PROGRAMA INTERDISCIPLINAR EM PERFORMANCES CULTURAIS
Disciplina: Teorias e Práticas da Performance Professor: Robson Corrêa de Camargo Aluna: Dayse de Jesus Rocha
Inter ou transdisciplinaridade? Da fragmentação disciplinar ao novo diálogo
entre os saberes
De acordo com o olhar de Américo Sommerman vivemos em um mundo cujos
saberes e competências estão demasiado especializados, com conhecimentos específicos e restritos. Diante desta problemática existente desde os séculos XVII e XIX nas teorias racionalistas, Sommerman busca tratar da fragmentação dos saberes e dos conhecimentos.
Entretanto, essa fragmentação excessiva acaba por gerar novas possibilidades
de articulação entre os saberes e entre as disciplinas. Na tentativa de um equilíbrio desta fragmentação surgiu a pluridisciplinaridade juntamente com a interdisciplinaridade pareadas no método de Piaget focadas na transdisciplinaridade. O conhecimento circular e totalmente aberto que envolvia os mais variados saberes predominante até o aparecimento da ciência moderna, foi aos poucos se tornando mais restrito. Nos últimos mil anos, a humanidade assistiu a duas grandes rupturas epistemológicas: a primeira, ocorrida na Idade Média, entre razão e fé; a segunda, com o aparecimento da ciência moderna, deu-se aí a ruptura entre o pensamento científico e o pensamento filosófico.
Em se tratando da interdisciplinaridade, algumas definições privilegiam as
interações entre as disciplinas para resolver problemas específicos e compreender objetos complexos, numa interdisciplinaridade que poderíamos chamar de centrífuga, pois era voltada para os objetos. Outras enfatizam a relação e as trocas intersubjetivas entre os pesquisadores, um diálogo que transforme não só as disciplinas, as práticas e a pesquisa, mas os próprios pesquisadores, numa interdisciplinaridade centrípeta, com foco nas próprias disciplinas, em suas interações e nos sujeitos. Há também a definição do que valoriza não só os saberes da universidade e dos atores sociais, mas os das culturas do presente e do passado que, permitindo assim esse diálogo tão amplo, apoiavam-se nos dados novos da ciência, como a complexidade, as lógicas neoclássicas e os diferentes níveis de realidade, mas sem desconsiderar a simplicidade e a lógica clássica em seus campos de pertinência. Por ser mais ampla que as definições anteriores, incluir as trocas intersubjetivas entre os pesquisadores- atores das equipes transdisciplinares e se apoiar em arcabouços teórico- epistemológicos bem definidos, chamou-se de grau de transdisciplinaridade forte.
De acordo com Sommerman, disciplina pode ser considerada como um recorte
do saber, para além disso “o aprendizado ou o ensino de uma ciência, seguindo as regras e métodos da ciência a que corresponde” (SOMMERMAN, 2006, p. 25). Esse recorte pode ser feito de duas maneiras, de forma que a disciplina é marcada por seu rigor científico e também por seu rigor de aprendizado decorrente de seus métodos. Embora exista vários recortes que foram gerados nos últimos séculos, o que a humanidade sempre almejou foi uma unidade do saber, e de alguma forma, os pensadores empenharam-se em desvendar verdades que poderiam valer universalmente. Contudo, conforme os métodos científicos modernos foram se aprofundando as disciplinas foram ficando cada vez mais especializadas, consequentemente surgiu ilhas epistemológicas que tem a finalidade de explicar os fenômenos a elas relacionados de uma forma sempre mais fechada.
Na tentativa de resolução dos problemas ocasionados pela falta de diálogo
entre os saberes e seus desenvolvimentos tecnológicos, na segunda metade do século XX foram propostas novas formas de cooperação entre as disciplinas e os saberes, sobretudo no âmbito das pesquisas acadêmicas (SOMMERMAN, 2006). Estas propostas de cooperação podem ser multidisciplinares, pluridisciplinares, interdisciplinares ou transdisciplinares. Através de um levantamento realizado por Américo Sommerman, vários autores e pensadores procuraram conceituar estas propostas de cooperação entre as disciplinas, elaborando conceitos semelhantes e que permitiam uma compreensão do que seja cada abordagem ou método. Em síntese, poderíamos definir multidisciplinaridade e pluridisciplinaridade como uma justaposição de saberes e perspectivas em torno de um mesmo objeto de estudo. Para exemplificar pensemos o seguinte: imaginemos um ambiente de pesquisa no qual estão presentes estudiosos de áreas diferentes. Estes pesquisadores podem compartilhar suas experiências, mas seus conhecimentos e métodos continuam restritos às suas disciplinas; ou ainda, cada um dá o seu parecer sobre a pesquisa em questão conforme a sua visão baseados na sua profissão e nas suas técnicas. Conquanto, por Interdisciplinaridade é representada por uma forma de cooperação entre os saberes e disciplinas que pressupõe uma cooperação e compenetração de olhares e perspectivas, com colaborações mútuas. Neste caso, espera-se que haja transferência de conhecimentos, de experiências, leis, técnicas e métodos de uma disciplina para outra, gerando enriquecimentos mútuos de conteúdo.
Da cooperação que se propõe a perceber o que está entre as disciplinas,
através das disciplinas e além das disciplinas, temos a transdisciplinaridade. A transdisciplinaridade não tem por objetivo um objeto específico, mas pressupõe o imperativo da unidade do conhecimento. Esta unidade não significa fusão de saberes ou uniformidade do conhecimento; tampouco significa que as disciplinas não têm sua importância. Não implica em abominar as abordagens disciplinares, nem tampouco pressupõe um sincretismo dos saberes, mas é um convite a perceber além e não restringir o próprio conhecimento a perspectivas limitadas ou fechadas. Por sua vez, ultrapassa as disciplinas e sua finalidade também vai além das disciplinas, esta é a grande diferença desta abordagem de cooperação entre saberes em relação as que foram apresentadas anteriormente.
Para que a transdisciplinaridade se torne viável, não basta uma superposição
de saberes, ou uma simples soma destes, faz-se necessário uma atitude transdisciplinar, com capacidade para enxergar além e através dos saberes existentes. Para quem se aprofunda por exemplo no saber psicológico, cabe um olhar sobre a pessoa, que vá além de uma análise circunscrita ao que esta pessoa diz acerca de seus possíveis transtornos mentais. Da mesma forma a performance cultural pode ser considerada transdisciplinar pois de acordo como Richard Schechner em um dos trabalhos fundadores da teoria da performance, faz uma tentativa de aproximá-la das ciências sociais, logo, a define como uma “espécie de comportamento comunicativo que é parte de, ou continuação de cerimônias rituais formais, reuniões públicas e várias formas de intercâmbio de informações, bens e costumes”. Entendemos que para que haja transdisciplinaridade existe um grande desafio a ser superado, que consiste em ampliar a visão para além do que achamos que sabemos, e para mais além do que nos permitimos fazer. Convém permitir um conhecimento sempre maior, que pode e deve ser adquirido por diversas vias, sem menosprezar as disciplinas existentes e as tradições criadas e transmitidas ao longo dos séculos da existência humana. Não se pode permitir que o reducionismo esvazie de vez os sentidos de nossas vidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SOMMERMAN, A. Inter ou transdisciplinaridade? Da fragmentação disciplinar ao
novo diálogo entre os saberes. São Paulo: Paulus, 2006.