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Nos últimos dias finalizei a leitura de um livro de uma escritora da qual gosto muito:

Conceição Evaristo. A obra em questão recebe como título o nome de sua personagem
principal: Ponciá Vicêncio. O romance conta a história de vida de Ponciá desde a sua
infância até a idade adulta. Neta de escravos libertos pela Lei Áurea, a personagem vive
em uma região interiorana, caracterizada pela presença das grandes fazendas dos antigos
senhores de escravos na qual, ainda no tempo em que se passa a narrativa, os negros
trabalham para os brancos. Embora abolida a escravidão, é evidente as poucas mudanças
nas condições materiais da viva do povo negro e uma gritante racialização da pobreza,
quando adulta, Ponciá deixa sua casa rumo à cidade grande guiada pela promessa de uma
vida melhor.
A ancestralidade é algo de suma importância na obra de Conceição. Sendo assim, não
posso deixar de, antes de continuar o breve resumo do livro e partir para a perspectiva
pedagógica proposta para o presente tranalho, contextualizar o leitor no que diz respeito à
família da protagonista. Ponciá Vicêncio era neta de escravos: seu avô e avó paternos
foram escravizados (os maternos não são mencionados). Por não suportar o peso de viver
em tal condição, seu avô matou a própria esposa e tentou matar a si próprio, sendo
impedido por terceiros. Apesar de ter tido a sua morte adiada, foi nesse contexto que
perdeu uma das mãos. O pai de Ponciá nasceu livre, embora, bem como mencionei
anteriormente, as condições de vida dos libertos em pouco diferiam das dos escravizados:
ainda criança, era pajem do filho de um senhor que fazia o que queria e bem entendia
com ele, chegando até a urinar em sua boca. O filho do senhor, curioso a respeito de se os
negros aprendiam como os brancos, resolveu ensiná-lo as letras do alfabeto e, ao ter sua
curiosidade satisfeita em constatar que os negros eram dotados da capacidade de
aprender, encerrou os ensinamentos. O pai da personagem reconhecia cada letra do
alfabeto, porém não conseguia formar sílabas nem palavras com ela. Da história dos
antepassados de sua mãe, pouco ou nada se diz, embora o contexto do local onde vive a
personagem aponte para que também seja filha de pessoas que foram escravizadas. Sua
mãe, bem como Ponciá, ganhava a vida através da cerâmica, produzindo utensílios com o
barro. Ao longo da narrativa, sobretudo ao retratar a infância de Ponciá, é bastante
evidenciada a semelhança da personagem principal com o seu avô paterno que deixa
explícita uma forte ligação entre ambos. Destacarei aqui três pontos que trazem a tona
essa questão e que são bastante repetidos ao longo da narrativa: o primeiro momento em
que essa semelhança se faz presente ocorre quando ela ainda é um bebê. Ao andar pela
primeira vez, a menina surpreende a todos ao imitar o gesto do avô, caminhando de
forma semelhante a ele e, o que mais surpreende a todos, com uma das mãos cerradas
atrás das costas como se imitasse o cotoco do avô. O que torna tal atitude mais
surpreendente é o fato de que a morte do velho se deu quando Ponciá era ainda um bebê
de colo. O segundo ponto é que, ainda criança, a personagem esculpe no barro um
homenzinho com todas as características do avô, inclusive a sua expressão de riso e
pranto simultâneos que é bastante marcada pela autora. Por fim, há uma herança deixada
pelo avô para a menina sobre a qual há certo mistério ao longo da narrativa e vem a se
revelar ao final. A ligação com o avô manifestada por Ponciá desde a infância é algo que,
muitas vezes, deixa sua mãe consideravelmente assustada. Por fim, há também o irmão
Ponciá: Luandi. Durante a infância pouco via a irmã, tendo em vista que passava a maior
parte do tempo com o pai trabalhando na terra dos brancos. Após a partida da irmã para a
cidade grande, Luandi decide tomar o mesmo rumo, chegando lá começa a trabalhar num
a delegacia e adquire a aspiração de aprender a ler para um dia se tornar soldado.
Embora seja composta por inúmeros flashbacks, o contexto da linha do tempo presente da
história é a seguinte: o pai da personagem principal já está morto, e esta, já se encontra
instalada na cidade. Após passar algum tempo trabalhando na casa de uma família,
Ponciá consegue comprar um barraco no qual mora com o seu marido, que conheceu
enquanto ele trabalhava como pedreiro em uma obra próxima à casa na qual ela
trabalhava. Luandi chega na cidade grande com o endereço da irmã anotado em um
papel, porém, por estar chovendo no momento de sua chegada, o papel se molha e os dois
se desencontram. Como já mencionado, trabalha em uma delegacia e tem como sua
grande referência o Soldado Nestor. Por durante toda a sua vida ter estado em um
contexto em que os negros trabalhavam para os brancos, chegar na cidade e encontrar um
homem negro trabalhando como saldado o faz acreditar que na cidade grande os negros
podem ter tanto poder de mando quanto os brancos, por isso decide que quer se tornar
soldado. Por fim, temos a mãe da personagem. Ao ver os dois filhos partirem rumo à
cidade grande, a mulher perde o gosto por viver e chega a pensar até em tirar a própria
vida.

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