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IVONE DE LUCENA FIGUEIREDO


Universidade Federal da Paraíba – Campus I

PROCEDIMENTOS DE TEMATIZAÇÃO
E FIGURATIVIZAÇÃO NA
PRODUÇÃO TEXTUAL DE ALUNOS
DE TERCEIRO GRAU

As estruturas discursivas são enriquecidas se- remete ao mundo natural. Essa abstração é concreti-
manticamente pelos procedimentos semânticos de zada pelo revestimento figurativo que cria um efeito
tematização e figurativização que tornam as organi- de realidade, pois constrói uma imagem do real e
zações discursivas complexas e específicas. representa, assim, o mundo.
Os valores virtuais, que surgem na camada fun- É preciso, pois, descobrir o tema subjacente
damental, apresentam-se no nível discursivo como às figuras para que elas tenham sentido porque são
percursos temáticos e figurativos. É através de per- sempre a concretização de um tema. Para analisar um
cursos figurativos que se podem criar efeitos de sen- texto do ponto de vista da tematização ou figu-
tido. O revestimento figurativo do objeto-valor rativização, não interessa isolar a figura ou o tema.
estabelece uma relação com o percurso temático para, Muito pelo contrário, porque mesmo sendo opos-
no processo discursivo, disseminar o tema numa co- tos, os dois elementos são complementares. Segun-
erência semântica do discurso criando, então, “a do Courtés (1991:164):
concretização figurativa do conteúdo, efeitos de sen-
...o figurativo refere-se ao mundo exterior, per-
tido sobretudo da realidade” (Barros, 1990:68). ceptível pelos sentidos: o temático concerne ao
É o sujeito da enunciação o responsável pelo mundo interior as construções propriamente men-
revestimento temático e figurativo do discurso. É tais com todo o jogo de categorias conceptuais
com esses mecanismos de tematização e figura- que os constituem.
tivização que ele dota o seu discurso de coerência
Fiorin (1990:72) confirma essa relação entre
semântica e cria efeitos de realidade.
É também através (da repetição) de temas e o temático e o figurativo quando afirma que
figuras que os discursos estabelecem relações ... os temas são palavras ou expressões que não
contratuais e polêmicas com outros discursos: correspondem a algo existente no mundo natural
mas a elementos que categorizam, ordenam a
Os discursos, por estarem ligados aos temas e
realidade percebida pelos sentidos.
figuras de formação social em que estão inseri-
dos, citam outros discursos, repetindo os temas e e concebe as figuras como elementos concretos:
figuras, estabelecendo com eles relações …são elementos ou expressões que corres-
contratuais e polêmicas (Fiorin, 1988a:46 apud pondem a algo, existente no mundo natural: subs-
Gregolin, 1988:139). tantivos concretos, verbos que indicam atividades
O processo de tematização se faz “pela recor- físicas, adjetivos que expressam qualidades físi-
rência de traços semânticos ou semas, concebidos cas (1990:72).
abstratamente” (Barros, 1990:68) que são chama-
dos de percursos temáticos. É o sujeito narrativo Portanto, corroboramos, assim, a inter-relação
convertido em ator que cumpre o papel temático, isto e a complementação entre o temático e o figurativo.
quer dizer que a recorrência de um tema no discurso O primeiro tem como função procurar explicar os
depende da conversão do sujeito. O tema é sempre a fatos e as coisas do mundo, buscar classificar, orde-
constante e as figuras as variáveis porque figu- nar e interpretar a realidade e o segundo, por buscar
rativizam os mesmos temas de várias maneiras. elementos concretos (como bichos, gente, cores,
Para Fiorin (1989:65), o tema é sons, etc), tem função de criar efeito de realidade
... um investimento semântico, de natureza pu- através da construção de cena real, representando o Revista
ramente conceptual, que remete ao mundo na- mundo natural (Fiorin, 1990:72). do GELNE
tural. Temas são categorias que organizam, Os temas são depreendidos pelo que subjaz às Ano 1
categorizam, ordenam os elementos do mundo figuras e estas estão subordinadas ou estão sob con- No. 1
natural. trole de um contexto que torna possível as possibili- 1999
Parte-se, assim, de uma abstração para uma dades significativas. Dessa forma, os temas, que estão
concretização - a figurativização - que, por sua vez, na subjacência de um texto, são depreendidos segun-
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do um cotejo minucioso das figuras que unem e se A atividade que gerou este texto deu-se a par-
ordenam no interior do texto. tir da observação e da leitura sensorial-emocional
Podemos concluir, portanto, concordando com (MARTINS, 1988) de diferentes gravuras. A aluna
as palavras de Fiorin: escolheu a figura (preto e branco) do rosto de um
Temas e figuras são palavras e expressões velho cujos traços visuais marcam a sua idade, seus
que servem para revestir as estruturas mais aspectos fisionômicos. A motivação para a constru-
abstratas do texto. As figuras representam ção do sentido, da semiotização fundamentou-se em
no texto coisas e acontecimentos do mun- “leituras” feitas pelos alunos, a partir do saber ar-
do natural. Os temas interpretam e expli- mazenado de cada um, da sua experiência em rela-
cam os fatos que ocorrem e tudo aquilo ção ao texto-motivador.
que existe no mundo (Fiorin, 1990:89). Podemos dizer então que, para “traduzir” em
Diante de todas essas considerações, vemos que “novas significações”, a “leitura” que o texto-
os processos de tematização e figurativização são per- motivador provocou em cada aluno, foi acionada a
cursos que podem formalizar um texto estruturando sua “competência enciclopédica”. Isso quer dizer que,
parte da sua teia onde se embrenha o sentido. o aluno, para “ler” a gravura, relacionou a ela seus
Consideramos importante a presença de um conhecimentos de mundo, o conjunto de saber e de
texto-motivador e sustentamos a idéia de que o ler/ crença, o seu sistema de representações e interpreta-
escrever são mecanismos imprescindíveis para a pro- ções. O rosto do velho acionou em cada aluno o uni-
dução textual. Estes dois procedimentos conduzem verso referencial sobre o homem do Nordeste, sobre
ao processo de semiotização e proporcionam ao alu- os resultados trágicos que são provocados pela seca.
no procedimentos de manobras discursivas de uma Essa bagagem armazenada culturalmente sobre o
sintaxe e uma semântica, responsáveis pela constru- sertão nordestino e sobre o sertanejo, constitui-se
ção do sentido do texto. em informações prévias sobre o Nordeste, forman-
A partir de análises de textos produzidos em do o “sistema cognitivo de base” que funcionou
oficinas do Atelier de Leitura e Produção Textual, como referencial, estimulado pela leitura do texto-
selecionamos dois textos para analisar como os alu- motivador, permitindo que ela lesse o rosto de um
nos, através do investimento semântico, construíram velho, como o rosto de um nordestino.
sentidos que fizeram do seu texto um texto. As es- O texto O Nordestino tem como tema a co-
truturas textuais manifestadas em discursos são re- ragem do homem do sertão nordestino. Para con-
sultado de semioses que podem resultar na criação, cretizar o tema, o sujeito-enunciador utiliza-se de
recriação e produção que guiarão o percurso gerativo figuras do mundo natural com finalidade de cons-
de sentido de cada texto a ser construído. truir a imagem desse homem corajoso e sofrido do
Os dois textos que se seguem, foram escolhi- sertão. A figurativização desse homem se dá no
dos para analisar como os alunos usam do recurso texto pela descrição visual da sua fisionomia: o olhar
do procedimento de tematização e figurativização do espanto, boca rija, cerrada, a barba crespa, rústi-
para construir o sentido do seu texto. co que reflete suas características psicológicas:
O Nordestino solitário, resignado, teimoso, esperançoso:
A imagem em preto homem do campo
e branco surpreende o olhar de espanto
o homem do campo. boca rija, cerrada
Sobrancelhas densas arqueiam solitário
o olhar de espanto. resignado
Tudo nele é seco, imóvel a barba crespa é a marca do rústico,
vago. do teimoso na vida
O nariz é um referencial vida rala, curtida de sol e esperança
a dividir os flancos em disfarçado no pequeno chapéu de palha.
direção à boca rija, A imagem visual, o retrato de um velho, (tex-
cerrada - como a to-motivador) serviu de referencial para a leitura
esconder o discurso sensorial e emocional, estimulando a imagem do
solitário, resignado do sertanejo e do meio em que vive, o retrato da seca:
nordestino. “tudo nele é seco, imóvel, vago”, a fome, a miséria:
A barba crespa é “o nariz é um referencial a dividir os flancos em di-
a rigor a marca reção à boca rija”. É essa a imagem visual figu-
do rústico, do rativizada que o texto constrói do homem do sertão,
Revista teimoso na vida - do homem “resignado”. A figura da “boca rija cerra-
do GELNE vida rala, curtida da” - como a esconder o discurso solitário - retrata
Ano 1 de sol e esperança o lugar social onde se insere o sertanejo: na classe
No. 1 disfarçado no dos oprimidos.
1999
pequeno chapéu de palha. O que o texto tenta mostrar, em seu percurso

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Jandira Costa figurativo, através da figura do homem do sertão é
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que, apesar da fome, da seca, da miséria, do rústico, Para reconquistar o amor, é necessário ser se-
sem esperanças (“Tudo nele é seco imóvel, vago”) melhante à flor pau-brasil: “roubar-lhe o perfume”,
ele é um homem corajoso. Essa imagem de cora- ter sua beleza, emprestar suas características por-
gem, é a imagem do homem do sertão nordestino que, com suas qualidades (perfumada, sedutora, bela,
figurativizada pelos traços físicos e psicológicos cor (amarela), aroma, realeza), será possível a re-
traçados pelo texto. conquista do apaixonado. Ao reconquistar a amada,
Como violino em canção de amor a sua “vida terá validade”:
Queria roubar-te o perfume Então te devolveria tudo
E me tornar tão sedutor A minha vida já teria valido.
Queria também a tua beleza O que assegura a coerência semântica do dis-
Eu seria o ser mais belo curso de Como violino em canção de amor é a
do perfume mais sedutor tematização e a figurativização que revestem o
E assim reconquistaria minha outra flor conteúdo do texto. Constatamos que o aluno é capaz
de outra cor, outro aroma e igual realeza de produzir textos dotados de sentido; o que signifi-
Então te devolveria tudo ca dizer que ele é capaz de elaborar transcodificações
A minha vida já teria valido. infinitamente através de metamorfoses particulares,
Giuliano Simões individuais e irrepetíveis e fazer revestimentos fi-
gurativos que garantem a coerência semântica: o
O texto Como violino em canção de amor novo ato de discursivização.
tematiza o objeto-motivador, pau-brasil, de uma ma- Concluímos, portanto, que a coerência e
neira particularizada: o tema discursivizado é o sen- os efeitos de sentidos no nível discursivo,
timento do amor e de reconquista da pessoa amada: são instrumentos semânticos – a tema-
sedução/reconquista da pessoa amada. Para desen- tização e a figurativização. O que signi-
volver o tema, motivado pela flor do pau-brasil, res- fica dizer que valores são assumidos por
salta as suas qualidades. A beleza da flor é descrita, no sujeitos e difundidos sob forma de per-
texto, por meio de elementos da realidade perceptí- cursos temáticos que podem receber re-
vel: visão e olfato. Assim, a flor recebe qualidades vestimentos figurativos.
como sedutora, perfumada, bela, de cor, de realeza:
Os textos analisados (produzidos por alunos
... tornar tão sedutor no Atelier de Leitura e Produção Textual - oficina
... roubar-te o perfume de texto/UFPB) são resultados de percursos te-
Queria também tua beleza máticos e figurativos que, reiterando o tema de cada
... igual realeza. texto, constroem a coerência textual.
A análise nos mostra como se deu o investi-
O violino (Como violino em canção de amor)
mento semântico: como os alunos revestiram temas
representa, a suavidade, a beleza, a sensibilidade, para
e como determinadas figuras adquiriram significações
o amor; a singeleza, a beleza, o aroma, a realeza
em contextos particularizados. Isto é, como determi-
da flor representam o conjunto de características
nados temas foram configurados diversificadamente
capazes da sedução. Assim, ambos possuem encan-
produzindo efeitos de sentidos diversos.
tos que podem conquistar e reconquistar a pessoa
amada; esse conjunto de características é o proces-
so sedutor da conquista. Bibliografia
O encadeamento do tema, sedução/recon-
quista da pessoa amada, se dá pela presen- BARROS, D. L. P. Teoria semiótica do texto. São
ça dos caracteres da flor pau-brasil Paulo: Ática, 1990.
captados por elementos perceptíveis dos COURTÉS, J. Analyse sémantique du discours: de
sentidos. As figuras da beleza, do perfu- l’énoncé à l’enoncuation. Paris: Hachette, 1991.
me, da sedução se unem e se ordenam FIGUEIREDO, I. L. Fiando as tramas do texto: a
no interior do texto revestindo estruturas produção de sentidos no Atelier de Leitura e
subjacentes. Estes caracteres da flor pau- Produção Textual. Araraquara: FCL. Tese de
brasil (figuras) adquirem significação no Doutoramento, 1998.
intradiscursivo do texto e constroem o
percurso isotópico da sedução, direcio- FIORIN, J. L. Linguagem e ideologia. São Paulo:
nando a leitura do texto. Ática, 1988.
FIORIN, L. e SAVIOLI, F. P. Para entender o texto:
Assim como os acordes e os encantos do vio- leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. Revista
lino em canção de amor podem conquistar um amor, do GELNE
as qualidades da flor pau-brasil podem conquistar e GREGOLIN, M. R. F. V. As fadas tinham idéias: es-
tratégias discursivas e produção de sentidos. Ano 1
reconquistar o seu amor (“minha outra flor”), por- No. 1
Araraquara: FCL. Tese de Doutoramento, 1988.
que o seu perfume, a sua beleza, a sua cor podem 1999
fazer a sedução. A recorrência a essas figuras, asse- MARTINS, M. H. O que é leitura? 9. ed. São Paulo:
gura e desencadeia a isotopia da sedução. Brasiliense, 1988.
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