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António Calheiros
Universidade Católica Portuguesa
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All content following this page was uploaded by António Calheiros on 03 October 2018.
Espacialidade e
movimentos sociais
CONSEQUÊNCIA
Conselho editorial
Alvaro Ferreira
Carlos Walter Porto-Gonçalves
João Rua
Marcelo Badaró Mattos
Marcos Saquet
Ruy Moreira
Coordenação editorial e Projeto gráfico
Consequência Editora
Revisão
Priscila Morandi
Capa e diagramação
Letra e Imagem
Foto de capa
Introdução..................................................................................................................................... 9
O espaço e o território
Conceitos e modos de uso em tempos
de movimentos sociais
Ruy Moreira
15
Daí que se possa dizer do espaço que está para a estrutura assim como o
território para a conjuntura. Empreender a ação territorial significa conhe-
cer a correlação de forças conjuntural do momento como condição neces-
sária e suficiente para a mudança pontual que se quer fazer, a intervenção
espacial significando, ao contrário da territorial, ir mais além, atingindo-
-se o plano estrutural da mediatez. É assim com um movimento de defesa
de um ecossistema, uma ação de distribuição equânime de acessibilidades
urbanas (o que Harvey designa justiça territorial distributiva), a luta por
demarcação de terras indígenas, já não é assim com uma mudança históri-
co-estrutural de uma forma de sociedade por outra.
visual com que o espaço organizador é inscrito. Mas logo vem a dissolver-
-se no olhar dos herdeiros georgianos como Yves Lacoste, David Harvey e
Milton Santos.
De George a Santos se entrelaçam os olhares da proveniência marxista.
Daí o sentido de historicidade do concreto. E daí a presença, embora ao
fim onipresença, da categoria do espaço. Instrumenta-os a conjuntura his-
tórica herdada das revoluções francesa e russa, marcada pela ideia da in-
tervenção do homem na conformação do seu modo concreto de existência.
Dois modos extremos de ver distinguem os olhares montados na centra-
lidade essencial do espaço, entretanto, um expresso em Lacoste, em seu con-
ceito subjetivado de paisagem prenhe de homem-natureza espacialmente
inter-relacionados, e outro em Santos, em seu conceito tecnotemporalizado
de espaço basicamente vazio de qualquer componente natural, com Harvey
correndo em raia própria em seu conceito de compressão do espaço.
É de Lacoste o conceito de espacialidade diferencial, um combinado de
componentes físicos e humanos – que designa de conjuntos espaciais, no
sentido dos conjuntos matemáticos – formadores da paisagem, arruma-
dos interativamente em seu todo num entrecruzado de órbitas oblíquas,
à semelhança da estrutura dos átomos de Neils-Bohr. Cada mirante de
olhar – cada órbita de conjunto espacial – é um nível de representação,
traduzido como nível de conceitualização, cujo resultado é a subjetividade
conceitual-perceptiva que vai formar o que se designa de paisagem. Esta
pode estar inscrita, assim, na linguagem da vegetação, como de hábito no
conceito de paisagem da tradição, do relevo, do clima, da cidade, da indús-
tria, circulação rentista, a depender do foco com que a vemos. Recriando
o combinado paisagem-espaço de Brunhes, Lacoste funde o binômio, en-
tretanto, no primado do sentido e conteúdo substancial do espaço. Daí o
retrato sociedade-espaço recíproco que Lacoste sintetiza no papel estru-
tural-sobredeterminado de “saber ler o espaço, para saber nele se organi-
zar e nele combater”, um olhar sobre o espaço que Lacoste rapidamente
transfere da geografia para o campo para ele mais amplificado da geografia
política/geopolítica (LACOSTE, 1988).
Vai num contraponto o conceito palimpsêstico de paisagem de Santos,
como um combinado de “temporalidades de tempos desiguais”, na qual
o que vemos é não mais que o agregado num mesmo tempo dos estágios
georgianos periodicamente diferenciados na história da construção técni-
ca do espaço. A paisagem do sentido clássico desaparece frente ao caráter
lutas sociais ensinam desde sempre. Nenhuma luta se organiza sem logís-
tica de território. Mas a luta é o atalho para onde se deseja chegar. Não o
real-real almejado em si mesmo. Válido para as lutas de classes de ontem,
vale para as lutas dos movimentos sociais de hoje.
É este o traço distintivo entre o espaço geral e o espaço específico da
geografia. Este remete a modos de vida histórico-concretos. A luta e o
modo de ordenamento territorial são o elo de passagem cujo escopo final
é o modo espacial de existência histórico-concreta que se quer. O estado
espacial de geograficidade. Vive-se nos parâmetros estruturais de espaço-
-tempo, não território-tempo, porque é segundo o espaço que a forma de
geossocialidade estabelecida pelo projeto humano se contextualiza como
sociedade (SILVA, 1991). Esta aparece como efetivamente estruturada. É
no espaço e pelo espaço onde o quadro da correlação de forças políticas se
põe como norte, mobilizando a presença conjuntural do território. Razão
porque, Lefebvre poderia dizê-lo (LEFEBVRE, 1973), o capitalismo ao to-
talizar-se toma o espaço por sua categoria de reprodutibilidade, deixando
o trato do singular, do fato localizado, do logístico para o território.
Referências
Introdução
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mantidas para garantir que o semiárido e seu povo permaneçam sem vez
e sem voz, dependentes. Permaneçam na subalternidade.
Como se sabe, essas políticas normalmente são ligadas ao voto e man-
têm no poder as mesmas pessoas e grupos oligárquicos, através da compra
de votos. Assim, por meio de doações e políticas assistencialistas foi manti-
da e favorecida a concentração da terra nos latifúndios, nos grandes proje-
tos do agronegócio e nas grandes fazendas de gado. Enquanto isso, muitos
agricultores e agricultoras continuam trabalhando em terras alheias ou
em minifúndios superexplorados, fragilizando sua segurança alimentar.
De igual modo, durante muitos anos, foram construídos muitos poços e
açudes no semiárido, mas em terras de ricos e fazendeiros. Por isso, em
cada seca ocorrida, os ricos se tornavam mais ricos, concentradores de
mais água em suas terras, com mais terra e mais poder. E os mais pobres,
ou migravam ou ficavam mais miseráveis.
Nessa região, terra e água sempre estiveram nas mãos de uma pe-
quena elite, gerando níveis altíssimos de exclusão social e de degradação
ambiental. Essa realidade atinge, em particular, cerca de 1,5 milhão de
famílias agricultoras que vivem no semiárido brasileiro. Elas represen-
tam 28,82% de toda a agricultura familiar brasileira e ocupam apenas
4,2% das terras agricultáveis. No semiárido, 1,3% dos estabelecimentos
rurais (não familiares) têm 38% das terras e 47% dos estabelecimentos
menores têm, em conjunto, 3% das terras (IBGE, 2006). A concentração
de terra está, indissociavelmente, ligada à concentração da água, repre-
sentando os fatores determinantes da crise socioambiental e econômica
vivida na região.
As famílias sem-terra ou com pouca terra são as que menos se bene-
ficiam das chamadas “inovações”, permanecendo em situação de grande
vulnerabilidade social e alimentar. Esse quadro evoca a necessidade de
profunda reestruturação fundiária, para que o ideal de uma agricultura
sustentável e democrática, com segurança e soberania alimentar e nutri-
cional, seja efetivamente alcançado.
A precipitação pluviométrica da região semiárida é marcada por chuvas
irregulares, tanto na distribuição quanto no espaço e no tempo. Varia en-
tre 300 e 800 mm por ano. Na região ocorre uma evaporação muito supe-
rior à precipitação. Em média, para cada metro cúbico de água que cai das
chuvas, existe o potencial para evaporar 3 m³. Estudos hidrográficos apon-
tam que, muitas vezes, quando a água é encontrada no subsolo, através da
onde está inserida e a serviço da modificação pela qual deveria estar atuan-
do. Por isso, a realidade do semiárido, suas perspectivas, os valores de seu
povo, sua música, seus costumes, danças, comidas, lutas, são dimensões
ausentes não apenas dos livros didáticos, mas de debates e conteúdos ou-
tros que os professores desenvolvem para além dos livros didáticos.
A escola, como hoje se apresenta, não contribui para o desenvolvimento
sustentável e para a convivência com o semiárido, além de reforçar o cami-
nho do combate à seca. Muitos livros e pesquisas fazem, com profundida-
de, esta análise (MOURA, 2006; RESAB, 2006). Moura afirma que a escola
desfaz tudo aquilo que se constrói com as comunidades, nas dimensões do
trabalho comunitário. Segundo Moura (2011):
A cultura do estoque
As reflexões acima apontam princípios e práticas de convivência com o
semiárido e indicam que, na convivência, as pessoas humanas estão no
centro dos processos, numa relação de equidade, justiça e convivência har-
mônica com a natureza. A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), rede
de organizações da sociedade civil que atua na região, responsável pela
implantação e gestão do Programa de Formação e Mobilização Social para
a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas (P1MC) e Uma
Terra e Duas Águas (P1+2), tem destacado que a base da convivência com
o semiárido reside, sobretudo, na cultura, na política e na estratégia de
estoque. Neste campo, afirma a necessidade de que todas as ações desen-
volvidas na região – a educação formal, a assistência técnica, o crédito, as
infraestruturas etc. – explicitem e dinamizem essa perspectiva. O estoque
a) Estoque de água
Para a ASA, o acesso à água é um direito humano fundamental que pre-
cisa ser garantido a toda a população, na perspectiva da segurança alimentar
e nutricional. Este direito está nas leis, nos documentos das Conferências
de Segurança Alimentar e Nutricional e em muitos documentos oficiais
das organizações da sociedade civil. Contudo, muitos homens e mulheres
ainda não têm assegurado o seu direito à água para o consumo humano
e para a produção. No semiárido existe água e, dependendo das regiões,
chove bem. Hoje há estruturas de armazenamento para quase 37 bilhões de
metros cúbicos de água, especialmente nos grandes açudes. O problema é
que toda ou quase toda essa água está destinada às cidades ou concentrada
nas mãos de poucos, enquanto a maioria passa sede. Os programas Um Mi-
lhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, assim
como o Programa Água para Todos, do Governo Federal, têm garantido
as condições mínimas para que as famílias tenham acesso à água para o
consumo humano e para a produção, quebrando a hegemonia da concen-
tração de água nas mãos de poucos, em detrimento da miséria de muitos.
Atualmente são cerca de um milhão de famílias com água para o consumo
humano, o que corresponde a aproximadamente 3,5 milhões de pessoas.
Alegra-nos constatar que a proposta de cisternas da ASA se transformou no
Programa Cisternas do Governo Federal, que busca atender a 1,25 milhão
de famílias e, por conseguinte, contemplar 6,25 milhões de pessoas. Para a
estratégia de estoque da água, a ASA propõe cinco linhas:
• Água para beber e cozinhar - A água das chuvas é estocada em reser-
vatórios cilíndricos de 16 mil litros, construídos próximos à casa do(a)
agricultor(a). Este tipo de armazenamento se difundiu muito no semiá-
rido pelo Programa Cisternas, do Ministério do Desenvolvimento So-
cial e Combate à Fome (MDS), pelo Programa Um Milhão de Cisternas
(P1MC) da ASA, por cisternas comunitárias e por vários programas
governamentais de acesso à água, nos vários estados do semiárido. É
resultado de muita luta.
Conclusão
Referências
Celia Basconzuelo
Introdução
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dos movimentos sociais que seus aspectos externos. As críticas deste mo-
delo geraram, dentro da própria Teoria Sociológica americana, a Teoria da
“Mobilização Política”, ou também chamada de “Processo político”, cujo
foco de atenção era a relação entre movimento social e Estado.
Desde a sociologia europeia, cujo interesse pelos movimentos sociais
foi retomado na década de 1970, foi imposta a teoria dos “novos movimen-
tos sociais”, com o paradigma de construção de identidade, que apreciou
a dimensão sociocultural e histórica dos movimentos sociais. Eles procu-
raram cobrir os aspectos internos e externos de tais movimentos com um
conceito-chave: a identidade do grupo com o lugar.
Uma terceira corrente (o pós-estruturalismo) atualizou as clássicas ca-
tegorias de análise marxista em direção à realidade neoliberal e globaliza-
da. Foi reinstalado o conceito de revolução no discurso dos movimentos
sociais, junto com as ideias de particularismo e o contrapoder como coor-
denadas centrais da análise (LODESERTO et al., 2010).
No final dos anos 1980, ao mesmo tempo em que se registrava um
crescimento de movimentos sociais, os teóricos se preocuparam com uma
aproximação entre aquelas duas interpretações, ele foi chamado “Cons-
truccionismo social”, que trouxe novas metodologias (tais como o chamado
processo de enquadramento, estrutura de oportunidade política e redes).
Nos anos 1990, chegou para impor-se esse paradigma construcionista.
Além disso, os relatos acadêmicos foram enriquecidos a partir dos estudos
dos movimentos sociais na América Latina, que repensaram as aborda-
gens produzidas na Europa e nos Estados Unidos; os enfoques sociológicos
consideraram o impacto da globalização e discutiram o grau de institu-
cionalização dos novos movimentos. Para a realidade latino-americana,
instalou-se a noção de “movimentos socioterritoriais” para caracterizar os
NMS a partir de quatro dimensões comuns: territorialidade, ação direta,
estrutura flexível, assembleísta e tendência para a autonomia (SANTA-
MARINA CAMPOS, 2008).
Os anos 2000 inauguraram com um retorno às análises específicas so-
bre os movimentos sociais, mas isso aconteceu desde os campos de estudos
disciplinares.
Certamente mais tardios, os estudos antropológicos refletiram sobre
as ambiguidades, limitações e conflitos que cercam os novos movimentos
sociais. Prevaleceram as abordagens construtivistas, usando o método et-
nográfico e realçando a dimensão cultural dos movimentos sociais, seus
gico seja ver os NMS como “sujeitos”, e não como objetos de estudo. Prova-
velmente seja necessário avançar numa epistemologia do NMs.
Logo, se temos em conta os próprios movimentos sociais:
• A sociedade é cada vez mais complexa. É correto asseverar que os NMS
expressam demandas e identidades fragmentadas, eles têm muitas difi-
culdades para sobreviver e se manter no tempo. Na maioria dos países
não articulam-se uns aos outros e, além disso, eles são questionados em
sua capacidade de transformação sistêmica.
• Mas também é verdade que esses grupos e organizações manifestam
novas formas de fazer política, de iniciativas que partem da sociedade
civil e já não do Estado, portanto isso sucita uma enorme possibilida-
de – também para a democracia – em meio às tensões que enfrentam as
sociedades latino-americanas. Esta contribuição não é um pequeno deta-
lhe, tendo em conta as experiências que atravessaram muitas sociedades
latino-americanas na década de 1970, com os regimes militares que pos-
suíam, como um de seus projetos, o desmantelamento de ações coletivas.
• Além disso, o Estado já não é um garantidor do desenvolvimento. Mas
este aspecto que poderia ser avaliado como negativo desde uma pers-
pectiva intervencionista ou keynesiana, tem algum potencial desde
uma perspectiva territorial. Com efeito, neste contexto, alguns movi-
mentos sociais geram estratégias de resistência ao movimento de inter-
nacionalização do capitalismo e ao domínio das grandes corporações.
Para esses movimentos, o paradigma de desenvolvimento é satisfazer
as necessidades das populações, gerar recursos endógenos, envolvendo
nesse processo as próprias populações. Ou seja, o território local pode
ser um fator gerador de desenvolvimento. Muitos deles conseguem
articular o termo do conflito em uma nova forma de relacionamento
social. Por isso se fala de territórios de resistência e territórios como
integração (ZIBECHI, 2008).
• Por outro lado, considerando que o poder já não se concentra no Estado
e pode emergir das relações sociais (isto em sentido foucaultiano), os
NMS estarão contribuindo para uma democracia substantiva, mas eu
tenho dúvidas de que seja uma cultura mais participativa.
• Assim também alguns críticos destes movimentos argumentam que vá-
rios deles são caracterizados por ser mais anti do que alter (alternativos).
• Outra variável a considerar é a relação de alguns MS com os governos
populistas. No Equador têm demonstrado que são fracos, assim como
Referências
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preensível. E isto pode ser feito desde o lugar concreto (bairro, empresa e
moradia como lugar de luta) até a escala de poder nacional e global (que se
afirma, deve-se mudar já)
Conclusões
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Antonio Calheiros
83
de crise. O cidadão atual tem a noção das mudanças que se estão a registar,
até porque uma camada significativa de resistentes participa nessas mu-
danças. No entanto, estes resistentes não comungam dos mesmos valores
relativamente ao ideal democrático.
Mais que apresentar soluções, este trabalho pretende oferecer uma pa-
norâmica dos desafios e das ameaças que se estão a viver, porque só assim
é possível aferir as possibilidades de revitalizarmos os valores da cidadania,
os quais se traduzem no respeito pelos direitos pessoais (saídos da Revolu-
ção Francesa de 1789) e pelos direitos civis (1948).
1 Era expectável que, para os defensores do Estado minimalista, a função política do Es-
tado fosse inalienável. No entanto, a recente polémica com os vistos Gold em Portugal e
noutros países da periferia europeia, cujas consequências mais extremas podem advir de
Malta, veio a demonstrar cabalmente que a cidadania pode ser comercializada, mesmo
que isso coloque em questão a segurança interna dos cidadãos.
2 Este termo deriva, em última análise, do latim gubernare, que se traduz por “governar”,
“guiar” e “dirigir” (STEINBERG, 2003).
está longe de ser consensual entre os diferentes analistas, situação esta que
nos obriga a definir o nosso posicionamento.
Outro aspecto a reter, sobretudo junto daqueles que defendem a prima-
zia do mercado, é o de que nenhum ator é autossuficiente (seja em recur-
sos ou conhecimento) ou suficientemente forte para se impor aos outros e
assumir o governo da sociedade (SALGADO, 2009). Não esconderá esta
percepção uma ideologia concreta, capaz de explicar apenas uma pers-
pectiva, e não o panorama global? A resposta a esta pergunta terá de ser
encontrada na confluência entre a repartição e a concentração de pode-
res. Este novo mundo, que alguns assumem como tendencialmente plano,
tem fomentado a emergência de novos centros de poder; mas a visão opti-
mista que lhe está subjacente, assim como a denúncia de variáveis e cená-
rios que lhe podem ser hostis, deixa antever a inegável clivagem entre as
novas territorialidades e espacialidades, com as injustiças daí decorrentes,
malgrado a imensa confiança na bondade resultante de uma competiti-
vidade extrema (FRIEDMAN, 2006). Assistimos, tal como é referido por
muitos autores, a uma concentração excessiva de poder, onde os objetivos
da elite global amplia continuamente a sua riqueza e o seu domínio, dado
ser aquela com maior capacidade para aproveitar as oportunidades de-
correntes da globalização, condiciona as opções dos decisores políticos
e influencia a vida de milhares de cidadãos (ROTHKOPF, 2008), de um
modo particular, dada a sua distância ao poder, todos aqueles excluídos
das dinâmicas do omnipresente mundo plano e dos seus benefícios dele
derivados (FRIEDMAN, 2006).
Estas dinâmicas denunciam a crescente volatilidade da erodida fron-
teira entre a sociedade civil e o Estado, a qual passa por processos de trans-
formação constante, ordenamentos sucessivos e permanentes fusões, daí
resultando a dificuldade analítica de definir-se onde começa e acaba o Es-
tado. Em concreto sabe-se que a nova forma de governo é caracterizada
pelo governing as governance, ou seja, governar como ou em governo, dito
por outras palavras, em cogovernança. Daí resulta a combinação e a alter-
nância entre três tipos de governança: cogoverno, autogoverno e governo
hierárquico.
Tais dinâmicas, alternâncias e combinações colocam em destaque o ca-
rácter relacional da governança. A essência deste conceito assenta na exis-
tência de redes de interação interorganizacionais e auto-organizadas, inte-
gradas pelos diferentes atores público-privado-civil e as escalas glocais. Estes
3 Entendemos por capital social os laços que se estabelecem “entre pessoas numa unidade
social que enriquecem tanto as pessoas como a unidade em virtude de serem fundados
em boa vontade, valores partilhados e interacções que são suficientemente frequentes para
dar expressão aos valores partilhados” (ROSENAU, 2010, p. 169).
Embora sempre tenham havido redes hoje elas são distinguidas por terem
um potencial para serem massivas em escala e, como tal, para reorganiza-
rem as práticas e processos da política. Contar o número de redes, ao até
mesmo estimar aproximadamente o seu número, é extremamente difícil,
mas sabemos o suficiente acerca da sua natureza e das funções que exe-
cutam para estarmos confiantes de que se tornaram uma característica
principal da cena mundial […].
Segue-se que os participantes em redes estão não só familiarizados
com os processos de fragmentação como são também jogadores-chave
nesses processos. Colectivamente podem contribuir tanto para a integra-
ção das comunidades como para a sua quebra. De facto, uma vez que a
maioria dos participantes em redes estão provavelmente envolvidos em
mais do que uma rede, eles poderão estar a ajudar a fomentar a integra-
ção com respeito a alguns assuntos enquanto simultaneamente auxiliam o
avanço da fragmentação noutros assuntos (ROSENAU, 2010, p. 174).
8 Termo ambíguo porque tanto pode designar uma entidade territorial supranacional
como infranacional. De referir ainda que as escalas territoriais divergem entre os dife-
rentes países.
9 Este apoio deve colocar-se mais no plano da legitimidade institucional de participação
que na existência de um já usual plano de um apoio financeiro destinado, a subverter a
independência de opinião; independência de opinião essencial ao reconhecimento de in-
teresses divergentes e à consensualização, o mais alargada possível, de um mosaico social
com problemas diversos, visões multidisciplinares e soluções diferenciadas.
10 Vulgarmente conhecidas por paradigma territorialista do desenvolvimento.
14 Rothkopf (2008) designa a elite global de superclasse. Fazem parte desta elite, com um
efetivo de aproximadamente seis mil pessoas, os líderes políticos e as altas patentes mili-
tares dos países mais poderosos, os homens dos petrodólares, oligarcas, os CEO, líderes
religiosos selecionados, principais atores das maiores praças financeiras e bancos centrais,
mafiosos, terroristas e chefes de família do crime organizado… Sabemos, assim, quem são,
quantos são e o que pretendem.
[…] certas pessoas (por mais terrível que seja apenas escrevê-lo) simples-
mente não servem: a economia pode crescer sem o seu contributo; seja
qual for a perspectiva em que se considerem, para o resto da sociedade
elas não são um benefício, mas um custo […]. Os ricos podem, sem elas,
tornar-se mais ricos; os governos podem ser reeleitos sem os seus votos; e
o produto nacional bruto pode continuar a aumentar indefinidamente.15
15 O Papa Francisco tem-se referido continuamente a esta massa anónima como “os des-
cartáveis”. A sua constante preocupação por este grupo sociológico tem feito deste Papa,
na nossa perspectiva, o mais destacado líder mundial na defesa dos indesejáveis a uma
economia de sucesso.
16 A recente crise veio a reconfigurar a relação entre estas duas comunidades, demonstran-
do-o que, em determinadas circunstâncias, existem pontos de contato e sinergias entre
ambas.
18 Gil (2014; p. 36) apelida-a de “princípio de irresponsabilidade hierárquica – que diz que
quanto maior se sobe na hierarquia política menor é a responsabilidade dos agentes. No
grau mais baixo está o cidadão culpado (por exemplo de ‘viver acima das suas possibilida-
des’, já que a esse nível a responsabilidade se transforma em culpabilidade”.
22 Dado optarmos por uma postura metodológica que privilegia a questão da governança
e políticas públicas em tempos de crise, descartamos a possibilidade de nos debruçarmos
adequadamente sobre influência destas elites na estruturação da sociedade civil portu-
guesa. No entanto, não descartamos o contributo de deixarmos aqui formuladas algumas
hipóteses que possam apoiar a compreensão deste problema. Seria importante aferir o
porquê das relações com as nossas ex-colónias não serem tão fortes quantos a de outros
países similares, onde se registou um tipo de colonização mais feroz, porque mais políti-
ca e territorial. Seria importante também aferir o porquê das comunidades portuguesas
no mundo, maioritariamente provenientes de estratos sociais desfavorecidos, serem mais
bem-sucedidas no estrangeiro que em Portugal. Interessante também seria aferir o por-
quê dos portugueses obrigados a emigrarem, porque maltratados no seu país, continua-
rem a terem essa ligação psicoafectiva a Portugal.
Conclusão
A democracia atual enfrenta fragilidades que lhe são específicas, as quais
resultam do facto de permitir que exista no seu seio forças que lhe são anta-
gónicas. Os opositores sabem dessa fragilidade, e exploram-na em proveito
próprio. Esta fragilidade, porém, também nos diz que os problemas da de-
mocracia são inerentes à própria democracia. Será no seio dela, e com mais
política, que será possível encontrar as soluções de que a sociedade carece.
Relativamente à primeira parte, pudemos constatar ao longo deste tra-
balho que a crise gera o medo, o qual, quando vivido num clima fechado
de cepticismo e alimentado pelo secretismo, agudiza ainda mais a crise.
Neste contexto, o poder surge como a resposta mais eficaz ao medo, mas
esse poder que se pretende conquistar pode ter como contrapartida a eli-
minação ou a redução substancial dos níveis de Liberdade.
No entanto, num tempo em que se procura impor à Humanidade uma
visão restritiva e ideológica de democracia, socorrendo-se amiúde de uma
comunicação ilusória, faz sentido ser activo e divergente. Num tempo em
que o tambor de Günter Grass anuncia a fúria da irracionalidade humana,
nas suas múltiplas metáforas e formas polimórficas, faz sentido renunciar
aos revivalismos exclusivos e excluentes. Num tempo assim, onde a con-
fusão se instala e a esperança se esvai, vêm-nos à memória as palavras
do teólogo Reinhold Niebuhr (cit. CRICK, 2006, p. 120): “A tendência do
homem para a justiça torna a democracia possível, mas a incapacidade do
homem para a injustiça torna-a necessária”.
Referências
117
1 Josué de Castro não era geógrafo de formação, todavia, parte considerável de suas pes-
quisas, pelo menos a que acabou sendo a mais conhecida dos leitores em geral, se deu no
campo no pensamento geográfico.
2 Martin, mesmo não sendo brasileiro, publicou seus textos em periódicos brasileiros,
pesquisando os movimentos socioterritoriais brasileiros, sendo considerado por Pedon
(2013) um dos percussores da abordagem socioterritorial.
território que lhe permite ser soberano sobre um espaço, sem o qual não
passa de um nômade. No caso dos sem-terra, não é a propriedade, mas o
acesso a um bem que não é criado pelo homem: a terra, lócus da produção
dos meios de existência. Os atingidos por empreendimentos têm algumas
especificidades que veremos mais à frente.
Os movimentos socioterritoriais são, portanto, mobilizações coletivas
com considerável nível de organização e com uma agenda que sintetiza
as propostas do movimento. É importante apontar o caráter condensador
desses dois elementos constitutivos dos movimentos socioterritoriais por-
que eles compreendem, de forma relacional, os processos de conformação
identitária e as espacialidades e territorialidades desse tipo especial de mo-
bilização. Isso significa dizer que os movimentos socioterritoriais se estru-
turam a partir das agendas de luta por meio das quais são relacionadas as
ideologias, os propósitos, os interlocutores (as negociações com o Estado e
com os agentes capitalistas) e as estratégias de ação (a exemplo das táticas
de luta), e que, ao mesmo tempo, desempenham papel de instrumentos
de conformação identitária. No processo de constituição das mobilizações
sociais, a conquista do território é um elemento definidor da identidade
dos movimentos socioterritoriais. Diversamente dos movimentos socioes-
paciais, cuja constituição se encerra na sua estrutura organizativa, o espa-
ço é concebido como base na qual se assentam seus elementos, não sendo,
ele próprio, definidor de sua identidade.
Em suas agendas, os movimentos formalizam sua ideologia enquanto
sujeito coletivo e fundamentam sua identidade. Os movimentos socioter-
ritoriais urbanos têm como objetivo a conquista da moradia, em sentido
restrito, quando se pautam somente na conquista de um teto, ou, em sen-
tido amplo, quando incorporam à sua agenda a conquista por melhores
condições de habitação. No que se refere aos movimentos socioterritoriais
rurais, tem-se a luta pela terra como condição de acesso ao espaço da pro-
dução dos meios de existência, e a luta na terra como forma mais ampla
de manutenção ou melhoramento dessas condições. Quando projetadas
sobre o espaço, as ações intencionais o transformam em território, uma
vez que ele passa a constituir um espaço problematizado e disputado por
diferentes grupos sociais.
As agendas dos movimentos socioterritoriais podem ser entendidas
como a formalização de sua ideologia e objetivo, sendo, portanto, um as-
pecto fundante de sua identidade.
destes por parte de seus detentores; esse direito envolve, de forma dire-
ta, algum tipo de ressarcimento ou indenização, reabilitação ou repara-
ção (VAINER, 2008, p. 40).4 Mesmo considerando que seu enfoque são
os atingidos por barragens hidrelétricas, podemos estender sua conceitua-
ção aos atingidos pelos empreendimentos mineradores, uma vez que, ao
se conformar como uma categoria social em disputa, a noção de atingido
varia no tempo e no espaço, considerando seus contextos políticos e cul-
turais, assim como de acordo com o desenrolar e o desenlace dos conflitos
opondo diferentes atores sociais (VAINER, 2008, p. 40-1). Ser um atingido
constitui um elemento definidor da agenda dos movimentos socioterrito-
riais que conflitam com as grandes mineradoras, diferentemente dos mo-
vimentos dos sem-terra, que se definem e elaboram suas agendas baseados
na condição de despossuídos. Não que esta condição não se aplique aos
atingidos pelos grandes empreendimentos mineradores que passam a figu-
rar-se como despossuídos, mas são, antes de tudo, “atingidos”.
No caso da mineração, a noção de “atingido” não era diretamente uma
categoria social que pretendia legitimar os direitos de determinado grupo
social impactado pela mineração, muito menos a denominação de movi-
mentos sociais críticos à lógica dos grandes projetos minerais. Levando em
consideração a inexistência de um movimento de “atingidos por minera-
ção” na Amazônia brasileira até o princípio do século XXI e a constatação
de difusas experiências de mobilizações populares em áreas de mineração
na região, constatou-se pertinente investigar as características dos movi-
mentos sociais existentes, buscando com isso dar melhor ênfase ao Movi-
mento Nacional Pela Soberania Popular Frente à Mineração, denominado
inicialmente e conhecido mais popularmente como Movimento dos Atin-
gidos por Mineração (MAM),5 que está buscando ampliar a mobilização
em torno da criação e nacionalização de um movimento antimineração.
Na Amazônia brasileira, no Corredor da Estrada de Ferro Carajás, desde
2007, o Movimento dos Atingidos pela Companhia Vale do Rio Doce, que
Considerações finais
6 Informação dada por Charles Trocate em entrevista cedida em 2014 no âmbito da pes-
quisa de mestrado de Eldenilson da Silva Monteiro.
Referências
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Introdução
Este artigo analisa, a partir da investigação das parcerias estabelecidas no
Território do Sisal,1 as nuances da relação entre o Estado e as Associações2
(comunitárias, produtivas, de organização de jovens, de comunicação e de
educação) com foco na ideia de convivência com o semiárido no Território
do Sisal, no estado da Bahia/Brasil.
O Território do Sisal é composto atualmente por 20 municípios: Con-
ceição do Coité, Retirolândia, Monte Santo, Itiúba, Cansanção, Nordesti-
na, Queimadas, Quijingue, Tucano, Araci, Teofilândia, Biritinga, Ichú, La-
marão, Serrinha, Barrocas, Candeal, Valente, Santa Luz e São Domingos
(Figura 1), todos localizados no semiárido baiano e identificados com a
cadeia produtiva da agave sisalana, espécie vegetal xerófila conhecida po-
pularmente apenas como sisal. O sisal se adaptou muito bem às condições
de semiaridez e fornece uma fibra com a qual é possível fabricar fios, cor-
das, tapetes, carpetes etc.
139
3 Os dados utilizados neste trabalho foram coletados durante investigação realizada entre
os anos de 2008 e 2010, intitulada Inclusão Social e Desenvolvimento no Território do Sisal:
diagnóstico e construção de mecanismos de apoio ao fortalecimento da ação das associações
e cooperativas, que teve como objetivo realizar um diagnóstico do tecido associativista do
Território do Sisal no estado da Bahia e investigar a relação da ação das associações com
o desenvolvimento.
4 No livro Gente ajudando gente: o tecido associativista do Território do Sisal, aqui refe-
renciado, apresentamos os resultados da pesquisa com relação ao desenvolvimento.
1. Seca/falta de chuva 55
2. Falta de incentivo do governo/apoio do poder público 49
3. Falta de apoio dos políticos 38
4. Falta de apoio aos pequenos produtores 35
5. Forma de organização/execução das políticas públicas 31
6. Falta de incentivo à produção do sisal 26
7. Falta de financiamento e/ou falta de conhecimento para articular as 26
pessoas para conseguir recursos financeiros
8. Desemprego 25
9. Falta de informação/conhecimento 25
10. Falta de organização/mobilização da comunidade (principalmente 22
para buscar projetos)
11. Burocracia para conseguir projeto governamental 19
12. Baixo preço do sisal 19
13. Falta de integração entre as organizações e o poder público 16
14. Politicagem/brigas políticas 14
15. Não aprovação dos projetos enviados 11
16. Falta de assistência técnica 10
17. Falta de apoio às pequenas entidades 7
18. Fatores ambientais 6
19. Falta de vontade política 6
20. Atravessadores 6
Fonte: Santos, Silva, Coelho Neto (2011).
senhor da natureza sacralizada, que manda chuva quando quer. Essa dis-
cussão traz luz a outra face do problema: se não é a ação do governo – que
é ineficiente –, é a seca.
Num contexto onde boa parte dos presidentes de associações são pe-
quenos agricultores semianalfabetos, essa imagem ainda é forte e difícil
de ser negada. Daí a direta relação entre seca e desenvolvimento, ou seja,
o desenvolvimento é sinônimo de melhorias na condição econômica e na
qualidade de vida, mas é a seca que sempre atrapalha a ação da comunida-
de, a cerca, sinônimo da concentração fundiária, não é citada ou mesmo
vista como culpada por esses presidentes de associações. Naturaliza-se o
problema.
Essa questão é tão significativa que, para esses representantes, princi-
palmente os pequenos agricultores, o acesso à terra não é listado como
uma via para resolver o problema da geração de renda criado pelo mini-
fúndio. O representante, nesse caso, ainda não é capaz de perceber que
o vizinho, aquele que é dono do latifúndio, não “sofre” com a seca pois
possui imensas aguadas, inclusive, muitas delas construídas com recur-
sos públicos do antigo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS). Em síntese, só mesmo a releitura “desse mito da seca” seria ca-
paz de reestruturar essa visão. As próprias associações já apontam novos
caminhos quando constatamos que o curso de capacitação que elas mais
ofereceram foi justamente o de convivência com o semiárido.
Do ponto de vista acadêmico, essas concepções deterministas, já du-
ramente criticadas e combatidas (SILVA, 1999), já foram superadas e co-
locaram em xeque esse tipo de discurso. Assim, não podemos aceitar sem
duras críticas a ampliação dessa visão que articula fenômeno natural, eco-
nomia e desenvolvimento.
Porém, não podemos deixar de registrar que, se somarmos as outras res-
postas que estão vinculadas às questões políticas, tivemos 154 presidentes
(32,15%) enfatizando a falta de apoio dos políticos, falta de vontade política
e “brigas” político-partidárias, o que abre um leque diferente de análise da
questão, tirando o foco da seca como causa fundamental dos problemas.
Quando esses mesmos representantes foram questionados sobre a for-
ma de ultrapassar os obstáculos ao desenvolvimento, as respostas princi-
pais foram: articulação das pessoas (43 presidentes); valorizar a lavoura
sisaleira (36 presidentes); mobilização entre poder público e sociedade civil
(33 presidentes); apoio governamental através de crédito (31 presidentes);
6 Os limites desse artigo não nos permitem aprofundar o debate sobre a ação do Estado
na esfera dos recursos hídricos no Brasil. Assim, indicamos o artigo intitulado “Água a
serviço do grande capital: a influência do banco mundial na ação de governos neoliberais
no Brasil”, aqui referenciado.
Referências
Introdução
155
[…] o campo no qual tem lugar as lutas materiais e discursivas entre dife-
rentes atores para estabelecer configurações escalares hegemônicas. Nesta
2 “[…] las narrativas escalares son historias sobre los cambios en los patrones espaciales
de procesos socio-políticos articulados por actores o grupos posicionados en contextos
histórico-políticos concretos”. “[…] as narrativas escalares são histórias sobre as mudan-
ças nos padrões espaciais dos processos sociopolíticos articulados por atores ou grupos
posicionados em contextos histórico-políticos concretos” (GONZÁLEZ, 2010, p. 129, tra-
dução nossa).
3 “La llamada ‘políticas de escalas’ es el campo en el que tienen lugar las luchas materiales
y discursivas entre diferentes actores por establecer configuraciones escalares hegemóni-
cas. En esta lucha los actores utilizan ‘narrativas escalares’ para justificar e ‘dar empaque’
a sus argumentos” (GONZÁLEZ, 2010, p. 125-126).
4 “[…] tanto un objeto como un medio para las luchas económico-políticas”; “[…] las re-
laciones escalares son, inevitablemente, relaciones de poder” (GONZÁLEZ, 2010, p. 126).
5 “[…] varias aportaciones han sugerido la metáfora de la red como la más adecuada para
entender los procesos en los que opera la política de escalas” (GONZÁLEZ, 2010, p. 127).
6 “[…] elaboraciones sociales conflictivas, son producciones humanas colectivas, dinámi-
cas, multidimensionales, con los diversos actores e trayectorias históricas en disputa, en
movimiento procesual, contingente y abiertas” (BRANDÃO, 2010, p. 243).
7 Parece existir uma estreita vinculação entre a prática do mutirão e as relações comu-
nitárias, especialmente aquelas desenvolvidas no campo. Uma expressão desse entendi-
mento pode ser comprovada nas definições da palavra mutirão que aparece no Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa (2007, grifo nosso): 1) “mobilização coletiva para auxílio
mútuo de caráter gratuito, especialmente entre trabalhadores do campo, por ocasião de
roçada, colheita etc.; ajuntamento, juntamento”; 2) “serviço sem ônus prestado por mem-
bros de uma comunidade, ger. visando à construção ou ao melhoramento de imóvel”;
3) “qualquer mobilização de cidadãos, coletiva e gratuita, para execução de serviço que
beneficie uma comunidade”.
8 Os municípios que compõem o Núcleo Sisaleiro da Bahia são: Conceição do Coité, Va-
lente, Santaluz, Retirolândia e São Domingos.
As frutas nativas de uma região são aquelas que nascem em meio à ve-
getação local, sem a necessidade de cuidados especiais. No Semiárido
existe uma diversidade grande de frutas nativas como caju, maracujá
do mato, cajá e umbu. Estes alimentos têm uma grande importância
Considerações finais
Referências
Da região ao território
A “nova” instrumentalidade de referência para o
desenvolvimento rural no Brasil
Introdução
171
2 No trabalho intitulado “Para uma teoria de estudo territoriais”, Abramovay (s.d.) dedica
uma seção para tratar das virtudes da noção de território.
3 “José Eli da Veiga foi um ativo defensor de uma política de desenvolvimento rural que
apoiasse a agricultura familiar, que entrasse em sintonia com o meio ambiente, que va-
lorizasse a inovação e a diversificação produtiva, tendo mesmo assessorado a CONTAG
algumas vezes (VEIGA, J. E., 1998), bem como a antiga Secretaria de Desenvolvimento
Rural – SDR, do Ministério da Agricultura, em sua primeira metade dos anos 90, na ava-
liação do PRONAF (ABRAMOVAY & VEIGA, 1997) […]. Tal ênfase ficou evidente com a
publicação de seu artigo […] ‘face territorial do desenvolvimento’ (VEIGA, J. E., 1999), no
mesmo período em que realizava pesquisas de pós-doutorado na Europa. Vários outros
trabalhos de Veiga entre 1998 e 2006 convergiram no sentido de adotar o território como
base de articulação de atores e de ações públicas e privadas e de certa tendência a ‘uma
revalorização da dimensão espacial da economia’ (VEIGA, J. E., 1999)” (GUIMARÃES,
2013, p. 153).
4 A exemplo, ver trabalhos de Veiga (2000 e 2002) e Abramovay (2003).
7 A rede é composta pelos países: Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador,
Espanha, Guatemala, México, Panamá e Peru. Para maiores informações, consultar o site:
<http://www.proterritorios.net/site_v14/>.
8 “Para Arrighi, o essencial para que um Estado seja considerado semiperiférico é que ele
possua uma combinação de atividades ‘tipicamente periféricas’ e ‘tipicamente centrais’ em
uma proporção tal que ofereça a esses países a possibilidade de resistir à periferização, mas
não poder suficiente para superá-la. Caberia então identificar as causas pelas quais esses
‘equilíbrios de forças’ são estáveis. […] Os processos de exclusão referem-se ao fato de que
a riqueza oligárquica dá meios aos Estados centrais para excluir os Estados (semi)perifé-
ricos do gozo dos recursos escassos ou sujeitos à acumulação anormal. […] o traço mais
essencial das economias capitalistas é a recompensa desigual por esforços iguais e opor-
tunidades desiguais do uso de recursos escassos. Os êxitos individuais levam meramente
a um retesamento das tendências excludentes e exploradoras dos Estados centrais, e com
isso aprofundam a distância daqueles que ficam para trás” (LOURENÇO, 2005, p. 181-183).
como “[…] uma espécie de pivô, através do qual gira uma articulação mui-
to peculiar de interesses e competências envolvendo os campos acadêmi-
co, político, econômico”, fomentando “[…] um movimento de legitimação
recíproca entre os conhecimentos produzidos cientificamente, a definição
de políticas públicas no âmbito de países e governos locais, e a normatiza-
ção dos procedimentos por estes organismos internacionais” (FAVARETO,
2006, p. 131).
Com base nos estudos de Garcia (2002), Favareto (2006) analisa a tra-
jetória da noção de desenvolvimento rural e identifica quatro grandes mo-
mentos que ajudam a entender as permanências e inovações introduzidas
ao longo desse percurso. O primeiro momento, compreendido entre os anos
de 1930 e 1960, é marcado pelos projetos de desenvolvimento comunitário.
Inicialmente os projetos que mais se destacaram se circunscreviam aos
Estados Unidos e à Índia. Posteriormente o termo passou a ser utilizado
pelas Nações Unidas, bem como foi implantado em experiências na Ásia e
na África. Defendia-se que as comunidades possuíam potencialidades que
precisavam ser estimuladas com apoios pontuais. Para tanto, propunha-se
satisfazer as necessidades básicas da população, incentivar a participação
social e apoiar o cooperativismo. Vale salientar que esses objetivos fazem
parte da tônica do atual enfoque territorial do desenvolvimento rural.
O segundo momento inicia-se a partir dos anos de 1960, quando se
constatou que os projetos de desenvolvimento comunitário eram pontuais
e paliativos, pois não alcançaram a dinamização espacial desejada, e de-
pendiam de recursos humanos e financeiros externos, dificultando sua
execução a longo prazo. Nessa perspectiva, passou-se a se preocupar com
mudanças estruturais, especificamente com a reforma agrária. Favareto
(2006) aponta que a FAO já havia realizado um estudo mostrando a relação
entre o perfil fundiário e a pobreza. Concomitantemente, a Cepal e o Co-
mitê Interamericano de Desenvolvimento Agrícola (CIDA), em diferentes
estudos, diagnosticaram “[…] um lento crescimento da produção em re-
lação à demanda nacional e internacional e a necessidade de um processo
de modernização acompanhado de reforma agrária” (FAVARETO, 2006,
p. 134).
Entretanto, a reforma agrária passou a fazer parte da agenda gover-
namental na maioria dos países da América Latina, por conta dos movi-
mentos revolucionários e contestatórios que se sucederam nesse recorte
espacial. Mas as ações governamentais não foram tão favoráveis aos cam-
mento rural, deixa explícito que o conceito de região não tem pertinência
na realidade atual, pois para ele o referido conceito apresenta limites que
obstaculizam sua aplicabilidade. Sob seu ponto de vista, o autor se apro-
pria de uma citação de Milton Santos que trata de uma crítica ao conceito
de região sob os moldes da Geografia Tradicional para fundamentar a con-
sequente substituição da região por território nas políticas de desenvolvi-
mento.
Para Milton Santos (apud LENCIONI 2003, p. 192), nas condições atuais
da economia universal, a região teria perdido o caráter de realidade viva,
dotada de coerência interna. A ausência desta “autonomia regional” seria,
assim, uma das razões da falência da geografia regional tal como consi-
derada nos moldes clássicos. A segunda crítica diz respeito às fronteiras
epistemológicas. Embora se situe no âmbito da ciência social, a geografia
difere da teoria social à medida que considera aspectos da natureza para
a compreensão da realidade (LENCIONI, 2003, p. 203). Enquanto a geo-
grafia humana sofreu uma espécie de hipertrofia, a geografia física con-
tinuou sua trajetória de valorização, impulsionada pela valorização dos
temas ambientais e ecológicos. Do outro lado, a geografia regional, ante
o entendimento da geografia como ciência social, sem atentar para sua
especificidade que consistia em incorporar a natureza, acabou sendo ne-
gada. Isto é, a especificidade da geografia precisava ser esquecida para sua
afirmação como ciência social. Finalmente, em afinidade com este espírito
dos tempos, o descenso do planejamento regional, em muito relacionado
à primeira destas críticas, completa o quadro de esvaziamento da legiti-
midade do uso do conceito de região na geografia […]. Entende-se assim
parte das razões que levam a substituir região por território na retórica e
nos estudos sobre desenvolvimento […]. (FAVARETO, 2006, p. 125-126,
grifos nossos).
Considerações finais
A incorporação da abordagem territorial do desenvolvimento rural nas
políticas públicas de desenvolvimento rural está atrelada a uma dinâmica
de interseção entre o conhecimento científico e a instância político-econô-
mica mundial. Nesse contexto, os organismos internacionais ocupam po-
sição de destaque, principalmente pelo seu papel de financiador e, portan-
to, “orientador” das perspectivas de desenvolvimento adotadas nos países
da periferia ou semiperiferia do capitalismo mundial.
Desde a década de 1990, período em que os organismos internacio-
nais passaram a defender a abordagem territorial, os países da América
Latina começaram a incorporará-la em suas políticas de desenvolvimen-
to. No Brasil, a partir do governo FHC adota-se princípios e elementos
desse enfoque, como o incentivo ao cooperativismo, à participação so-
cial, à sustentabilidade etc. Mas é em 2003, com a criação da Secretaria
de Desenvolvimento Territorial, vinculada ao Ministério de Desenvolvi-
mento Agrário, que essa abordagem ganha corpo. O território, instru-
mentalidade dessa política, passou a ser visto como a instância que via-
bilizará o estreitamento da relação sociedade e Estado e como estratégia
metodológica de ascensão dos agricultores camponeses (historicamente
excluídos), numa visão integradora do espaço, da sociedade, mercados e
políticas públicas.
Porém, este estudo aponta que a adoção do termo território, em substi-
tuição ao termo região, está sustentada em equívocos conceituais sobre es-
sas categorias espaciais e, embora se proponha um arejamento da perspec-
tiva de desenvolvimento rural, continua-se reproduzindo aspectos seme-
lhantes aos projetos do passado que tanto foram criticados. A política de
desenvolvimento territorial rural implantada no Brasil, em consonância
com as orientações dos organismos internacionais, não provocou mudan-
ça estrutural (FAVARETO, 2006), ainda que se proponha a descentraliza-
ção das políticas públicas e a abordagem não setorial do desenvolvimento.
Referências
Antonio Calheiros
191
Celia Basconzuelo
Mestre em Partidos Políticos (CEA-UNC). Doutora em Historia pela Uni-
versidad Nacional de Cuyo (UNCu). Pós-doutorado em Ciências Sociais
(CEA-UNC). Professora Associada da Universidad Nacional de Río Cuar-
to (UNRC). Investigadora Adjunta do CONICET. Membro corresponden-
te da Junta Provincial de Historia de Córdoba. Diretora do Mestrado em
Ciências Sociais (UNRC). Diretora do Programa “Protesta social y organi-
zaciones de la Sociedad Civil” (UNRC).
Ruy Moreira
Espacialidades-e-movimentos-sociais.indd
View publication stats 200 19/09/2018 13:53:30