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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.587 - SP (2016/0196495-3)

RELATORA :
MINISTRA NANCY ANDRIGHI
R.P/ACÓRDÃO :
MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
RECORRENTE :
ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
RECORRENTE :
ESTEVAN TADEU FERRAREZI
ADVOGADOS :
DANILO MEIADO SOUZA - SP264891
EDUARDO VENDRAMINI MARTHA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) -
SP331314
RECORRIDO : MELIÁ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.
HOSPEDAGEM. MODALIDADE TEMPO COMPARTILHADO. TIME-SHARE.
ILEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA APARÊNCIA. INAPLICABILIDADE.
REEXAME DE PROVAS. INVIABILIDADE. SÚMULA Nº 7/STJ. INOVAÇÃO
RECURSAL.
1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código
de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ).
2. Cinge-se a controvérsia a saber se a ora recorrida é parte legítima para
integrar o polo passivo de demanda que busca a rescisão de contrato de
prestação de serviços de hospedagem de férias na modalidade tempo
compartilhado (time-share) com a devolução dos valores pagos.
3. Tendo a Corte de origem concluído, à luz da prova dos autos, que a relação
jurídica de direito material entre os autores e a prestadora era bastante clara e a
fornecedora dos serviços era perfeitamente conhecida pelos autores, tanto que
realizaram reclamação extrajudicial à Procuradoria Federal do Consumidor, no
México, inviável a inversão do julgado, haja vista o óbice da Súmula nº 7/STJ.
4. Inviável a análise de teses alegadas apenas nos embargos de declaração por
se tratar de evidente inovação recursal.
5. Recurso especial não provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas,
prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Moura Ribeiro, decide a Terceira
Turma, por maioria, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, que lavrará o acórdão. Votaram vencidos os Srs. Ministros Nancy
Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino.
Votaram com o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva os Srs. Ministros Marco
Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente).
Brasília (DF), 18 de setembro de 2018(Data do Julgamento)

Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA


Relator

Documento: 1745490 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/10/2018 Página 1 de 8
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.587 - SP (2016/0196495-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
RECORRENTE : ESTEVAN TADEU FERRAREZI
ADVOGADOS : DANILO MEIADO SOUZA - SP264891
EDUARDO VENDRAMINI MARTHA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) -
SP331314
RECORRIDO : MELIÁ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

Cuida-se de recurso especial interposto por ADÉLIA JOSÉ JORGE


FERRAREZI e ESTEVAN TADEU FERRAREZI, com fundamento nas alíneas “a” e “c”
do permissivo constitucional, contra acórdão do TJ/SP.

Ação: de devolução de valores combinado com rescisão contratual,


ajuizada pelos recorrentes em face de MELIÀ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA
E COMERCIAL LTDA., em que pleiteia ver rescindido contrato de prestação de
serviços de hospedagem de férias na modalidade tempo compartilhado (“time
share”), com a devoluções dos valores pagos.

Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos, para declarar


rescindido o mencionado contrato e condenar a recorrida ao pagamento de R$
19.526,17 (dezenove mil, quinhentos e vinte e seis reais, e dezessete centavos).
Rejeitou o pedido de compensação dos danos morais e, nos termos do art. 21 do
CPC/73, declarou a compensação dos honorários advocatícios, em razão da
sucumbência recíproca.

Acórdão: em apelação interposta pela recorrida, o TJ/SP deu


provimento ao recurso, para declarar a ilegitimidade passiva da recorrida, em
julgamento assim ementado:
Documento: 1745490 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/10/2018 Página 2 de 8
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PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. TURISMO. HOSPEDAGEM NA MODALIDADE
TIME-SHARE. AÇÃO DE DEVOLUÇÃO DE VALORES CUMULADA COM PEDIDO DE
RESCISÃO CONTRATUAL. ILEGITIMIDADE PASSIVA. RECONHECIMENTO. EXTINÇÃO
DA AÇÃO DECRETADA. Relação jurídica material consubstanciada no contrato de
prestação de serviços de hospedagem de férias na modalidade de tempo
compartido Club Meliá em Paradisus Cancun, no qual figura como contratada
empresa diversa daquela constante do polo passivo da ação.
Legitimidade da empresa mexicana conhecida pelos autores, uma vez que
procederam à sua notificação extrajudicial na tentativa de rescindirem o contrato de
prestação de serviços.
Recurso provido.

Embargos de declaração: opostos pelos recorrentes, foram


rejeitados pelo Tribunal de origem.

Recurso especial: alegam violação aos arts. 1º, 3º, 4º, I, 6º, VII e VIII,
7º, 14, § 2º, 28, 47, 51, IV e XV, do CDC, bem como ao art. 3º do CPC/73.
Sustentam, ainda, a existência de dissídio jurisprudencial.

Decisão: em decisão de fls. 382-383 (e-STJ), a Presidência do STJ


inicialmente não conheceu do recurso especial e, após a interposição de agravo
interno, reconsiderou-se a decisão para julgamento nesta Turma.

É O RELATÓRIO.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.587 - SP (2016/0196495-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
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ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461
EMENTA

RECURSO ESPECIAL. DIREITO DO CONSUMIDOR. CONTRATO DE


HOSPEDAGEM DE FÉRIAS. TEMPO COMPARTILHADO (“TIME SHARE”).
RESCISÃO CONTRATUAL. GRUPO ECONÔMICO. REDE HOTELEIRA COM
ATUAÇÃO MUNDIAL. TEORIA DA APARÊNCIA. LEGITIMIDADE PASSIVA.
TEORIA DA ASSERÇÃO.
1. Ação ajuizada em 03/07/2014. Recurso especial interposto em
29/01/2016 e atribuído a este Gabinete em 23/09/2016.
2. O propósito recursal consiste em aferir a existência de legitimidade
passiva, por parte da recorrida, empresa pertencente a grupo empresarial
com atuação mundial, em controvérsia que se discute a rescisão de contrato
de prestação de serviços de hospedagem de férias na modalidade tempo
compartilhado (time share), com a devoluções dos valores pagos.
3. As condições da ação devem ser aferidas com base na teoria da asserção,
ou seja, à luz das afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se
qualquer atividade instrutória. Precedentes.
4. Na hipótese dos autos, é possível considerar todo o grupo econômico na
qualidade de fornecedor, para fins da legislação consumerista.
5. A recorrida, filial brasileira de grupo econômico internacional, pode ser
considerada responsável por contrato celebrado pela filial mexicana no
mesmo grupo. Precedentes.
6. Recurso especial conhecido e provido.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.587 - SP (2016/0196495-3)
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VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

O propósito recursal consiste em aferir a existência de legitimidade


passiva, por parte da recorrida, empresa pertencente a grupo empresarial com
atuação mundial, em controvérsia que se discute a rescisão de contrato de
prestação de serviços de hospedagem de férias na modalidade tempo
compartilhado (“time share”), com a devoluções dos valores pagos.
1. DA LEGITIMIDADE PASSIVA
A legitimidade passiva ou ativa é conferida aos titulares da relação
jurídica material hipotética ou afirmada. Segundo a jurisprudência deste STJ, as
condições da ação devem ser aferidas com base na teoria da asserção, ou seja, à
luz das afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se qualquer atividade
instrutória (AgInt no AREsp 966.393/RJ, 3ª Turma, DJe de 14/2/2017; AgInt no
AREsp 655.388/RO, 4ª Turma, DJe de 7/12/2016; REsp 1.605.470/RJ, 3ª Turma,
DJe de 1/12/2016; REsp 1.314.946/SP, 4ª Turma, DJe de 9/9/2016). Ainda podem
ser mencionados os seguintes julgamentos:
As condições da ação, nos termos da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça,
devem ser aferidas com base na teoria da asserção, ou seja, à luz das afirmações
deduzidas na inicial, sem a necessidade de uma investigação mais aprofundada das
provas. (AgInt no AREsp 410.544/SP, Quarta Turma, DJe 27/03/2018)

As condições da ação são averiguadas de acordo com a teoria da asserção, razão

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pela qual, para que se reconheça a legitimidade passiva "ad causam", os
argumentos aduzidos na inicial devem possibilitar a inferência, em um exame
puramente abstrato, de que o réu pode ser o sujeito responsável pela violação do
direito subjetivo do autor. (REsp 1733387/SP, Terceira Turma, DJe 18/05/2018)

Nos termos da jurisprudência do STJ, as condições da ação, entre elas a legitimidade


ativa, devem ser aferidas com base na teoria da asserção, isto é, à luz das
afirmações deduzidas na petição inicial, dispensando-se qualquer atividade
instrutória. (REsp 1455521/RS, Terceira Turma, DJe 12/03/2018)

O Tribunal de origem afasta a existência de legitimidade passiva da


recorrida sob o fundamento a seguir:

No caso dos autos, é bastante clara a relação jurídica material entre os autores e a
Sol Meliá VC México, S.A de C.V. consubstanciada no contrato de prestação de
serviços de hospedagem de férias na modalidade de tempo compartido Club Meliá
em Paradisus Cancun (fl. 32/44), sendo esta pessoa jurídica diversa daquela
constante do polo passivo da ação (Meliá Brasil Administração Hoteleira e Comercial
Ltda).
A legitimidade da Sol Meliá VC México, S.A de C.V. é perfeitamente conhecida pelos
autores, tanto que realizaram reclamação extrajudicial em face desta empresa na
Procuraduría Federal Del Consumidor, Dirección General de Quejas y Conciliación,
localizada na Av. Jose Vasconcélos no. 208, 6º. Piso Col. Condesa. Del.
Cuauhtémoc, C.P. 06140, México, D.F., via e-mail (fls. 25 e 26). Ainda, ao
fornecerem os dados para possibilitar a resolução de suas queixas indicaram a
mencionada empresa, cujo domicílio está situado em Boulevard Kukulcan, Km 16.5,
Zona Hotelera, Cancún, Quintana Roo, México, 77500 (fl. 27), mesmo endereço
constante do contrato citado.
Por todas essas razões, de rigor o reconhecimento da ilegitimidade passiva da ré,
devendo ser o processo extinto sem resolução de mérito, nos termos do art. 267,
inc. IV, do CPC.
(e-STJ fls. 251)

Na hipótese em julgamento, contudo, a recorrida é empresa


pertencente a um dos maiores grupos econômicos atuantes no setor de hotelaria
e hospedagem para férias e, para o correto deslinde deste julgamento, tal fato não
pode ser desmerecido.

2. DA TEORIA DA APARÊNCIA: GRUPO ECONÔMICO

Considerado isso, faz-se necessário a consideração da teoria da


aparência, utilizada para a caracterização de empresas, em determinadas
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situações, como fornecedores, nos termos da legislação consumerista.

O conceito de fornecedor é estabelecido de forma ampla na legislação


consumerista, como se observa no disposto pelo art. 3º do CDC, “fornecedor é
toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.

A amplitude desse conceito é proposital, com a finalidade de abranger


diversas situações que possam colocar em risco ou, de qualquer forma, prejudicar
os consumidores. Para demonstrar sua abrangência, este STJ afirmou em outra
oportunidade que mesmo entidades beneficentes, sem fins lucrativos, podem ser
consideradas como fornecedoras, à luz do art. 3º do CDC (AgRg no Ag
1.215.680/MA, Quarta Turma, julgado em 25/09/2012, DJe 03/10/2012).

Dessa forma, quando qualquer entidade se apresente como


fornecedor de determinado bem ou serviço ou mesmo que ela, por sua ação ou
omissão, causar danos causados ao consumidor, será por eles responsável. Sobre a
teoria da aparência, ela se identifica e se relaciona com a boa-fé e a confiança.
Nesse sentido, ensina Menezes Cordeiro que a ideia de confiança surge das
diversas manifestações da boa-fé, “seja como um dado efectivo, depreendido da
várias concretizações do fenómeno, seja como tentativa de explicação,
apresentada em conjunturas diversas. (...). A confiança exprime a situação em que
uma pessoa adere, em termos de actividade ou de crença, a certas representações,
passadas presentes ou futuras, que tenha por efectivas” (MENEZES CORDEIRO,
António Manuel da Rocha e. Da boa-fé no direito civil. Coimbra: Almedina,
2001. p. 1.234).

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Na doutrina nacional, afirma-se que “a teoria da aparência está toda
aparelhada na proteção do terceiro, pois é a confiança legítima do terceiro que
agiu de boa-fé, objetiva e subjetiva, isto é, boa-fé padronizada e boa-fé psicológica,
que faz produzir consequências jurídicas, muitas vezes em situações inexistentes
ou inválidas, mas que têm que produzir efeitos juridicamente válidos. (...). No
extenso campo das aquisições dos direitos, a aparência jurídica está aparelhada
para proteger os terceiros, como visto acima, agindo em favor daqueles que, de
maneira invencível, creem naquilo que se exterioriza” (KÜMPEL, Vitor Frederico. A
teoria da aparência jurídica. S. Paulo: Método, 2007. p. 65).

Retomando o que foi afirmado acima, a recorrida participa de um


grupo econômico, com presença mundial, ativo no setor hoteleiro e esse fato é
relevante para a aplicação da jurisprudência desta Corte.

A título exemplificativo, no setor de serviços financeiros e de seguros,


há tempos a jurisprudência do STJ tem reconhecido a legitimidade da instituição
financeira para responder pelo cumprimento de contrato de seguro nas hipóteses
em que o banco, líder do grupo econômico a que pertence a companhia
seguradora, se utiliza de suas instalações, logomarca, prestígio, empregados,
induzindo o consumidor a crer que, de fato, está contratando com a instituição
bancária, entendimento que decorre da aplicação da teoria da aparência (AgRg no
REsp 969.071/MG, Terceira Turma, DJe 03/09/2008).

Da mesma forma, no setor de vendas de carros automotivos, também


se aplica o conceito de grupo econômico, em conjunto com a teoria da aparência,
para a aplicação do conceito de fornecedor, segundo o CDC. Nesse sentido, veja-se
o julgamento abaixo:

(...) I - A concessionária integrante do mesmo grupo da companhia de


arrendamento mercantil é parte legítima passiva para responder à ação de
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indenização por danos materiais e morais proposta por adquirente de automóvel
dito zero quilômetro, que vem a descobrir, em ulterior perícia, que o veículo já havia
sofrido colisão. A responsabilidade existe, ainda que o negócio tenha se efetivado
por meio de contrato de leasing, porquanto celebrada a avença no interior da
empresa revendedora, diretamente com seus empregados, circunstância que
autoriza a aplicação da teoria da aparência, cujo escopo é a preservação da boa-fé
nas relações negociais, afastando a interpretação de que o contrato foi firmado com
terceiro. Está evidenciado que a ação reparatória teve origem em conduta ardilosa
da própria concessionária, não havendo como ser afastada, portanto, sua
responsabilidade pelos prejuízos que foram causados ao consumidor, o qual não
teria celebrado o negócio se lhe fossem dados conhecer os defeitos do veículo.
II - Versa a hipótese, ademais, relação consumerista, sujeita às regras protetivas do
Código de Defesa do Consumidor, que prevê, em seu artigo 18, a responsabilização
do fornecedor, quando comprovada sua culpa pelo vício de qualidade do produto,
não importando sua relação direta ou indireta, contratual ou extracontratual com o
consumidor.
(REsp 369.971/MG, Terceira Turma, DJ 10/02/2004, p. 247)

Em razão do exposto acima, na hipótese dos autos, é possível


considerar todo o grupo econômico na qualidade de fornecedor, para fins da
legislação consumerista.

3. DA EMPRESA LOCALIZADA NO EXTERIOR

Para a conclusão deste julgamento, cumpre ainda mencionar que o


fato de o contrato em discussão ter sido celebrado inicialmente com uma filial
mexicana do Grupo Melià não é capaz de afastar a conclusão acima, segundo a qual
é possível considerar o grupo econômico como fornecedor, para fins da legislação
consumerista.

Nessa linha de argumentação, o STJ já afirmou que “se empresa


brasileira aufere diversos benefícios quando se apresenta ao mercado de forma tão
semelhante a sua controladora americana, deve também, responder pelos riscos
de tal conduta” (REsp 1021987/RN, Quarta Turma, DJe 09/02/2009). Nos termos
do voto deste julgamento, o STJ concluiu pela razoabilidade de ajuizamento contra
filial brasileira do grupo internacional, pelas dificuldades associadas a um processo

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judicial no estrangeiro:

Assim, sendo direito do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos e a


efetiva reparação dos danos morais experimentados, é de se concluir pela
legitimidade passiva da recorrente para responder aos termos da ordem judicial
questionada, não sendo razoável impor à recorrida o ônus de demandar empresa
internacional, mormente se a demora na retirada das informações caluniosas é
fator preponderante para agravar-lhe o sofrimento moral. (REsp 1021987/RN,
Quarta Turma, DJe 09/02/2009)

Em realidade, a admissão jurisprudencial da responsabilidade das


filiais brasileiras, por produtos adquiridos em países estrangeiros, foi realizada há
muito tempo por parte desta Corte Superior, ao levar em consideração da
globalização da economia e seus efeitos nas relações econômicas e de consumo.

Assim, no ano de 2000, a Quarta Turma do STJ no julgamento do REsp


63.981/SP afirmou que a filial brasileira de empresa produtora de máquina
filmadora deveria ser obrigada a prestar a garantia, isto é, a reparar o defeito
presente no equipamento adquirido na filial norte-americana, conforme a ementa
abaixo:

DIREITO DO CONSUMIDOR. FILMADORA ADQUIRIDA NO EXTERIOR. DEFEITO DA


MERCADORIA. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA NACIONAL DA MESMA MARCA
("PANASONIC"). ECONOMIA GLOBALIZADA. PROPAGANDA. PROTEÇÃO AO
CONSUMIDOR. PECULIARIDADES DA ESPÉCIE. SITUAÇÕES A PONDERAR NOS CASOS
CONCRETOS. NULIDADE DO ACÓRDÃO ESTADUAL REJEITADA, PORQUE
SUFICIENTEMENTE FUNDAMENTADO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO NO
MÉRITO, POR MAIORIA.
I - Se a economia globalizada não mais tem fronteiras rígidas e estimula e favorece a
livre concorrência, imprescindível que as leis de proteção ao consumidor ganhem
maior expressão em sua exegese, na busca do equilíbrio que deve reger as relações
jurídicas, dimensionando-se, inclusive, o fator risco, inerente à competitividade do
comércio e dos negócios mercantis, sobretudo quando em escala internacional, em
que presentes empresas poderosas, multinacionais, com filiais em vários países,
sem falar nas vendas hoje efetuadas pelo processo tecnológico da informática e no
forte mercado consumidor que representa o nosso País.
II - O mercado consumidor, não há como negar, vê-se hoje "bombardeado"
diuturnamente por intensa e hábil propaganda, a induzir a aquisição de produtos,
notadamente os sofisticados de procedência estrangeira, levando em linha de conta
diversos fatores, dentre os quais, e com relevo, a respeitabilidade da marca.
III - Se empresas nacionais se beneficiam de marcas mundialmente conhecidas,
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incumbe-lhes responder também pelas deficiências dos produtos que anunciam e
comercializam, não sendo razoável destinar-se ao consumidor as conseqüências
negativas dos negócios envolvendo objetos defeituosos.
IV - Impõe-se, no entanto, nos casos concretos, ponderar as situações existentes.
V - Rejeita-se a nulidade argüida quando sem lastro na lei ou nos autos.
(REsp 63.981/SP, Quarta Turma, DJ 20/11/2000, p. 296)

O mesmo entendimento deve ser aplicado à hipótese, em que há um


contrato que poderia ser fruído em diversos países do mundo foi celebrado com
uma das filiais do grupo econômico mundial e, portanto, nenhum óbice deve ser
imposto aos recorrentes quando se encontram prejudicados em seus direitos, na
qualidade de consumidores.

Para concluir, por meio de decisão monocrática, esta Terceira Turma


negou recurso à mesma recorrida em circunstâncias fáticas muito semelhantes à
hipótese dos autos, que também envolvia a celebração de um contrato na
modalidade de tempo compartilhado, nos termos da ementa abaixo:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE


DO CPC/73. AÇÃO DECLARATÓRIA E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS. RESOLUÇÃO DE CONTRATO. LEGITIMIDADE. PESSOAS JURÍDICAS DE
UM MESMO GRUPO ECONÔMICO. TEORIA DA APARÊNCIA. INVERSÃO DO ÔNUS
DA PROVA. REQUISITOS. REEXAME DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA Nº 7 DO STJ. EMPRESA DEMANDADA COM SEDE NO
BRASIL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA. ART. 88, I, DO CPC/73. DECISÃO
RECORRIDA EM CONSONÂNCIA COM O ENTENDIMENTO DESTA CORTE. SÚMULA
Nº 568 DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. (REsp 1.525.384/MG, Terceira
Turma, decisão monocrática, DJe 19/03/2018)

Por todo o exposto acima, deve-se concluir que a recorrida, filial


brasileira de grupo econômico mundial, pode ser considerada responsável por
contrato celebrado pela filial mexicana no mesmo grupo.

Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial e DOU-LHE


PROVIMENTO, com fundamento no art. 255, § 4º, III, do RISTJ, para declarar a
legitimidade da recorrida, anular o acórdão recorrido e restabelecer a sentença de

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1º grau de jurisdição (e-STJ fls. 182-189).

Considerando que este recurso especial foi interposto ainda sob a


égide da legislação processual anterior, em razão da sucumbência recíproca,
mantém-se a compensação dos honorários advocatícios estabelecida na sentença
de 1º grau de jurisdição (e-STJ fls. 182-189), nos termos do art. 21 do CPC/73.

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VOTO-VOGAL (VENCEDOR)

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA: Com a devida vênia
da Relatora, tenho que a irresignação recursal não merece prosperar.
Compulsando os autos, verifica-se a ilegitimidade passiva foi reconhecida pelo
Tribunal de origem porque a relação jurídica de direito material entre os autores e a Sol Meliá
VC México, consubstanciada no contrato de prestação de serviços de hospedagem de férias na
modalidade de tempo compartilhado, era bastante clara e conhecida pelos autores, tanto que
realizaram reclamação extrajudicial à Procuradoria Federal do Consumidor, no México.
É o que se colhe do seguinte excerto do acórdão recorrido:

"(...)
No caso dos autos, é bastante clara a relação jurídica material entre
os autores e a Sol Meliá VC México, S.A de C.V. consubstanciada no contrato
de prestação de serviços de hospedagem de férias na modalidade de tempo
compartido Club Meliá em Paradisus Cancun (fl. 32/44), sendo esta pessoa
jurídica diversa daquela constante do polo passivo da ação (Meliá Brasil
Administração Hoteleira e Comercial Ltda).
A legitimidade da Sol Meliá VC México, S.A de C.V. é perfeitamente
conhecida pelos autores, tanto que realizaram reclamação extrajudicial em
face desta empresa na Procuraduría Federal Del Consumidor, Dirección
General de Quejas y Conciliación, localizada na Av. Jose Vasconcélos no. 208,
6º. Piso Col. Condesa. Del. Cuauhtémoc, C.P. 06140, México, D.F., via e-mail (fls.
25 e 26). Ainda, ao fornecerem os dados para possibilitar a resolução de suas
queixas indicaram a mencionada empresa, cujo domicílio está situado em
Boulevard Kukulcan, Km 16.5, Zona Hotelera, Cancún, Quintana Roo, México,
77500 (fl. 27), mesmo endereço constante do contrato citado" (e-STJ fl. 251 -
grifou-se).

Rever tais conclusões demandaria o reexame de cláusulas contratuais e de


matéria fático-probatória, o que é inviável em recurso especial, nos termos das Súmulas nºs 5 e
7 do Superior Tribunal de Justiça.
Nesse contexto, não há espaço para falar na aplicação da teoria da aparência
reservada para as hipóteses em que a figura do real fornecedor dos serviços é nebulosa para o
consumidor.
Registra-se, a título de reforço, inclusive consoante consignado pelo Tribunal
local, que a invocação da teoria da aparência ocorreu somente em embargos de declaração,
constituindo, portanto, indevida inovação recursal.
Confira-se:

Documento: 1745490 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 26/10/2018 Página 13 de 8
Superior Tribunal de Justiça

"(...)
Note-se, aliás, que da leitura da petição inicial apresentada pelos
embargantes-autores (fls. 100/124) e das contrarrazões de recurso de
apelação (fls. 225/236) verifica-se que em nenhum momento, arguiram a
aplicação da teoria da aparência, embora tenham alegado a legitimidade
passiva da ré, sendo vedado à parte embargante trazer questão nova em sede
de embargos de declaração, em nítida inovação da matéria" (e-STJ fl. 311 -
grifou-se).

Em vista de todo o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso


especial.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2016/0196495-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.616.587 / SP

Números Origem: 10113081220148260071 11046112720138260100 40128784220138260224


40324208520138260114

EM MESA JULGADO: 28/08/2018

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA IRANEIDE OLINDA SANTORO FACCHINI
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
RECORRENTE : ESTEVAN TADEU FERRAREZI
ADVOGADOS : DANILO MEIADO SOUZA - SP264891
EDUARDO VENDRAMINI MARTHA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - SP331314
RECORRIDO : MELIÁ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Prestação de Serviços

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto da Sra. Ministra Nancy Andrighi, conhecendo e dando provimento ao
recurso especial, no que foi acompanhada pelo Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino e o voto
divergente do Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, negando provimento, no que foi
acompanhado pelo Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze, pediu vista o Sr. Ministro Moura Ribeiro.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.616.587 - SP (2016/0196495-3)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
RECORRENTE : ESTEVAN TADEU FERRAREZI
ADVOGADOS : DANILO MEIADO SOUZA - SP264891
EDUARDO VENDRAMINI MARTHA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) -
SP331314
RECORRIDO : MELIÁ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL
LTDA
ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO MOURA RIBEIRO:


Cuida-se de recurso especial interposto por ADELIA JOSE JORGE
FERRAREZI e ESTEVAN TADEU FERRAREZI (CONTRATANTES) contra acórdão que
extinguiu o feito sem resolução de mérito, diante da ilegitimidade de MELIÁ BRASIL
ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL LTDA (MELIÁ BRASIL) para figurar no polo
passivo da demanda, em que pretendem a resilição de contrato de plano de férias na
modalidade de tempo compartilhado (Time-Sharing), c/c devolução de valores e reparação
de danos morais, firmado com a Sol Meliá VC, México S.A. (SOL MELIÁ), em Cancun.
Sustentam os CONTRATANTES, em síntese, a legitimidade da MELIÁ
BRASIL, por pertencer ao mesmo grupo econômico da SOL MELIÁ, além desta última não
possuir sede no Brasil.
Levado o feito a julgamento perante a Terceira Turma, a Excelentíssima
Sra. Ministra Nancy Andrighi, Relatora, deu-lhe provimento para, diante do princípio da
aparência, declarar a legitimidade da recorrida, anular o acórdão recorrido e restabelecer a
sentença de 1º grau de jurisdição, que julgou procedente o pedido para romper a avença e
determinar a devolução dos valores pagos.
O Ministro Paulo de Tarso Sanseverino acompanhou a Relatora.
O Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva inaugurou a divergência, negando
provimento ao recurso, pois a aplicação do princípio da aparência, na espécie, exigiria o
reexame do conjunto fático-probatório dos autos, inviável na via eleita ante o óbice da
Súmula nº 7 do STJ, no que foi acompanhado pelo Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze.
Para melhor analise da matéria, pedi vista dos autos.
Cinge-se a questão em definir se a MELIÁ BRASIL possui legitimidade
para figurar no polo passivo da demanda em que se discute contratado entabulado entre
os CONTRATANTES e a SOL MELIÁ VC. MÉXICO S.A., firmado em Cancun, no México.

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É assente que a teoria da aparência impõe a responsabilidade solidária
daqueles que participam no fornecimento do produto ou do serviço, por incutir na
percepção do consumidor que poderá acionar a qualquer um deles para o efetivo
comprimento da avença, em especial quando se tratar de conglomerado.
Nesse sentido, confira-se o seguinte precedente:
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO SECURITÁRIO. [...].
APÓLICE COLETIVA. ESTIPULANTE E CORRETORA DE
SEGUROS. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. GRUPO
ECONÔMICO. RELAÇÃO DE CONSUMO. CONTRATO FIRMADO
NO INTERIOR DO BANCO. SÚMULA Nº 7/STJ. SEGURO DE VIDA
E ACIDENTES PESSOAIS. MORTE DO SEGURADO. [...].
1. Ação de cobrança na qual se busca o pagamento de
indenização decorrente de contrato de seguro de vida em grupo e
acidentes pessoais coletivo, visto que o segurado veio a óbito após
a realização de cirurgia bariátrica, em virtude de choque séptico e
falência múltipla dos órgãos.
2. Este Tribunal Superior firmou o entendimento de que o
estipulante, em regra, não é o responsável pelo pagamento da
indenização securitária, visto que atua apenas como interveniente,
na condição de mandatário do segurado, agilizando o
procedimento de contratação do seguro.
3. É possível, excepcionalmente, atribuir ao estipulante e à
corretora de seguros a responsabilidade pelo pagamento da
indenização securitária, em solidariedade com o ente
segurador, como nas hipóteses de mau cumprimento das
obrigações contratuais ou de criação nos segurados de legítima
expectativa de serem eles os responsáveis por esse pagamento
(teoria da aparência), sobretudo se integrarem o mesmo grupo
econômico.
[...]
(REsp 1.673.368/MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 22/8/2017)

A teoria da aparência faz com que os deveres de boa-fé, cooperação,


transparência e informação alcancem todos os fornecedores, diretos ou indiretos,
principais ou auxiliares, enfim todos aqueles que, aos olhos do consumidor, participem da
cadeia de fornecimento (REsp 1.077.911/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, DJe 14/10/2011).
Ocorre que, na espécie, o acórdão recorrido não estabeleceu o vínculo
jurídico entre a MELIÁ BRASIL, ora demandada, e a SOL MELIÁ, empresa estrangeira com
a qual foi firmado o contrato de aquisição de plano de férias.
Mesmo com a oposição de embargos de declaração, a tese não foi objeto

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de deliberação pelo Tribunal Bandeirante, além de não terem os recorrentes
CONTRATANTES arguído no recurso especial violação do art. 535 do CPC/73, vigente à
época, o que poderia ocasionar o retorno dos autos à origem para esclarecer o ponto.
Assim, diante da ausência de informações necessárias quanto a efetiva
correlação entre MELIÁ BRASIL e a SOL MELIÁ, a aplicação da teoria da aparência, na
espécie, exigiria o reexame do conjunto fático-probatório dos autos, inviável na via eleita
ante o óbice da Súmula nº 7 do STJ, com o devido acatamento.
Por fim, não se pode olvidar a orientação traçada pelo art. 9º da LINDB,
segundo a qual para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constítuirem, ou seja a lei se destina a regular as ações humanas dentro dos limites
territoriais do Estado cuja soberania reflete (Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de
Direito Civil, vol. 1, 22ª ed., p. 167).
Assim, celebrada a aquisição do plano de férias em Cancun, a
desconstituição da avença por vício de informação deve ser regulada pela legislação
mexicana.
Dessa forma, peço vênia a Ministra Relatora e ao Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino para acompanhar a divergência inaugurada pelo Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, foi seguido pelo Ministro Marco Aurélio Bellizze, e também nego provimento ao
recurso especial.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2016/0196495-3 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.616.587 / SP

Números Origem: 10113081220148260071 11046112720138260100 40128784220138260224


40324208520138260114

EM MESA JULGADO: 18/09/2018

Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI

Relator para Acórdão


Exmo. Sr. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA

Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ADELIA JOSE JORGE FERRAREZI
RECORRENTE : ESTEVAN TADEU FERRAREZI
ADVOGADOS : DANILO MEIADO SOUZA - SP264891
EDUARDO VENDRAMINI MARTHA DE OLIVEIRA E OUTRO(S) - SP331314
RECORRIDO : MELIÁ BRASIL ADMINISTRAÇÃO HOTELEIRA E COMERCIAL LTDA
ADVOGADO : PAULO SOARES DE MORAIS - SP183461

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Obrigações - Espécies de Contratos - Prestação de Serviços

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Moura Ribeiro, a Terceira
Turma, por maioria, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, que lavrará o acórdão. Votaram vencidos os Srs. Ministros Nancy
Andrighi e Paulo de Tarso Sanseverino.
Votaram com o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva os Srs. Ministros Marco Aurélio
Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente).

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