verdadeira a alegação, ter-se-ia questão de ilegalidade, que não integra o
leitura conjugada do inc. II, alíneas a, b, e c, do art. 22, com o §3º, do mesmo artigo, vê-se
que a norma primária, fixando a alíquota, delegou ao regulamento alterar, com base em
estatística, o enquadramento referido nas mencionadas alíneas. A norma primária, pois,
fixou os padrões e, para a sua boa aplicação em concreto, cometeu ao regulamento as
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Nessa linha dispunha o art. 26 do Decreto nº 612/92:
trabalho deveriam ser aferidos levando-se em consideração a atividade
preponderante em cada estabelecimento autônomo da empresa.
(...)
§ 3º. Considera-se preponderante a atividade que ocupa, na empresa, o maior número de
segurados empregados e trabalhadores avulsos.
§ 4º. A atividade econômica preponderante da empresa e os respectivos riscos de
acidentes do trabalho compõem a Relação de Atividades Preponderantes e
correspondentes Graus de Risco, prevista no Anexo V.
§ 5º. O enquadramento no correspondente grau de risco é de responsabilidade da
empresa, observada a sua atividade econômica preponderante e será feito mensalmente,
cabendo ao Instituto Nacional do Seguro Social rever o auto-enquadramento em qualquer
tempo.
§ 6º. Verificado erro no auto-enquadramento, o Instituto Nacional do Seguro Social adotará
as medidas necessárias à sua correção, orientando o responsável pela empresa em caso
nossos)
e refinarias de petróleo estão sujeitos a um risco muito maior do que aqueles que
ocupam cargos administrativos em prédios comerciais da mesma companhia.
Assim, incluir-se no cômputo para fins de definição do grau de risco
preponderante todos os funcionários dessa empresa seria desconsiderar-se a
existência de realidades completamente distintas entre as diferentes unidades da
companhia.
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STJ, 2ª Turma, Resp nº 499.299/SC, Relatora Min. ELIANA CALMON, DJ 04.08.2003, p. 281.
10
STJ, 1ª Seção, EREsp nº 502.761/PE, Relator Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, j. em
10.08.2005 (Informativo nº 255/STJ).
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Dentre vários, cite-se:
corresponder ao grau de risco da atividade desenvolvida em cada estabelecimento
da empresa.
1ª Turma: EDcl nos EDcl no AgRg no Agravo de Instrumento n° 486.946/MG, Rel. Min. JOSÉ
DELGADO, DJ 13.12.2004, p. 220; AgRg no REsp nº 478.100/RS, Rel. Min. FRANCISCO
FALCÃO, DJ 17.05.2004, p. 114.
2ª Turma: AgRg no AG nº 517.883/MA, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ 22.03.2004,
p. 285; REsp nº 412.343/RS, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 06.09.2004, p. 200; EDAGA nº
556.744/DF, Rel. Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ 13.09.2004, p. 211; AgREsp nº
Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ 16.08.2004, p. 216; REsp nº 642.080/PR, Rel. Min.
CASTRO MEIRA, DJ 06.09.2004, p. 254; REsp nº 381.895/PR, Rel. Min. FRANCISCO PEÇANHA
MARTINS, DJ 06.09.2004, p. 197; EDREsp nº 321.290/SC, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ
23.08.2004, 162.
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Nesse sentido os seguintes precedentes da 1ª Turma: EDcl no REsp nº 433.081/RS, Rel. Min.
JOSÉ DELGADO, DJ 09.12.2002, p. 297; REsp nº 414.487/MG, Rel. Min. PAULO MEDINA, DJ
04.11.2002, p. 190; AgRg no REsp nº 508.726/SC, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJ
15.12.2003, p. 207.
13
STJ, 2ª Turma, EDcl no AgRg no Agravo de Instrumento nº 556.744/DF, Rel. Min. JOÃO
OTÁVIO DE NORONHA, DJ 13.09.2004, p. 211.
14
Precedentes da 2ª Turma do STJ: EDcl no REsp nº 419.064/SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ
07.10.2002, p. 241; AgRg no REsp nº 479.088/SC, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ 13.09.2004, p.
202; REsp nº 412.343/RS, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 06.09.2004, p. 200.
estabelecimento autônomo, concluindo que a alíquota da contribuição para o
SAT deve corresponder ao grau de risco da atividade desenvolvida em cada
estabelecimento da empresa. Entretanto, essa aferição individual somente é
admissível, no entender do STJ, nas hipóteses em que os estabelecimentos
TRIBUIÇÃO SOCIAL AO
SEGURO DE ACIDENTES DO TRABALHO-SAT. ALÍQUOTA. GRAU DE
RISCO. ART. 22, II DA LEI 8.212/91. ESTABELECIMENTO DA EMPRESA.
INSCRIÇÃO DA UNIDADE NO CNPJ. NECESSIDADE.
1. Entendimento pacificado na Corte de que, para fins de apuração
da alíquota do SAT, deve-se levar em consideração o grau de risco da
atividade desenvolvida em cada estabelecimento da empresa. Persiste,
entretanto, a divergência no tocante ao registro da unidade no CNPJ para
que seja obtido o grau de risco por estabelecimento da empresa, parâmetro
aferidor da alíquota da contribuição para o SAT, razão pela qual devem ser
conhecidos os embargos.
2. O Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas-CNPJ, sucessor do
Cadastro Geral de Contribuintes-CGC, é a base de dados utilizada pela
administração tributária, em todos os níveis, para identificar o sujeito
passivo da obrigação fiscal.
3. Atento à evolução das práticas comerciais, o Fisco exige o registro
no CNPJ de cada filial ou sucursal da empresa, para uma melhor
fiscalização acerca do cumprimento das obrigações tributárias por parte
dos contribuintes.
4. Não há como se impor ao INSS que individualize os graus de
riscos (art. 22, II, da Lei nº 8.212/91) em função de unidades da empresa
que não estão sequer registradas no CNPJ. Tal imposição redundaria em
premiar os que não providenciam a regularização de suas filiais perante o
fisco, em detrimento das sociedades que, cadastrando suas sucursais,
assumem os ônus administrativos, fiscais e contábeis decorrentes da
gestão de uma unidade devidamente registrada.
15
STJ, 1ª Seção, EREsp nº 478.100/SC, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ 28.02.2005, p. 182.
Conquanto seja acertado o entendimento do STJ no tocante à
questão relativa ao cálculo da contribuição para o SAT com base no grau de risco
de cada um dos estabelecimentos da empresa e não desta como um todo, por
outro lado é forçoso reconhecer que, ao limitar tal procedimento somente àquelas
-se
retirando da norma a eficácia que ela originariamente possuía. A nosso sentir, se a
lei determina a apuração do grau de risco por estabelecimento autônomo (e essa
questão é ponto pacífico, consoante demonstrado), condicionar-se a validade
dessa aferição ao preenchimento de um requisito formal registro individualizado
do estabelecimento no CNPJ é atentar contra o princípio hermenêutico segundo
o qual a lei não deve ser interpretada de forma a restringir sua eficácia. Como já
dizia CARLOS MAXIMILIANO16
completar e compreender; porém não alterar, corrigir, substituir. Pode melhorar o
dispositivo, graças à interpretação larga e hábil; porém não negar a lei, decidir o
16
MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito, 9ª ed. Rio de Janeiro: Forense,
1979, p. 79.
contribuinte. Por essa razão, vedar ao estabelecimento que não possui CNPJ
distinto do da matriz o direito de apurar a alíquota do SAT com base na sua
atividade preponderante é antijurídico e contraria o próprio espírito da Lei nº
8.212/91. A ausência de CNPJ próprio poderia ensejar a aplicação de penalidade
por descumprimento de obrigação acessória, jamais a apuração da exação de
forma discriminatória em relação aos demais estabelecimentos que possuem
CNPJ próprio. A lei é única e não distingue quanto aos contribuintes que possuam
17
STJ, 2ª Turma, REsp nº 317.846/PR, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ 09.05.2005, p. 324.
Nesse mesmo sentido, cite-se ainda:
STJ, 2ª Turma, EDcl no AgRg no REsp nº 328.798/PR, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ
05.09.2005 p. 335; STJ, 1ª Turma, REsp nº 412.789/SC, Rel. Min. GARCIA VIEIRA, DJ
27.05.2002, p.141; TRF da 1ª Região, 3ª Turma Suplementar, AC nº 1998.01.00.021387-9, Rel.
Des. Federal WILSON ALVES DE SOUZA, DJ 11.11.2004, p. 110.
grave) para determinação da contribuição para o SAT, partindo-se da
18
Essa a disposição da própria CLT, in verbis:
. A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá:
I. com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de
tolerância;
II. com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a
intens
(...)
Art. 194. O direito do empregado ao adicional de insalubridade ou periculosidade cessará
com a eliminação do risco à sua saúde ou integridade física, nos termos desta Seção e das
normas expedidas pe
em sede de embargos declaratórios com efeitos infringentes opostos pelo INSS,
mas, a nosso sentir, altamente coerente e acertada) 19:
MPAS disponha de uma rotina bem definida, que permita avaliar, controlar
e acompanhar esse processo de enquadramento das empresas, a partir de
indicadores que possibilitem medir gastos do sistema previdenciário com
acidentes de trabalho, a perda de homens-hora não trabalhadas e a
gravidade dos acident
(...)
Eliminando qualquer possibilidade de dúvida ainda porventura
existente, em livro oficial editado pelo próprio Poder Executivo (Colação
Previdência Social, série Debates, vol. 5: Sistemas de Seguro Contra
Acidentes do Trabalho nas Américas p. 89, edição e distribuição:
Ministério da Previdência e Assistência Social, 2001), obtém-se a seguinte
(...)
Conclui-se, portanto, ter havido evidente e cristalina agressão à Lei nº
8.212/91 por parte do Poder Executivo. (...) Não existe o enquadramento
válido dos contribuintes em qualquer dos graus de risco legalmente
estabelecidos, sendo o tributo inexigível e indevidos os valores recolhidos a
este título, até que sobrevenha enquadramento das atividades econômicas
19
TRF da 2ª Região, 1ª Turma, AMS nº 2000.02.01.050419-5, Rel. Des. Fed. NEY FONSECA, DJ
09.04.2003, pp. 90-93.
20
STJ, 2ª Turma, REsp. nº 288.887/RS, Rel. Min. FRANCIULLI NETTO, DJ 24.03.2003, p. 187.
TES DE
TRABALHO. SAT. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL.
PROPORCIONALIDADE. ATIVIDADE PREPONDERANTE.
(...)
O princípio da estrita legalidade diz respeito a fato gerador, alíquota e
base de cálculo, nada mais. O regulamento, como ato geral, atende
perfeitamente à necessidade de fiel cumprimento da lei no sentido de
pormenorizar as condições de enquadramento de uma atividade ser de
risco leve, médio e grave, tomando como elementos para a classificação a
natureza preponderante da empresa e o resultado das estatísticas em
matéria de acidente do trabalho. O regulamento não impõe dever,
obrigação, limitação ou restrição porque tudo está previsto na lei
regulamentada (fato gerador, base de cálculo e alíquota). O que ficou
submetido ao critério técnico do Executivo, e não ao arbítrio, foi a
determinação dos graus de risco das empresas com base em estatística de
acidentes do trabalho, tarefa que obviamente o legislador não poderia
desempenhar. Trata-se de situação de fato não só mutável mas que a lei
busca modificar, incentivando os investimentos em segurança do trabalho,
sendo em conseqüência necessário revisar periodicamente aquelas
tabelas. A lei nem sempre há de ser exaustiva. Em situações o legislador é
5. Conclusões
21
Lei nº 8.212/91:
§3º. O Ministério do Trabalho e da Previdência Social poderá alterar, com base nas
estatísticas de acidentes do trabalho, apuradas em inspeção, o enquadramento de
empresas para efeito da contribuição a que se refere o inciso II deste artigo, a fim de
(a) são ilegais os Decretos nºs 2.173/97 e 3.048/99 na parte em que
determinam a apuração do SAT com base na atividade preponderante da
empresa. Consoante entendimento pacificado do STJ, o grau de risco deve
ser aferido por estabelecimento autônomo, e não pelo número total de
empregados da companhia;
(b) o STJ também entende que estabelecimento autônomo é somente aquele
que possui CNPJ próprio. Data maxima venia, este não é o entendimento
que reputamos acertado, haja vista que o mero fato de um estabelecimento
utilizar-se do CNPJ de outro (não possuindo um número próprio) não
transmuda a sua natureza: o estabelecimento continua existindo, de forma
autônoma e possuindo características próprias, que exigem que o grau de
risco do SAT seja apurado levando-se em consideração tão-somente os
empregados que nele laboram (haja vista que os funcionários dos demais
estabelecimentos da empresa não possuem correlação direta com o risco
enfrentado pelos trabalhadores de uma unidade específica e apartada das
demais);
(c) é ilegal a exclusão, pelo INSS, dos funcionários que exercem atividade-
meio para fins de verificação da preponderância do grau de risco, sendo,
nessa toada, ilegais o item 2.2.1 da ON nº 02/97 e o art. 86, II, b da IN nº
03/05 (que determinam a aludida exclusão);
(d) a desconsideração pelo INSS dos esforços envidados pela empresa para a
redução dos riscos de acidente do trabalho não é consentânea com os
objetivos das normas jurídicas que regem a matéria, restando evidente que
o critério objetivo e absoluto de enquadramento do grau de risco adotado
pelo Decreto nº 3.048/99 é ineficaz. A classificação de determinada
atividade como de risco leve, médio ou grave deve atender às
especificidades de cada empresa, devendo o enquadramento normativo
servir como parâmetro a ser seguido pela fiscalização, mas nunca como
uma presunção juris et de jure.