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Informativo comentado:

Informativo 929-STF
Márcio André Lopes Cavalcante

Processos que não foram concluídos pelo STF em virtude de pedidos de vista. Serão comentados assim que chegarem ao
fim: HC 148558/SP; RE 699424 AgR/SP; HC 131943/RS.

Julgado não comentado em razão de não ter relevância para concursos públicos e por ter sido decidido com base em
peculiaridades do caso concreto: ADI 807/RS. Se quiser, leia no final a notícia que saiu no Informativo original.

ÍNDICE
DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS SOCIAIS
 Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam reajustes
automáticos.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
 Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo em
dobro à Fazenda Pública

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
 É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviço no Estado a fornecerem previamente
ao consumidor a identificação do profissional que fará o atendimento na sua residência.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


 STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de adolescente em cela masculina no
Pará.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
 Não é possível o fracionamento da execução dos honorários advocatícios decorrentes de uma única ação proposta
contra a Fazenda Pública por vários litisconsortes ativos facultativos.

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS SOCIAIS
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo,
desde que inexistam reajustes automáticos

Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que
inexistam reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 05/02/2019 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1


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No mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST: “A estipulação do salário profissional em múltiplos


do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de 1988, só incorrendo em
vulneração do referido preceito constitucional a fixação de correção automática do salário pelo
reajuste do salário mínimo.”

Piso salarial
A Constituição Federal, em seu art. 7º, prevê o seguinte direito social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

Piso salarial é o valor mínimo que os membros de determinada categoria profissional devem ganhar. Ex:
piso salarial dos jornalistas, dos engenheiros, dos psicólogos etc.

Quem fixa esse piso salarial?


O piso salarial pode ser fixado:
• por lei;
• por sentença normativa
• por acordo ou convenção coletiva de trabalho.

Se for fixado por lei, de quem é a competência para editá-la?


A fixação de um piso salarial para profissionais é um assunto relacionado com Direito do Trabalho. Logo,
compete à União, privativamente, editar lei tratando sobre o piso salarial dos empregados da iniciativa
privada, conforme determina o art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e
do trabalho;

Lei nº 4.950-A/66
A Lei nº 4.950-A/66 é uma lei federal que dispõe sobre a remuneração de profissionais diplomados em
Engenharia, Química, Arquitetura, Agronomia e Veterinária.
Esta Lei prevê o piso salarial para os referidos profissionais:
Art. 1º O salário-mínimo dos diplomados pelos cursos regulares superiores mantidos pelas Escolas de
Engenharia, de Química, de Arquitetura, de Agronomia e de Veterinária é o fixado pela presente Lei.
Art. 2º O salário-mínimo fixado pela presente Lei é a remuneração mínima obrigatória por serviços
prestados pelos profissionais definidos no art. 1º, com relação de emprego ou função, qualquer
que seja a fonte pagadora.
Art. 3º Para os efeitos desta Lei as atividades ou tarefas desempenhadas pelos profissionais
enumerados no art. 1º são classificadas em:
a) atividades ou tarefas com exigência de 6 (seis) horas diárias de serviço;
b) atividades ou tarefas com exigência de mais de 6 (seis) horas diárias de serviço.
Parágrafo único. A jornada de trabalho é a fixada no contrato de trabalho ou determinação legal
vigente.
(...)
Art. 5º Para a execução das atividades e tarefas classificadas na alínea a do art. 3º, fica fixado o
salário-base mínimo de 6 (seis) vêzes o maior salário-mínimo comum vigente no País, para os

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profissionais relacionados na alínea a do art. 4º, e de 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo


comum vigente no País, para os profissionais da alínea b do art. 4º.

Suposta violação ao art. 7º, IV, da CF/88


O ponto polêmico da Lei nº 4.950-A/66 é que ela fixa o salário profissional dos Engenheiros em múltiplos do
salário-mínimo. Ao fazer essa vinculação entre o salário de tais profissionais e o salário-mínimo surgiu a
dúvida se essa previsão violaria ou não o art. 7º, IV, da CF/88 e a SV 4, que dizem o seguinte:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de
sua condição social:
(...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades
vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder
aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Súmula vinculante 4: Salvo os casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como
indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por
decisão judicial.

Vamos responder a essa dúvida com o seguinte caso prático:


A empresa “X” estava contratando Engenheiros e pagando salário inferior ao piso previsto na Lei nº 4.950-
A/66.
Diante disso, o Sindicato dos Engenheiros ingressou com ação contra a empresa pedindo que todos os
profissionais contratados recebessem, no mínimo, o piso profissional estabelecido na referida Lei.
A Justiça do Trabalho condenou a empresa e determinou que ela, ao contratar seus Engenheiros,
respeitasse o piso fixado pela Lei nº 4.950-A/66, devendo as correções posteriores à contratação observar
os acordos coletivos da categoria respectiva.

Essa decisão da Justiça do Trabalho aplicando a Lei nº 4.950-A/66 violou o art. 7º, IV, da CF/88 e a SV 4?
NÃO.
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam
reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 05/02/2019 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 29/06/2018.

Como a decisão da Justiça do Trabalho determina que a atualização salarial ficará vinculada aos termos do
que foi definido em acordo ou convenção coletiva, ela não afronta o art. 7º, IV, da CF/88 e a SV 4,
considerando que não utiliza o salário mínimo como “indexador de base de cálculo de vantagem”, cuja
prática é vedada pela Súmula Vinculante nº 4.

Em suma, não viola o art. 7º, IV, da CF/88 o estabelecimento de piso salarial em múltiplos do salário
mínimo do valor à época da contratação, desde que o mesmo não seja indexador para reajustes futuros:
(...) A decisão que aplica o piso salarial estabelecido no art. 5º da Lei 4.950/1966, mas ressalva a vedação
de vinculação aos futuros aumentos do salário mínimo, está em consonância com o enunciado da Súmula
Vinculante 4 e com a decisão proferida na ADPF 53 MC. (...)
STF. 1ª Turma. Rcl 19130 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 03/03/2015.

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No mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST:


AÇÃO RESCISÓRIA. SALÁRIO PROFISSIONAL. FIXAÇÃO. MÚLTIPLO DE SALÁRIO MÍNIMO. ART. 7º, IV, DA
CF/88(nova redação) - DJ 22.11.2004.
A estipulação do salário profissional em múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da
Constituição Federal de 1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação
de correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo.

Por que existe a proibição do art. 7º, IV, da CF/88?


Essa proibição tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador econômico” (um
índice de reajuste).
Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como indexador econômico, o valor e o
preço de vários benefícios, produtos e serviços seriam fixados em salário mínimo.
Ex: se não houvesse a vedação, o locador poderia estabelecer no contrato que o valor do aluguel seria de
2 salários mínimos, de forma que todas as vezes que ele aumentasse, o valor pago também seria majorado.
Ex2: o colégio poderia fixar o valor da mensalidade em metade do salário mínimo.
Ex3: a academia poderia estabelecer o valor da mensalidade em 1/3 do salário mínimo etc.

Desse modo, se isso fosse permitido, haveria uma pressão muito grande no momento de aumentar o
salário mínimo no país, considerando que ele iria influenciar direta e imediatamente no preço de inúmeros
bens. Além disso, todas as vezes que o salário mínimo subisse, o preço desses bens e serviços iriam
também aumentar automaticamente, gerando inflação e fazendo com que não houvesse ganho real para
o trabalhador, já que todas as outras coisas também ficariam mais caras.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade
a norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública

Importante!!!
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo
que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa
abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que
concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de
controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso
extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para
acórdão Min. Cármen Lúcia, julgados em 06/02/2019 (Info 929).

Prerrogativa de prazo em dobro


A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer. Isso está previsto no art. 183 do CPC/2015:

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Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e
fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações
processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.

A doutrina denomina essa previsão de “benefício de prazo” ou “prerrogativa de prazo”.

A Fazenda Pública possui prazo em dobro nos processos objetivos de controle de constitucionalidade
(ex: dentro de um prazo de ADI, ADC, ADPF)?
NÃO.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle
concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário.
O STF entende que a previsão do prazo em dobro trazida atualmente pelo art. 183 do CPC/2015 tem
incidência unicamente nos processos subjetivos, ou seja, que discutem situações concretas e individuais,
não se aplicando nos processos de controle concentrado de constitucionalidade.
O processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade configura típico processo de caráter objetivo,
destinado a viabilizar o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de lei em tese.

Alguns dos argumentos invocados pelos Ministros:


• Min. Alexandre de Moraes: salientou que o tratamento diferenciado (prazo em dobro) está relacionado
com a defesa dos interesses subjetivos da Fazenda Pública e, portanto, não se aplica ao processo objetivo.
Assim, a natureza objetiva do processo afasta a prerrogativa da Fazenda Pública.
• Min. Edson Fachin: enfatizou que o tratamento isonômico na matéria (todos terem prazo simples nos
processos objetivos), além de ser consentâneo com a orientação jurisprudencial adotada pelo STF há
muito tempo, decorre do princípio republicano.
• Min. Luiz Fux: assinalou que a Fazenda Pública, no caso do recurso extraordinário, é representante da
unidade federativa onde há a declaração de inconstitucionalidade da lei por ela editada; logo, tem contato
direto com a questão, e não se justifica o prazo em dobro.
• Min. Gilmar Mendes: afirmou que o próprio CPC, no § 2º do art. 188, faz menção à inaplicabilidade
desses prazos aos procedimentos especiais:
Art. 188 (...)
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa,
prazo próprio para o ente público.

• Min. Celso de Mello: defendeu que o processo de fiscalização normativa abstrata possui, normalmente,
uma autonomia em relação aos institutos peculiares aos processos de índole meramente subjetiva. Em
outras palavras, existem várias regras aplicáveis aos processos subjetivos que não incidem em caso de
processos objetivos. Assim, o direito processual constitucional* é autônomo, regido por princípios
próprios, em que são afastados os interesses meramente subjetivos.
* Direito Processual Constitucional é o conjunto de preceitos destinados a regular o exercício da jurisdição
constitucional, ou seja, a aplicação jurisdicional das normas da Constituição (MARQUES, Frederico. Manual
de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1974). Assim, por exemplo, as regras processuais que regem
a ADI, ADC, ADPF fazem parte do direito processual constitucional.

Exemplo 1:
O Governador do Estado propôs uma ADI no STF contra determinada Lei estadual.

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O Ministro sorteado como relator da ADI, em decisão monocrática, jugou que a ação era manifestamente
improcedente e indeferiu liminarmente a petição inicial, conforme autoriza o caput do art. 4º da Lei nº
9.868/99.
É cabível algum recurso contra esta decisão monocrática do Ministro? Sim, é possível a interposição de
agravo regimental, no prazo de 5 dias (art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99 c/c art. 317 do RISTF).
O Governador do Estado, no prazo de 7 dias, interpôs agravo regimental. Ele alegou que teria prazo em
dobro e, portanto, o prazo seria de 10 dias.
Este recurso não será conhecido por intempestividade. Isso porque, conforme já explicado, a Fazenda
Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle concentrado de constitucionalidade
(isso sem contar que, neste caso, o agravo é interposto, não pelo Estado-membro, mas sim pelo
Governador, enquanto legitimado ativo).

Exemplo 2:
Lei do Amazonas prevê que, no vestibular da Universidade Estadual, 50% das vagas serão destinadas aos
alunos que se formaram em escolas localizadas dentro do Estado.
O Procurador Geral de Justiça ajuíza uma ação direta de inconstitucionalidade no Tribunal de Justiça do
Amazonas (ação conhecida como “ADI estadual”) alegando que esta lei viola o princípio da igualdade,
previsto no art. 3º da Constituição do Estado do Amazonas.
O TJ/AM julgou a ação procedente e decidiu que a referida lei é realmente inconstitucional por afrontar o
princípio da igualdade insculpido no art. 3º da CE/AM.
Ocorre que o princípio da igualdade é previsto também na CF/88 (art. 5º).
Como o acórdão do TJ/AM analisou um dispositivo que é reproduzido também na CF/88, contra esta
decisão cabe recurso extraordinário para o STF.
Cabe recurso extraordinário ao STF contra decisão do Tribunal de Justiça que julga ADI estadual se a norma
da Constituição Estadual que foi apontada como violada (parâmetro) for uma norma que possui
correspondência na Constituição Federal, ou seja, pode ser encontrada tanto na Constituição Estadual
como na Federal.
Imaginemos que o Estado do Amazonas não se conforma com a decisão do TJ/AM e decide interpor
recurso extraordinário ao STF.
O prazo do recurso extraordinário é de 15 dias.
Ocorre que o Estado interpõe o recurso no 20º dia, supondo que goza de prazo em dobro e que, portanto,
teria 30 dias para o manejo do RE.
Este recurso não será conhecido, por intempestividade. Isso porque, conforme já explicado, a Fazenda
Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle concentrado de constitucionalidade,
mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário.
Assim, o Estado deveria ter interposto o RE no prazo normal de 15 dias.

Em suma:
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja
para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão
Min. Cármen Lúcia, julgados em 06/02/2019 (Info 929).

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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviço no Estado a fornecerem
previamente ao consumidor a identificação do profissional que fará o atendimento na sua residência

Importante!!!
É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços no Estado (exs:
empresas de telefonia, de TV por assinatura, de energia elétrica etc.) a informarem previamente
a seus clientes os dados do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
Ex: lei do RJ prevê que as empresas prestadoras de serviços, quando acionadas para realizar
qualquer reparo na residência do consumidor, ficam obrigadas a enviar uma mensagem de
celular, pelo menos 1h antes do horário agendado, informando o nome e a identidade do
funcionário que irá ao local.
STF. Plenário. STF. Plenário. ADI 5745/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 07/02/2019 (Info 929).

A situação concreta foi a seguinte:


O Estado do Rio de Janeiro editou lei (Lei Estadual 7.574/2017) obrigando as empresas prestadoras de
serviços, incluindo as de telefonia, a informarem previamente a seus clientes os dados do empregado que
realizará o serviço no domicílio.
A norma prevê que as prestadoras de serviços, antes de encaminharem o funcionário para fazer algum
reparo na residência do consumidor, deverão enviar ao cliente, por mensagem de celular, o nome e o
número do documento de identidade da pessoa que realizará o serviço solicitado.
Veja alguns trechos da Lei:
Art. 1º As empresas prestadoras de serviços, quando acionadas para realizar qualquer reparo ou
prestação de serviço nas residências ou sedes de seus consumidores, ficam obrigadas a, em um
prazo de pelo menos 1h (uma hora) antes do horário agendado para a realização do serviço
solicitado pelo consumidor, enviar mensagem de celular a este, informando, no mínimo, o (s)
nome (s) e o (s) número (s) do Documento de Identidade (RG) da (s) pessoas que realizarão o
serviço solicitado, acompanhados de foto, sempre que possível.
(...)
Art. 2º Para fins da presente Lei, dentre outros, são consideradas prestadoras de serviços:
I - empresas de telefonia e internet;
II - empresas de televisão a cabo, satélite, digital, e afins;
III - empresas especializadas em reparos elétricos e eletrônicos;
IV - autorizadas de empresas de aparelhos de utilidades domésticas;
V - concessionárias de energia elétrica;
VI - empresas fornecedoras de gás encanado para fins residenciais;
VII - empresas de seguro.
Art. 3º O descumprimento das disposições desta Lei sujeitará o infrator às penalidades previstas
no Código de Defesa do Consumidor, devendo a multa ser revertida para o Fundo Especial de
Apoio a Programas de Proteção e Defesa do Consumidor - FEPROCON.
(...)

ADI
A Associação das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra a lei
alegando que ela teria invadido a competência privativa da União para legislar sobre as atividades de
telecomunicações.

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O que decidiu o STF? Esta Lei é inconstitucional?


NÃO. O STF julgou improcedente a ADI, mantendo a validade da lei.

Lei trata sobre direito do consumidor


De fato, a competência para legislar sobre “telecomunicações” é privativa da União (art. 22, IV, da CF/88):
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
(...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

Ocorre que o STF entendeu que essa Lei do RJ versa, na verdade, sobre direito do consumidor, matéria
que se insere no rol de competências legislativas concorrentes:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
(...)
V - produção e consumo;
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Medida de segurança
O objetivo da Lei foi o de conferir uma proteção aos consumidores, para tentar evitar que eles sejam
vítimas de assaltantes que se passam por funcionários das empresas prestadoras de serviço.
Desse modo, a Lei amplia a segurança dos clientes no momento em que eles receberão prestadores de
serviços em casa.
Não se pode negar que existe, atualmente, um grande número de roubos e furtos sendo praticados em
residências por pessoas que se passam por prestadores de serviços.

Não há interferência na atividade de telecomunicações


Vale ressaltar, por fim, que a lei questionada, ao exigir que a empresa comunique ao consumidor os dados
do funcionário que prestará o serviço, não interfere na atividade de telecomunicações propriamente dita.
Logo, não houve ofensa à competência privativa da União.

Federação
A Federação não é apenas um mecanismo de distribuição de competências e rendas, mas também de
desconcentração do poder político e, como tal, um instrumento para estimular a democracia.
Antes de se considerar determinada lei estadual como sendo inconstitucional por supostamente invadir a
competência privativa da União, deve-se proceder a uma leitura sistemática e teleológica da Constituição
Federal.
No caso, o valor constitucional tutelado primariamente pela norma impugnada não é o serviço de
telecomunicações em si, mas a própria segurança do consumidor.
O ato normativo impugnado estabelece uma obrigação de fazer, ou seja, uma obrigação de prestação
positiva, que é informar ao consumidor. Tratando-se de matéria sujeita à competência concorrente (art.
24, V), mostra-se legítima a atividade legislativa do estado-membro ao ampliar as garantias dos
consumidores. Assim, não há que se falar em invasão da competência privativa da União para legislar
sobre telecomunicações.

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Em suma:
É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços no Estado (exs: empresas
de telefonia, de TV por assinatura, de energia elétrica etc.) a informarem previamente a seus clientes
os dados do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
Ex: lei do RJ prevê que as empresas prestadoras de serviços, quando acionadas para realizar qualquer
reparo na residência do consumidor, ficam obrigadas a enviar uma mensagem de celular, pelo menos
1h antes do horário agendado, informando o nome e a identidade do funcionário que irá ao local.
STF. Plenário. STF. Plenário. ADI 5745/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 07/02/2019 (Info 929).

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA


STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no
caso de prisão de adolescente em cela masculina no Pará

Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC 35/79)
à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava presa em
uma mesma cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para corrigir essa
situação e, além disso, procura se eximir de reponsabilidade produzindo documento falso com
data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado providências que, na realidade,
não adotou.
STF. 1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 5/2/2019 (Info 929).

A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte:


Em 2007, uma adolescente de 15 anos, após praticar um ato infracional, permaneceu presa por 24 dias
em uma cela com cerca de 30 homens, em Abaetetuba, no interior do Pará.
Em 2010, a juíza da comarca na época dos fatos foi julgada pelo CNJ e punida com a pena de aposentadoria
compulsória, a mais grave que pode ser aplicada a um magistrado em um processo administrativo
disciplinar, segundo o art. 42 da LOMAN (LC 35/79):
Art. 42 - São penas disciplinares:
I - advertência;
II - censura;
III - remoção compulsória;
IV - disponibilidade com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço;
V - aposentadoria compulsória com vencimentos proporcionais ao tempo de serviço;
(...)

Ela foi condenada pelo Conselho porque teria determinado a prisão de uma garota menor de idade em
uma cela masculina durante 24 dias, e falsificado documento para afastar sua responsabilidade no caso.
A magistrada impetrou, então, mandado de segurança contra esta decisão do CNJ.

Decisão do STF em 2012


Em 2012, o STF decidiu anular a punição imposta pelo Conselho.
No MS 28816, em 2012, os Ministros entenderam que não havia evidências de que a Juíza tinha ciência da
circunstância em que foi cumprida a ordem de encarceramento, que tenha sido informada a respeito ao
longo do período em que a menor ficou presa ou que tenha agido intencionalmente ao determinar a prisão
em uma cela masculina. Em outras palavras, ela não sabia que a menina estaria presa com homens.

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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Diante disso, o STF determinou que o CNJ julgasse novamente o caso levando em conta apenas a acusação
de que a magistrada teria falsificado um documento. Isso porque, segundo os autos, a juíza teria, em tese,
alterado uma certidão expedida pelo diretor de Secretaria da 3ª Vara da Comarca de Abaetetuba a fim de
que parecesse que ela teria logo tomado providências para transferir a presa para a capital do Estado.
A ementa do MS foi assim lavrada:
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE – CUSTÓDIA – GÊNERO – RESPONSABILIDADE JUDICANTE.
Descabe cogitar de responsabilidade judicante, presente custódia sem distinguir o gênero, quando o auto
de prisão em flagrante não a esclarece.
PROCESSO ADMINISTRATIVO – IMPUTAÇÕES DIVERSAS – ACOLHIMENTO DA MAIS GRAVE –
AFASTAMENTO – APOSENTADORIA – CONSEQUÊNCIAS.
Uma vez glosada, ante a gravidade de uma das imputações, aposentadoria implementada, fica afastada a
possibilidade de o órgão administrativo, ante a que tenha sobejado, vir a aplicar idêntica sanção.
(MS 28816, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal
Pleno, julgado em 14/06/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-105 DIVULG 04-06-2013 PUBLIC 05-06-2013)

Nova decisão do CNJ


Em 2016, o CNJ julgou novamente a magistrada, retirando a acusação de que ela teria voluntariamente
deixado a garota presa com os homens.
O CNJ decidiu punir a juíza com a pena de disponibilidade.
Para o Conselho, restou provado o seguinte:
Em 7 de novembro de 2007, a magistrada recebeu ofício da autoridade policial de Abaetetuba solicitando
“em caráter de urgência” a transferência da menina, uma vez que ela corria “risco de sofrer todo e
qualquer tipo de violência por parte dos demais”. Apesar da gravidade do caso, somente no dia 20 daquele
mês a juíza teria encaminhado ofício à Corregedoria de Justiça do Pará pedindo a transferência para um
estabelecimento prisional adequado.
Em sua defesa, a magistrada afirmou ter delegado ao diretor da secretaria do juízo a tarefa de comunicar
a Corregedoria em 7 de novembro, o que foi desmentido pelo servidor e por outros funcionários e
comprovado por perícia feita no computador da serventia.
Como dito, neste segundo julgamento, a juíza recebeu a pena de disponibilidade, com vencimentos
proporcionais.
O magistrado em disponibilidade com vencimentos proporcionais fica proibido de exercer suas funções,
mas pode ser convocado a atuar, a qualquer momento, depois de pelo menos dois anos da punição,
conforme critério da administração do tribunal (art. 57, § 1º da LOMAN).

Novo MS no STF
Contra esta segunda decisão do CNJ, a magistrada impetrou um segundo mandado de segurança no STF,
que foi julgado agora em 2019.
A autora alegou que a condenação imposta pelo CNJ estaria respaldada em fato que já teria sido analisado
e considerado insubsistente no primeiro mandado de segurança julgado pelo STF (MS 28816) em 2012.
Ainda segundo a magistrada, o novo ato do Conselho considerou acontecimentos diversos daqueles
constantes da portaria de instauração do processo disciplinar.

O que decidiu o STF neste segundo MS? Foi acolhido o pedido da autora/magistrada?
NÃO.
O Min. Luís Roberto Barroso afirmou que a decisão do CNJ não extrapolou o que havia sido decidido pelo
Supremo no MS julgado em 2012.
Nesta segunda decisão do Conselho, considerou-se que houve negligência da magistrada em adotar
providências para a transferência da presa depois que a juíza foi informada.

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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Além disso, o Conselho também se baseou no fato de que a juíza procurou se eximir de reponsabilidade
produzindo documento falso com data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado
providências que, na realidade, não adotou.

Em suma:
Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC 35/79) à
magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava presa em uma mesma
cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para corrigir essa situação e, além disso,
procura se eximir de reponsabilidade produzindo documento falso com data retroativa, na tentativa de
comprovar que teria adotado providências que, na realidade, não adotou.
STF. 1ª Turma. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
5/2/2019 (Info 929).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
Não é possível o fracionamento da execução dos honorários advocatícios decorrentes de uma
única ação proposta contra a Fazenda Pública por vários litisconsortes ativos facultativos

Importante!!!
Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo
facultativo simples em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório.
A quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se
trata de um único processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una e
indivisível.
STF. Plenário. RE 919269 ED-EDv/RS, ARE 930251 AgR-ED-EDv/RS, ARE 797499 AgR-EDv/RS, RE
919793 AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/2/2019 (Info 929).

Imagine a seguinte situação hipotética:


30 pessoas, em litisconsórcio ativo facultativo, propuseram uma ação ordinária contra determinada
autarquia estadual.
Desse modo, 30 pessoas que poderiam litigar individualmente contra a ré, decidiram se unir e contratar
um só advogado para propor a ação conjuntamente.
A ação foi julgada procedente, condenando a entidade a pagar “XX” reais ao grupo de 30 pessoas.
Na mesma sentença, a autarquia foi condenada a pagar R$ 600 mil de honorários advocatícios
sucumbenciais ao advogado dos autores que trabalhou no processo.

O advogado dos autores, quando for cobrar seus honorários advocatícios, terá que executar o valor total
(R$ 600 mil) ou poderá dividir a cobrança de acordo com a fração que cabia a cada um dos clientes (ex:
eram 30 autores na ação; logo, ele poderá ingressar com 30 execuções cobrando R$ 20 mil em cada)?
Antes de responder, é necessário fazer uma nova pergunta: por que motivo o advogado teria interesse de
fracionar as execuções?
Para receber por meio de requisição de pequeno valor (RPV) e não por precatório.
O recebimento por RPV é muito mais célere que por precatório.

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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Se fosse permitido que o advogado ingressasse com 30 execuções cobrando R$ 20 mil em cada, isso seria
mais vantajoso para ele, já que receberia 30 RPVs de R$ 20 mil.
Por outro lado, se o advogado for obrigado a cobrar o valor total, terá que entrar na fila dos precatórios
(art. 100, caput, da CF/88), o que, na prática, significa anos para receber.

Esse tema era polêmico no STF, mas agora pacificou. E, então, o advogado pode fracionar a execução?
NÃO. Ele não poderá fracionar as execuções. Terá que executar o valor total:
Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples
em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório.
A quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se trata de
um único processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una e indivisível.
STF. Plenário. RE 919269 ED-EDv/RS, ARE 930251 AgR-ED-EDv/RS, ARE 797499 AgR-EDv/RS, RE 919793
AgR-ED-EDv/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/2/2019 (Info 929).

O STF afirmou que deve ser proibido o fracionamento porque a verba honorária pertence a um mesmo
titular. Logo, seu pagamento de forma fracionada, por requisição de pequeno valor (RPV), seria uma burla
ao art. 100, § 8º, da CF/88:
Art. 100 (...)
§ 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem
como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento
de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo.

A existência de litisconsórcio facultativo não pode ser utilizada para justificar a legitimidade do
fracionamento da execução dos honorários advocatícios sucumbenciais se a condenação à verba
honorária no título executivo for global, ou seja, se buscar remunerar o trabalho em conjunto prestado
aos litisconsortes.
O fato de o valor da condenação previsto no título executivo judicial (sentença) abranger, na realidade,
diversos créditos, de titularidade de diferentes litisconsortes, não tem o condão de transformar a verba
honorária em múltiplos créditos devidos a um mesmo advogado, de modo a justificar sua execução de
forma fracionada.
Em outras palavras, o fato de terem sido vários autores e de cada um deles ter direito a uma parte na
condenação não faz com que o valor dos honorários também possa ser dividido. Isso porque o titular do
crédito de honorários é um só. Além disso, os honorários advocatícios gozam de autonomia em relação
ao crédito principal, e com ele não se confunde.
Conforme afirmou o Min. Dias Toffoli:
“(...) os honorários sucumbenciais não se confundem com o crédito dos patrocinados. (...) A
quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, e consiste em
título a ser executado de forma una e indivisível.
O fato de o patrono ter atuado em causa plúrima não torna plúrimo também o seu crédito. A verba
advocatícia é única, visto ser calculada sobre o montante total devido, ainda que esse consista na
soma de vários créditos unitários. Como se trata de credor e devedor único, não há como parcelar
o débito, sob pena de gerar desequilíbrio e frustração do que está determinado no art. 100 da
Constituição Federal, prejudicando-se a Fazenda.
A verba honorária goza de autonomia em relação ao crédito principal, podendo ser destacada do
montante da execução. Assim, o fracionamento dessa parcela caracteriza, indubitavelmente,
hipótese vedada pelo art. 100, § 8º, da CF.”

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O argumento de que o litisconsórcio facultativo simples representa, na verdade, várias causas cumuladas
não pode ser utilizado para justificar a legitimidade do fracionamento da execução dos honorários
advocatícios sucumbenciais se a condenação à verba honorária, no título executivo, tiver sido global, ou
seja, tiver buscado remunerar o trabalho conjunto prestado pelo causídico aos litisconsortes.

EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam
reajustes automáticos. ( )
2) (PGM Cuiabá FCC 2014) Em relação ao salário mínimo, salvo nos casos previstos na Constituição Federal
e em Lei Complementar, não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor
público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial. ( )
3) Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja
para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata. ( )
4) Vulnera a competência legislativa da União para legislar sobre telecomunicações a lei estadual que obriga
as empresas prestadoras de serviços de televisão a cabo, por satélite ou digital, a fornecerem
previamente ao consumidor informações sobre a identificação dos profissionais que prestarão serviços
na sua residência. ( )
5) Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples
em execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório. ( )

Gabarito
1. C 2. E 3. C 4. E 5. C

JULGADO NÃO COMENTADO

Regime jurídico: opção retroativa e transmutação


O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em duas ações diretas de
inconstitucionalidade ajuizadas contra os arts. 6º, parágrafo único, e 7º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição (ADCT) do estado do Rio Grande do Sul e contra a Lei estadual
9.123/1990, que os regulamenta.

O art. 6º do ADCT estadual assegura aos empregados da ex-Companhia de Energia Elétrica Rio-Grandense
(CEERG) o direito de optar retroativamente pelo regime jurídico mais favorável, apenas para fins de
contagem de tempo de serviço para a aposentadoria. Já o art. 7º reconhece como servidores autárquicos da
então Comissão Estadual de Energia Elétrica (CEEE) todos os empregados admitidos até 9 de janeiro de 1964
não detentores dessa condição.

O Colegiado entendeu que os dispositivos impugnados não modificaram de forma retroativa o regime
jurídico do pessoal de obras ou dos trabalhadores encampados oriundos da CEERG, mas apenas revestiram
de segurança jurídica situação regulada pelo art. 12 da Lei estadual 4.136/1961 (1), preexistente à
Constituição Federal de 1988 (CF/1988). Esse diploma legal garantiu que fossem incorporados aos contratos
de trabalho dos então funcionários da CEEE os direitos relativos ao regime funcional anterior, aplicado até
janeiro de 1964, quando a autarquia foi convertida em sociedade de economia mista.

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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O Plenário, inicialmente, afirmou, mediante análise cronológica das alterações da natureza jurídica e do
quadro de pessoal da CEEE, estar diante de uma situação complexa consolidada há décadas. Em seguida,
afastou as apontadas inconstitucionalidades.

Para isso, considerou inexistir violação do art. 22, I (2), da CF/1988, haja vista que as normas atacadas se
revestem de natureza administrativa, o que afasta a competência privativa da União para legislar sobre
direito do trabalho. Elas tratam de regulamentação da relação jurídica mantida entre a administração pública
e seus funcionários antes mesmo da conversão do regime jurídico.

Ressaltou, ainda, que os empregados ex-autárquicos da CEEE, sujeitos ao regime celetista, aposentam-se
pelo Regime Geral da Previdência. Em sua maioria, as controvérsias examinadas pela Justiça do Trabalho
dizem respeito às diferenças de complementação de aposentadoria, tendo por escopo a incorporação de
direitos relativos aos servidores autárquicos, como, por exemplo, a aplicação da Lei 3.096/1956, que garante
a paridade entre proventos e vencimentos dos servidores em atividade.

Da mesma forma, não vislumbrou a citada ofensa ao art. 61, § 1º, II, c (3), da CF/1988, porque não usurpada
a iniciativa do chefe do Poder Executivo para dispor sobre servidores públicos e seu regime jurídico. O poder
constituinte estadual conferiu natureza constitucional à normatização da relação jurídica preexistente à
transformação da natureza jurídica da CEEE dentro dos limites de auto-organização conferidos pelo art. 25
da CF/1988.

O Colegiado rejeitou, também, o suposto desrespeito aos arts. 37, II (4), e 173, § 1º (5), da CF/1988, haja vista
a incolumidade do princípio do concurso público. Não se trata de ingresso originário no serviço público na
vigência da CF/1988. Trata-se de trabalhadores que prestaram serviço até 9 de janeiro de 1964, período
muito anterior à Constituição Federal vigente.

Por fim, afastou a alegada incompatibilidade entre a Lei estadual 9.123/1990 e o art. 5º, XXXVI, da CF/1988,
em razão da jurisprudência da Corte no sentido de que a autoridade da coisa julgada, nas relações jurídicas
de trato continuado, opera sob a cláusula rebus sic stantibus. O reconhecimento da condição de ex-
autárquicos aos antigos trabalhadores da CEEE, pela Assembleia Constituinte do Estado do Rio Grande do
Sul, como medida endereçada a dirimir controvérsias e a assegurar igualdade entre empregados na mesma
situação, constitui elemento suficiente para delimitar os efeitos de coisa julgada formada em sentido
contrário.

Vencidos os ministros Dias Toffoli (relator), Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, que julgavam
procedentes as ações por reputar violados os arts. 37, II, 173, § 1º, da CF/1988 e o art. 19 do ADCT (6).

Para eles, a intenção dos dispositivos impugnados foi a de conferir retroativamente direitos estatutários aos
empregados admitidos pela então CEEE como pessoal de obras, contratados à época pela autarquia já sob
regime de direito privado, e não como servidores estatutários.

(1) Lei 4.136/1961: “Art. 12. Os atuais servidores autárquicos da Comissão Estadual de Energia Elétrica, compreendendo os do quadro
e os contratados, inclusive os não enquadrados, dos serviços encampados de eletricidade de Porto Alegre e de Canoas, passarão a
ser empregados da Companhia, respeitados integralmente os seus direitos, vantagens e prerrogativas, já adquiridos ou em formação,
previstos na legislação em vigor e nas resoluções do Conselho Estadual de Energia Elétrica, aprovadas pela autoridade superior. (...)
§ 4º Qualquer direito, vantagem ou prerrogativa, não contido no Estatuto do Funcionário Público Civil do Estado, porém a ele
acrescido em virtude de lei posterior será estendido aos atuais servidores autárquicos acima referidos. ”
(2) CF/1988: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,
marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; ”
(3) CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais

Informativo 929-STF (14/02/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º São de iniciativa
privativa do Presidente da República as leis que: (...) II – disponham sobre: (...) c) servidores públicos da União e Territórios, seu
regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria; ”
(4) CF/1988: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e
títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”
(5) CF/1988: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só
será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em
lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que
explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (...)”
(6) ADCT: “Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, da administração direta,
autárquica e das fundações públicas, em exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos continuados,
e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da Constituição, são considerados estáveis no serviço público. ”

ADI 807/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 7.2.2019. (ADI-807)
ADI 3037/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgamento em 7.2.2019. (ADI-3037)

OUTRAS INFORMAÇÕES

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio


eletrônico*
Em curso Finalizados
Pleno 6.2.2019 7.2.2019 1 16 49
1ª Turma 5.2.2018 — 6 86 65
2ª Turma 5.2.2018 — 1 2 23
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 01 a 07 de fevereiro de 2018.

CLIPPING DA R E P E R C U S S Ã O G E R A L
DJe de 4 a 8 de fevereiro de 2018

REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.123.068 – DF


RELATOR ORIGINÁRIO: MIN. MARCO AURÉLIO
REDATOR PARA O ACÓRDÃO: MIN. LUIZ FUX
Ementa: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO DO TRABALHO. CONTRATO INDIVIDUAL DE TRABALHO.
RECONHECIMENTO DE RELAÇÃO EMPREGATÍCIA A ADVOGADO COM VÍNCULO SOCIETÁRIO EM ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA.
REQUISITOS PARA A CONFIGURAÇÃO DE RELAÇÃO DE EMPREGO. MATÉRIA DE ÍNDOLE INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA
INDIRETA À CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL.
Decisão Publicada: 1

INOVAÇÕES LEGISLATIVAS
4 A 8 DE FEVEREIRO DE 2018

Lei nº 13.792, de 3.1.2019 - Altera dispositivos da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para
modificar o quórum de deliberação no âmbito das sociedades limitadas. Publicado no DOU em 04.01.2019, Seção 1,
Edição nº 3, p. 2.
Lei nº 13.793, de 3.1.2019 - Altera as Leis n os 8.906, de 4 de julho de 1994, 11.419, de 19 de dezembro de 2006,
e 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para assegurar a advogados o exame e a obtenção de cópias

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de atos e documentos de processos e de procedimentos eletrônicos. Publicado no DOU em 04.01.2019, Seção 1, Edição
nº 3, p. 2.
Lei nº 13.796, de 3.1.2019 - Altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional), para fixar, em virtude de escusa de consciência, prestações alternativas à aplicação de provas e à
frequência a aulas realizadas em dia de guarda religiosa. Publicado no DOU em 04.01.2019, Seção 1, Edição nº 3, p. 3.
Lei nº 13.800, de 4.1.2019 - Autoriza a administração pública a firmar instrumentos de parceria e termos de
execução de programas, projetos e demais finalidades de interesse público com organizações gestoras de fundos
patrimoniais; altera as Leis nº s 9.249 e 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 9.532, de 10 de dezembro de 1997, e 12.114
de 9 de dezembro de 2009; e dá outras providências. Publicado no DOU em 07.01.2019, Seção 1, Edição nº 4, p. 1.
Lei nº 13.804, de 10.1.2019 - Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao contrabando, ao descaminho, ao
furto, ao roubo e à receptação; altera as Leis n os 9.503, de 23 de setembro de 1997 (Código de Trânsito Brasileiro), e
6.437, de 20 de agosto de 1977. Publicado no DOU em 11.01.2019, Seção 1, Edição nº 8, p. 1.

OUTRAS INFORMAÇÕES
4 A 8 DE FEVEREIRO DE 2018

Decreto nº 9.685, de 15.1.2019 - Altera o Decreto nº 5.123, de 1º de julho de 2004, que regulamenta a Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição,
sobre o Sistema Nacional de Armas - SINARM e define crimes. Altera o Decreto nº 5.123, de 1º de julho de 2004, que
regulamenta a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - SINARM e define crimes. Publicado no DOU em 15.01.2019,
Seção 1 - Extra, Edição nº 10-A, p. 1.
Supremo Tribunal Federal - STF
Secretaria de Documentação – SDO

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