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ESTUDO E CARACTERIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DA CAATINGA NO


MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS/PB

*José Ribamar Gomes de Sousa


Aluno do Curso de Licenciatura Plena em Geografia do Centro de Formação de Professores
da Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Cajazeiras/PB. E-mail:
ribamar.gomes22@gmail.com

*Francisco Augusto de Souza


Professor da Unidade Acadêmica de Ciências Sociais do Centro de Formação de Professores
da Universidade Federal de Campina Grande – Campus de Cajazeiras/PB. E-mail:
faugustocz@bol.com.br

RESUMO: A biodiversidade da caatinga compreende o conjunto de todas as espécies de


seres vivos existentes na região do Semiárido do Nordeste do Brasil, desde microorganismos,
até animais e plantas. A importância da caatinga não se limita à sua elevada biodiversidade e
inúmeros endemismos. Como uma região semiárida altamente imprevisível e cercada de
biomas tropicais, a caatinga é uma anomalia climática e funciona como um importante
laboratório para estudos de plantas, invertebrados e vertebrados que se adaptam a um regime
de chuvas altamente variável e estressante. Este trabalho tem como objetivo estudar a
biodiversidade da caatinga no município de Cajazeiras, Estado da Paraíba, levando em
consideração os aspectos ambientais, socioeconômicos, socioculturais e políticos com base
nas diversidades bióticas e abióticas da caatinga. A metodologia utilizada na realização deste
trabalho foi baseada em levantamentos de materiais bibliográficos através de uma literatura
atualizada e especializada que forneceu subsídios teóricos e confiáveis para a pesquisa, no
caso, utilizando-se revistas, livros, jornais, artigos e etc.; as atividades de campo foram
realizadas junto às pessoas da zona rural, biólogos, agrônomos e geógrafos, mediante
aplicação de instrumentos de pesquisa, como questionários com perguntas dirigidas as
diversas classes sociais e entrevistas não estruturadas com a finalidade de obter informações
precisas e verídicas; as análises e a sistematização dos dados pesquisados foram baseadas nas
informações coletadas durante as atividades de pesquisas. Os resultados obtidos tiveram como
estratégia as observações feitas e os dados levantados e selecionados sobre a conservação dos
recursos naturais do ambiente da caatinga, a preservação da diversidade biota do ecossistema
caatinga, os problemas de degradação ambiental dos elementos bióticos com o desmatamento
para lavoura de subsistência ou para pastagens e abióticos nas áreas sob forte risco do
processo de desertificação e ações erosivas nos solos e, a divulgação da biodiversidade e as
suas principais características fitogeográficas. Diante desses aspectos levantados, concluiu-se
que a biodiversidade da caatinga passa por sérios problemas ambientais, como a extinções de
espécies da flora e da fauna, degradação dos solos e mananciais, decorrentes da ação humana.
Com isso, procura-se buscar soluções possíveis junto aos órgãos públicos, visando minimizar
os efeitos causados pela degradação ambiental resultantes das ações antrópicas e naturais,
melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade da população local, sem prejudicar o meio
ambiente e as futuras gerações. Tendo em vista as formas inadequadas de exploração dos
recursos naturais disponíveis no bioma da caatinga, as atividades deste trabalho foram
desenvolvidas considerando as literaturas escritas por especialistas e as opiniões dos
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trabalhadores rurais, de profissionais e pesquisadores envolvidos neste tema, respeitando suas


maneiras tradicionais de produção e suas características culturais.

Palavras chaves; Conhecimento, Degradação Ambiental, Biodiversidade e Caatinga.

ABSTRACT: The biodiversity of savanna comprises the set of all living species existing in
the semiarid region of Northeast Brazil, from microorganisms to plants and animals. The
importance of the scrub is not limited to its high biodiversity and many endemic. As a
semiarid region highly unpredictable and surrounded by tropical biomes, the savanna is a
climate anomaly and serves as an important laboratory for studies of plants, invertebrates and
vertebrates that are adapted to a highly variable rainfall and stressful. This work aims to study
the biodiversity of savanna in the municipality of Cajazeiras, Paraíba State, taking into
account the environmental, socio-economic, socio-cultural and political diversities based on
biotic and abiotic caatinga. The methodology used in this study was based on surveys of
bibliographic materials through current literature and expert who provided theoretical support
and reliable research, in this case, using magazines, books, newspapers, articles and so on.;
Activities field were held with the rural people, biologists, agronomists and geographers
through the application of research instruments such as questionnaires with questions to the
various social classes and unstructured interviews in order to obtain accurate and truthful;
analyzes and systematization of data surveyed were based on information collected during the
research activities. The results were as strategy observations and data collected and selected
on the conservation of natural resources of the environment of the savanna, maintaining the
diversity of biota savanna ecosystem, the problems of environmental degradation of biotic
deforestation for subsistence farming or grazing and abiotic areas at high risk of
desertification process and actions erosive soils and dissemination of biodiversity and its main
features fitogeográficas. Given these issues raised, it was concluded that the biodiversity of
the Caatinga undergoes serious environmental problems such as species extinctions of flora
and fauna, soil degradation and water sources, due to human action. With that, we try to find
solutions possible with public agencies in order to minimize the effects caused by
environmental degradation resulting from human activities and natural, improving quality of
life and sustainability of the local population, without harming the environment and future
generations. Given the inadequate forms of exploitation of natural resources available in the
savanna biome, the activities of this work have been developed considering the literature
written by experts and the opinions of rural workers, professionals and researchers involved in
this subject, respecting their traditional ways of production and cultural characteristics.

Keywords; Knowledge, Environmental Degradation, Biodiversity and Caatinga.


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INTRODUÇÃO
Este trabalho de pesquisa se constitui em um documento elaborado mediante estudos e
pesquisas realizadas sobre a biodiversidade da caatinga, levando em consideração a formação
vegetal do município de Cajazeiras - PB. Durante a realização da pesquisa, procurou-se
desempenhar o máximo possível para obter resultados satisfatórios que possam oferecer
conhecimentos básicos sobre a biodiversidade do ecossistema caatinga e as suas condições
ambientais.
As condições ambientais são responsáveis pelo estabelecimento da biodiversidade
potencial e consequentemente as temperaturas médias favorecem a ocorrência de um maior
número de espécies do que temperaturas extremas. Assim, a geomorfologia, o solo e o clima
são determinantes das condições naturais para a ocorrência de animais e plantas em cada
região. Em contraposição, os fatores antrópicos exercem pressão sobre a biodiversidade,
alterando sua composição e reduzindo a sua abrangência. No ambiente urbano, esta redução é
drástica, e no ambiente rural ocorre à redução espacial, na forma de mosaico, com a perda de
diversidade nos fragmentos de vegetação remanescente ou regenerada, devido à ação
antrópica do uso e manejo da terra.
Tendo como enfoque o semiárido nordestino, o desmatamento da caatinga
hiperxerófita, para atender a demanda de lenha principalmente, reduz a diversidade florística,
resultando na quebra do equilíbrio entre espécies. A criação de caprinos e ovinos é outra
atividade de grande impacto sobre a biodiversidade, quando excedem a capacidade de
suporte, prejudicando, principalmente a regeneração de algumas espécies.
Focalizando a biodiversidade da caatinga, no município de Cajazeiras - PB, um
indicador possível é a florística arbóreo-arbustiva, que pode ser extraída de inventários
fitossociológicos divulgados em literatura. Assim, levantou-se a hipótese da interação entre
dois grupos de fatores interferindo na diversidade de espécies arbóreo-arbustivas: as
condições naturais e o antropismo.
Este trabalho tem como objetivo geral gerar conhecimento sobre a biodiversidade da
Caatinga do semiárido nordestino brasileiro, a partir dos fatores ambientais como
precipitação, solo e relevo, considerando os aspectos físico-naturais e socioeconômicos
apresentados no município de Cajazeiras, no Estado da Paraíba.
A metodologia deste trabalho baseou-se em pesquisas bibliográficas, visitas de campo,
entrevistas com a comunidade da área de estudo, análises e interpretações dos dados
coletados, sistematização e elaboração deste trabalho.
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Enfim, os resultados apresentados mostram que a biodiversidade do bioma caatinga


vem sofrendo uma grande degradação devido à ação antrópica, e como consequências surgem
os problemas ambientais como o processo de desertificação e a extinção das espécies vegetais
e de animais silvestres.

1. Caracterização da Caatinga: Revisão Bibliográfica


O Nordeste Brasileiro possui a maior parte de seu território no domínio do clima
semiárido, área ocupada pela vegetação xerófila, denominada de caatinga.
Fitogeograficamente, a caatinga ocupa 11% do território nacional, abrangendo os Estados da
Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e norte de
Minas Gerais. Na cobertura vegetal das áreas do semiárido do Nordeste, a caatinga ocupa
cerca de 735.000 km², o que corresponde a 70% da região Nordeste. Quanto aos recursos
hídricos, aproximadamente 50% das terras recobertas com a caatinga são de origem
sedimentar, ricas em águas subterrâneas. Os rios, em sua maioria são intermitentes e os
volumes de água em geral limitada. A altitude da região varia de 0 a 600m. Sua temperatura
varia de 24 a 28°C, e a precipitação média de 250 a 1.000 mm anual e com elevado déficit
hídrico durante todo o ano (AB’SABER, 1997).
A vegetação de caatinga é constituída especialmente de espécies lenhosas e herbáceas,
de pequeno porte, geralmente dotadas de espinhos, sendo geralmente caducifólias, cactáceas e
bromeliáceas. Fitossociologicamente, a densidade, frequência e dominância das espécies são
determinadas pelas variações topográficas, tipo de solo e pluviosidade. Não existe uma lista
completa para as espécies da caatinga encontradas nas suas mais diferentes situações
edafoclimáticos (agreste, sertão, cariri, seridó, carrasco, entre outros).
Em trabalhos qualitativos e quantitativos sobre a flora e vegetação da caatinga, foram
registradas cerca de 596 espécies arbóreas e arbustivas, sendo 180 endêmicas. As famílias
mais frequentes são Caesalpinaceae, Mimosaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae e Cactaceae,
sendo os gêneros Senna, Mimosa e Pithecellobium com o maior número de espécies. A
catingueira (Caesalpinia pyramidalis Tul.), as juremas (Mimosa spp.) e os marmeleiros
(Croton spp.) são as plantas mais abundantes na maioria dos trabalhos de levantamento
realizados em área de caatinga (AB’SABER, 1997).

2. Biodiversidade da Caatinga
A Caatinga tem sido descrita como um ecossistema pobre em espécies e em
endemismos, Vanzolini et. al., (1997). Entretanto, estudos recentes têm desafiado esse ponto
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de vista e demonstrado a importância da caatinga para a conservação da biodiversidade. Já


foram registradas 932 espécies de plantas vasculares, 187 de abelhas, 240 de peixes, 167 de
répteis e anfíbios, 62 famílias e 510 espécies de aves e 148 espécies de mamíferos. O nível de
endemismo varia de 3% nas aves (15 das 510 espécies; a cerca de 7% para mamíferos e 57%
em peixes (ROSA et. al., 2003).
Mas, o número real de espécies na caatinga é provavelmente ainda maior, uma vez que
41% da região nunca foram investigadas e 80% permanecem subamostrada. Por exemplo, em
seu trabalho nas dunas do rio São Francisco, Rodrigues, (2003) encontrou 4 espécies
endêmicas de anfisbenídeos, 16 de lagartos, 8 de cobras e um anfíbio. Esse sistema de dunas
conta com 37% de todas as espécies endêmicas de lagartos e anfisbenídeos da caatinga, apesar
de cobrir uma área de apenas 7.000 km², ou seja, 0,8% da área total da região. Muitas espécies
da caatinga merecem atenção especial. A ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), por exemplo,
parece estar extinta na natureza, uma vez que seu único espécime selvagem conhecido foi
visto pela última vez em 2000. A arara-azul-de-lear (Andorhynchus leari), também endêmica
da caatinga, está restrita a duas colônias no Estado da Bahia, com uma população atual de
cerca de 246 indivíduos. O mocó (Kerodon rupestris) é um exemplo de convergência
evolutiva, compartilhando muitas características morfológicas, ecológicas e comportamentais
com o distante hírax (gênero rocavia) das savanas africanas.
Por fim, o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), que parecia estar extinto na caatinga, mas
foi recentemente redescoberto em remanescentes de florestas sazonalmente secas no Estado
da Bahia. Mas, a importância da caatinga não se limita à sua elevada biodiversidade e
inúmeros endemismos, como uma região árida altamente imprevisível e cercada de biomas
tropicais mésicos. A caatinga é uma anomalia climática e funciona como um importante
laboratório para estudos de como as plantas, os invertebrados e os vertebrados se adapta a um
regime de chuvas altamente variável e estressante.

3. Conservação da Biodiversidade da Caatinga


Recentemente, a caatinga foi considerada uma das 37 grandes regiões naturais do
planeta (regiões naturais que cobrem mais de 10.000 km², dos quais mais de 70% é
constituído por vegetação intacta). Contudo, ainda existem algumas controvérsias se a
caatinga realmente enquadra-se nessas categorias, dado seu atual nível de perturbação. Em
1993 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmou que 201.786 km2
(27,5%) da caatinga tinham sido transformados em pastagens, terras agricultáveis e outros
tipos de uso intensivo do solo. Esse valor foi provavelmente, subestimado porque não incluiu
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as estradas, cidades e pequenos povoados. A área de caatinga modificada obtida pelos autores
variou de 223.100 km² (com um efeito da zona de estrada de 1 km; e de 500 m para cada
lado) a 379.565 km² (com um efeito da zona de estrada de 10 km; e de 5 km para cada lado).
Apesar de essas estimativas serem perturbadoras, elas fornecem orientações para
seleção e planejamento de unidades de conservação. Atualmente, a região da caatinga tem 47
unidades de conservação com variados regimes de gerenciamento (16 federais, 07 estaduais e
24 privadas) que somam 4.956 km², aproximadamente 6,4% do bioma (SILVA et. al., 2004).
No entanto, apenas 11 unidades de conservação, cobrem menos de 1% da região, são áreas de
proteção integral, como parques nacionais, estações ecológicas e reservas biológicas. E para
piorar a situação, as unidades de conservação falham em proteger toda a biodiversidade da
caatinga. Por exemplo, dos 13 principais tipos de vegetação reconhecidos para a caatinga,
segundo Prado (2003), quatro não têm nenhum tipo de unidade de conservação.
Da mesma forma, nenhuma das populações das 44 espécies de aves passeriformes
endêmicas ou ameaçadas de extinção é protegida pelo atual sistema de unidades de
conservação (SOUZA, 2004). A falta de infraestrutura básica e de pessoal torna essas áreas de
preservação vulneráveis ao desmatamento, caça e fogo, pondo em perigo todos os esforços
para a criação de novas unidades de conservação.
Em 2000 o MMA promoveu um workshop que reuniu mais de 150 pesquisadores,
conservacionistas, tomadores de decisão e representantes do setor privado para selecionar as
áreas e ações mais importantes para a conservação da caatinga. O resultado foi à identificação
de 57 áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, 25 áreas prioritárias para
investigação científica e o esboço de um grande corredor da biodiversidade ao longo do Rio
São Francisco. Como parte dessa iniciativa, Silva et. al., (2004) redigiram um documento com
as principais estratégias para a conservação da biota da caatinga. Esse esforço conjunto
resultou no desenvolvimento de novas iniciativas de conservação em escala local e regional.
Na escala sub-regional ou regional, as áreas prioritárias e as áreas protegidas devem
ser manejadas como parte do programa de desenvolvimento regional da caatinga de maneira
consistente com os corredores da biodiversidade. Tais corredores devem ser estabelecidos e
testados em outras regiões, incluindo a floresta Atlântica brasileira. O primeiro passo para a
criação de uma grande e integrada rede de unidades de conservação foi à criação em 2001 da
Reserva da Biosfera da caatinga com uma área de 19.899.000 ha. Com essa iniciativa espera-
se criar uma rede de 22 áreas-núcleo (baseada em áreas protegidas já decretadas), conectadas
umas às outras através de zonas de amortecimento e de zonas de transição. No total, essa rede
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abrangerá 40% da área da caatinga, sendo 19.905 km² de áreas-núcleo e 268.874 km² de áreas
de amortecimento e de transição.
O gargalo para a implementação da maior parte dessas estratégias de conservação é a
quase completa falta de legislação regulatória, políticas públicas, mecanismos de incentivo
legal, instrumentos econômicos e oportunidades para a conservação da biodiversidade,
especialmente para a região da caatinga. Para isso, será necessário persistência, criatividade,
suporte político e financeiro consistente e conscientização da forte e evidente conexão entre a
melhoria das condições de vida da população – a caatinga é a síntese da pobreza do Brasil – e
a conservação da paisagem natural.

4. Problemas Ambientais da Região Semiárida do Nordeste Brasileiro


Embora apresente características ambientais tão adversas, a ocupação do ecossistema
caatinga se deu, principalmente, através da formação dos currais de gado em torno das
margens do rio São Francisco e seus afluentes. Junto aos currais e próximo às fontes de água,
desenvolveram-se comunidades que faziam roçados destinados aos plantios de feijão, arroz,
milho, cana-de-açúcar, mandioca e algodão. Os moradores podiam caçar, pescar e coletar
outros alimentos, principalmente frutos, o que contribuiu para formar uma sociedade
extrativista por excelência (PACHECO, 2004).
Atualmente, a região Nordeste abrange uma população estimada em mais de 25
milhões de habitantes, e apresenta problemas estruturais quanto à sustentabilidade dos
sistemas de produção de alimentos, que aliados aos constantes efeitos negativos do clima,
como as secas, dificultam sua manutenção e desenvolvimento, levando a deterioração do solo,
da água, diminuição da biodiversidade e, consequências ao meio ambiente. A pobreza da
região tem como fator a inadequada estrutura latifundiária, o sistema de crédito agrícola, a
comercialização, a assistência técnica, o deficiente educacional e a ocorrência de seca.
A base da economia da região é a agropecuária, criação de gado extensiva e
agricultura do sistema de sequeiro e irrigado em certas áreas. Nas áreas de sequeiro, os riscos
de não colher são grandes e aumentam nos períodos de seca. Nas áreas irrigáveis, há o risco
de salinização, embora sejam crescentes a produção de olerícolas e a fruticultura de manga,
uva, banana e do coco. Com relação à pecuária, a capacidade suporte da caatinga é de 8 a 13
bovino/ha e de 1 a 1,5 ha/caprino. A região Nordeste possui 10,4 milhões de caprinos
correspondendo a 88% do rebanho brasileiro, sendo que a ovinocultura corresponde a 39%
dos rebanhos com 7,2 milhões de ovinos. Como alternativa alimentar vem crescendo a
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formação de pastos de capim buffel gramínea exótica, que avança na região (PACHECO,
2004).
Com relação ao extrativismo vegetal, as principais espécies utilizadas são umbu
(Spondias tuberosa – Anacardiaceae), ouricuri (Syagrus coronata (Mart.) Becc. - Arecaceae)
e a carnaúba (Copernicia cerifera (Mart.) - Arecaceae). A produção extrativa do umbuzeiro
alcança 20.000 toneladas de frutos/ano, com áreas de coleta espalhadas por todo o Nordeste
brasileiro. Apesar desta importância socioeconômica, os trabalhos de pesquisa e
principalmente de conservação genética desta espécie são incipientes (SAMPAIO &
BATISTA, 2004).
Quanto à carnaúba, a produção nativa do Nordeste concentra-se nos estados do Ceará
e Piauí, sendo responsáveis por 80 a 90% da produção de cera brasileira, ela ainda é pouco
expressiva quando comparada à produção comercial. Já o ouricuri ou licuri, por ser uma
palmeira totalmente aproveitável, vem sendo explorada desde os tempos coloniais. Esta
extração vem causando a destruição dos licurizais, que ainda são explorados em larga escala.
Hoje, a utilização da caatinga ainda se fundamenta em processos meramente
extrativistas para obtenção de produtos de origens pastoril, agrícola e madeireiro. No caso da
exploração pecuária, o superpastoreio de ovinos, caprinos, bovinos tem modificado a
composição florística do estrato herbáceo.
A exploração agrícola, com práticas de agricultura itinerante tem modificado tanto o
estrato herbáceo como o arbustivo-arbóreo. E, por último, a exploração madeireira que já tem
causado mais danos à vegetação lenhosa da caatinga do que a própria agricultura migratória
(SAMPAIO & BATISTA, 2004). As consequências desse modelo extrativista predatório se
fazem sentir principalmente nos recursos naturais renováveis da caatinga. Assim, já se
observa perdas irrecuperáveis da diversidade florística e faunística, aceleração do processo de
erosão e declínio da fertilidade do solo e da qualidade da água pela sedimentação.
Em recentes levantamentos na região, os dados da cobertura florestal demonstraram
valores inferiores a 50% por Estado, devido à exploração extensiva das espécies para lenha e
carvão, para suprir indústrias alimentícias, curtume, cerâmica, olarias, reformadoras de pneus,
panificadoras e pizzarias. Em municípios da Chapada do Araripe, onde se localizam indústrias
de gesso, o consumo de lenha atinge valores de 30.000m³/mês, o que resulta em um
desmatamento de aproximadamente 25 hectares por dia, sendo a produção de vegetação
nativa da região de ordem de 40m³/ha.
Quanto ao problema de reposição florestal, os trabalhos de reflorestamento se
concentram na exótica algarobeira (Prosopis juliflora (SW) DC), importante tanto quanto aos
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problemas de ordem energética quanto forrageira. Entretanto, face às comodidades que a


espécie vem encontrando na região, corre o risco dessa espécie se tornar uma invasora,
principalmente nas áreas irrigáveis.
O valor extrativista deste ecossistema é particularmente crucial, em regiões onde
atividades agrícolas são comuns como as queimadas o uso do solo e a extração de madeira
para diferentes finalidades. Desta forma, torna-se urgente o conhecimento da flora, fauna, solo
e clima com informações fundamentais para o desenvolvimento de quaisquer estratégias de
ações, evidenciando o valor da biodiversidade, que venham a contribuir para um melhor
planejamento do manejo, usos e enriquecimento da caatinga (SAMPAIO & BATISTA, 2004).
Diante do exposto, algumas estratégias para o uso sustentável da caatinga vêm sendo
utilizadas, embora haja a necessidade de se discutir novas propostas mais adequadas às
condições regionais.

4.1. Principais Ameaças ao Ecossistema da Caatinga


Mais de 25 milhões de pessoas, aproximadamente 15% da população do Brasil, vivem
na Caatinga. A população rural é extremamente pobre e os longos períodos de seca diminuem
ainda mais a produtividade da região, aumentando o sofrimento da população (SAMPAIO &
BATISTA, 2004). A atividade humana não sustentável, como a agricultura de corte e queima
que convertem anualmente, remanescentes de vegetação em culturas de ciclo curto, o corte de
madeira para lenha, a caça de animais e a contínua remoção da vegetação para a criação de
bovinos e caprinos levam ao empobrecimento ambiental da Caatinga.
As florestas de galeria foram largamente substituídas por formações abertas nos
últimos 500 anos, afetando o regime de chuvas local e regional e levando ao assoreamento de
córregos e até mesmo de grandes rios. Rios anteriormente navegáveis, que permitiam o
transporte de animais e madeira do interior do país, estão, agora, sazonalmente secos.
Por fim, as técnicas de irrigação desenvolvidas nas últimas décadas para a fruticultura
e plantações de soja têm acelerado o processo de desertificação. A desertificação já atinge
15% da área da região e tem ameaçado a biodiversidade da Caatinga. Uma prova disso é que
28 espécies se encontram, nacionalmente ou globalmente, ameaçadas de extinção
(MEDEIROS et. al., 2000).

4.2. Processo de Desertificação


Desertificação é o processo de “degradação da terra nas regiões áridas, semiáridas e
subúmidas, resultante de diferentes fatores, entre eles as variações climáticas, e as atividades
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humanas”. O termo surgiu no fim dos anos 40 para identificar áreas que estavam ficando
parecidas com desertos ou aquelas em que os desertos aparentavam-se estar expandindo-se.
Esses locais são caracterizados pela escassez de chuva. As precipitações anuais variam
entre 250 a 800 mm/ano, geralmente concentradas em três ou quatro meses, alternadas com
prolongados períodos de seca. Cerca de 1 bilhão de pessoas (um sexto da população mundial)
mora em terras secas, que ocupam 37% da superfície terrestre. Nessas áreas, está também a
maior concentração de pobreza.
Mais vulneráveis à erosão, essas zonas têm passado por processos de degradação dos
solos, dos recursos hídricos, da vegetação e da biodiversidade somados à redução da
qualidade de vida da população. Por ser um problema global, a desertificação chamou a
atenção da comunidade internacional que, por meio da Organização das Nações Unidas
(ONU), que vem buscando saída para a questão e criando espaços para a discussão sobre o
tema desde a década de 70. No Brasil, 980 mil quilômetros estão sujeitos à desertificação e
existem diferentes causas para este fenômeno, quase todas associadas ao manejo inadequado
do solo, proporcionam perda dos recursos e a redução da capacidade produtiva das terras.
Os efeitos da degradação ambiental são maximizados por fatores estruturais, como má
distribuição de renda, alta densidade demográfica e incompatibilidade entre atividades
econômicas e as condições ambientais. No Nordeste, o descuido com a natureza tem criado
complicações que já podem ser percebidas: como a diminuição da disponibilidade de água,
assoreamento do Rio São Francisco, exposição excessiva dos solos a insolação por causa do
desmatamento, perda da umidade e a redução da biodiversidade da caatinga.

ASPECTOS METODOLÓGICOS

1. Método da Pesquisa
Este trabalho teve as suas atividades realizadas no município de Cajazeiras, no Estado
da Paraíba, através de uma metodologia fundamentada em dados teóricos e práticos dentro do
contexto físico-natural e sócio-econômico local, tendo com base de estudo o ecossistema da
caatinga.

1.2. Procedimentos Metodológicos


As atividades foram realizadas em três etapas: A primeira etapa - tratou-se de
levantamento bibliográfico e da construção da fundamentação teórica do trabalho. A segunda
etapa - deu-se com a pesquisa de campo, contatos com a comunidade local e a coletas de
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dados sobre os aspectos e as características da vegetação do município de Cajazeiras – PB. A


terceira etapa - tratou-se da análise, interpretação e sistematização dos dados coletados
durante a pesquisa. As técnicas da pesquisa foram realizadas de acordo com os objetivos e a
utilização de instrumentos adequados para coleta de informações. A pesquisa bibliográfica foi
realizada através de levantamento e seleção de materiais bibliográficos, como: publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, teses, monografias e outros documentos capazes de
oferecerem dados reais para a elaboração deste trabalho.
O trabalho de campo foi realizado com visitas às comunidades rurais para a obtenção
de informações sobre as características e manejo da vegetação caatinga. A pesquisa de campo
ocorreu no período de fevereiro de 2012 a janeiro de 2013. Nesse período, foram realizados
levantamentos de dados sobre a prática agrícola e o desmatamento no município de Cajazeiras
– PB. A análise e interpretação dos dados coletadas durante a pesquisa, fez-se como base nas
informações obtidas durante a pesquisa, sendo transformados em textos de acordo com as
técnicas e normas determinadas pela ABNT.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. Caracterização Ambiental e Geográfica do Município de Cajazeiras/PB


1.1. Posição Geográfica
O município de Cajazeiras/PB está situado na Longitude 38º 32’ Oeste, latitude 6º 47’
Sul. O clima predominante é definido de acordo com a classificação de Koppen, como Aw’,
denominado de clima tropical chuvoso, com pequena variação de temperatura média anual,
ocorrendo precipitações de forma expressiva nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. A
temperatura varia entre as médias de 24º C e 29º C, com uma amplitude térmica em torno de
5º C. Os meses mais frios correspondem a junho e julho e os mais quentes são outubro,
novembro e dezembro (IBGE, 2012).
Figura 01 - Mapa do município de Cajazeiras/PB

Fonte: Souza (2001)


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Limita-se ao Oeste com Cachoeira dos Índios e Bom Jesus, ao Sul São José de
Piranhas, a Norte com Santa Helena, ao Norte e Leste com São João do Rio do Peixe e ao
Sudeste, com Nazarezinho. A cidade esta localizada num ponto estratégico em relação aos
estados de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte e outros municípios que compõem o
Sertão Paraibano (IBGE, 2011).

2. A Biodiversidade da Caatinga
A Biodiversidade reúne toda variedade de vida, desde os microrganismos até os
animais e as plantas. É o conjunto de espécies que estabelece uma inter-relação no qual cada
ser, por mais simples que seja, tem sua função fundamental na composição do ecossistema.
A biodiversidade da caatinga vem sofrendo uma autêntica erosão na quantidade e na
qualidade da vida vegetal e animal, com muitos reflexos na sócio-econômica. Recentes
estudos começam a destacar a singularidade da biodiversidade do bioma e uma política de
preservação de uso sustentável que deve ser implementada com a perspectiva de restauração
geral de todo o espaço geográfico do bioma da caatinga. O principal desafio na caatinga está
sendo a conservação da biodiversidade, porque está entre as menores prioridades de
investimento. Infelizmente, os governos e as organizações não-governamentais ainda não
trataram adequadamente, das potenciais relações para a conservação da biodiversidade.
Apesar da crescente pressão econômica e dos planos de desenvolvimento do governo,
as condições para a implementação de estratégias regionais para a conservação da biota da
caatinga estão atualmente melhores do que no passado. Em primeiro lugar, era preciso que as
informações científicas básicas e as diretrizes para conservação fossem reunidas e
disponibilizadas para os tomadores de decisão, como aconteceu no workshop da caatinga e
nas publicações subseqüentes. Hoje, as estratégias já podem ser discutidas e colocadas em
práticas através de projetos financiados pelo Governo Federal e as instituições particulares.

3. Problemas Ambientais no Ecossistema na Caatinga


Os problemas ambientais no semiárido nordestino brasileiro são decorrentes das
atividades antrópicas de forma irracional, sem técnicas de manejo e uso inadequado dos
recursos naturais disponíveis no ecossistema da caatinga, como a ausências de políticas
públicas que possam interferir no processo de desenvolvimento da região.
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3.1. Desmatamento e Queimadas


Confundidas frequentemente com incêndios, as queimadas são também associadas ao
desmatamento. Na realidade, mais de 95% delas ocorrem em áreas já desmatadas,
caracterizadas como queimadas agrícolas. Os agricultores queimam resíduos de colheita para
combater pragas, para reduzir as populações de insetos ou para renovar as pastagens. O fogo
também é utilizado para limpar algumas lavouras e facilitar a colheita.
O impacto ambiental das queimadas é um tema preocupante, pois, envolve a
fertilidade dos solos, a destruição da biodiversidade, a fragilização dos agroecossistemas, a
destruição de linhas de transmissão, a produção de gases nocivos à saúde, a diminuição da
visibilidade atmosférica, acidentes em estradas e a limitação do tráfego aéreo, entre outros.
As queimadas interferem diretamente na qualidade do ar, na física, na química e na
biologia dos solos. A vegetação atingida pelo fogo e indiretamente podem afetar os recursos
hídricos. São muitos os tipos de queimadas, envolvendo vegetações diferentes. As condições
meteorológicas (presença de vento, temperatura ambiente), o relevo e a hora da queimada são
condicionantes da temperatura atingida pelo fogo e do tempo para a queima do material.

3.2. Espécies Ameaçadas de Extinção


Existem poucas informações e raros estudos sobre espécies vegetais e animais
ameaçados no ecossistema caatinga, apesar de existir no MMA/IBAMA listas oficiais de flora
e fauna ameaçada, vários especialistas consideram que elas são limitadas e que há um número
bem maior de espécies correndo risco de extinção.
a) Flora: a lista oficial da flora ameaçada de extinção apresenta 39 espécies para os
Estados do Nordeste e norte de Minas Gerais. Contudo, nesta lista, apenas consta duas
espécies que são do ecossistema Caatinga: Schinopsis brasiliensis e Astronium urundeuva
(Anacardiaceae).
b) Fauna: a lista das espécies ameaçadas de extinção no Brasil publicada pelo MMA
apresenta ao todo 395 espécies. Dessas, 234 ocorrem em estados do Nordeste e norte de
Minas Gerais. Contudo, fica difícil identificar, a partir desta lista, quais espécies ameaçadas
efetivamente são da caatinga. A partir do cruzamento das listas apresentadas das espécies
ameaçadas, obteve-se o seguinte panorama: mamíferos (07 espécies); e aves (27 a 31
espécies). Outras quatro espécies do ecossistema caatinga foram listadas como ameaçadas no
trabalho do PROBIO 2000: Ara maracana (Psittacidae); Picumnus fulvescens (Picidae);
Megaxenops parnaguae (Furnariidae) ; Formicivora iheringi (Thamnophilidae). Outras duas
não foram encontradas na lista da Caatinga: Aratinga auricapilla e Gyalophylax hellmayri.
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Os répteis e anfíbios não foram encontradas espécies na lista de ameaçadas e dos


demais grupos não se dispunha de informações suficientes. Conclui-se que, no mínimo, há 34
espécies de fauna ameaçadas de extinção no bioma Caatinga.

3.3. Espécies Exóticas Invasoras Ameaçam a Biodiversidade


O crescimento do comércio internacional e a globalização facilitaram o transporte de
sementes e plantas de um país para o outro. Com isso, muitas espécies exóticas começaram a
tomar o lugar das plantas nativas, diminuindo a biodiversidade. O Secretariado da Convenção
sobre Diversidade Biológica (CDB) estima que, desde 1600, as plantas exóticas contribuíram
com 39% para a extinção de todos os animais.
As espécies exóticas estão entre as principais causas de perda da biodiversidade do
planeta, tanto que a Convenção da Diversidade Biológica (CDB) prevê o controle e
erradicação delas e o Ministério do Meio Ambiente tem um projeto de levantamento de dados
em âmbito nacional, afirma o biólogo Marcelo Moro, mestrando em Desenvolvimento e Meio
Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC). A CDB considera espécie exótica toda
aquela que se encontra fora de sua área de distribuição natural.
As vantagens competitivas, a ausência de predadores e a degradação dos ambientes
naturais favorecem a dominação por essas espécies dos nichos ocupados pelas nativas.
Segundo o biólogo, a solução para esse problema seria o uso de espécies nativas na
arborização, trazendo grandes benefícios ecológicos e educacionais para a população.
Preocupado com a perda de biodiversidade, o Ministério do Meio Ambiente, por meio
da Diretoria do Programa Nacional de Conservação da biodiversidade e da Secretaria de
Biodiversidade e Florestas, está desenvolvendo um amplo programa voltado às espécies
exóticas invasoras. O programa busca identificar e localizar essas invasoras, além de avaliar
os impactos ambientais e socioeconômicos provocados por elas. O projeto é realizado em
parceria com setores governamentais, organizações não-governamentais e as universidades.

3.4. Principais Problemas do Processo de Desertificação


As principais causas do processo de desertificação na Região Nordeste do Brasil tem
sido levantada constantemente pelos pesquisadores, entre elas destacam-se:
A irrigação mal conduzida provocando a salinização dos solos, inviabilizando algumas
áreas e os perímetros irrigados do semiárido, o problema tem sido provocado tanto pelo tipo
de sistema de irrigação, muitas vezes inadequado às características do solo, bem como pelo
manejo como a atividade é executada, fazendo uma inundação da área irrigada.
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A pecuária extensiva praticada na região, também teria sua parcela de


responsabilidade. Seriam necessários 20 hectares no semiárido nordestino para alimentar um
bovino, mas, na prática, costuma-se colocar sete animais por hectare. Os animais acabam
comendo as plantas antes que elas produzam sementes, o que acaba eliminando as melhores
espécies, empobrece a terra e tornando a cobertura vegetal escassa. O pisoteio dos animais
compacta o solo e acelera a degradação.
O desmatamento, que além de comprometer a biodiversidade deixa os solos
descobertos e expostos à erosão, resultado das atividades econômicas, seja para fins de
agricultura de sequeira ou irrigada, seja para a pecuária, quando a vegetação é substituída
por pasto ou também para o uso da madeira como fonte de energia (lenha e carvão). O uso
intensivo do solo sem descanso e sem técnicas de conservação provocam erosão e
compromete a produtividade, repercutindo diretamente na renda do agricultor.
As populações empregam técnicas inadequadas e degradam as regiões, e passam a
migram para outras e reempregam as mesmas técnicas. Além de serem correlacionados,
esses problemas desencadeiam outros, de extrema gravidade para a região. É o caso dos
assoreamentos de cursos d'água e reservatórios, provocados pela erosão, que, por sua vez é
desencadeada pelo desmatamento e atividades econômicas prejudiciais ao meio ambiente.

3.5. Consequências do Processo de Desertificação


A degradação das terras secas causa sérios problemas econômicos. Isto se verifica
principalmente no setor agrícola, com o comprometimento da produção de alimentos. Além
do enorme prejuízo causado pela quebra de safras e a diminuição da produção, existe o custo
quase incalculável de recuperação da capacidade produtiva de extensas áreas agrícolas e da
extinção de espécies nativas, algumas com alto valor econômico e outras que podem vir a
serem aproveitadas na agropecuária, no melhoramento genético e na indústria farmacêutica.
Os problemas sociais estão intimamente relacionados aos custos econômicos. Segundo
estimativas das Nações Unidas, uma dieta nutricionalmente adequada para a crescente
população mundial implica a triplicação da produção de alimentos ao longo dos próximos 50
anos, meta difícil de ser alcançada, mesmo em condições favoráveis. Dentro desta perspectiva
pode-se esperar um agravamento significativo no quadro de desnutrição, falência econômica,
baixo nível educacional e concentração de renda e poder que já existem tradicionalmente em
muitas áreas propensas à desertificação nos países pobres ou em desenvolvimento.
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A falta de perspectiva leva a população a migrar para os centros urbanos. Procurando


melhores condições, estes migrantes tendem a agravar os problemas de infra-estrutura
(transporte, saneamento, abastecimento, entre outros) já existentes nos centros urbanos.

4. Uso Sustentável Integrado da Biodiversidade na Caatinga


Estamos vivendo a preocupação do aquecimento global, todos procurando fontes
alternativas e clamando por fontes renováveis de energia. A caatinga, com vegetação de rara
biodiversidade, vem sustentando a economia da região Nordeste ao longo dos anos por meio
de duas vertentes:
a) pelo fornecimento de energia: 33% da matriz energética da região são oriundas da
lenha obtida por meio da exploração não sustentável e 70% das famílias da Região utilizam
lenha para suas demandas domesticas;
b) pelo fornecimento de uma série de produtos florestais não madeireiros.
O recurso florestal está presente na vida do nordestino de maneira direta ou
indiretamente desde o homem rural do sertão que usa a floresta da caatinga como pasto para o
gado e para a produção de mel, passando pelas mulheres artesãs que obtém seu sustento com
a fabricação de artesanatos e da comercialização de plantas medicinais, até as cerâmicas e as
grandes indústrias de gesso, que geram renda para o país usando a lenha como energia.
O Sistema de cultivo, praticado pelos pequenos e médios produtores, é baseado na
alternância de terras florestais para agricultura, pastagem e posterior retorno para cobertura
florestal. Esse modelo é quem assegura a manutenção da fertilidade nos solos e dão
sustentabilidade ao modelo agropecuário que vem sendo praticado pelos pequenos e médios
produtores. As práticas inadequadas vêm fazendo com que os “ciclos” sejam cada vez
menores, impedindo s reposição dos elementos necessários e que venha a contribuir para a
sustentação da economia local. Assim, é importante termos ações que assegurem o papel de
“insumo ambiental” que o recurso florestal exerce nos sistemas produtivos.
A cada momento nos deparamos com vivências que nos demonstram que a relação do
homem com a biodiversidade pode e deve ser a saída para um amplo processo de conservação
ambiental. As Escolas modernas do desenvolvimento sustentável – como a do Prof. Ignacio
Sachs Ecosocioeconomista da Escola de Altos Estudos em Ciências Sócias em Paris que
dirige o Centro de Estudos sobre o Brasil Contemporâneo – afirma “O desafio da inclusão
social, da sustentabilidade e do desenvolvimento ecosocioeconômico no campo é reunir
biodiversidade, biomassa e biotecnologias” e “O reflorestamento deve ser feito dentro do
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conceito de florestas econômicas consorciadas com outras atividades agropecuárias, com


corredores ecológicos e recondicionamento das matas ciliares”.
Estudos realizados na região com apoio das Nações Unidas permitem uma melhor
visualização do potencial da caatinga, muitos já conhecidos empiricamente pelos sertanejos:
a) a caatinga apresenta em sua fisiologia mecanismos interessante para sua
regeneração, o que potencializa e simplifica seu manejo Florestal (utilização sustentável);
b) tem no potencial “forrageiro” seu produto florestal mais nobre, fundamental para
manutenção da pecuária extensiva no semiárido, com uma capacidade de produção forrageira
na ordem de 4 toneladas por hectares anual e a salvação dos rebanhos nas épocas de estiagem;
c) a lenha é o segundo energético da região – que além de ter um custo por Kcal,
menor que os derivados de petróleo, é um biocombustível de grande inclusão social – gerando
mais de 700 mil posto de trabalho e renda na época da “estiagem”, contribuindo para a
fixação do homem no campo, sem concorrer com outras atividades econômicas rurais. Por
outro lado, adotando-se as práticas de manejo florestal sustentável, ficamos na pauta do
Tratado de Kyoto, na busca das fontes energéticas renováveis;
d) os sistemas agroflorestais na caatinga hoje é uma realidade que permite segurança
alimentar para muitas famílias e tem ciclos muito curtos de 10 a 20 anos, comparativamente
com os ciclos dos países temperados;
e) a caatinga dispõe de uma rede de manejo e de uma rede de sementes florestais
apoiadas pelo MMA/PNF/IBAMA, onde profissionais da região buscam cada vez mais
qualificação para as práticas da utilização integrada e sustentável.
Novas relações de usos sustentáveis estão sendo estabelecidas com a biodiversidade da
caatinga, principalmente no tocante ao potencial dos produtos florestais não madeireiros.
Atualmente mais de 20 comunidades formam a bodega da caatinga, uma rede de produtos
sustentáveis da caatinga com mais de 20 mil pessoas envolvidas na produção e no
processamento das fibras, cascas, frutos, sementes e pequenos artefatos, embasados em uma
Carta de Princípios onde são assegurados a sustentabilidade na coleta e obtenção dos produtos
da biodiversidade da caatinga e os associativismos no beneficiamento e comercialização.
Diante deste quadro, o manejo florestal sustentável é uma das poucas alternativas de
promoção de desenvolvimento local que reconhece o recurso florestal como ativo ambiental e
permite assegurar uma relação de equilíbrio entre a demanda e a oferta de energéticos
florestais, em base sustentável, contribuindo para a conservação da biodiversidade e
assegurando a manutenção dos serviços ambientais. Alcançar o uso sustentável da
biodiversidade é uma necessidade, pois, ainda somos e seremos dependentes ambientais.
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CONCLUSÃO
Neste trabalho, procurou-se buscar informações sobre a biodiversidade da caatinga no
município de Cajazeiras, Estado do Paraíba, levando em consideração os aspectos físico-
naturais e sócio-econômicos da região do semiárido nordestino. Procurou-se também
investigar a estrutura da população que vive na área predominante da caatinga dentro de uma
perspectiva de desenvolvimento integrado regional.
Diante dos aspectos apresentados nos resultados desta pesquisa, pode-se concluir que
o processo de ocupação e formação do espaço do semiárido nordestino brasileiro e, uso e
manejo dos recursos naturais disponíveis no ecossistema da caatinga têm produzido
transformações nesse bioma, principalmente com a extinção de espécies da flora e da fauna.
Verificou-se ainda, dentro desse processo, que as questões ambientais e sociais têm-se
tornado cruciais em decorrência da falta de orientação técnica e de conhecimentos adequados
para a exploração dos recursos naturais, tais como o uso de métodos agrícolas tradicionais
como a prática de queimadas, a exploração de madeira, a falta de incentivos agrícolas e
assistência técnica para os trabalhadores rurais da área, e a ausência de uma política de
controle e fiscalização do uso e exploração dos recursos naturais por parte dos órgãos
governamentais.
Esses resultados são indispensáveis para o conhecimento científico por apresentar
dados sobre a grande variedade de espécies existentes no ecossistema da caatinga, como
também o processo de degradação ambiental que ocorre decorrente da ação antrópica em
busca de recursos naturais para atender as expectativas de desenvolvimento do sistema
capitalista que necessita da natureza para atender as demandas do mercado consumidor
interno externo.
Por outro lado, os resultados deste trabalho mostram possibilidades de conservação da
biodiversidade da caatinga, através da gestão participativa, transformação das condições
negativas em resultados positivos que permitam melhorias na qualidade de vida da população
da região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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por ocasião dos períodos glaciais quaternários. Paleoclimas São Paulo: Instituto de
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