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RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. CRIMINAL COMPLIANCE
tão grande que pode ser equiparada ao dolo eventual, motivo pelo qual
ambos receberiam a mesma reprimenda (PRADO, 2013, p. 295).
No ano de 1899, a Suprema Corte dos Estados Unidos aplicou
pela primeira vez essa doutrina na sentença do caso Spurr v. United States,
segundo Ragués i Vallès (2013, p. 13). Revisava-se a condenação de um
bancário considerado culpado por ter certificado os cheques emitidos
por um cliente cuja conta carecia de fundos. Em grau de recurso, a defesa
questionou que o juiz não informou que o delito aplicável exigia que o
acusado atuasse “intencionalmente”. A Suprema Corte estadunidense
indeferiu o recurso ao considerar que o propósito específico de violar
a lei pode ser presumido quando o funcionário do banco se mantém
voluntariamente em estado de ignorância acerca do fato de se o sacador
tem ou não dinheiro no banco. Já na Espanha, a primeira resolução
do Tribunal Supremo que se referiu à teoria da cegueira deliberada
ocorreu no ano 2000. No referido julgamento, o réu foi condenado por
receptação por ter transportado elevadas quantidades de dinheiro em
efetivo a um paraíso fiscal e o mesmo afirmou em sua defesa que não
estava consciente de que tais quantidades tinham sua origem no tráfico
de drogas (RAGUÉS I VALLÈS, 2013, p. 19). O Tribunal Supremo
entendeu que, em virtude da quantidade de dinheiro e da natureza
clandestina das operações, estava claro que o capital transportado era de
natureza ilícita, configurando-se a teoria da cegueira deliberada.
Prado (2013, p. 295-296) destaca que um dos principais campos
de aplicação dessa teoria é o da lavagem de dinheiro, sendo a aplicação da
teoria da cegueira voluntária em julgamentos de crimes como esse uma
questão pacífica na Justiça Federal dos Estados Unidos. Na Espanha,
o Tribunal Supremo consagrou a tese de que a ignorância deliberada
poderia ser equiparada ao dolo eventual na lavagem, sob o argumento de
que há um dever de conhecimento que impede que o sujeito se mantenha
em estado de ignorância frente às circunstâncias suspeitas.
Silveira (2016, p. 1) menciona que a teoria da cegueira
deliberada tem sido aplicada com frequência nas decisões condenatórias
dos julgamentos derivados da Operação Lava Jato. De acordo com a
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após analisar os tratados e legislações vigentes em alguns
países, pudemos constatar que o mundo dos negócios no século XXI
apresenta preocupações claramente penais. A ideia de autorregulação
surge, nesse contexto, como resultado da evolução da forma como o
Estado regula o mundo empresarial. O progressivo e constante aumento
da complexidade social, os níveis de desenvolvimento tecnológico
somados ao processo de globalização tiraram do Estado a capacidade de
regular de forma adequada as organizações empresariais.
Assim, o criminal compliance se mostra como um instrumento
preventivo bastante útil, que impede a prática de crimes e permite que se
verifique a devida responsabilização individual ou coletiva nas situações
em que a prevenção não se mostrou suficiente. Isso demonstra uma
mudança de paradigma, tanto do cenário empresarial quanto em relação
ao Direito Penal.
Durante muito tempo, a conduta das empresas foi voltada
totalmente para a busca pelo lucro, de modo que sua função consistia
somente na satisfação dos seus sócios ou acionistas. Ocorre que se
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REFERÊNCIAS
ABSTRACT
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