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Introdução crítica ao Molinismo - parte 1

22/10/2015 11:11:06

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Introdução
Molinismo é o nome dado ao sistema de teologia e filosofia do jesuíta espanhol Luis de Molina
(1535 – 1600) que procura reconciliar ou solucionar o problema da presciência de Deus e da
liberdade humana.

Nas últimas décadas com o advento da filosofia analítica da religião, antigos temas que haviam
sido deixados de lado após o ataque do positivismo lógico, voltam aos estudos com mais vigor
pela mesma utilização da análise linguística.
Entre esses temas, o antigo dilema da presciência divina e da liberdade humana encontra-se
redivivo pelas mãos do filósofo cristão Alvin Plantinga (1932 –). Depois de pouco mais de
quatrocentos anos, o debate em torno do problema do mal e livre-arbítrio ressurgiu nas páginas
de seu livro The Nature of Necessity(Clarendon Press, Oxford, 1974). No ano anterior, no
Concílio para Estudos Filosóficos do Instituto Summer em Filosofia da Religião, Plantinga
apresentou uma versão da Defesa do Livre-Arbítrio sobre o Problema do Mal. 1 Naquela
ocasião, Plantinga apresentou sua versão baseando-se na premissa da existência
de contrafactuais de liberdade2 e que a onisciência de Deus inclui o conhecer os valores de
verdade3 desses contrafactuais.

Plantinga reconhece que, ao apresentar sua palestra, fora advertido por Anthony Kenny que ele
era um “Molinista”, ao que Plantinga respondeu: “Eu não estava certo se aquilo era uma
aprovação ou condenação.”4

Até então, o Molinismo, a despeito de sua sofisticação filosófica ou teológica, estava, para usar
as palavras de Ken Perszyk,5

relegado a um canto escuro e empoeirado de um museu na história da teologia filosófica, não


fosse a ‘reinvenção’ de Plantinga no curso de seu desenvolvimento da Defesa do Livre-Arbítrio
contra o Argumento Lógico do [problema do] Mal na década de 1970 .
É importante recolocar essa história porque Plantinga é considerado “o principal filósofo de
Deus”,6 responsável pelo reavivamento da filosofia cristã nos últimos quarenta anos.

Embora criado na tradição reformada holandesa – no Calvinismo histórico – Plantinga, aos oito
ou nove anos de idade, começou “a entender e pensar seriamente sobre o assim chamado
Cinco Pontos do Calvinismo”, o que o levou a pensar, especificamente a partir da doutrina da
Depravação Total, “que todo mundo era completamente ímpio, completamente mau, não
melhor que Hitler ou Judas” e isso parecia-lhe confuso e difícil de acreditar. 7 Aliado a isso, um
dos principais interesses de Plantinga que, como ele diz, o “tem me perturbado e tem sido fonte
de genuína perplexidade” é a “existência de certos tipos de mal” e isso continuou
“profundamente desconcertante” mantendo seu foco mesmo quando mudara para Notre Dame
em 1982, depois de quase vinte anos ensinando no Calvin College. 8

É nesse contexto de perplexidade que devemos entender o ressurgimento do Molinismo e isso


da parte de um cristão criado na tradição reformada, e também uma vez que Plantinga entende
que o problema do mal, talvez “constitua a objeção mais formidável às crenças teístas”. 9

O objetivo do presente artigo é apresentar os contornos críticos do Molinismo. Embora seja


primariamente histórico, não será menos crítico em avaliar alguns aspectos do Molinismo,
especialmente aquele relacionado ao Conhecimento de Deus. Esperamos, para em breve,
novos artigos, aprofundando as críticas das perspectivas teológicas, exegéticas e filosóficas ao
Molinismo.

Se eu estiver certo em minhas pesquisas, o Molinismo não é uma opção protestante, nem para
Calvinistas, nem para Arminianos, e com sérias inconsistências internas.

Breve Resumo Biográfico de Luis de Molina


Luis de Molina nasceu em Cuenca, Espanha, em 1535. Ele é considerado personagem
expressivo no renascimento do Escolasticismo na península Ibérica de onde também vinham,
entre outros, o Dominicano Domingo Bañez e Jesuíta Francisco Suárez. De fato, Molina
estudou latim (Cuenca), Direito (Salamanca), lógica (Alcala), filosofia e teologia (Coimbra e
Évora, Portugal).10 Foi em Alcala que Molina tomou contato com a Sociedade de Jesus. “Parece
ter sido amor à primeira vista”.11 Em 1561 foi ordenado sacerdote.

Após aposentar-se como docente em 1583, Molina devotou-se a escrever. Além de um tratado
completo de filosofia, mais em forma de comentário sobre lógica, física, psicologia, metafísica e
filosofia natural de Aristóteles12 e outras obras, Molina é mais conhecido por duas que se
destacam em seu pensamento: A Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia,
providentia, praedestinatione et reprobatione ad nonnullos primae partis D. Thomae articulos
(Harmonia do Livre-Arbítrio com o Dom da Graça, Presciência Divina, Providência,
Predestinação e Reprovação segundo diversos artigos da Primeira Parte [da Suma] de São
Tomás [de Aquino]), sua primeira obra publicada em sua primeira edição Lisboa em 158813
e; De Iustitia et Iure tomi sex, de caráter jurídico, e que Molina só viu publicada apenas os três
primeiros volumes. Os demais volumes foram publicados após a sua morte, em Madrid em 12
de outubro de 1600.

A Controvérsia De Auxiliis: 1582 – 1607


Com a publicação do Concordia (Harmonia), uma polêmica se instalou entre Dominicanos e
Jesuítas acerca da relação entre a graça divina, a predestinação, providência e o livre-arbítrio.
Por um lado, os Dominicanos, liderado por Domingo Bañez (1538 – 1604), acusavam a obra de
Molina de cair no erro do pelagianismo, condenado no Concílio de Trento (Secção VI, Cânones
I – IV). Trento também havia condenado dois outros jesuítas, Diego Laínez e Alfonso Salmerón,
que defendiam ideias pré-molinistas. Por outro lado, os Jesuítas acusavam os Dominicanos de
fatalistas e defensores da doutrina de Lutero.

Bañez estava ciente das ideias pré-molinistas e manteve polêmica, mesmo pública, opondo-se
a tais ideias já em 1567.14 Quando as ideias pré-molinistas foram publicamente defendidas em
1582 na Escola de Salamanca, Bañez as censurou em sua Apologia dos Irmãos Dominicanos,
denunciando seus proponentes, pe. Prudêncio Montemayor e frade Luis de Leon, como
doutrinas perigosas e pelagianismo ao Conselho da Inquisicão. Acatada a denúncia, ambos
foram condenados: o Pe. Prudencio deixou de ensinar teologia, e frade Luis ficou proibido de
defender aquela doutrina.15

Enquanto as ideias pré-molinistas eram proibidas na Espanha, a obra de Luis de Molina era
publicada em Portugal.
Mas, desta vez, as ideias estavam sistematizadas. No entanto, a Inquisição portuguesa não
havia condenado aquelas ideias e, por isso, o apelo de Bañez e dos Dominicanos através de
outra apologia publicada em 1895, acusando a obra de Molina dos mesmos ensinos já
condenados em 1582, fora em vão.16 Mesmo assim, os Jesuítas, precavendo-se de qualquer
possível condenação, apelam para Roma.

O resultado, depois de intensos debates entre os litigantes dominicanos e jesuítas na sede


pontifícia, é que o sumo pontífice Paulo V, que assumiu após o infarto de Clemente VIII,
declarou que dominicanos e jesuítas eram livres para defender suas doutrinas e proibiu que
qualificassem de heresia uma ou outra. Isso se deu em 1607, após a morte de Molina, que fora
declarado vitorioso pelos jesuítas.17

Molinismo e o Conhecimento de Deus


Molinismo é mais conhecido por sua doutrina acerca do Conhecimento que Deus sobre dos
futuros contingentes,18 conhecimento este chamado de Conhecimento Médio (Scientia Media).

Molina apresenta sua teoria do conhecimento médio divino como a chave para resolver o
mistério tradicional acerca da presciência divina e futuros contingentes: (1) como Deus pode
conhecer infalivelmente os eventos futuros de causa indeterminada e; (2) uma vez que a
presciência de um evento futuro é posta, como o fatalismo teológico é evitado? 19
Molina expõe sua compreensão dessa relação na Parte IV de sua Concordia. Segundo
Freddoso,20 ali ele discorre sobre duas questões distintas a respeito do Conhecimento de Deus:
(1) Como é que Deus conhece futuros contingentes com certeza, isto é, qual é a fonte de
explicação para o fato de que Deus conhece futuros contingentes com certeza? (2) Como é
que esta presciência divina pode ser conciliada com a contingência que é conhecida por ele? 21

Na Disputa 52.9, Molina declara que Deus tem três tipos de Conhecimento: “Devemos
distinguir em Deus um conhecimento tríplice, se não quisermos alucinar ao tratarmos de
conciliar a liberdade de nosso arbítrio e a contingência das coisas com a presciência divina”. 22

(1) Um conhecimento puramente natural, que “nenhum modo pode sofrer variação em Deus
[e] por meio dela ele conhece todas as coisas que o poder divino pode fazer – seja sem meios,
seja com a intervenção das causas secundárias”.23 Este conhecimento também é chamado de
conhecimento natural (scientia naturalis), conhecimento necessário(scientia necessaria) ou
conhecimento de intelecto (scientia intelligentiae).

(2) Um Conhecimento puramente livre, “por meio do qual, sem hipótese ou condição alguma,
Deus conhece de forma absoluta e determinada a partir de todas as articulações contingentes
e após o ato livre de sua vontade, quais coisas vão ou não acontecer realmente”. 24 A este
conhecimento também chama-se conhecimento livre (scientia libera), conhecimento de visão
(scientia visionis).

(3) Um Conhecimento Médio, ou Scientia Media, “através do qual Deus vê em sua essência,
em virtude da altíssima compreensão e inescrutabilidade de todo livre-arbítrio, o que
este faria em razão de sua liberdade inata, se fosse posto neste ou naquele ou incluído em
qualquer das ordens infinitas de coisas, apesar de que, de fato também poderia se assim o
quisera fazer oposto”.25

A questão gira em torno do conhecimento médio de Deus. Se uma pessoa em dada


circunstância em que uma escolha ou escolhas reais devem ser feitas, diante do conhecimento
presciente e onisciente de Deus, Deus conhece a decisão daquela pessoa antes de a pessoa
agir?26 Ou mais, Deus a conhece antes de criar este mundo? Para usar o gracejo do molinista
Thomas P. Flint, “Se Alvin Plantinga não tivesse, sem conhecimento, exumado o Molinismo nos
anos 1970, alguém aqui estaria discutindo (livremente) isto hoje? Deus é o único quem sabe.
Ou, ao menos nós molinistas somos inclinados a dizer”.27

Perceba, também, que esses tipos de conhecimento divino são “momentos lógicos” anteriores
à Criação deste mundo ante as incontáveis opções que Deus tinha em trazê-lo à existência. E
outras palavras,
Logicamente antes do decreto divino de criar um mundo, Deus possuía não apenas
conhecimento de tudo o que poderia acontecer (conhecimento natural), mas também de tudo
o que iria acontecer em qualquer conjunto apropriadamente específico de circunstâncias
(conhecimento médio)[...] Deus, então decretar criar certas criaturas livres em certas
circunstâncias e, assim, baseado em seu conhecimento médio e no conhecimento de seu
próprio decreto – ou seja, se decreto de criar o mundo –, Deus tem presciência de tudo o que
acontecerá (conhecimento livre).28

Avaliação Preliminar do Conhecimento Médio


Como nesse primeiro artigo nosso foco é mais introdutório, mesmo assim, alguma análise
precisa ser apontada no momento.29 O Molinismo é uma tentativa de solucionar o problema que
percorre a história do pensamento cristão e filosófico. O problema da presciência divina, do
determinismo,30 do indeterminismo31e dos futuros contingentes.32

Porém, o Molinismo está fortemente comprometido com o libertarianismo libertário como


suposição. Há algumas premissas ocultas que precisam ser trazidas à luz. Nesse momento
quero destacar que, para essa concepção, os atos futuros, ou seja, os atos ainda não
existentes, exceto no conhecimento de Deus, são livres se, somente se, eles forem
indeterminados quanto a sua realização. De fato, nessa concepção, esses atos são tão livres
que eles antecedem mesmo o conhecimento natural e livre de Deus. Eles são eventos
condicionais que independem do decreto de Deus.33
Eles simplesmente, em todas as suas infinitas possibilidades, estavam “lá” no futuro sendo
visto de “longe” por Deus. Eles têm, portanto, um estatuto ontológico co-término com Deus.
Franklin Ferreira e Alan Myatt perceberam que a questão dos mundos possíveis de atos livres
não causados é de “problema da independência ontológica”. 34 E, se Deus tinha que esperar
pelas ações futuras contingentes viessem a acontecer independente ou antes de si mesmo,
segue-se que seria finito e dependente. Como destacou Cornelius Van Til, o conhecimento de
tal deus seria inferencial.35 Isso contraria completamente o ensino Escriturístico. O Senhor
perguntou a Jó: “Quem primeiro me deu, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está
debaixo de todos os céus é meu”(Jó 41. 11). Pelo profeta Isaías o Senhor perguntou: “Quem

guiou o Espírito do SENHOR, ou como seu conselheiro o ensinou ?36 Com quem

tomou ele conselho, que lhe desse entendimento, e lhe ensinasse ; o caminho

do juízo, e lhe ensinasse conhecimento , e lhe mostrasse o caminho do


entendimento?”(Is 40.13, 14)

Ao mesmo tempo, o Molinismo ainda assim, tem um leve toque de determinismo. Na verdade,
essa é a razão para a maioria dos arminianos clássicos ser “cautelosa com esta
abordagem”.37 Porque o conhecimento médio está “entre” o natural e livre, segue-se que no
conhecimento médio deve haver algum conhecimento que seja necessário e algum outro que
deva ser contingente. Então, como Deus governa o mundo que ele criou tendo o conhecimento
médio? Ora, por criar um mundo atual que Deus mesmo quis.

Jerry Walls, um arminiano, acredita que o Molinismo “é semelhante ao calvinismo ao defender


que Deus sabe precisamente o que acontecerá antes que mesmo ocorra(sic)”. 38 Olson admite
que o Arminianismo clássico distancia-se de qualquer determinismo, e o molinismo, pelo menos
em tese, utiliza-se do conhecimento médio para explicar como Deus criou este mundo e não
outro. As palavras de Olson revelam muito: “o uso do conhecimento médio é para explicar
como o mundo real é determinado por Deus, utilizando conhecimento do que as criaturas livres
fariam em qualquer dado mundo, incluindo o mundo que Deus, por fim, decidiu criar – este
mundo [...] o molinismo leva ao determinismo e é, portanto, incompatível com o
arminianismo”.39 Então, Molinismo não é Arminianismo, embora seja também libertário.
Molinismo não Calvinismo, embora pretenda ser determinista. Mesmo assim, o conhecimento
médio é adotado por alguns de ambas as tradições.40

E isso aponta para uma inconsistência no Molinismo. Em alguma instância será


preciso priorizar um aspecto de sua ideia. E o aspecto que tem sido priorizado, pelo menos na
tradição recente na resolução do problema do mal, é a liberdade libertária. Ou seja, as ações
futuras contingentes devem ser indeterminadas e, portanto, Deus não pode saber
infalivelmente seu valor de verdade. Como resultado, atribui-se a Deus, por conta da liberdade
indeterminada, um conhecimento incerto.

Conclusão
Nesse primeiro artigo procurei apresentar uma introdução ao Molinismo. Parece-me que o
crescimento do molinismo é uma tendência, especialmente entre os estudantes de filosofia da
religião e defensores das tradições arminianas e calvinistas. Não chego a considerá-lo uma
heresia, mas um erro. Nem mesmo sua própria tradição católico-romana o fez. Minha pesquisa
com o molinismo não é o problema de se Deus conhece ou não as contingências. Admito que
sim, que ele as conhece. A questão é do real objeto de conhecimento de Deus e que
implicações o Molinismo tem para a Natureza de Deus.

Espero no próximo artigo, numa avaliação teológica mais detalhada, pois alguns que têm
adotado o Molinismo, especialmente o “molinismo analítico”, têm transigido, suspeito, com
conceitos estranhos à Teologia histórica e conservadora no tocante à natureza de Deus –
simplicidade divina e temporalidade, por exemplo. Mas, isso fica para a próxima ocasião,
querendo Deus.41

_________________________________
1
Veja também PLANTINGA, Alvin. Deus, a Liberdade e o Mal. São Paulo: Vida Nova, 2012, p.
17 – 84. PLANTINGA, Alvin. The Nature of Necessity. Clarendon Press: Oxford, 1974, p. 164 –
195 (cap. IX)
2
Um contrafactual é uma proposição condicional expressa na forma “se p, então q” onde p e q,
antecedente e consequente, são falsos em relação ao mundo atual. “Se um sujeito S fosse
colocado em uma Circunstância C, circunstância na qual deixa S livre, S livremente escolheria
fazer A”. “Contrafactuais são assim chamados porque o antecedente e o consequente do
condicional são contrário ao fato”(CRAIG, William Lane; MORELAND, J. P. Filosofia e
Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 76). David Lewis (Counterfactuals. Oxford:
Blackwell Plubishers, 1973) afirma que contrafactuais são modos de falarque, “embora
vergonhosamente vagos”(p. 1), eles ainda podem dar uma descrição de valores de verdade –
quando um enunciado pode ser considerado verdadeiro ou falso -, porém contrário aos fatos
atuais, mas possíveis em algum outro mundo. Nesse caso, o antecedente p seria falso e não
se realizaria.
3
Dada uma proposição p, p é verdadeiro ou falso.
4
TOMBERLIN, James E.; INWAGEN, Peter van(ed). Alvin Plantinga – Profile. vol. 5.
Dordrecht/Boston/Lancaster: D. Reidel Publishing Company, 1985, p. 50.
5
PERSZYK, Ken. Molinism – The Contemporary Debate. Oxford: Oxford University Press, 2011,
[Epub], posição 13 [p. 6, 7].
6
BALMER, Randall. Encyclopedia of Evangelicalism – revised and expanded edition. Waco, TX:
Baylor University Press. p. 546 [verbete Plantinga, Alvin (Carl)]
7
PLANTINGA, Alvin. A Christian life partly lived. In: CLARK, Kelly James(ed). Philophers who
Believe – the spiritual journeys of eleven thinkers. Downers Grove, Ill. IVP, 1993, p. 48.
8
Idem, p. 68ss
9
PLANTINGA, 1974, p. 164.
10
Segundo Kaufmann (A Companion to Luis de Molina. Leiden - Boston: Brill, 2014, p. xv), o
“curso completo de filosofia” feito por Molina, era na verdade “um curso completo em
Aristóteles, cujas obras eram comentadas pelos mestres”. Desse modo, Molina destacou-se,
sobretudo em lógica e metafísica.
11
KAUFMANN, Matthias; AICHELE, Alexander(ed). A Companion to Luis de Molina. Leiden -
Boston: Brill, 2014, p. xv
12
ECHEVARRIA, Juan Antonio Hevia. Introducción. In: MOLINA, Luis de: Concordia de libre
arbitrio com loso dones de la gracia y com la presciencia, providencia, predestinacion y
reprobacion divinas. Biblioteca Filosofía em español – Fundacion Gustavo Bueno. Oviedo,
Espanha: Pentalfa Ediciones, 2007, p. 10.
13
Publicada com a permissão do Prepósito Geral e submetida ao exame do Conselho da
Inquisição. A obra foi considerada “conforme a fé católica e muito útil para toda a
Igreja”(Echevarria, p.11).
14
Domingo Bañez pode ser classificado como um determinista. Defendia a certeza do
conhecimento divino com base “primeira causa”. Deus, a Primeira Causa, em seu Decreto
eterno de sua vontade, predeterminou as causas secundárias completamente e, por isso, ele
pode conhecer com certeza os futuros contingentes em suas próprias causas. Cf. GORIS,
Harm J.M.J. Free Creature of an Eternal God:Thomas Aquinas on God's infallible
foreknowledge and irrestible will. (Thomas Institute te Ultrecht New Series 4). Leuven: Peeters,
1996, p. 69.
15
LA POLÊMICA DE AUXILIIS 1582 – 1607. Disponível em: <
http://www.filosofia.org/ave/001/a152.htm>
16
Apologia fratrum praedicatorum in provincia Hispaniae sacrae theologiae professorum,
adversus novas quasdam assertiones cuiusdam doctoris Ludovici Molinae nuncupati (Apologia
dos Frades Pregadores na Província da Espanha, professores de Teologia Sagrada, contra as
Certas Novas Afirmações do Doutor Luis de Molina). Existe uma tradução espanhola, feita por
Juan Antonio Hevia Echevarría, de nome Apologia de los hermanos dominicos contra la
Concorida de Luis de Molina (Pentalfa, Oviedo, 2002).
17
LA POLÊMICA, idem.
18
Futuros continguentes são eventos singulares ou estados de coisas que podem ou não
ocorrrer no futuro. Cf. AUDI, Robert. The Cambridge Dictionary of Philosophy. 2nd ed.
Cambridge: Cambridge University Press, p. 334.
19
CRAIG, William Lane. The problem of Divine foreknowledge and future contingents from
Aristotles to Suarez. Leinden: E.J. Brill, 1988, p. 170.
20
FREDDOSO, Alfred J. Introduction. In: MOLINA, Luis de. On Divine Foreknowledge: Part IV of
the Concordia. Ithaca and London: Cornell University Press, 198, p.1.
21
Cf. tb. BEILBY, James K.; EDDY, Paul R. (ed). Divine Foreknowledge: four views. Downer
Grove, Ill: IVP, 2001.(Itálicos meus)
22
Molina, Concordia, Disputa 52.9.
23
Idem.
24
Idem.
25
Idem. (Itálicos meus)
26
Em termos proposicionais a questão é assim posta: Se um sujeito S estivesse em uma
circunstância C, S livremente escolheria fazer X.
27
FLINT, Thomas P. The Varieties of Accidental Necessity. In: CLARK, Kelly James; REA,
Michael (ed.) Reason, Metaphisics, and Mind – New Essays on the Philosophy of Alvin
Plantinga. Oxford: Oxford University Press, 2012, p.38.
28
CRAIG, William L.; MORELAND, J. P. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Vida Nova,
2005, p. 635. Crédito da imagem à mesma referência bibliográfica.
29
Os próximos artigos que se seguirão, farão análises mais detalhadas do ponto de vista
teológico, exegético e filosófico.
30
Susan Haack (On a Theological Argument for Fatalism. In: THE PHILOSOFICAL QUARTELY,
vol. 24, n. 95 [abr 1974], p. 156 – 159), diz que isso tem incomodado a “aqueles que desejam
manter, por um lado, um Deus onisciente e, por outro lado, que o homem tem livre-arbítrio”(p.
156). Segundo a autora, a questão entrou no campo teológico baseado no princípio de
ambivalência em Aristóteles (Da Interpretação, IX – “No que toca as coisas presentes ou
passadas, as proposições, sejam afirmativas ou negativas, são necessariamente verdadeiras
ou falsas[...] Se, ademais, uma coisa é agora branca, então teria sido verdadeiro no passado
afirmar que essa coisa seria branca, de modo que foi sempre verdadeiro dizer de toda coisa
(seja ela qual for) que ela é ou ela será [...] a consequência disso é que os eventos futuros,
como asseveramos, se produzem necessariamente. Nada é fortuito, contingente, pois se
alguma coisa acontecesse por acaso, não aconteceria por necessidade”)
[ARISTÓTELES. Órganon – texto integral. Bauru, SP: EDIPRO, 2005]. [Itálico meu]. Na
atualidade, Richard Taylor e Nelson Pike são uns dos mais célebres defensores do Fatalismo
com base no princípio da ambivalência (TAYLOR, Richard. Fatalism. In: In: THE
PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 71, n. 1 (Jan, 1962), p. 56 – 66). Para uma crítica ao artigo de
Taylor vide ABELSON, Raziel. Taylor's Fatal Fallacy. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol.
72, n. 1 (Jan, 1963), p. 93 – 96; e BROWN, Charles D. Fallacies in Taylor's "Fatalims". In: THE
JOURNAL OF PHILOSOPHY, vol 62, n.13 (jun, 1965), p. 349 – 353, com exposição da
afirmação do consequente e da necessidade da consequência. Porém, Taylor oferece resposta
em A note of Fatalism. In: THE PHILOSOPHICAL REVIEW, vol. 72, n. 4 (Jan, 1963), p. 497 –
499.
31
Na tradição filosófica recente, alguma medida de Indeterminismo – também chamada de
Incompatibilismo ou Libertariranismo Libertário – é afirmado por Robert Kane, Timothy
O’Connor, Randolph Clarke e Carl Ginet. Cf. KANE, Robert (ed). The Oxford handbook of Free
Will. Oxford: Oxford University Press, 2002; FISCHER, John Martin; KANE, Robert;
PEREBOOM, Robert; VARGAS, Manuel. Four Views about Free Will. Oxford: Blackwell
Publishing, 2007; CAMPBELL, Joseph Keim; O'ROURKE, Michael; SHIER, David (ed).
Freedom and Determinism. Cambridge: Bradford Book / The MIT Press, 2004. Os mais radicais
defensores do Indeterminismo afirmariam uma versão não-causal dos agentes. Assim, as
ações futuras dos agentes não seriam previstas por Deus, uma vez que nenhuma causa, nem
histórica, nem providencial, nem mesmo auto-causada, haveria para ser prevista.
32
FLECK, Fernando Pio de Almeida. O Problema dos futuros contingentes. Coleção Filosofia.
Porto Alegre: Edipucrs, 1997.
33
Francis Turrentin (Compêndio de Teologia Apologética. Vol. 1. São Paulo: Cultura Cristã, 2011,
p. 290) acredita que isso não seja um problema em si, mas se torna um problema quando um
decreto especial a respeito de “certa futurição dessa ou daquela coisa precede de modo que
Deus pode ver aquela coisa antecedendo esse decreto(nela própria ou em suas causas)”. Mas
é exatamente essa a minha questão.
34
Franklin; Myatt. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340.
35
VAN TIL, Cornelius. An Introduction to Systematic Theology. 2nd. Ed. Edited by William Edgar.
Phillipsburg, NJ: P & R Publishing, 2007, p. 374.
36
Hiphil de [dy- quem causou o conhecimento do Senhor?
37
OLSON, Roger. Teologia Arminiana – mitos e realidade. São Paulo: Editora Reflexão, 2013, p.
254.
38
WALLS, Jerry L; Dongell, Joseph R. Por que não sou calvinista. São Paulo: Editora Reflexão,
2014, p. 129.
39
Olson, idem, p. 254, 255.
40
Craig afirma, a doutrina do Conhecimento Médio é “surpreendente em sua sutileza e poder”. E
essa sutileza levanta inclusive o debate se o Conhecimento Médio é compatível com a Teologia
Reformada. Olson fala dos “defensores arminianos do conhecimento médio”(idem, p. 253).
Clendenen e Waggoner (Calvinism - A Southern Baptist Dialogue. Nashville, Tennessee: B & H
Academic, 2008, p.215) apontam Bruce Ware, John Frame e Terrance Tiessen – calvinistas de
conhecimento médio – entre os teólogos reformados que tentam incorporar as ideias do
Conhecimento Médio no Calvinismo. Claro, tais proponentes modificam a compreensão
libertariana de Molina para o conceito de permissão a fim de ajustar à compreensão
determinística ou compatibilista do Calvinismo. Todavia, “o conceito de conhecimento médio é
surpéfluo em qualquer sistema que sustente o determinismo causal”. Os Teólogos Franklin
Ferreira e Alan Myatt (Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 340) parecem
entender que haja espaço para o conhecimento médio na tradição reformada. Dizem os
autores: "Temos que confessar que existe respaldo bíblico em favor desta noção. Em Mateus
11.23, Jesus disse que se Sodoma tivesse visto os milagres feitos em Cafarnaum, ela não teria
sido destruída, insinuando que ela se arrependeria dos seus pecados. Isto é um exemplo claro
do chamado conhecimento médio da parte de Deus. Não negamos este fato". Logo em seguida
eles dizem que o conhecimento médio não resolve os problemas relacionados nem à
Teodiceia, nem a relação entre a presciência divina e atos livres dos homens. Dizem: “Segundo
Craig, o arminianismo e o calvinismo podem ser reconciliados [determinismo e liberdade],
assim como o problema do mal ser resolvido. Mas a coisa é realmente assim tão fácil? Em
nossa opinião, o conhecimento médio de Deus não resolve estes problemas”. Em seguida, os
autores passam a apresentar críticas ao Molinismo. Penso, portanto, haver algum problema de
redação. Talvez os autores queiram afirmar que Deus tem, de fato, conhecimento das
necessidades e contingências, como eles afirmaram anteriormente, e que o problema com o
conhecimento médio é de aplicação. Seja como for, penso haver na tradição reformada
elementos suficientes acerca do Conhecimento de Deus que já envolvam coisas necessárias e
contingentes em seu conhecimento natural e conhecimento livre, sem a necessidade de um
conhecimento médio.
41
Agradeço ao Prof. Gérson Gouveia Junior (UNICAP) e Prof. Franklin Ferreira pela cooperação
na revisão do artigo. Nossos diálogos muito auxiliaram nos esclarecimentos de alguns pontos.
Série Credo Apostólico - Parte 3: Jesus
Cristo é o Senhor
Postado por Thiago Oliveira - no dia 24.5.17 - Seja o primeiro a comentar!

INTRODUÇÃO

“Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor”. O credo passa a focar, em

especial, na pessoa de Jesus Cristo, e o motivo é simples: É através de Cristo que

temos a plenitude da revelação. Através dele conhecemos o Pai e por seu

intermédio foi nos concedido o Espírito Santo. No que se convencionou a

chamarmos de “economia da salvação”, o papel de Jesus Cristo é de fundamental

importância. Não é a toa que os que são integrantes do povo de Deus são

identificados como cristãos.

“Jesus Cristo é o Senhor” foi uma confissão de fé surgida nos primórdios da igreja.

Sua abreviação era similar a palavra “peixe” em grego, daí usarmos o peixe como

um dos símbolos da religião cristã. Em tempos de perseguição, o peixe era

colocado nas catacumbas dos que guardaram a sua fé até a morte.


É importante frisarmos que o Cristianismo vindica para si um caminho exclusivo

para que nos cheguemos a Deus por meio de Cristo. Ele é o único mediador entre o

divino e o humano, não há outro trajeto que se possa percorrer. O credo pós-

moderno vai dizer que muitos caminhos levam a Deus, e que Ele pode ser

encontrado em todas as religiões. Todavia, a ortodoxia cristã afirma que apenas por

meio da fé em Cristo Jesus, nós somos conectados ao nosso Criador.

Não é raro vermos pessoas que se dizem conectadas com Deus, mas que rejeitam

a pessoa de Cristo. Outros até o consideram, mas carregam uma imagem distorcida

dele. Há quem queira puxar sardinha para o seu lado e se utiliza da figura de Jesus

como se este fosse garoto propaganda de determinada ideologia. Uns vão dizer que

ele foi da esquerda, outros rebaterão. Para uns Jesus é um pacificador boa praça ao

estilo dos hippies dos anos 1960. Outros o veem como um filósofo popular e

sincrético. O próprio Cristo falou que no fim dos tempos haveria falsos cristos.

Talvez estes não sejam sempre homens (como o patético Inri), mas sim conceitos

distorcidos de quem ele realmente é. A resposta de Pedro, relevada pelo Espírito

Santo, é a de que ele é o Filho do Deus vivo. E João Batista deu a definição que

devemos sempre professar e proclamar: Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o

pecado do mundo! Essa confissão de fé é uma antítese e não uma síntese. Toda

vez que sintetizamos o Evangelho, é como se diluíssemos o vinho com água antes

de oferecê-lo, ou seja, uma fraude.

Devemos estar atentos ao testemunho bíblico sobre Jesus. Pois, se ele não é o que

diz ser nas páginas da Escritura, ou foi um lunático ou um charlatão. Estas são as

duas alternativas caso não confessemos, tal como o credo nos ensina, que Jesus

Cristo é o filho de Deus e o nosso senhor.

NÃO É UM SOBRENOME

Algo que precisamos compreender, antes de qualquer coisa, é que Cristo não é o

sobrenome de Jesus. Cristo é o termo grego equivalente ao termo hebraico


“messias”. O Messias, que por sua vez significa “o ungido”, é o enviado de Deus

para governar o seu povo. Ele é o esperado por Israel, pregado pelos profetas e

anelado pelo povo. Quando chamam Jesus de Cristo, estão reconhecendo que ele é

aquele que fora anunciado nas páginas do Antigo Testamento. O tão aguardado

salvador havia chegado.

Jesus, de fato, é nome. Quando lemos Mateus 1.21, no anúncio do nascimento de

Cristo pelo anjo Gabriel, ele fala acerca deste nome, que já nos dá uma pista do

que Deus planeja com aquele menino que está para nascer. Jesus significa “Deus

salva”. Alguns crentes judaizantes dizem que o correto seria referir-se ao salvador

como Yeshua, pois, alegam que este é o verdadeiro nome, sendo Jesus uma

adulteração no nome santo. Um dos seus principais argumentos é o de que nomes

próprios não são traduzidos. Todavia, Jesus não é tradução, mas sim transliteração.

A transliteração é um recurso utilizado para facilitar a fonética de uma língua para

outra, ela nada mais é que uma versão de letras, pois, nem todas as letras estão

em todos os alfabetos.

O Novo Testamento, escrito em grego “koiné” faz a transliteração de diversos

nomes. Tomemos por exemplo Jacó, um dos patriarcas. No hebraico seu nome

é Yaacov, mas os redatores neotestamentários usaram Iacobo, que no português

tornou-se Tiago, ou seja, Jacó e Tiago possuem o mesmo significado, que é

enganador – literalmente aquele que pega pelo calcanhar. O mesmo se dá com

Jesus, que é o equivalente grego para Josué. O Novo Testamento original não faz

nenhuma distinção entre as nomenclaturas Jesus e Josué, apenas o contexto

diferencia o sucessor de Moisés e o Messias, Filho do Deus Vivo.

Logo, quem defende o uso estrito de Yeshua, ao invés de usar Jesus, se fosse para

seguir a risca, chamaria Moisés de Moshe, João de Yohanan e por aí vai. Nem Deus

seria pronunciado dessa forma, ao invés disso falaríamos todos Elohin. Portanto,

não há nada de errado quando falamos Jesus Cristo, embora, pelo fato do segundo

ser um título, a grafia mais correta deveria ser Jesus, o Cristo.


Explicado o nome do nosso redentor, passemos agora a analisar os dois títulos que

o Credo lhe confere.

FILHO DE DEUS

De uma forma geral, Deus é o pai de sua criação. Daí, todos os seres humanos

podem ser vistos como filhos de Deus, no sentido de serem suas criaturas. Outra

filiação se dá por adoção. Os filhos de Deus são aqueles que Ele adotou para si:

“Em amor nos predestinou para sermos adotados como filhos por meio de Jesus

Cristo, conforme o bom propósito da sua vontade” (Efésios 1:5).

Como podemos ver, esta adoção se dá por meio de Jesus, que é o Filho de Deus na

eternidade. É nesse sentido que Jesus é singularmente o Filho de Deus, pois, é o

filho não criado, mas eternamente gerado do Pai. O que quer dizer que

compartilham da mesma essência, logo, quando é dito que Jesus é o Filho unigênito

de Deus (João 3.16), reconhecemos a sua natureza divina. Lembremos que o Deus

a quem professamos é Trindade, logo, o Pai e o Filho são duas personas distintas,

porém, estão unidos em essência, compartilhando da substância divida na

eternidade.

Alguns teólogos, baseados na filiação eterna de Cristo, dizem que ele sempre foi

subordinado ao Pai, todavia, consideramos tal posição equivocada. Na eternidade

Pai e Filho são iguais em atributos, poder e glória. Devido a natureza divina ser

indivisível, seus atributos estão presentes de maneira igual entre todas as pessoas

da Trindade.

É bem verdade que no plano da salvação, Jesus se coloca numa condição servil. Ele

é o servo sofredor, conforme Isaías profetizou, pois esvaziou-se (ler Filipenses 2).

Sendo assim, Jesus se subordina ao Pai enquanto encarnado em seu ministério

terreno. Mas sua relação intra-trinitária não possuí esse caráter servil. Para ilustrar,

mesmo sendo filho, é como se Jesus fosse um filho adulto, que não é subserviente

ao seu pai, embora o estime e continue mantendo o elo do amor na filiação.


SENHOR

No Antigo Testamento, Senhor é o termo usado para referir-se a Deus. Por ser

considerado sagrado ao extremo, o nome de Deus não era mencionado, e então

Senhor servia para nomear o Divino. Quando Jesus é chamado de Senhor, ele está

sendo reconhecido como Deus, o mesmo de Abraão, Isaque e Jacó. Os judeus

tentaram matar a Cristo quando ele se colocou como sendo “Eu Sou”, o Deus

revelado aos patriarcas e profetas: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu

Sou!” (João 8:58).

Mas este termo também implica dizer que Cristo é o dono de todas as coisas e por

meio dele tudo subsiste. O Novo Testamento se refere a Jesus como Salvador

apenas 16 vezes; chama-o Mestre 64 vezes; mas proclama-o Senhor umas 650

vezes! Como disse, certa feita, Abrahan Kuyper: “Não há um único centímetro

quadrado em todos os domínios da existência humana sobre o qual Cristo, que é

soberano sobre tudo, não clame: é meu!”

CONCLUSÃO

Ter Cristo como Senhor é o que tem faltado a muitos que dizem professar a fé em

sua pessoa. Os indivíduos que confessam a Jesus falam o quanto amam seu

salvador e batem na tecla de que ele as salvou. Isso é uma verdade: Cristo salva!

No entanto, não devemos separar o Redentor do Senhor. Cristo redime um povo e

o coloca em baixo de seu senhorio, de modo que a vida que vivem os salvos não

mais são as suas vidas, mas passam a ser a vida de seu Senhor Jesus Cristo.

O apóstolo Paulo resume bem o que é viver debaixo do senhorio de Cristo ao

escrever aos irmãos da Galácia: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu

quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé

no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2:20).


Devemos entender que a vida cristã é de renúncia e submissão. Determinada linha

doutrinária de nossos dias, que apesar de ser bem popular, é herética, coloca o

homem no papel de decretar e dizer aquilo o que Deus deve fazer. Isso não é

biblicamente coerente. Por isso devemos ter cuidado e refletir se em nossa relação

com nosso SENHOR, somos realmente humildes e subservientes a Sua vontade.

Agora nos é importante lembrar que o nosso Senhor não é um tirano ou um

despótico. Aos seus discípulos ele chama amigos (João 15.15) e, paradoxalmente,

servi-lo é ter liberdade. Lembrando que quem não tem a Cristo como Senhor é

servo de outro patrão: o Diabo. Vive preso em suas redes e tem um trágico fim. Ele

geralmente vem bem apresentado, tem muitas artimanhas para escravizar o

homem. Os falsos deuses são os artifícios de Satanás para seduzir. Dinheiro, sexo,

poder são suas armas mais usadas. Todavia, que diante de um senhorio

concorrente, possamos dizer tal qual Josué diante do povo de Israel que estavam

se curvando perante ídolos:

“Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão
servir, se aos deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates,
ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e
a minha família serviremos ao Senhor”. - Josué 24:15

Soli Deo Gloria


Série Credo Apostólico - Parte 4: O
Redentor no Espaço-Tempo
Postado por Thiago Oliveira - no dia 1.6.17 - Seja o primeiro a comentar!

INTRODUÇÃO

“...o qual foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria,

padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos”.

Muitas matérias de revistas e artigos na internet trataram do que chamam o “Jesus

histórico”. Isto é um termo para designar aquilo que se disse sobre o Cristo fora da

fonte canônica. Logo, há disparates como o casamento de Jesus com Maria

Madalena e sua viagem à Grécia, onde dialogou com os filósofos da época. Isso

tudo não passa de invencionice, embora seja verdadeira a noção de que Cristo foi

alguém que conviveu na História e se manifestou num espaço geográfico e

cronológico no qual o apóstolo Paulo chama de “plenitude dos tempos” (Gálatas

4.4).
Nunca devemos esquecer que ao habitar entre nós, Jesus foi um homem judeu do

século I, e por isso, partilhava da aparência e de muitos costumes do seu povo.

Como personagem histórico, é mencionado por autores como o judeu Flávio Josefo

e os romanos, Tácito e Plínio (o moço). Mas é na Escritura que temos a maior

informação acerca do Cristo, sobretudo nos Evangelhos que relatam seu ministério

terreno até a sua morte e ressurreição. No Evangelho escrito por Lucas, por

exemplo, vemos que ele trata sua escrita como um trabalho historiográfico:

“Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram


entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início
foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei
tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um relato
ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas
que te foram ensinadas”. - Lucas 1:1-4

Sua narrativa era endereçada a um homem chamado Teófilo, sobre o qual não

temos muitas informações. Além do evangelho, o livro de Atos dá continuidade ao

relato, objeto de uma acurada pesquisa. Lucas assim escreve ao seu destinatário:

“Em meu livro anterior, Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus
começou a fazer e a ensinar, até o dia em que foi elevado ao céu, depois de
ter dado instruções por meio do Espírito Santo aos apóstolos que havia
escolhido. Depois do seu sofrimento, Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes
muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um
período de quarenta dias falando-lhes acerca do Reino de Deus”. - Atos 1:1-
3

Como pudemos ler, os fatos narrados são comprovados por testemunhas oculares,

e os relatos foram repassados via tradição oral. Assim concluímos que o Jesus da

Escritura é o Jesus da História, que habitou entre nós, como um de nós.

O MILAGRE DA ENCARNAÇÃO
Jesus entra na História através de um milagre. Ao encarnar, sua concepção não se

dá por meio natural. Maria, uma jovem judia tem em seu ventre um embrião que

não é fruto de uma relação carnal. Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo e

com isso a profecia do Antigo Testamento se cumpre (Isaías 7.14).

Algumas pessoas caçoam desta informação bíblica e chegam a questionar a

inteligência de quem crê na concepção virginal. Detratores do Evangelho já

afirmaram que Maria engravidou de um soldado romano, o que seria ultrajante

para ela e para José, seu noivo. Mas, a tentativa de macular o relato bíblico é fraca

de evidências, ficando no campo da especulação barata. Outra impossibilidade dos

zombadores é a de provar que a concepção sobrenatural não poderia ocorrer. Eles

podem até alegar o que já sabemos: que bebês nascem através do ato sexual de

um homem com uma mulher. Todavia, não podem provar a inexistência de um

milagre.

Desde o Iluminismo, nossa sociedade foi bombardeada pela negação do

sobrenatural. Aquilo que os nossos sentidos alcançam é o que existe - assim falam

os naturalistas. Por Natureza, entende-se o mundo físico que conhecemos e

interagimos. Todavia, nosso mundo criado foi feito por um ente criador, isto é, não

criado. Isto quer dizer que a criação, por si só já é sobrenatural. Logo, não deve

haver nenhum estranhamento quando lemos na Bíblia a intervenção divina no

cosmos. Chamamos estas intervenções de milagres. Em ambos os testamentos, os

milagres ocorrem e são registrados para que tenhamos a noção da grandeza e

majestade do Criador. A concepção virginal é um grandiosíssimo milagre.

Os céticos dirão que as leis da Natureza são rígidas demais para serem quebradas.

Pois bem, um cristão não negará que existam tais leis. Ninguém em sã consciência

vai se atirar de um prédio de vinte andares para negar que a lei da gravidade está

presente no cosmos. Porém, a existência das leis naturais que regulam o mundo

criado não anula a possibilidade delas serem eventualmente desconsideradas

quando o Criador deseja intervir no espaço e no tempo. Coisas estranhas

acontecem com certa frequência e ferem o que parece ser o lógico para a Ciência. A
essas coisas estranhas dar-se o nome de fenômenos não explicados. Nós, cristãos,

preferimos o termo milagre - ou intervenção Divina.

Ademais, se Deus criou as coisas visíveis e invisíveis (o mundo Natural e o

Sobrenatural) como diz Colossenses 1.16, logo um milagre não seria

necessariamente violar a criação, mas sim uma interação entre as duas realidades

existentes e pertencentes à mesma criação. Ambos os mundos, o visível e o não

visível foram criados e são regidos pela Trindade. Esse argumento respalda a

vivência dos milagres no intercurso da História.

AS DUAS NATUREZAS

A concepção virginal possibilitou Cristo a ter duas naturezas. Discorrer sobre as

duas naturezas do Messias demonstra o quanto que esta doutrina é essencial para

nossa compreensão do Evangelho. De fato, Jesus foi portador de uma natureza

dupla e que não podia ser desassociada uma da outra. A Singularidade de Cristo

está no fato dele ser totalmente homem e concomitantemente ser totalmente

divino. Esse antinômio gerou uma série de questionamentos e desembocou em

muitas heresias.

Em Colossenses 1.15-17, o apóstolo Paulo, contrariando os mestres heréticos que

se infiltraram na igreja de Colossos, deixa claro o ensino de que Jesus é um ser

divino e que não é mais uma criatura que o Deus-Pai trouxe a existência. Quando

se é dito que Jesus é a imagem (Gr. eikõri) do Deus invisível, a ideia é a de que

Cristo não é uma simples figura representativa. Ele é a manifestação que contém a

mesma substância daquilo que revela. Deus é invisível, e isso é corroborado por

outros autores neotestamentários, mas Cristo, num propósito revelacional é aquele

que projeta Deus para que os homens possam vislumbrá-lo. Tudo que Deus é;

igualmente Jesus é. Mas na frente, Paulo nos diz que “nele habita corporalmente

toda a plenitude da divindade”. Para que não haja dúvida de sua divindade, nos é

dito que Jesus é “o primogênito de toda a criação”. O termo que foi traduzido por

primogênito não tem relação temporal.Prototokos é, na verdade, um título


honorífico, e ao decorrer do discurso paulino fica evidente a honra que ele concedeu

a Cristo: “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra,

visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam

potestades. Tudo foi criado por ele e para ele”. Jesus é o artífice da criação, tudo

partiu dele e foi feito para ele.

Já em Romanos 5.12-19, o apóstolo Paulo equipara Cristo a um segundo Adão.

Enquanto que Adão pecou e, através da sua transgressão foram encerrados

debaixo do pecado – que é mortal – todo o gênero humano. Da mesma forma,

através da morte de Cristo na cruz, muitos obtiveram o seu resgate e receberam a

vida por graça e não a morte por salário. Se Adão é o cabeça dos homens decaídos,

Jesus é o cabeça dos homens redimidos. No versículo 15, é dito com todas as letras

que Jesus Cristo é homem, e por meio dele, a graça superabundou o pecado.

Usando um jogo de contrastes em sua argumentação, Paulo deixa claro que Jesus

cumpriu aquilo que Adão tinha falhado. Essa é uma teologia pactual. Na medida

que Adão desobedeceu a Deus e fez com que o pecado atingisse todo o cosmos,

Jesus, como um servo totalmente obediente fez aquilo que era o dever do primeiro

homem.

O fato de existir no Salvador duas naturezas, divina e humana, na mesma pessoa,

isto é, não são duas pessoas, mas apenas uma que comporta ao mesmo tempo o

status divino-humano é algo que não podemos explicar racionalmente. Mas

lembremos que o inexplicável não significa impossível. Ademais, a crença na dupla

natureza de Cristo nos dá segurança acerca da nossa fé, sabendo que a justificação

é real, pois foi um homem que morreu pelos pecados dos homens, isto quer dizer,

a substituição foi real. Ao mesmo tempo, tratando-se do Divino, a morte não pode

deter o Cristo que foi morto. Ele ressuscitou por ser Senhor da vida e dos vivos.

Porque ele ressuscitou, temos a garantia de que com ele, também triunfaremos

sobre a morte.

CONCLUSÃO
O Credo nos remete a historicidade dos fatos ao mencionar o nome de Pôncio

Pilatos. Esta menção pretende nos lembrar de que o Cristo que nasceu da virgem e

que porta duas naturezas é um personagem real que apareceu no curso da História.

Pilatos foi o quinto governador da Judéia romana. Foi sob o seu governo que Jesus

foi crucificado (Mt 27.2). Ele foi nomeado pelo imperador Tibério e uma pedra,

descoberta arqueológica de 1963, exposta hoje no Museu de Jerusalém trazia em

escrito não apenas a comprovação da existência de Pilatos, mas clarifica o título

que ele possuía, o de governador.

O que podemos tirar de proveito desta informação? Podemos estar cientes de que o

nosso redentor esteve neste mundo e passou por experiências que nos são

familiares. Ele apesar de não ter pecado, em tudo foi tentado e padeceu como o

homem de dores profetizado pelo profeta (ler Isaías 53). Assim, ao nos dirigirmos

ao nosso Redentor, precisamos lembrar que ele vivenciou nossos dilemas e esteve

à mercê das mazelas deste mundo caído. Logo, nosso Salvador tem empatia com

os que sofrem e entende perfeitamente o drama dos oprimidos.

Ter um redentor habitando no espaço-tempo nos possibilita uma maior identificação

com Deus, pois, este Deus conheceu a fundo nossos temores e nossas dores. E a

boa notícia é que ele levou sobre si todas as nossas aflições e nos legou a paz e a

reconciliação com Deus por meio de sua morte e ressurreição.

Soli Deo Gloria


Série Credo Apostólico - Parte 5: O
Padecimento do Cristo
Postado por Thiago Oliveira - no dia 12.6.17 - Seja o primeiro a comentar!

INTRODUÇÃO

“...foi crucificado, morto, sepultado, desceu ao mundo dos mortos”.

A crucificação é um episódio doloroso e que muitos conhecem por sua brutalidade.

O filme “Paixão de Cristo”, dirigido por Mel Gibson foi uma das encenações do

martírio de Jesus que mais se aproximou do espetáculo horrendo que aconteceu há

dois milênios atrás. Mas o que passa despercebido para alguns é que as dores

físicas e o horripilante rito de matar um homem pendurando-o num madeiro não

foram o pior que aconteceu ao Cristo. Seu padecimento extrapola o que é visível
para a plateia que vê o Filho de Deus apregoado na cruz. O que nosso Senhor

sentiu foi o peso de carregar sobre si os pecados de muitos e com isso, sentiu a ira

e o abandono de Deus Pai, pois ali, de maneira substitutiva, aquele que não tinha

pecado representava (de modo vicário) a soma da vileza dos piores pecadores

possíveis. E ele sentiu a agonia infernal de ser punido para satisfazer a justa ira

divina.

Logo, devemos compreender que a crucificação não evidencia apenas o altruísmo

de um homem que deu a vida para deixar de herança um belo exemplo às gerações

posteriores. A cruz pode ser vista como um episódio de amor e misericórdia,

porém, mais que isso ela foi o desfecho de uma dívida que era preciso ser paga. O

credor não podia simplesmente perdoar, alguém deveria derramar seu sangue para

que a justiça fosse feita. Citando John Stott, é correto dizer que “Na Cruz, a

misericórdia e a justiça divina foram igualmente expressas e eternamente

reconciliadas”.

Para uma melhor compreensão do que disse Stott, é preciso recorrer a um texto

paulino.

O SUBSTITUTO

Paulo vai iniciar a sua exposição doutrinária aos Romanos afirmando que as

pessoas sem Lei são culpadas diante de Deus (Rm 1.18-2.16). Em seguida, o

apóstolo afirma que os possuidores da Lei também são culpados (Rm 2.17-3.8).

Enfim, o mundo inteiro é culpado diante de Deus (Rm 3. 9-20). A culpa é

proveniente do pecado: “todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm

3.23).

Ao falar sobre a natureza culpada do ser humano, que o torna réu no Tribunal de

Deus, Paulo está introduzindo a boa nova. O Evangelho, para ser bem

compreendido, precisa partir desse ponto. O que se segue na explanação paulina é

que Deus não nos retribuirá segundo os nossos pecados, pois em Cristo, através da
morte na cruz, nós fomos justificados, isto quer dizer que nossos pecados não mais

serão levados em conta, foi Cristo quem pagou por eles com seu sangue. Eis a boa

notícia que leva o nome de Evangelho. Então, não é preciso fazer nada na tentativa

de aplacarmos a ira de Deus. Jesus já fez tudo por nós, sua obra é completa e já foi

consumada. Basta crer somente nele.

A fé nos justifica e não nossas obras, pois somos incapazes de guardar a Lei de

Deus. Jesus foi aquele que não pecou e se deu por sacrifício em nosso favor.

Nossos pecados foram remidos pelo sangue de Cristo. Judeus e gentios, ambos

declarados justos graças aos méritos do Salvador. O que Paulo ensina aqui é o

cerne da doutrina cristã, e em ambos os testamentos temos o desenvolvimento da

história da redenção até chegarmos até o Cristo.

Em Gênesis 1, lemos Deus criando o mundo e o homem. Tudo o que Ele criou é

bom. Mas, no capítulo 3 já vemos que o homem decide quebrar sua aliança com

Deus e através da instrumentalidade de Satanás, o pecado entra no mundo e

macula o espírito do homem, colocando-o na condição de inimigo do SENHOR,

separado de Sua santa presença. Todavia, em Gênesis 3.15 existe uma promessa

de que da descendência da mulher – Eva – viria àquele que iria destruir Satanás e

sua obra perversa. E o desenrolar do Antigo Testamento nos mostra Deus

suscitando uma semente até que chegue a plenitude dos tempos (Gl 4.4) e a

profecia se cumpra ao nascer Jesus, nascido de uma mulher e debaixo da lei.

Como o ser humano se tornou incapaz de se achegar a Deus, por conta do pecado,

foi preciso que Deus estabelecesse o resgate. E para isso um inocente assumiu o

lugar dos pecadores. Jesus Cristo é um substituto legal que em si suportou toda a

ira dos pecados sendo expurgados. Por Deus ser santo, não pode conviver com o

pecado, e por isso não poderia simplesmente perdoar e deixa-lo impune. A

misericórdia do Senhor não acontece a despeito de sua justiça. O pecado deveria

ser punido e seus efeitos no homem derrotado para que pudéssemos ter

reconciliação.
O autor da carta aos Hebreus nos diz que sem derramamento de sangue não há

remissão de pecados (Hb 9. 22). Falando de todo o sistema sacrificial da antiga

aliança, o autor mostra que eram apontamentos ao sacrifício definitivo de Cristo,

por isso que ele é chamado de Cordeiro de Deus, e foi imolado antes da fundação

do mundo (Ap 13.8 e 1 Pd 1.19-20). Como o animal do sacrifício, e, ao mesmo

tempo, sacerdote que estava mediando nossa relação com o Pai, Cristo foi nosso

substituto, o segundo Adão que através de sua obediência perfeita, atendeu os

critérios para receber o pagamento de nossos pecados e assim nos justificar.

A OBRA DA CRUZ

Cristo sendo nosso substituto, e morrendo na cruz, realizou aquilo que não

poderíamos. A Escritura usa quatro termos para falar sobre o que foi realizado

através da morte vicária de nosso Salvador, vejamos agora o que eles querem

dizer.

- Propiciação: É o sacrifício que serve para aplacar a ira de alguém que foi ofendido.

No nosso caso, ofendemos ao Criador através de nossos pecados, por isso, a

propiciação seria um fator apaziguador, pelo qual Deus não nos puniria por nossos

pecados. O sacrifício de animais no Antigo Testamento tinha esse caráter, por isso

que o local onde o sangue era aspergido chamava-se propiciatório. Cristo na cruz é

a nossa propiciação (1 Jo 2.2 e 4.10).

- Expiação: É o ato que promove reconciliação, reaproximação, perdão e purificação

mediante sacrifício. O sangue dos animais ilustrava o sangue de Cristo vertido no

Calvário. Jesus expiou nossos pecados.

- Justificação: Ter a culpa removida e sermos declarados justos diante de Deus é

um dos efeitos da expiação. Não somos considerados justos pelos nossos méritos.

A justificação vem pelo derramamento de sangue inocente. O sacrifício de Cristo

nos justifica (Rm 3.24-25), e de uma vez por todas (Hb 9), sem necessidade de

continuar sacrificando.
- Santificação: Seguindo a justificação vem a santificação. Dentro da Arca estava a

Lei (Dt 10.2 e Hb 9.5). Por cima da Lei havia o sangue da expiação, derramado

sobre o propiciatório. Isso nos mostra que não é a obediência a Lei que me leva ao

Cordeiro (Cristo). É o Cordeiro que me leva a obedecer a Lei. Guiados por Jesus,

santidade é um caminho real, pois nele, somos separados para as boas obras.

Assim sendo, a obra de Cristo tem grande valor para nós, e sem ela não teríamos

paz com Deus, continuaríamos mortos em nossos delitos e pecados, vivendo

debaixo de sua ira. Mas foi por sua infinita misericórdia que Cristo nos foi dado,

para que nele nós obtivéssemos a vida.

MORTE REAL

O Credo enfatiza que a morte de Cristo foi real e não figurativa. Ele foi sepultado,

após morrer crucificado, que era uma ultrajante pena de morte aplicada no Império

Romano aos mais vis criminosos. Isso está registrado nos quatro evangelhos, de

forma que basta lê-los para nos certificarmos disso. Todavia, um grupo herético

(gnósticos) negava que Jesus havia morrido, pois para eles, Cristo tinha apenas

uma aparência corpórea, mas não tinha um corpo real. Ora, isso faz com que a

morte de Cristo não seja real, logo, ele não seria o nosso substituto. Mas não é isso

que a Escritura nos diz e precisamos afirmar categoricamente que o Verbo se fez

carne (João 1).

Uma ênfase de que Cristo morreu de fato é a sentença “desceu ao mundo dos

mortos” ou “desceu ao Hades”. Esta é uma frase que não constava primeiramente

no Credo, mas foi acrescida a ele por volta do século 7. Antes disso, a expressão

era usada como substituta da frase “foi sepultado”, mas o seu emprego sendo

colocado após a frase que antes a substituía, tal como lemos hoje, gerou uma série

de interpretações.
Hades é para os gregos o mundo dos mortos, onde estão todos que faleceram. Os

bons ficam no lugar chamado Elísio e os maus no Tártaro, que seriam os dois

compartimentos deste mundo. A cristianização desse termo o colocou como sendo

o Inferno e daí houve uma corrente que começou a defender que após a sua morte,

Cristo foi pregar aos cativos no Inferno ou foi lá para proclamar a sua vitória, como

creem os luteranos.

No Antigo Testamento, Sheol era a designação do lugar dos mortos, mas também

podia ser, dependendo do uso, sepultura. Hades foi muitas vezes usado como

sinônimo deSheol. Pedro usou a palavra em Atos 2:27, quando citou o Salmo 16:10

- que usaSheol. Isto pode nos levar a concluir que “desceu ao Hades” sirva de

ênfase ao sepultamento de Cristo.

A tradição reformada, a partir de Calvino, interpreta a frase como sendo enfática.

Sobre o porquê desta sentença está no Credo (pergunta 44), o Catecismo de

Heidelberg responde:

“Porque meu Senhor Jesus Cristo sofreu, principalmente na cruz inexprimíveis

angústias, dores e terrores. Por isso, até nas minhas mais duras tentações, tenho a

certeza de que Ele me libertou da angústia e do tormento do inferno”.

O Catecismo Maior de Westminster (Resposta a pergunta 50) também diz que “A

humilhação de Cristo depois da sua morte consistiu em ser ele sepultado, em

continuar no estado dos mortos e sob o poder da morte até ao terceiro dia; o que,

aliás, tem sido exprimido nestas palavras: Ele desceu ao inferno (Hades)”.

CONCLUSÃO

Jesus sofreu não apenas na sua crucificação. Toda sua vida foi de aflição. Santo,

teve que habitar num mundo corrompido pelo pecado, sendo tentado em tudo, mas

sem pecar, como nos diz o texto sagrado (Hb 4.15). Experimentou o descrédito

daqueles que eram o seu povo e lidou com o ódio de determinado grupo religioso.
Jesus foi traído por um de seus discípulos e negado pelos outros ao ser preso.

Homem de dores!

Na crucificação, apesar de toda dor física, havia a terrível angústia de ser punido e

abandonado por seu Pai, pois ali estava representando a figura da vileza humana,

mesmo sendo Ele alguém que obedeceu plenamente toda a lei. Aquela aflição

sofrida na cruz era demais para nós, não suportaríamos, todavia, Ele a suportou em

nosso lugar para que ficássemos livres. O fardo do pecado foi desatado de nossas

costas e os que creem em seu sacrifício não sentirão os tormentos infernais, pois

Cristo já suportou tais tormentos. Por isso regozijemo-nos na mensagem da cruz.

Ela é boa nova para todo o que em Cristo Jesus depositar a sua fé.

Soli Deo Gloria

Série Credo Apostólico - Parte 6: A


Vitória do Cristo
Postado por Thiago Oliveira - no dia 21.6.17 - Seja o primeiro a comentar!

INTRODUÇÃO
“...ressuscitou no terceiro dia, subiu ao céu, e está sentado à direita de Deus Pai,

todo-poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos”.

Chegamos à última lição acerca do Cristo, vendo após o seu padecimento, a sua

grandiosíssima vitória. Vitória esta que começa quando ele venceu a morte e

ressuscitou corporalmente. A ressurreição e a ascensão de Cristo são pilares da fé

cristã: Jesus Cristo vive. Logicamente, os inimigos da cristandade não aceitam tal

fato e fazem troça do nosso credo. Mas seria tão improvável mesmo que Cristo

tenha ressuscitado? Teríamos argumentos que validassem a ressurreição? E acerca

da ascensão? O que será que a subida corpórea do Cristo aos céus tem a dizer para

nós hoje?

Além disso, o Credo nos lembra sobre a segunda vinda de Jesus, no qual virá para

julgar as nações e estabelecer o seu Reino de forma definitiva. Novamente é

preciso frisar que não crer em algum destes postulados é não crer naquilo que

ensina a Escritura, portanto, não podemos considerar um autêntico cristão alguém

que nega a veracidade destes fatos. Assim como o nascimento e a morte de Cristo

se deu na História, o que se seguiu após o seu sepultamento, segundo nos diz as

Escrituras, também foram acontecimentos históricos.

O TÚMULO VAZIO

A principal forma de desmentir a ressurreição de Cristo seria abrir o seu túmulo e

nele ver o seu cadáver ou a sua ossada. Bastava isso e pronto, o cristianismo teria

seus dias contados e seus discípulos seriam desmascarados como farsantes. Jesus

foi sepultado e isso é inegável, pois documentos históricos atestam isso. Os

próprios evangelhos, incluindo os apócrifos, relatam que Cristo foi sepultado na

tumba de José de Arimatéia, um membro do Sinédrio. Devemos lembrar que o

Sinédrio condenou o Messias e seus líderes não tinham a simpatia dos cristãos.

Sendo assim, porque raios iriam inventar que uma pessoa que participou do

julgamento condenatório de Cristo, cedeu-lhe um túmulo?


Ademais, o registro do túmulo vazio também se faz presente nos evangelhos e em

discursos apostólicos (Atos 2.29 e 13.36). E quem descobriu que a tumba estava

vazia? Um grupo de mulheres. É sabido que na cultura judaica, o testemunho

feminino não tinha validade. Se os evangelistas intencionassem inventar que Cristo

havia ressuscitado dentre os mortos, com certeza, iriam relatar que os apóstolos,

talvez Pedro ou João, foram as primeiras testemunhas da ressurreição. Os fariseus,

os saduceus e até Roma poderiam facilmente desmentir a ressurreição, e até

aparecer com o corpo do Nazareno, no entanto, mediante ao fato inconteste,

apenas inventaram que o corpo havia sido roubado.

A NOVA RELIGIÃO

A adesão ao Cristianismo foi crescente, e isso implica numa troca de religião de

judeus devotos. A unidade cultural e religiosa do judaísmo é tão forte, que mesmo

na diáspora, eles conseguiram manter sua identidade como povo. Paulo, um fariseu

renomado e zeloso pela tradição judaica não iria abandonar seu status para viver,

padecer e morrer, senão tivesse plena certeza de seu chamado. Ele viu a Jesus

ressuscitado, como nos diz o texto de 1 Coríntios 15. Ele e muitos outros foram

testemunhas oculares da ressurreição. Um judeu do primeiro século não iria trair a

revelação de Iavé, pois isso acarretaria em arriscar a sua salvação. Seria o

equivalente a mentir contra o Deus de Israel.

A ideia de um corpo ressuscitado era tão absurda para a cultura judaica como a

cultura helenística (1Coríntios 1:23). Era um conceito novo, não tão bem

compreendido e tinha tudo para ser impopular, como foi para muitos e ainda é.

Mas, este é um fundamento do cristianismo e importa ser pregado.

COM CRISTO VENCEREMOS

Embora tenhamos esses e outros argumentos em defesa da ressureição de Cristo,

devemos ter ciência de que é a fé e não a razão que nos inclina para

reconhecermos, e aceitarmos, essa verdade contida nas Escrituras. Por ser a fé um


dom divino, faz-se necessário que o Salvador primeiramente se revele ao homem,

para que este possa adorá-lo e afirmar tal como disse o apóstolo Pedro: “Tu és o

Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mateus 16:16).

A fé é necessária para compreendermos que a ressurreição foi um ato da Trindade,

e esta demonstração de poder atesta a veracidade do ministério de Cristo. Ele de

fato é o Filho de Deus. Sua vitória sobre a morte assegura para todo o que nele

deposita a sua fé que com ele viveremos. Sua ressurreição indica que também

ressuscitaremos e teremos este nosso corpo corruptível transformado. Vejamos o

que diz a Confissão de Fé de Westminster:

“No último dia, os que estiverem vivos não morrerão, mas serão mudados;
todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos e não
outros, posto que com qualidades diferentes, e ficarão reunidos às suas
almas para sempre”.
I Tess. 4:17; I Cor. 15:51-52, e 15:42-44.

Se não cremos nisso, nossa pregação é vã, como disse o apóstolo Paulo aos

coríntios (1 Co 15.12-20). Mas o mesmo apóstolo testifica que Cristo ressurgiu dos

mortos, e ao vencer a morte, como o segundo Adão, nos legou o direito a vida.

Como o próprio Jesus disse a irmã de Lázaro:

“Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra,
viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Você crê
nisso?” - João 11:25,26

A DESTRA DE DEUS

A ascensão de Cristo é o cumprimento da profecia de Daniel 7.13-14. O próprio

Jesus falou acerca dela (Mt 26. 64). Este evento é a última etapa da sua primeira

vinda, onde exaltado acima de todo o nome após sua humilhação e padecimento (Fl
2. 5-11), Ele agora se encontra a destra do Pai, numa posição de autoridade, sendo

o regente que o mundo reconhecerá e se curvará após o seu eminente retorno.

O fato de Cristo ter sido assunto aos céus é de vital importância para nós. Como

dito aos doze, Ele foi preparar o nosso lugar no seu Reino de Glória. E quando

voltar nos levará, isto é, seu povo, para habitar com Ele em sua eterna morada. (Jo

14. 1-3). E enquanto Ele não vem, ficamos na companhia do Espírito Santo, o

consolador enviado pelo Pai em nome de Cristo, que ilumina nossos corações nos

fazendo entender e crer no Evangelho (Jo 14.26). Logo, esta partida de Cristo é

também boa-nova e foi idealizada para o bem dos seus seguidores.

Na revelação que Deus concedeu ao apóstolo João, que viu o Senhor exaltado em

seu trono (Ap 1.13-18), há um capítulo que resume a história da redenção. Este

capítulo fala do nascimento do Messias e revela que Deus-Pai o arrebatou para si,

colocando junto ao seu trono (Ap 12.5). A partir desse evento, desencadeia-se uma

guerra celestial na qual o Diabo, que tinha o papel de ser nosso acusador, é

lançado fora, tendo Cristo vencido o seu oponente. Com a autoridade que lhe cabe,

foi declarado seu senhorio sobre o Reino de Deus (Ap 12.10).

O papel que Cristo ocupa no céu é o de Senhor absoluto do cosmos. O cordeiro

imolado é também um leão que ruge com poder e glória, reivindicando para si

todas as coisas que estão na terra e no céu. Com sua força vence os seus

adversários e subjuga a todos debaixo dos seus pés. Além disso, Cristo nos céus é

o nosso intercessor, que por nós roga diante de seu Pai. Ele é o sacerdote que

entrou no tabernáculo celestial (Hb 4.14) uma vez por todas, nos redimindo em

definitivo, para que entremos no seu descanso. O autor de Hebreus conclui

dizendo:

“Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com toda a confiança, a


fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos ajude no
momento da necessidade”. - Hebreus 4:16
CONCLUSÃO

Ao findar a seção que trata de Cristo, o Credo nos lembra de que Ele irá voltar. A

segunda vinda do Messias é o desfecho da História, o fim do concurso dos nossos

dias num mundo caído. Estamos nos “últimos dias” que são aqueles vividos entre a

primeira e a segunda vinda de Jesus, e devemos aguardar o seu retorno, vivendo

como se fôssemos a última geração da terra - mesmo que não sejamos e o Senhor

se prolongue por mais algumas gerações.

É verdade que muitos zombam da segunda vinda do Cristo e dizem que Ele está se

demorando. Afinal, passaram-se 20 séculos e nada dele ter voltado. Mas como diz o

apóstolo Pedro:

“Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e
mil anos como um dia. O Senhor não demora em cumprir a sua promessa,
como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não
querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao
arrependimento”. - 2 Pedro 3:8,9

Cristo retornará e virá para os que o esperam e para os que não o esperam. O dia e

a hora ninguém sabe, mas devemos viver de maneira santa e piedosa esperando o

grande dia (2 Pedro 3.11,12). Como soldados em uma trincheira, devemos estar

sempre vigilantes e preparados. E a nossa pregação não deve omitir que

acreditamos no retorno de Jesus que virá buscar a sua igreja.

No Dia do Juízo, Cristo vem como Rei e em seu trono julgará todas as nações. Este

dia será de alegria para os que creram em seu nome e por Ele foram redimidos pelo

sangue vertido na cruz do calvário. Mas, os incrédulos serão declarados culpados

por todos os seus pecados e terão que pagar pelos mesmos. Aos que não creem,

este dia será de dor e de remorso.


Mas saber que o Rei dos Reis julgará com equidade e justiça é um alívio para quem

nele deposita a esperança. Toda injustiça não ficará impune. Toda opressão se

desfará. As mazelas deste mundo não serão mais vistas na consumação do Reino e

com o ausente efeito do pecado sobre nós, poderemos gozar de paz perfeita na

presença do Deus triúno. Louvado seja Cristo, que encarnou, foi crucificado,

sepultado, ressurreto, assunto aos Céus e que em breve voltará trazendo consigo –

em definitivo – o seu Reino.

Soli Deo Gloria

Mateus 11:20-24 ensina o Molinismo


(Conhecimento Médio)?
Postado por Ruy Marinho - no dia 5.6.15 - Seja o primeiro a comentar!

Por Dr. Joseph R. Nally


Ao teólogo Jesuíta Luis de Molina é, geralmente, atribuído a posição e origem do

Molinismo, embora Fonseca e Lessius compartilhem das mesmas ideias. Eles usam

textos tais como Mateus 11 para mostrar que Deus tem “Conhecimento Médio”. Em

nossos dias, William Lane Craig afirma o mesmo, e a [denominação] The Baptist

Faith and Message parece resumir o Molinismo: “O perfeito conhecimento [de

Deus] se estende a todas as coisas, passadas, presentes e futuras, incluindo as

decisões futuras de suas criaturas livres” (Artigo 2).

O Molinismo, em poucas palavras, declara que Deus tem três tipos de

conhecimento: natural, médio e livre.

1) Conhecimento Natural é o conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis

(tudo que diz respeito ao que é necessário e possível no entendimento de Deus).

2) Conhecimento Livre é o conhecimento de Deus deste mundo atual. Por um “ato

livre”, ele é capaz de conhecer o que ele conhece absolutamente (Até agora

estamos bem, mas Molina diz que esse conhecimento (livre) não é alguma coisa

que seja essencial em Deus).

3) O Conhecimento Médio declara que Deus não pode conhecer os atos livres

futuros dos homens da mesma maneira que ele conhece outras coisas

absolutamente.

Assim, de acordo com Molina, este Conhecimento Médio é dependente dos atos

livres que os homens farão. Portanto Deus, em sua onisciência, espera pelo atos

dos homens e, então, escolhe salvá-los com base em suas escolhas de serem

salvos.

Agora, voltemos ao texto da questão (que está entre outros textos-provas de

Êxodo 13.17; 1 Samuel 23.8-14; Jeremias 23.21, 22; 1 Coríntios 2.8).


Mateus 11.20-24: “Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se
operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido,
dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em
Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se
teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá
menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós. E tu,
Cafarnaum, que te ergues até aos céus, serás abatida até aos infernos;
porque, se em Sodoma tivessem sido feitos os prodígios que em ti se
operaram, teria ela permanecido até hoje. Eu vos digo, porém, que haverá
menos rigor para os de Sodoma, no dia do juízo, do que para ti.”

Primeiro, o Conhecimento Médio é uma não-realidade. O conhecimento de Cristo é

simplesmente natural (conhecimento de Deus de todos os mundos possíveis), não

médio.

Segundo, Mateus 11 apenas prova o conhecimento de Deus de contrafactuais, não

conhecimento médio. Como Travis Campbell, em Conhecimento Médio: Uma Crítica

Reformada, declara:

Na melhor das hipóteses, as passagens frequentemente usadas pelos


defensores do conhecimento médio provam, se provam alguma coisa,
apenas “que Deus, conhecendo todas as causas, tanto as livres como as
necessárias, sabe o que qualquer criatura fará em quaisquer condições.
Mesmo nós sabemos que se pusermos fogo à pólvora, seguir-se-á uma
explosão.” (A.A. Hodge, Outlines of Theology [Carlisle, Pa.: Banner of Truth,
1972], 148). Em outras palavras, essas passagens bíblicas nos mostram
apenas que Deus conhece a natureza dos agentes livres tão bem que,
fossem os agentes colocados em outras circunstâncias, Deus sabia
exatamente que eles fariam. E isso não reconcilia conhecimento médio com
libertarianismo, mas com compatibilismo. Mais importante ainda, é
certamente possível que Deus conhece esta informação logicamente apenas
posterior ao decreto divino, eliminando assim a necessidade do
conhecimento médio. Portanto, há pouca, se há alguma, garantia bíblica
para scientia media.

Bastante interessante, Craig admite este ponto, dizendo:

Desde que a Escritura não reflete sobre esse assunto, quase nenhum texto-
prova pode provar que o conhecimento de Deus de contrafactuais é obtido
logicamente antes de seu decreto divino. Isto é assunto para reflexão da
teologia filosófica, não para exegese bíblica. Então, embora seja claramente
anti-bíblico negar que Deus tenha conhecimento simples e mesmo
conhecimento de contrafactuais, aqueles que negam o conhecimento médio
não pode ser acusado de ser anti-bíblico (Craig, "Middle Knowledge View,"
125.)

Terceiro, os defensores do Conhecimento Médio não podem deixar de fora, como

Paul Harvey diria, “o resto da história”.

Mateus 11.25-27: “Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te


dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios
e entendidos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim te
aprouve. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém
conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e
aquele a quem o Filho o quiser revelar.”

O Conhecimento Médio aqui é condenado. Quando Jesus diz, “Pai, Senhor do céu e

da terra”, ele está dizendo que Deus em sua soberania tinha, em seu agrado,

ocultado conhecimento de alguns e revelado esse mesmo conhecimento a outros.

Mateus 11 não fala sobre Deus não conhecendo qualquer coisa até que o homem

fizesse alguma coisa. Pelo contrário, já as conhece e apenas não quer revelá-las

até/se ele desejar. Mateus capítulo 11 está ensinando sobre o justo julgamento

porvir (Mt 11.15-19). Observe que isso não aconteceu ainda, mas Cristo sabe que

irá acontecer. Isto não é conhecimento médio, mas conhecimento natural e

conhecimento livre para justamente agir como Deus vê e prepara segundo sua
vontade.

Deus é soberano sobre todas as coisas (Prov. 16:33; Mat. 10:29; Rom. 11:36; Ef.

1:11 etc.), até mesmo sobre as decisões humanas (Prov. 20:24; 21:1). Embora

Deus não tente ninguém ao pecado (Tiago 1:13), Ele ainda está agindo em todas

as coisas, de indivíduos à nações, para o fim que Ele tem desejado (Is. 46:10-11).

O propósito de Deus não depende do homem (At 17:24-26), nem Deus descobre ou

aprende (1 Jo 3:20; Jó 34:21-22; Sal. 50:11; Prov. 15:3). Todas as coisas são

decretadas pelo conselho infinitamente sábio de Deus (Rom. 11:33-36).

A Confissão de Fé de Westminster substancia a posição ortodoxa no Capítulo III. 1

– 3, Dos Decretos de Deus:

I. Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua
própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece,
porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a
vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas
secundárias, antes estabelecidas.
Isa. 45:6-7; Rom. 11:33; Heb. 6:17; Sal.5:4; Tiago 1:13-17; I João 1:5;
Mat. 17:2; João 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as
circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la
previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais
condições.
At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.
III. Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens
e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados
para a morte eterna.
I Tim.5:21; Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23;
Ef. 1:5-6.

***
Sobre o autor: Dr. Joseph R. Nally, D.D., M.Div. é editor teológico no Third

Millennium Ministries (IIIM).

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