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FIBRAS DE ÍNDIO

Arte e Cultura no Médio Rio Negro


FIBRAS DE ÍNDIO
Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Manaus• 2006
Fundação Vitória Amazônica © 2006

Realização:

ACIMRN – Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro


ASIBA – Associação Indígena de Barcelos
FVA – Fundação Vitória Amazônica
YAKINO – Associação de Produção e Cultura Indígena

Apoio:
Equipe do Projeto
Carlos César Durigan
Fábio Origuela de Lira
Rosa Fonseca Pereira – Pira Tapuia – Santa Isabel do Rio Negro
Diana Tomas de Melo – Baré – Barcelos
Marcilene de Souza Rodrigues - Baré- Barcelos
Maria Lucilene Lourenço Fidelis – Baniwa - Barcelos
José Alberto Lourenço Fidelis – Baniwa - Barcelos
Jander da Silva Padilha - Tukano- Santa Isabel do Rio Negro
Romário P. Leite Fróes - Baré- Santa Isabel do Rio Negro

Apoio Técnico (análise de dados e mapeamento)


Marcelo Paustein Moreira
Simone Iwanaga
Tatiana Andreza da Silva Marinho

Comunitários, Associados e Estudantes participantes


Adreolina Ferreira da Motta, Adriana, Ailton Francisco Pereira Muniz, Alberta Aparecida, Alberto, Aleson de
Jesus Lima, Alexandra de Jesus Bonfim, Ana Cláudia de Jesus Gonçalves, Ana Paula de Jesus, Anísio Neto das
Chagas Sucre, Antonio Campos – Tariano, Antonio, Auzenina Rodrigues Moraes, Casemiro, Cleide, Diovans
de Jesus Almeida, Divalcinei, Edison Emitério Casimiro – Baniwa, Emiliana Geovaz da Silva – Baniwa, Eliene
da Silva Cavalcante, Fátima Oliveira Serafi, Gessiane Peinado Lopes, Gessica Peinado Lopes, Geiziane, Geiziloize
Melgueiro Muniz, Geovane, Gracilene, Heleno Luis Serra da Silva, Ideilson, Idelfonso, Idemilson, Idelgleice
da Silva e Silva, Jaciane da Silva Cavalcante, Josivam, Juliana de Jesus Bonfim, Jociene, Jonas Serra de Souza,
Josias, Laureano João da Silva – Baniwa, Lazaro Almeida Muniz – Desano, Leide Laura de Lima Batista, Lucimar
de Jesus, Marciel, Marcinael, Maria Aparecida Dias – Tukano, Maria Fiama do Rosário de Souza, Maria Irineia,
Mariene do Carmo P. da Silva, Marlison, Naziene da Silva, Paloma de Jesus Pereira Leite, Patrícia de Jesus
Pereira Leite, Percilio Francisco – Baniwa, Queuriane, Rodrigo da Silva Brazão, Ronilda, Salatiel, Sheila do
Rosário das Chagas, Zenaide Nery Lemos

Comunidades Participantes
Bacabal - Rio Aracá - Barcelos
Baturité – Rio Negro - Barcelos
Campinas – Rio Preto – Santa Isabel do Rio Negro
Cumaru – Rio Negro - Barcelos
Elesbão – Rio Aracá - Barcelos
Floresta – Rio Negro - Barcelos
Romão – Rio Aracá - Barcelos
Samaúma – Rio Demeni - Barcelos
6 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 7

Sumário

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

As comunidades e os municípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

O uso dos recursos naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

O artesanato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Descrição dos produtos artesanais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

A arte dos grafismos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

Problemas vividos nas comunidades e busca de soluções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

Histórias, palavras e relatos reunidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Carta da ACIRP (Associação das Comunidades Indígenas do Rio Preto)


a entidades de apoio: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Pequenas descrições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
O que é ser indígena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Histórias contadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Contato das entidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

Mapa da área estudada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39


8 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Agradecimentos

A
A todas as famílias das comunidades envolvidas no projeto, às escolas: Escola Munici-
pal Tenente Brigadeiro e Escola Estadual de Santa Isabel do Rio Negro e Escola Esta-
dual Professor João Badalotti de Barcelos pela possibilidade dada aos alunos envolvi-
dos de participarem do projeto, à FOIRN (Federação da Organizações Indígenas do
Rio Negro), e especialmente à FAPEAM, pelo apoio e incentivo nas horas difíceis do
projeto.

“... Muito importante nós indígenas se organizar em associação... Para


podermos conseguir a nossa economia alternativa junto com nosso arte-
sanato como panela de barro, cesto, urutu, abano, cumatá.” (Cecília
Tukano)

“... Precisamos nos unir para sermos respeitados...” (Virgília Baré)

“Eu sou tariano (kama deneh), bisneto do trovão, saí da fumaça do cigarro,
vamos, vamos todos procurar a nossa cultura do passado e aprender a nossa
língua materna, dança, xamanismo, pajé, costumes. Assim nós levaremos me-
lhor a nossa política indígena para frente, formando a nossa associação, lutando
para conseguir o nosso direito indígena.” (Américo Tariano)

Trechos do relatório do Encontro Indígena de Barcelos, realizado em 05/11/1999.


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 9

Apresentação

E
Este livro nasceu da experiência desenvolvida pela Associação de Produção e Cultura
Indígena Yakino, que com o apoio técnico da Fundação Vitória Amazônica e recursos
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM realizou o
projeto “Manejo de Fibras e Revitalização da Cultura Indígena no Médio Rio Negro”.
O objetivo principal desta proposta foi documentar as manifestações culturais ligadas aos
grupos indígenas presentes na região ocupada pelos municípios de Barcelos e Santa Isabel
do Rio Negro, principalmente aquelas voltadas à produção de artesanato em fibras vege-
tais, de forma a buscar posteriormente formas de revitalização cultural frente a crescente
perda de costumes e valores observada na interação entre a cultura dos povos indígenas
do Rio Negro com a sociedade envolvente.
Para isto, e em conjunto com as associações indígenas destes municípios, a ASIBA (As-
sociação Indígena de Barcelos) e a ACIMRN (Associação das Comunidades Indígenas
do Médio Rio Negro), várias atividades foram desenvolvidas, envolvendo estudantes
indígenas e as comunidades de Baturité, Campinas, Cumaru, Elesbão, Floresta, Romão
e Samaúma e alguns de seus resultados e reflexões apresentamos aqui.
10 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 11

Introdução

A
A Associação do Produção e Cultura Indí-
gena Yakino, constituiu-se como uma expe-
riência para o fortalecimento da identida-
de étnica, através da revitalização das ma-
nifestações culturais dos povos indígenas
ta atualmente para as populações indígenas
na região do rio Negro. Este projeto gerou
ações iniciais para a identificação e documen-
tação da cultura material das comunidades
participantes, assim como tem crescido o de-
envolvidos, representados por 75 organiza- bate em torno da questão da revitalização da
ções, em 9 estados amazônicos, somando produção material entre os mais jovens.
165 etnias indígenas. Iniciado em novembro de 2004, a partir de
No período de 2000 a 2004, a Associação articulações em diversos níveis, levanta-
Yakino estruturou um Centro de Referên- mentos de dados secundários e pesquisa de
cia Indígena em Manaus, responsável pela campo, este projeto identificou uma cres-
aquisição e venda de artesanato indígena, cente perda cultural ocorrida aos grupos in-
além de se estabelecer como centro de dígenas presentes na região de Barcelos e
intermediação entre a COIAB – Coordena- Santa Isabel do Rio Negro, provocada pelo
ção das Organizações Indígenas da Ama- seu contato de mais de 3 séculos com a so-
zônia Brasileira e instituições de apoio com ciedade nacional envolvente, que transfor-
os grupos envolvidos na iniciativa. mou a região numa zona de “fronteira
Um de seus focos, centrado na produção de sociocultural”. Aliada a este fato, o crescente
artesanato como alternativa de geração de abandono das comunidades, devido a fa-
renda, gerou a demanda de se iniciar a exe- tores que vão desde problemas na área de
cução de pesquisa participativa para docu- educação até a busca de oportunidades de
mentar a produção artesanal em comuni- emprego, contribuem cada vez mais com o
dades indígenas, assim como discutir jun- crescente processo de perda cultural e es-
to a elas projetos para viabilização de suas vaziamento de áreas originais de vida.
ações. Assim nasceu o projeto “Manejo de Neste contexto, o potencial de desenvolvi-
Fibras e Revitalização Cultural no Médio mento da produção artesanal como fonte de
Rio Negro”, desenvolvido nos municípios renda traz à luz a busca por uma
de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro. reafirmação étnica e a revitalização, a par-
Um passo importante foi dado na busca de tir do seu modo de produção, das histórias
vencer os desafios no cenário que se apresen- e mitologias de cada grupo envolvido.
12 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

As comunidades e os municípios

S
São inúmeras as comunidades existentes
ao longo da calha do rio Negro e seus aflu-
entes. Na região do Médio rio Negro, o
mais marcante é que a maioria delas são
indígenas, representadas por diversos gru-
As comunidades de Barcelos e Santa Isabel
do Rio Negro como é comum na região,
organizam-se principalmente pela agrega-
ção de famílias em torno de serviços como
escola, estação de radiofonia e acesso a ser-
pos étnicos, que ainda mantém forte iden- viços de saúde. Formam uma constelação
tidade mesmo frente ao intenso processo de grupos sociais que dependem da rela-
de colonização e as consequentes mudan- ção com as sedes dos municípios, que os
ças ocorridas ao longo de gerações. A mo- abastecem com mercadorias industrializa-
dernização trouxe a energia elétrica, os das, geralmente trocadas por serviços e pro-
motores de popa, os produtos industriali- dutos agroextrativistas.
zados, mas nos municípios de Barcelos e Das oito comunidades participantes, Cumaru
Santa Isabel do Rio Negro, estes novos ele- foi a única comunidade não amostrada por
mentos dividem seu espaço com produtos questionários. As sete demais comunidades
indígenas como cestos, aturás, tipitis, tiveram, no total, mais da metade das famíli-
tupés, produzidos com fibras vegetais que as residentes amostradas por questionários,
refletem uma cultura ainda viva nos cos- o que equivale a 67 famílias e 376 indivíduos
tumes de produção de utensílios para usos (Tabela 1). Assim, o dados apresentados nes-
doméstico. A paisagem foi se modifican- te estudo é resultante de dados coletados de
do com a urbanização, o asfalto, mas ain- uma amostra de 67 famílias residentes em seis
da a forma de construir viver e produzir comunidades do município de Barcelos
se mantém viva entre as comunidades in- (Bacabal, Baturité, Elesbão, Floresta, Romão
dígenas da região. e Samaúma) e uma do município de Santa
Apesar das mudanças, ainda é possível afir- Isabel do Rio Negro (Campinas).
mar que a característica principal da popu- Foram registradas famílias das seguintes
lação do médio rio Negro é a de possuir etnias: Arapaso, Baniwa, Baré, Desana,
uma cultura agroextrativista fortemente Macuxi, Pira-tapuya, Tikuna, Tukano e
influenciada pelo modo de vida indígena Tuyuka (Tabela 2). Com excessão das famí-
com sua base de vida focada na produção lias Macuxi e Tikuna. Estes povos indígenas,
agrícola tradicional e no extrativismo de com excessão das etnias Macuxi e Tikuna,
produtos da floresta e dos rios. têm por origem a região do Alto Rio Negro,
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 13

TABELA 1 » Comunidades e proporção de famílias e indivíduos residentes amostrados no presente estudo. Todas
as comunidades localizadas no município de Barcelos exceto Campinas localizada em Santa Isabel do Rio Negro.

Núme ro total de Núme ro de famílias Núme ro de indivíduos


Comunidade
famílias re side nte s amostradas (%) amostrados
Bacabal 9 6 (66,7) 34

Baturité 13 13 (100,0) 64

Campinas 19 19 (100,0) 131

Cumaru 23 0 0

Ele sbão 5 5 (100,0) 24

Flore sta 15 12 (80,0) 64

Romão 10 5 (50,0) 17

S a ma úma 8 7 (87,5) 42

Total 102 67 (65,7%) 376

conhecida por sua grande diversidade étni- ticas Aruak, Maku, Tukano e Yanomami). A
ca (22 etnias divididas nas famílias lingüís- mudança para o médio rio Negro fez com

TABELA 2 » Distribuição da população amostrada neste estudo por grupo étnico.

E tn i a Núme ro de indivíduos (%) M ul he r e s H o me ns


Baré 243 (65,9) 102 141

Baniw a 64 (17,3) 34 30

Tukano 29 (7,9) 14 15

De sana 17 (4,6) 8 9

Pira-Tapuya 9 (2,4) 5 4

Arapaso 2 (0,5) 2 -

Macuxi 2 (0,5) 2 -

Tikuna 1 (0,3) 1 -

Tuyuka 1 (0,3) 1 -

N 368 169 199


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que estes grupos se defrontassem com uma maior diversidade étnica encontrada no
nova realidade, inseridos dentro de um novo grupo das mulheres em relação aos homens.
sistema cultural característico das cidades, Entre as comunidades que tiveram a totali-
reorganizaram suas vidas em moldes seme- dade de famílias amostradas, Campinas foi
lhantes aos dos seus habitantes não indíge- a de maior diversidade étnica (Tabela 3).
nas e notadamente substituíram muitos de Apesar desta riqueza etnocultural, notamos
seus costumes e crenças. um processo crescente de perda de elemen-
Na população total amostrada, apenas uma tos importantes destas culturas, favorecida
pessoa declarou não pertencer a qualquer pelas intensas migrações, tanto para o
grupo étnico e para mais sete não foram engajamento na produção extrativista,
coletados dados sobre identidade étnica. A como pela proximidade aos centros urba-
etnia predominante entre a população nos. Cada vez mais as “festas de santos” ou
amostrada (N=368 indivíduos) é a Baré, se- religiosas tomaram o lugar dos
guida de Baniwa, Tukano, Desana, Pira- “dabucuris”, danças tradicionais agora
Tapuya e mais quatro grupos menos nume- competem com o forró, mitos de criação
rosos representados por uma ou duas pes- confundem-se com os de criação do mun-
soas. Por outro lado, esses grupos menos do cristão. Desta forma há uma tendência
representados foram responsáveis pela de que os mais jovens se desinteressem pe-

TABELA 3 » Distribuição dos grupos étnicos por comunidade.

E tn i a Bacabal Baturité Campinas Ele sbão Flore sta Romão S a ma úma


Baré 14 (41,2) 60 (95,2) 73 (57,5) 14 (58,3) 62 (98,4) 13 (81,3) 7 (17,1)

Baniw a 16 (47,1) 2 (3,2) 37 (29,1) 1 (4,2) 1 (1,6) - 7 (17,1)

Tukano 3 (8,8) - 5 (3,9) 9 (37,5) - 3 (18,8) 9 (22,0)

De sana - - 1 (0,8) - - - 16 (39,0)

Pira-Tapuya - - 9 (7,1) - - - -

Arapaso 1 (2,9) - - - - - 1 (2,4)

Macuxi - 1 (1,6) 1 (0,8) - - - -

Tikuna - - 1 (0,8) - - - -

Tuyuca - - - - - - 1 (2,4)

N 34 63 127 24 63 16 41
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 15

las tradições indígenas, seduzidos por esta gua de origem e nem o Nhengatu apresen-
nova organização de mundo que se coloca. tou um claro padrão etário (Tabela 4). Mais
Mais preocupante é a perda da língua. de 70% destes indivíduos são crianças ou jo-
Todos os indivíduos amostrados com dois vens de até 20 anos de idade (Tabela 4).
anos ou mais de idade (N=342 indivíduos) Uma análise destas declarações dentro de fai-
falam português. Por outro lado, apenas xas etárias fornece um quadro mais claro do
4,7% (16/342) dos indivíduos desta mesma status atual da relação entre a população
população declarou falar as línguas dos gru- amostrada e suas línguas nativas (Figura 1).
pos étnicos aos quais pertencem, e de forma Mais de 90% de 187 jovens de até 20 anos de
independente, apenas 31,3% (107/342) decla- idade não falam nem as línguas dos grupos
rou falar a língua geral (Nhengatu). étnicos aos quais pertencem e nem o
Distribuindo esta população em categorias Nhengatu (Figura 1). O uso destas línguas
excludentes, tem-se que 0,9% (3/342) dos in- ainda permanece em cerca de metade da po-
divíduos fala somente as línguas dos grupos pulação entre 21 e 40 anos de idade e cerca de
étnicos ao quais pertencem, 27,5% (94/342) 78% da população acima de 40 anos (Figura 1).
falam somente o Nhengatu, 3,8% (13/342) fa- Mais de 70% (71,7%, 33/46) dos indivíduos
lam ambas, e 67,8% (232/342) não falam nem na faixa etária entre 21 a 40 anos de idade que
uma nem outra. A alta proporção de indiví- não falam nem uma língua nem outra são pais
duos que declararam não falar nem sua lín- ou mães, o que provavelmente explica a alta

TABELA 4 » Distribuição etária de 342 indivíduos amostrados neste estudo com dois anos ou mais de
idade que declararam não falar nem a língua de origem e nem a língua geral (Nhengatu) (coluna A) ou
que declararam falar uma ou outra ou ambas (coluna B).

núme ro de indivíduos (%)


Idade
A B

até 10 anos 112 (48,3) 0

11 a 20 anos 60 (25,9) 15 (13,6)

21 a 30 anos 27 (11,6) 30 (27,3)

31 a 40 anos 19 (8,2) 15 (13,6)

>40 anos 14 (6,0) 50 (45,5)

N 232 110
16 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

proporção de jovens de até 20 anos que tam- etnias mais representativas (Baré, Baniwa,
bém não utilizam essas línguas. Tukano e Desana) a proporção de indiví-
Entre as etnias, a não utilização das línguas duos que não falam nem a língua de seu
de origem e mesmo o Nhengatu parece grupo étnico e nem o Nhengatu variou de
ocorrer em proporções semelhantes. Nas 59,3% a 76,5% (Tabela 5).

FIGURA 1 » Proporção de indivíduos amostrados neste estudo com dois anos ou mais de idade que declararam
falar ou não a língua da etnia ou a língua geral (Nhengatu) ou ambas, por faixa etária (N=342 indivíduos).

TABELA 5 » Proporção de indivíduos que não falam nem as línguas dos grupos étnicos aos quais perten-
cem e nem o Nhengatu em cada grupo étnico identificado neste estudo.

Núme ro de indivíduos que não falam ne m


E tn i a N
a língua da e tnia ne m o Nhe ngatu (%)
Bare 226 156 (69,0)

Baniw a 61 41 (67,2)

Tukano 27 16 (59,3)

De sana 17 13 (76,5)

Pira-Tapuya 8 1 (12,5)

Arapaso 2 1 (50,0)

Macuxi 2 1 (50,0)

Tikuna 1 1 (100,0)

Tuyuca 1 1 (100,0)

N 345 231
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 17

O uso dos recursos naturais

O
O contraponto a esta crescente perda de ele-
mentos identitários dos grupos indígenas, é
notado a partir de uma análise do uso dos re-
cursos naturais como é feito pelas populações
indígenas que habitam a bacia do rio Negro,
Com a chegada dos colonizadores euro-
peus, há uma forte apropriação deste conhe-
cimento na busca pelos produtos da flores-
ta, e os grupos indígenas locais começam a
fazer parte desta cadeia comercial focada
que é fruto de um profundo conhecimento do em produtos como a seringa e a piaçava.
meio natural, que gera o desenvolvimento de No intercâmbio cultural que passa a existir
técnicas e estratégias de vida altamente adap- desde então, a produção artesanal se man-
tadas e embasadas na agricultura de corte-e- tém viva, como podemos observar nos da-
queima e no extrativismo animal e vegetal. dos coletados neste estudo.
Mesmo com a grande diversidade étnica Neste trabalho, foi possível mapear algumas
existente na região, pode-se dizer que mui- áreas onde são exploradas as principais fi-
tas destas técnicas são amplamente disse- bras utilizadas tanto para o comércio junto
minadas desde tempos remotos devido à ao mercado local, como para a fabricação de
grande interação entre grupos de diferen- produtos para o uso diário (ver mapa).
tes etnias, ao mesmo tempo em que certas No tocante às plantas utilizadas para a con-
particularidades são desenvolvidas por fecção de artesanato, um total de 34 foi iden-
cada grupo, criando assim um universo tificado pelos residentes das sete comuni-
amplamente difundido de manifestações dades amostradas (Tabela 6). As plantas
culturais e inseridos nele, conjuntos meno- com maior número de variedades utiliza-
res que distinguem cada povo. das foram o Arumã (cinco variedades), se-

TABELA 6 » Plantas utilizadas pelos residentes das sete comunidades amostradas.

Nome da planta Núme r o de comunidade s


Hábitat de cole ta
(família ou gr upo botânico) que de clar ar am utilizar
Ar umã me mbe ca (Mar antace ae ) igapó 7
Tucumã (Ar e cace ae ) r oçado 6
Ar umã de te r r a fir me (Mar antace ae ) te r r a f i r m e 5
Cipó ambé cima (Ar ace ae ) igapó 5
Cipó ambé cor oa (Ar ace ae ) te r r a fir me , igapó 5
Cipó titica (Ar ace ae ) te r r a fir me , igapó 5
Jacitar a (Ar e cace ae ) igapó 5
18 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA 6»
Nome da planta Núme r o de comunidade s
Hábitat de cole ta
(família ou gr upo botânico) que de clar ar am utilizar
Jacitaãra (Areb
cace a(e ) ) igapó
ó 5
Arumã cane la de jacamim
igapó 3
de igapó (Marantace ae )
te rra firme , campinarana
Piaçava ve rme lha (Are cace ae ) 3
e campina
Arumã bilina (Marantace ae ) te r r a f i r m e 2
Arumã cane la de jacamim
te r r a f i r m e 2
de te rra firme (Marantace ae )
Cipó timbó açu (Arace ae ) igapó 2

Cumati (Myrtace ae ) te r r a f i r m e 2

Goiaba de anta (Me lastomatace ae ) te r r a f i r m e 2

Ingá xixica (Le g: várias famílias) te r r a f i r m e 2

Jasmin (Apocynace ae ) igapó 2

Louro namuim (Laurace ae ) igapó 2

Molongó (Apocynace ae ) igapó 2

Patauá (Are cace ae ) te rra firme , igapó 2

Urucum (Bixace ae ) roçado 2

Açaí (Are cace ae ) roçado 1

Arabá (Le g: várias famílias) igapó 1

Caraipé (Chrysobalanace ae ) igapó 1

Carajiru (Bignoniace ae ) roçado 1

Caranã (Are cace ae ) campinarana 1

Itaúba (Laurace ae ) te r r a f i r m e 1

Macucuí (Le g: várias famílias) igapó 1

Macucuí ve rme lho (Le g: várias famílias) te r r a f i r m e 1

Massaranduba (Sapotace ae ) te r r a f i r m e 1

Molongó branco (Apocynace ae ) te rra firme , igapó 1

Pau roxo (Le g: várias famílias) igapó 1

Piaçava pre ta (Are cace ae ) campinarana 1

Te nto pre to (Le g: várias famílias) te r r a f i r m e 1

Te nto ve rme lho (Le g: várias famílias) te r r a f i r m e 1


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 19

guido de Cipó ambé, Macucuí, Molongó, número de plantas utilizadas na produção


Piaçava e Tento (duas variedades cada). de artesanato se comparada à mata de ter-
As plantas utilizadas como matérias-primas na ra firme, mas as plantas de igapó são ex-
produção artesanal podem ser distribuídas em ploradas com maior freqüência.
pelo menos 12 famílias botânicas (grupos de As plantas do grupo das palmeiras
famílias para Leguminosas), sendo predomi- (Arecaceae) aparentemente são as que apre-
nantes plantas representativas dos grupos das sentam maior leque de aproveitamento no
Leguminosas (mais de uma família) e das fa- artesanato produzido nas sete comunidades
mílias: Arecaceae (palmeiras), com sete plan- (Tabela 7). Das sete palmeiras identificadas,
tas cada um (20,6% 7/34 cada um), seguidos são utilizados o “cabelo” do caule (Piaçavas),
de Marantaceae (arumãs: 14,7% 5/34) e Araceae a tala do caule (Jacitara), o “olho” das folhas
(cipós: 11,8% 4/34). As demais plantas utiliza- (Tucumã), a tala das folhas (Tucumã, Caranã,
das pertenceram às famílias Apocynaceae, Patauá) e a semente (Açaí, Tucumã, Patauá).
Lauraceae, Sapotaceae, Myrtaceae, As plantas dos grupos dos arumãs
Melastomataceae, Chrysobalanaceae, Bixaceae (Marantaceae) e cipós (Araceae) tiveram seus
e Bignoniaceae. Em termos de freqüência de usos restritos às partes da tala das folhas e
uso de determinadas plantas, as famílias da raiz, respectivamente. Entre as plantas do
Arecaceae, Marantaceae e Araceae também são grupo das leguminosas (mais de uma famí-
as mais importantes. lia) predomina o uso do caule, seja pela cas-
Grande parte das plantas é coletada em ca (Ingá xixica, Macucuís) ou madeira
mata de terra firme (50,0% 16/34) ou em (Arabá, Pau roxo).
mata de igapó (50,0% 16/34), seguidas de Para a grande parte das plantas exploradas
roçado (11,8% 4/34), campinarana (8,8% 3/ (88,8% 71/88) foi declarada baixa intensidade
34) e campina (2,9% 1/34). Das 34 plantas, de coleta, e apenas para 5,0% (4/80) foi decla-
82,3% (28/34) foram declaradas como sen- rada média e para 6,2% (5/80) foi declarada
do coletadas exclusivamente em mata de alta intensidade de coleta. As plantas altamen-
terra firme (12 plantas), ou mata de igapó te exploradas foram a Piaçava vermelha
(12 plantas), ou roçado (três plantas) ou (Arecaceae), em todas as três comunidades
mata de campinarana (uma planta). Consi- que a declararam utilizar (Campinas, Flores-
derando as freqüências com que determi- ta e Romão), o Cumati (Myrtaceae), em
nadas plantas são usadas, todavia, a mata Samaúma e o Caranã (Arecaceae) em Cam-
de igapó teve uma importância relativa pinas. As plantas declaradas medianamente
maior que a mata de terra firme. Isto signi- exploradas foram o Tento vermelho, o Tento
fica que a mata de igapó possui o mesmo preto (leguminosas) e o Patauá (Arecaceae)
20 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

TABELA 7 » Partes utilizadas das plantas para artesanato pelas sete comunidades.

P l a n ta Parte cole tada Inte nsidade de cole ta


Arumã me mbe ca Folha (tala) baixa - mé dia
Tucumã Folha (olho e tala) e se me nte baixa
Arumã de te rra firme Folha (tala) baixa
Cipó ambé cima Raiz baixa
Cipó ambé coroa Raiz baixa
Cipó titica Raiz baixa
Jacitara Caule (tala) baixa
Arumã cane la de jacamim de igapó Folha (tala) baixa
Piaçava ve rme lha Caule (bainha "cabe lo") a l ta
Arumã bilina Folha (tala) baixa
Arumã cane la de jacamim de te rra firme Folha (tala) baixa
Cipó timbó açu Raiz baixa
Cumati Caule (casca) baixa - alta
Goiaba de anta Caule (casca) baixa
Ingá xixica Caule (casca) baixa
Jasmin Caule (made ira) baixa
L o ur o na mui m Caule (made ira) baixa
M o l o n gó Caule (made ira) baixa
P a ta u á Folha (tala) e se me nte baixa - mé dia
Urucum S e m e n te baixa
Açaí S e m e n te baixa
Arabá Caule (made ira) baixa
Caraipé Caule (casca) baixa
Carajiru F o l ha baixa
Caranã Folha (tala) a l ta
Itaúba Caule (made ira) baixa
Macucuí Caule (casca) baixa
Macucuí ve rme lho Caule (casca) baixa
Massaranduba Caule (made ira) baixa
Molongó branco Caule (made ira) baixa
Pau r ox o Caule (made ira) baixa
Piaçava pre ta Caule (bainha "cabe lo") baixa
Te nto pre to S e m e n te mé dia
Te nto ve rme lho S e m e n te mé dia
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 21

em Baturité e o Arumã membeca (Maran- O artesanato representativo de trançado de


taceae) em Floresta. fibras vegetais correspondeu a 42,5% (20/
Os resultados indicaram que em geral 47) do rol total de tipos gerais de artesana-
existe uma consciência entre os coleto- to produzidos nas sete comunidades. As-
res das comunidades, da necessidade de sim como na análise geral, grande parte
manejo dos recursos vegetais explorados. deste tipo de artesanato é destinada ao con-
Em apenas 7,5% (6/80) dos casos os cole- sumo próprio (88,0% 220/250) e apenas uma
tores não citaram alguma estratégia ou pequena parte à venda eventual (11,2% 28/
preocupação no momento da coleta vi- 250) ou produzida exclusivamente para
sando minimizar o impacto sobre a plan- venda (0,8% 2/250). A representatividade
ta ou a população da planta explorada. deste tipo de artesanato é maior quando são
As estratégias citadas variaram confor- consideradas as variações de alguns tipos
me a parte da planta que é explorada genéricos com base nas matérias-primas
(Tabela 8). principais utilizadas (Tabela 9).

TABELA 8 » Estratégias citadas pelos coletores para minimizar o impacto da coleta sobre a planta ou
sobre a população da planta.

Núme ro de
Parte e xplorada Estraté gia
de claraçõe s
Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos 17

A parte usada não comprome te a planta/Não de rruba a planta 4


Caule (N=27)
(casca, bainha
Cuida para não cortar o olho da planta 3
ou “cabe lo”,
made ira, tala)
Não re tira tudo (da parte de inte re sse ) 2

Usa made ira já de rrubada no roçado 1

Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos 18


Folha (N=24)
Se le ciona e xe mplare s jove ns 5
(tala, folha, “olho”)
Não re tira tudo (da parte de inte re sse ) 1

Se le ciona e xe mplare s maduros/adultos 15


Raiz (N=16)
Se le ciona e xe mplare s jove ns 1

Usa se me nte já caída/ já aprove itada na alime ntação 5


Se me nte (N=7)
Não re tira tudo (da parte de inte re sse ) 2
22 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Como na análise geral, a maior parte das mília Marantaceae (arumãs) foram respon-
plantas que são a matéria-prima principal sáveis por 37,0% (17/46) dos artesanatos de
dos artesanatos de trançado pertenceu a três trançado, seguidas de quatro plantas da fa-
famílias botânicas. Utilizadas como maté- mília Araceae (cipós) que foram responsá-
rias-primas principais, cinco plantas da fa- veis por 34,8% (16/46) e três plantas da fa-

TABELA 9 » Variações dos tipos genéricos de artesanato de trançado de fibras vegetais com base na matéria-prima
principal utilizada. *=Carajiru, Cumati, Goiaba de anta, Ingá xixica, Macucuí, Macucuí vermelho, Urucum.

Variação do Maté ria-prima Maté rias-primas


Tipo ge né rico
arte sanato principal se cundárias
Made ira (armação), tucum
1-de arumã me mbe ca Arumã me mbe ca ou barbante (amarras),
outras* (tintura)

2-de arumã de te rra firme Arumã de te rra firme -

Abano 3-de tucumã Tucumã Tucum ou barbante (amarra)

4-de cipó titica Cipó titica -

5-de cipó ambé coroa Cipó ambé coroa -

6-de cipó timbó açu Cipó timbó açu -

1-de cipó titica Cipó titica -

Aturá 2-de cipó ambé coroa Cipó ambé coroa -

3-de cipó timbó açu Cipó timbó açu -

Made ira (armação), tucum


Balaio 1-de arumã me mbe ca Arumã me mbe ca ou barbante (amarra),
outras* (tintura)

1-de piaçava Piaçava ve rme lha Piaçava pre ta (acabame nto)


Bolsa
2-de cipó titica Cipó titica -

Cacuri 1-Cacuri Made iras Cipó titica (amarra)

Cade ira de cipó 1-de cipó titica Cipó titica Made ira (armação)

Made ira ou cipó-timbó açu


Ce sto de arumã 1-de arumã me mbe ca Arumã me mbe ca
(armação), outras* (tintura)

Ce sto de piaçava 1-de piaçava Piaçava ve rme lha -

Ce sto de tucumã 1-de tucumã Tucumã Crajiru (tintura)

Chapé u de cipó ambé 1-de cipó ambé coroa Cipó ambé coroa Outras* (tintura)

Chapé u de piaçava 1-de piaçava Piaçava ve rme lha -


Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 23
CONTINUAÇÃO DA TABELA 9»
Variação do Maté ria-prima Maté rias-primas
Tipo ge né rico
arte sanato principal se cundárias
Made ira (armação), tucum,
1-de arumã de te rra firme Arumã de te rra firme
barbante ou cipó titica (amarra)

Made ira (armação), tucum,


2-de arumã bilina Arumã bilina
barbante ou cipó titica (amarra)
Cumatá
3-de arumã cane la de Arumã cane la de jacamim Made ira (armação), tucum,
jacamim de igapó de igapó barbante ou cipó titica (amarra)

Made ira (armação), tucum,


4-de jacitara Jacitara
barbante ou cipó titica (amarra)

1-de tala de jacitara Jacitara Cipó titica (amarra)


Matapi 2-de tala de arumã de te rra
Arumã de te rra firme Cipó titica (amarra)
firme

1-de cipó ambé coroa Cipó ambé coroa -

2-de cipó titica Cipó titica -

P a ne i r o 3-de cipó ambé cima Cipó ambé cima -

4-de cipó timbó açu Cipó timbó açu -

5-de arumã me mbe ca Arumã me mbe ca -

Made ira ou cipó ambé coroa


1-de arumã de te rra firme Arumã de te rra firme (armação), tucum, barbante
ou cipó titica (amarra)

Made ira ou cipó ambé coroa


2-de jacitara Jacitara (armação), tucum, barbante
ou cipó titica (amarra)

Made ira ou cipó ambé coroa


P e ne i r a 3-de arumã bilina Arumã bilina (armação), tucum, barbante
ou cipó titica (amarra)

Made ira ou cipó ambé coroa


4-de arumã de cane la de Arumã cane la de jacamim
(armação), tucum, barbante
jacamim de igapó de igapó
ou cipó titica (amarra)

Made ira ou cipó ambé coroa


5-de arumã de cane la de Arumã cane la de jacamim
(armação), tucum, barbante
jacamim de te rra firme de te rra firme
ou cipó titica (amarra)

1-de piaçava Piaçava ve rme lha -

Suplá 2-de cipó titica Cipó titica -

3-de tucumã Tucumã -

Tucum, bar bante ou


1-de jacitara Jacitara
ci pó ti ti ca (amar r a)
Tipiti
Tucum, barbante ou
2-de arumã de te rra firme Arumã de te rra firme
cipó titica (amarra)
24 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA 6»
Variação do Maté ria-prima Maté rias-primas
Tipo ge né rico
arte sanato principal se cundárias
Cipó ambé coroa, cipó ambé
Tupé 1-de arumã Arumã me mbe ca cima e caranã, (acabame nto e
amarra), outras* (tintura)

Made ira, cipó titica, jacitara,


cipó ambé coroa (armação),
1-de arumã me mbe ca Arumã me mbe ca
tucum ou barbante (amarra),
outras* (tintura)
Urutu
Made ira, cipó titica, jacitara,
cipó ambé coroa (armação),
2-de arumã bilina Arumã bilina
tucum ou barbante (amarra),
outras* (tintura)

1-de piaçava Piaçava ve rme lha -

2-de cipó titica Cipó titica -


Vassoura
3-de piaçava e cipó titica Piaçava ve rme lha Cipó titica (amarra)

4-de cipó timbó açu Cipó timbó açu Cipó titica (amarra)

mília Arecaceae (palmeiras) responsáveis cremento na produção de artesanato de


por 28,3% (13/46) dos artesanatos (Figura 2). trançado de fibras vegetais nas comunida-
O Arumã membeca e o Arumã de terra fir- des amostradas, é altamente recomendá-
me tiveram maior importância entre as vel a exploração manejada das populações
marantáceas, enquanto entre as aráceas e principalmente do Cipó titica (na terra fir-
arecáceas o Cipó titica e a Piaçava verme- me), do Arumã membeca e do Arumã de
lha respectivamente foram as mais freqüen- terra firme (no igapó e na terra firme res-
tes como matérias-primas principais no ar- pectivamente) e da Piaçava vermelha (na
tesanato de trançado (Figura 2). Todavia, o terra firme, campina e campinarana).
Cipó titica, madeiras de várias qualidades As Plantas mais utilizadas como matéria-
não especificadas, juntamente com o prima para o artesanato nas comunidades
Tucumã, têm um aumento substancial em do médio rio Negro são:
importância relativa na produção do arte- ARUMÃ - Plantas terrestres, herbáceas, di-
sanato de trançado, quando considerada a ferenciadas pelos coletores em 5 espécies
sua utilização como matérias-primas de ocorrendo em matas de igapó e terra-firme.
suporte ou acabamento (Tabela 10). A parte utilizada são as talas processadas
Estes resultados indicam que para o pla- para utilização na fabricação de tupés, pe-
nejamento de futuras ações visando o in- neiras, balaios, tipitis e cestarias em geral.
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 25

FIGURA 2 » Plantas utilizadas como matérias-primas principais na produção de artesanato de trançado.

TABELA 10 » Plantas mais utilizadas no suporte ou acabamento dos artesanatos de trançado.

Núme ro de
Maté ria-prima se cundária Função
arte sanatos (%)
Cipó titica 18 (38,3) Amarra e armação

Tucum 16 (34,0) Amarra

Made ira 14 (29,8) Armação

Cipó ambé (coroa ou cima) 8 (17,0) Armação, amarra e acabame nto

Carajiru, cumati, goiaba de anta, ingá xixica,


8 (17,0) Tintura
macucuí, macucuí, ve rme lho, urucum

Jacitara 2 (4,3) Armação

Piaçava pre ta 1 (2,1) Acabame nto

Cipó timbó açu 1 (2,1) Armação

Caranã 1 (2,1) Amarra e acabame nto


26 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Ocorrem em touceiras de onde as talas ma- concetração e por serem um tipo de mata
duras são cortadas. de campinarana diferenciada. A parte uti-
CIPÓ AMBÉ – Planta Hemi-epífita, isto é lizada para o comércio e artesanato, são as
prende-se a uma árvore e lança raízes ao fibras abundantes e resistentes que se for-
solo bastante comum nas matas de igapó mam nas bases das folhas e acabam por
no Rio Negro, e neste estudo foram cobrir todo o caule das plantas.
identificadas duas espécies pelos coletores. TUCUMÃ - Palmeira alta, de caule espinho-
Estas raízes ou fios são as partes utilizadas so, comumente encontrada em capoeiras e
na fabricação de artesanato. roças nas áreas das comunidades. Frutos
CIPÓ-TITICA - É denominado de comestíveis. De suas folhas novas extrai-se
hemiepífito secundário, ou seja, geral- fibra para confecção de cestaria e redes.
mente germina no chão de onde se deslo-
ca para fixar-se sobre uma árvore hospe- O artesanato
deira em cujo tronco irá se desenvolver,
mantendo contato com o solo através de Entre as 67 famílias amostradas, todas
raízes alimentares, estas sendo as partes exceto uma (que declarou não mais produ-
coletadas e posteriormente beneficiadas zir) declararam produzir artesanato. Para
para comercialização. 63 destas famílias foram coletados dados
CIPÓ TIMBÓ-AÇU - Possui basicamente as mais específicos sobre produção. Cada uma
mesmas características e hábitos gerais do destas famílias produz em média 6,5+3,7
cipó-titica, sendo diferenciado à primeira vista (mín.-máx.: 1-18) tipos de artesanato, sen-
pelo maior diâmetro das raízes alimentares, do que as que produzem até seis tipos são
é utilizado para a fabricação de vassouras, mais freqüentes (Tabela 11).
sendo os fios comercializados desfiados, não Foram identificados 47 tipos gerais de arte-
apresentando a flexibilidade do cipó-titica. sanato produzidos pelas famílias
JACITARA – É uma palmeira de caule fino amostradas (Tabela 12), sendo produzidos
e espinhosa que cresce apoiada sobre ou- pela maior parte das famílias para consu-
tras plantas. Sua tala é usada na fabricação mo próprio e vendidos ocasionalmente. No
de peneiras e tipitis. rol dos artesanatos produzidos, foram iden-
PIAÇAVA – Palmeira que na região do mé- tificados 24 tipos que são vendidos de al-
dio rio Negro ocorre apenas em alguns guma forma. Estes resultados indicam que
afluentes da margem direita do rio Negro. a comercialização não é definitivamente o
Suas áreas de ocorrência são conhecidas foco da produção de artesanato pela maio-
como piaçabais devido a sua grande ria das famílias amostradas.
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 27

TABELA 11 » Distribuição de famílias por número de itens de artesanato.

Tipos de Núme ro de famílias Núme ro de famílias que ve nde m pe lo


arte sanato produzindo (%) me nos um tipo de arte sanato que produze m (%)
1a5 26 (41,3) 10 (38,5)

6 a 10 30 (47,9) 16 (53,3)

11 a 15 5 (7,9) 4 (80,0)

>15 2 (3,2) 2 (100,0)

N 63

TABELA 12 » Tipos de artesanato produzidos por 63 famílias amostradas neste estudo e sua destinação.

Núme ro de famílias produzindo (N=63 famílias)


Tipo de
Par a
arte sanato Para consumo próprio e
total (%) consumo Para ve nda
e ve ntual ve nda
próprio
Re mo 35 (55,6) 32 3 -

Vassoura 33 (52,4) 17 16 -

P a ne i r o 32 (50,8) 32 - -

P e ne i r a 32 (50,8) 31 1 -

Tupé 32 (50,8) 28 4 -

Abano 31 (49,2) 29 2 -

F o gã o 19 (30,2) 17 2 -

Ce sto de arumã 17 (27,0) 16 1 -

Cumatá 17 (27,0) 15 2 -

Colar 14 (22,2) 8 6 -

Chapé u de cipó-ambé 11 (17,5) 10 - 1

Banco 10 (15,9) 10 - -

Canoa (miniatura) 10 (15,9) 1 1 8

Arco-fle cha 9 (14,3) 5 - 4


28 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

CONTINUAÇÃO DA TABELA 6»
Núme ro de famílias produzindo (N=63 famílias)
Tipo de
Par a
arte sanato Para consumo próprio e
total (%) consumo Para ve nda
e ve ntual ve nda
próprio
Aturá e Ce râmica 9 (14,3) cada 9 cada - -

Pulse ira 8 (12,7) 5 3 -

Balaio e Tipiti 8 (12,7) cada 8 cada - -

Bote de molongó 6 (9,5) 6 - -

Tiara 5 (7,9) 4 1 -

Ane l 4 (6,3) 2 2 -

Cortina de tucum 4 (6,3) 3 - 1

Bolsa 3 (4,8) 2 - 1

Brinco 3 (4,8) 2 1 -

Ce sto de piaçava 3 (4,8) 1 2 -

Cacuri, Matapi,
3 (4,8) cada 3 cada - -
Rapixé e Suplá

Cortina de se me nte s 2 (3,2) - 2 -

Zarabatana 2 (3,2) - - 2

Abajour e Chave iro 2 (3,2) cada 1 cada - 1 cada

Ce sto de tucumã,
2 (3,2) cada 2 cada - -
Cinto e Panacarica

Pre nde dor de cabe lo 1 (1,6) - 1 -

Cade ira de cipó, Chapé u


de piaçava, Me sa, Pilão,
1 (1,6) cada 1 cada - -
Porta-lápis, Sutiã, Tambor,
Urutu e Zagaia

O total de 408 declarações de artesanatos pro- das declarações consiste em artesanatos para
duzidos por 63 famílias residentes nas sete fins de uso doméstico, seguidos de artesana-
comunidades foi agrupado em cinco catego- tos para fins de adorno e uso pessoal e de de-
rias funcionais (Tabela 13). Mais da metade coração e conforto doméstico (Tabela 13).
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 29

TABELA 13 » Freqüência de registros de artesanatos segundo a funcionalidade geral com base nas decla-
rações de 63 famílias residentes amostradas neste estudo.

Núme ro de
Cate goria Tipos de arte sanato
re gistros (%)
Abano, Balaio, Banco, Cade ira de cipó, Ce râmica, Ce stos, Cumatá,
Uso domé stico 226 (55,4)
Fogão, Me sa, Pane iro, Pe ne ira, Pilão, Tambor, Tipiti, Urutu, Vassoura

Adorno e Ane l, Bolsa, Brinco, Chapé us, Chave iro, Cinto, Colar, Pre nde dor de
55 (13,5)
uso pe ssoal cabe lo, Pulse ira, Sutiã, Tiara

Adorno domé stico Abajour, Miniatura de canoa, Cortinas, Porta-lápis, Suplá, Tupé 54 (13,2)

Construção
Aturá, Bote de molongó, Re mo, Panacarica 52 (12,7)
e transporte

Caça e pe sca Arco e fle cha, Cacuri, Matapi, Rapixé , Zagaia, Zarabatana 21 (5,1)

N 408

Descrição dos produtos artesanais

ABAJOUR – Não pertence ao grupo de ob- ARCO E FLECHA – Conjunto de instru-


jetos tradicionais fabricados por estes gru- mentos utilizados para caça e pesca, fei-
pos, mas os pontos do trançado são os mes- to a partir do pau d’arco (arco) e taboca
mos utilizados na confecção dos cestos, res- (as flechas) poucos são os grupos que
posta a demanda de mercado que vem se ainda o utilizam na calha do rio Negro,
abrindo para estas comunidades. Feito de sendo substituído sistematicamente pelo
piaçava, tanto a vermelha como a preta, uso da espingarda. São confeccionados
possui formatos variados. exemplares em miniatura para venda a
turistas.
ABANO – Feito a partir do “olho” (folhas
novas) do tucumã, serve para ajudar na pro- BALAIO – Cesto raso de formato circular
pagação do calor na fogueira, assim como utilizado para servir alimentos, feito com
para se refrescar do calor. arumã e por vezes apresenta rico grafismo
de cores variadas em seu corpo.
ANEL – Adorno para os dedos feito a par-
tir do caroço do tucumã, são lixados até fi- BANCO – Assento de formato simples, re-
carem no formato desejado. tangular, com um ou dois pés, geralmente
30 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

feito de uma peça só. Confeccionado a par- dando a liga necessária) as cinzas da casca
tir da madeira do molongó. da árvore do caraipé.
BOLSA – utensílio confeccionado com vá- CESTO DE ARUMÃ – Feito de arumã de
rios tipos de fibra como piaçava e tucum, terra firme, da piaçava ou das fibras do
usados no dia-a-dia para transporte de pe- tucumã, tem formato variado desde peque-
quenos objetos e para a venda. nos cestos retos em formato arredondado
BRINCO – Adorno para as orelhas feito de com fundo quadricular até outros maiores,
sementes e penas. com o corpo bojudo e boca estreita.

CANOA E BOTE EM MINIATURA – Mini- CESTO DE PIAÇAVA – Cesto de vários ta-


atura de embarcações regionais feitos para a manhos e formas feito da fibra da piaçava.
venda a turistas ou pra brincadeiras de crian- CESTO DE TUCUMÃ – cesto tigeliforme
ça. A matéria prima utilizada é a madeira do feito do “olho” ou folha nova do tucumã.
molongó, muito boa para esta empreitada de-
CHAPÉUS – Feito de piaçava ou do cipó
vido a sua capacidade de boiar na superfície.
ambé, trançado, tem aba circular para se
BRINCOS E TIARA - Adornos feitos em proteger do sol.
formatos e com matérias primas variadas,
CHAVEIRO – Resposta ao mercado de ar-
que vão desde a fibra do tucum até semen-
tesanato tradicional, geralmente represen-
tes e piaçava.
tando miniaturas do dia a dia dos grupos.
CACURI – Armadilha para pesca confecci-
COLAR – Adorno feito com sementes di-
onada com talas de madeira amarradas com
versas presasa em fios de tucum, piaçava
cipós que são dispostas em trechos de
ou material industrializado.
corredeira para aprisionar os peixes em
deslocamento. CINTO – Feito de fibras naturais ou mate-
CADEIRA – Assento feito a partir de uma rial industrializado, tem nos seus grafismos
estrutura de madeira, envolta de cipó titica. figuras que se remetem aos desenhos utili-
zados pelos grupos quando de suas festas
CERÂMICA – Recipientes feitos de argila tradicionais.
em formatos variados feitos a partir da téc-
nica do acordelamento (a partir de roletes CORTINA DE TUCUM – Não são objetos
colocados em espiral até dar o formato de- tradicionais dos grupos, mas adaptações a
sejado dos vasos). É utilizado como partir de produtos industrializados. Feitas
antiplástico (material utilizado para que a com fibras de palmeiras (principalmente o
cerâmica não se quebre durante a queima, tucum) com variadas sementes.
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 31

CORTINA DE SEMENTES - ????? mente é utilizado para pilar pimenta na


CUMATÁ – Grande peneira feita de fibras produção da jiquitaia (pimenta em pó).
diversas, serve para coar a massa da man- PORTA-LÁPIS – Cesto em miniatura vol-
dioca para extração do tucipi. tado para o mercado.
FOGÃO – Feito de barro, a partir da técni- PRENDEDOR DE CABELO – Adorno para
ca do acordelamento, que consiste na cons- usar no cabelo.
trução do objeto a partir de roletes que são PULSEIRA – Feitas de variados matérias,
colocados em espiral, é utilizado no prepa- desde a fibra do tucumã, passando pelo
ro de comida, já que muitas famílias não arumã, até a piaçava, são normalmente
dispõem de fogão a gás. adornadas com sementes coloridas.
MATAPI – Armadilha para pesca feita de
RAPIXÉ – Rede utilizada para a coleta de
talas e cipós constituindo um cone onde o
peixes para o mercado Ornamental, possui
peixe em deslocamento é aprisionado.
um formato alongado e arredondado, com
MESA – Peça para uso doméstico, feita em uma de suas extremidades possuindo uma
madeira. armação quadrada de madeira dividida ao
PANACARICA – Espécie de cesto carguei- meio com um bastão, que serve para o ma-
ro confeccionado de cipó titica a partir de nuseio da rede quando da captura.
uma estrutura de madeira, é utilizado no REMO – Feito a partir da madeira da cere-
transporte de utensílios. jeira ou pau-brasil, tem três partes clara-
PANEIRO OU ATURÁ – Geralmente feito mente diferenciáveis em seu corpo: Cabo,
de cipó titica, tem o formato de cesto, ge- corpo e pá. Em formato foliáceo, esta últi-
ralmente com 50 cm de altura, muito utili- ma serve tanto para o impulso da canoa
zado para transporte de utensílios e de pro- como também é utilizado para mexer a fa-
dutos do roçado (mandioca, cará, abacaxi e rinha quando esta é torrada.
etc). Apesar de terem o mesmo formato o SUPLÁ – Artesanato produzido para o mer-
paneiro possui espaçamento entre suas cado. Constitui-se uma base de fibra tran-
malhas mais abertas do que o aturá. çada em forma de círculo. Pode ser de vári-
PENEIRA – Feita de arumã de terra firme e os materiais como piaçava e tucumã.
cipó (titica ou ambé), serve para peneirar a SUTIÃ – Feito em Campinas do Rio Preto,
massa da mandioca. o sutiã é confeccionado todo na fibra da
PILÃO – Feito de madeira da árvore local- piaçava, com seus dois suportes de seios em
mente conhecida como pau Brasil, geral- formato cônico.
32 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

TAMBOR – Feito de uma armação de madei- ZAGAIA – Consiste num pequeno tridente,
ra circular e couro de animais, é utilizado em feito de ferro e geralmente comprado nas
ocasiões de festas tradicionais ou de santos, cidades, preso a um cabo de madeira, utili-
marcando o ritmo de danças ou procissões. zado para pescar.
TIARA – Adorno em forma de arco para
prender os cabelos.
TIPITI – De formato cilíndrico como que
um cesto, tem uma abertura na sua porção
superior por onde é colocada a massa da
mandioca depois de ralada. Possui também
duas alças, uma em cada extremidade sua,
sendo a de cima para prender num ponto
fixo e a de baixo para introduzir a alavanca
e provocar a distensão do tipiti, comprimin-
do a massa que se encontra em seu interior
e retirando o tucupi (sumo da mandioca).
Feito de arumã de terra firme ou de jacitara.
TUPÉ – Esteira ou tapete feito das talas do
arumã membeca, geralmente de formato
quadrado ou retangular, variando muito de
tamanho, é muito utilizado na decoração
das casas ou na divisão entre cômodos.
URUTÚ – Tipo de cesto feito de arumã, em
vários tamanhos.
VASSOURA – A piaçava ou o cipó titica
são suas matérias primas básicas, utilizado
na limpeza das casas ou terreiros.
ZARABATANA – Instrumento de caça
constituído de um tubo longo feito da tala
da palmeira jupati com bocal de madeira,
por onde são sopradas flechinhas envene-
nadas, usado para caça.
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 33

A arte dos grafismos

O
Os grafismos, muito comuns em todo
cestaria indígena, são produzidos com
grande habilidade por alguns artesãos e
remetem ao conhecimento empírico da na-
tureza, com representações de animais ou
CAMINHO DO DIABO – Grafismo for-
mando um desce e sobe, denominado pe-
los indígenas como caminho do diabo, por
não ter começo e nem fim.
CAMARÃO – Em formato de Y com duas
ainda de sua mitologia ainda presente na faixas ao seu lado, este grafismo recebe este
memória dos mais velhos. Os balaios, nome por remeter a figura dos pequenos
urutus e tupés são peças em que esta arte é camarões de água doce.
empregada. As formas dos desenhos são
BORBOLETA – Formado por losangos um
criadas a partir do trançado, utilizando-se
ao lado do outro são denominados de bor-
para isto talas de arumã tingidas,
boletas, pela semelhança com as asas.
entremeadas com talas de coloração natu-
ral. Apresentamos alguns dos grafismos PERNA DE CARARÁ – Grafismo feito em
registrados neste trabalho: zigue-zague, finos, se assemelham as per-
nas da ave carará.
PÉ DE MAÇARICO – Em formato de x re- TEIA DE ARANHA – Num emaranhado de
presenta as pegadas deixadas pelo pássaro grafismos, com diferentes cores, tanto na ver-
migratório popularmente conhecido como tical como na horizontal e diagonal, formando
maçarico, muito comum nas praias do rio o que eles denominam como teia de aranha.
Negro no verão. CARACOL – Semelhante ao casco de jabuti,
PEITO DE LAGARTO OU TAPURU – só que juntos aos seus pares na diagonal,
Grafismo que como o próprio nome diz reme- variando seu grafismo interno desde do que
te aos desenhos encontrados na região peito- denominado como pé de maçarico até ape-
ral de pequenos lagartos. Também é conheci- nas um pequeno ponto.
do como tapuru, que é a larva de besouro en- CASCA DA ABACAXI – Semelhante ao cas-
contrado em buracos de árvores na floresta. co de jabuti e ao caracol, são losangos uni-
CASCO DE JABUTI – Feito a partir de qua- dos na diagonal com o grafismo de pé de
drados, lembrando os desenhos do casco do maçarico na porção central de cada losango.
jabuti, este grafismo costuma vir associado BARRIGA DE JACARÉ – Malha do tran-
por vezes ao pé de maçarico, trançado na çado formado desenhos que remete as es-
parte central do quadrado. camas da barriga de jacaré.
34 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Problemas vividos nas comunidades


e busca de soluções

V
Vivendo nesta fronteira social, as comuni-
dades do rio Negro enfrentam toda espécie
de problemas sociais, que vão desde a falta
de condições básicas de saúde até conflitos
relacionados a terra e usos dos recursos na-
também de Hepatite A, Leshmaniose e Mal
de Chagas, principalmente nos “Piaçabais”.
O beneficiamento da matéria-prima e a pro-
dução artesanal ocupam grande parte da
vida destas comunidades indígenas, divi-
turais. Incluído dentro desta perspectiva en- didas também com outras atividades (plan-
contram-se também questões referentes ao tação, caça, pesca, religiosidade e festas).
artesanato. Dentro do ciclo de sua produ- Apesar da importância existente dentro
ção, um dos primeiros problemas enfren- deste espaço social, o seu valor de venda é
tados são os acidentes que ocorrem duran- muito baixo se comparado ao preço alcan-
te a coleta da matéria-prima. É até certo çado nas cidades para onde é levado por
ponto comum que ocorram ataques de ani- intermediários. O artesanato é desvaloriza-
mais peçonhentos, cobras e escorpiões, du- do junto aos artesãos, passa por algo des-
rante a coleta de fibras de palmeiras e cipós necessário e desprovido de qualquer impor-
(piaçava, caranã, jacitara, cipó-titica), assim tância com o objetivo de vantagens na sua
como ferimentos durante o manuseio dos compra, chegando mesmo a ponto de se-
instrumentos necessários a coleta e fabrica- rem trocados por produtos industrializados
ção do artesanato (terçado e facas). Outro de menor valor. Adquirido por intermedi-
problema diagnosticado durante o proces- ários este artesanato não só ganhará valor
so de obtenção da matéria-prima diz res- econômico, mas também político (artesana-
peito às doenças adquiridas nestes locais. to indígena), aumentando seu valor de com-
Sem maiores assistências além do seu pró- pra quando comercializado junto ao públi-
prio conhecimento de ervas e remédios tra- co consumidor.
dicionais, é normal encontrar alguém que Por não terem locais para o escoamento de
tenha pego pelo menos uma vez alguma sua produção, as comunidades ficam sub-
doença durante destes trabalhos. Bem dis- metidas a intermediários que definem o
seminada pela região a malária é de certa valor de compra, quando e com quem com-
forma comum, mas são encontrados casos prar. Isto se dá pela falta de opções de lo-
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 35

cais de venda, apontado pelos indígenas Educação – Sem a estrutura necessária to-
como um dos empecilhos existentes, o que das as comunidades carecem de condições
impossibilita a possibilidade de consegui- básicas de educação, a começar pela estru-
rem um preço justo para sua produção. tura física das escolas. Feitas de madeira ou
A falta de uma embarcação que atenda as ne- em alvenaria são pequenas, não comportan-
cessidades relativas a coleta de matéria-prima do todos alunos de maneira satisfatória,
e escoamento do artesanato constitui-se num onde crianças de variadas classes assistem
outro problema apontado na continuidade e aulas parceladamente, com cada série es-
propagação dos seus modos de fazer. perando a sua vez. Com ensino apenas até
A pouca visibilidade destas comunidades a 4ª série do ensino fundamental, muitas
indígenas, aliadas ao descaso das políticas famílias se vêem impelidas a migração para
governamentais, contribuíram nos últimos as cidades com objetivo de complementação
anos para o rápido esvaziamento de suas dos estudos de seus filhos, acarretando no
áreas de habitação. Uma série de motivos abandono das comunidades.
vem provocando este êxodo dos quais ire- Demarcação de terras – Apesar de muitas
mos enumerar os principais e coletivos: destas comunidades serem formadas por in-
Saúde – Uma das principais necessidades dígenas, inclusive com o reconhecimento por
das comunidades está na área de saúde. parte do órgão responsável e do estudo já re-
Nem todas comunidades possuem postos alizado pela FUNAI, estas terras não estão
de saúde e quando possuem não há técni- demarcadas, contribuindo no processo de
cos que tenham a devida formação. Estes invasão de áreas tradicionalmente ocupadas,
técnicos são responsáveis por áreas exten- tanto por grileiros como por Hotéis de turis-
sas, compreendendo muitas comunidades mo de pesca . Isto vem acarretando uma ani-
em seu raio de ação. Subordinados a eles mosidade crescente entre as comunidades
estão os agentes de saúde comunitários, que indígenas e os “novos donos da terra”.
são pessoas treinadas, da própria comuni- Sistema de aviamento – Foram
dade, a darem a primeira assistência aos diagnosticadas relações injustas de traba-
doentes ou o encaminhamento para a sede lho na área do médio rio Negro, com um
do município em casos mais graves. Ficam sistema de trabalho semelhante ao existen-
alocados em pequenos casebres, muitas te durante o período da borracha (início do
vezes sem a estrutura necessária para o século XX e década de 40), o aviamento, isto
atendimento, utilizando-se dos poucos re- é, a troca de produtos primários (matéria
cursos existentes e dos conhecimentos tra- prima) por mercadoria industrializada.
dicionais no atendimento de enfermos. Devido a esta forma injusta de comércio
36 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

muitas famílias ficam endividadas e sem o pequeno. O grande pode ter 13 cm de fun-
ver saída para este vínculo se vêem força- do, 14 de altura abrindo, 15 de altura fechan-
das a mudarem em determinadas épocas do do, 4 de levantamento para a boca e 13 cm
ano para cabeceiras dos igarapés para cole- de largura da boca, usado para por jóias,
ta de piaçava e do peixe ornamental. utensílios de costura, dinheiro e outros ob-
jetos pequenos A cesta também feita de
Histórias e relatos piaçava, a grande pode ter 16 cm de fundo,
18 de altura e com 25 ou 30 de boca. Usada
Carta da ACIRP (Associação das para por pães e frutas. A vassoura tem 10
Comunidades Indígenas do Rio ou 18 cm de grossura e 35 cm de compri-
Preto) a entidades de apoio: mento, utilizada para varrer casa e outras
coisas. (Auzenina Rodrigues Moraes)
A ACIRP está lutando e querendo ajuda dos O cesto serve para colocar frutas e roupas,
órgãos já existentes para escoar nossos artesa- o espanador serve para espanar e para reti-
natos e outros produtos da região do rio Pre- rar farinha do forno. O samburá serve para
to. Contamos com ajuda dos órgãos que quei- colocar camarão e para guardar agulhas e
ram nos ajudar. Para entrar em contato pela o suplá serve para descanso de panela, es-
Radiofonia 776, aldeia Campinas do rio Preto, tes objetos são feitos da fibra da piaçava.
município de Santa Isabel do Rio Negro. (Emiliana Geovaz da Silva)
Agradeço sua atenção Tucum
Diovans de Jesus Almeida
Etnia Baré O pé de tucum produz a fibra para se fa-
zer bolsas, redes, puçá para pegar peixe e
utilizado como linha de pesca. Até serve
Pequenas descrições comer as frutas dele. (Maria Aparecida Dias
- Nhingõ)
Artesanato de piaçava Paneiro de arumã
O chapéu feito de piaçava tem 12 cm de fun- Utensílio utilizado para transportar man-
do, 10 cm de descida e 8 cm de beira, po- dioca, frutas, etc...e é o principal utensílio
dendo ter até mais. É usado para se prote- usado diariamente pelos indígenas. (José
ger do sol ou da chuva. O matiri (tipo de Alberto L. Fidelis)
cesto com tampa) também feito de piaçava
tem 7 cm de fundo, 4 cm de altura, abrindo Arpa de cariçú
4 cm altura, fechando 3 cm de levantamen- Um instrumento de sopro, tocado em festa,
to para boca e com 6 cm de largura da boca, por homens, não pode ser tocado por mu-
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 37

lheres por que deixa-as improdutivas no ria e seu filho Felipe: É muito bom traba-
que diz respeito ao trabalho com a mandi- lhar artesanato para mim você sabe por
oca. Cada etnia possui suas formas de so- que, a pessoa vai no mato, tira seu arumã,
prar (tocar) e dançar, é feito com uma espé- chega em casa sem preocupação a gente
cie de bambu da região. (Antonio Campos) faz aquele trabalho, com a vontade da pes-
soa, sem ser como a gente empregado,
O que é ser indígena obrigado fazer coisas. Quer dizer, o arumã
tem detalhe, muita gente pensa que esse
Para mim, ser indígena é uma luta dos po-
trabalho é fácil, mas não é, todo quanto o
vos que garante seus territórios, de um povo
trabalho no sofrimento da pessoa para fa-
cheio de antepassados, seus mitos, seu sus-
zer artesanato é um pouco difícil para
tento, sua esperança e seu futuro histórico.
quem não sabe, e para quem já sabe fazer
Por isso, a terra é mãe, é vida. Ela deve ser
ou trabalhar com artesanato, tudo é difícil
respeitada e bem tratada, não agredida e
aqui no mundo para a sobrevivência. Dis-
destruída. A sabedoria indígena é uma
vivência em harmonia com a natureza, du- se João a seu filho Felipe, meu querido,
rante vários milênios. Podemos entender você vai passar por tudo que seu pai pas-
um pouco, por que existe tanta terra nas sou, a pessoa tem direito de enfrentar as
mãos de poucos “brancos”. As terras de coisas difíceis para ter a vida. Com a difi-
caso relevante podem ser utilizadas para o culdade que a pessoa facilita sua vida para
plantio agrícola para o povo indígena. Eles ter sua alimentação do dia a dia. (Percílio
acreditam em várias divindades, assuntos Francisco - Hiipathairi)
religiosos, acreditam em cuidado do pajé e A origem da cor da pele
manter suas tradições culturais em come- Antigamente todas as pessoas tinham somen-
morações especiais. (Zenaide Nery Lemos) te uma cor de pele, todos eram morenos, até
que um certo dia, a humanidade inteira se reu-
Histórias contadas
niu num local, na beira de um rio fervente e
todos foram convidados para mergulhar no
Artesanato
rio. Mas nem todos tiveram a coragem de en-
Certo dia um senhor chamado João, sua trar dentro do rio, somente alguns, outros so-
esposa Maria e seu filho Felipe. Caminhan- mente puseram as palmas das mãos e dos pés
do no caminho mais longo da distância a no rio. Após sair do rio a humanidade perce-
volta de seu trabalho. Contando pequenas beu que algumas pessoas que entraram den-
historinhas sobre seu trabalho em casa, que tro do rio ficaram com a pele bem branca, as-
é o artesanato. João disse a sua mulher Ma- sim dando origem ao homem branco, as pes-
38 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

soas que somente puseram as palmas das mãos vel da água vinha subindo, até chegar a sua
e dos pés no rio perceberam que sua pele era cintura. O velho soldado já estava sentindo
escura e somente eram brancas as palmas das um pouco de medo, até a cobra sair para a
mãos e as solas dos pés, dando origem assim à superfície, e o soldado já tremendo de medo,
cor da pele indígena. (Maria Lucilene L. Fidelis) rapidamente fez o que Norato tinha lhe dito,
A Lenda da Cobra Grande cortou o limão em cruz e jogou, e com seus
braços tremendo atirou. Após o tiro abriu os
Uma vez um home simples da beira do rio
olhos e viu apenas uma cauda grande des-
Negro foi encontrado pelos espíritos e trans-
cendo, e um homem pulou de sua cabeça e
formou-se em uma cobra gigantesca, e ficou
junto com ele duas sacolas de ouro, mas o
condenado a viver no fundo do rio, seu nome
home saiu cego do olho direito, por que o tiro
era Norato e também tinha uma irmã, e vivi-
que ele deu pegou em seu olho ao invés da
am na região do rio Negro. Sua irmã era mais
testa. Mesmo assim, Norato agradeceu pela
perversa, queria alagar todos os barquinhos
coragem do soldado e disse que após tantos
que por ali passavam, mas seu irmão não dei-
anos de procura até que achou um que o de-
xava. Norato andou muito pelo fundo dos rios
sencantasse e lhe entregou as duas sacolas e
e procurava um homem corajoso para o de-
ambos seguiram seus caminhos. (José Alberto
sencantar, pois para isto só tinha um jeito, era
L. Fidelis)
com um tiro no meio da testa, e não encon-
trava esse homem. Um certo dia deparou-se O Yamakãnserenrón (O Bitira)
com um velho soldado aposentado e conver-
sou com ele, e contou sua história toda, que Antigamente as pessoas quando morriam,
estava a procura de um homem corajoso que na tarde do dia seguinte a partir das 6:00
o desencantasse. Mas transformou-se em for- horas da tarde o espírito retornava com a sua
ma de gente para conversar com o soldado e família no seu lar e às 5:00 da manhã desa-
disse que o soldado após ele fazer isso, iria parecia e retornava todos os dias a partir da
trazer muito ouro prá ele, e o soldado topou, 6:00 da tarde, naquele tempo isso era nor-
e combinaram numa praia grande à meia- mal, por isso os seus parentes quando algum
noite, tudo que ele tinha que fazer era cortar membro da família morria nem se preocu-
um limão em cruz e dar um tiro no meio da pavam. Num certo tempo, nasceu um meni-
testa da cobra e principalmente não temer, no que se chamava Yamakãnserenrón. Quan-
pois a cobra era enorme, e chegando à hora do ele completou 8 anos, quando começou a
combinada, prá lá o homem foi, demorou al- entender as coisas, achava esquisito o modo
guns minutos, e começou a estrondar para as como funcionava as coisas, num certo dia
profundezas do rio, e ao mesmo tempo o ní- quando ele estava no galho de uma árvore,
Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro 39

viu a pessoa que tinha acabado de morrer, ele cantasse no cemitério para evitar que os
como de costume estava retornando a seu mortos retornem ao seu lar, amaldiçoaram
lar, e ao ver isso o Yamakãnserenrón come- também que quando as pessoas ouvem seu
çou a malinar dele dizendo: Meu Deus! Está canto na frente da casa é aviso da morte. Por
saindo diabo do túmulo, saindo do inferno, culpa dele que atualmente as pessoas que
acho que vou morrer por que estou vendo morrem nunca mais retornam. Também por
alma penada, ele falava isso toda vez que a ter sido amaldiçoado após sua morte se trans-
pessoa que morreu retornava, com o passar formou num passarinho que até hoje perma-
do tempo as pessoas já mortas começaram a nece no cemitério. (Maria Lucilene L. Fidelis)
sentir vergonha de estar no meio dos vivos, Curupira de Rede
por que eram almas penadas. Desde então
nunca mais as pessoas que morrem retornam É uma curupira diferente, na forma de duas
à sua casa. De castigo, os pajés amaldiçoaram pessoas, ligadas por uma rede, que é a con-
a Yamakãnserenrón que durante a sua vida e tinuação de sua pele. Quando pega uma
depois de sua vida ele passaria a repetir sua pessoa, ela embrulha (agarra) com sua rede
frase, que ele tanto gostava de malinar dos sufocando-a até a morte, depois suga a sua
mortos, que todo dia às seis horas da tarde gordura e joga-a fora. (Antonio Campos)
40 Fibras de Índio — Arte e Cultura no Médio Rio Negro

Contato das Entidades

ASIBA - Associação Indígena de Barcelos


Rua Vereador José Basílio, 02 – Centro
Barcelos – AM – CEP: 69.700 – 000
Tel/fax: (97) 332118 78
email: asiba@click21.com.br

ACIMRN - Associação das Comunidades Indígenas do Médio Rio Negro


Rua 02, n. 16 – Cj. Santa Isabel – Bairro Santa Inês
Santa Isabel do Rio Negro – AM
Tel: (97) 3441 14 13

FVA - Fundação Vitória Amazônica


Rua Estrela D’alva, n. 07, Cj. Morada do Sol
B. Aleixo – CEP: 69060-080 – Manaus – AM
Tel: (92) 3642 78 66
Fax: (92) 3236 32 57
email: fva@fva.org.br
www.fva.org.br
E ste livro documenta as manifestações
culturais ligadas aos grupos indígenas
presentes na região ocupada pelos municí-
pios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro,
principalmente aquelas voltadas à produção
de artesanato em fibras vegetais.
Essa forma de documentação insere-se em um projeto mais
amplo que busca formas de revitalização cultural frente a
crescente perda de costumes e valores observada na interação
entre a cultura dos povos indígenas do Rio Negro com a
sociedade envolvente.

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