EMPRÉSTIMO DE EFEITO SUSPENSIVO A RECURSO EXTRAORDINÁRIO – DEMISSÃO IMEDIATA – PRESTAÇÕES ALIMENTÍCIAS – RELEVÂNCIA DO PEDIDO E RISCO DE MANTER-SE COM PLENA EFICÁCIA O QUADRO – DEFERIMENTO.
1. Eis as informações formalizadas pela Assessoria:
O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas no
Estado de Roraima – STIU/RR formalizou ação cautelar, objetivando emprestar eficácia suspensiva ao Recurso Extraordinário nº 629.647/DF, em face do Ministério Público do Trabalho e da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima – CAER. Assevera, inicialmente, ser parte legítima para litigar em nome dos empregados da Caer, mostrando-se desnecessária expressa autorização dos sindicalizados para a substituição processual.
Segundo narra, ajuizou a Ação Rescisória nº 500-
02.2004.5.11.0000, objetivando desconstituir a sentença proferida na Ação Civil Pública nº 01049/2003-051-011-00, por meio da qual se homologou acordo entre o Ministério Público do Trabalho e a Caer, no qual fora ajustada a demissão sumária de 98% dos empregados da empresa, sem que tivesse sido oportunizado a eles ou ao sindicato da categoria o contraditório ou a ampla defesa, em ofensa ao artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. Aduz não haver sido citado para integrar a relação processual da referida ação coletiva, mas ter comparecido à audiência na qual fora homologado o acordo impugnado. Consoante argumenta, em razão da iminente demissão em massa, formalizou ação cautelar inominada perante o Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região, autuada sob o nº 196500- 09.2003.5.11.0000, visando emprestar efeito suspensivo à ação rescisória. O relator, Juiz Lairto José Veloso, deferiu a medida acauteladora, determinando que o Juízo da Vara de Boa Vista/RR se abstivesse de cumprir o acordo previamente homologado. Diz que o Colegiado confirmou a decisão, julgando procedente a ação. No entanto, o Ministério Público do Trabalho protocolou recurso ordinário ao Tribunal Superior do Trabalho, que foi provido monocraticamente pelo Ministro Alberto Luiz Bresciani, para extinguir a ação cautelar anteriormente proposta e cassar a liminar então existente. Assevera haver interposto agravo, sem sucesso, sucedendo-se o trânsito em julgado em 5 de novembro de 2010.
A partir de então, conforme argumenta, tornou-se possível
a execução do acordo. Em junho de 2011, alega haver o Juízo do Trabalho formalizado despacho determinando a intimação da Caer para o cumprimento, providenciando o pronto afastamento do quadro de pessoal de todos os empregados contratados sem concurso público e que não estejam investidos em cargo em comissão, sob pena de multa diária no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Alude à pendência de exame da mencionada ação
rescisória, atualmente em fase de recurso extraordinário, autuado sob o nº 629.647/DF e distribuído a Vossa Excelência. Anoto que a subida do extraordinário resultou do provimento dado por Vossa Excelência ao Agravo de Instrumento nº 716.911/DF.
Quanto ao mérito da discussão no extraordinário, diz
mostrar-se absurdo que os trabalhadores possam ser demitidos sem que lhes seja facultado o direito de defesa. Aponta a duração dos contratos de emprego bem como menciona a controvérsia existente até 1993, relativa à necessidade de concurso público para a admissão nas estatais. Refere-se ao Mandado de Segurança nº 22.357-DF, no qual o Supremo reconheceu o direito à manutenção no emprego a pessoas que ingressaram na administração indireta sem concurso público. Recorre ao artigo 54 da Lei nº 9.784/99 para sustentar a decadência do direito de a Administração anular os atos de admissão.
Segundo entende, a demissão sumária dos trabalhadores
poderia resultar em interrupção na prestação do serviço público de saneamento básico, violando assim o princípio da continuidade do serviço público. Cita decisão nesse sentido proferida na Ação Cautelar nº 200-1/SP, relator Ministro Ayres Britto.
Sob o ângulo do risco, busca a concessão de medida
acauteladora visando garantir o resultado útil do processo principal. Ressalta que a imediata demissão dos empregados não poderá ser posteriormente reparada pela Caer, e centenas de trabalhadores ficarão desempregados sem qualquer perspectiva imediata de recontratação.
Requer a concessão de liminar para suspender, em todos
os efeitos, o acordo homologado pela sentença rescindenda, intimando-se de imediato o Juízo da 1ª Vara do Trabalho de Boa Vista/RR, bem como para determinar à ré que desconsidere totalmente o Mandado de Intimação nº 051-00386/2011, expedido pelo referido Juízo. Busca seja determinado à Caer que se abstenha de tomar qualquer medida tendente ao afastamento dos empregados substituídos pelo sindicato autor até o trânsito em julgado da Ação Civil Pública nº 01049/2002- 051-011-00. No mérito, pretende a confirmação do pedido cautelar.
O processo encontra-se concluso para apreciação da
medida acauteladora.
2. Faz-se em jogo o alegado desrespeito ao inciso LV do artigo 5º da
Constituição Federal. O recurso extraordinário está em fase de remessa à Procuradoria Geral da República.
Tenho como relevante o pedido formulado e patente o risco de
manter-se com plena eficácia o quadro. A permanência implicará a dispensa imediata dos empregados da Companhia de Águas e Esgotos de Roraima – CAER, com a interrupção de parcelas a consubstanciarem prestações alimentícias. Vale ressaltar que, no âmbito do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região, foi implementada medida acauteladora, a qual acabou afastada pelo Tribunal Superior do Trabalho.
3. Defiro a liminar pleiteada para, até o julgamento final do Recurso
Extraordinário nº 629.647/DF, não virem a ocorrer as demissões cogitadas.
4. Deem ciência desta decisão ao Tribunal Superior do Trabalho, ao
Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região e à tomadora dos serviços, Companhia de Águas e Esgotos de Roraima – CAER.
5. Apensem este processo ao revelador do mencionado recurso
extraordinário.
6. Publiquem.
Brasília – residência –, 11 de setembro de 2011, às 21h10.