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Carlos Biasotti

Estelionato
(Doutrina e Jurisprudência)

2019
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado
de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB,
AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e
revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São


Paulo (nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe
dos advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por
merecimento, em 14.4.2004, ao cargo de Desembargador do
Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honoríficos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do
Estado de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres
Cavaleiros de São Paulo; medalha “Prof. Dr. Antonio Chaves”, etc.
Estelionato
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Estelionato
(Doutrina e Jurisprudência)

2019
São Paulo, Brasil
Sumário

I. Introito............................................................................................11

II. Ementas: Doutrina e Jurisprudência........................................13

III. Casos Especiais.............................................................................93


Introito

Como quem se interessa pelos colegas do ofício (e


pode adivinhar-lhes a dificuldade decorrente da sobrecarga
insana de trabalho e a escassez do tempo em que o devam
realizar), lembrou-me – desembargador aposentado que serviu
lugares de magistratura na 2a. Instância da Justiça Criminal –
oferecer este singelo ementário forense, à guisa de subsídio, aos
que desempenham a nobre e árdua função de julgar.

Trata-se de breve coletânea de enunciados ou ementas


de votos que proferi no Tribunal de Alçada Criminal e no
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (5a. Câmara de Direito
Criminal).

Aqui, porque assim o diga, está apenas a alma do voto;


seu teor, na íntegra, encontra-se no Portal do Tribunal de Justiça
(http://www.tjsp.jus.br).
12

Atendendo à tradição do estilo judiciário, diligenciei


assentar meus obscuros votos no magistério da Doutrina e da
Jurisprudência, pois sempre me fizeram forte impressão no
espírito umas palavras de sujeito eminente pelo saber, letras e
virtudes: “Desconfio muito de quem se não abordoa a autoridades...”.(1)

Ao tirar à luz este opúsculo, pus a mira num alvo: ser


útil aos que fazem profissão da vida forense, facilitando-lhes a
consulta às fontes jurídicas, na busca de material com que talvez
acrescentem o peso e a força de suas decisões ou arrazoados.
Tomara o tenha alcançado!

O Autor

(1) José de Sá Nunes, Aprendei a Língua Nacional, 1938, vol. II, p. 221.
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de Justiça:
http://www.tjsp.jus.br).

• Estelionato
(Art. 171 do Cód. Penal)

Voto nº 9978

Apelação Criminal nº 1.118.375-3/9-00


Arts. 171 e 59 do Cód. Penal;
art. 563 do Cód. Proc. Penal

–“Nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação
ou para a defesa” (art. 563 do Cód. Proc. Penal).
– Salvo prova em contrário, a cargo de quem o alegar, entende-se emitido
como ordem de pagamento o cheque, e não como garantia de dívida, pois
aquela é sua característica específica. Ele não garante, solve o débito.
“É um quase-dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o
recebimento do seu valor” (Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973, p. 39).
– A conduta de quem, ilaqueando a fé a terceiro, mantém-no em erro e,
mediante falsa promessa de pagamento, obtém vantagem econômica
indevida, constitui, à evidência, a figura típica do art. 171 do Código Penal.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, conjugadas a inverossímil
explicação do réu, conferem ao acervo probatório a certeza de que necessita
o julgador para proferir condenação.
14

Voto nº 4541

Apelação Criminal nº 1.367.377/4


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– É ponto elementar da ciência do Direito que o ônus da prova compete


àquele que alega (“onus probandi ei qui dicit”). Isto mesmo dispõe o Código de
Processo Penal: “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer” (art. 156).
– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da
boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 4472

Recurso em Sentido Estrito nº 1.338.181/7


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 43, ns. I e II, do Cód. Proc. Penal

– Advertiu o maior de nossos penalistas: “Somente integra um crime a


fraude que reveste cunho de especial malignidade” (Nélson Hungria, Comentários
ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 182).
–“O dolo civil não reveste os caracteres jurídicos do estelionato” (Viveiros de Castro,
Questões de Direito Penal, p. 118).
– Sob pena de constituir violência contra o “status dignitatis” do indivíduo, a
instauração de persecução penal unicamente se admite em face de prova
cabal da existência do crime e de indícios veementes de sua autoria.
15

Voto nº 10.876

Apelação Criminal nº 990.08.075213-8


Art. 171 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que vende veículo, sob
promessa de entregar o respectivo documento ao comprador tanto que
efetue o pagamento do preço da transação, mas não desempenha sua
palavra por não possuir título de propriedade do bem.
– A mentira verbal, desde que apta a induzir em erro a vítima e causar-lhe
prejuízo, constitui meio fraudulento do estelionato.

Voto nº 9939

Apelação Criminal nº 1.167.356-3/6-00

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Fraude “é qualquer malicioso subterfúgio para alcançar um fim ilícito” (Nélson


Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, t. VII, p. 169).
– Não se exime da nota de estelionatário, e pois incorre nas penas do
art. 171, “caput”, do Cód. Penal, o sujeito que, inculcando-se (falsamente)
corretor autorizado a vender certo imóvel, mostra-o à vítima, que o
adquire e paga, e só ao depois percebe ter sido ilaqueada em sua boa-fé.
– Para que seja a pena justa, segundo a memorável lição do Marquês de
Beccaria, não deve ter senão o grau de rigor suficiente para afastar os
homens da senda do crime (Dos Delitos e das Penas, § XVI).
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Voto nº 252

Apelação Criminal nº 1.045.539/5


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

– Ainda que feita no inquérito policial, pode a confissão ensejar a


condenação do réu, se em harmonia com outros elementos informativos
do processo.
– A autoria, no estelionato, prova-se também por testemunhos idôneos e
coesos, não somente pela perícia.
– O regime fechado é o compatível com o condenado não-primário que
nenhum interesse revela em emendar-se, antes se compraz, empedernido,
na vida do crime.

Voto nº 411

Apelação Criminal nº 1.056.207/2


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Excede as posses da razão isto de se pretender atribuir contornos de simples


ilícito civil ao ato daquele que transfere, sucessivamente, a várias pessoas as
mesmas linhas telefônicas. Bem comprovado o ardil para a auferição do
lucro, houve fraude penal, integrando-se a figura do estelionato.
– O acréscimo decorrente da continuidade delitiva deve atender ao estalão da
jurisprudência deste Egrégio Tribunal: até 2 crimes, o acréscimo deve ser
de 1/6; até 3, 1/5; até 4, 1/4; até 5, 1/3; até 6, 1/2; até 7, 2/3 (JTACrSP,
vol. 89, p. 218).
17

Voto nº 530

Apelação Criminal nº 1.063.255/4


Art. 171 do Cód. Penal

– Comete o crime do art. 171 do Cód. Penal quem adquire bens com cheque
falso, ante a manifesta intenção de locupletamento ilícito.
–“A pena traduz, primacialmente, um princípio humano por excelência, que é o da justa
recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson Hungria, Novas Questões
Jurídico-Penais, p. 131).
– Lei nº 9.099/95: no concurso de crimes devem as penas ser consideradas
isoladamente (Ada Pellegrini Grinover et alii, Juizados Especiais Criminais, 2a.
ed., p. 241).

Voto nº 613

Apelação Criminal nº 1.063.637/7


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 112 da Lei de Execução Penal

–“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício de sua


culpabilidade” (Nélson Hungria, Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
– Infringe o preceito do art. 171 do Cód. Penal aquele que, para obter
vantagem ilícita, vende como próprio imóvel alheio, mediante o ardil da
elaboração de contrato ideologicamente falso, induzindo assim vítimas em
erro e causando-lhes prejuízo.
– Em circunstâncias especiais, que saberá identificar, pode o Juiz deferir o
benefício do regime aberto a reincidente que não revele acentuado grau
de periculosidade como, “verbi gratia”, o condenado por estelionato. É que
a prisão, muita vez, atinge “inocentes, como são a esposa e filhos do criminoso,
privados, sem culpa, de subsistência e do convívio do chefe de família” (Magarinos
Torres; apud José Luís Sales, Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).
18

Voto nº 678

Apelação Criminal nº 1.075.469/6


Art. 171 do Cód. Penal

– Infringe o preceito do art. 171 do Código Penal quem, para pagamento de


mercadorias adquiridas à vista em supermercado, emite cheques referentes
a conta bancária já encerrada.

Voto nº 694

Apelação Criminal nº 1.078.569/3

Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– Não configura o delito do art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal a emissão de
cheque sem fundos para substituir outro, pois que o título substituto não
foi poderoso a alterar o patrimônio da vítima.

Voto nº 701

Apelação Criminal nº 1.079.237/5


Art. 171 do Cód. Penal

– Perpetra o crime do art. 171 do Cód. Penal aquele que, para obter vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induz outrem a erro, por meio fraudulento
(falsificação de cheque).
– Maus antecedentes, geralmente falando, são os fatos concretos da vida do
acusado, reveladores de “hostilidade franca, ou militante incompatibilidade em
relação à ordem jurídico-social” (José Frederico Marques, Curso de Direito Penal,
1956, vol. III, p. 74).
19
Voto nº 706

Apelação Criminal nº 1.079.647/2

Art. 171 do Cód. Penal

– É doutrina altamente reputada que, ainda no caso de estelionato básico, a


satisfação do dano patrimonial à vítima, antes do recebimento da denúncia,
elide a justa causa para a ação penal.
– Crime de cunho patrimonial por excelência, não se caracteriza o
estelionato senão com o efetivo prejuízo da vítima.

Voto nº 743

Apelação Criminal nº 1.080.295/2


Art. 171 do Cód. Penal

– Comete o delito de estelionato quem, sob a promessa de cura de


enfermidade mediante intervenção de forças sobrenaturais, induz outrem
em erro, dele obtendo vantagem ilícita. O que assim procede não apenas
revela desdém para com a disciplina social, mas profunda insensibilidade ao
sofrimento daqueles que já andam abraçados com a morte.

Voto nº 758

Apelação Criminal nº 1.062.235/4


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– Salvo prova em contrário, a cargo de quem o alegar, entende-se por ordem


de pagamento o cheque emitido, e não como garantia de dívida, pois
aquela é sua característica específica. Ele não garante, solve o débito.
“É um quase-dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o
recebimento do seu valor” (Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973, p. 39).
– Tratando-se de cheque sem fundos (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal),
somente não haverá crime se provar o emitente que o recebedor sabia da
inexistência de fundos em poder do sacado.
20

Voto nº 772

Apelação Criminal nº 1.080.275/7


Art. 171 do Cód. Penal

– Inepta diz-se a denúncia que não descreve o fato criminoso, em ordem a


possibilitar ao réu sua defesa. Em suma: tem-se por inepta “a denúncia
inteiramente omissa a propósito da atividade criminosa do acusado na infração que lhe
é atribuída” (Rev. Forense, vol. 179, p. 406).
– Decerto não está nesse número a denúncia que, havendo narrado de forma
inteligível, bem que sucinta, os fatos de que o réu foi arguido, enseja-lhe
plena e eficiente defesa.
– Comete o crime definido e punido pelo art. 171 do Cód. Penal quem
contrata com terceiros a venda de direitos sobre linhas telefônicas que não
possui e, após receber o pagamento do preço da transação, desaparece, não
se preocupando em restituir o dano.
– Examinada à justa luz, não há diferença ontológica atendível entre ilícito
penal e ilícito civil. A fraude é uma só e a mesma em todas as esferas do
Direito.

Voto nº 773

Apelação Criminal nº 1.083.599/4


Art. 171 do Cód. Penal

– Procede com dolo preordenado e comete o delito de estelionato (art. 171 do


Cód. Penal) aquele que paga, com cheque falso de terceiro, mercadoria
adquirida.
– Não aproveita à defesa do réu, acusado de estelionato, a alegação de que
recebera de boa-fé cheque falso de terceiro, se o não prova cumpridamente.
21

Voto nº 781

Apelação Criminal nº 1.086.055/1


Art. 171 do Cód. Penal

– Comete estelionato aquele que, mediante fraude, induz outrem a erro, com
o intuito de obter vantagem ilícita, em prejuízo alheio.
– A reparação do dano pelo agente, no estelionato, máxime após a
instauração da ação penal, “não exclui o delito nem leva à forma privilegiada (art.
171, § 1º, do Cód. Penal), podendo funcionar como circunstância judicial (art. 59),
atenuante genérica (art. 65, III, b) ou causa da redução da pena (art. 16)” (Damásio
E. de Jesus, Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 549).
– Crime de dano que é, somente se configura o estelionato quando
comprovado o prejuízo da vítima. Não está, portanto, no caso quem, para
pagamento de corretagem, emite cheque sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado. É que, título executivo extrajudicial (art. 585 do Cód.
Proc. Civil), o cheque habilita o credor a promover, a todo tempo, na esfera
cível, execução contra o seu emitente. O fato é penalmente atípico.

Voto nº 947

Apelação Criminal nº 1.090.913/8


Art. 171 do Cód. Penal

– Aquele que recebe dinheiro para a prestação de determinado serviço e não o


executa, frustrando assim a expectativa da vítima, a quem induz em erro
com vãs promessas e causa prejuízo, esse pratica o crime definido e punido
pelo art. 171 do Cód. Penal.

Voto nº 994

Apelação Criminal nº 1.090.283/1


Art. 171 do Cód. Penal

– Comete o crime de estelionato (art. 171 do Cód. Penal) quem dá em


pagamento de mercadorias que adquiriu cheque falso de terceiro.
22

Voto nº 998

Apelação Criminal nº 1.086.587/1


Arts. 171 e 180 do Cód. Penal
Súmula nº 453 do STF

– Embora o talão de cheques possa constituir objeto material do crime de


receptação, contudo, se o agente já o recebe falsificado, será antes o meio
fraudulento do ilícito penal que levava em mira: o estelionato (art. 171 do
Cód. Penal).
– Se não contiver a denúncia, ainda que implicitamente, as elementares do
estelionato, a absolvição do réu por insuficiência de prova será a única
decisão compatível com os ditames da Justiça, porque defesa a “mutatio
libelli” na Segunda Instância (Súmula nº 453 do STF).

Voto nº 5208

Apelação Criminal nº 1.356.395/6


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– No âmbito dos delitos patrimoniais, perpetrados sem violência a pessoa,


a reparação assume especial relevo e momento. Assim, o autor de
estelionato básico (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) que, antes da ação penal,
satisfaz o prejuízo causado à vítima, afasta, “ipso facto”, a tipicidade de sua
conduta e, pois, o rigor da lei.
– Se a prova dos autos não desfaz a dúvida quanto à culpabilidade do
agente, será bem que o Juiz o absolva, por amor do princípio de curso
universal: “In dubio pro reo”. Mais do que probabilidade da autoria do crime, a
condenação reclama certeza, que é sua única base legítima.
23

Voto nº 1039

Apelação Criminal nº 1.094.685/8


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– O cheque pré-datado, emitido em garantia de dívida, não configura


estelionato (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal): “o que a lei tutela, na espécie, é o
cheque como instrumento de pagamento, e não como título de dívida” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 248).
– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o agente que adquire veículo
com cheque falsificado, que entrega à vítima como título de dívida. Seria
absurdo admitir pudesse o cheque falsificado (meio fraudulento) operar
como garantia de débito, uma vez que, segundo o aforismo jurídico, o que é
nulo nenhum efeito produz (“quod nullum est nullum producit effectum”).

Voto nº 1157

Apelação Criminal nº 1.110.089/8


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) quem, após falsificá-lo, dá em


pagamento de mercadorias adquiridas cheque de terceiro.
– É princípio de alta Justiça acrescentar ao castigo das faltas o galardão do
merecimento.
– Ao réu condenado a pena que não exceda a 4 anos, ainda que reincidente,
não é defeso conceder regime semiaberto, como recompensa por haver
confessado, espontaneamente, o seu crime. O que a lei proíbe, em casos
que tais, é a concessão de regime aberto (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do
Cód. Penal).
24

Voto nº 1171

Apelação Criminal nº 1.098.411/2


Art. 171 do Cód. Penal

– É jurisprudência consagrada em nossos Tribunais que comete o delito de


estelionato (art. 171 do Cód. Penal) quem, para pagamento de dívida, emite
cheque de conta encerrada e, destarte, obtém vantagem ilícita em prejuízo
de terceiro, mediante fraude.

Voto nº 1172

Apelação Criminal nº 1.100.977/9


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, letra c, do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
– A necessidade não conhece leis (“necessitas non habet legem”); mas, para que
atue como descriminante legal, é mister se prove, cumpridamente, a
existência do perigo atual, involuntário e inevitável, além da “inexigibilidade
de sacrifício do interesse ameaçado” (cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 1998, pp. 92-93).
– Em caso de pena de curta duração, não é defeso conceder ao condenado
reincidente o benefício do regime semiaberto (cf. art. 33, § 2º, letra c, do
Cód. Penal).
–“Não há furto sem efetivo desfalque do patrimônio alheio” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 23).
–“De minimis non curat praetor”, reza a parêmia latina: o pretor não olha para
bagatelas. As conchas da balança de Têmis não se destinam a pesar fumaça!
25

Voto nº 1189

Apelação Criminal nº 1.101.357/6


Arts. 171 e 14, nº II, do Cód. Penal

– No estelionato, a aferição da idoneidade do meio executório não pode


prescindir da análise das condições pessoais da vítima, pois nos indivíduos
não é a mesma a aptidão para vencer a malícia dos embusteiros.
– É réu de estelionato quem, para obter vantagem ilícita, falsifica cheque
de terceiro e o desconta na praça. O “falsum”, no caso, faz as vezes de
delito-meio e, pelo princípio da consunção, é absorvido pelo estelionato.
É a substância da Súmula nº 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato,
sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.

Voto nº 1226

Apelação Criminal nº 1.102.575/0

Art. 171, § 2º, nº III, do Cód. Penal

– Viola o art. 171, § 2º, nº III, do Código Penal (defraudação de penhor) quem
aliena, a qualquer título, coisa objeto de garantia indispensável, sem o
consentimento do credor.
– Será forçosa a condenação do réu se, além de provada a existência do crime
e respectiva autoria, demonstram os elementos de convicção reunidos nos
autos que obrou com a consciência da ilicitude de seu ato.

Voto nº 1203

Apelação Criminal nº 1.102.617/1

Art. 171 do Cód. Penal

– Dúvida quanto à existência do dolo preordenado, ou “animus delinquendi” do


agente, descaracteriza o estelionato (art. 171 do Cód. Penal), visto que apenas
a certeza é base legítima de condenação.
26

Voto nº 1243

Apelação Criminal nº 1.113.525/6


Art. 171 do Cód. Penal

– Configura o crime do art. 171 do Cód. Penal o procedimento de quem, para


pagamento de débito, dá cheque furtado de terceiro, que falsifica. O erro,
em que induz o credor-vítima, omitindo-lhe a circunstância da falsificação
do título, argui “animus lucri faciendi”, que é o dolo exigido pelo tipo
fundamental de estelionato.
– Contra a regra geral que em tais casos se pratica, não merece cumprir sua
pena senão no regime fechado o autor de estelionato, cujo “curriculum
vitae” representa verdadeira profissão de fé no mal e na iniquidade.

Voto nº 1254

Apelação Criminal nº 1.104.529/2

Art. 171 do Cód. Penal

– A mentira pode constituir meio fraudulento de estelionato (art. 171 do


Cód. Penal), se foi apta a induzir a vítima em erro. Pelo comum, as pessoas
honestas supõem que os mais indivíduos também falem verdade. Esta, a
razão por que, muita vez, até o estelionatário parece digno de fé.
– Não cabe o privilégio do § 1º do art. 171 do Cód. Penal nos casos de o
prejuízo da vítima exceder de muito o valor do salário mínimo vigente à
época do fato.
27

Voto nº 1299

Apelação Criminal nº 1.115.889/0


Arts. 171 e 180 do Cód. Penal

–“Para que ocorra o crime impossível é preciso que a ineficácia do meio e a


impropriedade do objeto sejam absolutas. Se forem relativas, haverá tentativa”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 1988, p. 53).
– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o agente que, para pagamento de
mercadorias adquiridas, dá cheque falso. Ao acusado é que toca provar
não ter obrado de má-fé, que no caso se presume.
– Incide na sanção do Direito (art. 180 do Cód. Penal) aquele que adquire
talonário de cheques e cédula de identidade pertencentes a terceiro, por
presumir-se que o faz por meio criminoso, uma vez que tais coisas não
podem legalmente ser objeto de transação.

Voto nº 2101

Apelação Criminal nº 1.194.037/2


Arts. 171 e 180 do Cód. Penal

– Pelo princípio da congruência ou correlação entre a imputação e a


sentença (“sententia debet esse conformis libello”), não pode o Juiz, sem ouvir a
defesa, condenar o réu por crime diverso daquele capitulado na denúncia,
exceto se, já descrito o fato na peça acusatória, a nova definição jurídica
(“emendatio libelli”) não importar aplicação de pena mais grave (art. 383 do
Cód. Proc. Penal).
– Comete estelionato, e não receptação, o agente que, sabendo de sua
origem ilícita, adquire cheque falsificado, com o qual paga mercadorias
compradas a terceiro; a receptação, no caso, opera como simples meio para
a prática do delito-fim, o estelionato.
28

Voto nº 9526

Apelação Criminal nº 484.549-3/7-00

Arts. 171; 119 e 110, § 1º , do Cód. Penal;


art. 61 do Cód. Proc. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód. Penal) o


sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque de
terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.
–“No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada
um, isoladamente” (art. 119 do Cód. Penal).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de
prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença
condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 358).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de
exame ou deliberação.

Voto nº 5268

Apelação Criminal nº 1.364.753/2

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Está acima de crítica a sentença que condena, por estelionato (art. 171,
“caput”, do Cód. Penal), sujeito que obtém para si vantangem ilícita, em
prejuízo de terceiro (pessoa idosa e viúva), induzindo-o em erro mediante
fraude, consistente em mentir-lhe, sem pejo nem escrúpulo, sobre as
qualidades e condições de plano de convênio de assistência médica. A razão
é que, nesse caso, a mentira verbal não faz as vezes somente de artifício
retórico –– licença com que pelo comum, exageram os vendedores os
atributos de suas coisas –– senão crime, por implicar fraude e lesão
patrimonial.
29
Voto nº 3685

Apelação Criminal nº 1.298.323/8


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da


boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– Na esfera dos crimes contra o patrimônio, cometidos sem violência a
pessoa, tem relevância apenas a lesão jurídica de valor econômico, pois
segundo a velha fórmula do direito romano, “de minimis non curat praetor”
(Dig. 4,1,4).
– Aplicado inconsideradamente, o princípio da insignificância representa
violação grave da lei, a qual manda punir o infrator; destarte, subtrair a seu
rigor o culpado, sem relevante razão de direito, fora escarnecer da Justiça,
que dispensa a cada um o que merece. Em verdade, conforme aquilo de
Alberto Oliva, “todo homem deve saber do fundo de seu coração o que é certo e o que
é errado” (apud Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes, Crime e Castigo,
2002, p. 3; Millennium Editora).

Voto nº 1541

Revisão Criminal nº 341.284/2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621 do Cód. Proc. Penal

– Último recurso para alcançar a satisfação da justiça ou a emenda de


eventual erro judiciário, não é de bom exemplo indeferir ao condenado, de
plano, pedido de revisão criminal, ainda que pareça encontrar e ferir os
cânones a que está subordinada sua admissibilidade (art. 621 do Cód. Proc.
Penal).
– Pratica estelionato em seu tipo fundamental (art. 171, “caput”, do Cód. Penal)
o agente que, em pagamento de mercadorias que adquiriu à vítima, dá-lhe,
com o intuito de obter vantagem ilícita, cheque pré-datado que sabe não
será compensado por insuficiência de fundos.
30

Voto nº 9972

Apelação Criminal nº 1.177.059-3/9-00


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– A arguição de nulidade por falta de apreciação de teses da Defesa não


prevalece contra sentença cuja conclusão se mostre com elas inconciliável.
É que “a sentença precisa ser lida como discurso lógico” (STF; REsp nº 47.474/RS;
6a. Turma; rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro; DJU 24.10.94, p. 28.790).
– Realiza a figura típica do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, sujeitando-se
portanto ao rigor da lei, o indivíduo que, após ilaquear a boa-fé de terceiro
mediante falsa alegação, obtém-lhe indevida vantagem econômica.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, aliadas a frágil e infidedigna
autodefesa do réu, bastam a justificar-lhe a condenação, pois as manobras
fraudulentas do estelionatário não ostentam, pelo comum, a clareza da luz
meridiana.
– Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional fechado lhe
serve para a contenção do impulso criminoso e reparação do mal que causa
à sociedade.

Voto nº 3804

Apelação Criminal nº 1.310.139/1


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 106, nº V, da Lei de Execução Penal

– A prisão do réu, por força a expedição de sua guia de recolhimento, a


qual deverá constar “a data da terminação da pena” (art. 106, nº V, da Lei
de Execução Penal), o que é impossível alcançar sem que, primeiro, se
lhe conheça o termo inicial.
– Apenas na hipótese excepçional de não existir na Comarca presídio
compatível com o regime semiaberto que lhe haja fixado a sentença é que
se justifica a permanência do condenado em regime aberto, sob a
modalidade de prisão domiciliar, em obséquio ao “status dignitatis” do
indivíduo; a regra geral é que se atenda, em tudo, às disposições do título
executório.
31

Voto nº 10.719

Apelação Criminal nº 993.08.041930-2


Arts. 171; 24 e 33, § 1º, alínea a, do Cód. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante
cheque de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé.
– Àquele que invoca a descriminante legal do estado de necessidade cabe
demonstrá-la acima de toda a dúvida, pois aqui a falta de prova faz as vezes
de confissão do crime (art. 24 do Cód. Penal).
– Nos processos criminais sempre virá a ponto a alta lição de Rui: “Se o réu é
confesso, não há perder tempo em levar adiante o exame da prova. Parte confessa é parte
condenada” (Obras Completas, vol. XXIV, t. II, p. 270).
– O regime prisional fechado é o que convém ao sujeito inclinado
obstinadamente à carreira do crime, que reluta em reintegrar-se no convívio
das pessoas honestas e laboriosas (art. 33, § 1º, alínea a, do Cód. Penal).

Voto nº 5243

Apelação Criminal nº 1.357.881/9


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal;
Art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 246 do STF

– O cheque pré-datado, emitido em garantia de dívida, não configura


estelionato (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal): “o que a lei tutela, na espécie, é o
cheque como instrumento de pagamento, e não como título de dívida” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 248).
–“Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de emissão de cheque sem
fundos” (Súmula nº 246 do STF).
32

Voto nº 8563

Apelação Criminal nº 484.468-3/7-00


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.

– Embora direito de todo o réu permanecer calado (art. 5º, nº LXIII,


da Const. Fed.), ensina a experiência vulgar que, em pontos de
responsabilidade criminal, ao silêncio recorre apenas quem tem culpa;
o inocente, se acusado, esse desde logo se defende com todas as potências
da alma.
– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.
Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.
–“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua acusação, firme e
segura, em consonância com as demais provas, autoriza a condenação” (Rev. Tribs.,
vol. 750, p. 682).

Voto nº 12.148

Apelação Criminal nº 993.08.044979-1


Arts. 171 e 14, nº II, do Cód. Penal

– É réu de tentativa de estelionato o sujeito que, ao pagar produto com


cheque furtado, recebe voz de prisão da Polícia, que lhe descobrira a
fraude e o intuito criminoso (arts. 171 e 14, nº II, do Cód. Penal).
– A fixação do regime prisional fechado não desdiz da condição do réu
que, reincidente em crime doloso, persiste em violar, desenfreadamente,
o patrimônio alheio.
33
Voto nº 11.614

Apelação Criminal nº 990.08.078486-2


Arts. 155, “caput”; 171, “caput”, e 107, nº IV, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

– As palavras firmes e coerentes da vítima, conjugadas a inverossímil


explicação do réu, conferem ao acervo probatório a certeza de que necessita
o julgador para proferir condenação.
– Salvo prova em contrário, a cargo de quem o alegar, entende-se emitido
como ordem de pagamento o cheque, e não como garantia de dívida, pois
aquela é sua característica específica. Ele não garante, solve o débito.
“É um quase-dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o
recebimento do seu valor” (Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973, p. 39).
– A conduta de quem, ilaqueando a fé a terceiro, mantém-no em erro e,
mediante falsa promessa de pagamento, obtém vantagem econômica
indevida, constitui, à evidência, a figura típica do art. 171 do Código Penal.
– Tratando-se de cheque sem fundos (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal),
somente não haverá crime se provar o emitente que o recebedor sabia da
inexistência de fundos em poder do sacado.
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto
de exame ou deliberação.

Voto nº 4054

Apelação Criminal nº 1.321.989/3

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

–“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua acusação, firme e
segura, em consonância com as demais provas, autoriza a condenação” (Rev. Tribs.,
vol. 750, p. 682).
– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito
próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
34

Voto nº 4174

Apelação Criminal nº 1.318.121/0


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.

Voto nº 4019

Apelação Criminal nº 1.323.727/5


Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal

– É réu de tentativa de estelionato o sujeito que, para obter vantagem ilícita,


adquire mercadorias a terceiro e, ao pretender pagá-las mediante cartão de
crédito adulterado, recebe voz de prisão da Polícia, que lhe descobrira a
fraude e o intuito criminoso.
– Não há falar em crime impossível (art. 17 do Cód. Penal), se o réu empregou
meio apto e eficaz para a prática do delito, somente o não consumando por
circunstâncias alheias à sua vontade, como foram a diligência da vítima e a
intervenção da Polícia, que lhe puseram termo à ação criminosa.
– Prêmio de sinceridade, tem direito a especial redução de pena o réu que,
espontaneamente, confessa perante a autoridade pública o crime que
cometeu (art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal).
35

Voto nº 5374

Apelação Criminal nº 1.374.987/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a


prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.
– Sem prova plena e incontroversa de sua culpabilidade, não há decretar a
condenação do réu, ainda que de sombria nomeada nas expansões da
delinquência.

Voto nº 4081

Apelação Criminal nº 1.331.613/8


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– À luz da jurisprudência do Pretório Excelso, não é a falta de defesa prévia


que anula a ação penal, mas a ausência de concessão de prazo ao defensor
do réu para que lha apresente (cf. Rev. Tribs., vol. 660, p. 369; rel. Min. Celso
de Mello).
– A pesquisa da verdade real é o escopo de todo processo; não sofre o
Direito, no entanto, que matéria já vencida ou liquidada seja objeto de
indagação, com notável dano para o interesse das partes ou da Justiça.
–“Mas, essa liberdade (de requerer) não se deve degenerar em abuso, por forma a
paralisar a marcha do processo, com o propósito de retardar a administração da justiça
ou de tumultuar a ordem processual” (Bento de Faria, Código de Processo Penal,
1960, vol. II, p. 210).
– Não se exime da nota de estelionatário, e pois incorre nas penas do
art. 171, “caput”, do Cód. Penal, o sujeito que, inculcando-se (falsamente)
corretor autorizado a vender certo imóvel, mostra-o à vítima, que o
adquire e paga, e só ao depois percebe ter sido ilaqueada em sua boa-fé.
36

Voto nº 4104

Apelação Criminal nº 1.261.715/5


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Porque manifesto seu intuito de embair a fé alheia e obter vantagem ilícita,


incorre nas penas de estelionato (art. 171,“caput”, do Cód. Penal) o sujeito
que, encerrada já a conta bancária, emite cheque para pagamento de dívida.

Voto nº 3536

Apelação Criminal nº 1.284.501/2


Arts. 155, § 4º, nº II, e 171, “caput”, do Cód. Penal

– Tem lá seu valor a confissão do réu na Polícia, máxime se feita em presença


de curador e ajustada aos mais elementos de prova dos autos.
–“A confissão do delito vale não pelo lugar em que é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564;
rel. Min. Cordeiro Guerra).
– Por força do princípio da consunção, responde só por estelionato (art.
171 do Cód. Penal), o autor de furto de talão de cheque em branco,
delito-meio para a obtenção de vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
mediante fraude.

Voto nº 3500

Apelação Criminal nº 1.278.385/7


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,


mediante fraude, constitui estelionato, que o Código Penal define e pune
(art. 171).
–“A inocência não foge da Justiça” (Antônio Ferreira, Inês de Castro, ato IV, cena I,
v. 27).
37
Voto nº 3531

Apelação Criminal nº 1.281.169/5


Art. 171 do Cód. Penal

– Não há estelionato, por ausência de dolo, no procedimento de quem paga


dívida com cheque de terceiro, posteriormente recusado pelo banco por
encerramento da conta de seu titular, se ignorava tal circunstância (art. 171
do Cód. Penal).
– O pagamento de dívida velha com cheque sem fundos não constitui
crime, pois a vítima não sofre diminuição em seu patrimônio nem perde o
caráter de titular do crédito. Sem o prejuízo, o estelionato não se
aperfeiçoa e o fato não tem relevância jurídica.

Voto nº 3544

Apelação Criminal nº 1.291.567/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito


próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional semiaberto é o
que lhe serve para a contenção do impulso criminoso e reparação do mal
que causa à sociedade.

Voto nº 4337

Apelação Criminal nº 1.323.377/4

Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
38

Voto nº 4214

Revisão Criminal nº 392.350/2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621 do Cód. Proc. Penal

– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da


boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– Em tema de revisão criminal, vigora o princípio de que ao condenado é
que incumbe provar, além de toda a dúvida, que a sentença fez rosto à
evidência dos autos, senão sucumbirá perante a força da coisa julgada.

Voto nº 8161

Apelação Criminal nº 484.548-3/2-00


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a


prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.
– Sem prova plena e incontroversa de sua culpabilidade, não há decretar a
condenação do réu, ainda que de sombria nomeada nas expansões da
delinquência.
39

Voto nº 4469

Apelação Criminal nº 1.326.075/3


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 43, nº IV, e 44, § 2º, do Cód. Penal

– Realiza a figura típica do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, sujeitando-se


portanto ao rigor da lei, o indivíduo que, após ilaquear a boa-fé de terceiro
mediante falsa alegação, obtém-lhe indevida vantagem econômica.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, aliadas a frágil e infidedigna
autodefesa do réu, bastam a justificar-lhe a condenação, pois as manobras
fraudulentas do estelionatário não ostentam, pelo comum, a clareza da luz
meridiana.

Voto nº 3551

Recurso em Sentido Estrito nº 1.289.097/2


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 43, ns. I e III, do Cód. Proc. Penal

– Não há estelionato, por ausência de dolo, no procedimento de quem paga


dívida com cheque de terceiro, posteriormente recusado pelo banco por
encerramento da conta de seu titular, se ignorava tal circunstância (art. 171
do Cód. Penal).
– O pagamento de dívida velha com cheque sem fundos não constitui
crime, pois a vítima não sofre diminuição em seu patrimônio nem perde o
caráter de titular do crédito. Sem o prejuízo, o estelionato não se
aperfeiçoa e o fato não tem relevância jurídica.
– Se ausente a justa causa para a ação penal (“fumus boni juris”), cabe ao Juiz
rejeitar a denúncia, como o preceitua o art. 43 do Cód. Proc. Penal, em ordem
a não malferir o estado de liberdade do indivíduo.
– O processo penal atinge o “status dignitatis”, patrimônio sagrado do
indivíduo, por isso é passível de recusa toda a queixa que não venha
acompanhada de um mínimo de prova do fato delituoso.
40

Voto nº 5309

Apelação Criminal nº 1.365.139/1


Arts. 171; 43 e 45, § 2º, do Cód. Penal

– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da


boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se
o não comprova “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– Incensurável — porque não apenas legítima e justa, senão sábia — é a
decisão que substitui por prestação pecuniária, consistente em doação de
cesta básica, a prestação de serviços à comunidade imposta a autor de
estelionato que, trabalhador rural, não pode cumprir as determinações da
Justiça sem notável prejuízo de suas atividades.
– Não esqueça aos aplicadores do Direito a advertência de Anatole France:
“Se a lei é morta, deve-lhe o Juiz dar vida”.
– Isto de não constar no elenco das penas restritivas de direito (art. 43 do Cód.
Penal) a espécie “doação de cestas básicas”, não vale a obstar-lhe a aplicação. É
que a Lei nº 9.714/98 pôs termo à controvérsia, ao assentar que “a prestação
pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza” (art. 45, § 2º, do Cód. Penal).

Voto nº 4777

Apelação Criminal nº 1.343.303/9

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Legítima e justa é a condenação de quem, mediante falsificação de


contrato de financiamento em nome de terceiro, obtém para si vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, porque réu de estelionato (art. 171, “caput”, do
Cód. Penal).
41

Voto nº 7799

“Habeas Corpus” nº 1.003.154-3/7-00

Arts. 171, “caput”, e 176, parág. único, do Cód. Penal;


art. 659 do Cód. Proc. Penal

–“As atribuições do Ministério Público, bem compreendidas, são as mais belas que
existem” (De Molénes; apud J.B. Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar, 1a. ed.,
p. 99).
– Segundo a comum opinião dos doutores e a jurisprudência de nossos
Tribunais, não comete crime de estelionato o acadêmico de Direito que,
por festejar a data comemorativa da instituição dos cursos jurídicos no
País — 11 de agosto —, pratica a denominada “pendura”, isto é: dirige-se a
uma casa de pasto e, após comer à tripa forra e entrar galhardamente pelas
bebidas, chama a seu pé o dono do estabelecimento e comunica-lhe, em
discurso de pompa e circunstância, que aquele troço de estudantes quer
homenageá-lo como a amigo e benfeitor da velha e gloriosa Academia de
Direito do Largo de São Francisco, além de significar-lhe eterna gratidão
pelo “oferecimento” do memorável banquete.
– Em escólio ao art. 176 do Código Penal escreveu Damásio E. de Jesus:
“Entendeu-se haver mero ilícito civil e não penal, uma vez que o tipo exige que o sujeito
não possua recursos para o pagamento dos serviços” (Código Penal Anotado, 17a.
ed., p. 674).
– Dispõe o art. 659 do Cód. Proc. Penal que, se o Tribunal verificar ter já cessado
a violência ou coação ilegal de que se queixa o paciente, lhe julgará
prejudicado o pedido de “habeas corpus”.
–“Julga-se o habeas corpus prejudicado quando o impetrante obtém, durante a ação, a
situação jurídica reclamada” (STJ; HC nº 1.623/2; 6a. Turma; rel. Min. Vicente
Cernicchiaro; j. 18.12.96).
42

Voto nº 11.183

Apelação Criminal nº 990.08.072668-4


Arts. 171, “caput”, e 44 do Cód. Penal

–“A palavra da vítima é a viga mestra da estrutura probatória, e a sua acusação, firme e
segura, em consonância com as demais provas, autoriza a condenação” (Rev. Tribs.,
vol. 750, p. 682).
– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito
próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).

Voto nº 7963

Apelação Criminal nº 484.544-3/4-00


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 44, §§ 2º e 3º, do Cód. Penal

– A confissão policial, ainda que repudiada em Juízo, autoriza decreto


condenatório se em harmonia com os mais elementos de prova.
–“Se o réu é confesso, não há perder tempo em levar adiante o exame da prova. Parte
confessa é parte condenada” (Rui, Obras Completas, vol. XXIV, t. II, p. 270).
– É réu de estelionato quem, para obter vantagem ilícita, usa documento
falso. O “falsum”, no caso, faz as vezes de delito-meio e, pelo princípio da
consunção, é absorvido pelo estelionato. É a substância da Súmula nº 17 do
STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido”.
43

Voto nº 4580

Recurso em Sentido Estrito nº 1.347.479/1

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 43, ns. I e III, do Cód. Proc. Penal

– Advertiu o maior de nossos penalistas: “Somente integra um crime a fraude que


reveste cunho de especial malignidade” (Nélson Hungria, Comentários ao Código
Penal, 1980, vol. VII, p. 182).
–“O dolo civil não reveste os caracteres jurídicos do estelionato” (Viveiros de Castro,
Questões de Direito Penal, p. 118).
– Sob pena de constituir violência contra o “status dignitatis” do indivíduo, a
instauração de persecução penal unicamente se admite em face de prova
cabal da existência do crime e de indícios veementes de sua autoria.

Voto nº 8006

Revisão Criminal nº 878.293-3/5-00


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Fraude “é qualquer malicioso subterfúgio para alcançar um fim ilícito” (Nélson


Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, t. VII, p. 169).
– Incorre nas penas de estelionato aquele que, inculcando-se mediador entre
as partes em negócio imobiliário, causa-lhes prejuízo, por fraude e
induzimento a erro (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– O pedido de revisão criminal, por isso mesmo que põe a mira em romper
a coisa julgada, somente se defere quando amparado em fundamento
legal. É mister, pois, demonstre o peticionário, além de toda a dúvida, que a
sentença condenatória infringiu de rosto a prova dos autos.
– Nisto de revisão criminal prevalece o entendimento de que ao peticionário
incumbe comprovar que a sentença contraveio aos elementos do processo
ou infringiu a Lei e a Justiça, aliás lhe será indeferida a pretensão por amor
da autoridade da “res judicata” (art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal).
44

Voto nº 3680

Apelação Criminal nº 1.293.441/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 43, ns. I e IV, do Cód. Penal

– Realiza a figura típica do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, sujeitando-se


portanto ao rigor da lei, o indivíduo que, após ilaquear a boa-fé de terceiro
mediante a falsa alegação de que fora contemplado em sorteio, obtém-lhe
indevida vantagem econômica, sob a promessa de entrega futura de
imaginário prêmio.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, aliadas à confissão extrajudicial
do réu, bastam a justificar-lhe a condenação, pois que impossível tenham
ambos faltado à verdade.

Voto nº 8160

Apelação Criminal nº 484.477-3/8-00


Arts. 171, “caput”, e 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– Salvo prova em contrário, a cargo de quem o alegar, entende-se emitido


como ordem de pagamento o cheque, não garantia de dívida, pois aquela é
sua característica específica. Ele não garante, solve o débito. “É um quase-
-dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o recebimento do seu
valor” (Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973, p. 39).
– Tratando-se de cheque sem fundos (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal),
somente não haverá crime se provar o emitente que o recebedor sabia da
inexistência de fundos em poder do sacado.
45

Voto nº 4795

Apelação Criminal nº 1.339.769/2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.

Voto nº 9535

Apelação Criminal nº 484.694-3/8-00

Arts. 171; 24 e 119 do Cód. Penal;


art. 110, § 1º, do Cód. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé.
– Àquele que invoca a descriminante legal do estado de necessidade cabe
demonstrá-la acima de toda a dúvida, pois aqui a falta de prova faz as vezes
de confissão do crime (art. 24 do Cód. Penal).
–“No caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá sobre a pena de cada
um, isoladamente” (art. 119 do Cód. Penal).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de
prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença
condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de
exame ou deliberação.
46

Voto nº 4813

Apelação Criminal nº 1.347.489/3


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 44, §§ 2º e 3º, do Cód. Penal

– Desde a mais alta antiguidade, a confissão foi reputada a rainha das provas
(“regina probationum”), porque repugna à natureza afirme alguém contra si
fato que não saiba verdadeiro.
–“A confissão do delito vale não pelo lugar onde é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564; rel.
Min. Cordeiro Guerra).
– Configura hipótese de “ante factum” impunível o furto de talonário de
cheques para a prática de estelionato, de que é apenas crime-meio e, por
isso, por ele absorvido, conforme o princípio da consunção.

Voto nº 3698

Apelação Criminal nº 1.304.673/1


Arts. 171; 14, nº II, e 29 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
–“Todos os que contribuem para a integração do delito cometem o mesmo crime”
(Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 121).
– É o regime semiaberto compatível com a condição do réu condenado a
pena de curta duração, que, no entanto, revela personalidade empedernida
pelo atrito constante com a prática de crimes contra o patrimônio.
47

Voto nº 21

Revisão Criminal nº 294.460/1


Arts. 171 e 71 do Cód. Penal
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

–“Princípio e fundamento do juízo”, na frase do Barão de Ramalho (Postilas de


Prática, 1872, 2a. ed., p. 71), é a citação ato processual da primeira
importância; pelo que, não há proceder ao chamamento do réu por éditos
sem prévia e formal satisfação de todas as cautelas impostas na lei.
–“Justifica-se a citação por edital quando o réu fornece vários endereços, mas em nenhum
deles é encontrado, criando situação destinada a perturbar ou embaraçar a ação da
Justiça” (Rev. Forense, vol. 191, p. 256).
– A revisão criminal “é recurso reparatório que não se pode liberalizar sem
desprestígio para a coisa julgada” (Rev. Forense, vol. 132, p. 221; rel. Min.
Orosimbo Nonato).
– Perante o Juízo da revisão criminal, “o pedido não pode ter por objeto a
insuficiência da prova, uma vez que essa circunstânca não exclui a responsabilidade do
condenado nem demonstra a sua inocência” (Florêncio de Abreu, Comentários ao
Código de Processo Penal, vol. V, p. 427).

Voto nº 26

Apelação Criminal nº 1.029.109/0


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 89 da Lei nº 9.099/95

–“A suspensão condicional do processo possui também natureza penal. E a lei penal nova
deve retroagir para alcançar fatos ocorridos antes de sua vigência” (Luiz Flávio
Gomes, Suspensão Condicional do Processo Penal, 1995, p. 152).
– Tratando-se de novação legislativa que favorece o acusado, força é aplicá-la
aos fatos anteriores, conforme a teoria do Código Penal (art. 2º, parág. único).
48

Voto nº 252

Apelação Criminal no 1.045.539/5


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Ainda que feita no inquérito policial, pode a confissão ensejar a


condenação do réu, se em harmonia com outros elementos informativos do
processo.
– A autoria, no estelionato, prova-se também por testemunhos idôneos e
coesos, não somente pela perícia.
– O regime fechado é o compatível com o condenado não-primário que
nenhum interesse revela em emendar-se, antes se compraz, empedernido,
na vida do crime.

Voto nº 411

Apelação Criminal nº 1.056.207/2


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Excede as posses da razão isto de se pretender atribuir contornos de simples


ilícito civil ao ato daquele que transfere, sucessivamente, a várias pessoas as
mesmas linhas telefônicas. Bem comprovado o ardil para a auferição do
lucro, houve fraude penal, integrando-se a figura do estelionato.
– O acréscimo decorrente da continuidade delitiva deve atender ao estalão da
jurisprudência deste Egrégio Tribunal: até 2 crimes, o acréscimo deve ser de
1/6; até 3, 1/5; até 4, 1/4; até 5, 1/3; até 6, 1/2; até 7, 2/3 (JTACrSP, vol. 89,
p. 218).
49

Voto nº 613

Apelação Criminal nº 1.063.637/7


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

–“Quando grosseiramente inverossímil, a defesa do réu é mais um indício de sua


culpabilidade” (Nélson Hungria, Jurisprudência, vol. 13, p. 236).
– Infringe o preceito do art. 171 do Cód. Penal aquele que, para obter
vantagem ilícita, vende como próprio imóvel alheio, mediante o ardil da
elaboração de contrato ideologicamente falso, induzindo assim vítimas em
erro e causando-lhes prejuízo.
– Em circunstâncias especiais, que saberá identificar, pode o Juiz deferir o
benefício do regime aberto a reincidente que não revele acentuado grau
de periculosidade como, “verbi gratia”, o condenado por estelionato. É que a
prisão, muita vez, atinge “inocentes, como são a esposa e filhos do criminoso,
privados, sem culpa, de subsistência e do convívio do chefe de família” (Magarinos
Torres; apud José Luís Sales, Da Suspensão Condicional da Pena, 1945, p. 13).

Voto nº 678

Apelação Criminal nº 1.075.469/6


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 71 do Cód. Penal

– Infringe o preceito do art. 171 do Código Penal quem, para pagamento de


mercadorias adquiridas à vista em supermercado, emite cheques referentes
a conta bancária já encerrada.
50

Voto nº 694

Apelação Criminal nº 1.078.569/3


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal;
art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Não configura o delito do art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal a emissão de
cheque sem fundos para substituir outro, pois que o título substituto não
foi poderoso a alterar o patrimônio da vítima.

Voto nº 1494

Apelação Criminal nº 1.128.675/1


Art. 171 do Cód. Penal

– Nada obsta que o Tribunal conheça de apelação, ainda que


desacompanhada de razões, pois “irrestrito é o poder jurisdicional do Juízo ad
quem no tocante à decisão que deva proferir”, desde que não exceda às raias da
imputação (cf. José Frederico Marques, Elementos de Direito Processual Penal,
1a. ed., vol. IV, p. 271).
– Pratica estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o sujeito que vende linha
telefônica e recebe do comprador de boa-fé o preço total da transação, mas,
usando de meio fraudulento, protela a transferência da assinatura perante a
empresa concessionária e, sobre isso, aliena o bem a terceiro.
51

Voto nº 1527

Apelação Criminal nº 1.152.683/0


Art. 171 do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito


próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Se primário o réu e cometida a infração penal sem violência nem ameaça à
pessoa, é obra de louvável política criminal substituir-lhe pela pena
restritiva de direito a privativa de liberdade não superior a 4 anos (art. 44
do Cód. Penal).

Voto nº 1570

Apelação Criminal nº 1.141.401/7


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 24 do Cód. Penal

– Àquele que a invocar em sua defesa tocará fazer a prova da existência, no


caso concreto, da excludente do estado de necessidade. Simples
dificuldade em prover às primeiras necessidades da vida não autoriza o
reconhecimento da descriminante do art. 24 do Código Penal, pois o sacrifício
do direito alheio somente se admite quando determinado por situação de
perigo que, de outro modo, se não poderia vencer.
– O que se empenha em obter vantagens indevidas, embaindo a fé alheia
mediante alicantina e artimanha, não pode aspirar à impunidade; é que,
além de ferir preceito da ética social, comete o crime de estelionato
(art. 171 do Cód. Penal).
–“A Justiça deve ser equânime; concilie, sempre que for possível, a retidão com a bondade
em toda a acepção da palavra” (Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do
Direito, 1933, p. 187).
52

Voto nº 1571

Apelação Criminal nº 1.143.767/4


Art. 171 do Cód. Penal

– Ainda que a vítima tenha cedido, crassamente, à malícia do sujeito, subsiste


o crime de estelionato, porque, segundo a experiência vulgar, no juízo da
gente boa e simples, até os maus têm lá suas virtudes. “Cada um, como é, assim
imagina”, disse-o elegantemente o profundo Vieira (Sermões, 1959, t. XV,
p. 237).
– A circulação fraudulenta de cheque, no crime de estelionato, prova, sem
falta, o dolo do agente.

Voto nº 1596

Apelação Criminal nº 1.143.957/9

Art. 171 do Cód. Penal

– A confissão, conforme os velhos praxistas, passa pela rainha das provas


(“regina probationum”), pois, como acentua o conspícuo Mário Guimarães,
“é contrário à natureza alguém afirmar contra si fato que não seja verdadeiro” (O Juiz e
a Função Jurisdicional, 1958, p. 309).
– Na real verdade, que melhor prova da autoria do fato criminoso, do que
havê-la admitido espontaneamente o próprio réu?!
– Todo aquele que, mediante fraude, induz outrem a erro, causando-lhe
prejuízo, perpetra o crime definido e punido pelo art. 171 do Cód. Penal.
53

Voto nº 1621

Apelação Criminal nº 1.147.243/1

Art. 171 do Cód. Penal

– Exceto se comprovado inequivocamente que uma das partes obrou com


dolo mediante fraude, eventual prejuízo por inadimplência de contrato de
compra e venda é questão que entende com o Direito Civil e não pode ser
dirimida na esfera criminal.

Voto nº 1627

Apelação Criminal nº 1.147.505/5

Art. 171 do Cód. Penal

– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a


prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.

Voto nº 1635

Apelação Criminal nº 1.146.535/9


Art. 171 do Cód. Penal

– É réu de estelionato (art. 171 do Cód. Penal) aquele que falsifica cheque de
terceiro e dá-o em pagamento de dívida, ilaqueando a fé da vítima para
obter vantagem ilícita.
– Não só o agente incide nas penas do estelionato, mas também o que lhe
falsifica cheque empregado como meio fraudulento para a obtenção de
vantagem patrimonial, em prejuízo alheio, pois ambos conspiraram, pela
comunhão de suas vontades, para a prática do crime.
54

Voto nº 1788

“Habeas Corpus” nº 350.914/0


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 312 do Cód. Proc. Penal

–“As escusas de doença são sempre suspeitas” (Plínio Barreto, Crônicas Forenses,
1911, p. 173).
– À prisão preventiva — “ato de verdadeira tirania” (Carrara) — somente é
lícito recorrer, em nome da ordem pública, nos casos absolutamente
necessários, em face da periculosidade do réu (art. 312 do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 1859

Apelação Criminal nº 1.173.677/0


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

– Feita em Juízo, a confissão do réu tem valor absoluto, que não pode ser
postergado, exceto em casos anormais, que se não presumem.
–“É sumamente tranquilizador para a consciência do Juiz ouvir dos lábios do réu uma
narrativa convincente do fato criminoso com a declaração de havê-lo praticado” (Hélio
Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I, p. 381).
– O agente que, para pagamento de mercadoria, emite cheque de terceiro,
falsificando-lhe o nome, comete o crime de estelionato em seu tipo
fundamental (art. 171 do Cód. Penal).
– O réu que confessa em Juízo seu delito revela qualidade sumamente
elogiável, pois demonstra haver aborrecido a vida criminosa e descobre seu
propósito de emenda; por isso, ainda que reincidente, desde que não
superior a 4 anos sua pena, tem jus ao benefício do regime semiaberto
(art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
55

Voto nº 93

Apelação Criminal nº 1.019.761/8


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

–“A lei penal não tutela como cheque o que não for emitido como meio de pagamento,
mas para garantia de dívida” (Rev. Tribs., vol. 266, p. 131).
–“O Estado só deve recorrer à pena quando a conservação da ordem jurídica não se possa
obter com outros meios de reação, isto é, com os meios próprios do direito civil (ou de
outro ramo de direito que não o penal). A pena é um mal, não somente para o réu e sua
família, senão também, sob o ponto de vista econômico, para o próprio Estado”
(Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. II, p. 29.

Voto nº 159

“Habeas Corpus” nº 299.530/0


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal
art. 93, nº IX, da Const. Fed.

– Sua condição de estudante de Direito, que invocou sem contudo provar,


não foi poderosa a elidir a forte persuasão de que se trata de jovem de
sombria nomeada nas expansões da criminalidade: emitiu cheque sem
fundos, usou documento falso e fugiu ao ser procurado pela Polícia.
– Nem se argumente, em obséquio ao impetrante, que o prolator do despacho
impugnado arrimou seu convencimento às razões expendidas pelo órgão
do Ministério Público para a decretação da custódia processual. O teor
desse proceder não afronta o princípio do livre convencimento ou da
persuasão racional do Juiz. Desde que os motivos ensejadores da decretação
da medida excepcional tomou-os o Juiz à cota da Promotoria de Justiça,
onde eram expostos satisfatoriamente, guardou-se observância aos
preceitos do art. 93, nº IX, da Constituição da República, de que sejam
“fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade”.
56

Voto nº 172

Apelação Criminal nº 1.030.631/6


Arts. 155 e 171 do Cód. Penal;
art. 89 da Lei nº 9.099/95

– Como o apelante recusou a proposta que lhe fez o Ministério Público, nos
moldes do art. 89 da Lei nº 9.099/95, não há repeti-la, que isto equivaleria
a contrariar de frente o instituto da preclusão, criado para desempecer
os trâmites do processo, conforme lição do erudito Eliézer Rosa: “O
legislador empregou as preclusões como expediente para imprimir ordem, precisão e
rapidez ao processo” (Dicionário de Processo Civil, 2a. ed., p. 324).
– Se o réu furta cheque para cometer estelionato, a subtração fica por este
absorvida. “A jurisprudência não aceita a tese da existência de dois crimes sob o
impulso de uma justa preocupação: a louvável intenção de suavizar a aspereza das
normas sobre o concurso de delitos” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
1995, p. 553).

Voto nº 1557

Apelação Criminal nº 1.141.685/3


Art. 171 do Cód. Penal

– Caracteriza-se o estelionato pelo simultâneo concurso dos elementos que


o integram: a precessão de tempo em relação à vantagem ilícita desnatura-
o. Assim, não configura o crime do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, por falta de
tipicidade, a emissão de cheques sem fundos para pagamento de serviços
prestados.
57

Voto nº 326

Apelação Criminal no 1.052.479/4


Art. 171 do Cód. Penal

– A defesa que o apelante esboçou no interrogatório judicial, de que não


cometeu crime algum, pois, como radialista profissional, tinha-se por
verdadeiro arauto da benemérita campanha de prevenção e combate às
drogas tóxicas, são alegações que, sobre afrontosas ao bom senso,
dissimulam as práticas ilícitas a que se entregava.
– Somente um decreto de condenação, pelo conseguinte, poderia pôr cobro
ao pernicioso proceder de quem, estelionatário matriculado, ostentava o
perfil acadêmico do embusteiro que, em página antológica, debuxou
Nélson Hungria, comparando-o ao “comodismo solerte do cuco, que deposita os
próprios ovos, para a incubação, nos ninhos de outros pássaros” (Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 167).
– O regime não pudera ser outro que o fechado, próprio da natureza e do
número das infrações penais e sobretudo da personalidade do réu, homem
malfazejo e de passado ignominioso.

Voto nº 2341

Apelação Criminal nº 1.202.585/9

Art. 171 do Cód. Penal

– Feita em Juízo, a confissão do réu tem valor absoluto, que não pode ser
postergado, exceto em casos anormais, que se não presumem.
–“É sumamente tranquilizador para a consciência do Juiz ouvir dos lábios do réu uma
narrativa convincente do fato criminoso com a declaração de havê-lo praticado” (Hélio
Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I, p. 381).
– O agente que, para pagamento de mercadoria, emite cheque de terceiro,
falsificando-lhe o nome, comete o crime de estelionato em seu tipo
fundamental (art. 171 do Cód. Penal).
58

Voto nº 7935

Apelação Criminal nº 484.529-3/6-00


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– É ponto elementar da ciência do Direito que o ônus da prova compete


àquele que alega (“onus probandi ei qui dicit”). Isto mesmo dispõe o Código de
Processo Penal: “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer” (art. 156).
– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da
boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 8074

Apelação Criminal nº 399.150-3/1-00

Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;


art. 304 do Cód. Penal; art. 61 do Cód. Proc. Penal

– A confissão, os juristas sempre a reputaram a rainha das provas (“regina


probationum”); se produzida em Juízo, é absoluto seu valor, visto se presume
livre dos vícios de inteligência e vontade, e pode justificar edito
condenatório.
–“Se o réu é confesso, não há perder tempo em levar adiante o exame da prova. Parte
confessa é parte condenada” (Rui, Obras Completas, vol. XXIV, t. II, p. 270).
– É réu de estelionato quem, para obter vantagem ilícita, usa documento
falso. O “falsum”, no caso, faz as vezes de delito-meio e, pelo princípio da
consunção, é absorvido pelo estelionato. É a substância da Súmula nº 17 do
STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido”.
–“Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá
declará-lo de ofício” (art. 61 do Cód. Proc. Penal).
59

Voto nº 5249

Apelação Criminal nº 1.361.135/5


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que adquire


mercadorias com cheque furtado, em prejuízo alheio (art. 171, “caput”, do
Cód. Penal). É regra vulgar que o portador de cheque de terceiro deve
justificar-lhe a origem.
– Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional fechado lhe
serve para a contenção do impulso criminoso e reparação do mal que causa
à sociedade.

Voto nº 5479

Apelação Criminal nº 1.397.187/6


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 16 do Cód. Penal

– É justamente condenado (porque autor de estelionato) o indivíduo que


anuncia pela imprensa a intenção de vender veículo de sua propriedade e
recebe de terceiro o pagamento do preço da venda, mas não lhe entrega o
bem. Obter vantagem indevida mediante fraude, a lei define e pune como
crime (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Para o efeito do disposto no art. 16 do Cód. Penal — arrependimento
posterior, com redução da pena —, a restituição do dano à vítima deverá
ser integral, por ato voluntário e espontâneo do agente.
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
60

Voto nº 5402

Apelação Criminal nº 1.376.147/0

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal

– No âmbito dos delitos patrimoniais, perpetrados sem violência a pessoa, a


reparação assume especial relevo e momento. Assim, o autor de
estelionato básico (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) que, antes da ação penal,
satisfaz o prejuízo causado à vítima, afasta, “ipso facto”, a tipicidade de sua
conduta e, pois, o rigor da lei.
– Se a prova dos autos não desfaz a dúvida quanto à culpabilidade do
agente, será bem que o Juiz o absolva, por amor do princípio de curso
universal: “In dubio pro reo”. Mais do que probabilidade da autoria do crime, a
condenação reclama certeza, que é sua única base legítima.

Voto nº 8441

Apelação Criminal nº 484.425-3/1-00

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o sujeito que vende linha
telefônica e recebe do comprador de boa fé o preço total da transação, mas,
usando de meio fraudulento, protela a transferência da assinatura perante a
empresa concessionária e, sobre isso, aliena o bem a terceiro.
– Na esfera dos crimes contra o patrimônio, cometidos sem violência a
pessoa, tem relevância apenas a lesão jurídica de valor econômico, pois
segundo a velha fórmula do direito romano, “de minimis non curat praetor”
(Dig. 4,1,4).
– Aplicado inconsideradamente, o princípio da insignificância representa
violação grave da lei, a qual manda punir o infrator; destarte, subtrair a seu
rigor o culpado, sem relevante razão de direito, fora escarnecer da Justiça,
que dispensa a cada um o que merece. Em verdade, conforme aquilo de
Alberto Oliva, “todo homem deve saber do fundo de seu coração o que é certo e o que
é errado” (apud Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes, Crime e Castigo,
2002, p. 3; Millennium Editora).
61

Voto nº 2262

Apelação Criminal nº 1.190.665/1


Art. 171, § 2º, nº V, do Cód. Penal;
art. 77 do Cód. Penal

– Incorre nas sanções do art. 171, § 2º, nº V, do Código Penal o sujeito que,
levando a mira em receber o valor do seguro, faz à autoridade policial
comunicação falsa de roubo de veículo que ocultara.
– A finalidade do “sursis” é ensejar ao condenado primário não-perigoso
desconte sua pena longe do convívio de criminosos irrecuperáveis, em
regime de liberdade, ainda que sob os olhos da Justiça Punitiva (art. 77 do
Cód. Penal).

Voto nº 2273

Apelação Criminal nº 1.188.551/8

Art. 171 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que vende veículo, sob
promessa de entregar o respectivo documento ao comprador tanto que
efetue o pagamento do preço da transação, mas não desempenha sua
palavra, por não possuir título de propriedade do bem.
– A mentira verbal, desde que apta a induzir em erro a vítima e causar-lhe
prejuízo, constitui meio fraudulento do estelionato.
62

Voto nº 8445

Apelação Criminal nº 484.639-3/8-00

Art. 171 do Cód. Penal;


art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal;
art. 1º da Lei nº 2.252/54

– Se o réu nega o que a testemunha afirma, nada há de certo e a Justiça tem o


dever de respeitar o direito de cada um de considerar-se inocente (cf. César
Beccaria, Dos Delitos e das Penas, § VIII).
– É princípio universalmente recebido que a condenação, pelos gravíssimos
efeitos que acarreta ao indivíduo, apenas tem lugar se demonstrada, acima
de toda a dúvida, a materialidade do fato criminoso, sua autoria e a
culpabilidade do agente.
– No Direito Penal, em pontos de dúvida, prevalece o prolóquio sublime
inscrito nos emblemas da Justiça Criminal: “In dubio pro reo”.
–“Nenhuma presunção, por mais veemente que seja, dará motivo para imposição de pena”
(art. 36 do Código Criminal do Império).
– Mais que meras conjecturas acerca da culpabilidade do acusado, são
necessárias, para sua condenação, provas tão claras como a luz meridiana:
“probationes luce meridiana clariores” (cf. Giovanni Brichetti, L’Evidenza nel
Diritto Processuale Penale, 1950, p. 111).
– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a
prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.
– Sem prova plena e incontroversa de sua culpabilidade, não há decretar a
condenação do réu, ainda que de sombria nomeada nas expansões da
delinquência.
63

Voto nº 1863

Apelação Criminal nº 1.173.645/8


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 43, nº I, do Cód. Penal

– Comete crime de estelionato em seu tipo fundamental quem adquire


mercadorias com cheque sem lastro bancário, que manda sustar sob a
alegação de extravio, causando assim prejuízo à vítima (art. 171, “caput”, do
Cód. Penal).
– Não repugna ao sentimento de justiça nem ofende a lei positiva substituir
por pena restritiva de direito a privativa de liberdade imposta a autora de
estelionatos, de desprimoroso currículo social, porém mãe de duas
crianças, às quais alcançariam profundamente os efeitos da segregação
carcerária.
– Ao aplicá-la, deve o Juiz atender aos fins sociais da lei (cf. art. 5º da Lei de
Introd. Cód. Civil).

Voto nº 1874

Apelação Criminal nº 1.170.713/6

Arts. 171 e 14, nº II, do Cód. Penal;


art. 17 do Cód. Penal (crime impossível)

– Comete estelionato na forma tentada o agente que, ao pagar mercadorias


com cheque falso, é surpreendido por empregado do estabelecimento-
-vítima, que, mediante consulta a fonte de informações, inteira-se de sua
irregularidade e, pois, frustra a realização do negócio mercantil.
– A alegação de crime impossível (art. 17 do Cód. Penal) não tem lugar, se o
meio de que se utilizou o agente foi idôneo, e o estelionato somente não se
consumou graças à diligência e perspicácia do funcionário da empresa-
-vítima.
64

Voto nº 1894

Apelação Criminal nº 1.165.865/4


Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– A lei não tutela como cheque o que não for emitido como ordem de
pagamento à vista. A prova, no entanto, da deturpação de sua finalidade
competirá a quem o alegar, sob pena de caracterizar-se o crime do art. 171,
§ 2º, do Cód. Penal.
– O argumento de que o réu padecia reveses financeiros, por isso emitiu o
cheque sem provisão de fundos, é contraproducente: o homem avisado
nunca subestima as consequências da prática de ato ilegal.

Voto nº 1895

Apelação Criminal nº 1.163.077/2

Arts. 155 e 171 do Cód. Penal

– Configura hipótese de “ante factum” impunível o furto de talonário de


cheques para a prática de estelionato, de que é apenas crime-meio e, por
isso, por ele absorvido, conforme o princípio da consunção.
– A restituição do dano à vítima, antes do recebimento da denúncia, é causa
de extinção da punibilidade do agente, por atipicidade do fato, somente no
caso do art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal, não em se tratando de tipo
fundamental de estelionato (Súmula nº 554 do STF).
– A pena deve atuar no ânimo do infrator como retribuição pelo mal que
praticou e instrumento de reeducação para a vida em sociedade, cuja pedra
angular é o respeito às regras que a disciplinam.
–“Urge que seja abolida a injustificável primazia do interesse do indivíduo sobre a tutela
social. Não se pode continuar a contemporizar com pseudodireitos individuais em
prejuízo do bem comum” (apud Vicente de Azevedo, Curso de Direito Judiciário
Penal, 1958, vol. I, p. 44).
65

Voto nº 1933

Apelação Criminal nº 1.168.353/3


Arts. 171 e 44 do Cód. Penal

– De muito sutil, graves autores não fazem distinção entre o ilícito civil e o
penal. Trata-se — como lhes chamou Giuriati — de zona cinzenta entre o
reino branco do direito civil e o reino sombrio da delinquência: “la zona
grigia fra il regno bianco del diritto civile e il regno nero della criminalità” (apud
Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 191). A
melhor doutrina, contudo, reputa configurada fraude penal quando o
sujeito põe o intento num fim ilícito.
– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o agente que falsifica
documentos para obter vantagem ilícita, mediante financiamento de
contrato de compra e venda de veículos automotores, em prejuízo da
instituição-vítima.
– Não se procede à substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, se isto equivaleria a sancionar a impunidade de sujeito
que se abalizou na vida do crime, dela fazendo profissão.

Voto nº 2014

Apelação Criminal nº 1.185.557/5

Art. 171, “caput”, e 44, § 2º, do Cód. Penal

– Pratica estelionato do tipo fundamental (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o


agente que, encerrada sua conta bancária, emite cheque para pagamento de
dívida, porquanto manifesto seu intuito de embair a fé de terceiro para
obter vantagem ilícita.
– Se não foi o crime cometido com violência nem grave ameaça e as
circunstâncias pessoais do réu o permitirem, nada impede lhe substitua o
Magistrado por multa a pena privativa de liberdade não superior a 1 ano
(art. 44, § 2º, do Cód. Penal).
–“O fato de o Juiz ter fixado na sentença duas penas (prisão e multa), em atenção à
cominação cumulativa abstrata, não é obstáculo para a substituição da pena privativa
de liberdade por outra medida alternativa” (Luiz Flávio Gomes, Penas e Medidas
Alternativas à Prisão, p. 121).
66

Voto nº 2161

Apelação Criminal nº 1.181.389/1

Art. 171 do Cód. Penal;


art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal

– Se o meio empregado pelo agente não é apto a iludir a vítima (circunstância


nuclear do estelionato), obra com acerto e aviso o Magistrado que o
absolve por falta de tipicidade penal (art. 386, nº III, do Cód. Proc. Penal).
– Há crime impossível (não tentativa de estelionato) se, ao receber cheque de
terceiro em pagamento de dívida, o comerciante, desconfiado de sua boa
origem, entra logo em contacto com o titular da conta bancária, que lhe
informa ser a cártula produto de furto. Inidôneo e ineficiente o meio
empregado para induzir a vítima em erro, a hipótese não é mais que de
crime impossível, visto jamais se consumaria.

Voto nº 2249

Apelação Criminal nº 1.197.813/2

Art. 171 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
– É o regime semiaberto compatível com a condição do réu condenado a
pena de curta duração, que, no entanto, revela personalidade empedernida
pelo atrito constante com a prática de crimes contra o patrimônio.
67

Voto nº 2291

Apelação Criminal nº 1.206.637/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 67 da Lei nº 8.078/90 (Cód. Consumidor): propaganda enganosa

– Pratica estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o sujeito que vende linhas
telefônicas e recebe do comprador de boa-fé o preço total da transação,
mas não lhas transfere sob o argumento de não haver nenhuma disponível.
É manifesto o dolo (“animus laedendi”) de quem assim procede, pois dá à
venda o que não tem.
– Incorre nas penas do art. 67 da Lei nº 8.078/90 (Cód. Consumidor), por delito de
propaganda enganosa, aquele que, no intento de vender produtos e prestar
serviços, apregoa-lhes, para conciliar clientela, atributos que não possuem,
ou não respondem à verdade.

Voto nº 2300

Apelação Criminal nº 1.200.175/2

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito


próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Se primário o réu e cometida a infração penal sem violência nem ameaça
à pessoa, é obra de louvável política criminal substituir-lhe pela pena
restritiva de direito a privativa de liberdade não superior a 4 anos (art. 44
do Cód. Penal).
68

Voto nº 2334

Apelação Criminal nº 1.203.353/4

Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal

– Se invencível a dúvida, prudente será o Magistrado que absolver o réu, pois


apenas a certeza de ter obrado com dolo pode justificar-lhe a condenação;
do contrário, é de aplicar em seu favor o princípio de alcance universal:
“In dubio pro reo”.
–“A Defesa tem direitos superiores aos da Acusação, porque, enquanto houver uma
dúvida, por mínima que seja, ninguém pode conscientemente condenar o seu
semelhante” (João Mendes Júnior, Processo Criminal Brasileiro, 4a. ed., p. 388).
–“O Estado só deve recorrer à pena quando a conservação da ordem jurídica não se possa
obter com outros meios de reação, isto é, com os meios próprios do direito civil (ou de
outro ramo do direito que não o penal)” (Nélson Hungria, Comentários ao Código
Penal, 1980, vol. VII, p. 173).

Voto nº 2337

Apelação Criminal nº 1.200.549/6


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
– Benefício legal que é, a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
nº 9.099/95) não pode prescindir do requisito subjetivo (bons antecedentes).
69

Voto nº 2579

Apelação Criminal nº 1.231.303/8

Arts. 171 e 33 do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito


próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional fechado lhe
serve para a contenção do impulso criminoso e reparação do mal que causa
à sociedade.

Voto nº 2882

Apelação Criminal nº 1.240.225/4


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– A liberdade de requerer das partes “não deve degenerar em abuso por forma a
paralisar a marcha do processo, com o propósito de retardar a administração da justiça
ou tumultuar a ordem processual” (Bento de Faria, Código de Processo Penal, 1960,
vol. II, p. 210).
– Não configura nulidade a falta de apreciação de tese da Defesa, quando a
sentença, em sua fundamentação, abraça entendimento oposto ao do réu,
que a essa conta fica implicitamente rejeitado.
– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito
próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Se primário o réu e cometida a infração penal sem violência nem ameaça à
pessoa, é obra de louvável política criminal substituir-lhe pela pena
restritiva de direito a privativa de liberdade não superior a 4 anos (art. 44
do Cód. Penal).
70

Voto nº 2972

Apelação Criminal nº 1.253.885/1


Art. 171 do Cód. Penal

– A fuga passa por argumento de culpa. Está a confirmá-lo o sovado anexim:


quem não deve não teme. A inocência não foge.
– É réu de estelionato o sujeito que apregoa falsamente a promoção de
bingo, com sorteio de grande cópia de prêmios e, após vender cartelas e
arrecadar vultosa quantia de dinheiro em espécie, põe-se ao fresco e
desaparece, causando notável prejuízo a pessoas que obraram de boa-fé
(art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 3057

Apelação Criminal nº 1.248.181/6

Art. 171 do Cód. Penal

– Por força de tradicional conceituação jurídica, maquinações fraudulentas


apenas configuram estelionato quando aptas a embair a fé ao homem de
mediano entendimento (art. 171 do Cód. Penal).
– Contraria as regras da prudência humana assinar alguém documentos, sem
lhes conhecer antes o conteúdo; por isso a escusa que se baseia na alegação
de ignorância do teor literal de instrumento de declaração, é sempre
recebida “cum grano salis”.
– Estribada em prova duvidosa da existência do crime ou de sua autoria,
será frágil toda a acusação e, pois, necessária a absolvição do réu.
71

Voto nº 3086

Apelação Criminal nº 1.259.309/6

Arts. 171 e 16 do Cód. Penal

– Pratica estelionato o sujeito que lança em guia de recolhimento de


contribuições previdenciárias valor mais alto do que o realmente devido
e, induzindo em erro o contribuinte, dele recebe cheque para pagamento de
igual valor, cuja diferença retém, logrando assim proveito ilícito em
prejuízo alheio.
– Aquele que se arrepende do mal feito e procura minorar-lhe as
consequências, ou restituir o dano à vítima, não pode ser despachado sem
alguma recompensa da Justiça punitiva, que reconhece em tal teor de
proceder causa obrigatória de diminuição de penas (arts. 16 e 65, nº III,
alínea b, do Cód. Penal).

Voto nº 3113

Apelação Criminal nº 1.252.529/7

Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;


art. 155 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que falsifica cheque de
terceiro e o dá em pagamento de mercadorias, pois sobre lesar o
beneficiário, obra com inescusável má-fé.
– Para os efeitos penais, reputa-se delito-meio (e, pois, “ante factum” impunível)
o furto de talonário, perpetrado com o intuito de obter vantagem ilícita,
em prejuízo alheio, pela emissão de cheques, o que constitui a figura típica
do estelionato (art. 171 do Cód. Penal).
– É o regime semiaberto compatível com a condição do réu condenado a
pena de curta duração, que, no entanto, revela personalidade empedernida
pelo atrito constante com a prática de crimes contra o patrimônio.
72

Voto nº 3202

Apelação Criminal nº 1.261.085/9


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– É ponto elementar da ciência do Direito que o ônus da prova compete


àquele que alega (“onus probandi ei qui dicit”). Isto mesmo dispõe o Código de
Processo Penal: “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer” (art. 156).
– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da
boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 3266

Apelação Criminal nº 1.270.263/8


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Não há crime de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se o cheque é emitido


como garantia de dívida (“pro solvendo”), e não “pro soluto”.
–“A lei não tutela como cheque o que não for emitido como meio de pagamento, mas para
garantia de dívida” (Rev. Tribs., vol. 266, p. 131).
– Aquele que durante largo período de sua existência não cometeu crime
tem por si o argumento da incapacidade moral para delinquir: somos o
que fomos.
– Nenhuma condenação deve assentar senão em prova plena e incontroversa
da culpabilidade do réu.
73

Voto nº 3271

Apelação Criminal nº 1.274.033/1

Arts. 171, “caput”, e 44 do Cód. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que dá, em


pagamento de mercadorias, cheque de terceiro, de origem ilícita, com
prejuízo para a vítima (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Se primário o réu e cometida a infração penal sem violência nem ameaça à
pessoa, é obra de louvável política criminal substituir-lhe pela pena
restritiva de direito a privativa de liberdade não superior a 4 anos (art. 44
do Cód. Penal).

Voto nº 3333

Revisão Criminal nº 386.744/4

Art. 171 do Cód. Penal;


art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Não comete crime de estelionato quem, ao vender a terceiro cotas


de empresa comercial, silencia e não lhe especifica débitos preexistentes,
responsabilizando-se apenas, genericamente, pelo passivo. É que, tendo-se
obrigado já por cláusula contratual expressa, não lhe corria o dever jurídico
de falar.
–“Em linha de princípio, não constitui o silêncio manifestação de vontade, nem
afirmativa, nem negativa, nem tácita” (Orosimbo Nonato, Da Coação como
Defeito do Ato Jurídico, 1957, p. 83).
– Advertiu o maior de nossos penalistas: “Somente integra um crime a
fraude que reveste cunho de especial malignidade” (Nélson Hungria, Comentários
ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 182).
74

Voto nº 3378

Apelação Criminal nº 1.277.615/4

Art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal;


art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 346 do STF

– De todas as máximas que devem inspirar o Julgador, nenhuma se tem por


mais respeitável que esta: condenação exige certeza. Dúvida, em Direito
Penal, é o outro nome da falta de prova.
– Desde que os autos deparem dúvida ao Juiz, não fará melhor que absolver o
acusado, em obséquio ao princípio geral, vigorante nas legislações dos
povos cultos: “In dubio, pro reo”.
– A Jurisprudência tem proclamado que, mesmo após o recebimento da
denúncia, o pagamento de cheque sem fundos, pelo alto significado da
restituição do dano e por argüir ausência de fraude, escusa o rigor da lei
(cf. Edgard de Moura Bittencourt, Vítima, p. 178).

Voto nº 3408

Apelação Criminal nº 1.273.051/8


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Embora direito de todo o réu permanecer calado (art. 5º, nº LXIII,


da Const. Fed.), ensina a experiência vulgar que, em pontos de
responsabilidade criminal, ao silêncio recorre apenas quem tem culpa;
o inocente, se acusado, esse desde logo se defende com todas as potências
da alma.
– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.
Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por argüir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.
75

Voto nº 3536

Apelação Criminal nº 1.284.501/2

Arts. 155, § 4º, nº II, e 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 78, § 1º, do Cód. Penal

– Tem lá seu valor a confissão do réu na Polícia, máxime se feita em presença


de curador e ajustada aos mais elementos de prova dos autos.
–“A confissão do delito vale não pelo lugar em que é prestada, mas pela força de
convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95, p. 564; rel.
Min. Cordeiro Guerra).
– Por força do princípio da consunção, responde só por estelionato
(art. 171 do Cód. Penal), o autor de furto de talão de cheque em branco,
delito-meio para a obtenção de vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
mediante fraude.

Voto nº 3538

Apelação Criminal nº 1.286.237/0

Arts. 155, § 4º, nº IV, e 171, “caput”, do Cód. Penal

– A confissão, no geral sentir dos doutores, é a mais perfeita das provas


(“Confessio est regina probationum”): se em harmonia com os elementos dos
autos do processo, autoriza condenação.
– Incorre em caso de estelionato (art. 71 do Cód. Penal) o sujeito que, afetando
o caráter de funcionário de empresa distribuidora de gás, realiza visita
domiciliar e, sem precisão, procede à troca de registro de consumo,
cobrando pelo serviço.
76

Voto nº 3588
Agravo em Execução nº 1.293.483/5
Art. 171 do Cód. Penal;
art. 112, parág. único, da Lei de Execução Penal

– O dever é um dogma, perante o qual todos, respeitosamente, curvamos a


fronte. “As atribuições do Ministério Público, bem compreendidas, são as mais belas
que existem” (De Molénes, apud J.B. Cordeiro Guerra, A Arte de Acusar,
1a. ed., p. 99).
– Se cometido o crime sem violência nem grave ameaça à vítima, pode o Juiz
dispensar o sentenciado do exame criminológico, suprindo-lhe a falta
com informações ou relatórios oficiais de que reúne méritos para a
progressão de regime prisional (art. 112, parág. único, da Lei de Execução Penal).

Voto nº 3680

Apelação Criminal nº 1.293.441/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 43, ns. I e IV, do Cód. Penal

– Realiza a figura típica do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, sujeitando-se


portanto ao rigor da lei, o indivíduo que, após ilaquear a boa-fé de terceiro
mediante a falsa alegação de que fora contemplado em sorteio, obtém-lhe
indevida vantagem econômica, sob a promessa de entrega futura de
imaginário prêmio.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, aliadas à confissão extrajudicial
do réu, bastam a justificar-lhe a condenação.
77

Voto nº 3815

Apelação Criminal nº 1.304.831/4


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 78, § 1º, do Cód. Penal

– De muito sutil, graves autores não fazem distinção entre o ilícito civil e o
penal. Trata-se — como lhes chamou Giuriati — de zona cinzenta entre o
reino branco do direito civil e o reino sombrio da delinquência: “la zona
grigia fra il regno bianco del diritto civile e il regno nero della criminalità” (apud
Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 191). A
melhor doutrina, contudo, reputa configurada fraude penal quando o
sujeito põe o intento num fim ilícito.
– O sujeito que adquire a terceiro estabelecimento comercial (padaria) e
dá-lhe em pagamento imóvel penhorado e notas promissórias, que não
resgata, demais de dilapidar o novo patrimônio, incorre nas penas de
estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal), por seu claro propósito de,
mediante fraude, obter vantagem ilícita em prejuízo alheio.
– Não se procede à substituição da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, se isto equivale a sancionar a impunidade de sujeito
que se abalizou na vida do crime, dela fazendo profissão.

Voto nº 3850

Revisão Criminal nº 391.444/6


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em pagamento


de mercadorias, dá cheque de terceiro, de origem ilícita, com prejuízo para a
vítima (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Na revisão criminal, compete ao peticionário demonstrar que a sentença
condenatória errou ou praticou injustiça, aliás prevalecerá a soberania da
coisa julgada, que se não pode violar sem prova cabal, firme e inconcussa
(art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal).
78

Voto nº 3859

Apelação Criminal nº 1.306.379/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– A mentira verbal apta a induzir a erro o homem comum constitui o meio


fraudulento para a perpetração do estelionato.
– Incorre nas penas do art. 171, “caput”, do Cód. Penal o sujeito que, inculcando-
se por empregado de proprietário rural, obtém do vizinho, após embair-lhe
a boa-fé, certa importância em dinheiro, com que procederia a reparos em
cerca divisória, serviço porém jamais executado.

Voto nº 3873

Revisão Criminal nº 390.014/9


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

– A falta do laudo de avaliação do prejuízo causado à vítima de estelionato


não induz nulidade ao processo, pois nesse caso prevalece a dúvida, que
aproveita sempre ao réu (“in dubio pro reo”).
– Em respeito ao princípio da hierarquia das instâncias, compete ao Juízo
de primeiro grau de jurisdição (que não ao Tribunal) conhecer e julgar
originariamente de pedido de extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão executória da pena (art. 110 do Cód. Penal).
– Na esfera da revisão criminal, é ao peticionário que toca provar, em todo o
rigor, que a sentença condenatória afrontou a evidência dos autos; do
contrário, decairá do pedido, por absoluta carência de pressuposto legal (art.
621, nº I, do Cód. Proc. Penal).
79

Voto nº 3899

Apelação Criminal nº 1.311.151/6


Arts. 171, “caput”, e 71 do Cód. Penal

–“A confissão livre é, sem contradição, prova a mais peremptória, aquela que esclarece,
convence e satisfaz, no mais alto grau, a consciência do Juiz: Omnium probationum
maxima” (Cons. Vicente Alves de Paula Pessoa, Código do Processo Criminal,
1882, p. 157).
– Há estelionato continuado se o réu, presentes as circunstâncias de tempo,
lugar e “modus operandi”, obtém vantagem ilícita, em prejuízo de vítimas, que
induz em erro mediante fraude ao dar-lhes em pagamento cheques falsos
por verdadeiros (arts. 71 e 171, “caput”, do Cód. Penal).

Voto nº 3915

Apelação Criminal nº 1.311.855/9


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 171, § 1º, e 16 do Cód. Penal

– É réu de estelionato quem, na condição de contador, recebe de cliente


importâncias em dinheiro para pagamento de encargos previdenciários
e entrega-lhe, à maneira de recibo, guias com autenticação mecânica
falsificada (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Ainda que não opere como causa de exclusão de ilicitude jurídica, a
restituição do prejuízo à vítima antes do recebimento da denúncia,
importa arrependimento posterior, nos termos do art. 16 do Cód. Penal.
– Se de pequeno valor o prejuízo da vítima e primário o réu, será bem
reconhecer-lhe o privilégio do art. 171, § 1º, do Cód. Penal, com aplicação de
multa somente, por evitar os males das penas detentivas de curta duração.
80

Voto nº 3920

Apelação Criminal nº 1.311.213/2

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– A arguição de nulidade por falta de apreciação de teses da Defesa não


prevalece contra a sentença cuja conclusão se mostre com elas inconciliável.
É que “a sentença precisa ser lida como discurso lógico” (STJ; REsp nº 47.474/RS;
6a. Turma; rel. Min. Luiz Vicente Cernicchiaro; DJU 24.10.94, p. 28.790).
– Incorre nas penas do art. 171, “caput”, do Cód. Penal o sujeito que, insinuando-
se por agente de turismo, recebe de pessoas dinheiro para excursão, que
todavia não promove, antes com ardil e malícia desaparece da sociedade,
sem deixar rastros. O que procede nessa conformidade comete fraude
penal, e não civil, porque, desde o início, armava ao escopo de induzir a
vítima em erro para obter vantagem ilícita, apanágio do estelionatário.

Voto nº 3923

Apelação Criminal nº 1.315.079/1


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Incorre nas penas do estelionato o sujeito que, contratado para prestar


serviços a condomínio, obtém vantagem ilícita, mediante falsa
autenticação mecânica de guias de recolhimento de tributos devidos à
previdência social, artifício com que ilude a boa-fé de terceiros,
malversando-lhes os cabedais pecuniários (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
81

Voto nº 4329

Apelação Criminal nº 1.322.485/2

Arts. 171, “caput”, e 77 do Cód. Penal

– É réu de estelionato (art. 171 do Cód. Penal) e digno do rigor da lei o sujeito
que, inculcando-se agente credenciado a vender unidades de fictício
condomínio residencial, induz em erro pessoas simples e obtém-lhes
indevida vantagem patrimonial.
– Tem a jurisprudência dos Tribunais conferido especial relevo à palavra da
vítima, entre os meios de prova. Salvo caso de comprovada má-fé ou erro
(que se não presumem), há de receber-se por expressão da verdade; figura
central dos crimes de estelionato, a vítima possui, sobre todos, interesse na
fiel apuração dos fatos e na realização da justiça.

Voto nº 4650

Apelação Criminal nº 1.349.837/0

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 43 do Cód. Proc. Penal

– A exclusão de coautor ou partícipe não importa a rejeição da denúncia


nem ofende o princípio da indivisibilidade da ação penal, se não havia
justa causa para instauração de “persecutio criminis in judicio” contra o
excluído.
– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a
prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.
– Sem prova plena e incontroversa de sua culpabilidade, não há decretar a
condenação do réu, ainda que de sombria nomeada nas expansões da
delinquência.
82

Voto nº 4802

Apelação Criminal nº 1.348.349/3

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal

– Os sistemas de segurança dos estabelecimentos comerciais não são


infalíveis: pode-lhes não raro a malícia frustrar a eficácia e ensejar a
perpetração de delitos. Não se trata, pois, de crime impossível, mas de
tentativa de furto, a ação do larápio que, após subtrair e ocultar produtos
sob as vestes, é preso à saída de supermercado.
– É réu de estelionato, na forma tentada, o sujeito que, utilizando-se de
cartão de crédito de outrem, cujo nome assina, adquire produtos em
supermercado, mas, descoberta logo sua fraude, é detido e entregue à
Polícia (art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 4808

Apelação Criminal nº 1.346.455/3

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da


boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– A falta de prova cabal da imputação obriga o Juiz a pronunciar o “non
liquet” e mandar em paz o réu, pois somente a certeza autoriza decreto
condenatório (art. 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal).
83

Voto nº 4811

Apelação Criminal nº 1.347.181/8

Art. 171, § 2º, nº V, do Cód. Penal;


art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Ampara-se em bons fundamentos a condenação, por estelionato, do


sujeito que, no intento de receber o valor do seguro, comunica falsamente
à Polícia ocorrência de sinistro em sua empresa (art. 171, § 2º, nº V, do
Cód. Penal).
– Por força da regra geral do ônus da prova (art. 156 do Cód. Proc. Penal), a falta
de demonstração cabal de álibi equivale a confissão da autoria do crime e,
pois, autoriza edito condenatório.

Voto nº 5007

Apelação Criminal nº 1.372.941/0


Art. 171, §§ 1º e 2º, nº VI, do Cód. Penal

– É réu de estelionato, na modalidade prevista no art. 171, § 2º, nº VI, do Cód.


Penal, o agente que, em pagamento de coisa adquirida a terceiro, entrega-lhe,
com omissão da circunstância, cheque sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado.
– Na aplicação do privilégio do art. 155, § 2º, do Cód. Penal, não importam
somente o pequeno valor da coisa furtada e a primariedade do réu,
senão também sua biografia social: “é necessário que o sujeito apresente
antecedentes e personalidade capazes de lhe permitirem o benefício” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 514).
84

Voto nº 5118

Apelação Criminal nº 1.378.551/5

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– A confissão, os juristas sempre a reputaram a rainha das provas (“regina


probationum”); se produzida em Juízo, é absoluto seu valor, visto se presume
livre dos vícios de inteligência e vontade, e pode justificar edito
condenatório.
– Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em proveito
próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro, causando-lhe
prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
– Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem freios à
estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional fechado lhe
serve para a contenção do impulso criminoso e reparação do mal que causa
à sociedade.

Voto nº 5125

Apelação Criminal nº 1.353.711/8

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.
85
Voto nº 5192

Apelação Criminal nº 1.356.285/0

Arts. 171, “caput”, 61, nº I, e 71 do Cód. Penal;


art. 33, § 1º, alínea a, do Cód. Penal

– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da


boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– Ainda que condenado a pena de curta duração, pode o autor de
estelionato ser obrigado a cumpri-la sob o regime inicial fechado, se
indivíduo de notória e intensa militância na esfera do crime (art. 33, § 1º,
alínea a, do Cód. Penal).

Voto nº 5209

Apelação Criminal nº 1.371.751/1

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Não cai sob a rubrica das nulidades nem viola direito das partes o
despacho que, no prazo do art. 499 do Cód. Proc. Penal, indefere a realização
de diligência que não é cabal nem imprescindível à decisão da causa.
– O réu que é deveras inocente não hesita em afirmá-lo desde o primeiro
instante. Se, na fase policial, preferiu remeter-se a obliterado silêncio, nisto
mesmo deu a conhecer sua culpa. É que ninguém, exceto se não estiver
em seu acordo e razão, permanece calado, quando deveria falar para
defender-se de acusação injusta e infame.
– Nada alegar, ou não provar o alegado, tudo é um (“allegare nihil, et allegatum
non probare paria sunt”).
– Pratica estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o funcionário de serventia
extrajudicial que, animado do propósito de obter ilícita vantagem
econômica, solicita a terceiro, que o procurara para regularizar escritura
pública, dinheiro para pagamento de multa fictícia, causando-lhe, destarte,
prejuízo mediante fraude.
86

Voto nº 5375

Apelação Criminal nº 1.368.317/2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Pratica o delito de estelionato em seu tipo fundamental (art. 171 do Cód.


Penal) o sujeito que, para satisfazer despesas, entrega a comerciante cheque
de terceiro falsificado, embaindo-lhe a fé. A circunstância de ser a vítima
pessoa ingênua não desnatura o tipo penal nem serve de escusa ao réu,
antes, por arguir maior periculosidade, deve a Justiça atuar com especial
rigor em relação àquele que, sem princípios éticos, não escrupuliza em
enganar, para obter vantagem indevida, ainda os mais crédulos e
simplórios.

Voto nº 6613

Apelação Criminal nº 420.510-3/6-00


Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 107, nº IV, 1a. fig., do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
Súmula nº 17 do STJ

– É réu de estelionato quem, para obter vantagem ilícita, usa documento


falso. O “falsum”, no caso, faz as vezes de delito-meio e, pelo princípio da
consunção, é absorvido pelo estelionato. É a substância da Súmula nº 17 do
STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por
este absorvido”.
–“Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá
declará-lo de ofício” (art. 61 do Cód. Proc. Penal).
87

Voto nº 8315

Apelação Criminal nº 484.486-3/9-00

Art. 171 do Cód. Penal;


arts. 158 e 386, nº VI, do Cód. Proc. Penal

– Se o réu nega o que a testemunha afirma, nada há de certo e a Justiça tem o


dever de respeitar o direito de cada um de considerar-se inocente
(cf. César Beccaria, Dos Delitos e das Penas, § VIII).
– É princípio universalmente recebido que a condenação, pelos gravíssimos
efeitos que acarreta ao indivíduo, apenas tem lugar se demonstrada, acima
de toda a dúvida, a materialidade do fato criminoso, sua autoria e a
culpabilidade do agente.
– No Direito Penal, em pontos de dúvida, prevalece o prolóquio sublime
inscrito nos emblemas da Justiça Criminal: “In dubio pro reo”.
–“Nenhuma presunção, por mais veemente que seja, dará motivo para imposição de pena”
(art. 36 do Código Criminal do Império).
– Mais que meras conjecturas acerca da culpabilidade do acusado, são
necessárias, para sua condenação, provas tão claras como a luz meridiana:
“probationes luce meridiana clariores” (cf. Giovanni Brichetti, L’Evidenza nel
Diritto Processuale Penale, 1950, p. 111).
– Absolve-se o réu da imputação de estelionato (art. 171 do Cód. Penal), se a
prova não evidenciou ter procedido com dolo, isto é, com a vontade livre e
consciente de auferir vantagem ilícita mediante fraude.
– Sem prova plena e incontroversa de sua culpabilidade, não há decretar a
condenação do réu, ainda que de sombria nomeada nas expansões da
delinquência.
88

Voto nº 8317

Apelação Criminal nº 484.590-3/3-00

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;


art. 156 do Cód. Proc. Penal

– Realiza a figura típica do art. 171, “caput”, do Cód. Penal, sujeitando-se


portanto ao rigor da lei, o indivíduo que, após ilaquear a boa-fé de terceiro
mediante falsa alegação, obtém-lhe indevida vantagem econômica.
– As palavras firmes e coerentes da vítima, aliadas a frágil e infidedigna
autodefesa do réu, bastam a justificar-lhe a condenação, pois as manobras
fraudulentas do estelionatário não ostentam, pelo comum, a clareza da luz
meridiana.
– De muito sutil, graves autores não fazem distinção entre o ilícito civil e o
penal. A doutrina mais bem aforada, no entanto, considera penal a fraude
quando o sujeito visa a um fim ilícito (art. 171 do Cód. Penal).

Voto nº 11.435

Apelação Criminal nº 990.08.116758-1

Art. 171 do Cód. Penal

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal) o sujeito que vende veículo, sob
promessa de entregar o respectivo documento ao comprador tanto que
efetue o pagamento do preço da transação, mas não desempenha sua
palavra, por não possuir título de propriedade do bem.
– A mentira verbal, desde que apta a induzir em erro a vítima e causar-lhe
prejuízo, constitui meio fraudulento do estelionato.
89

Voto nº 9045

Apelação Criminal nº 484.373-3/3-00


Art. 171 do Cód. Penal;
art. 107, nº IV, 1a. fig., do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

–“Se o réu é confesso, não há perder tempo em levar adiante o exame


da prova. Parte confessa é parte condenada” (Rui, Obras Completas, vol. XXIV, t. II,
p. 270).
– Cai nas penas do estelionato, pela manifesta violação do princípio da
boa-fé, o agente que paga mercadoria com cheque alheio falsificado. Não
lhe serve de escusa o argumento de que recebeu o cheque a estranho, se o
não comprovou “ad satiem”, pois esta é comumente a defesa dos que,
mediante fraude (falsificação), costumam induzir incautos a erro para
obter vantagem ilícita (art. 171 do Cód. Penal).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de
prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença
condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 358).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de
exame ou deliberação.
90

Voto nº 9936

Apelação Criminal nº 1.173.512-3/8-00


Arts. 213; 223, parág. único, e 224, alínea a, do Cód. Penal;
art. 499 do Cód. Proc. Penal;
arts. 1º, nº V; 2º, § 1º, e 9º da Lei nº 8.072/90

– Não cai sob a rubrica das nulidades nem viola direito das partes o
despacho que, no prazo do art. 499 do Cód. Proc. Penal, indefere a realização
de diligência que não é cabal nem imprescindível à decisão da causa.
– A confissão, máxime se feita perante o Magistrado, tem o caráter de prova
ilustríssima; segundo o famoso Ulpiano, equipara-se não menos que à
coisa julgada: “Confessio habet vim rei judicatae”.
–“A confissão judicial tem valor absoluto e, ainda que seja o único elemento de prova,
serve como base à condenação” (Rev. Tribs., vol. 744, p. 573).
– Tem a palavra da vítima importância capital nos crimes contra a
liberdade sexual. Se ajustada ao conjunto probatório dos autos, enseja
condenação: ao cabo de contas, ninguém se reputa mais apto a discorrer
das circunstâncias e autoria do crime que a pessoa que lhe padeceu
diretamente os agravos físicos e morais (art. 213 do Cód. Penal).
– O aumento especial de pena previsto no art. 9º da Lei nº 8.072/90 (Lei dos
Crimes Hediondos) para os crimes de estupro e atentado violento ao
pudor, somente é aplicável se ocorrer lesão corporal grave ou morte
(cf. STJ; 5a. Turma, rel. Min. José Dantas; cf. Rev. Tribs., vol. 721, p. 548).
– A Lei nº 11.464, de 28.3.2007 atenuou o rigor da Lei dos Crimes Hediondos
(Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime prisional de
cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver dela descontado
já 2/5 — ou 3/5, se reincidente — e conspiram os mais requisitos legais,
faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
91

Voto nº 11.614

Apelação Criminal nº 990.08.078486-2


Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 107, nº IV, 1a. fig., do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

– As palavras firmes e coerentes da vítima, conjugadas a inverossímil


explicação do réu, conferem ao acervo probatório a certeza de que necessita
o julgador para proferir condenação.
– Salvo prova em contrário, a cargo de quem o alegar, entende-se emitido
como ordem de pagamento o cheque, e não garantia de dívida, pois
aquela é sua característica específica. Ele não garante, solve o débito. “É um
quase-dinheiro, que traduz uma ordem de pagamento que se exaure com o recebimento
do seu valor” (Paulo Restiffe Neto, Lei do Cheque, 1973, p. 39).
– A conduta de quem, ilaqueando a fé a terceiro, mantém-no em erro e,
mediante falsa promessa de pagamento, obtém vantagem econômica
indevida, constitui, à evidência, a figura típica do art. 171 do Código Penal.
– Tratando-se de cheque sem fundos (art. 171, § 2º, nº VI, do Cód. Penal),
somente não haverá crime se provar o emitente que o recebedor sabia da
inexistência de fundos em poder do sacado.
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
– Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser objeto de
exame ou deliberação.
92

Voto nº 12.414

Apelação Criminal nº 993.03.071041-0


Arts. 171 e 312 do Cód. Penal;
art. 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

– Fraude “é qualquer malicioso subterfúgio para alcançar um fim ilícito” (Nélson


Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, t. VII, p. 169).
– Embora funcionário público, é réu de estelionato — e não peculato — o
agente que, mediante fraude, obtém proveito ilícito em prejuízo da
autarquia (arts. 171 e 312 do Cód. Penal).
– O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
– A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui forma de
prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria sentença
condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).
–“Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá
declará-lo de ofício” (art. 61 do Cód. Proc. Penal).

Voto nº 8701

Apelação Criminal nº 993.059-3/7-00

Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

– Pratica estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) o sujeito que, após
induzir em erro a vítima por meio fraudulento, dela recebe dinheiro em
pagamento de coisa que lhe não entrega e, pois, causa vultoso prejuízo.
– Há fraude penal “quando o sujeito visa a um fim ilícito, extravasando os limites da
esperteza comercial” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 650).
Casos Especiais
(Reprodução integral do voto)
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.165.865/4


Comarca: São Paulo
Apelante: GAS
Apelado: Ministério Pùblico

Voto nº 1894
Relator

– A lei não tutela como cheque o que não


for emitido como ordem de pagamento à
vista. A prova, no entanto, da deturpação
de sua finalidade competirá a quem o
alegar, sob pena de caracterizar-se o crime
do art. 171, § 2º, do Cód. Penal.

– O argumento de que o réu padecia reveses


financeiros, por isso emitiu o cheque sem
provisão de fundos, é contraproducente: o
homem avisado nunca subestima as
consequências da prática de ato ilegal.
96

1. Condenado pela r. sentença de fls. 115/120, do MM. Juízo


de Direito da 4a. Vara Criminal da Comarca da Capital, à pena
de 1 ano de reclusão, no regime aberto, e 10 dias-multa,
substituída a pena privativa de liberdade pela restritiva de
direitos consistente na prestação de serviços à comunidade, por
infração do art. 171, § 2º, nº VI, do Código Penal, dela interpôs
recurso para este Egrégio Tribunal GAS, levando em vista
reformá-la.

Nas razões apresentadas por seu dedicado patrono,


afirma que o fato é penalmente atípico, pois o cheque de sua
emissão fez as vezes de garantia de dívida, não de ordem de
pagamento.

Destarte, e também porque incomprovado o elemento


moral do crime, aguarda absolvição (fls. 151/155).

Apresentou contrarrazões a digna Promotoria de Justiça:


refutou os argumentos da nobre Defesa e encareceu a
confirmação da r. sentença de Primeiro Grau (fls. 158/160).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em incisivo e


firme parecer do Dr. José Correia de Arruda Neto, opina pelo
improvimento do recurso (fls. 165/166).

É o relatório.

2. Foi submetido a processo o apelante porque, no dia 1º de


dezembro de 1995, durante o horário comercial, na Rua Ziba,
nesta Capital, emitiu cheque sem suficiente provisão de fundos
em poder do sacado.
97

Rezam os autos que o réu solicitara um empréstimo a


Gilberto Ribeiro Paes, que lho concedeu.

Após alguns dias, foi Gérson ao escritório de Gilberto, no


predito endereço, e deu-lhe cheque do Banco Bradesco S/A,
agência Nossa Senhora do Ó, em pagamento do empréstimo.

Apresentado ao banco, foi o referido cheque devolvido


por falta de fundos.

Entrou a vítima em contacto com Gérson, que lhe pediu


reapresentasse o cheque ao banco, o que fez; novamente,
porém, foi a cártula devolvida, pelo mesmo motivo.

Outra vez a vítima procurou o réu, mas debalde: tomara


rumo ignorado.

Após curso regular, foi sentenciado o processo e


condenado o réu, que pretende agora absolvição.

3. Interrogado em Juízo, afirmou que a cártula bancária,


cuja cópia se vê em fl. 8, dera à vítima como promessa de
pagamento (fls. 80/82).

Suas declarações, no entanto, foram contrariadas de rosto


pela vítima, segundo a qual recebera o cheque para pagamento
à vista (fls. 92/93).

Nessas mesmas declarações abunda a testemunha


Salvador José dos Reis (fls. 94/95).
98

A versão exculpatória apresentada pelo réu, portanto,


acha-se em rixa aberta com a prova dos autos.

4. No particular em causa avulta a malícia com que o réu


obrou: deu à vítima cheque sem suficiente provisão de fundos e,
procurado por esta, orientou-a que de novo o apresentasse.
Mais uma vez o banco recusou o cheque, por insuficiência de
fundos.

O argumento de que, ao tempo dos fatos, padecia reveses


financeiros não lhe serve de escusa, pois que é de homem
prudente prevenir as consequências da emissão de cheque sem
lastro bancário, fato que a lei define por ilícito penal.

É verdade que a lei não tutela como cheque o que não


for emitido como ordem de pagamento. No caso sujeito,
entretanto, ao invés do que sustenta a nobre Defesa, o cheque
dado à vítima foi-o com a sua função própria de ordem de
pagamento, compromisso que o réu não soube honrar.
Perpetrou, assim, o delito previsto no art. 171, § 2º, nº VI, do
Código Penal.

Esta é a jurisprudência de nossos Tribunais:

“O cheque é uma ordem de pagamento à vista e, quando dado como


promessa, cabe ao interessado comprovar tal fato, nos termos do
art. 156 do Cód. Proc. Penal, pois, caso contrário, vige a
presunção legal” (RJDTACrimSP, vol. 2, p. 92; rel. Geraldo
Lucena).
99

Comprovada a prática ilícita, era de rigor a decretação


da procedência da denúncia; a condenação do réu, portanto,
satisfez à exigência da prova e aos ditames da Lei.

A pena, aplicada com louvável critério (substituída a


corporal por restritiva de direitos), não tolera modificação.

Confirmo, pois, a r. sentença proferida pelo distinto e


culto Juiz Dr. Marcelo de Freitas Brito.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 26 de janeiro de 2000

Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.253.885/1


Comarca: Socorro
Apelante: GBL
Apelado : Ministério Público

Voto nº 2972
Relator

– A fuga passa por argumento de culpa. Está


a confirmá-lo o sovado anexim: quem não
deve não teme. A inocência não foge.

– É réu de estelionato o sujeito que apregoa


falsamente a promoção de bingo, com
sorteio de grande cópia de prêmios e, após
vender cartelas e arrecadar vultosa quantia
de dinheiro em espécie, põe-se ao fresco e
desaparece, causando notável prejuízo a
pessoas que obraram de boa-fé (art. 171 do
Cód. Penal).
101

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 1a.


Vara da Comarca de Socorro, condenando-o a cumprir, sob o
regime aberto, a pena de 1 ano de reclusão e 10 dias-multa, por
infração do art. 171, “caput”, do Código Penal, interpôs recurso
para este Egrégio Tribunal, com o intuito de reformá-la, GBL.

Alega, nas razões de apelação que lhe apresentou distinto


e culto patrono, que a prova dos autos, precária e insegura, não
ensejava edição de decreto condenatório.

Acrescenta que, segundo ocorre nas mais das vezes,


também aqui foi pego o peixe pequeno, tendo escapado o grande.

À derradeira, espera a Defesa que, por equidade, seja o réu


absolvido por insuficiência de provas (art. 386, nº VI, do Cód. de
Proc. Penal).

Remata, invocando o prolóquio sublime que exorna os


brasões da Justiça Criminal: “In dubio pro reo” (fls. 470/474).

Apresentou contrarrazões de recurso a douta Promotoria


de Justiça: repeliu a pretensão da nobre Defesa e exaltou os
predicados da r. sentença de Primeira Instância (fls. 490/493).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme,


minucioso e avisado parecer do Dr. Roberto Gomes dos Reis
Ramalho, opina pelo improvimento da apelação (fls. 503/505).

É o relatório.
102

2. Foi submetido o réu a processo porque, no primeiro


trimestre do ano de 1995, na cidade de Socorro, obrando em
concurso e unidade de propósitos com dois outros indivíduos,
obteve para si vantagem patrimonial ilícita, no valor
aproximado de R$ 40.000,00, em prejuízo de União Atlético
Clube, Nadir Ribessi, Lázaro Stracci, José Nicolau Pinto,
Rosângela Aparecida Góis e de outras pessoas, induzindo-os
em erro, mediante fraude consistente na falsa promoção de
sorteio, por meio de bingo, de aparelhos eletrônicos,
motocicleta e um automóvel.

Rezam os autos que o réu e seus comparsas, atuando


com prévia intenção de obter vantagem patrimonial ilícita,
simularam um bingo, que seria promovido sob os auspícios do
Águas de Lindoia Esporte Clube, entidade da qual era presidente o
corréu OAF.

Para realizar seus intuitos, o réu e seus parceiros foram à


cidade de Socorro e entraram em contacto com a Diretoria do
União Atlético Clube, que envolveram em seu golpe, passando a
usar-lhe o nome e a imagem, além do estádio de futebol para o
simulado sorteio, mediante a retribuição de 15% sobre o valor
da arrecadação.

Em seguida, providenciaram a impressão e venda de cerca


de 5000 cartelas, pelo preço de R$ 8,00 cada uma, o que
importou em R$ 40.000,00.

Mas, tudo não passara de golpe, pois o réu e os mais


acusados não tinham sequer as autorizações administrativas
para a realização do indigitado bingo.
103

Além de que, os cheques que apresentaram à Diretoria do


União Atlético Clube para a aquisição dos prêmios não puderam
ser descontados por insuficiência de fundos, além de
pertencerem a terceira pessoa.

Após a obtenção da vantagem ilícita, o réu e seus asseclas


sumiram, indiferentes às consequências jurídicas de seus atos e
ao vultoso prejuízo que causaram, o qual somente puderam
atenuar mediante efetiva atuação da Polícia Civil, que
representou pela decretação de suas prisões.

Este, o teor da denúncia, julgada procedente em parte pela


r. sentença de fls. 457/462.

Os corréus foram absolvidos por insuficiência de prova; o


apelante, esse foi condenado, mas não se acurvou ao decreto
judicial e comparece, agora, perante esta augusta Corte de
Justiça, protestando inocência, ao mesmo tempo que reclama
absolvição.

3. A despeito dos ingentes esforços de seu Defensor, não há


que dizer contra a r. sentença que imprimiu na fronte do réu o
ferrete de estelionatário.

Deveras, análise, ainda que “per summa capita”, da prova


dos autos, evidencia que infringiu, em seu espírito e forma, o
art. 171 do Código Penal.

Foi, realmente, o protagonista do sucesso delituoso


descrito na denúncia.
104

Na quadra extrajudicial admitiu ele próprio a participação


na organização do bingo e a venda de 2400 cartelas (fl. 116).

Afirmaram-no, sem rodeios nem ambages, as


testemunhas Roberto Domingues de Souza: “esse Gesmel começou
a vender bilhetes e a pegar o dinheiro para ele” (fl. 371); Nadir Ribessi:
“ele vinha buscar dinheiro e estava sempre presente ali” (fl. 411) e
Nílton Tavares: “não deveria ter confiado no Gesmel e ele desapareceu”
(fl. 412 v.).

Com assaz de razão assentou a r. decisão de Primeiro


Grau que do procedimento do réu derivava a certeza do
elemento subjetivo do tipo (art. 171 do Cód. Penal).

Em verdade, como significou seu distinto prolator, “caso


não estivesse imbuído da intenção de prejudicar terceiros mediante
embuste, teria devolvido o dinheiro arrecadado com a venda das cartelas”
(fl. 460).

Ao revés, longe de restituir o dano, pôs-se ao fresco,


em confirmação do velho adágio: “não foge nem se teme
a inocência da Justiça” (Antonio Ferreira, Castro, 1974, p. 147).

4. Animado do intento de locupletar-se indevidamente, com


jactura alheia, o réu urdiu o plano de realizar um bingo, com
promessa de sorteios.

Tudo, no entanto, não era senão artifício para captar a


vontade de pessoas, embaindo-lhes a fé.
105

Praticou, em sua inteireza, o delito de estelionato: obteve


vantagem indevida, mediante fraude, em prejuízo de número
copioso de pessoas.

Seu procedimento, portanto, havia mesmo de cair sob a


letra do art. 171 do Código Penal.

Vem aqui de molde o magistério da Jurisprudência:

“Configura-se o crime de estelionato quando o acusado induz a


vítima em erro, mediante artifício e ardil, conseguindo vantagem
ilícita em prejuízo alheio” (Rev. Tribs., vol. 609, p. 392).

A objeção da ilustre Defesa de que, no particular de que se


trata, apenas o peixe miúdo ficara na rede, tendo-se ido os
maiores, interpreta-se como figura de retórica. Em boa verdade,
o caso dos autos patenteia a hipótese em que ao peixe graúdo (ou
sumo delinquente) foi que a Justiça deitou a mão.

Comprovada, sem dúvida, com rigor, a responsabilidade


criminal do réu, era força condená-lo.

A pena, a mínima cominada para o tipo, está correta e


não admite modificação.

A concessão de “sursis” ao réu não apenas lhe arguiu


direito subjetivo, senão que valeu por pedra de toque do raro
discernimento do insigne Magistrado que proferiu a sentença,
Dr. Rogério Murillo Pereira Cimino.
106

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 8 de maio de 2001

Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.356.395/6


Comarca: Franca
Apelante: Ministério Público
Apelado: HRS

Voto nº 5208
Relator

– No âmbito dos delitos patrimoniais,


perpetrados sem violência a pessoa, a
reparação assume especial relevo e
momento. Assim, o autor de estelionato
básico (art. 171, “caput”, do Cód. Penal) que,
antes da ação penal, satisfaz o prejuízo
causado à vítima, afasta, “ipso facto”, a
tipicidade de sua conduta e, pois, o rigor
da lei.
108

– Se a prova dos autos não desfaz a dúvida


quanto à culpabilidade do agente, será
bem que o Juiz o absolva, por amor do
princípio de curso universal: “In dubio pro
reo”. Mais do que probabilidade da autoria
do crime, a condenação reclama certeza,
que é sua única base legítima.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da 1a.


Vara Criminal da Comarca de Franca, absolvendo HRS da
imputação de infrator do art. 171, “caput”, combinado com o art.
71, do Código Penal, interpôs recurso para este Egrégio Tribunal,
com o intuito de reformá-la, o ilustre representante do
Ministério Público.

Pleiteia, com valentes e forçosos argumentos, a


condenação do réu, sob color de que, uma vez consumado o
estelionato, impossível era absolver o réu, ainda que tivesse
restituído o prejuízo à vítima; apenas lhe cabia o
reconhecimento da causa atenuante prevista no art. 65, nº III,
alínea b, do Código Penal.

Para este efeito, requer à colenda Câmara tenha a bem


prover-lhe o recurso e condenar o réu (fls. 76/78).

Apresentou a Defesa contrarrazões de recurso,


propugnando a manutenção da r. sentença atacada (fls. 80/81).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em firme e


abalizado parecer da Dra. Rosane Rolim, opina pelo
provimento da apelação (fls. 87/93).
109

É o relatório.

2. Foi o réu submetido a processo porque, nos dias 29 de


novembro e 2 de dezembro de 2001, em duas lojas da rede de
supermercados “Savegnago”, na cidade de Franca, obtivera para
si vantagem ilícita, induzindo em erro os funcionários da
empresa, em prejuízo da vítima Célia de Oliveira, mediante
meio fraudulento.

Reza a denúncia que o réu, como estivera na residência da


vítima, aproveitou-se de seu descuido e subtraiu-lhe o cartão
magnético do “Supermercado Savegnago”.

Em seguida, dirigiu-se à loja da Rua Saldanha Marinho,


onde, utilizando-se do referido cartão, efetuou compra no valor
de R$ 94,00; dias após, adquiriu novamente mercadorias no
valor de R$ 21,00, noutra loja da mesma rede.

Fizera-se passar, em ambas as oportunidades, pela pessoa


autorizada a utilizar o instrumento de crédito.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo na


forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 71/72 absolveu o réu,
com fundamento no art. 386, nº VI, do Código de Processo Penal.

A douta Promotoria de Justiça, no entanto, tendo para


si que o réu praticara ação típica, antijurídica e culpável,
manifestou recurso para esta augusta Corte de Justiça,
reclamando-lhe a condenação.
110

3. A despeito do zelo funcional e dos talentos de sua


subscritora, estou em que não procede o inconformismo.

Deveras, exame de espaço e refletido dos autos rende


ensejo a forte dúvida acerca da efetiva culpabilidade do réu.

A materialidade e a autoria do fato imputado ao réu


acham-se comprovadas além de toda a controvérsia, pela
confissão que fez em Juízo, sem salvas nem rodeios.

Em seu interrogatório — circunstância muito de notar —,


ajuntou que, “duas semanas depois”, compusera o dano à vítima
(fl. 45 v.). Esta, depondo na instrução criminal, confirmou-lhe
as palavras: em verdade, recebera do réu importância
correspondente ao prejuízo (fl. 53).

A r. sentença, com notável penetração, exarou que “o réu


não é pessoa dada à prática de delitos semelhantes” e que não obrara
“com dolo exacerbado, gerando, inclusive, dúvidas quanto ao elemento
subjetivo do delito” (fls. 71/72).

O raciocínio de Sua Excelência mostra-se lógico e


ajustado à realidade das provas reunidas no processado.

Com efeito, o ato de satisfazer o dano é contrário à ideia


de querer prejudicar.

Ora, alguns dias após a utilização indevida do cartão da


vítima, o réu, “sponte sua”, diligenciou por saldar-lhe o prejuízo.
Quem procede conforme este ditame verdadeiramente não
quer prejudicar terceiro.
111

Elementar do tipo, não se caracteriza o estelionato sem a


ocorrência do prejuízo à vítima.

4. Também no que respeita ao estelionato básico, mostra-se


aplicável o princípio que rege a emissão de cheque sem
suficiente provisão de fundos em poder do sacado,
consubstanciado na Súmula nº 554 da jurisprudência do
Colendo Supremo Tribunal Federal: “O pagamento de cheque
emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal”. “A contrario sensu”: efetuado
o pagamento antes do recebimento da denúncia, faltará justa
causa para a ação penal.

Vem a ponto registrar que, segundo palavras da vítima, o


réu embolsara-a da quantia do prejuízo “em meados de fevereiro”
de 2002, antes portanto do recebimento da denúncia: 30.7.2002
(fl. 42).

Ora, no âmbito dos delitos patrimoniais praticados sem


violência, a reparação do dano à vítima assume especial relevo e
momento.

Este Colendo Pretório de Justiça, decidindo hipótese


análoga à dos autos, sancionou a doutrina de que a reparação
do dano, antes do início da ação penal “afasta a tipicidade do
procedimento do agente”, em caso de estelionato básico.
112

A ementa do ven. acórdão é do teor seguinte:

“Se a reparação do dano, antes do oferecimento da denúncia, impede


que o prejuízo se concretize e afasta a tipicidade do procedimento
do agente, em se tratando de fraude no pagamento por meio de
cheque, não se compreende que não possa ter igual efeito jurídico,
no caso de estelionato básico.

A consumação do estelionato está relacionada à efetiva


verificação de uma diminutio patrimonii, em sentido econômico. É
óbvio, portanto, que se tal diminuição patrimonial inexistiu, em
virtude de pronta reparação do dano, antes mesmo do início da
ação penal, não há cogitar de tipicidade da conduta posta em
prática pelo agente” (JTACrSP, vol. 77, p. 300; rel. Silva
Franco).

Em vista da extrema penúria da prova acusatória acerca


do elemento subjetivo do tipo, a absolvição do réu era não
apenas o desfecho lógico do processo, mas ainda ato de
sabedoria.

Com efeito:

“Um decreto condenatório deve repousar em prova certa e segura,


não o autorizando apenas indícios, presunções e suspeitas”
(JTACrSP, vol. 65, p. 241).
113

Proferida, à luz dos melhores de direito, pelo distinto e


culto Juiz Dr. Luciano Franchi Lemes, a r. sentença de
Primeiro Grau merece confirmada em sua inteireza.

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 11 de dezembro de 2003

Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.168.353/3


Comarca: São Paulo
Apelante: AAJ
Apelado: Ministério Público

Voto nº 1933
Relator

– De muito sutil, graves autores não fazem


distinção entre o ilícito civil e o penal.
Trata-se — como lhes chamou Giuriati —
de zona cinzenta entre o reino branco do
direito civil e o reino sombrio da
delinquência: “la zona grigia fra il regno
bianco del diritto civile e il regno nero della
criminalità” (apud Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII,
p. 191). A melhor doutrina, contudo,
reputa configurada fraude penal quando
o sujeito põe o intento num fim ilícito.
115

– Comete estelionato (art. 171 do Cód. Penal)


o agente que falsifica documentos para
obter vantagem ilícita, mediante
financiamento de contrato de compra e
venda de veículos automotores, em
prejuízo da instituição-vítima.

– Não se procede à substituição da pena


privativa de liberdade por restritiva de
direitos, se isto equivaleria a sancionar a
impunidade de sujeito que se abalizou na
vida do crime, dela fazendo profissão.

1. Inconformado com a r. sentença que proferiu o MM. Juízo


de Direito da 30a. Vara Criminal da Comarca da Capital,
condenando-o a cumprir, no regime aberto, a pena de 1 ano e
9 meses de reclusão, além de 16 dias-multa, por infração do
art. 171, “caput”, combinado com o art. 71, do Código Penal, apela
AAJ para este Egrégio Tribunal, pondo o intento em reformá-
la.

Nas razões de apelação, apresentadas por dedicado e culto


profissional, argui o apelante preliminar de incompetência do
Juízo para conhecer e julgar do processo, uma vez se trata de
mero ilícito civil, estranho à esfera do Direito Penal.

No mérito, argumenta que não praticou delito algum; ao


demais, a prova de autoria da infração penal era em extremo
frágil.

À derradeira, sempre teria havido fraude bilateral,


poderosa a descaracterizar o estelionato.
116

Pelo que, pugna pela absolvição, como ato de justiça (fls.


845/850).

A digna Promotoria de Justiça apresentou contrarrazões


de recurso, nas quais refutou a pretensão da Defesa e encareceu
a manutenção da r. sentença apelada (fls. 853/854).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em minucioso,


percuciente e sereno parecer do Dr. Roberto Gomes dos
Reis Ramalho, opina pela rejeição das preliminares suscitadas
e pelo improvimento do recurso (fls. 865/867).

É o relatório.

2. A Justiça Criminal chamou o apelante a dar-lhe contas


porque, no dia 19 de outubro de 1994, na Rua Boa Vista, 162
(Centro), nesta Capital, obrando em concurso e unidade de
propósitos com RCRJ, seu filho, obteve para si a vantagem
ilícita de R$ 20.000,00, em prejuízo da Companhia Bandeirantes –
Crédito, Financiamento e Investimentos, no financiamento do veículo
marca Fiat, modelo Tempra, mantendo-a em erro, mediante
fraude.

Consta ainda que, com o mesmo “modus operandi”, obteve


para si, em prejuízo daquela empresa-vítima, vantagens ilícitas,
por efeito de financiamento dos seguintes veículos:

a) GM/Vectra: R$ 36.000,00;
117

b) Volkswagen/Pointer: R$ 19.424,00;

c) Ford/Escort: R$ 15.120,00;

d) GM/Kadett: R$ 20.000,00.

Rezam os autos que RCRJ, sócio-cotista de Guinas Car


Veículos Ltda. até setembro de 1994, gozava de credibilidade
perante a instituição-vítima.

Por esta razão, o apelante, seu filho, simulou vendas de


veículos automotores, para que a instituição-vítima financiasse
a obrigação, supostamente assumida pelo comprador.

Para levar a termo seu desígnio de obter vantagem


indevida em detrimento da vítima, apresentou o apelante
cópias de documentos de outras pessoas, cujas assinaturas
foram falsificadas.

Instaurada a “persecutio criminis”, transcorreu o processo


em forma legal; ao cabo, foi condenado o apelante, mas, porque
não se resignasse ao desfecho condenatório, apelou para esta
colenda Corte de Justiça.

3. A questão agitada, em preliminar, no recurso (e que


entende com suposta incompetência “ratione materiae” do Juízo
apelado), não colhe a toda a evidência.
118

Na real verdade, de muito sutil, graves autores não fazem


distinção entre o ilícito civil e o penal. Trata-se de zona cinzenta,
na expressão de Giuriati — “la zona grigia fra il regno bianco del
diritto civile e il regno nero della criminalità” (apud Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 191) —, em que não
é possível estremar, com segurança, as raias do ilícito civil e do
ilícito penal.

A doutrina mais bem aforada, no entanto, considera


penal a fraude quando o sujeito visa a um fim ilícito.

No particular de que se trata, avulta desde logo essa


hipótese, porquanto, como o significou a r. sentença recorrida,
a “falsificação de documentos para enganar a empresa financeira” já
inculcava o desígnio de auferir enriquecimento ilícito e a
intenção de lesar.

Vem aqui a talho o magistério da Jurisprudência:

“De se reconhecer existência de fraude penal quando o escopo do


agente é o lucro ilícito e fraude civil quando o escopo é o negócio”
(RJDTACrimSP, vol. 3, p. 124; rel. Gonçalves Nogueira).

Em face do exposto, competente para conhecer e julgar do


fato imputado ao apelante é mesmo a Justiça Criminal. Rejeito,
de conseguinte, a matéria arguida em preliminar.

4. Sem embargo dos bons esforços da nobre Defesa, não há


atender aos protestos de inocência do réu, porque em radical
antagonismo com as provas dos autos.
119

De feito, inquirido na instrução criminal, declarou Wilson


Roberto Barranqueiros (inspetor do Banco Bandeirantes S/A),
que, convocado a proceder a levantamento dos financiamentos
realizados pela empresa Guinas Car, apurou que o dinheiro
liberado para financiar contratos de compra e venda “não era
repassado aos supostos financiados” (fl. 752).

A testemunha Dalton Homero de Almeida, depondo à


fl. 754, afirmou que, como não tivesse comprado nenhum
veículo à empresa Guinas Car, estranhou haver-lhe o Banco
Bandeirantes S/A enviado um carnê de pagamento.

Em contacto com o apelante, este lhe “admitiu ter efetuado o


financiamento em nome do depoente”.

Declarou mais a testemunha que, no referido banco, lhe


foi mostrado contrato de financiamento com sua assinatura
falsificada.

Pelo mesmo teor, o testemunho de Ismael do Nascimento


Tavares: estivera na empresa do réu e, mais tarde, lhe chegou à
notícia que financiamento foi liberado em seu nome, a despeito
de não haver celebrado negócio algum (fl. 755).

Donde se mostra claro que o apelante, servindo-se de


documentos de terceiros que lhe chegavam às mãos, deles se
utilizava para elaborar “declarações de compra e venda”, com o
intuito de obter financiamento.

Os contratos de financiamento, ou antes simples


simulacros, constituem o corpo de delito dos crimes
perpetrados pelo apelante.
120

A alegação de que o laudo grafotécnico não lhe positivou


a responsabilidade criminal não procede. Com efeito,
consignaram os peritos que os caracteres lançados na ficha
cadastral de Paulo Roberto Salvi (fl. 266) e de Greice da Rocha
Parra Pereira (fl. 43) provieram do punho de AAJ (fl. 498).

Por último, havendo o apelante preenchido as fichas


cadastrais de pessoas que não adquiriram veículos, servindo-se
delas na consecução de financiamento bancário, logo se lhe
descobre a culpa “lato sensu”.

Já no velho Direito Romano era vulgar a parêmia: “Cui


prodest scelus, is fecit” (em linguagem: aquele a quem aproveitou o
crime, esse foi o que o praticou).

Ora, os financiamentos foram pleiteados mediante


declarações expedidas pela empresa Guinas Car Veículos Ltda.,
de que o apelante era sócio.

Não há debate possível, portanto, em derredor de sua


atuação criminosa.

5. Assenta em prova técnica e oral inequívoca o decreto


de condenação.

Mediante fraude, consistente na falsificação de


documento de terceiros, o apelante induziu em erro a
instituição de crédito e obteve proveito ilícito. Infringiu, de
conseguinte, em seu espírito e forma, o art. 171 do Código Penal.
121

O argumento, que expendeu o estrênuo patrono do réu,


de que houvera, no caso, fraude bilateral, afigura-se
contraproducente: à uma porque, consoante o exarou a
r. sentença recorrida (fl. 818), “ficou comprovado que as assinaturas
foram falsificadas pelo próprio acusado”; à outra porque, a ter havido
conluio entre funcionários da instituição-vítima e da empresa
do apelante (o que apenas admito, não concedo), a fraude
bilateral não alcançaria a empresa financeira, pessoa distinta
deles.

A condenação do apelante era, pois, inarredável.

Foi-lhe a pena imposta segundo a medida legal e com


excelente critério: em razão de seus maus antecedentes e
personalidade propensa a delinquir, a r. sentença fixou-lhe a
pena-base em 1 ano e 2 meses de reclusão, além de 11
dias-multa; em seguida, majorou-a em 1/2 pela continuidade
delitiva.

O estabelecimento do regime prisional aberto e a não-


-substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
direitos arguem alto senso judicante do nobre Magistrado.

A pena substituta ou vicária representaria, no caso, a


impunidade de quem se abalizou na vida do crime, dela fazendo
profissão.

Em vista do que, hei por mui digna de subsistir, por seus


jurídicos e lógicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o
insigne Magistrado Dr. Mário Rubens Assumpção Filho.
122

6. Pelo exposto, rejeitadas as preliminares, nego


provimento ao recurso.

São Paulo, 9 de fevereiro de 2000

Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 1.167.356-3/6-00


Comarca: Cruzeio
Apelante: CRS
Apelado: Ministério Público

Voto nº 9939
Relator

– Fraude “é qualquer malicioso subterfúgio para


alcançar um fim ilícito” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, t. VII,
p. 169).

– Incorre nas penas de estelionato aquele


que, inculcando-se mediador entre as
partes em negócio imobiliário, causa-
-lhes prejuízo, por fraude e induzimento
a erro (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
124

– Não se exime da nota de estelionatário, e


pois incorre nas penas do art. 171, “caput”, do
Cód. Penal, o sujeito que, inculcando-se
(falsamente) corretor autorizado a vender
certo imóvel, mostra-o à vítima, que o
adquire e paga, e só ao depois percebe ter
sido ilaqueada em sua boa-fé.

– Para que seja a pena justa, segundo a


memorável lição do Marquês de Beccaria,
não deve ter senão o grau de rigor suficiente
para afastar os homens da senda do crime
(Dos Delitos e das Penas, § XVI).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de Direito da


3a. Vara da Comarca de Cruzeiro, condenando CRS à pena de
1 ano, 4 meses e 24 dias de reclusão, no regime fechado, e 13
dias-multa, por infração do art. 171, “caput”, do Código Penal,
interpuseram recurso de Apelação para este Egrégio Tribunal,
no intuito de reformá-la, o réu e o ilustre representante do
Ministério Público.

a) O réu, nas razões de recurso, afirma que o conjunto


probatório, inseguro e frágil, não autorizava um edito de
condenação.

Alega ainda que a sentença condenatória se fundara nas


declarações da vítima, incapazes, a seu aviso, para comprovar a
prática ilícita que lhe é imputada.

Requer, por isso, à colenda Câmara que o absolva e mande


em paz (fls. 257/262);
125

b) O Ministério Público, em bem elaboradas razões (fls.


221/223), argumenta que, ao fixar a pena do réu, não se houvera a
r. sentença com acerto, pois desatendeu ao critério da suficiência
e necessidade da prevenção e repressão do crime; pelo que, requer
a exasperação da pena.

As partes contrariaram os recursos (fls. 234/235 e 278/282).

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em percuciente e


abalizado parecer da Dr. João Carlos Meirelles Ortiz, opina
pelo provimento do recurso do Ministério Público, improvido o
da Defesa (fls. 285/288).

É o relatório.

2. A Justiça Pública ofereceu denúncia contra o réu porque,


em 31.5.2005, na Av. Major Hermógenes, em Cruzeiro, obteve
vantagem indevida, no valor de R$ 10.000,00, em prejuízo de Ana
Cristina de Almeida Silva, induzindo-a em erro mediante ardil.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o processo na


forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 213/216 julgou
procedente a denúncia para condenar o réu, por violação do
art. 171, “caput”, do Código Penal.

Malcontente com o desfecho da causa-crime, comparece


perante esta augusta Corte de Justiça, na expectativa de
absolvição.
126

3. A irresignação do apelante ao edito condenatório carece de


fomento jurídico; na real verdade, passa apenas por expressão
formal do direito de defesa garantido pelas legislações dos povos
cultos a todos os acusados, sem exceção.

Com efeito, vistos com tento e imparcialidade, estes autos


de processo dão a conhecer, além de dúvida, a responsabilidade
criminal do réu; pelo que, seu pedido de absolvição, com arrimo
em suposta fragilidade da prova, não se mostra atendível.

Em verdade, ao revés do que afirma em seu recurso, o


conjunto probatório definiu, sem dúvida, a culpabilidade do
réu: perpetrou crime de estelionato ao vender a terceiro,
mediante fraude, imóvel que lhe não pertencia. O corpo
de delito é o instrumento particular de compromisso de
venda e compra, entranhado nos autos (fl. 7). Dele consta,
substancialmente, que o apelante, no dia 31 de maio de 2005,
alegando a condição de representante legal da empresa “Sidpack –
Incorporações e Empreendimentos Imobiliários Ltda.”, vendeu às vítimas
Ronildo José da Silva e Ana Cristina de Almeida Silva, pelo preço
ajustado de R$ 33.200,00 (trinta e três mil e duzentos reais), um
imóvel situado na Rua 22, nº 50, no loteamento denominado
“Jardim Paraíso”, no município de Cruzeiro.

A vítima (Ana Cristina de Almeida Silva), nas declarações


que prestou na Polícia e em Juízo (fls. 23 e 152), descreveu, por
miúdo, as circunstâncias do negócio referente ao imóvel
do “Jardim Paraíso” e narrou o teor de proceder do réu que, após
embair-lhe a boa-fé, obteve vantagem ilícita, no montante de
R$ 10.000,00.
127

Com as palavras da vítima concordam as declarações de


seu marido Ronildo José Silva, o qual relatou com firmeza e
verossimilhança o episódio da frustrada compra do imóvel
(fls. 21/22).

Às declarações da vítima e de seu marido emprestou


grande força e relevo o depoimento de Paulo Tokio
Hioshima, proprietário da “Sidpack”, empresa comercial que
vendeu referido imóvel à “Cia. Terra”. Informou, perante o
Magistrado, que o réu “nunca foi procurador”, jamais prestou
serviços de corretagem para sua empresa (fl. 151).

O apelante admitiu haver realizado a transação imobiliária


(fl. 131). Sua confissão, portanto, retirou-lhe toda a esperança de
ser absolvido, já que em harmonia com os mais elementos de
convicção do processo.

Vem aqui a ponto, por isso, a alta lição de Rui: “Se o réu é
confesso, não há perder tempo em levar adiante o exame da prova. Parte
confessa é parte condenada” (Obras Completas, vol. XXIV, t. II,
p. 270).

Passa o mesmo na esfera dos Tribunais:

“A confissão do delito vale não pelo lugar em que é prestada, mas pela
força de convencimento que nela se contém” (Rev. Trim. Jurisp.,
vol. 95, p. 564; rel. Min. Cordeiro Guerra).
128

Na espécie em causa, ficou demonstrado que o apelante


interveio em negociação imobiliária com o desígnio de obter
vantagem ilícita em prejuízo alheio, mediante fraude, que “é
qualquer malicioso subterfúgio para alcançar um fim ilícito” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, t. VII, p. 169).

Ao teor de proceder do réu, por isso, quadra a primor a


pintura que, com mão de mestre, fez o maior de nossos
penalistas a respeito da fraude patrimonial:

“Fraude é o mimetismo dissimulador do camaleão (de cujo nome


latino stellio derivou, precisamente, o vocábulo estelionato), a
ardilosa mise-en-scène da aranha na caça aos insetos, o comodismo
solerte do cuco, que deposita os próprios ovos, para incubação, nos
ninhos de outros pássaros” (Nélson Hungria, op. cit., p. 167).

Incorreu, pois, na sanção do art. 171, “caput”, do Código


Penal.

À vista de prova tão eloquente e densa da materialidade do


fato e de sua autoria, unicamente a condenação poderia
responder à conduta do réu.

4. Ao vender como próprio imóvel alheio, causando prejuízo


a terceiro, mediante o ardil da elaboração de contrato
ideologicamente falso, infringiu o apelante o preceito do
art. 171 do Código Penal.
129

O ven. acórdão, abaixo reproduzido por sua ementa, faz


muito ao caso:

“A burla consistente na promessa firmada de compra e venda de


uma área de terras, sem que o promitente vendedor tenha qualquer
direito sobre elas, induzindo as vítimas em erro, através de
documentação sem força de produzir efeitos e outros meios
fraudulentos, obtendo, assim, vantagem ilícita, em prejuízo das
vítimas, caracteriza o delito de estelionato” (Rev. Tribs., vol.
543, p. 395).

O esforço verdadeiramente hercúleo dos advogados do


apelante por demonstrar-lhe a inocência foi baldado pela
robustez e intensidade da prova que, de forma inexorável, o
argui de haver praticado estelionato.

5. A crítica do apelo do Ministério Público à r. sentença,


no ponto da dosimetria da pena, afigura-se-me, “data venia”,
improcedente.

De feito, condenado pelo crime que lhe imputava a


denúncia (art. 171 do Cód. Penal), a r. sentença impôs ao réu a
pena cominada ao tipo, segundo razoável estalão: fixou-lhe a
pena-base 1/6 acima do mínimo legal e aumentou-a em 1/5 pela
circunstância agravante obrigatória da reincidência, o que tudo
perfez 1 ano, 4 meses e 24 dias de reclusão, e 13 dias-multa
(fl. 216).
130

Como o “quantum” da agravação fica ao “livre-arbítrio” do


juiz (cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 218), não cabe censura à r. sentença, máxime porque
determinou cumprisse o réu sua pena sob o regime fechado.

À derradeira, não se desabraçou o douto Magistrado da


tradicional recomendação acerca da quantidade da pena que se
deva infligir ao condenado.

Para que seja a pena justa, segundo a memorável lição do


Marquês de Beccaria, não deve ter senão o grau de rigor
suficiente para afastar os homens da senda do crime: “Perchè una
pena sia giusta, non deve avere che quei soli gradi d’intensione che
bastano a rimuovere gli uomini dai delitti” (Cesare Beccaria, Dei
delitti e delle pene, § XVI).

Isto mesmo preconizou o maior de nossos penalistas: “A


lição, a experiência dos acontecimentos do mundo atual me levaram a uma
revisão de meu pensamento, para renegar, para repudiar, de uma vez para
sempre, a pena-castigo, a pena-retribuição, que de nada vale e é de
resultado ineficaz. A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I,
p. 14).

Em suma: ainda que tenha em muito o zelo do combativo


Dr. Promotor de Justiça — e os altos predicados de inteligência
do subscritor do parecer da Procuradoria Geral de Justiça —,
estou em que nenhum reparo merece a r. sentença que proferiu,
com lógicos e jurídicos fundamentos, o distinto e culto
Magistrado Dr. Claudionor Antonio Contri Junior.
131

6. Pelo exposto, nego provimento aos recursos.

São Paulo, 18 de março de 2008

Des. Carlos Biasotti


Relator
PODER JUDICIÁRIO

6
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA – SEÇÃO CRIMINAL

“Habeas Corpus” nº 1.003.154-3/7-00


Comarca: São Caetano do Sul
Impetrante: Ministério Público
Paciente: LMO

Voto nº 7799
Relator

–“As atribuições do Ministério Público, bem


compreendidas, são as mais belas que existem”
(De Molénes; apud J.B. Cordeiro Guerra,
A Arte de Acusar, 1a. ed., p. 99).

– Segundo a comum opinião dos doutores e a


jurisprudência de nossos Tribunais, não
comete crime de estelionato o acadêmico de
Direito que, por festejar a data comemorativa
da instituição dos cursos jurídicos no País —
11 de agosto —, pratica a denominada “pendura”,
isto é: dirige-se a uma casa de pasto e, após
comer à tripa forra e entrar galhardamente
pelas bebidas, chama a seu pé o dono do
133
estabelecimento e comunica-lhe, em discurso
de pompa e circunstância, que aquele troço de
estudantes quer homenageá-lo como a amigo
e benfeitor da velha e gloriosa Academia
de Direito do Largo de São Francisco,
além de significar-lhe eterna gratidão pelo
“oferecimento” do memorável banquete.

– Em escólio ao art. 176 do Código Penal


escreveu Damásio E. de Jesus:“Entendeu-se
haver mero ilícito civil e não penal, uma vez que o
tipo exige que o sujeito não possua recursos
para o pagamento dos serviços” (Código Penal
Anotado, 17a. ed., p. 674).

– Dispõe o art. 659 do Cód. Proc. Penal que, se o


Tribunal verificar ter já cessado a violência
ou coação ilegal de que se queixa o paciente,
lhe julgará prejudicado o pedido de “habeas
corpus”.

–“Julga-se o habeas corpus prejudicado quando o


impetrante obtém, durante a ação, a situação jurídica
reclamada” (STJ; HC nº 1.623/2; 6a. Turma;
rel. Min. Vicente Cernicchiaro; j. 18.12.96).

1. O ilustre advogado Dr. Mário Rui Aidar Franco impetra a


este Egrégio Tribunal ordem de “Habeas Corpus” em favor de LMO,
sob a alegação de que padece constrangimento ilegítimo da parte do
MM. Juízo de Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de São
Caetano do Sul.

Alega, em esmerada petição, que o paciente está a sofrer


coação ilegal por falta de justa causa para a persecução penal que
lhe foi instaurada perante aquele douto Juízo, por infração do art.
176 do Código Penal (tomar refeição em restaurante sem dispor de
recurso para efetuar o pagamento).
134

Foi o caso que — afirma o digno impetrante — o paciente,


acadêmico de Direito da Universidade do Grande ABC (UniABC), e mais
onze colegas, no dia 11 de agosto deste ano, dirigiram-se à
“Churrascaria Vivano Grill Ltda.”, situada na Av. Goiás, em São Caetano
do Sul, com o intuito de comemorar, com a tradicional “pendura”, o
aniversário da criação dos cursos jurídicos no Brasil.

Assim, após consumir comida e enfrascar-se em bebidas, o


paciente levantou-se e “leu um discurso”, no qual dava a conhecer ao
gerente da casa de pasto que não iriam pagar a conta, que ficaria
“pendurada” em obséquio ao onze de agosto, data caríssima aos
estudantes de Direito.

O gerente da churrascaria, no entanto, infenso à arenga


acadêmica, exigiu que os estudantes ocorressem às despesas, do
contrário solicitaria o concurso da Polícia Militar.

Da turma, oito satisfizeram ao pagamento; o paciente e mais


três colegas, contudo, esses recalcitraram: nada pagariam. Pelo que,
policiais militares, chamados a intervir na pendência, deram-lhes
voz de prisão e conduziram-nos à Delegacia de Polícia de São
Caetano do Sul, onde a autoridade de plantão os mandou autuar em
flagrante pelo crime de estelionato (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).

A instâncias da Defesa — que lhe pleiteou o relaxamento da


prisão por vício de formalidade (i.e., falta de comunicação da prisão
ao MM. Juiz de Direito do Plantão Judiciário) —, foi solto o
paciente mediante concessão de liberdade provisória.
135

Requer agora, assistido de distinto advogado, o


trancamento do inquérito policial, sob color de que o fato que
lhe foi imputado carecia de tipicidade penal; por isso, era força
pôr termo à “persecutio criminis in judicio” e mandá-lo em paz, em
ordem a que não se lhe comprometesse o futuro, com o registro
de crime em sua biografia social.

Em abono de sua pretensão, invocou a lição da Doutrina


(Paulo José da Costa Júnior, Código Penal Anotado, p. 711) e
a jurisprudência dos Tribunais (TACrimSP; HC nº 382.840/2;
6a. Câm.; rel. Almeida Sampaio; DOE 11.5.2001).

O pedido acompanha-se de numerosas cópias de peças


dos autos de inquérito policial (fls. 14/32).

O despacho de fls. 34/39 denegou a medida liminar pleiteada.

A mui digna autoridade judiciária indicada como coatora


prestou as informações de estilo (fls. 62/63), nas quais
esclareceu que os autos aguardavam manifestação da vítima
quanto ao interesse em representar criminalmente contra o
paciente.

A ilustrada Procuradoria Geral de Justiça, em arguto e


objetivo parecer do Dr. Arnaldo Gonçalves, opina pelo
não-conhecimento do pedido, pela perda de seu objeto (fls.
99/101).

É o relatório.
136

2. O alvo a que atira a impetração é obter desta augusta


Corte de Justiça ordem de “habeas corpus” para o trancamento do
inquérito policial instaurado contra o paciente.

O objeto da impetração, no entanto, já decaiu de momento


e interesse.

De feito, é força considerar prejudicado o pedido de “habeas


corpus”, uma vez que — e bem o observou o douto parecer da
Procuradoria Geral de Justiça (fl. 100) –– os autos foram arquivados,
nos termos do parecer ministerial (fl. 105).

A razão foi que, tratando-se de ação pública condicionada


(art. 176, parág. único, do Cód. Penal), era de preceito a representação da
vítima, ônus de que todavia se não desempenhou, conquanto
regularmente intimada (fl. 103).

A essa conta, perdeu seu objeto a impetração, pois


desapareceu a “causa petendi” (alegado constrangimento ilegal).

Faz ao caso a lição de Julio Fabbrini Mirabete:

“Verificando, em especial pelas informações, que já cessou a violência


ou a coação, como por exemplo, a prolação da sentença condenatória
ou a soltura do réu em caso de excesso de prazo na instrução
criminal, o juiz ou o Tribunal declaram que o pedido está
prejudicado. Deixou de existir legítimo interesse no remédio heroico
e o impetrante é, agora, carecedor da ação” (Código de Processo
Penal Interpretado, 7a. ed., p. 1.476).
137

Isto mesmo têm proclamado nossos Tribunais, como o


persuade o ven. aresto abaixo reproduzido por sua ementa:

“Julga-se o habeas corpus prejudicado quando o impetrante obtém,


durante a ação, a situação jurídica reclamada” (STJ; HC
nº 1.623/2; 6a. Turma; rel. Min. Vicente Cernicchiaro;
j. 18.12.96).

Assim, nos termos do art. 659 do Código de Processo Penal,


tenho por prejudicada a impetração.

3. No entanto, leve-se à paciência externe ligeiras observações


a propósito deste feito.

É a primeira a agradável impressão que nos infundem no


ânimo as boas ações e iniciativas louváveis.

Tenho uma delas entre mãos: a diligência que tomou sobre


si o digno e culto subscritor do parecer da Procuradoria Geral de
Justiça (Dr. Luiz Carlos Ormeleze), em ordem a obter, “sponte
sua”, documentos relacionados com o estágio da presente causa-
-crime.

Atos desse jaez, próprios somente dos espíritos esclarecidos


e cônscios da muita importância de suas funções, confirmam a
veracidade do conceito de De Molénes, citado pelo saudoso
Ministro Cordeiro Guerra, do Supremo Tribunal Federal: “As
atribuições do Ministério Público, bem compreendidas, são as mais belas
que existem” (A Arte de Acusar, 1a. ed., p. 99).
138

Este registro, com menção expressa do nome de distinto


Procurador de Justiça, faço-o como preito de admiração e justa
homenagem aos preclaros membros dessa nobre Instituição,
quando se comemora o Dia do Ministério Público: 13 de fevereiro.

4. A dar-se o caso que não interrompesse o curso da


persecução penal o despacho de fl. 105, que mandou arquivar o
inquérito policial — por falta de condição para o exercício do “jus
persequendi in judicio”: representação do ofendido —, a espécie dos
autos não incorria na censura do Direito.

Deveras, segundo a comum opinião dos doutores e a


jurisprudência de nossos Tribunais, não comete crime de
estelionato o acadêmico de Direito que, por festejar a data
comemorativa da instituição dos cursos jurídicos no País — 11 de
agosto —, pratica a denominada “pendura”, isto é: dirige-se a uma
casa de pasto e, após comer à tripa forra e entrar galhardamente
pelas bebidas, chama a seu pé o dono do estabelecimento e
comunica-lhe, em discurso de pompa e circunstância, que aquele
troço de estudantes o quer homenageá-lo como a amigo e
benfeitor da velha e gloriosa Academia de Direito, além de
significar-lhe eterna gratidão pelo oferecimento do memorável
banquete (a que soem, então, chamar “supino ágape” ou “simpósio
opíparo”); ato contínuo, rompem em fuga, a sete pés, pela porta de
saída, onde já os espera a Polícia!

Ao paciente o inquérito policial imputou o crime de


estelionato (art. 171 do Cód. Penal), visto que se recusara a pagar o
preço da consumação de produtos numa churrascaria, “mesmo
tendo recursos disponíveis” (fl. 15).
139

Em escólio ao art. 176 do Código Penal escreveu Damásio E.


de Jesus:

“Entendeu-se haver mero ilícito civil e não penal, uma vez que o tipo
exige que o sujeito não possua recursos para o pagamento dos
serviços” (Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 674).

Pelo mesmo teor, Guilherme de Souza Nucci, em sua


apreciada obra:

“Pendura: por força da tradição, acadêmicos de direito costumam,


como forma de comemorar a instalação dos cursos jurídicos no Brasil
(11 de agosto), dar penduras em restaurantes, tomando refeições sem
efetuar o devido pagamento. Tem entendido a jurisprudência, neste
caso, não estar configurada a hipótese do art. 176, pois, na sua
grande maioria, são pessoas que têm dinheiro para quitar a conta,
embora não queiram fazê-lo, alegando tradição. Tratar-se-ia, pois, de
um ilícito meramente civil” (Código Penal Comentado, 5a. ed.,
p. 706).

Professa a mesma inteligência o renomado penalista Paulo


José da Costa Júnior:

“Condição indispensável à configuração do crime é não dispor de


recursos para solver a obrigação. Desse modo, o estudante de direito
que vier a dar o “pendura”, no dia 11 de agosto, data da fundação dos
cursos jurídicos no Brasil, se dispuser de numerário suficiente,
surpreendido em flagrante e levado à polícia, não estará praticando
crime algum, nem em sua forma tentada. O crime não se realizou,
porque ausente um pressuposto: a falta de recursos para efetuar o
pagamento. A ausência do ilícito penal não elimina o civil, restando
ao estudante a obrigação de pagar a consumação” (Código Penal
Anotado, p. 711).
140

Passa o mesmo na esfera pretoriana:

“Percebe-se com nitidez que os recorrentes foram unicamente movidos


pelo animus jocandi. Não houve dolo, consistente na consciência e
vontade de praticar a ação sabendo que não dispunham de recursos
para efetuar o pagamento. Não houve fraude, no sentido de ludibriar
o comerciante, gerando nele a crença de uma situação financeira
diversa da real. Simplesmente quiseram brincar, seguindo secular
tradição dos estudantes do Largo de São Francisco, e não causar
prejuízo a terceiro em proveito próprio. Brincadeira. Sem dúvida,
reprovável, verdadeiro calote, que causou prejuízo ao comerciante.
Dano porém, reparável, através de competente ação civil, aliás já
proposta pela vítima” (TACrimSP; RHC nº 426.297-9/São Paulo;
rel. Gonzaga Franceschini; j. 14.4.86; v.u).

Assim, mesmo que não tivesse o MM. Juiz de Direito


determinado o arquivamento, por falta de condição de
procedibilidade, dos autos de inquérito policial, decerto não
triunfava, por atípica, a imputação formulada contra o paciente,
que estava a comemorar, com expansão de jovialidade e segundo
a tradição ininterrupta das Arcadas, o dia mais risonho das
efemérides acadêmicas: o 11 de agosto.

5. Pelo exposto, considero prejudicado o pedido de “habeas


corpus”.

São Paulo, 13 de fevereiro de 2007


Des. Carlos Biasotti
Relator
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurispudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurispudência);
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência).
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