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RESUMO
A autobiografia é uma narrativa imprescindível para bem compreender as
crenças, os sentimentos e o modo de ser de um determinado autor. O objetivo
do presente artigo é fazer uma apresentação da autobiografia de Clive Staples
Lewis que se encontra no livro “Surpreendido pela Alegria”. A narrativa de C. S.
Lewis não se resume a relatar eventos pessoais, também é composta por um
conjunto de argumentos que o autor elabora para esboçar uma antropologia
filosófica, a antropologia filosófica do homem C. S. Lewis. A vida do autor e, de
maneira mais específica, o período entre a infância e o final da juventude
descrevem como os fatos e as afirmativas do cristianismo puderam ser
identificados como a verdadeira religião, religião baseada em fatos históricos e
em uma convincente compreensão da realidade. A experiência pessoal da
“Alegria” foi um evento norteador no processo de conversão do autor ao
cristianismo. Como uma espécie de antropologia filosófica, a autobiografia de
C. S. Lewis, além do mais, apresenta uma interdependência entre a
experiência de fé cristã e a experiência intelectiva.
ABSTRACT
The autobiography is a fundamental narrative to understand the beliefs, the
feelings and the way of life of a certain author. The purpose of this article is to
present the autobiography of Clive Staples Lewis founded in the book
“Surprised by Joy”. The autobiography of C. S. Lewis is more than a narrative of
personal events, is too a set of arguments that the author uses to sketch a
philosophical anthropology, the philosophical anthropology of the man C. S.
Lewis. The life of C. S. Lewis, especially the period from his childhood to the
end of his youngness, describes how the narratives and the affirmatives of
Christianity were identified as the true religion, a religion based upon an
historical facts and an convincing comprehension of reality. The personal
experience of “Joy” is a lead event in the author conversion’s process. As a
philosophic anthropology, the C. S. Lewis’s autobiography shows an
interdependency between the experience of Christian faith and the intellective
experience.
1
Daniel de Resende Travessoni é mestre e bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da UFMG,
especialista em Filosofia / Temas Filosóficos pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG,
advogado, professor da Faculdade Batista de Minas Gerais, e membro do Conselho Acadêmico da AKET
– Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares.
2
1. INTRODUÇÃO
2
AGOSTINHO. Confissões. 18ª edição. Petrópolis: Vozes, 2002.
3
LEWIS, Clive Staples. Surpreendido pela Alegria. São Paulo: Mundo Cristão, 1998.
4
LEWIS, Clive Staples. As Crônicas de Nárnia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
5
LEWIS, Clive Staples. A abolição do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
3
embora não apenas Gilbert K. Chesterton,6 mas uma grande e diversa fileira de
vidas cuja influência se faz em maior ou menor medida, sejam seus pais, sejam
colegas do exército britânico, com os quais manteve contato durante o período
que esteve em trincheiras francesas durante a Iª Guerra Mundial.
Autobiografias (como a de Lewis, as “Confissões” de Agostinho, o livro
“O Filósofo e o Teólogo” de Étienne Gilson)7 e romances autobiográficos (como
"Recordações da Casa dos Mortos”,8 de Dostoievski) fornecem aos leitores
quadros vivenciais nos quais argumentos filosóficos e crença científicas
tornam-se tangíveis em situações distintas daquelas em que comumente são
evocados, como em seminários universitários, rotinas laboratoriais e
expedientes em escritórios ou estúdios. A leitura de tais obras é um
complemento imprescindível à reflexão e à atividade acadêmica.
6
CHESTERTON, Gilbert Keith. Ortodoxia. São Paulo: Mundo Cristão, 2008.
7
GILSON, Etienne. O Filósofo e o Teólogo. Santo André: Acadêmica Cristã, 2009.
8
DOSTOIEWSKY, Fiódor. Recordações da Casa dos Mortos. São Paulo: Martin Claret, 2006.
4
filosófica ocidental, o leitor será levado a constatar uma distinção entre uma
educação “clássica” (a do próprio Lewis) e entre uma educação “humanista”,
“progressista” e “modernizante” – aliás, tema tratado na antropologia filosófica
“A Abolição do Homem” – tal como nós contemporâneos temos sido
acometidos pelas políticas educacionais estadistas.
Por outro lado, vê-se não apenas que a “Alegria”, mas uma vocação
própria de Lewis o dirige a uma vida de erudito, a uma vida de acadêmico. E, a
despeito de não aludir aos trabalhos de Martin Buber,9 e apesar de uma
dificuldade inicial em se relacionar intimamente com os outros, a experiência de
Lewis permite ao leitor aceitar a hipótese do filósofo judeu segundo a qual o
conhecimento é uma atividade inter-subjetiva, mesmo que implique também na
atuação do silencioso diálogo do homem consigo mesmo (tal como Hanna
Arendt entenderia o "pensamento" individual)10 – e, de fato, a prática da
reflexão pessoal é uma característica de Lewis, um evento frequente,
intercalada com suas leituras e contatos com mestres e colegas, segundo nos
narra.
Cada "componente" de seu cabedal literário, de seu conjunto valorativo,
cada crença, cada proposição filosófica, cada um deles é, em uma extensão
considerável, resultado da atuação do indivíduo Lewis junto a seus
interlocutores – mesmo que tais interlocutores estivessem distantes no tempo e
espaço, ou sequer fossem conhecidos, à guisa do(s) autor(es) de mitos
nórdicos, ou se tratassem de pessoas próximas, como seu pai, seu irmão ou J.
R. R. Tolkein11 J. R.R. Tolkein, entre outros. Neste sentido, considerar a
formação (bildung) ou a educação (paidéia) de um acadêmico como um
“percurso” é afirmar o itinerário através do qual o indivíduo alcança plagas nas
quais ainda não havia estado, e junto às quais se deparará com novos
indivíduos, quando que se apropriará de novas crenças e de novos hábitos.
A caminhada de Lewis exibe uma vívida narrativa de como interesses
“acadêmicos”, de como objetivos “filosóficos”, de como hábitos e posturas
herdadas de uma cultura chamada de “literária” e “científica”, encontram-se
9
BUBER, Martin. Eclipse de Deus – Considerações Sobre a Relação entre Religião e Filosofia.
Campinas: Verus Editora, 2007.
10
ARENDT, Hanna. Entre o Passado e o Futuro. 5 ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.
11
TOLKEIN, J. R. R. O Senhor dos Anéis. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
6
12
ALEXANDER, Samuel. Time, Space and Deity. Whitefish: Kessinger Publishing, 2004.
12
13
CHESTERTON, Gilbert Keith. O Homem Eterno. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
14
CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
14
WOLTERSTORFF, Nicolas. Divine Discourse: Philosophical Reflections on the Claim that God
Speaks. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
17
LEWIS, Clive Staples. A abolição do Homem. São Paulo: 2005, Martins Fontes,
2005.
LEWIS, Clive Staples. As Crônicas de Nárnia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes,
2009.
LEWIS, Clive Staples. Surpreendido pela Alegria. São Paulo: Mundo Cristão,
1998.
TOLKEIN, J. R. R. O Senhor dos Anéis. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.