Dois autores que estabelecem críticas continuidade ao estruturalismo de Levi-Strauss
Clastres é o autor mais próximo ao estruturalismo de Levi-Strauss e apesar da
sua proximidade, ele explicita uma critica com sua releitura estruturalista e anuncia um “rompimento” com a teoria. Ao lermos as obras “ Sociedade contra o Estado” e “Arqueologia da violência” sabemos que o autor realiza seus estudos na América do Sul, em 1958 chega ao Paraguai para observar os guaranis estabilizando-se nas fazendas, após serem proibidos os abusos e massacres contra eles. Anteriormente, as tribos que estavam na costeira do Brasil, migraram após a chegada dos europeus, os tupis para Amazônia e os Guaranis para o Sul do Brasil. Observa-se nesse momento que nessa tribo, o sistema de parentesco segundo Levi – Strauss é ignorado, ao mesmo tempo a mitologia que envolve esse sistema, é riquíssima e elaborada. Ao reconhecer essa relação endogamica, Clastres observa o ‘’rompimento’’ com o estruturalismo, apesar de ter o pensamento selvagem como ‘’ base’’ continua para para essa analise. Nesse caso observado, o chefe da tribo possui muitas mulheres que trabalham para a produção de bens que serão impreterivelmente doados e divididos entre a tribo. Ou seja, o chefe, necessariamente deve ser uma figura pobre, isso que o faz chefe. Em relação ao estruturalismo linguístico, ou seja, a ‘’ troca’’ de palavras que fundamenta uma sociedade, nessa tribo observada há também a quebra com a teoria estrutural de Levi – Strauss, já que ‘’ o chefe é mudo e a tribo é surda’’. O chefe claustriano é uma antítese da vida social, a grande ‘’novidade’’ trazida por Clastres, é que nesse momento a antropologia discute com a filosofia política de Hobbes. Isso é, o chefe claustriano é a anti-representação da vida social de Hobbes, a sociedade elege aquilo que não os representam. A tribo ou a sociedade ‘’ primitiva’’ acredita na representação daquilo que é exterior a ela, não necessita ser representada por um poder. O Ocidente tem a ideia de governo exercido por outrem, um corpo separado da sociedade para governa-lo, a lei é de poderes coercitivos, cristalizados num papel, o mundo social, portanto, é escrito num lugar a parte. Assim, visivelmente a obra de Clastres é uma novidade até mesmo para o mundo ocidental, já que nessa sociedade chamada primitiva, a lei esta marcada no corpo, as torturas, a violência nessa sociedade é usada e portanto, determina que a lei deve estar interiorizada. Os indivíduos não devem estar acima de outros, tudo pertence ao corpo social. Não há sobreposição de indivíduos e nesse caso, nessa sociedade, se um individuo se sobrepõem aos outros, ele ficará isolado do mundo social e corpo social estabelecido. Essa posição garante a integridade da tribo, portanto, fragmentam-se para fugirem da noção de um. Há um preconceito do ponto de vista ocidental e consideram essas sociedades incompletas por não possuírem um ‘’Estado’’, na verdade, o que é observado claramente, é que essas sociedades, diferente de nós ocidentais, não precisam enxergar um poder coercitivo, não necessitam de uma ordem acima dos próprios indivíduos. Sendo assim, além de não terem a necessidade de centralização, também são contra a existência de grandes guerreiros. Não querem excedentes, pois também não querem uma ‘’interdependência’’, isso é, indivíduos necessitando de outros, a troca ‘’ de Levi- Strauss’’ não é bem vinda nessa sociedade. Portanto, podemos concluir que Clastres analisa as sociedades primitivas que ‘’ quebram’’ com o estruturalismo das obras de Levi- Strauss, porém ao mesmo tempo em que Clastres ‘’ revoluciona’’ essa teoria dialogando com diversos campos que analisam as estruturas sociais, ele também avança o próprio estudo de Strauss, ou seja, os autores partilham da noção de estruturalismo e de formação social, só que de maneiras diferentes. O próximo autor que podemos fazer um paralelo mais nítido e que também questiona o estruturalismo de Levi- Strauss com sua obra “ Ilhas de História”. A segunda fase de Sahlins, rompe com o determinismo material e passa para um determinismo cultural, ele se utiliza do termo cultura para se resignar às estruturas trabalhadas por Strauss(A mudança de termo ocorre pela influência do conceito de cultura de Boas na antropologia norte-americana da época) Sahlins inicia seus estudos dos povos das ilhas havaianas,passa a se questionar- se sobre a cultura NA história.Para isso, utiliza-se do mito capitão Cook, que quando ele chega nas ilhas havaiana, coincide de ser o momento da chegada do LONO (a força/a divindade que vem de fora e que traz o poder para o povo) e ele é recebido como essa divindade. É um momento que a divindade fertilizadora da ilha chega em forma de humano, só que acontece do capitão Cook ter problemas com as embarcações e retorna pra ilha, e isso desafia a estrutura daquela sociedade porque naquelas ilhas, todo o poder só devia ficar nas mãos da aristocracia e quando ele retorna às ilhas, ele começa a falar com o povo, com os comuns, e com isso a aristocracia acha que ia perder o poder, porque a "divindade" estava passando todo o poder aos comuns e matam o Capitão Cook. Esse evento, por mais que tenha sido diferenciado, foi absorvido pelo mito, mas trouxe mudanças praquela sociedade. A partir desse acontecimento, aqueles povos passaram a acumular bens materiais (a aristocracia) para ainda provar a sua superioridade aos demais, ainda há o mito do LONO que é a divindade que traz a fertilidade, porém essa divindade chegaria do exterior por meio de mercadoria. Esse mito utilizado por Sahlins serve para explicar a síntese da continuidade e da mudança dentro de uma mesma sociedade, dentro de um mesmo mito. O autor legitima, com isso, que pode acontecer algum evento específico, com alguma influência externa que gera mudanças, mas a sociedade ainda permanecerá sob a mesma estrutura. É a "permanência da mesma estrutura, mas modificada por eventos"... Essa é a tentativa de resposta que ele dá para a ausência da abordagem da história no estruturalismo de Strauss, pra ele a permanência e a transformação estão juntas. Então há o conceito de "história estrutural" que, se a história é estruturada, as estruturas também estão na história e, por isso, têm capacidade de transformação. Os eventos são acontecimentos com "sentido simbólico", ele presa que se considere o SÍMBOLO por trás da prática, qual é a intencionalidade da pessoa por trás do signo, como essa pessoa avalia o mundo. A ação simbólica é um composto duplo, é uma síntese do que se sabe do mundo e, a partir disto, como se é colocada esta sabedoria em ação. O autor desta maneira garante que é parte da natureza dos fenômenos sociais e suas transformações, MAS ao se transformarem, continuam sendo eles mesmos. É uma transformação sem que a estrutura morra, uma leitura que tenta quebrar com o pessimismo do Strauss. Retomando, o autor com seus estudos realizados nas ilhas havaianas, questiona concepções já realizadas por outros autores sobre a mesma região. Ele defende que as diferenças apontadas em as ilhas das regiões chamadas Melanésia e Polinésia. Que seriam uma aculturação sofrida pelos polinésios e uma manutenção de tudo aquilo que seria natural dos ditos nativos da região. A questão é que, houve uma grande influência ocidental em ambos locais, porém, a previsão de que seria maior e mais avassaladora na polinésia se confirmou errada, principalmente após a chegada dos ingleses na melanésia, em especial as visitas quase que anuais do capitão Cook e sua tripulação. As mudanças não foram simplesmente na ordem de costumes produtivos, mas principalmente nas relações entre os homens e as mulheres, entre os sacerdotes e os chamados “Big Man”. Com a chegada, acidental ou não, do capitão às ilhas da melanésia bem no início do festival realizado para o deus chamado “Lono”, ou o deus estrangeiro começaram as mudanças, mesmo que antes deles, outros ingleses já houvessem ali chegado por ser rota de passagem para o comércio Ocidente-Oriente. Ele é considerado o deus estrangeiro, passando a agir (de sua forma) como tal perante os nativos melanésios. Ao ser introduzido nos rituais do festival e entrando em templos, o capitão Cook passa a confirmar cada vez mais sua divindade perante os olhos dos nativos. Mesmo com seu fim trágico ao final de uma de suas visitas, na qual ele volta logo após sua partida por ter havido um acidente com o navio, ele é reintroduzido nos rituais, agora sendo “absorvido” pela população após ser cozido. “Cook obsequiou os havaianos incorporando o papel de Lono até o desfecho final.” (SAHLINS, 26) Portanto, o “deus agonizante” assim o era para os melanésios, mas continuava a ser o mesmo capitão Cook para sua tripulação e qualquer outro que não compartilhasse da dita cultura melanésia, e para aqueles que não compartilhavam dos mesmos preceitos que ele, era o deus estrangeiro, o Lono, que vinha anualmente, se ritualizava e confirmava sua santidade e era absorvido pela população. E para Levi Strauss, ele nega as sociedades orientadas pela história, já que para ele as sociedades primitivas, assim como a estudada por Sahlins, eram fechadas, isto é o número de acontecimento possível, é limitado. Tudo gira em torno do funcionamento estrutural dessa sociedade. Sendo assim, Levi Strauss é considerado pessimista, já que parte do pressuposto que a incorporação da história ( que é uma visão ocidental, da passagem do tempo e diversos eventos) faz com que as sociedades primitivas percam suas características ao incorporarem a história, que esta sempre em crescente expansão.