Vous êtes sur la page 1sur 4

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/17575/trabalho-em-grupo-nao-e-bagunca

Publicado em NOVA ESCOLA Edição 323, 01 de Junho | 2019

Didática

Trabalho em grupo não é


bagunça
As trocas entre os alunos impulsionam a aprendizagem. Mas as atividades
precisam ser planejadas para respeitar a autonomia da sala
Beatriz Vichessi

Imagine: a garotada do 6º ao 9º ano trabalhando durante uma aula de Matemática. A tarefa é


resolver uma atividade de Geometria: desenhar a planta baixa de uma fábrica e depois montar uma
maquete com base nela. O que vem à mente? Estudantes em silêncio fazendo a tarefa, certo? Não é
assim que funciona durante a aula de Yuri Ramos, professor da EM José Mamud Assan, em Poços
de Caldas (MG). Lá, a turma trabalha reunida em grupos formados por alunos de todos os anos. “A
interação entre eles, a maneira com que os maiores se esforçam para explicar coisas para os
menores ao mesmo tempo que a forma com que os mais novos questionam os mais velhos, é
muito potente para a aprendizagem de todos”, diz o educador.

As classes reúnem-se no esquema multisseriado no contraturno duas vezes por semana, para o
Acompanhamento Pedagógico de Matemática, durante duas horas por dia. O trabalho de Yuri é
prova de que a má reputação do trabalho em grupo não tem razão de ser quando existem
intencionalidade e planejamento. Esqueça a cena caótica de uma sala de aula barulhenta, com
poucos fazendo tudo, alguns aproveitando-se dos mais esforçados, outros tentando expor opiniões
e dúvidas em vão e, ao final, uma apresentação que mais parece um jogral. Acredite: os estudantes
aprendem - e muito - falando uns com os outros e compartilhando saberes e dúvidas. “Trata-se de
um recurso didático poderoso. Não podemos nos apegar a estereótipos”, explica Claudia Siqueira,
diretora do Instituto Sidarta.

Além disso, segundo Flávia Vivaldi, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral de várias
universidades e secretária de Educação de Poços de Caldas, essa maneira de trabalhar desenvolve a
autonomia e faz da cooperação um valor.“Não há motivos que justifiquem usarmos o tempo todo a
dinâmica individualista no ambiente escolar”, afirma Flávia. Quando são estabelecidos na Base
Nacional Comum Curricular (BNNC) campos de experiência na Educação Infantil, já está sendo
conside- rado o trabalho em grupo com as crianças como forma de aprendizagem potente. Karina
Rizek, especialista do Time de Autores de NOVA ESCOLA de Educação Infantil, explica que atuar na
perspectiva dos campos pressupõe focar nos pequenos, mudar a rotina, parar de organizar o dia
com diversas atividades estanques.“Não podemos pensar sempre na grande roda, com todos
fazendo a mesma coisa, nem em pequenos grupos com a mesma tarefa. A diversidade de
experiências é fundamental e a autonomia também. Enquanto o professor trabalha com um grupo
em uma atividade mais estruturada (a escrita de um bilhete, por exemplo) os demais estão fazendo
atividades mais livres, como um quebra-cabeça.

QUEM É QUEM NO GRUPO


Cada estudante precisa aprender a se reconhecer e aos colegas também em relação à
postura e corrigir comportamentos para trabalhar de forma produtiva. Conheça algumas
posturas:
Emissor: Tende a falar muito e tem dificuldade em ouvir opiniões
Satélite: Distraído, orbita o grupo
Receptor: Escuta os outros o tempo todo, contribui pouco.
Centro: Propõe soluções, tem competência de resumir as falas e orientar o grupo.
Ausente: Pouco participativo, escapa das tarefas porque sai da sala e demora a voltar.

Fonte: Flávia Vivaldi, mestre em Psicologia Educacional e secretária de Educação em Poços de Caldas

Como agrupar os alunos?

Segundo Lev Vygotsky (1896-1934), não se adquirem conhecimentos só por meio do trabalho direto
dos educadores. De acordo com sua perspectiva, a aprendizagem de relações colaborativas entre
estudantes deve ter espaço privilegiado. Para tirar o melhor proveito possível do trabalho em
grupo, é preciso levar em conta alguns aspectos, garantir que certas características sejam
contempladas. Para começar, é preciso ter clareza dos objetivos e os motivos que fazem dessa
estratégia de trabalho a mais indicada para o conteúdo em cena. Realmente existe demanda para o
trabalho ser feito por várias pessoas? Rachel Lotan, professora da Universidade Stanford, explica no
livro Planejando o trabalho em grupo: estratégias para salas de aula heterogêneas que existem
tarefas adequadas para essa modalidade. Elas exigem resolução de problemas complexos,
fornecem oportunidade para os alunos utilizarem múltiplas habilidades intelectuais para
compreender a tarefa e para demonstrar competência intelectual, abordam conteúdo importante,
exigem interdependência positiva e responsabilidade individual e incluem critérios claros para a
avaliação.

Na atividade de desenho da planta baixa e construção de maquete, elaborada por Yuri, tudo isso
está contemplado. “Para trabalhar noções espaciais e figuras geométricas, encaminhei os grupos e,
ao mesmo tempo, cada integrante, a participar contribuindo com ideias e responsabilidades.
Depois, dediquei-me a ensinar a turma a trabalhar coletivamente de forma proveitosa”, conta o
educador. O trabalho em grupo, por si só, já é um conhecimento a ser aprendido, que considera o
aprendizado da autonomia e da cooperação. Para desenvolvê-lo, segundo a pesquisadora
espanhola María José Díaz-Aguado, regras são necessárias. O ponto de partida cabe ao professor:
explicar a importância de todos fornecerem argumentos para suas ideias e uns ouvirem os outros,
dando chance de o colega falar. Lembrando, claro, de escutar a classe a respeito da validade desse
formato (leia abaixo). Fora da escola, realizar tarefas em grupo faz parte do dia a dia, é assim que
acontece no mundo do trabalho. Cada um é responsável por uma parte. E assim, em conjunto,
forma-se o todo.

Outro ponto importante é que os conflitos virão e isso não é 100% negativo. Graças a eles dão-se o
desenvolvimento intelectual e a apren- dizagem, como escreve Anne Nelly Perret-Clermont,
colaboradora de Jean Piaget, em Desenvolvimento da Inteligência e Interação Social. É preciso,
nesse contexto, virar a chave da experiência que tivemos como aluno. Um erro comum, por
exemplo, é acreditar que quando trabalham em grupo os alunos estão fazendo bagunça e não
precisam de orientação. Também é comum pensar que trabalho em grupo é sinônimo de interação,
automaticamente. Para interagir de verdade, é preciso compartilhar saberes, com trocas de ideias,
opiniões e dúvidas, e atuar de modo solidário. Para que isso aconteça de modo satisfatório, não
vale deixar os estudantes escolherem por conta própria com quem querem fazer as tarefas. É
também tarefa docente pensar em agrupamentos produtivos. Mais um ponto a ser contemplado
tem a ver com fazer com que os alunos se esforcem e entendam que cometer erros faz parte. Em
outras palavras, caro professor, é preciso delegar autoridade, fazer com que os estudantes sejam
responsáveis por partes específicas da tarefa, deixando-os livres para cumprir os afazeres da
maneira que decidirem ser a melhor, sendo responsáveis pela entrega final ao docente.

COMO ORGANIZAR E MEDIAR O TRABALHO EM GRUPO

Cinco regras para colocar em prática

Juntos até o fim


Ninguém termina enquanto todos não terminam. Todos os integrantes precisam ficar juntos até o
final, auxiliando ou apoiando um colega.

Um ajuda o outro
Todos têm o direito de pedir ajuda e o dever de ajudar. Os alunos devem ser corresponsáveis pela
aprendizagem do outro e se sentir autorizados a dizer que não entenderam algo.

Fundamente as ideias
As sugestões devem ser argumentadas. É importante que todos aprendam a explicar o que e como
pensam, defendendo suas ideias de modo fundamentado.

Mais autonomia
A autonomia deve ser incentivada. Mas essa regra não tem a ver com fazer no lugar do outro.
Espera-se dar condições para que o colega atue sem ajuda num momento futuro.

Planejamento é tudo
O que temos de fazer? Quais tarefas vamos resolver primeiro? Se o trabalho em grupo é realizado
de forma orgânica, com pressa, a qualidade fica comprometida.
POR QUE TRABALHAR EM GRUPO?

1) É uma boa estratégia


Excelente técnica para o aprendizado conceitual, resolução criativa de problemas e o
desenvolvimento de proficiência em linguagem acadêmica.

2) Ajuda o trabalho em equipe


Ensina habilidades para atuar em equipe que podem servir para muitas situações, sejam
escolares, sejam da vida adulta.

3) Promove a equidade
Aumenta a chance de aprender conteúdos e desenvolver a linguagem e, portanto, tem o
potencial para formar salas de aula equitativas.

4) Alunos cordiais
Melhora as relações intergrupais entre os alunos, aumentando a confiança e a
cordialidade deles.

Fontes: Telma Scott, coordenadora pedagógica do programa Ensino para Equidade (EpE) do Instituto Sidarta e Livro
Planejando o Trabalho em Grupo - Estratégias para salas de aula heterogêneas (Editora Penso)

Vous aimerez peut-être aussi