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Este resumo descreve um livro sobre fenomenologia escrito por David Cerbone. O livro traça o desenvolvimento histórico da fenomenologia, começando com Edmund Husserl e continuando com Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. O livro também examina críticas à fenomenologia de figuras como Emmanuel Lévinas, Jacques Derrida e Daniel Dennett.
Este resumo descreve um livro sobre fenomenologia escrito por David Cerbone. O livro traça o desenvolvimento histórico da fenomenologia, começando com Edmund Husserl e continuando com Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. O livro também examina críticas à fenomenologia de figuras como Emmanuel Lévinas, Jacques Derrida e Daniel Dennett.
Este resumo descreve um livro sobre fenomenologia escrito por David Cerbone. O livro traça o desenvolvimento histórico da fenomenologia, começando com Edmund Husserl e continuando com Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. O livro também examina críticas à fenomenologia de figuras como Emmanuel Lévinas, Jacques Derrida e Daniel Dennett.
CERBONE, David R. Fenomenologia. Tradução Caezar Souza. 2. ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2013. 292 p.
Por/By: Mauricio dos Reis Brasão
(Universidade de Uberaba)
Palavras-chave: Fenomenologia; ...
David Cerbone é professor de filosofia na West Virginia University – Reino
Unido, onde se especializou na filosofia continental do século XX. Sua pesquisa em curso centra-se, sobretudo, na tradição fenomenológica (com ênfase no trabalho de Martin Heidegger e Edmund Husserl), Wittgenstein e filosofia analítica inicial. Nesses estudos ele busca a compreensão e critica de problemas filosóficos tradicionais (por exemplo, aqueles orientados em torno do ceticismo, realismo e idealismo), bem como pontos de vista filosóficos dominantes, especialmente o naturalismo em várias formas (Cientificismo, fisicalismo, materialismo). Seu trabalho mais recente refere-se às relações, muitas vezes antagônica, entre fenomenologia e naturalismo científico. Dentre suas obras estão: Understanding Phenomenology (2006) e Heidegger: A Guide for the Perplexed (2008). Resenhar uma obra sobre fenomenologia exige o entendimento de um vocabulário e conceitos o qual se amplia na própria leitura do livro. Assim, Cerbone, de forma detalhada, delineia o desenvolvimento histórico da fenomenologia, começando com seu fundador Edmund Husserl e seus conceitos de uma “fenomenologia pura ou transcendental”, e continuando com a descrição da “fenomenologia existencial” de Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Maurice Merleau-Ponty. Sem dúvida, as figuras mais famosas no movimento fenomenológico. Assim, é dedicado um capítulo a cada um deles, e o capítulo final examinará várias respostas críticas à fenomenologia. Há muitas outras figuras significantes na tradição fenomenológica, tais como Max Scheler, Eugen Fink, Alfred Schutz, Edith Stein e Paul Ricoeur, que não são muito citadas neste livro. Para o autor, a omissão de nenhum modo significa sugerir que suas contribuições para a fenomenologia são desinteressantes ou desimportantes, embora entender suas contribuições geralmente pressuponha alguma compreensão dos trabalhos e ideias que são consideradas na obra. Marcado por nítida preocupação didática, Cerbone utiliza dos boxes que acrescentam esclarecimentos e subsídios à compreensão do leitor; também, ao término de cada capítulo, são destacados sumários dos pontos-chave que colaboram ao convite a uma nova leitura e fixação dos conteúdos. À guisa de conclusão, do mesmo modo, em vez de uma conclusão, o autor coloca em destaque um tópico intitulado Questões para discussão e revisão, resumo esquemático de cada capítulo. Um convite riquíssimo ao debate e à reflexão. Dividida em cinco capítulos, a obra inicia-se com um tópico que possui uma tessitura diversa das introduções convencionais, geralmente afeitas à apresentação de conceitos, temas, componentes teóricos que subsidiam aqueles que seriam os princípios de uma doutrina ou investigação. Contudo, nesse livro, a abertura a esses elementos dá- se por meio de uma série de exercícios. Assim, de uma forma relacionada, o autor exerce interação com o leitor conduzindo-o a pensar de forma fenomenológica. Segundo Cerbone (2013, p. 204), “a fenomenologia nos convida a ficar com o que chamamos aqui ‘a própria experiência’, para nos concentrarmos em seu caráter e estrutura, em vez de no que quer que possa subjazer a ela ou ser causalmente responsável por ela”. Assim, o autor parte de questionamentos: mas o que podemos aprender ou discernir, ficando com a própria experiência? Que tipo de insights podemos obter e por que podem importar filosoficamente? As respostas a essas perguntas são examinadas ao longo da obra. Como um exemplo, o autor mostra que uma visão da página do livro aberto diante de nós, revela que o ver fenomenológico seria aquele que se ocupa de inspecionar o modo com o qual tal visão se dá. Experienciamos, assim, que a fenomenologia seria o ver que atenta para o visto e para o modo com que este é experiência fenomenal da consciência ou, como diz o autor com suas palavras: “[...] prestar atenção à experiência em vez de àquilo que é experienciado é prestar atenção aos fenômenos” (CERBONE, 2013 p.13). É no avanço de seu exercício que conceitos e posições de base da fenomenologia são gradativamente aplicados. Com uma apresentação de vida e obra de Husserl, intitulado Husserl e o projeto da fenomenologia pura o primeiro capítulo é introduzido. Na sequência, há um esforço de caracterizar a fenomenologia como um ante naturalismo. A fenomenologia seria modo de pensar que confronta a maneira natural com que a consciência assume supostas verdades e princípios e, mesmo, estende tais preconceitos a modos pretensamente mais qualificados, como seriam as ciências. Após, noções da fenomenologia metódica de Husserl, como “redução fenomenológica”, “descrição fenomenológica”, “noese e noema” e “a constituição do ego” aglutina este tópico, o que dá conta de uma exposição da fenomenologia husserliana e de seus desdobramentos em chave transcendental. Há uma descrição acerca de fenômeno e fenomenologia, sob vias de conceptualizações. Cerbone aponta a fenomenologia como uma escola filosófica iniciada na Alemanha no fim do século XIX e primeira metade do século XX, tendo como precursor Edmund Husserl. Ao apresentar uma definição para fenomenologia - palavra constituída de duas partes de origem gregas: fenômeno, que significa “aquilo que se mostra” e “logia” que deriva de logos e pode significar pensamento. Nessa perspectiva, conceitua-se fenomenologia como reflexão (pensamento) sobre aquilo que se mostra. Intitulado Heidgger e a virada existencial, o segundo capítulo expõe a fenomenologia de Martin Heidegger. São postos o projeto de sua ontologia fundamental, o aspecto fenomenológico deste empreendimento, o peso que o conceito de compreensão recebe no seio deste projeto híbrido de hermenêutica, e outros conceitos que caracterizam a tentativa heideggeriana de uma fenomenologia em bases existenciais. Não existe neste capítulo sobre Heidegger qualquer conteúdo referente à sua filosofia tardia, o que se explica por Cerbone entender que a fenomenologia heideggeriana está compreendida entre os anos 1919-1929, período denominado de “década fenomenológica”. (p.65) No terceiro capítulo Sarte e a subjetividade, são descritas as circunstâncias pitorescas do encontro do francês Jean-Paul Sartre com a fenomenologia e se delineia o caminho do pensamento fenomenológico de Sartre (do caráter ensaístico de A transcendência do Ego à maturidade de O ser e o nada). Boa parte do tópico privilegia a crítica do francês à concepção husserliana de “ego puro”, pois, para o primeiro, ao contrário do outro: “[...] o ego não está formal nem materialmente na consciência: está lá fora, no mundo. É um ser do mundo, como o ego dos outros”. (p.111). Assim, Cerbone assevera que a fenomenologia de Sartre fundamentalmente implica a completa responsabilidade do sujeito humano por sua própria existência - revela a dimensão ética total de sua filosofia. O quarto capítulo, intitulado Merleau-Ponty e a fenomenologia da corporificação, se constrói em torno do argumento de que o francês reabilitara algumas das questões da fenomenologia transcendental de Husserl – sobretudo as de Ideias II – em sua fenomenologia da corporeidade. A integralidade desse capítulo se beneficia, portanto, de uma apresentação dos termos das investigações merleau-pontyanas sobre a experiência fenomenológica do corpo, privilegiando a obra Fenomenologia da percepção. Mais do que estes pontos previsíveis numa apresentação sobre Merleau-Ponty, é digno de nota nesse tópico o mapeamento que Cerbone faz das relações que o fenomenólogo teria com a psicologia da Gestalt e com a psiquiatria de Kurt Goldstein. Aqui, nos remetemos ao prefácio da Fenomenologia da Percepção, em que Merleau-Ponty (1984) faz uma re- leitura da fenomenologia husserliana, na qual critica o idealismo transcendental e transpondo a essência idealista para a existência real em fenomenologia o autor escreve que a fenomenologia é o estudo das essências; e todos os problemas, segundo ele, voltam a definir as essências, por exemplo a essência da percepção, a essência da consciência. Percebe-se que a leitura que Merleau-Ponty faz de Husserl privilegia a posição de Heidegger, ao contrário de uma leitura essencialista. Para aquele, a busca das essências é, nada mais, que um meio de revelação da existência ou veracidade em que não se pode pensar a essência desvinculada do mundo. Dessa forma, a noção de verdade em Merleau- Ponty caminha, então, na direção do sentido que aparece e desaparece, escapa, na opacidade do mundo. Por esse viés, o autor concebe o conhecimento como sempre inacabado, não existe absoluto. No capítulo final, Problemas e perspectivas: a fenomenologia e seus críticos, Cerbone revela ao leitor um conjunto de indicações de como a fenomenologia vem sendo tratada nos últimos anos por filósofos como Jacques Derrida; uma análise das críticas passíveis de serem colocadas por pensadores não vinculados à fenomenologia (como é o caso de Daniel Dennett) e a conjugação de argumentos e réplicas que nos permitem avaliar o espectro desse modo de pensar no âmbito da filosofia em geral. Neste capítulo, Cerbone desvela a fenomenologia de uma perspectiva mais crítica, explorando algumas concepções que tentam, de diferentes modos, expor os limites para a investigação fenomenológica ou, mais radicalmente, revelar falhas subjacentes. São consideradas três dessas perspectivas críticas – as de Emmanuel Lévinas, Jacques Derrida e Daniel Dennett – que estão conectadas por algumas similaridades intransitivas. Assim, de acordo com o autor, (2013, p. 143), a posição de Lévinas é similar em alguns aspectos à de Derrida, e a de Derrida é similar em alguns aspectos à de Dennett, já entre Lévinas e Dennett, o autor afirma deparar dificuldade para encontrar qualquer similaridade. Dos três, Lévinas e Derrida estão mais intimamente vinculados à tradição fenomenológica. As linhas de vinculação são em cada caso múltiplas, abrangendo vinculações culturais, cronológicas e, de modo mais importante, filosóficas. Em suma, ao fim das duzentas e sessenta e duas páginas de Fenomenologia, apreciamos o êxito do autor em fornecer uma visão de cada figura fenomenológica e de trabalhar algumas de suas principais ideias, atenuando as dificuldades próprias a este pensar. Nesse momento, o leitor também poderá experimentar a impressão de ter lidado com um dos bons intérpretes da fenomenologia em língua inglesa, como Hubert Dreyfus e Charles Guignon. Tal impressão não seria casual, afinal, Cerbone agradece a estes que foram seus mestres, declarando inclusive sua vinculação acadêmica a outros nomes importantes na cena da fenomenologia, como: Jeff Malpas, Mark Okrent, Mark Wrathall e William Blattner. A presente obra é uma fonte riquíssima de reflexão que nos possibilita compreender os vários modelos de pesquisas fenomenológicas, ainda que divergentes em tantos outros aspectos são unânimes em alguns, o que aliás diz de seu caráter fenomenológico, apesar de suas diferenças. Entre estes, a busca do significado da experiência será o sempre o fim último da pesquisa fenomenológica. O que será diferente será o modo de compreensão deste significado. Ele poderá ser uma compreensão idealista, e aí a descrição buscaria alcançar a essência, dentro de um modelo husserliano mais tradicional, idealista. Ou poderá ser uma compreensão mundana, dentro da visão merleau- pontyana, de modo eminente crítica. Fenomenologia fornece um guia conciso e acessível a uma das mais importantes escolas de pensamento da filosofia moderna. Cada capítulo fornece um excelente resumo dos refinamentos que cada filósofo trouxe para as ideias centrais do movimento e explica claramente aos leitores como a fenomenologia deixou de ser primariamente uma teoria do conhecimento e tornou-se um novo método de pesquisa. A obra carece de ser lida, pois orienta o leitor ao longo do espectro muitas vezes confuso de conceitos técnicos e jargão, ao fornecer explicações claras e exemplos úteis para atrever-se e intensificar a imersão nos textos primeiros. É muito adequado para cursos de filosofia e educação do século XXI, também, para o pesquisador que busca uma visão geral autorizada.
Referências complementares
CERBONE, David R. Understanding Phenomenoly. Michigan: Acumen, 2006.
CERBONE, David R. Heidegger: A Guide for the Perplexed. New York NY: Continuum, 2008. MERLEAU-PONTY, M. O visível e o invisível. São Paulo: Perspectiva, 1984.