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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CiP) w\',:::-


_J (Câmara Brasileira do Livro,SP, Brasil) Ir. :I: ú\PíTULO 3

Rios, Terezinha Azcrêdo


Compreendere ensinar: por uma docência da melhor qualidade.'
- ,l.'~~"
I;'. DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA

i
'Terezi:ma Azerêdo'Rios. - 2. ed. -'SãO' Paulo: Cortez, 2001
~'.

í
11"
t";"... A educação será tão mais pleJla quanto mais
~ Bibliografia esteja sendo um ato de conhecimento,
I. ISBN 85.249.0777-0 um ato político, tttn compromisso ético

,.." 1. Educação - Filosofia 2. Ensino 3, Ensino - Finalidades e


h-....... ,':
e tlma experiência estética.
li ~_~,>1",-
I:'aulo Freire
objetivos I. Título.
, ,
.\
J Fazendo a articulação entre os conceitos de competência e
Oi-0333 CDD-370 ~, ~
de qualidade, chegamos a uma definiçUo de competência que a
t,.. ~ apresenta como uma rotalidadeque abriga em seu interior uma
índices para catálogo sistemático: '~

pluralidade de propriedades, um conjunto de qualidades de cará-


L Docência: Educação 370 r ~I

ter positivo, fundadas no bem comum, na realização dos direitos


i:
do coletivo de uma sociedade.
t,'. "\~
'\, ~ . Como isso se.manifesta na docência?
't,!
Em toda ,a£ãodocente, encontram-se uma dimensão técnica,
uma dimensão política. uma dimensão estética e uma dimensão
moral. Afirmar isto, entrctanto, não significa di~er que ela é de
. I
boa ou de má qualidade. É necessário, então, indagar: de que cará-
ter deve se revestir cada uma das dimensões da ação docente para
que a qualifiquemos de competente, isto é, de boa qualidade?
O objetivo deste capítulo é explorar cada uma das dimen-
sões, mostrando a estreita relação entre elas. Técnica, política,
ri
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DIMENSÕES DA COMPETÊNClA 9S
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f~1 . ética, estética não são apena5 referências de caráter conceitual -
podemos descobri-las em nossa vivência c~ncr~ta real, em nossa
prática. É dessa prática que se deverá partir, fazendo um esforço
1i~; É importante' que se associe a idéia d~ techlle às de poiésis e
praxis, pata que se. explore de maneira mais ampla sua presença
ria competência. '
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de ver na totalidade, e é a ela que se retornará para, ao ampliar a
compreensão dos conceitos, tomá-Ia mais consistente e significa-
tiva.
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Podem;s traduzir poiésis como criaçâo, produção. Aristóteles
distingue poiein - produzir - de prateill- agir. Quando faz a
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If;f;\: classificação das ciências, vai se referir a ciências teóricas (de
Ci-•.
theoreill, contemplar), ciêno:ias.práticas e ciências poéticas. O cri-
.1 "~~}:' tério usado é o da finalidade das ciências. As ciências teóricas,
A dimensão técnica I~

.-~:~: afirma o filósofo, visam conhecer por conhecer; as ciê'ncias práti-


~~'~~~~.cas e poéticas visam conhecer para agir. A diferença entre as duas
~, o termo
"técnica" é usado para indicar o "conjunto dos pro-
cessos de uma arte';;'ou a:'maneira ou habilidade especial de exe- últimas é que as ciências práticas estudam ações que têm seu fim
~:r.;,(' em si mesmas (a ética e a política) e as poéticas estudam ações
cutar ou fazer algo" (Cunha, 1982:759). Com esse significado,
";~i~~'i~'cujo fimé produzir alguma obra, algum objeto (a economia e 'as
fala-se em ensino técnico, faz-se referência ao avanço tecnológico 't!\>:

~l'
~~
do mundo conte,mporâneo etc.
Na Grécia"antiga,'onde surge, o termo techne era usado para
"descrever qualquer habilidade no fazer e, mais especificamente,
~mi cO'!![letêTJ£ii![lr~onal

1974:224).
oposta à capacidade instinti va ou
ao mero acaso". Indicava, também um ofício, uma arte (Peters,
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,;~
,
~~1, artes, por exemplo).

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Práxis, em grego antigo, significa ação pat'a levar a cabo algo, mas
uma ação que tem seu fi.lUem si mesma e que não cria ou produz
um objeto alheio ao agente ou a sua atividadi? Nesse sentido, a
ação moral - da mesma maneira que qualquer tipo de ação que
não engendre nada fora de si mesma - é, como diz Aristóteles,
, 'l~';'!~:',1

w; práxi,; pelámesma razão. a atividadedo artesão que produz algo


,
I
A técnica reporta, assim. ~aÇ.ão de uma ação, a uma l:" •. que chega a existir fora do agente de seus atos não é práxis. A esse
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certa forina de fazer algo, a um ofício. No seu ofíc~lguémfaz
alguma coisa - aí se requer ou se demonstra alguma habilidade. :ji~
õ~..=í~
tipo de ação que cria um objeto exterior ao sujeito e a seus atos se
chama em grego poÚsis, que significa literalmente produção ou
Chamamos a QLmimsãotécnica de suporte da competência, fabricação, ou seja, ato de produzir ou fabricar algo. Nesse senti-
",'.,
uma vez que esta se revela na ação dos profissionais. A técnica
tem, por isso, uin significado específico no trabalho, nas.relações.
1';*
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"
/,~"' ~ do, o trabalho do artesão é uma atividade poética e não prática.
(Vázquez, 1968:4-5)
!,
Esse significado é empobrecido, quando se considera 'a técnica
desvinculada de outras dimensões. É assim que se cria uma visão O sentido dos termos, tal como os usamos contemporanea-
tecnicista, na qual se supervaloriza a técnica, ignorando sua inser- mente, parece, na verdade, ter se invertido. Falamos comllmente
ção num contexto social e político e atribuindo-lhe um caráter de de uma atividade prática referindo-nos a algo de que resulta um
neutralidade, impossível justamente por causa daquela inserção. produto. e classificamos de poética algo estritamente relacionado
à criação artística ou, mais particularmente, à poesia.
Guardando, entretanto, o sentido úiginal dos termos, pode-
.. , 1. "A palavra ofício. do latim offieiu. significa, em sua origem, dever, ter Obrigação
de. Cidadãos de um mesmo mundo, temos todos direitos e deveres que serão exercidos
ríamos afIrmar que há um caráter poétjéo na téénica, na prática ',~

, nos nossos variados papéis assumidos. (...) Um ofício é sempre complementar a ou.tro" profissional. Ao mencionarmos uma "arte" do docente, revelada
.~ (Ponce, 1997b:45). Mais à frente, retomarei esse significado. ~ sua' competência, apontamos aí a presença de uma dimensão
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" COMPREENDER E ENSINAR DIMENSÕES DA COMPETÊNCIA •••.
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po~tica. que requer a ima~ínação criadora, cuja marca fundamen- ~., reconhecer a necessidade de jogar, luz sobre dimensão estética, a
. --. tai é a sensibilida.de (aisthesis) associada à razão .
, ["'" desde sempre presente, mas não ~xplorada da mesma maneira como

Charriarei à atitude criadora da inteligl!tiCia criadora atitude poéti-


ca. Não se trata, evidentemente, de escrever poesia. mas antes de
I~k se tem feito com as demais dimensões.
,'o

Refiro-me à sensibilidade como algo que vai além do senSO-I


.

designar essa criação reduplicativa utilizando o sent!do.etimológico rial e que diz respeUo a uma ordenação das sensações/uma apre-
da palavrapoiesis, produção, criação. (Marina, 1996:174)

Se a práxis não revela um caráter criador, ela tem seu signi-
!'~£:~
*."
7;':"':-'
ensão consciente da realidade, ligada estreitamente':,à in.telec-
tualidade (Ostrower, 1986:12-13).-'
O ser humano, afirma Marina (1996:21), é uma "sen/imenta-]
ficado empobrecido, tomando-se uma práxis reiterative; ou bwp-
C/'atizada (Vázguez. 1968). Então, o que se encontra são a repeti-
.L-.
~, ",-~,'
!idade inteligente". A sensibilidade está relacionada com o poten-
.~,}-~:: cial criador e com a afetividade dos indivíduos, que se desenvolve
ção e o formalismo, a sujeição a modelos, a ausência da reflexão. num contexto cultural determinado. Assim, afirma Qotro'<ler
Para que a práxis docente seja competente, não basta, então, o ij' " (1986: 17),
, domínio de alguns conhecimentos e o recurso a algumas "técni-
'I' ,
sj':.~;
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I, cas" para socializá-los, É preciso que a técnica seja fertilizada
pela determinação autônoma e consciente dos objetivos e finali- I ;'
a sensibilidade do indivíduo é aculturada e por sua vez orienta o
fazer e o imaginar individual. Culturalmente seletiva, a sensibili.
'aades, pelo compromisso com as necessidades concretas do.cole- l~ dade guia o indivíduo nas consid~rações do que para ele seria im-
i tivo e pela presença da sensibilidade, da cliatividade. .r.:' (. portante ou necessário para alcançar certas metas de vida. (...) A
-'
sensibilidade se converte em criatividade ao ligar-se estreitamente
"j l a uma atividade social significativa para o indivíduo.
A dimensão estéti,a' 0.1',;
A sensibilidade e a criatividade não se restringem ao espaço
Os gregos usavam o termo aes/hesis para indicar exatamente da arte. Criar é algo interligado a viver, no mundo huma!,o. A esté-
a'percepção sensível da realidade. Não é minha intenção aprofundar ',i tica é, na verdade, uma dimensão da existência, do agir -humano.
aqui a noção de estética como se faz no interior de uma reflexão ,
sistemática sobre a arte,' nem tampouco trabalhar com a idéia de o vício de considerar que a criatividade existe só nas artes defor~
ma toda a realidade humana. Constitui uma maneira de encobrir a
uma ':educação estética", tal como é abordada por vários autores.
precariedade de condições criativas em outras áreas de atuação
Procuro lançar claridade sobre a presenca da sensibjlid:tde - e da l.
,beleza - (orno elemento constituinte do saber e do fazer doc~e. .~.
d.
humana ( ...) Constitui, certamente, uma maneira de desumanizar o
trabalho. (Ostrower, 1986:39)
Não se trata, então, de inventar uma nova dimensão para a
competência. Levando adiante minha investigação,. o que fiz foi ~~6
" ~.
. Ao produzir sua vida, ao constrUÍ-la, o indivíduo realiza uma
~~~ ~-~

~ obra, análoga à obra de arte. Éjustamente aí que ele se aflrma como


,pi, ~

sujeito, que ele produz a sua subjetividade. Pereira (1997:85) refe-


2. Há um longo percurso, neste"campo, que rcroonta aos f~lósofosantigos, ganha re-se a uma macroestética, campo epistemológico independente, que
fonnas renovadas na modernidade e estende-se em múltiplas configurações em nossos
dias. De Platão a Benjamin, passando pelos medievais, por Kant, Schiller e Hegel, só nasce no século XVIII, a partir do. idealismo alemão, e a uma
, para citar alguns exemplos, coloca-se à nossa disposição uma renexão extremamente microestética, que se refere ao modo como cada indivíduo se orga-
rica, que se oferece à consideração da investigação em educação (cf. Pereira, 1997). niza como subjetividade. Assinala que "macro e micro (...) não são :. ;:
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" COMrREENDER

designações de quantidade ou de extensão, mas se referem à ordem


E ENSINAR

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DIMENSÔES DA COMPETÊNCIA

práxis, ~niverso do agir, como a enteQdemos contempora-


"
.'

de existencialização. Macro é a ordem do institucional e do disci'


r)"!!.r~.~::-
..,~ neamente. •
plina~ campo de determinações molares da existência; micro é a ~;ih,l: É nessa medida que é importante trazer luz à dimensão esté-
~}t.'
...
ordem da processualidade, dos campos interativos de forças vivas .'. .i \ ::.
lÍca dó fd'zer humano e do trabalho docente: E se falamos em.com~
da exterioridade atravessando um sujeito-em-prática". ~:<-{~,>,:.'
petê"ncia, nãó se tratade uma sensibilidade ou de urna criatividade


O trabalhei de Pereira faz um percurso que ele denomina jus'
tamente uma ;stética da professoralidade. Afirmar uma dimen-
são estética na prática docente é trazer luz para a subjetividade do
F?{~: qualquer, mas de um movimento na direção da beleza, aqui enten-
dida como algo que se aproxima do que se necessitâ concretamen-
te para o bem social e coleti~o.
.::
~rofessor, subjeti vidade construída na vivência concreta do pro-
Um trecho longo, mas exemplar, de um dos textos de Fayga
cesso deformação e de prática profissional,
.\r~~i~r
"
É necessário considerar, também, que a subjetividade não se
diz de um único sujeito, de uma existência singular. Subjetividade };~i~i~ --
Ostrower, a cujo trabalho recorro 'aqui reiteradamente, nos ajuda a
compreender isso melhor. Ela nos conta (cf. 1998:289) que
,

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se articula com identidade; que é afirmada exatamente na relação o matemático Renri Ponearé (1854-1912), precursor das teorias de
com alteridade, com a consideração do outr6. - ~~~
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-~)r, Albert Einstein, falando sobre o processo criador na matemática,
num depoimento que se tomou; famosa, se pergunta: ".,. como se dá
Não há como pensar a subjetividade sem pensar na ordem da cole-
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a escolha prévia pelo inconsciente de certas idéias,.para que passem
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tividade, na presença e convivência com outros sujeitos encarna- '!;,_i--~: ao nosso consciente e se coloquem como hipóteses?", E ele respon-
,....,.-., dos que me afetam e são 'afetados por mim. A ordem da subjetivi- .~~ '1'.' de: "... é porque estas ordenações têm beleza ... De um modo geral,
fIo-"..iI ., ;
dade é a ordem do eoietivo. (pereira, 1997: (42) os fenômenos inconscientes privilegiados, aqueles que se tornam
.-~)
.!.:'t.
conscientes, são os que direta ou.indiretamente afetam de modo mais
Citando Bernardo, Pereira (1997: 124) afirma que :::':: :~ profundo a nossa sensibilidade. Talve,z seja surpreendente evocar a
~. -t••.; ..
sensibilidade emocional a prop6sito de demonstrações matemáti-
:'I:t~)
_I . não existe qualquer prática que, ao mesmo tempo que suscita ou-
T
cas, que aparentemente só poderiam dizer respeito ao racioclnio,
tras expressões, não suscite também a expressão estética, pois não Mas isto seria esqu~er os sentimentos de beleza matemática, de
há prática que não se expresse de uma maneira, e essa maneira é a harmonia de números, de elegância geométrica. Este é um sentimen-
estética, ~)itj' to verdadeiramente estético, que todos os matemáticos conhecem
I;,

" } Devemos retomar aqui a definição de "ser humano" que


ir. muito, e que, sem dúvida, pertence ~ sensibiiidade emocional. (...)
Quem 1!ão a tiver, jamais será um verdadeiro criador",
procura ir além da afirmação de que "o homem é um animal "o ,.i_'.


1 racional". Mais do que defini-lo dessa maneira, deveríamos afir- . '. "Poder criar beleza", afirma Ostrower (1998:289-290), "re-
:'..;-' 'e.
mar que o ser humano é um animal simbólico. Isto significa que presen(a a realização das mais altas potencialidades espirituais do
a racionalidade não é algo isolado, mas estreitamente articulado
a outras capacidades, outros instrumentos que tem o homem para
,;'~"<~~,~;l
;':i"... ser humano, na manifestação de sua consciência sensível". Os sen-
timentos que a beleza nos proporciona ultrapassam, segundo ela,
..~l:,,'" o puro prazer. "É urna dimensão ao mesmo tempo sensual e espi-
intetferir na realidade e transformá-la. Nesse sentido, a imagina- h .. _.~.;::.,
ção, a sensibilidade são elementos constituintes da humanidade f""'''''~-. ntual, estética e ética,"
do homem e não podem ser desconsideradas quando.se fala na '! ' A ação docente envolve, portanto, técnica e sensibilidade E ,
~ sua realização: A poética, universo do fazer, 'não se desarticula a doéência competente mescla técnica e sensibilidade orientadaª- J~
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100 COMPI\HND£R EENSINAR DIMENSÕES DA COMPETÊNOA 101

por determinados princípios, que vamos .encontra;: num espaço_ No latim, o termo que dê~igna "costumes" é mores. Aí te-
ético-político_ nio, a origem do termo "IT\oral".A significação originária comum
.'.~.,',""- dos termos etho.Se mores tem levado a uma i~ntificação entre os
..
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.
conceitos de ética e moral. Verifica-se, entretanto, que'étiçp. passa
As dimensões ética e política !<{~f'<
i, ' a designar, historicamente, não mais o costume, mai a reflexão
'-~'i"::F~'"' sobre o costume, o questionamento do costume a busca de seu
A opção por abordar conjuntamente os conceitos de ética e j:Sf~~~' fundamenta, dos princípioS que o sustentam.' Na verdàde, usa-se
política se apóia na ligação estreita que há entre eles. Essa liga- nas línguas modernas o termo ethos, mantendo-o em grego, exata-
ção, entretanto, não deve nos impedir de fazer a distinção. Ao con- mente para designar a maneira de agir e de pensar que constitui a
trário, aqui também é necessário realizar o esforço de distinguir marca de um grupo, de um povo, de uma sociedade. É assim que
para unir os conceitos, os termos que os designam e os elementos .i',
se taz referência ao "ethos americano" ou ao "ethos judeu", po'r
da realidade por eles ",,!,resentados. . "
exemplo:
Ao explorar o conceito de ética, uma primeira distinção já se No ethos manifesta-se um aspecto fundamental da existên-
impõe: aquela entre ética e moral. cia humana: ~ criacão de valores. Valorizar é relacionar-se com o
i "~~~~
Se vamos em busca da origem etimológica do te;mo ética, 1 -,' mundo, não se mostrando indiferente a ele dandQ-lhe uma sigpi-
encontramos a referência a ethos, "morada do homem" (Vaz, . !cação. Há valores de diversos tipos: afirmamos que algo é ver-
1988:12), espaço construído pela ação humana, que transcende a dadeiro ou falso, bonito ou feio, útil ou inútil, bom ou mau, São.
,.., desse último tipo aqueles valores que usamos para qualificar a
~ natureza e transfom1a o mundo, conferindo-lhe uma significação
específica. • conduta, É aí que se relacionam costume e valor. Tende-se a qua-
lificar como boa OO'correta uma conduta que seja costumeira e a
Sabe-se que em sua origem mais arcaica ethos significou "mora- estranhar, e mesmo a qualificar de má, uma conduta a que não se
da" ou "guarida" dos animais, e que s6 mais tarde, por extensão, se está acostumado. .,'"
referirá ao âmbito huma~o,conservando, de algum modo, esse pri- . Na medida em que o costumeiro vai ganhando força, instala-
meiro sentido de "lugar de resguardo", de refúgio ou proteção; de se o dever. O ethos é O ponto de partida para a constituição do
, espaço vital seguro, resguardado da "intempérie" e no qual se cos-
.Ilomos, da lei, da regra.
-'
Parte-se de uma certa forma reiterativa de

-i
tuma "habitar", O sentido de "habitar" ou "morar" está certamen-
te entranhado-no ethos humano: remete à.idéia de m9rada interior.
, agir, estabelecem-se a seguir convenções, um agir que se reco-
menda, e vai se instalando uma forma de agir qué é exigida social-
O ethos é "lugar" humano de "segurança" existencial. (González, mente, para que os indivíduos possam participar do contexto, nele
,I 1996:10)
.1 interferindo e relacionando-se uns com os outros,
,
I: o ethos designa, assim, o espaço da cultura - do mundo
, transformado pelos seres humanos. °
3. "Embora ta elhé e mores signifiquem mesmo, i~toé, costumes e modos de agir
de uma sociedade, no singular, echo.l' é o caráter ou temperamento individual que deve
De lugar de morada, o. ethos ganha o sentido de costume, ser educado para os valores da sociedade e ta étlJiké é uftla parte da filosofia que se
.~ jeito de viver específico dos seres humanos e que, exatamente por dedica às coisas referentes ao caráter e à conduta dos indivíduos e por isso voltli-se para
a análise dos próprios valores propostos por uma sociedade e para a compreensão das
transcender a natureza, é plural, reveste-se de uma configuração éondutas humanas individuais e colétivas, indagando sobre seu sentido. sua origem, , .
diferente nas diferentes sociedades. seus fundamentos e finalidades" (Chaui, 1998:1). '.;~' .\"

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102 COMPREENDER E ENSINAR
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:\,-.;,.: DIMENSÕESDA COMPET~NOA 103

É então que se tem, propriamente, a moral. EI~ é o conjunto .' sentido de dela participarem. A "nomia ", a organização da polis,
de normas, regras e lejs destinado a orientar a ação e a relação T'
.
se propõe a garantir O caráter humano das relações e do trabalho.
Sãcial e revela-se no comportamento prático dos indivíduos. '.",'

:,,~Y Podemos.nesmo dizer que a passagem daphysis ao elhos e à polis


Embora a configuração dos costumes seja diferenciada e 'se é comó um trânsito do caos ao cosmos, da indefinição para a defi-
.'.
modifique no tempo, a partir da intervenção dos,indivídnos, a moral ',;~5",. nição .
.J tem um caráter universal: todas as sociedades "têm uma moral", é . :"'~(;;,;'" •
Rabermas (1991:105) afirma que
I
o qne se costuma dizer. A moralidade é constituinte do comp07ta , '~.~{~~:.-
,:.;;;i
mento dos indivíduos e está presente em todas as sociedades. a moral, pode ser entendida como um mecanismo protetor que ser~
O ato mora] pressupõe liberdadeúesponsabilidade. A ques- ve de compensação à vulnerabilidade estruturalmente inscrita nas
tão fundamental é a questão da escolha, Não se podê fill2I em " ~ formas de vida socioculturais,
escolha se os indivíduos não tiverem liberdade, não'puderem defi-
nir em que direção orientarão sua ação. Todo juizo moral consiste
?f)~: ~ "hO'j'
Segundo ele, os sujeitos capazes de linguagem e ação pas-
em comparar o que é com o que deve' ser, É importante fazer o, sam por um processo de "individuação" numa vida intersubjetiva-
bem e evitar o mal- essa é a regra central' da moral. Parece sim-
ples. Entretanih, o que se qualifica como bem e mal em cada socie-
;:~~~
"'i-~
1~~l.j,
. 1,
mente compartida, como membros de uma comunidade, Quanto
mais progride a individualização, tanto mais o sujeito particular

, '
=::;j
dade, em cada época, é extremamente diferenciado. O bem, colo-
cado como referência para as ações e relações, é algo que se esta-
belece social e historicamente,
~:r{f:
~':;i:~i;
se vê envolvido em uma rede cada vez mais densa e ao mesmo
tempo mais sutil de:recíprocas possibilidades de.desamparo e de
correspondentes necessidades de proteção.
I É O estabelecimento do nomos, das regras, dos princípios ,/~,~",;' Só mutuamente as pessoas podem estabilizar sua "quebra-
I orientadores que permite que se fale no espaço verdadeiramente hi::~ diça identidade", afirma Rabermas (1991:107). Nenhuma pes-
humano da cultura (Rios, 1993b). Temos aí a superação daphysis, , ,)~ . - ',~- soa pode afirmar sua identidade por si só. Assim, há necessidade
In'!- "
-"\ ..
do determinismo, na medida em que o ser humano, pela'interven- 'z.-'-:-- da moral como uma "instituição que nos informa acerca do me-
--1
ção livre e criadora do trabalho, define o mundo, cria significa- ~;.:r, lhor modo de nos comportarmos para resistir, mediante a consi-
ções e valores, determinando ele próprio de queforma organizar a .(.,
deração e o respeito, à extrema vulnerabilidade das pessoas"
vida. Isso significa que o ethos, a nossa morada, "contém e orienta (1991:105).
nosso agir, mas é também reproduzida e modificada por ele" ,. A vulnerabilidade, certamente, configura-se em vários ní-
.
'

!<-'.,
(Nodari, 1997:386). "".: veis, começando pela dimensão biológica da vida humana, O tra-
Na physis, as coisas são; no ethos, elas devem ser. Os seres " balho é, primeiro, ação no sentido da sobrevivência, da vida mate-
• >:.
I humanos criam as regras, e devem submeter-se a elas, para viver
juntos. As normas, as leis, são constituidoras da organização ~o- ~,~,
o",

l'
rial. Mas é, simultaneamente, ação de conferir sentido à realidade
e ao próprio ser humano, em sua existência com os outros,
cial, da polis, ~~';:h~:~J,'
,
,Aí já se aponta a relação entre a moral e a política. A organi-
zação social é feita pelo homem livre, a partir de determinados
',S)~;;~:,' Se a techne assegura a subsistência dos homens, ela não os preser-
vá da violência das espécies animais nem das guerras a que' os
homens se entregam quando se reúnem: ela é pois insuficiente para
costumes, sustentados por determinados valores, com uma orien-,

~~"
•.•....• tação específica para aqueles que fazem parte deste contexto, no '
assegurar a sobrevivência da espécie humana, O que salvará os
homens é o laço político. (Vergnieres, 1998:27)
. ~~
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lJ4 COMPREENDER E ENSINAR DIMENSóf5 DA COMPITÉNC~ 10S--=,~

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VidapolÍ{ica - é assim a vida dos seres hurr,anos. É com a Assim, embora mantendo uma relação muito estreita, ~ não
instauração do erhos, configurado na polis, que se instala a condi- se confunde com a moral ~ela pensa criticamente sobre a moral,
ção humana. .",' como cQl,ljuntode valores, princípios que orientam a:conduta dos ,"O

'.. ...'~',l'
. . .indivíduos e grupos nas sociedades. .:,.
A Pólis, concretização racional do nomos, é o lugar ande o homem
legitima seu deS'tino, dando significação e firialidade às suas ações
" ;f"i\ .. Há alguns autores que utilizam indistintamente os termos éti- •
e e'scapando, dessa maneira, à arbitrari'cdad~do jawm. A PÓ!is é 'ft...:1-< . 'ça e moral para designar o que aqui estou chamando de~moral.Nes-
uma totalidade onde o homem confere sentido à sua existência, ;... 'samedida, falam em éticas, uma vez que se referem a algo de cará-
reconhece e assume seus valores e formula explicitamente seu des. I'
. ..t
ter normativo e, portanto, plural e diversificado. É por isso que se
tino como uma pergunta que tentará responder com sua ação polí- .t-(\
~,.'
encontra a referência a uma "ética da burgues'ia" e uma "ética do
tica. (Andrade, 1977:135) proletariado", uma "ética do partido x" e uma "ética do partido y".'
Julgo importante manter o sentido de crítica que se encóntra
Mais do que mencionar uma natureza humana, dever-se-ia, presente no conceito de éticae fazer a distinção",não só entre os
então, falar de uma condição humana, construída pelos seres hu-. .'".
termos, mas entre os concei.tos. t\ ética tem um caráter reflexivo,
manos. Melhor dizendo, a natureza humana é algo condicionado,
não nonnàtivo. Ela
isto é, configurado pelos homens e mulheres no processo históri-
co. Só assim poderíamos, sim, afimlar, com Aristóteles, que o ser implica um salto a partir da moral, um novo regime da inteligên-
humano é, por natureza, um ser político. Arendt (1998:23) pro- cia, mais do que uma mudança de conteúdos valorativos. Um mo~
...., cura ressaltar esse aspecto de construção do político:
.-
Zoon politikon: como se houvesse no homem algo político que
, dela de humanidade moralmente vigente pode ser recuperado pela
ética, que ao clarificá-lo e fundamentá-lo o situaria numa nova ór-
bita. Permanecendo igual teria mudado de estado. Aquilo que era
pertencesse à sua essência- conceito que não procede; o homem objeto de uma crença passa a ser afirmação constituinte. E isso
6 a.político. A política surge no entre-os..:homens.(. ..) Não existe altera completamentesua natureza.(Marina, 1996:l08)
nenhuma substância política original. A polítiCa surge no intra-
espaço e se estabelece como relação.. É verdade que é da natureza da ética a referênci'a a um dever
'" ,\
" ).
ser. Mas é também dessa natureza um esforço de tra.t\scender um
",<'
É no espaço político que transita o poder, que se configuram
plano restrito e circunstancial, numa perspectiva de t9talidade, Esse
acordos, que'se estabelecem hierarquias, que se assumem com- .>
.esforço não tira da ética sua dimensão social e histórica - busca
promissos. Daí sua articulação com a mOral- e a necessidade de
apenas tornar mais preciso seu significado,
sua articulação com a ética. ~
..

É momento de retomar, para isso, a distinção que se esbo- ,. A ética realiza sua natureza de atividade propiciadora de uma rela-
çou, no início deste item, entre ética e moral. i. ção consciente com o humano-genérico quando consegue apreen.
A moral corresponde ao ethos e não - é importante assina-
- ,.'
lar ~ à ética. A ética não se'confunde com o ethos. Na verdade, ..4. c.'h.aui (1998' fala em "diferentes éticas filos6ficas" e na "ética como ideologia".
ela tem sido chamada de "ciência do ethos". Na medida em que o' 1-:1.;~. A~,primeiras se apresentam como concepções diversns dos filósofos sobre a moralidade e a
~ ! .,.. -, ;,-,_. . ~.. .segunda se mostra como uma "reforma dos costumes" como uma dispersão de "éticas
conceito de ciência tem uma grande extensão, prefiro referir-me à I

.., lé~ca, como venho fazendo, como reflexão crítica sobre o <illY:i.s. t, : 1~~:~
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,. ~.. locais" (ética familiar, ética profissional etc.) e como fragmentação do sujeito ético. Na
verdade, na ética como ideologia estaria deturpado o sentido real da ética Como reflexão ..
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106
COMPREENDER E ENSINAR

der criticamente os fundamentos dos cbnflitos morais e desvelar o


sentiáo e determinações da alie,nação moral, quando apreende a
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'lá""'/':' .
DIMENSÕES D~ COMPrr~NC!A
-
Tal situação, que se coloca como desejável, teria maior pos-
"
10;

,

I relação ~ntre a singularidade e ai universalidade dos atos morais, :~;:';,:~;'; sibilidade de se efetivar com a presença da reflexão ética, ques-
I 'j:;(';~~,< "tionando os valores e explicitl!J)do o sentido de uma "vida feliz".
I
• quando responde aos conflitos sóciais resgatando os v:rores gené-
ricos, quando amplia a capacidade de escolha consciente diante de
,~;::,)",;;.~,/ . . .
'jt:~ytt. Se a felicidade é sinônimo de bem comum e se é esta a fina-
,ituações de conflito moral. (Barroco, 1996:95)
;:f.t*~~•. lidade da vida dos indivíduos em sociedade, o trabalho de todos
;?:~?~/!:0;" deve ser orientado para que se alcance esse objetivo. O que é uma
Desse modo, a escolha, que consiste•no núcleo do gesto moral, .~,!b.":"~~ .
, I;.;:;::~,~. vida feliz senão a possibilidade de viver plenamente o direito de
,
I se reveste de uma feição ética exatamente quando o indivíduo avalia
não apenas segundo os valores que lhe são colocados circunstan-
i+';' .
acess~ ao: bens de toda ~aturcza produzidos pela sociedade e de
tej cialmente, por um ou outro determinado segmento, mas leva em ..h,.,,; ,,' partIclpaçao na construçao de novos bens e d,re,tos?
;~'F;,;'~~/~~',
. _ . ~ .'
I consideração
'
a perspectiva de realização do bem comum.
':""--- jl,i,;.':;.';.. Como nao estou me refenndo a algo romantlco e abstrato, \
r~,-, É por essa razão que, embora se afirme a presença de uma .:t:W~~,~,~~"
. mas que se constrói no espaço da vida coletiva, na instância não ,..
,irl dimensão moral no trabalho didátiço, na ação docente, reivindico :~;â~:~,lit apenas do privado, mas do público, é necessário trazer para o ce-
! que nela se configure, fundamentalmente, uma dimensão ética. h;:;'(~,);;l.'" nário da discussão que aqui se faz o conceito que se articula à
Falamos em dimensão ética da competência porgue a competên- ~r\~\:4:,
. idéia de felicidade e permite compreendê-la mais amplamente. É
cia giJãrda uma referência a algo de boa qualidade _ a algo que .~)~{;';.'.:~j o conceito de cidadania.
'i~<"i';-':' ~.,;.~.
se exercita como se deve ser, na direção não apenas do bem, en-

~1 tendido com múltiplas significações, como se verificã na moralida-


de, mas do bem comum. Daí a perspectiva ética.
Assim como vimos que'a'dimensão técnÍca e a dimensão
"\: .',,, .".

':i:~W!~'"
(!':';!::,,:
Fala-se muito que é tarefa da educação a formação da cida-
;:~;ti" dilllia: É tarefa dos professores contribuir com seu trabalho para
,~ssa formação. Eles o farão, se sua ação se realizar continuamente
, , estética necessitam ser fecuiJdadas pela ética, tãmbém a dimensão ',", ~~1 dA'
na direção da competência, na articl~ção dialética das dimensões
L~~-f~:~",s.:,:-:,: essa competenCla .
..J I
,
'polít1ca tem neçessidade dessa articulaçãofecunda. Desse modo,
estaríamos nos aproximando da concepção apresentada por ,;'i~i:€(' Aqui se explicita a minha t~se: _o_t~r_a_b_a_lh_o_d_o_c_e_n_te_c_om~p_e-
Aristóteles. Segundo ele; a finalidade da política é ":(" : .. ' tente é um trabalho que faz bem. E aquele em que o docente mobi-
" liza todas as dimensões de sua ação com o objetivo de proporcio-
,q dirigir~se em vista do bem Comum de todas as atividades humanas ,, nar algo bom para si mesmo, para os alunos e para a sociedâde.
no interior da "póli.s". A política é a arte real, Ou arquitetônica, que .j" Ele utiliza todos os recursos de que dispõe - recursos que estão
,. -.
" ""I comanda todas as outras, como o arquiteto comandando aos di ver- ,,~. presentes ou gue se constroem nele mesmo e no enramo - e.ola~'
.,I sos artesãos na construção do edifício. Ora, se o bem supremo é de maneira crítica, consciente e comprometida coro as necessida':
., também um bem comum, a política 'tende a assegurar a todos este
.des concretas do contexto social em que vive e desenvolve seu
.e bem comum. Pois o fim da vida política é a consecução de ~rna
,I,••
vida feliz em acordo COm a essência do homem. Com outras pala-
vras, a auto-realização d~ homem enquanto ser racional e livre.
----
"Ofício.
É por isso que não falamos em çompetência como algo abs-
Ademais, a política tem esta função, porque somente na "p6lis" o , trato ou um modelo - temos "quesituá-la nas. sociedades reais
homem encontra O caminho de realização de suas possibilidades. ""em que vivemos nós, professores, docentes. 'A competência é
",-,.,,,.'
'f' -:-'~
A auto-realização do homem encontra seu único caminho na "pólis".
,...,., (NQdari, 1997:406,407) ""sempre situada - o ofício de professor se dá dentro de um siste-
" • I
ma de educação formal, numa determinada instituição escolar,
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106
••• COMrREENOE~ E ENSINAR DIMENSàES DA COMPET£NOA 109

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num coletivo de profissionais que fazem a escola,' nama socie- . compromisso,-verificar se ele efetivamente dirige a ação no senti-
do de uma vida digna e solidária.
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dade específica ..
Assim, a docência da melhor qualiJiade, que temos de buscar Como afirma Contreras Domingo (1997:58-59),
continuamente, se afirmará na explicitação dessa qualidade - o . - ':':~.
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quê, por quê, para quê, para quem. ESSílexplicitação se dará em ..• ":-). ? a competência profi~sional se refere não só ao capital de conheci-
. \,~),,-:.i,
cadi dimensão da docência: mento disponível, mas também aos recursos intelectuais de que se
.' ".;:'~},.~. dispõe com objeto de fazer possivel a ampliação e <5 desenvolvi-o
• na dimensão técnica, que diz respeito à capacidade de lid~r
menta desse conhecimento profissional, sua .fle~ibi1idade e pro-
com os conteúdos - conceitos, comportamentos e atitu-
fundidade.A análise e a reflexão sobre a prática profissional que
des - e à habilidade de construí-los e reconstruí-los com se realiza constitui um ~e um elemento básico para a
os alunos;
• na dimensão estética, que diz respeito à presença da sensi-
bilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;
• na dimensão política, que diz respeito à participação na
- ..•.. ,.
profissionalidadedos ensinantes. (...) Só reconhecendosua capa-
cidade de ação reflexiva e de elaboração de conhecimento profis-
sional em relação ao conteúdo d.esua profissão, assim como sobre
os contextos que condicionam sua prática e que vão além da aula,
f, podem os ensinantes desenvolver sua competência profissional.
., construção coletiva da sociedade e ao exercício de direitos
e deveres;
A reflexão a que se refere esse autor é exatamente a reflexão
., • na dimensão ética, que diz respeito à orientação da ação, J!i~fl...Ele segue afirmando que
. ""~.
fundada no princípío do respeito e da solidariedade, na di-
reção da realização de um bem cole tivo..
,
a competência profissional é uma dimensão necessária para o de-
, senvol vimento do compromisso ético e social porque proporciona
Chamamos '!,jimensão ética de dimensão fundante da com- os recursos que o fazem possível. Mas é ao mesmo tempo conse-
petência porque a técnica, a estética e a política ganharão seu sig- qüência desses compromissos, posto que se alimentadas experiên-
nificado pleno guando, além de se apoiarem em fundamentos pró- cias nas quais se devem afrontar situações dilemáticas e conflitos
~
prios de sua natureza, se guiarem por princípios éticos. Assim, em que estão em jogo o sentido educati vo e as conseqüências da
vale reafirmar que, .eara um professor competente não basta do- prática escolar. (Contreras Domingo, 1997:59)
minar bem os conceitos de sua área - é preciso pensar critica-
lil":., Por isso, a cidadania ue reei formar com o CÍ-
mente no valor efetivo desses conceitos para a inserção criativa
cio da ocência competente, não é uma ddadania qualquer. Ela
1I0s sujeitos na sociedade, J;lão basta ser criativo - é preciso exer-
ganha sentido num espaço democr4tico. que também demanda um
cer sua criatividade na construção do bem-estar coletivo. Não basta
esforço de construcão coletiva e no qual dilemas e conflitos estão
se comprometer politicamentl( - é preciso verificar o alca~e dess~
liUlh.,,'1
-.~".;;,
t~~. " a nos desafiar. É isso que pretendo explorar, na seqüência do tra-
I.~"
balho, .
<.'
-,';o: ~ k .~
~~~>.~.:t ,.'.i'-"
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'(1"
~'"
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."', ~~ 5. "A instituição educativa representa um espaço sobre o qual se projetam, de for-
' ma contraditória e conflitiva, distintas pretensões e aspirações, tanto culturais Fomo eco-
.~;.
I,,; ~ ", , nômicas e sociais. O ofício docente não pode se entender, portanto, à.ma.rgem das condi-
", 1i,l]" çõ. es sociopol{ticas que constituem a natureza da própria instituição escolar" (Contreras

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~.~:" . Domingo, 1997:46).
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