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%*0(07";1*/50 juntem a nós os leitores que não fazem teu a Drummond, que por sua vez os enviou mos com a multiplicação de feiras literá-
EJPHPQJOUP!JPOMJOFQU ideia quem seja Adélia Prado. Foi no dia ao editor da Imago, Pedro Paulo de Sena, rias e bienais, urge cuidarmos do feijão
9 de Outubro de 1975 que o Brasil primei- e então já ia a ordem de que os publicas- com arroz do estudo básico, que só acon-
Para lembrar que o silêncio não aceita ro viu impresso este nome. Carlos se porque os poemas eram nada menos tece no primário bem feito. Ler, escrever,
substitutos, não tem emissários e que o Drummond de Andrade serviu-se da sua do que “fenomenais”. Anos mais tarde, interpretar.”
envergonham as glosas que lhe tecem; crónica no “Jornal do Brasil” para cele- Sant’Anna fez questão de deixar uma coi- A Portugal a poeta chegou só no início
para deixar claro também que falar dele, brar a descoberta de uma poeta do seu sa muito clara em relação ao aparecimen- do século XXI, pela mão de André Jorge,
dizendo a falta que faz, ainda é mastigar estado natal, Minas Gerais, e isto em ter- to desta poeta: “Não fui eu quem desco- editor dos Livros Cotovia, que morreu no
ruído como toda a gente faz, Adélia Pra- mos que não davam a menor margem briu Adélia Prado, nem Drummond, nem ano passado. Foram editados o livro de
do honrou-o da única maneira possível: para discussão. Quando a literatura ain- Pedro Paulo de Sena Madureira. Ela se estreia, e uma antologia – “Com licença
pela ausência. Não foi só o silêncio que lhe da causava ansiedades, o Brasil pôs-se a revelou, se desvelou, teve coragem de ir à poética” – da responsabilidade de Abel Bar-
surgiu como único remédio na sequência roer as unhas: vinha aí uma novata mas raiz do ser para desencravar sua lingua- ros Baptista. Quem descobriu a poeta então
de uma crise depressiva, e que lhe “emu- que caía com estrondo naquele chão todo, gem. Apenas facilitámos a sua passagem.” não ficou necessariamente esmagado pela
deceu a pena”, a meio da década de 1990, porque estava madura, a um mês de fazer O livro foi o sucesso que tinha de ser. E quantidade absurda de poemas que levam
foi a noção que, desde então, se lhe impôs 40 anos, casada e com cinco filhos, pro- dois anos depois, em 1978, Adélia lançou na língua uma hóstia, não deixando mes-
da “aridez como uma experiência neces- fessora numa pequena cidade do interior, “O Coração Disparado”, que conquistou o mo assim de pronunciar bem as sílabas
sária” na vida e na arte. O silêncio mos- com o sugestivo nome de Divinopólis. prémio Jabuti. A poeta pôde então deixar de um quotidiano feito do espanto de estar
trou-se da maior sinceridade, um apelo “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz as aulas e dedicar-se inteiramente à escri- vivo, do arrojo de umas observações exem-
cada vez mais forte, passando a pautar a poesia como faz bom tempo”, escreveu ta. Contudo, dessa experiência ficou-lhe a plaríssimas e modestas, concretas e veri-
sua manifestação pública no meio da baru- Drummond, e, meses depois, o primeiro noção de como, na educação, as bases são ficáveis, mas com um ímpeto que trança
lheira da atualidade e de um ciclo vertigi- livro dela – “Bagagem” – contou no lança- o que faz toda a diferença. E quando lhe da realidade os cabelos mais armados e
noso em que os desastres se sucedem. mento com figurões como Antônio Houaiss, perguntam o que explica que a poesia seja crespos como se elanguescidos numa solu-
Numa entrevista recente lembrou a capa Raquel Jardim, Clarice Lispector, Jusce- o patinho feio entre os géneros literários, ção de fábula.
do “Charlie Hebdo”: “O que quiseram dizer lino Kubitschek, Affonso Romano de ela explica que a culpa é “da nossa “pátria Depois de ter completado 80 anos no
com um corpo furado de balas que vertia Sant’Anna, Nélida Piñon e o próprio educadora” e de longo tempo, onde a lite- final de 2015, com os mesmos anos de gave-
champanhe? Não é voltando imediata- Drummond. No que toca a batismos lite- ratura é tratada como descartável. Faz ta quanto aqueles que somou enquanto
mente a restaurantes e cafés e dizendo rários, Adélia teve a sua cerimónia no céu, parte do baixo clero das escolas, onde mal autora publicada, a Assírio & Alvim fechou
‘não temos medo’ que responderemos ao com os anjos todos. vicejam educação artística, religiosa e até 2016 com uma nova antologia de Adélia,
fogo. Agora somos chamados a um reco- Tinha escrito os primeiros versos após educação física. Não merecem participar organizada pelo padre poeta José Tolen-
lhimento, a um silêncio que nos permita a morte da mãe, em 1950, e depois de se música, teatro, dança, nada que nos faça tino Mendonça e por Miguel Cabedo e Vas-
ouvir atentamente, encontrar e admitir a ter formado em Filosofia, em 1973, um dia descobrir que somos humanos, necessi- concelos, padre também.
nossa culpa.” enviou um conjunto de originais a Sant’Anna, tamos de beleza e transcendência, que pre- Se o foco religioso é indissociável da
Voltemos um pouco atrás, para que se que era crítico literário, e este logo os reme- cisamos de ar. Antes de nos preocupar- poesia de Adélia, esta antologia saúda e

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