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Alexandre Issa Kimura, por sua vez, começa sua abordagem sobre o método
científico-espiritual fazendo referência a Rudolf Smend, isto é, de que o referido método
foi traçado por este (2005, p. 53). Nesse sentido, também cita Canotilho e Bonavides,
1
Klaus Stern em Das Staatsrecht der Bundesrepublik Deutschland, III/1, 1988, p. 594.
contudo, não expressa com suas palavras o que vem a ser o referido método. FALAR
AQUI DO RODRIGO PADILHA
Inocêncio Martins Coelho2, por outro lado, apresenta uma abordagem mais
aprofundada sobre o método científico-espiritual, não se limitando a citar Canotilho e
Bonavides, como boa parte da doutrina assim faz. Primeiramente, Coelho afirma que o
que dá sustentação material para tal método é a ideia de Constituição como instrumento
de integração, que remete à ideia de que a Constituição não diz respeito apenas ao
aspecto jurídico-formal, mas também na perspectiva política e sociológica.
Nesse sentido, o Autor cita Rudolf Smend, para afirmar que a Constituição é
a ordenação jurídica do Estado ou da dinâmica vital em que se desenvolve a vida estatal,
mas, o Estado não limita a sua “vida” somente àqueles momentos da realidade que são
contemplados pela Constituição, de modo que há espaços do Estado não alcançados
pela normatividade constitucional. E continua:
Mesmo assim, ainda que se deva considera-lo sempre como realidade
juridicamente conformada, nem por isso podemos reduzir o Estado a uma
totalidade imóvel, cuja única expressão externada consistira em promulgar
leis, celebrar tratados, prolatar sentenças ou praticar atos administrativos.
Muito pelo contrário, há de ser visto, igualmente, como um fenômeno
espiritual em permanente configuração, no âmbito de um processo que pode
ser valorado indistintamente, como progresso ou como deformação, pouco
importa, até porque isso é da sua natureza (2002, p. 171).
2
Princípios de Interpretação Constitucional. In: Revista de Direito Administrativo, disponível em
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/46340.
humana, “como premissa antropológica-cultural do Estado de Direito e valor fundante
de toda a experiência ética” (2002, p. 172).
Quanto a André Ramos Tavares, este denomina o método científico-
espiritual de método evolutivo. O autor não cita Smend, tão somente Gustavo
Zagrebelsky, mas explana uma ideia similar com os demais autores brasileiros que
“tratam” do tema, qual seja: que tal método se destina a reconstruir o direito
dinamicamente, na medida das exigências sociais, onde isso só é permitido dentro
daquilo que só pode chamar de Constituição aberta, como a do Brasil, conforme fala o
Autor.
De acordo com Tavares, essas sociedades se diferenciam daquelas correntes
interpretativas desenvolvidas nos EUA, “que pregam, basicamente, uma vinculação
extrema ao texto e ao que nele estaria expressamente contido, sem qualquer
possibilidade de evolução por meio da interpretação do texto” (2012, p. 112). Conclui o
Autor que o método evolutivo é extremamente adequado a Constituição brasileira.
Na leitura de Pedro Lenza, é possível destacar referências em Canotilho e na
doutrina de Inocêncio Coelho para tratar sobre os métodos de interpretação. Segundo
ele,
a interpretação constitucional é um conjunto de métodos,
desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência com base em
critérios ou premissas (filosoficas, metodologicas,
epistemologicas) diferentes mas, em geral, reciprocamente
complementares. (...) A análise da norma constitucional não se
fixa na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos
valores subjacentes do texto do texto da constituição. Assim, a
constituição deve ser interpretada como algo dinâmico e que se
renova constantemente, no compasso das modificações da vida
em sociedade. Conforme anota Coelho, segundo o método
científico espiritual, "...tanto o direito quanto o Estado e a
Constituição são vistos como fenômeno culturais ou fatos
referidos a valores, a cuja realização eles servem de
instrumentos". 3
4
Motta, Sylvio; Barchet, Gustavo. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 80-1
o reforço da unidade política. Todavia, há que levar a sério a
advertência de Konrad Hesse, de que mediante recurso ao
princípio do efeito integrador não se poderão ultrapassar os
limites da interpretação constitucional, é dizer, não se legitima
resultado obtido por meio de caminhos que não sejam
condizentes com os parâmetros estabelecidos pela própria
constituição." 5
5
SARLET, I.; MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D. Curso de Direito Constitucional. 6. Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2017. P. 212.
6
O trecho destacado recebe uma nota de rodapé na doutrina, em que a obra de Smend é mencionada pela
primeira vez: “É influente na teoria constitucional germânica a concepção de Rudolf Smend, elaborada no
contexto da Constituição de Weimar, que via na integração o papel essencial da Constituição. Cf.
SMEND, Rudolf. Constitución y derecho constitucional”. (SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, Daniel.
Direito Constitucional: Teoria, história e métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 27).
Na sequência da obra, os autores tratam de apresentar a teoria da integração
de Smend como um capítulo da Teoria e Filosofia da Constituição. Abaixo, transcrevo a
descrição feita pelos autores:
A Constituição é definida como um “processo de integração”,
realizado de acordo com a dinâmica social. A teoria proposta
por Smend também procura dar conta da realidade
constitucional, como a teoria sociológica de Lassalle, mas tal
realidade é concebida de modo dinâmico e não estático. Além
disso, Smend não exclui o elemento normativo, inserindo-o em
sua concepção de Constituição. Nas palavras de Smend, a
Constituição normativa não pode senão consistir em uma
representação legal de “aspectos determinados” do permanente
processo de integração, devendo levar em consideração, para se
tornar socialmente eficaz, os “impulsos e motivações sociais da
dinâmica política, integrando-os progressivamente”. Os “artigos
da Constituição” podem, no máximo, “inspirar a dinâmica
política”, sem “abarcar a sua totalidade”. O “processo de
integração”, ao qual o Estado está permanentemente sujeito,
possui dimensões “pessoais”, “espirituais”, “funcionais” e
“materiais” que não se deixam abranger totalmente pelo texto
constitucional. A Constituição, para Smend, está em permanente
desenvolvimento, o qual envolve fatores espirituais, sociais,
individuais e coletivos. Nesse sentido, Smend defende que o
Direito Constitucional seja concebido a luz do método das
“ciências do espírito”, do que resulta a integração do elemento
valorativo na teoria constitucional, que havia sido rejeitado por
Kelsen. Não por outra razão a interpretação constitucional deve
ser efetuada de forma “extensiva” e “flexível”.
Apesar de crítica da perspectiva normativista, a teoria de Smend
se distancia também de modo significativo da tese sustentada
por Schmitt. A teoria de Schmitt é estática. A “decisão política
fundamental” ocorre em um momento estanque da história
constitucional. Mesmo nos contextos de “exceção”, o que tem
lugar é a reafirmação da decisão política fundamental, com o
objetivo de promover a “manutenção” e a “subsistência” da
Constituição. A teoria de Smend, ao contrário, é dinâmica. A
Constituição, na sua concepção, é a “dinâmica vital na qual se
desenvolve a vida do Estado”. Seu olhar recai sobre a estrutura
social em toda a sua complexidade, sobre as infinitas decisões
tomadas no quotidiano, e não sobre um momento qualquer de
exercício do “poder constituinte”. 7
7
SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional... op. cit., p. 168-9.
o autor destaca o "científico-espiritual", entretanto, não citou nenhuma fonte de
referência. Diz o autor que:
As normas constitucionais devem ser interpretadas de acordo
com a realidade social. Desta feita, se a sociedade é mutante e
dinâmica, as normas constitucionais também devem ser,
renovando-se a interpretação sempre, para adequar-se aos
anseios sociais. Assim, o hermeneuta deve realizar a 'captação
espiritual' da realidade social. 8
8
PADILHA, Rodrigo. Direito Constitucional. 3 ed. São Paulo: Método, 2013. P. 95.
9
PEÑA DE MORAES, Guilherme. Curso de direito constitucional. 4 ed. São Paulo: ATLAS S.A., 2012. P.
131-2.
COELHO, Inocêncio Martins Coelho. Métodos – Princípios de Interpretação
Constitucional. In: Revista de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: FGV, pag. 163-
186.
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 22. Ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018.
PADILHA, Rodrigo. Direito Constitucional. 3 ed. São Paulo: Método, 2013. P. 95.
SOUZA NETO, C. P.; SARMENTO, Daniel. Direito Constitucional: Teoria, história e métodos
de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012.
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 10. Ed. São Paulo:
Saraiva, 2012.