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RESUMO:
Remetendo-nos a Foucault (2017), pode-se afirmar não existe verdade sem poder, seus
processos de subjetivações são variados, assim como não existe a verdade única
(universal). Com isso, temos que cada sociedade possui seu regime de verdade, sendo
este composto por discursos considerados verossímeis, reconhecidos por meio de
procedimentos variados, utilizando-se de mecanismos (instâncias) capazes de afastar os
discursos verdadeiros dos falsos. Este regime é vertical, criado e validado por um
específico grupo x, estendendo-se para outros grupos. Todavia, no final do século XX
início do XXI, em meio à proliferação e universalização do acesso aos meios de
comunicação, surgimento de aldeias globais, a irreversível globalização (BAUMAN,
1999), assim como a expansão do acesso ao espaço virtual, toda sociedade foi afetada,
sendo rompidas as barreiras representadas por fronteiras. O novo exige novos
instrumentos conceituais e novos fundamentos (FOUCAULT, 2012). O regime de
verdade teve sua formatação alterada devido à enxurrada de discursos observados e
acessíveis no atual mundo líquido (BAUMAN, 2001). O regime teria se horizontalizado
ou se expandido rizomaticamente? Naquilo que se tem hoje como verdade, ao deparar-se
com outra (divergente, ou não, à anterior), pode ocorrer uma permuta, ou seja, o discurso
anteriormente considerado verdadeiro perde seu efeito para o novo. Hoje temos uma
pulverização de discursos voláteis; o que antes era válido por toda uma vida agora passa
a ser efêmero, líquido, escorre (BAUMAN, 2011). Mediante o dinamismo exigido pela
modernidade, a pessoa que para desatualiza-se, torna-se obsoleto, com isso nos
defrontamos com um sujeito (sólido, como um barro que se transforma), afogando-se
numa liquidez caótica, diante da falta de experiência (LARROSA, 2000) consigo, sem
dispor de tempo para adentrar-se, cultivar-se, visando conhecer-se, escolher/lutar pelas
suas verdades (FOUCAULT, 2013, 2014), visando ao cuidado de si (FOUCAULT, 2009,
2011). Como pode governar-se sem conhecer-se?
Com isso, temos que dentro do dispositivo a pessoa vê apenas aquilo que ele quer
que ela veja; as enunciações distribuem as posições diferenciais dos seus elementos
dentro deste, definindo as variáveis, derivações, transformações e mutações de cada
dispositivo. As linhas de forças perpassam o dispositivo permeando todas as outras,
mesclam-se ao conjunto emaranhando e multilinear, "[...] as diferentes linhas de um
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Tem, de acordo com Foucault (2010), três características: 1ª) É uma espécie de rede composta por
elementos heterogêneos (discursos, leis, filosofia, instituições, edificações, ...); 2ª) Os elementos desta rede
relacionam-se entre si. Eles interagem, influenciam-se, podendo ocasionar rearticulações, reajustamentos
por meio “[...] de um perpétuo preenchimento estratégico.” (FOUCAULT, 2010, p. 139), ou seja, quando
um efeito é considerado negativo, isto ocasionará uma mutação, um repensar as relações estabelecidas entre
os elementos da rede do dispositivo; 3ª Na origem do dispositivo, há um imperativo estratégico de controle.
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“[...] o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer
entre estes elementos.” (FOUCAULT, 2010, p. 138)
dispositivo repartem-se em dois grupos: linhas de estratificação ou de sedimentação,
linhas de atualização ou de criatividade." (DELEUZE, 1990, p. 8) linhas de fuga, de
visibilidade, de enunciação, de força etc. Por exemplo, a edificação sala de aula é um
dispositivo transpassado por uma diversidade de linhas, podendo estas serem de
enunciação, visibilidade, estratificação, sedimentação, subjetivação, de fuga, dentre
outras.
Aganbem (2009) considera que “O dispositivo tem sempre uma função estratégica
concreta e se inscreve sempre numa relação de poder.” (p. 29). Esta relação de poder,
mencionada por Foucault (2010), é algo dinâmico, por tratar de uma relação entre forças
(poder e resistência), não sendo propriedade de alguém específico, mas algo que circula.
Do cruzamento das relações de poder e das relações de saber (enunciação e visibilidade)
advêm as subjetivações e “[...] os dispositivos devem sempre implicar um processo de
subjetivação, isto é, devem produzir o seu sujeito. ” (AGAMBEN, 2009, p. 39). O sujeito
é produto das relações entre os sujeitos e os dispositivos, ou seja, das subjetivações
demandadas destas. Em relação à subjetivação, podemos observar quatro modos como
ela se dá: “- Não perceber que está sendo subjetivado. – Perceber, querer lutar contra as
forças, mas não conseguir. – Perceber e aceitar. – Perceber, lutar contra as forças que o
subjetivam e conseguir rejeitá-la”. (QUEIROZ, 2015, p. 137).
2. Devir social
3. Considerações finais
4. Referências Bibliográficas